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Ambos estão procurando um novo começo, mas será que eles

realmente podem deixar seus passados para trás?

Lance Harper sabe o quanto o centro das atenções pode queimar. Uma
estrela em ascensão que encontrou todos os seus sonhos da NFL se tornando
realidade desde o ensino médio, Lance caiu forte, derrubado por uma série de
más decisões. Agora, se escondendo do circo da mídia em Eastshore, Lance
quer nada mais do que ficar sozinho. Mas tudo isso muda quando um
encontro casual o leva ao campo de prática dos Tigers.
Beau Woodridge descobriu desde cedo que ser esquecível não leva a nada.
Com um pouco de coragem líquida e uma audiência disposta, Beau conseguiu
subir ao topo dos círculos sociais da Eastshore, mas o campo é outra história.
Depois de uma temporada horrível, os sonhos da NFL de Beau parecem pouco
acessíveis, e a falta de um treinador ofensivo o deixa sem direção. Mas quando
uma reunião com Lance leva o jogador estrela para a folha de pagamento dos
Tigers, Beau repentinamente encontra seu caminho para frente.
Desesperado para escapar de sua conturbada vida doméstica, Beau
convence Lance a ser seu mentor. O que começa como adoração de herói
rapidamente se transforma em uma forte atração - Beau fica chocado ao
descobrir que não é tão unilateral quanto ele pensa. E quando a faísca entre
eles finalmente acende, treinador e jogador são puxados para um romance
secreto.
Mas é apenas uma questão de tempo até que o status de celebridade de
Lance force sua relação para o centro das atenções. A atenção repentina pode
ser mais do que qualquer um pode suportar, e se eles quiserem ficar juntos,
eles terão que encarar os olhos indiscretos do mundo inteiro - e os demônios
que ainda espreitam em seus passados.
Esta nova casa não é a pior maneira que eu poderia reiniciar minha vida.

Eu fico do lado de fora com um pequeno U-Haul1 - a maioria das minhas


coisas será enviada para mim na próxima semana - e olho para ela pela
primeira vez desde que fechei com o corretor de imóveis. Parece diferente
agora, de alguma forma. Não é a primeira casa que eu tenho, mas de alguma
forma parece que sim. Como se a última não importasse, enquanto esta casa
poderia ser o começo de colocar as coisas de volta nos trilhos.

Claro, não acho que uma casa possa fazer isso sozinha. Mesmo uma tão
legal quanto essa. Ela está presa no meio de uma comunidade à beira-mar,
mas há um quintal de cada lado para que não pareça claustrofóbico. A fachada
é uma mistura de tijolo marrom e Coquina2 de cor bege, e a arquitetura é a
mistura mais estranha do noroeste colonial e moderno espanhol. Não deveria
funcionar, mas de alguma forma funciona.

Eu abro a parte de trás do U-Haul e pego uma caixa, levantando-a em um


braço enquanto pesco as chaves que me deram alguns dias atrás. Caminhando
até a varanda da frente, meus sapatos batendo contra a madeira como se eu
estivesse passeando em um calçadão, eu encaixo a chave na porta e abro
minha nova casa.

1É uma empresa americana de aluguel de equipamentos e armazenamento. No caso ele se refere a


uma van.
2 Calcário poroso bioclástico constituído principalmente de conchas e seus fragmentos.
Está... Muito vazio, honestamente. Nada de móveis, nada nas paredes. Os
altos e abobadados tetos fazem com que pareça enorme, e a grande janela na
parte de trás apenas exacerba a sensação. É uma grande mudança da minha
última casa, grande, mas tão cheia de coisas que eu sempre me senti cercado.

Eu definitivamente não me importo.

Na verdade, coloco a caixa no balcão da cozinha - bem em cima de alguns


papéis que o corretor de imóveis deixou para mim - e abro as portas corrediças
de vidro. Eu posso ouvir ondas batendo na costa além, e a brisa do mar parece
incrível no meio do calor do verão.

Na próxima meia hora inicio o processo de trazer caixas, deixando os


móveis por último. Ainda é cedo quando ouço um carro parando do lado de
fora antes que o motor seja desligado. Largo a caixa em minhas mãos, olho
para frente e sorrio.

— Ei, cara — eu digo, minha voz atravessando a janela aberta. — Eu pensei


que você tinha ginásio hoje?

— Sim. Vou montar minha bunda como uma prostituta de dois dólares
depois, mas eu tenho algum tempo agora.

Eu acho que não deveria me surpreender. Xavier sempre teve minhas


costas. Ele meio que me colocou sob sua asa quando eu comecei, e nos ligamos
por ter nomes que estavam tão longe na lista do censo que eles nem sequer
registram.

De todos os caras que eu conheci, de todas as pessoas que queriam estar


perto de mim, Xavier é o único que sempre veio para mim de forma
consistente. Eu sabia que se eu pedisse a ele para me ajudar a me mudar, ele
largaria o que estava fazendo para fazer isso. É exatamente por isso que eu não
perguntei. Ele tem coisas mais importantes para se preocupar. E ainda assim
ele decidiu dirigir até aqui e fazer isso.

— Lugar legal — diz ele, empurrando as cortinas até o alto da cabeça. —


Menor que o anterior.

— Sim, bem. Parecia apropriado.

Ele não diz nada a isso. Não é necessário. Nós dois sabemos que não vou
sediar grandes torcedores aqui, como fiz em minha casa em Jacksonville.

Eu assisto Xavier enquanto ele sobe a rampa e entra na van U-Haul. Ele
pega uma das últimas caixas grandes e eu saio do seu caminho para pegar a
TV.

Entre nós dois, conseguimos pegar meu menor sofá, uma poltrona de
couro, o suporte de TV e uma mesa no interior e arrumar. Todas as coisas que
eu poderia ter trazido por mim mesmo, mas é muito mais fácil com ele e
agradeço a companhia.

Quando fecho o U-Haul, ele olha em volta. — Onde está o resto da sua
merda?

— Está sendo enviado em um contêiner.

O que me dará um mês para descobrir o que quero jogar fora e o que quero
manter. Eu posso alugá-lo por mais tempo do que isso, mas aparentemente a
associação de moradores aqui é bastante maníaca sobre essas coisas.

Há uma parte de mim que estaria bem em apenas ir embora. Tomando o


mínimo e deixando o resto lá para quem comprar a casa. Não é como se
tivesse algum valor sentimental. É só coisas. Mas pelo menos assim posso
vender ou doar tudo o que não vou usar.

— Cara, você nem tem cama.

Eu dou de ombros. — Eu vou dormir no sofá. Não é como se fosse à


primeira vez. — Meu estômago ronca, me dando uma boa razão para ignorar o
olhar que ele me dá. — Ei, você é capaz de ficar por aqui um pouco mais?

Ele pega o telefone para verificar a hora. — Provavelmente uma hora, por
quê?

— Vou pegar uma pizza para nós ou algo assim. Você se importa em ligar a
TV enquanto eu faço a ligação?

Ele faz isso, e vinte minutos depois temos uma grande pizza havaiana para
compartilhar - com cogumelos adicionados à metade, para satisfazer o
estranho fetiche de Xavier - e o SportsCenter na tela plana.

Observamos as notícias dos campos de treinamento enquanto comemos e,


assim que vejo as imagens, minhas palmas começam a coçar. É como se
minhas mãos quisessem desesperadamente segurar uma bola de futebol,
pegar um passe no ar em algum ângulo maluco, me recuperar sem problemas
e correr mais de 40 jardas para o TD3.

Eu só estive fora da liga por sete meses, e já parece que já faz anos.

— Como a equipe está este ano? — Eu pergunto, tentando minimizar meu


interesse.

Não funciona.

3 Touchdown (TD)
— Não está ruim. A defesa é provavelmente a mais forte que tem sido em
anos. Estaria mentindo se eu dissesse que não há um buraco enorme para
preencher no ataque — ele diz, olhando para mim.

Eu dou-lhe um sorriso desconfortável. — Você sabe por que eu tive que


sair.

E ele é uma das únicas pessoas que faz. Todos os outros - até mesmo as
pessoas que eu pensava que eram meus amigos - têm sua própria história.

— Eu entendo. Não estava tentando fazer você se sentir mal, cara. Apenas
falando a verdade.

Ainda corta através de mim. Ano passado por esta altura, eu estava
assinando patrocínios, fazendo entrevistas, aparecendo para conhecer e
cumprimentar os fãs - junto com uma prática totalmente insana,
condicionamento e agenda de jogos. Eu tinha literalmente tudo que eu poderia
querer na ponta dos meus dedos.

Tudo e nada ao mesmo tempo, como eu descobri quando as coisas


começaram a ir para o sul.

Comemos em silêncio confortável, com comentários ocasionais sobre


outras equipes da liga. Eventualmente o foco muda para o Jags4, e eu posso
sentir a ansiedade cutucando em mim, mexendo nos meus nervos.

Eu teria que ser extremamente auto absorvido para pensar que eles
falariam sobre mim especificamente, e ainda assim...

4 Jacksonville Jaguars.
"... A ofensiva de Jacksonville deve estar sentindo a perda de Lance
Harper. Eles tiveram um dos melhores receptores da liga, e preencher essa
lacuna não será fácil", disse Martin.

"Não, não é", o outro, Tom, concorda, "e é uma pena também, porque os
Jaguars tiveram uma chance real no título da NFC 5 na última temporada,
possivelmente até o Super Bowl. Eles estariam em melhor forma este ano, se
Harper ainda estivesse por perto”.

Eu mudo na minha cadeira. Eu posso sentir o olhar de Xavier em mim,


mas não olho para ele. Eu sei que ele está me dando permissão silenciosa para
desligar a TV, e ainda assim eu não posso fazer isso.

"Ei, eu não o culpo. É difícil ser tão jovem, ter seu coração partido",
continua Tom. "Pessoalmente, acho que a pior coisa que já fiz foi faltar às
aulas para superar uma garota, mas desistir da NFL funciona também".

"Tenho certeza que sua namorada da faculdade não pegou metade das suas
coisas", diz o outro repórter, rindo.

"Só quando estávamos juntos."

Pelo canto do olho vejo Xavier alcançar o controle remoto. Ele muda o
canal e eu solto um suspiro. É difícil não se sentir um fracasso. Minha pele
deveria estar mais espessa agora. Deus sabe que eu tive pessoas suficientes
falando sobre mim no ano passado.

— Comediantes fodidos não sabem de nada — resmunga Xavier.

5A National Football Conference (NFC) é uma das duas conferências da National Football League. A
conferência foi criada em 1970, quando houve a fusão das ligas NFL e AFL.
Eles não. Meu divórcio confuso é a coisa mais pública, então é por isso que
todos assumem que é o porquê que eu deixei a liga. Eu prefiro manter assim.
Todos no mundo não precisam saber que fiquei sobrecarregado. Que eu tinha
apenas dezoito anos quando fui contratado e era demais para eu lidar com
qualquer coisa parecida com dignidade.

Eles definitivamente não precisam saber que eu não tenho ideia do que
fazer com a minha vida agora que o futebol não está no centro disso.

— Está tudo bem. Por que você não vê se consegue encontrar o canal
Sunshine6?

A aposta justa é que os Jags serão falados também no canal de esportes


local da Flórida, mas eles cobrem principalmente futebol universitário.

Quando ele finalmente chega ao canal, há uma previsão de classificação


para a SEC7. Os Vols estão no topo, com os Gators em terceiro. Eu examino a
lista, chegando até o fundo antes de encontrar os Eastshore Tigers. Eles estão
empatados com os Wildcats na última posição.

— Merda, seus garotos se afundaram com força — diz Xavier com a boca
cheia de pizza.

Provavelmente é demais dizer que a Eastshore é "minha" equipe, já que


nunca fui lá, mas é onde eu cresci. Esta é sempre a faculdade que eu apoiei. O

6 Ele se refere ao Fox Sports Sun, antiga Sun Sports e originalmente Sunshine Network, é uma rede
esportiva regional americana de propriedade da Fox Cable Networks, uma divisão da Fox Entertainment
Group da 21st Century Fox, e opera como afiliada da Fox Sports Networks. O canal transmite cobertura
local de eventos profissionais, colegiais e esportivos no estado da Flórida.
7 A 1ª divisão do futebol americano universitário conta com 120 equipes e como a maioria dos esportes

americanos, não há rebaixamento ou acesso. Alguma instituição pode entrar, mas nenhuma perderia o
lugar por causa de uma nova adição. Essas 120 equipes estão divididas por várias conferências por todo o
país, das quais existem as seis principais: Southeastern Conference (SEC), Big Ten, Atlantic Coast
Conference (ACC), Big East, Pac-12 e Big 12. Além disso, quatro faculdades não estão afiliadas a
nenhuma. São elas: Army, BYU, Navy e Notre Dame.
fato de eles terem conseguido uma reputação por serem super inclusivos só
ajudou meu entusiasmo.

— O escândalo que aconteceu há alguns anos fez um número neles — eu


concordo.

Lembro-me de ter lido no meu tablet. A coisa toda era ridícula.

Fico feliz que tudo tenha funcionado para todos e que a Eastshore não
tenha tirado a temporada deles, mas eles ainda estão sofrendo com a
reputação. Uma parte de mim nem culpa o Trent e o Tucker. Seus corações
estavam no lugar certo; Eles acabaram de passar por cima de suas cabeças. Eu
conheço o sentimento. Mas a Eastshore foi considerada uma escola de risco no
ano seguinte. Eles tiveram dificuldade em recrutar, dificuldade em expandir
seu orçamento, e ambas as coisas contribuíram para uma temporada ruim.

É uma merda. Se a Eastshore fosse mais consistentemente competitiva,


eles começariam a fazer ondas na comunidade do futebol. Definindo o padrão
para uma mudança real. Não apenas na cena da faculdade, mas também na
NFL.

— Quem você coloca no topo este ano? — Pergunta Xavier.

Eu encolho um pouco, engolindo minha mordida de pizza. — Tennessee é


uma boa aposta. Parece demorar um pouco nos dois primeiros trimestres, mas
se eles não diminuírem muito, eles retornam com mais frequência do que
nunca. Fazendo jogos emocionantes.

O que significa mais bundas nos assentos, mais torcedores investindo em


publicidade para as emissoras que transmitem o jogo e mais pessoas
comprando mercadoria. Todas as coisas que aprendi são ridiculamente
importantes para uma organização de futebol, seja na faculdade ou
profissionalmente.

Xavier começa a responder, provavelmente para me dizer que estou cheio


de merda. Ele é um fã dos Bulldogs, então não é nenhuma surpresa. Eu não
consigo ouvir o argumento dele, no entanto, enquanto meu telefone vibra no
balcão, o tema Jaws tocando logo em seguida.

Eu não tenho toques personalizados para todos, mas meu agente


definitivamente merece um. Sabendo que ele vai continuar ligando se eu não
atender, eu me levanto e vou até a cozinha para pegar meu telefone.

— Hey — eu digo, encostado no balcão.

— Como foi à mudança? — Pergunta ele, já parecendo distraído. —


Conseguiu tudo resolvido?

— A mudança foi boa. Xavier me ajudou a desfazer as malas.

Eu mantenho minhas respostas breves, sabendo que ele não está realmente
ouvindo. Não é que John Bowman, do Bowman, Cline e Carter, não se importe
com seus clientes. Eu acho que ele faz, à sua maneira. Ele só se preocupa mais
com o resultado final, e suas conversas tendem a ser voltadas em direção a ele.

— Bom, Bom. Então ouça, vou enviar algumas coisas para você. Primeiro,
uma lista para os Rattlers. Agora, eu sei que é IFL, e tocar lá significaria raspar
o fundo do barril, mas o considere um trampolim.

— Eu disse a você que não estou querendo voltar a jogar futebol agora —
digo, pelo que parece ser a décima vez esta semana.
— Você diz isso agora, mas esse sentimento vai passar, Lance. Então você
teve uma experiência ruim na NFL. Acontece. Mas o futebol está no seu
sangue. Você vai sentir essa coceira de novo e eu só quero que você tenha
opções.

Quando entrei pela primeira vez - quando os agentes estavam brigando por
mim - fui com John porque ele parecia realmente me entender e se importar
com o meu bem-estar. Ele me perguntou sobre meus objetivos, se certificou de
que eu estava confortável com tudo o que eu assinei, e nunca realmente me
tratou como uma vaca de dinheiro.

Eu sei melhor agora. John é muito bom em seu trabalho e muito bom em
dizer às pessoas o que elas querem ouvir. Mas eu desenvolvi cinismo suficiente
ao longo dos anos para ver através disso.

— Apenas envie-me a informação. Eu vou dar uma olhada mais tarde — eu


digo, minha voz um pouco cortada.

Eu encontro o olhar de Xavier do outro lado da sala. Ele sacode o punho


para cima e para baixo em um movimento de masturbação, e eu sorrio.

— Eu realmente acho que você vai gostar dos Rattlers. É muito discreto e
garanto que você será o melhor jogador da equipe.

Suas palavras são completamente contraditórias, mas eu não aponto isso.


Melhor apenas mover isso junto.

— Legal, bem, eu vou dar uma olhada. Algo mais?

— Há sim. Agora, eu sei que você não quer falar sobre isso, mas temos que
sair na frente dela.
Eu fico tenso, tendo uma boa ideia do que ele quer dizer.

— Seu advogado está olhando para os papéis do divórcio agora para ter
certeza de que você não está recebendo um negócio bruto - bem, além do
acordo pré-nupcial. Depois de assinar, você precisará fazer uma declaração à
imprensa.

Pior do que eu pensava. Minha mão aperta em torno da borda do balcão.

— Por que dar uma declaração? Alguém vai transcrever toda a última linha
de qualquer maneira. As notícias acabarão assim que eu assinar.

— É exatamente por isso que você precisa ter algo pronto para ir. Se a
imprensa se apoderar dela sem nenhuma palavra sua, você sabe como eles vão
girar. Eles vão encontrar alguma maneira de fazer dela a vítima.

A vítima. Certo. Se eu não estivesse encarando um enorme acordo de


divórcio na cara, eu poderia rir disso. Mas sei que há verdade no que o John
diz. A mídia adora reproduzir a história do atleta profissional negligente ou
mesmo abusivo. Eu não acho que esses caras devam ter um mínimo de folga,
mas eu nunca abusei de Jen de qualquer forma, e eu era um parceiro igual em
nosso casamento, mesmo com todas as besteiras.

— Bem. O que eu preciso fazer?

— Estou agendando uma ligação com a Kate do PR. Ela te guiará por tudo.

— Ótimo.

Quando sonhava em jogar futebol quando criança, nunca imaginei que


seria assim. Sim, eu tenho a chance de fazer algo que poucas pessoas irão
fazer. Eu joguei em estádios lotados, na frente de milhares de fãs gritando. Eu
ganhei jogos com algumas brincadeiras. Eu tive que falar com as crianças que
estavam vestindo minha camisa nas linhas de autógrafos.

Mas eu também tinha tantos manipuladores que era difícil acompanhar


todos eles. Meu agente, meu agente de relações públicas, meu advogado, meu
treinador, meu nutricionista, meu fisioterapeuta. Por um tempo, eu até tive
um estagiário da equipe que corria e me dava tudo o que eu queria, assim que
desembarcávamos em um jogo fora de casa.

Era ridículo.

— Eu vou falar com Kate — eu digo. — Obrigado pelo lembrete.

— Bom acordo. Eu tenho que correr, mas estou enviando esta informação
agora mesmo. Entre em contato quando você lê-la. Se eu não estiver no
escritório, deixe Pam saber que dia trabalha para você e eu vou configurá-lo.

Meu estômago se vira com a ideia, e eu simplesmente desligo a ligação,


sem me incomodar em dizer adeus. Eu duvido que ele até note.

Eu coloco meu telefone de volta no balcão, ignorando o alerta de novos e-


mails. Eu não checo minha caixa de entrada há dias. Tem sido bom, mas acho
que isso me deu uma falsa sensação de segurança. Voltei para cá porque não
estava contaminada pela minha carreira profissional. Voltei para cá porque
era aqui que jogava futebol apenas pela alegria disso.

Mas tudo o que tentei deixar para trás me encontrou mesmo assim.

Eu olho para fora da janela panorâmica, claro céu azul à distância. Há um


barco no meio do oceano, no meio do nada, e não posso deixar de invejar o
pescador que o está navegando.
— Você está bem, cara? — Xavier pergunta, olhando por cima do ombro
para mim.

A chamada de John me deixa mais agitado do que eu quero admitir, e o


pensamento de tudo que tenho que fazer - todos os aros que tenho que
atravessar, o rosto público que tenho que colocar - apenas mata as boas
vibrações que eu tenho de tê-lo Aqui. Em vez de pedir que ele fique por perto
enquanto eu lamento, decido ir com calma para ele.

— Sim, legal. Apenas coisas com Jen. Eu sei que você tem que voltar.

— Eu provavelmente posso ficar um pouco mais, se você precisar — diz ele,


olhando para mim.

Eu não quero ficar sozinho agora. Eu vim aqui para escapar desse
sentimento - a sensação de que, apesar de estar em uma sala cheia de pessoas,
eu estava completamente sozinho. Mas eu também não quero me apoiar em
Xavier mais do que eu já tenho. Eu preciso aprender a fazer isso sozinho.

— Não, continue. Podemos fazer algum Overwatch8 ou algo mais tarde, se


você não estiver muito cansado do ginásio - digo, apontando para o meu PS4.

— Nunca cansado demais para arruinar o dia de alguém — diz ele com um
sorriso. Ele vem até mim, aperta minha mão e me puxa para um abraço. —
Ligue se você precisar de mim, tudo bem?

— Eu vou.

É uma promessa que espero não ter que manter, mas pelo menos eu sei
que há uma pessoa por aí que tem minhas costas.

8 É um jogo eletrônico multijogador de tiro.


— BEAU, BEAU, BEAU, BEAU!

O canto vem de todos ao meu redor, cada pessoa na sala me incentivando.


Minha boca está fechada em torno do fim de um tubo de borracha. Eu posso
ver o funil acima, com Hardy se esticando o mais alto que ele pode alcançar
para derramar a cerveja.

Está gelada quando bate na minha garganta, e o interior da minha boca


está entorpecido agora. Eu engulo goles ridículos quando mais caras se
juntam, mas há um ponto em que é demais para mim. Eu tento tomar muito,
engulo cerveja enquanto meus pulmões estão implorando por ar, e acabo
tossindo e cuspindo, cuspindo provavelmente um bom meio copo de cerveja
antes de pegar o tubo e puxá-lo para longe da minha boca.

— Maneira de engolir, Woodridge.

— Isso te excita? — Eu pergunto com um sorriso, limpando a boca


sugestivamente.

— Sim. Especialmente a parte em que ficou toda no seu rosto.

É por isso que vim para a Eastshore. Porque os caras aqui não ficam
estranhos quando você faz piadas sobre chupar pau. E enquanto eu tenho
noventa e nove por cento de certeza que a maioria desses caras são
heterossexuais, é bom ser aceito como eu sou.
Pelo menos, como eu sou quando eu tenho provavelmente seis cervejas e
alguns shots de tequila em mim.

É muito parecido com isso todo sábado à noite. Há sempre uma festa
acontecendo em algum lugar, não importa que noite seja, mas o sábado é a
maior. Seja no The Top ou na casa de alguém, é o tipo de coisa sobre a qual se
fala toda a semana.

E geralmente eu sou o único que as pessoas falam mais.

Eu tenho ido a essas festas desde há minha primeira semana como calouro.
Eu teria tentado uma fraternidade se eu realmente tivesse tempo de participar.
Eu sou praticamente um membro honorário da Alpha Phi Alpha, bem-vindo a
todas as suas festas, pois eles sabem que eu vou aproveitar o tempo. Esta
estava bem morta até Johnson me desafiar a beber no funil. Agora Brady está
agachado como um caranguejo embaixo e Johnson está derramando as
próximas rodadas.

— Desista, cara. Você nunca vai chupar melhor do que eu.

Ele me dá o dedo e eu sorrio. Se eu não tivesse bebido tanto,


provavelmente o deixaria em paz, mas foda-se. Ele está desafiando meu status
como mestre do funil de cerveja.

Eu me agacho e faço os mais barulhentos e desagradáveis sons de choro


que consigo imaginar. Eu dou alguns gemidos para uma boa medida, mas é o
barulho de engasgar que quebra Hardy. Ele cospe cerveja em todo o chão,
recebendo uma enorme quantidade em sua camisa no processo. Os caras que
estavam torcendo por ele apenas alguns segundos atrás estão agora rindo pra
caramba.
— Você é tão idiota, Woodridge — diz Hardy, ainda cuspindo.

— Calma aí, amigo. Ninguém espera que você aproveite sua primeira vez.

Eu acaricio suas costas até que ele me empurra, mas é fácil o suficiente
para girar quando eu ouço o baixo de uma música country tocando na sala ao
lado.

— Oh, merda — eu grito, provavelmente mais alto do que alguém precisava


ouvir. — Essa é minha música.

Eu não verifico como a mesa da sala de jantar é resistente antes de pular


em cima dela. Robusta o suficiente, aparentemente. Eu coloco minhas mãos
no meu cinto e aproveito toda a dança country que eu costumava assistir com
a minha avó, tocando os passos para uma música que realmente não é muito
de uma música de dança country. Não é tão eficaz em tênis, também, mas eu
ainda bato meus pés como se estivesse usando botas grandes.

Eu pego o olho de Jenna Henderson e mostro-lhe um sorriso. — Vamos lá,


querida.

Eu sou um garoto da costa leste. Tenho sido toda a minha vida. Mas eu
posso falar um sotaque rural como ninguém. Especialmente quando estou
bêbado. Eu puxo Jenna comigo e ensino a ela como dançar, recebendo olhares
de morte dos caras que vieram aqui para ficar com ela - caras que
aparentemente não conseguiram o memorando que eu sou gay pra caralho.

A próxima hora ou mais passa em um borrão. Há mais dança, eu acho.


Garotas moendo em para deixar seus namorados com ciúmes. Mais beber,
obviamente.
Em algum momento, há uma versão bêbada e suja do hino da Eastshore
por aí. Eu coloco alguns filhos da puta para o telhado - depois de alguns falsos
começos, onde eu tinha certeza que ia cair na minha bunda - cantando a
versão real a plenos pulmões. Eu me junto a dois outros caras, e entre nós três
conseguimos colocar todas as palavras em algo próximo da ordem certa.

Por volta de duas ou três horas - não tenho certeza da hora exata, eu estou
bêbado demais para perceber - a festa se move para fora, para frente da casa
de Johnson. Todos os carros estão estacionados lá fora, e os caras que têm
caminhões acendem os faróis e tocam uma mistura de música country e rap
até as garotas escolherem o que querem ouvir mais.

Meu pequeno Kia está cercado por caminhões, SUVs e outros carros que
não parecem estar em um dia ruim de se desmanchar completamente. Eu
tenho esse carro desde os dezesseis anos. Cortava gramados, cortava galhos de
árvores e fazia um monte de merda que ninguém mais queria fazer durante
três verões para pagar a coisa, sabendo que era a única maneira de sair de casa
fora do horário escolar.

No final, quinhentos dólares suados me compraram uma Kia de 97 que já


tinha 50.000 milhas. Ela tem estado nesta terra há muito tempo, e ela me
tratou bem nos anos que eu a tive. Mas ela definitivamente não é muito
impressionante aqui na terra de crianças cujos pais pagam suas mensalidades,
aluguel, comida e tudo mais.

Eu definitivamente estou bêbado quando eu tenho a ideia de enfeitá-lo e


ajudá-lo a competir. Não é nem que soa como uma boa ideia, soa hilário.
Agarrando de um dos garotos que está trazendo para fora um cooler, eu abro a
parte de cima e cambaleio até a minha garota.
— Ei, Brady. Você acha que eu posso transformá-la em um caminhão se eu
der um gole? — eu pergunto, alcançando o lado do motorista para abrir a
tampa da gasolina.

— Este carro? Você vai precisar de muita cerveja, cara.

Eu nem sei o quanto Brady e eu colocamos no tanque de gasolina. Em


algum momento, nós dois decidimos que ela está caipira, e que agora ela está
pronta para ficar em volta dos caminhões. Há apenas a menor parte de mim
que até pensa sobre o fato de que derramar uma tonelada de cerveja no motor
provavelmente não é uma ótima ideia.

O resto da noite é um borrão para mim. Nós movemos tudo para o celeiro,
eu ensino mais algumas garotas como fazer uma dança boa e apropriada, mas,
além disso, eu não tenho ideia. Eu acho que posso ter feito um passe em algum
cara aleatório, e eu tenho certeza que fui empurrado para isso, mas a última
coisa que eu realmente lembro é me perguntar se a palha em que eu estava,
estava encharcada de urina de cavalo.

Quando eu acordo, parece que alguém tem um cinzel e está apenas


tocando no interior do meu cérebro. Minha garganta está cheia de algodão e
tenho o pior gosto em minha boca. Abrir meus olhos - ou tentar, já que as
pálpebras parecem estar grudadas - é provavelmente a pior ideia que tive em
muito tempo.
A luz do sol brilha diretamente em mim, não filtrada por persianas ou
qualquer outro tipo de cobertura de janela. Seca meus olhos, fazendo-os
arderem como se estivessem sendo queimados pelos raios. Parece que alguém
levou umas poucas centenas de pancadas para mim com um taco de beisebol,
embora eu também tenha a sensação específica de algo me cutucando de todas
as maneiras.

Eu percebo que é palha, meus dedos passam por cima, e algumas das peças
começam a se encaixar. Eu estou em um celeiro e a porta está aberta, e é por
isso que o sol quer me matar. Levo alguns minutos para lembrar como diabos
eu entrei em um celeiro, mas uma vez que eu faço, pequenos pedaços da noite
anterior vêm inundando de volta.

Eu devo ter desmaiado em algum momento. Não me lembro de como ou


quando. A última coisa que eu realmente lembro é cantar o hino no telhado, e
até isso é algo que eu não tenho certeza que fiz. Independentemente do que
aconteceu, no entanto, estou aqui agora e me perguntando por que diabos
ninguém se incomodou em me levantar.

Eu olho em volta de mim, esperando ver outras pessoas esparramadas ao


redor do celeiro, mas não há ninguém. Ninguém, pelo menos, até eu ouvir os
sapatos esmagando palha e ver alguém se aproximando pelo canto do olho.

Antes que eu possa me concentrar e descobrir quem é, água fria me atinge


no rosto. Parece chocar todas as terminações nervosas do meu corpo, um
violento golpe de sensações duras, e eu cuspo algumas palavras bem
escolhidas.

— Merda, desculpe. Eu pensei que você ainda estivesse desmaiado.


Johnson está acima de mim, segurando um balde agora vazio. Eu nem
tenho certeza de onde ele tirou água tão fria. É verão na Flórida. A água da
torneira vai estar quente como o inferno.

— Eu estava me movendo, idiota — eu grito, tirando uma palha de mim


quando eu fico de pé.

Uma dor de cabeça envia uma onda de náusea através de mim, e eu me


esforço para lutar contra isso. Eu me apalpo e felizmente encontro minhas
chaves e meu telefone nos bolsos.

— Que horas são? — Eu pergunto, apertando os olhos contra a luz do sol.

— Hora de você dar o fora daqui. Meu pai vai estar em casa a qualquer
momento.

Johnson não é tão gentil assim. Ele mais ou menos me empurra para fora
do celeiro quando eu ainda estou me debatendo para juntar o resto da noite
passada. Eu desisto de descobrir até que dia é hoje, em vez disso, pego meu
telefone.

Nove e trinta e três em um domingo. O pânico se instala, mas leva alguns


minutos para o meu cérebro descobrir o porquê.

Merda. Eu tenho prática às dez.

— Por que diabos ninguém me acordou? — Eu pergunto, quebrando em


uma corrida em direção à frente, onde vejo meu carro estacionado.

— Eu não sei, cara. Eu não sou seu guardião.

Pelo menos três dos meus companheiros de equipe estavam nesta festa e, a
julgar pela completa falta de outros carros, eles se saíram bem.
Eu pulo no meu carro, sua pequena estrutura cambaleante, e encaixo a
chave na ignição. Um arrepio imediato me chama a atenção, a marcha que
segue mais lenta do que eu já ouvi antes.

Eu quase grito para Johnson para perguntar se alguém fodeu com meu
carro, mas então eu lembro: eu fiz isso. Eu fui o idiota que derramou
provavelmente um litro de cerveja no tanque de gasolina.

E agora eu não tenho escolha. Com todos os meus amigos me deixando


aqui e sem dinheiro no bolso para um táxi ou reboque, eu tenho que arriscar.
Saindo do pasto, eu me dirijo para a estrada de terra e espero poder chegar a
Eastshore antes que essa coisa se desfaça.
Minha menina não desiste de mim até que eu esteja na estrada, cerca de
cinco milhas a mais para a cidade e chegar à Eastshore.

Ela colocou uma boa briga. Eu a conduzi tão devagar quanto pude,
deixando todos os outros no mundo passarem só para tentar dar a ela uma
chance de trabalhar a cerveja fora de seu sistema. Ela está em uma situação
tão difícil quanto eu quando percebo que não tenho tempo para tomar um
banho ou trocar de roupa, e vou ter que esperar que a mochila que eu guardo
no porta-malas ainda tenha alguma merda.

Entre nós dois, no entanto, ela está definitivamente em pior forma. Eu sou,
pelo menos, capaz de realizar tarefas básicas, embora eu tenha meus óculos de
sol e estou me escondendo da luz o máximo que posso. Ela está estremecendo,
batendo e fazendo barulho, e quando ela finalmente começa a parar, eu não
estou nem um pouco surpreso.

Eu consigo levá-la quase para o lado da estrada. Seu traseiro está saindo
fora e eu coloco meus piscas, esperando que eu não seja atingido na traseira,
enquanto finjo saber sobre os carros.

Um caminhão passa, não parecendo se importar que eu esteja abrindo


minha porta para sair. Espero para ter certeza de que ninguém mais está
vindo, abro o capô e vou dar uma olhada. Meus olhos quase se cruzam
enquanto tento descobrir o que estou vendo. Tudo parece o mesmo para mim.

Há muito, muito tempo atrás, eu me lembro do meu pai trabalhando em


um velho Corvette, tentando me ensinar o que cada peça fazia e como
consertar isso. Mas eu tinha sete e mais interesse em futebol e videogames do
que carros. Isso realmente não mudou, exceto que agora eu realmente gostaria
de ter prestado atenção naquela época.

Pesco meu telefone, percorrendo meus contatos e procurando alguém


confiável. Eu tenho que rolar três quartos do caminho antes de encontrar
alguém que possa realmente vir aqui e me pegar.

Tocando no número, eu espero até que Cortez atenda e começo


imediatamente. — Ei cara. Eu preciso de uma carona.

— Merda, você ainda está no Johnson? — Eu posso ouvir os sons do


vestiário no fundo. — Você ficou tão fodidamente bêbado ontem à noite, cara.

— Sim, obrigado por me acordar — eu digo, tentando manter meu tom


leve.

— Eu tinha prática. Se eu chegasse atrasado de novo, o treinador ia me


colocar no banco.

Eu posso entender isso. Não importa o que eu tenha feito até a noite
anterior, eu sempre faço o meu melhor para chegar a tempo e pronto para ir, e
eu apareci cedo para todos os jogos que joguei. Eu não posso esperar que
Brady ou qualquer outra pessoa saia do seu caminho por mim quando é sua
bunda na linha.
Não importa se eu faria isso por eles ou não. Eu sou aquele que decidiu
beber tanto. Eu sou o único que desmaiou em um celeiro trinta minutos fora
da cidade em uma noite antes de termos prática.

— Acho que você não tem tempo para me ajudar, então. Eu estou do lado,
na Highway 20, cerca de dez minutos de vocês. O carro está todo fodido.

Ele ri disso. — Não merda, cara. Eu vi você colocar cerveja no tanque.


Estou surpreso que até ligou. Mas não, não tenho tempo suficiente. Desculpe
cara.

Eu ouço o que soa como outro jogador cumprimentando-o, e quando o som


fica mais longe, eu sei que ele baixou o telefone do rosto. Eu tento gritar para
ele dizer ao treinador o que está acontecendo, mas a linha corta antes que eu
possa passar a mensagem.

Ótimo.

Dirijo-me para o lado do motorista, escorrego para o assento e pego


embaixo dele o frasco que guardo ali. Se eu fosse pego com isso, estaria fodido.
Eu não bebo antes de dirigir. Eu não sou tão idiota assim. Acabo por retirá-lo
antes de treinos ou jogos em casa e atiro uma dose de coragem líquida pelo
meu corpo. Apenas o suficiente de uísque para que minha cabeça limpe e toda
a besteira vá embora.

Agora, eu preciso chamar o treinador Garvey e dizer a ele porque eu não


estarei no treino hoje.

Eu tomo um gole, coloco a tampa de volta e faço uma anotação mental para
preenchê-lo quando puder. Não há nem o suficiente para me fazer passar a
semana agora.
Antes que eu possa encontrar o número, ouço o som de uma porta pesada
fechando-se nas proximidades. Eu olho no meu retrovisor, percebendo que
alguém realmente saiu da estrada e parou atrás de mim. Uma caminhonete
grande e branca que parece estar selada com duas camadas de cera. Nenhum
arranhão, e nem um arranhão em seu dono, eu vejo, quando ele sai do carro.

Ele é alto. Bem construído. Jeans e camiseta exibem um corpo magro, pele
bronzeada, um passo confiante que envergonharia a maioria dos caras.
Grandes óculos de sol - Ray-Bans, pelo jeito deles - escondem os olhos, mas
posso ver uma barba castanho-escuro bem aparada e cabelos curtos com uma
quantidade razoável de gel usada para estilizá-los.

Eu não acredito em gaydar. Eu acho que é basicamente baseado em


estereótipos de merda. Mas esse cara definitivamente cuida de sua aparência,
e eu posso apreciar isso mais do que provavelmente deveria.

Eu abro a minha porta, esperando que eu não pareça um idiota completo.


Com a boa chance que eu tenho, considerando que passei a noite em um
celeiro. Eu não posso imaginar que cheiro muito bem também.

— Problemas com o carro? — Pergunta ele, parando a uma boa distância de


mim.

Eu devo realmente parecer uma merda, então.

— Sim. Eu acho que o motor parou.

— Se importa se eu der uma olhada? — Ele pergunta, apontando para


frente do carro.

Sua voz soa estranhamente familiar para mim, assim como a aparência
geral dele, mas eu não posso descobrir onde eu o vi antes. Ele poderia ser
apenas outro estudante. Realmente não importa quem ele é. Se ele souber
uma quantidade mínima sobre carros, ele será mais útil do que eu aqui.

— Seja meu convidado.

Eu saio do carro, esperando até que outro caminhão passe para dar a volta
na frente com ele. Esse sentimento de familiaridade aumenta quando olho
melhor para ele. Eu juro que até mesmo a silhueta dele é algo que eu já vi
antes, e a maneira como a luz pega os fios de ouro em seu cabelo parece algo
que eu estive descaradamente fascinado antes.

Mais uma vez, me contento com a explicação de que é apenas um cara que
eu vi no campus, mas quando ele finalmente levanta os óculos escuros para o
alto da cabeça, percebo o quão errado estou.

Meus lábios se separam enquanto olho para ele, observando a mandíbula


esculpida, os ângulos masculinos e afiados de seu rosto, e aqueles olhos azuis
escuros como um pacote completo. É Lance, porra Harper.

Não tem como ser ele. De jeito nenhum, um dos melhores receptores da
liga está aqui, checando meu capô. Mas com toda a imagem na minha frente,
ele é inconfundível.

Esse cara é como o garoto-propaganda para a gostosura da NFL. Tenho


certeza que ele fez mais calcinhas caírem do que a maioria dos outros caras da
liga, e mais do que alguns paus, incluindo o meu. Os anunciantes perceberam
que sua boa aparência e seu charme exagerado poderiam vender produtos
para pessoas que não têm uma pista sobre futebol. Eu tenho certeza que eu
tenho alguns cereais para que eu possa puxar e olhar para o rosto sorridente
dele.
Ele não está sorrindo agora, no entanto. Sua testa está franzida em
concentração enquanto ele se inclina sobre o meu pobre carro. Tão perto, ele
não parece realmente maior que a vida. Eu poderia acreditar que ele é apenas
um cara muito quente que aconteceu de parar por mim.

Exceto pelo fanboy dentro de mim que está gritando sobre o fato de eu
estar ao lado de Lance Harper. Que ele está tocando meu carro. Puta merda.
Eu nunca vou acabar com isso. Eu não me importo com o que acontecer com
isso. Lance Harper tocou.

— Não vejo nada aparentemente errado. Poderia ser limpo, e seu filtro de
ar precisará ser substituído em breve. O que aconteceu antes que parasse?
Algo estranho?

Sua voz é muito mais tranquila muito mais contida do que aos domingos.
Eu ouvi ele se comunicar no campo com a voz de um sargento, apesar de não
ser um QB9. Eu também o ouvir vender batatas fritas com uma voz que é sexo
puro. Essa voz não é nenhuma dessas.

Então eu percebo que, voz sexual ou não, eu vou ter que dizer a Lance
Harper como eu estraguei meu motor.

— Eu… Fui a uma festa ontem à noite. Tenho certeza que alguém derramou
cerveja no tanque.

Eu não ouso dizer a ele que esse alguém sou eu. Esse cara é como meu
herói pessoal. Saltou direto para os profissionais fora do ensino médio.
Esmagando registros que foram mantidos por décadas. E considerando o tipo
de contrato que ele assinou há alguns anos, tenho certeza que ele tem mais
dinheiro do que Deus.

9 Quarterback (QB).
— Ai — ele diz, e felizmente não faz nenhuma pergunta. — Eu não acho que
há algo que eu possa fazer por você, então. Vai precisar ser limpo. O motor
pode precisar de reparos.

A palavra "reparos" me traz de volta à realidade, me derrubando das


estrelas. Eu não posso pagar por reparos. Eu mal faço o suficiente para
comprar comida e merda. Vou ter que implorar a alguém por um empréstimo,
e a lista de pessoas que conheço que pode ter esse tipo de dinheiro é
incrivelmente pequena.

— Porra — eu digo, passando a mão pelo meu cabelo.

— Existe alguém que possa vir buscá-lo? — Pergunta ele.

Minha empolgação em conhecer Lance Harper desaba o resto do caminho


quando percebo que ele também vai ver o quão patético eu sou. Eu considero
mentir descaradamente. Posso dizer a ele que tenho alguém a caminho e usar
meu cartão de crédito já sobrecarregado para pagar um táxi.

Mas o que realmente sai da minha boca é: — Não, e eu tenho que estar na
prática em dez minutos.

Uma sobrancelha marrom levanta. — Prática?

— Sim. Eu jogo para os Tigers... Receptor, na verdade, — acrescento, me


sentindo um idiota.

Pelo menos deixo de fora a parte em que ele é meu ídolo, e daria tudo para
estar no lugar dele. Pelo menos os sapatos que ele estava usando no ano
passado. E inferno, até mesmo a vida que ele tem agora é provavelmente
muito melhor do que o que eu faria sozinho.
— Acho que você sabe quem eu sou — diz ele com um pequeno sorriso.

Há algo de triste nessa expressão, como se esse cara pensou que estávamos
apenas relaxando, dois caras normais olhando para um carro que teve cerveja
colocada no tanque. Uma parte de mim quer dizer a ele que não tenho ideia de
quem ele é, mas o que sai é - mais uma vez - a verdade.

— Sim, assim que você tirou os óculos escuros. Desculpe — acrescento.

Ele apenas balança a cabeça, depois olha para o próprio caminhão. — Que
tal isso. Eu chamarei um reboque e depois darei uma carona para você para a
prática.

Eu olho para ele, não acreditando realmente no começo. Não é que eu


pensasse que Lance Harper não seria um ser humano decente, é só que... Eu
não consigo nem que meus próprios companheiros de equipe venham aqui
para mim. De repente, está sendo oferecida pra mim uma assistência na
estrada nível Triple A10 por um jogador de futebol profissional?

Este é um dia maluco.

— Isso seria ótimo, cara. Eu realmente aprecio isso. Mas eu não posso
pagar por um reboque agora. — Sem mencionar os reparos. — A NCAA11 diz
que meu cheque está no correio.

Ele ri da minha piada, me assustando não apenas por quão rica e quente
sua voz é, mas porque eu não estou acostumado com pessoas que pensam que
sou engraçado a menos que eu esteja com a minha inibição desligada.

10 É uma classificação utilizada para jogos com os maiores orçamentos e níveis de promoção. Um
título considerado AAA, é esperado que seja de alta qualidade, ou que esteja entre os melhores.
11 NCAA (Associação Atlética Universitária Nacional em inglês) é uma associação composta de 1281

instituições, conferências, organizações e indivíduos que organizam a maioria dos programas de esporte
universitário nos Estados Unidos.
— Eu vou cobrir o reboque — diz ele. — Eu posso te dar uma carona para o
campo também.

Eu apenas olho para ele por um segundo, sem saber o que dizer sobre isso.
Quero dizer, obviamente eu deveria dizer sim. Lance Harper está me
oferecendo uma carona para a prática. Andar por aí com ele provavelmente irá
apagar as memórias dos meus companheiros de equipe de qualquer coisa
estúpida que eu fiz na noite passada.

Mas eu não gosto de aceitar caridade. Eu vi a maneira como a sociedade


olha para você quando você faz, e eu sei o que alguém se aproveitando parece.
Eu não quero chegar a esse ponto.

A melhor coisa que posso imaginar é um acordo.

— Eu realmente aprecio a carona — eu digo, tentando o meu melhor para


abafar as outras imagens que a palavra evoca — mas eu não posso
simplesmente aceitar um reboque de você. Deixe-me pagar de volta.

— Quando seu cheque da NCAA chegar? — Ele pergunta com um sorriso


que rouba minha respiração.

—... Sim, isso.

Lance ri de novo, e me vejo pensando como isso é injusto. Alguém que é


tão talentoso, tão quente, tão sexy, também não deveria ser um cara legal.

Mas eu acho que tive sorte por uma vez. Agarrando minha mochila na
parte de trás do meu carro, eu vou até a caminhonete de Lance e a atiro para o
lado. Ela cai com um baque suave no estofado impecável e brilhante. Quando
eu entro no carro, Lance já tem o bluetooth configurado e ele está procurando
o número para a empresa de reboque mais próxima.
Dez minutos depois, eu assino o recibo e minha velha Kia é rebocada.
Outro problema para lidar, mas posso pelo menos adiar até um pouco mais
tarde. No momento, vou aproveitar o fato de que estou conseguindo uma
carona para treinar com um dos melhores jogadores da liga.
Eu continuo esperando por este jogador da Eastshore me perguntar algo
sobre os profissionais, ou trazer uma de minhas jogadas, ou mesmo investigar
minha vida pessoal. É como a maioria das minhas interações acontece.
Obviamente, ele sabe quem eu sou e posso ver as estrelas em seus olhos
quando ele olha para mim.

Mas ele não me pergunta nada sobre minha carreira, e o resto da conversa
que ele faz é casual. Amigável. Provavelmente coisas que ele falaria com
qualquer pessoa.

É refrescante, e pela primeira vez pude largar o ato de Lance Harper,


superestrela carismático de futebol e ser apenas... Lance. Neste momento, não
tenho que ter uma personalidade vencedora. Eu não tenho que colocar um
sorriso de um milhão de dólares em seis câmeras diferentes. Eu não tenho que
lançar minha voz de certa maneira enquanto estou anunciando um produto.
Eu não tenho que me preocupar sobre como minhas palavras serão
interpretadas.

Eu posso ser apenas eu. O eu que sou em torno de Xavier. O eu que sou
quando estou sentado com minhas cuecas em casa.

Bem. Talvez não tão longe assim.

Chegamos ao campo da Eastshore por volta das dez e meia. Eu já posso ver
jogadores em suas malhas, fazendo fila para os exercícios. Capacetes azuis-
claros reluzem ao sol, e eu juro que quase posso ouvir o som de almofadas
batendo, chuteiras cavando no campo, bolas fazendo contato com luvas. Eu
quase posso sentir o cheiro da grama recém-cortada, o fedor de suor depois de
uma prática extenuante.

Faz algo dentro de mim doer, uma sensação de saudade me atingindo com
uma força colossal. Esse anseio só fica mais pronunciado quando entro em um
espaço de estacionamento e tenho uma visão completa do campo. A explosão
estridente de um apito alcança até mesmo através das minhas janelas
fechadas, e a adrenalina corre pelas minhas veias, meu corpo preparado e
pronto para o trabalho.

Só que não sou eu quem vai para lá. É Beau.

Eu olho para a minha direita e vejo uma visão familiar. Ele está sentado
praticamente na beira do assento. Seu corpo está apertado como uma mola,
toda aquela energia esperando para ser liberada. Seus olhos verdes marinhos
brilham com uma excitação mal contida.

Naquele instante, sinto uma ligação com o homem ao meu lado. Somos
como irmãos de sangue. Eu sempre brinquei que meu primeiro amor é o
futebol. Tornou-se engraçado para a imprensa e meus manipuladores sempre
disseram que tudo corria bem com o meu principal público-alvo, mas também
é verdade. Eu posso ver que é o mesmo para Beau.

— É melhor me preparar para me humilhar — ele diz casualmente.

Isso dispara o alarme em mim, apesar do fato de eu saber que é apenas


conversa de vestiário. Uma maneira inofensiva de aceitar o fato de que você
está prestes a ter uma palestra infernal, e uma punição para combinar. É o
sorriso de Beau que me acalma, no entanto. Tão diferente da expressão que eu
pratiquei no espelho um milhão de vezes, seu sorriso é real e vibrante,
iluminando todo o seu rosto.

Eu sinto uma pontada de desejo que não tem nada a ver com futebol, e
decido me arriscar a olhar para o campo.

— Hey, obrigado pela carona, cara. Eu não sei o que eu teria feito se você
não tivesse aparecido.

Eu tenho dificuldade em acreditar nisso. Beau parece quase magnético.


Certamente, se ele pedisse ajuda, qualquer número de pessoas estaria
tropeçando em si para dar. Ainda assim, é uma cortesia e eu respondo na
mesma moeda.

— Não é problema algum.

Ele abre a porta do lado do passageiro e sai da minha caminhonete. Do


espelho retrovisor, vejo-o pegar sua bolsa na parte de trás. Espero que ele
corra em direção ao vestiário para trocar de roupa, mas, para minha surpresa,
ele afunda a cabeça para dentro da cabine.

— Ei, eu sei que você provavelmente está cansado de futebol, mas... Você
quer ficar por perto? Nos assisti praticar?

Esse desejo de estar lá, de fazer parte desse esporte que eu amo responde
antes que eu possa me censurar. — Eu gostaria disso, sim.

Beau me lança outro sorriso e eu desligo o motor, seguindo-o em direção


ao campo. Entro por um portão que ele aponta ao lado e consigo me esgueirar
pelas arquibancadas sem muita dificuldade.
Existem algumas outras pessoas espalhadas. Não tenho certeza se são
apenas amigos e família, talvez um ex-aluno ou dois, mas pareço passar
despercebido principalmente graças à presença deles. Sentindo-me livre, eu
entro no campo.

Todos estão juntos agora fazendo os mesmos exercícios de rebatidas que


nos colocam na NFL. A SEC sempre foi uma divisão competitiva, e não me
surpreendo quando os vejo trabalhando duro com os caras. Eles precisam da
resistência e da disciplina se quiserem competir.

Cerca de cinco minutos depois, vejo Beau sair correndo do vestiário. Um


homem mais velho late com ele e trocam algumas palavras que não consigo
ouvir. Se é uma bronca, é breve. Mas eu posso ver imediatamente que o
Eastshore não é muito sobre punições verbais. Em vez disso, eles o separaram
do resto da equipe. Não o suficiente para fazer alguma declaração descarada,
mas o suficiente para estar claro que ele não está fazendo a mesma coisa que
eles estão.

Enquanto assisto, ele passa por um rigoroso ciclo de exercícios. Up-downs,


lifts, bear crawls, jump squats12, até ele começar tudo de novo. Ele faz do jeito
que um soldado faria, executando o que lhe é pedido e seguindo em frente.

Quando eles finalmente se separam em times ofensivos, de defesa e


especiais, eu ainda fico de olho em Beau. Ele está emparelhado com um QB e
executa rotas mais e mais, pegando uma variedade de passes. Ele só tropeça
uma vez, e eu suspeito que foi intencional na parte do QB, jogando a bola por
muito tempo, mas em uma espiral rigidamente controlada que a envia girando
com uma explosão de velocidade.

12 Todos exercícios de Crossfit.


Mesmo assim, entretanto, Beau se move com uma graça atlética. Seu corpo
é composto de músculos magros que trabalham em conjunto para executar
corridas, saltos e agarramentos. Como receptor, posso apreciar a arte dele.
Como um homem que é atraído por outros homens, eu aprecio mais do que
apenas a arte.

Eu posso ouvir alguém chegando, e eu imediatamente fico tenso. Meus


óculos de sol estão de volta, e ninguém vai me questionar por usá-los ao ar
livre enquanto olha para o sol da Flórida, mas não é como se eles me
deixassem completamente incógnito.

Eu olho para o meu lado e ofereço um sorriso educado, esperando outro fã.
O homem que vejo, no entanto, está vestido com uma camisa polo dos Tigers e
calça cáqui. É o uniforme casual de um treinador se eu já vi um. O treinador
deles, eu acho. Garvey.

— Eu gosto de sentar aqui às vezes. Tem uma visão diferente do campo —


explica ele.

— Faz sentido.

Ele fica a uma distância respeitável, mas ainda perto o suficiente para
temer que ele me envolva em uma conversa. Não pode ser coincidência que ele
tenha vindo aqui.

— Woodridge me disse que você deu a ele uma carona, deu algum dinheiro
para um reboque.

Eu olho para o treinador Garvey. Ele está olhando para o campo agora,
mas seu sorriso me diz que, de fato, sabe quem eu sou.

— Não foi um problema, na verdade.


— Estou surpreso que você está aqui fora. Eu pensei ter ouvido algo sobre
você querer relaxar por um tempo. Aproveitar a vida sem futebol.

Eu tento pensar em todas as declarações que fiz à imprensa sobre o meu


afastamento. Meus assistentes me aconselharam a falar sobre isso em termos
de dedicar algum tempo para mim. Eles queriam transformá-lo em um
período de autodescoberta para um jovem que foi direto de criança para, de
repente, ser empurrado para esse enorme palco público.

Não é exatamente impreciso, mas a realidade é mais complicada.

— Eu acho que é difícil ir embora completamente — eu admito.

Ele ri, um som genuíno e saudável. — Eu posso entender isso. Quando


minhas filhas nasceram, eu prometi a minha esposa que tinha acabado. Aqui
estou, dezesseis anos depois. Simplesmente não consigo me livrar disso.

Eu sorrio para ele, invejando-o pelo que - pelo menos do meu ponto de
vista - parece uma vida simples. Sua família pode estar em perigo, mas se ele
ainda está treinando agora, não parece. Mas de qualquer forma, suas decisões
dentro e fora do campo de futebol não estão sob constante escrutínio. Se ele
escolhesse dar um passo atrás por sua esposa e filhas, as pessoas entenderiam.

Meu companheiro cai no silêncio, sua atenção é capturada pelos jogadores


abaixo. Ele está observando tudo, analisando o comprimento do campo. De
vez em quando, ele chama um dos coordenadores ou o assistente técnico.

Eu encontro Beau novamente. Ele está fazendo exercícios de corrida agora,


surgindo de uma linha de scrimmage13 e correndo para um ponto. Eu olho em

13 A linha de scrimmage (em inglês: line of scrimmage) é uma linha imaginária transversal que corta o
campo e se posiciona entre a linha defensiva e a linha ofensiva, e os times não podem ultrapassar essa
linha antes do começo da jogada.
volta, esperando ver alguém o observando, mas não há ninguém. O único
treinador que parece estar com eles é aquele que está à deriva de grupo para
grupo.

— Você não tem um coordenador ofensivo? — Eu pergunto, de repente me


sentindo inseguro sobre o meu conhecimento do futebol universitário.

— Nós tínhamos. Até que ele conseguiu um emprego com os Chargers. — O


treinador Garvey puxa a aba do chapéu para baixo. — Estou feliz por ele, mas
ele nos deixou no meio de uma situação crítica.

Situação crítica, de fato. Se eles não encontrarem alguém antes do início da


temporada, eles terão problemas em acompanhar.

Não é da minha conta, e é melhor não me intrometer. Em vez disso, eu


apenas aprecio a prática. É um dia de scrimmage, aparentemente, o que me
deixa ainda mais feliz por ter ficado para trás. Os caras se formam em seus
respectivos papéis, e meu olhar de novo cai sobre Beau enquanto ele está atrás
da linha, um joelho dobrado levemente, as mãos para os lados.

Ele olha na minha direção antes que a bola seja jogada, e eu sinto um
pouco de emoção, que eu faço o meu melhor para ignorar. É bastante fácil
quando vejo a linha defensiva se mover e se adaptar. Eles leram a jogada e
estão se posicionando para interrompê-la.

Espero o audible14 para evitar isso, mas isso nunca acontece. O QB pede o
snap15 e executa o jogo como se ele estivesse lendo diretamente do playbook.
Ele procura alguém para se conectar no meio-campo, mas há muitos
14 Uma mudança de jogada realizada pelo quarterback instantes antes de a bola ser colocada em jogo,
após ele identificar que a formação defensiva do adversário é ruim para a jogada previamente
combinada; o líder do ataque grita códigos de forma a avisar seus companheiros de time da mudança.
15 Quando o Center passa a bola por debaixo das pernas para o seu Quarterback, dando início a

jogada.
defensores lá cobrindo todas as rotas possíveis. Quando um LB16 corre em
direção a ele, ele chuta um passe selvagem que é quase interceptado.

— Deveria ter chamado o audible — eu digo antes mesmo de perceber que


estou falando.

— O que foi aquilo? — O treinador pergunta.

Minha boca abre e fecha estupidamente enquanto tento decidir se quero ou


não ser o cara inconveniente. — O quarterback deveria ter chamado um
audible assim que viu a defesa se ajustar.

Ele assente, aparentemente concordando comigo. — Que jogada você teria


feito lá?

— Oh, eu não sou...

O treinador Garvey sorri para mim. — Apenas hipoteticamente falando.

— Eu armaria isso por muito tempo. Eles não estavam jogando com uma
cobertura profunda. Teria sido difícil para eles se adaptarem se o audible fosse
cronometrado corretamente.

— Decisão sólida — ele diz, voltando sua atenção para o campo enquanto a
linha se configura novamente. — Brady é jovem. Não experiente. Inferno de
um braço, mas ele ainda tem muito a aprender sobre jogar com um time.

Eu espero e quase quero que o treinador continue - para me contar sobre o


resto dos caras da equipe. Mas ele fica quieto novamente, apenas observando.

16 Tem uma função híbrida. Em jogadas de passe, ajudam a cobrir os recebedores e em jogadas de
corrida auxiliam na perseguição ao RB (Running Back. É o corredor da equipe).
Eu posso dizer que sua atenção está fixada na ofensiva, porque seu olhar varre
da linha ofensiva, para receptores, para RBs17, e todo o resto deles.

As jogadas são sólidas. Não há grandes diferenças da NFL, mas o nível de


finesse é definitivamente menor aqui. Os jogadores ainda estão aprendendo
suas rotas, ainda aprendendo a ler o campo e a oposição. Erros acontecem
com mais frequência, e os caras que os fazem não são chamados tão
ferozmente quanto seriam nos profissionais.

Eu falo quando percebo as coisas. Eu não sei por que, mas não consigo
evitar. O treinador Garvey me aguenta, mas não posso deixar de pensar que
não serei convidado para cá. Isso é até eu apontar uma lacuna na linha
ofensiva que está sendo continuamente explorada.

— Suponho que você não está procurando um emprego?

Eu rio, pensando que é uma piada, mas a expressão do treinador Garvey -


embora amigável - parece muito séria.

— Eu agradeço a oferta, e estou lisonjeado, na verdade, mas não estou


qualificado para treinar.

— Você tem experiência com o jogo. Você sabe do que está falando quando
se trata de jogadas. Você reconhece áreas para melhorar, e eu acho que você
estaria mais inclinado a ajudar esses garotos do que derrubá-los. Soa como
material de treinador para mim.

Eu não sei o que dizer sobre isso. É claro que já pensei em treinar, mas
como um objetivo distante. Algo para fazer quando me aposentar do futebol. É
17 Running Back (RB). É o corredor da equipe. Recebe a bola das mãos do QB e busca conquistar as
jardas necessárias atravessando a defesa pelo meio (passando pela área chamada trincheiras) ou pela
lateral. Também pode receber a bola por meio de lançamento, servindo como válvula de escape para o
QB quando pressionado.
uma carreira bastante normal. Você joga, você treina, e se você tem bastante
carisma, você vira comentarista.

Treinando os Tigers, embora... Contribuindo para o sucesso de um time


que eu amo desde que era garoto? A oferta é surreal. Tanto quanto estar na
NFL era um sonho meu, então isso é. Eu sempre quis jogar aqui. Ter a
oportunidade de treinar seria uma segunda chance.

E ainda meu impulso é dizer não. Não apenas isso, mas dizer não e ficar o
mais longe possível daqui. É muito. Eu recuei do futebol porque eu não
conseguia lidar com isso. Eu não preciso de mais nada.

— Basta pensar nisso. Eu não preciso de uma resposta imediatamente —


diz o treinador.

Eu espero argumentos de vendas. A mesma que recebi dos recrutadores


quando entrei pela primeira vez na liga. Todas essas promessas de sucesso e
glória. Mas o treinador Garvey não tenta me empurrar para isso. Ele nem
tenta me pressionar. Ele só volta a assistir a prática.

Eu sento em silêncio por um tempo, mal observando o campo. Meu agente


provavelmente estaria na lua se eu aceitasse esse trabalho. É um caminho
possível de volta para eu ser uma vaca de dinheiro novamente. A imprensa
também estaria em cima de mim. E não tenho ideia de como Jen reagiria.

Quando olho para o campo, percebo que agora estou sendo observado.
Vários jogadores estão olhando em minha direção, e esses jogadores me
apontam para os outros. É perturbador para a prática, e isso me lembra de
uma coisa que deixei passar: se eu aceitar esse trabalho, não serei apenas o
treinador Harper. Eu ainda serei Lance Harper, o cara que está em potes de
margarina em todo o país.
Isso é o que finalmente me faz recusar. — Eu agradeço a oferta — eu digo
sinceramente, — mas acho que tenho que recusar.

O treinador Garvey se levanta e eu estendo minha mão para apertar a dele.


— Eu não vou entrevistar ninguém até quinta-feira, então se por algum motivo
você mudar de ideia antes disso, me ligue. O departamento de atletismo pode
passar a ligação.

Eu sorrio para ele e vou em direção ao portão, sentindo vários pares de


olhos em mim ainda. Meu coração dói quando saio do campo de futebol, mas é
melhor assim. Eu não quero mais ser Lance Harper. Eu não posso me dar ao
luxo de ser ele.

Se isso significa que não posso ter nada a ver com futebol... Então acho que
é assim que tem que ser.
Dois dias depois, estou sentado em frente ao meu laptop na mesa da
cozinha, esperando que uma transmissão ao vivo comece.

Um de meus assistentes - minha gerente de relações públicas, Kate - voou


para apenas para ter certeza de que eu não estragaria tudo. Nós começamos a
fazer transmissões ao vivo há dois anos para capitalizar sobre como "acessível"
eu seria para os fãs, e quando falava com os fãs, eu realmente gostava.

Não é o que é hoje, no entanto.

— Você analisou as perguntas que eu te enviei, certo?

Ela já me perguntou isso três vezes desde que seu avião pousou. Eu apenas
aceno com a cabeça, sentindo que não vou conseguir vocalizar sem parecer
puto.

— É possível que eles saiam do script, e você deve sempre esperar por
perguntas aleatórias do chat, mas pelo menos você terá suas bases cobertas.

— Entendi — eu digo, olhando para o relógio e desejando que algum tipo


de vórtice do tempo se abrisse e empurrasse para frente em uma hora.

Eu posso pensar em cerca de cem coisas que eu prefiro fazer mais do que
isso, e a maioria é extremamente dolorosa. Já é ruim o suficiente ter que
passar por uma entrevista cara-a-cara onde você está apenas respondendo
perguntas de um único jornalista. Mas abrir para uma audiência de centenas,
talvez milhares de pessoas que podem fazer perguntas em um fórum aberto? É
como estar no meio de uma sala de audiências e, em vez de apenas ser
calmamente examinado pela acusação, ter que resistir aos interrogatórios de
literalmente todos que podem falar.

Era uma coisa quando costumávamos fazer nossas Livestreams 18 no


vestiário. Aquelas eram principalmente divertidas. Claro, eles ficavam
entediados após as derrotas. Às vezes, algumas pessoas odiosas se infiltravam.
Mas, na maioria das vezes, o ambiente era positivo, e a resposta também.

Isso, embora...

— Vamos fazer um retoque aqui. Ele está suando.

Eu solto um suspiro, deixando meus olhos se fecharem por um momento.


Eu quase esqueci que minha encarregada trouxe assistentes de sua autoria.
Alguém para fazer minha maquiagem e outra pessoa para lidar com a
iluminação. É uma comitiva ridícula para apenas uma transmissão ao vivo,
mas minha imagem pública foi atingida, e essas pessoas querem ter empregos
daqui para frente.

A maquiadora alisa minha testa, depois aplica fundação ou encobrimento


ou o que for usado para tirar o brilho. Ela tira alguma coisa do meu ombro
direito, certificando-se de que meu blazer esteja nítido e limpo. E então a luz
verde brilha no laptop que Kate trouxe com ela, e eu sento um pouco mais
ereto, esperando que o feed entre a qualquer momento.

18 Livestream, conhecido originalmente como Mogulus é uma plataforma de streaming de vídeo que
permite a seus usuários assistir e transmitir vídeos utilizando uma câmera e um computador através da
internet.
Eu quase solto um suspiro de alívio quando uma imagem de Danny King
aparece na tela. Ele já apresentou alguns deles, e eles são sempre muito mais
civis. Ele parece menos interessado em obter um pouco de informação
suculenta de mim do que em apenas organizar uma boa experiência geral. Eu
gostaria que eles tivessem me dito que ele estava no comando. Eu poderia não
ter passado a noite passada vomitando.

— Tudo bem, o momento que todos vocês estavam esperando, porque eu


sei que vocês não estão aqui para mim, certo? Eu apresento o solteiro mais
cobiçado da NFL, a única razão pela qual você comprou aquela caixa de
cereais, vamos ser honestos, Lance Harper.

— Olá, Danny — eu digo, deslizando para o meu papel imediatamente com


um grande sorriso. — Olá a todos. É bom vê-lo novamente.

— É bom ver você, Lance! Parecendo bonito e bronzeado. Você foi para a
praia?

Eu dou um praticado sorriso de lado. — Você sabe como é. Você sempre


tem a melhor visão da praia.

Danny ri, suas sobrancelhas levantadas. — Tenho certeza que você está
falando sobre o pôr do sol, certo?

— Oh, claro — eu digo descaradamente. — Definitivamente o pôr do sol.

Eu dou uma piscada e, quando olho para o painel de bate-papo, vejo


muitas ações apreciativas. Corações principalmente. Um par de chamas.
Decente o suficiente, eu acho. Eu estou jogando meu papel.

— Você teve muito tempo para olhar o 'pôr-do-sol' recentemente. Fale um


pouco sobre isso. Houve um período de adaptação?
— Hum, bem, quero dizer que sempre há um pouco de ajuste a ser feito,
não é? É uma grande mudança na vida.

— Claro, claro — diz Danny.

— Mas tem sido ótimo. Eu tinha uma rotina tão rígida quando estava na
NFL, e tem sido bom pensar em algo que eu quero fazer e ir fazer isso. Se eu
quiser pegar um filme ou sair para comer, Eu posso ir sempre que quiser. —
Kate pega meu olhar, levanta as sobrancelhas para sinalizar que eu não estou
acertando os pontos de discussão bem o suficiente. — Obviamente, é mais do
que isso. Também tenho muito tempo de silêncio aqui. Hora de pensar e
refletir e apenas decidir o que quero fazer com essa próxima fase da minha
vida.

Kate me dá um sinal de positivo, e eu escondo minha expiração em


resposta.

— Bem, eu posso imaginar que você tem muito tempo para um exame de
consciência a embaixo. — Eu vejo seu olhar movimentar para o lado, e sei que
ele está prestes a me acertar com a pergunta de um espectador. — Vamos em
frente e tirar a primeira pergunta do chat. Lembre-se para aqueles de vocês
assistindo em casa, o chat ao vivo só é suportado em nosso aplicativo, então se
certifique de pegar isso. Tudo bem, então NFLMom74 pergunta: “Você ainda
tem um rotina de exercícios? Você está em ótima forma!” Isso é fofo. Você
está em ótima forma, Lance.

Alguma variação desta questão sempre surge. É uma indução. Uma


maneira de fazer com que eu faça o que muitas pessoas procuram.

— Eu realmente aprecio isso Danny, NFLMom. Eu ainda tenho uma rotina


de exercícios. Eu tenho uma academia criada aqui, e eu tento ir para o clube de
fitness local algumas vezes por semana. Eu acho que eu estou caindo um
pouco atrás, no entanto. — Eu acaricio meu estômago. — Você quer ver?

— Eu não sei. Chat, queremos ver?

O chat é tão rápido que não consigo acompanhar, mas já sei o que ele diz.

Eu me levanto, acidentalmente empurrando meu microfone, e começo a


puxar minha camisa para cima. Apenas o suficiente para mostrar meu abs. Eu
já fiz isso tantas vezes que sei exatamente onde eu preciso para a melhor foto.

— Veja isso? — Eu pergunto, acariciando meu estômago. — Isso é o que


acontece quando você para de fazer exercícios de condicionamento.

Meu corpo ainda está tonificado. Eu poderia ter perdido um pouco de


massa muscular, mas eu sei que não é perceptível, apesar do fato de que algum
tabloide relatará que eu me deixei ir, com uma imagem minha de Photoshop
com uma barriga de cerveja ou algo assim.

— Eu nunca vi ninguém mais fora de forma — brinca Danny.

Eu quase saio quando ele lê os comentários do chat dos últimos 30


segundos. Não é que eu não goste de ser elogiado. Seria ridículo eu reclamar
disso. Mas o homem que essas pessoas conhecem, o que elas vêm assistir... Ele
não é eu. E toda vez que volto a esse papel, me sinto um pouco mais
ressentido.

— Tudo bem, agora vamos mudar as marchas um pouco aqui. Temos que
discutir um assunto delicado — diz Danny, e eu me preparo. — Vamos falar
um pouco sobre o seu divórcio.
Eu sei que este é o ponto principal da transmissão de hoje. Meus
assistentes queriam dizer antes das notícias; para ter certeza de que eu poderia
girar as coisas positivamente antes de Jen começar a dar suas próprias
declarações e entrevistas.

Mas ainda não estou pronto para isso.

— Claro, você quebrou muitos corações ao redor do mundo quando você


finalmente se casou, mas eu acho que todo mundo está triste em ver isso
terminar.

— Não mais do que eu, Danny. Mas você sabe, às vezes as coisas
simplesmente não funcionam. E não é culpa de ninguém, não é uma coisa
enorme. Você apenas acorda um dia e descobre que talvez você não seja tão
compatível como você pensou que fosse. E certamente você pode trabalhar
nisso, mas, no nosso caso, sentimos que a separação era melhor para nós dois.

É todo um discurso de mentiras. Um que eu tive que praticar várias vezes


para dizer com qualquer convicção. Nossa separação não foi e não é amigável.
Nem um pouco. Mas nem mesmo Kate sabe o quanto as coisas são feias entre
nós. Eu gostaria de continuar assim.

— Bem, lamentamos muito ouvir isso, mas desejamos a você a maior


felicidade. Isso significa que você estará no mercado novamente em breve,
certo?

Eu quase gemo. A última coisa que eu quero pensar é namorar.


Especialmente namorando um fã. Mas é uma parte esperada da minha
personalidade, e eu sorrio de uma forma que mostra minha única covinha.
— Não imediatamente, Danny. Vou tirar um tempo para mim mesmo, mas
não vou descartá-lo. Você nunca sabe. Eu poderia conhecer alguém especial.

Danny lê algumas das respostas previsíveis para isso. As tranquilas, de


qualquer maneira. Eu posso ver algumas desaparecendo do chat, excluídos por
moderadores com os dedos no gatilho.

Um comentário chama minha atenção, no entanto:

Eu serei sua pessoa especial se você quiser me pegar, garoto grande. ;) Eu


tenho um grande pa* com o seu nome por toda parte.

É apenas um comentário aleatório, paquerador, e é apagado tão rápido


quanto aparece. Mas isso me deixa ansioso. E se os outros virem isso? E se eles
começarem a se perguntar?

Não tenho tempo para me preocupar com isso, e não tenho certeza se sou
grato ou não, porque a questão que o substitui é um milhão de vezes pior. Em
maiúscula, de novo e de novo, inundando a tela, vejo:

É VERDADE QUE VOCÊ TRAIU SUA ESPOSA?

Os moderadores tentam resolver isso, e estou supondo que haverá uma


proibição de chat para esse usuário, mas o dano já foi causado. Todo mundo
está falando sobre isso, e agora a minha persona experiente está começando a
escorregar enquanto me devoram.

Eu não traí minha esposa. Não é algo que eu faça. Mas por causa do ato
que interpreto e do papel que preencho nas mentes dos meus fãs, é fácil
acreditar que eu faria. Mais fácil do que realmente ouvir a verdade, de
qualquer maneira.
— Por que não seguimos em frente — diz Danny, tentando ser caridoso. —
Quais são seus planos daqui para frente, Lance? Alguma chance de ver você no
campo de futebol de novo?

Eu aprecio o que ele está tentando fazer. Eu conheci muitos jornalistas,


blogueiros e esportistas que parecem não ter nenhuma consciência - que
cutucam e cutucam tudo em nome da audiência, sem dar a mínima para seus
sentimentos pessoais. Danny nunca foi assim, e é por isso que continuo
concedendo exclusividades a ele.

Mas se eu deixar esta questão ficar lá, ela vai apodrecer. O chat ainda está
cheio de pessoas que querem saber. Ficar em silêncio, enquanto
provavelmente é o que meus assistentes recomendariam, apenas me faz
parecer que tenho algo a esconder.

— Na verdade, Danny, gostaria de dizer uma coisa. Dirigi-me ao elefante


na sala, se você quiser.

— Por todos os meios — diz ele, e embora ele não vá ativamente, eu posso
dizer que ele está feliz por eu estar disposto a fazê-lo. Sua contagem de
espectadores ativos provavelmente aumentará um pouco por causa disso.

— Eu nunca fui, nem jamais seria, infiel à minha esposa. Eu amava


Jennifer e honro meus votos hoje tanto quanto no dia em que os fiz. E se isso
estiver em conflito com as coisas que você acredita que eu diria ou faria, então
sinto muito por isso.

Kate está me dando o sinal de “matar”, e por mais que eu queira continuar
- por mais que eu queira tirar a verdade do meu peito - eu me retiro do jeito
que eu aprendi.
— Como eu disse antes, Danny, é uma separação amigável. Jen e eu
queremos coisas diferentes da vida.

Ela quer meu dinheiro e eu não quero estar casado com alguém que iria
usar minha própria honestidade e franqueza contra mim.

— Isso certamente pode acontecer. Todos nós apreciamos você ter tempo
para falar sobre um assunto delicado, Lance. Agora, de volta à sua carreira...

O restante da transmissão segue o planejado. Estou praticamente me


lembrando textualmente do roteiro que Kate me enviou, dando as respostas
menos comprometedoras possíveis para manter a esperança viva. É bom para
minha imagem pública, ela me garante. Ela não parece perceber que eu nem
quero uma imagem pública.

Eu danço sobre o tópico do futuro, dizendo a Danny e a todos que pedem


que eu não descarto nada. Eu sorrio. E sorrio. Eu pisco. Eu interpreto meu
papel exagerado não exatamente com facilidade, mas com um senso de
familiaridade relutante.

E quando tudo acaba, tudo que eu posso pensar é o quanto eu quero ficar
bêbado pelo resto da noite.

Kate e seus dois ajudantes estendem um convite para jantar para mim,
mas eu recuso o mais educadamente possível. Quando eles somem, eu busco
nos os armários de uma casa com a qual ainda não me familiarizei. É um tiro
no escuro, mas pode haver uma garrafa empoeirada de algo escondido na
parte de trás, deixado para trás pelos proprietários anteriores.
Não há nada, no entanto. Apenas prateleiras vazias ainda esperando para
serem preenchidas. Então eu decido tomar mais medidas adultas do que
apenas ir para a loja de bebidas. Eu também visito o supermercado, pegando o
suficiente para abastecer minha geladeira e despensa por uma semana ou
mais. É um pouco espetacular. Sinto-me ridículo ao usar meus óculos de sol
em ambientes fechados, pois sou reconhecido constantemente e em quase
todos os corredores do Publix19 local. A maioria das pessoas daqui me trata
como uma das suas, porque eu sou. Mas os estudantes que vêm de outro lugar,
os frequentadores da praia e aqueles que realmente não parecem se importar
com o espaço pessoal é outra questão.

Quando chego à loja de bebidas, não há nada no mundo que vai me


impedir de comprar uma garrafa de Jack. Eu nunca fui muito bebedor. Mesmo
com o acesso a qualquer coisa que eu poderia querer, nunca vi a necessidade
de empurrar a mim mesmo ou ao meu corpo dessa maneira. Mas há
momentos em que um copo ou dois é realmente a única cura, e este é um
delas.

Vou direto para a prateleira de uísque e, desta vez, mantenho meus óculos
de sol. Não é totalmente inédito, considerando quantos estudantes de ressaca
provavelmente vêm aqui para reabastecer seus estoques. E a última coisa que
preciso hoje é alguém tirando uma foto minha comprando álcool e dizendo
que eu não cuido de mim.

Há outra pessoa em pé na frente da seleção de uísques, e eu faço questão


de não olhar para ele, planejando apenas pegar o meu Jack e ir embora. Uma
voz amigável e familiar me interrompe assim que minha mão se fecha ao redor
da garrafa.

19 Rede de supermercado.
— Oh, ei, cara. Não achei que te pegaria tão cedo.

Olho para encontrar Beau parado perto de mim e relaxo instantaneamente.


Ele é um homem intimidador. Alto e de ombros largos com um físico incrível.
Mas há algo sobre suas maneiras que me atrai. Por mais perigoso que seja,
também é incrivelmente refrescante.

Eu sei, por exemplo, que Beau não vai me perguntar o que estou fazendo
em uma loja de bebidas. Ele não vai perguntar sobre a livestream. Não faço
ideia se ele pensa ou não naquelas coisas, mas a julgar pela maneira como ele
me tratou no outro dia, elas não são um grande problema para ele.

— Hey — eu digo, sem saber se eu deveria cumprimentá-lo de alguma outra


forma.

Um aperto de mão parece muito formal. Um abraço seria ridículo. Um


tapinha no braço é um meio termo seguro, mas não tenho certeza se estamos
lá. Eu também hesito em colocar a mão nele, mesmo de uma forma tão
inocente, porque a verdade sobre o quase solteiro mais cobiçado da NFL é que,
apesar de toda a sua arrogância pública, ele é absolutamente horrível em
interagir com pessoas que ele considera atraentes.

Acrescente o fato de que Beau é um homem, e eu ainda estou passando por


um divórcio confuso, e você tem uma situação que me encontra socialmente
paralisado.

— Você conseguiu o seu carro consertado? — Eu finalmente pergunto


depois de uma pausa desajeitada.
— Uh, bem. Sim. — Ele chega e esfrega na parte de trás do seu pescoço. —
Conserto fácil, mas o cara me deu dez minutos sobre como tratar melhor o
meu carro.

— Talvez apenas o ignore da próxima vez que ele quiser dar uma bronca,
sim?

Beau ri disso e me vejo sorrindo. O constrangimento desaparece e sinto-me


à vontade, mesmo quando ele aponta para a garrafa de Jack que tenho na
mão.

— Ocasião especial ou algo assim? — Pergunta ele.

— Fiz um livestream hoje cedo — eu me vejo admitindo.

Porque por mais que eu não queira que seja a primeira coisa que sai da
boca de alguém, aparentemente há uma parte de mim que quer falar sobre
isso.

— Sim, isso foi... — Ele solta um suspiro, balança a cabeça. — Posso


entender por que você precisa de uma bebida ou doze depois disso.

Então ele conhece quem eu sou além de apenas conhecer meu rosto, nome
e carreira. Acho que eu não deveria ter duvidado disso, mas quase me faz
sentir... Desapontado. Eu pensei que talvez estivéssemos em terreno mais
plano. Eu nunca vou ser apenas um cara normal - ninguém nunca me trata
assim, mesmo pessoas como Beau que não fazem um grande negócio com as
coisas - mas teria sido legal.

— E você? — Eu pergunto.
Ele olha para longe, seu olhar escapando do meu. Eu não pensaria muito
sobre isso, já que ele encontra meus olhos novamente um segundo depois.
Mas há tanta tensão nele que apenas pinta uma imagem de nervos.

Talvez eu o intimide? Isso é um pensamento egocêntrico, e isso não parecia


verdade no outro dia.

— Acabou na semana passada. Apenas imaginei que eu iria reabastecer


enquanto eu estou na loja de qualquer maneira, sabe?

Eu estou supondo que eles não permitem bebidas nos dormitórios, o que
provavelmente significa que ele mora em outro lugar. Eu não me intrometo,
no entanto. Ele parece suficientemente evasivo como está.

— Bom dia para isso também — ele admite, enquanto ele pega uma garrafa
e gesticula com ela. — A prática me destruiu.

— Dois por dia20? — Eu pergunto, sentindo sua dor.

— Mmhmm. Executado horrivelmente também. Eu não sei se eu estava


cansado ou o que, mas eu senti que não poderia fazer uma jogada acontecer
para salvar minha vida.

— Acho que todo mundo que já jogou futebol já se sentiu assim uma ou
duas vezes toda semana.

Ele me dá um pequeno sorriso, parecendo um pouco envergonhado.


Suponho que devo parecer intimidante, embora deseje que não seja o caso. Eu
tenho talento para pegar uma bola de futebol. Não é como se isso me elevasse

20No futebol americano, Two a day (dois por dia) é quando uma equipe ou um indivíduo treina em
duas ocasiões durante o mesmo dia. Two a day são usados principalmente para entrar em forma para a
temporada e aprender novas estratégias.
acima de qualquer outra pessoa. Certamente não conta muito fora do mundo
esportivo. Eu aprendi isso da maneira mais difícil.

— Na verdade, há algumas jogadas em que eu fiquei preso. Apenas fechado


pesado, então... Algo para se trabalhar, eu acho.

Isso chama meu interesse. Eu o movo em direção à frente da loja de


bebidas, para que ambos possam pagar, depois pergunto: — Quais jogadas?

Ele acena para isso. — Você provavelmente tem pessoas pedindo conselhos
o tempo todo.

Das muitas coisas que as pessoas me pedem, os conselhos geralmente não


estão no topo da lista. Eu tive um relacionamento tão tênue com outros atletas
que quase sempre há algum tipo de competição não falada acontecendo.

— Eu não me importo. Então, fale logo. Que jogadas estão lhe dando
problemas?

Nós pagamos pelo nosso uísque e saímos, onde ele começa a me contar
sobre as jogadas que estão o atormentando. Eu não estou tão surpreso por
elas, como elas são difíceis de dominar como um receptor. Todo mundo
sempre espera que um receptor seja capaz de se adaptar e fazer uma captura
surpreendente e incontestável, mas você não acumula jardas na carreira dessa
maneira. Você não trabalha para o seu time dessa maneira. O valor real está
em poder capturar com segurança os passes curtos em zonas altamente
contestadas.

Eu digo a Beau o que sei. Na grama, longe do estacionamento, mostro a ele


como dar um salto mais alto. Mostro a ele - tão bem quanto posso sem uma
bola de futebol em minhas mãos - como liderar um bloqueio e bloquear a
defesa antes que a bola chegue lá.

É limitado. Eu poderia fazer muito mais trabalho no campo de prática. E é


isso que me faz perceber que não parece um negócio tão ruim. Mais do que
isso, ajudando Beau, vendo-o receptivo ao meu conselho... Parece bom. Parece
melhor do que qualquer coisa que eu fiz em muito tempo.

Enquanto volto para minha casa, considero a oferta do treinador Garvey.


Eu não me sinto totalmente qualificado para treinar, e ainda assim... Eu não
acho que seria horrível nisso. E o que mais eu vou fazer exatamente? Percorrer
a minha rotina de fitness todos os dias e passar o resto do meu tempo vendo
televisão ou jogando jogos? Sentar e esperar pela próxima vez que meu agente
ou qualquer um dos meus outros assistentes planeja o resto da minha vida por
mim?

Eu sei que todos eles amarão esta decisão. Dizer ao mundo que não estou
desistindo do futebol. Mas meu agente iria ver isso como um trampolim para
algo melhor, quando, para mim, é uma maneira de estar perto do esporte que
eu amo sem cair naquele buraco de coelho novamente.

Eu tomo minha decisão, e faço questão de não verificar com ninguém.


Acabo por pegar meu telefone, procurar o número do departamento de
atletismo e digo ao treinador Garvey que gostaria de tentar o emprego.
Eu estou animado em colocar as dicas de Lance em prática. Eu sei que
alguns dos outros caras erram no campo de treino. Eu os ouvi reclamar sobre
como isso não importa; como o futebol universitário é o "modo fácil" e eles
poderiam fazer jogadas durante o sono. Mas a prática me dá algo para se
concentrar. Isso me faz sentir como se estivesse progredindo em direção a algo
significativo.

E considerando a maneira como o resto da minha vida se formou até agora,


eu definitivamente poderia usar uma injeção de significado.

Sexta de manhã eu chego na hora e pronto para trabalhar. Eu sei que não
vamos jogar hoje, mas ainda posso fazer alguma coisa boa durante os treinos.
Largo minha mochila na frente do meu armário e começo a me trocar quando
mais de meus colegas de equipe se infiltram no vestiário.

— Yo, Woodridge. Festa no Carson, sábado à noite. Você está dentro?

— Claro que sim, eu estou dentro — eu digo, minha palma batendo na sua
quando ele passa.

É um pouco arriscado falar sobre essa merda no vestiário. O treinador


Garvey não gosta muito disso. Ele tem uma regra não oficial sobre isso, já que
acha que isso diminui o desempenho na prática e nos jogos. E com certeza,
nunca fico bêbado na noite anterior ao jogo, mas ainda nem começamos a
temporada. Eu estar atrasado no último domingo não tinha nada a ver com o
quanto eu bebi e tudo a ver com o fato de que eu fui um idiota e coloquei
cerveja no meu tanque.

Para mim, sempre foi um trabalho duro, um tipo de coisa difícil. Eu não
sou o melhor aluno, mas eu seguro um sólido 2,8 ou mais. Eu coloco o tempo e
o esforço quando estou no treino, e dou tudo de mim a todos os jogos que jogo.
Por que eu não deveria ter a chance de me soltar e ser eu mesmo com meus
amigos?

Falamos um pouco mais sobre isso - quem vai estar lá, o que levar - até
ouvirmos a voz do treinador no corredor. Ele está falando com alguém e
quando a porta do vestiário se abre, eu vejo quem é.

Lance Harper segue-o para dentro e ao virar da esquina para o seu


escritório, o que seria estranho o suficiente. Fica ainda mais estranho pelo fato
de Lance estar usando o "uniforme" de um treinador da Eastshore.

— Puta merda. Você viu isso? — Eu pergunto ao Brady.

— Cara, era o Lance Harper? — Alguém pergunta.

— De jeito nenhum — diz Brady. — De jeito nenhum, Lance Harper vai nos
treinar.

A voz de Cortez é abafada quando ele puxa a camisa pela cabeça ao meu
lado. — Nos treinar em quê? Como marcar uma quantidade insana de buceta?

O vestiário explode em gargalhadas, e Brady acrescenta: — Me ensine uma


porra disso.
— Ouvi dizer que ele costumava ser chupado antes de cada jogo. Por isso
ele sempre tinha aquele sorriso de merda no rosto quando saía para o campo
— diz Cortez.

— Cara, você pode imaginar ter esse tipo de privilégio? Boquete sob
demanda antes de cada jogo. Talvez uma mão habilidosa antes do treino.
Pegar todo o sangue fluindo.

Eu na maior parte os afasto, embora haja uma parte fodida de mim que
pensa em estar nesse papel. Eu tomaria um emprego como otário profissional
da NFL se isso significasse que eu conseguisse pegar caras como Lance. Eu
poderia gostar disso quase tanto quanto eu gostaria de jogar em um jogo real
da NFL.

Mas eu mantenho o pensamento para mim mesmo. Uma coisa é ser gay em
uma equipe conhecida por suas políticas de recrutamento inclusivas. Eu acho
que as pessoas mais ou menos esperam que pelo menos um cara da equipe
goste de pau, não importa em que ano esteja.

Mas admitindo que eu iria chupar um cara que poderia, por algum milagre
louco, ser treinador para nós? Isso provavelmente quebra dez regras
diferentes da NCAA, e ninguém iria calar a boca sobre isso, ainda por cima. Eu
posso apenas ouvir os sons de vômito e engasgos que eles fariam sempre que
Lance passasse.

Talvez até pior do que isso, porém, é o fato de que ninguém aqui parece dar
a mínima que Lance é um jogador incrível. Concedido que um monte de caras
estão sendo tranquilos e não se juntando a este jogo "adivinhe quantas bucetas
Lance Harper tem obtido", mas tanto faz.
— Pessoalmente, eu não gostaria de receber conselhos de um cara que
soltou uma garota tão gostosa quanto Jennifer Preston — diz Brady.

— Um-maldito-homem — Cortez concorda.

Lembro-me de todas as notícias que saíram quando começaram a


namorar. Lance foi o solteiro mais cobiçado da NFL por um longo tempo, e eu
sei que não sou a única pessoa que ficou desapontado quando ele estava fora
do mercado. Não que ele fosse atingível, mas era uma fantasia legal de se ter.

Quando as notícias do divórcio foram lançadas em menos de um ano, a


mídia também superou isso. Eu me senti mal pelo cara. Ele parecia
genuinamente surpreso.

Não é da minha conta, entretanto, e eu afasto o resto da conversa enquanto


Lance chega à esquina. Ele domina essa camisa polo, tão estúpido quanto
parece em todos os outros treinadores da história do futebol. Ele
provavelmente dominaria numa viseira também, mas agora aqueles olhos
azuis escuros dele não são protegidos por nenhum óculos estúpido.

— Escutem — diz o treinador, e todos se acalmam quase instantaneamente.


— Eu sei que todo mundo aqui sabe quem Lance Harper é, então eu não vou
entrar em um grande discurso aqui. Lance vai se juntar ao Tigers como nosso
novo coordenador ofensivo, contanto que vocês não o assustem primeiro.

Eu ouço algumas risadas ao meu redor, vejo o sorriso de Cortez.

— Espero que vocês mostrem a ele o mesmo respeito que vocês me


mostram e a todos os outros treinadores — acrescenta.

Isso não será difícil. Apesar do fato de que Cortez e alguns outros estavam
apenas fazendo uma piada da vida pessoal muito pública de Lance, há quase
um zumbido de excitação ao redor do vestiário. Lance é, em minha opinião,
um dos melhores receptores que já jogou o jogo, e eu não posso esperar para
aprender com ele.

Eu não tenho certeza do que estava esperando. Não é como se o treinador


deixasse Lance assumir toda a prática, do começo ao fim. Ele é o coordenador
ofensivo. Ele coordena a maldita ofensiva. Mas durante todos os exercícios de
aquecimento em equipe, estou morrendo de vontade para conseguir algum
tempo com ele.

Trata-se de uma longa hora de treino antes de nos separarmos em equipes


ofensivas, de defesa e especiais. O campo está dividido e eu corro em direção
ao extremo onde Lance está esperando. Ele tem uma prancheta na mão e um
apito em volta do pescoço, fazendo-o parecer com qualquer outro treinador, e
me pergunto se talvez eu esteja antecipando isso demais.

— Eu só quero dizer antes de começarmos aqui que o treinador Garvey me


deu permissão para pressionar vocês — ele começa, dirigindo-se a todos nós
como um grupo. — Depois de analisar as fitas do ano passado, ele e eu
concordamos que o ataque precisa funcionar, mas tem o maior potencial para
realmente mudar o rumo desta temporada.

— Não me diga — eu ouço alguém ao meu lado murmurar.


É estranho. A reação geral a Lance parece ser ressentimento - que eu acho
que é baseado em ciúmes - ou apenas esse tipo de admiração de olhos
estrelados. São as únicas opções. Eu acho que isso me coloca na última opção,
então, porque estou observando e esperando, pendurado em cada palavra sua.

— Eu vou pressionar vocês — ele diz de novo, — mas meu objetivo não é
quebrar vocês. Isso não é um campo de treinamento para o serviço militar. Eu
não sou seu sargento. Tudo que eu quero fazer é ajudá-los ao melhor lugar que
você pode ser como atleta. Isso vai significar rever seus jogos, reforçando suas
fraquezas, jogando com seus pontos fortes.

Todo mundo está quieto agora. Não é que nosso último treinador ofensivo
tenha sido ruim. Ele ajudou os Tigres a ganhar um jogo do campeonato, afinal.
Mas o que Lance está falando é algo que nenhum de nós realmente
experimentou antes.

— Eu também sou um grande crente em não atribuir-lhe quaisquer


exercícios ou jogadas que eu não iria executar. Então, se você me ver
trabalhando ao seu lado, tente não rir de como estou fora de forma.

Ele sorri, a covinha aparecendo em sua bochecha. E por mais que eu seja
atraído por isso, como se eu estivesse sendo atraído por esse imã imenso,
também parece estranhamente oco. Este não é o Lance que parou para me
ajudar com o meu carro. Esta é o Lance que transmite livestreams no
Facebook - com quem todo mundo acha que pode foder ou compartilhar uma
bebida.

Ele me joga fora por um segundo, mas eu me recupero, pronto para ir


quando ele nos prepara para os treinos.
Na hora seguinte, Lance nos faz trabalhar duro. Ele não faz nada de novo.
Há apenas tantos treinos, afinal de contas, e o futebol de verdade não é como
os bons filmes em que um cara pode entrar, pensar fora da caixa e ter sucesso.
Treinos são importantes para todas as equipes por um motivo.

Mas Lance nos faz trabalhar mais antes de podermos desistir. Ele nos
empurra mais do que nós normalmente iríamos. Ele garante que nossos
pulmões estão queimando quando finalmente desistimos. Não posso falar por
todos na equipe, mas quando terminamos nossos treinos, sinto que acabei de
terminar um jogo completo. Sem pausas, sem tempo limite, sem nada.

E eu odeio isso, porque é doloroso respirar com tanta força que seus
pulmões doem. Mas eu também adoro, porque meu sangue bombeia, a
adrenalina passa por mim. Eu adoro o suficiente para que eu quase deseje que
Lance se concentre em mim e trabalhe mais do que qualquer outra pessoa.

Desejo isso também por outras razões, mas felizmente estou muito
dolorido e exausto para realmente pensar sobre isso. Eu sei que irei depois. É
praticamente um negócio feito. Mas agora, eu sou todo sobre futebol.

Quando finalmente chegamos a fazer exercícios, eu faço o meu melhor para


colocar em prática o que ele me disse no outro dia. Ele percebe isso. Chama-
me e me diz que estou fazendo um bom trabalho. Mas ele também percebe
quando não estou me movimentando tanto quanto deveria, e o agradeço ainda
mais.

Quando ele termina com a gente, eu sinto que... Bem, como se eu tivesse
sido completamente usado por um topo incrível. Ou pelo menos o que imagino
que seria. A maioria dos caras com quem eu estive queria que eu fosse o topo.
Eu ainda estou andando mil vezes mais alto do que um corredor maluco
quando entro no vestiário. Parece que nada no mundo pode quebrar meu
caminhar.

Então meu telefone toca.

Eu sei que é o meu. Eu tenho um toque personalizado ligado a esse número


específico, e toda vez que ouço, meu estômago simplesmente cai. Acontece de
novo agora, o bom humor evaporando em um instante. Penso apenas em
ignorá-lo, mas sei que a única vez que o fizer será a vez em que me
arrependerei permanentemente.

Agarrando-o para fora do meu armário, eu me dirijo para fora, me


deixando cair na laje de concreto que fica do lado de fora do vestiário. Deixo
escapar um suspiro, em seguida, sento-me na borda do mesmo, minhas
chuteiras contra o asfalto quente.

A chamada é registrada como perdida, mas sei que ele ligará de volta. Com
certeza, vejo "papai" atravessar a tela apenas alguns segundos depois.

Acaba minha coragem, desejo como o inferno que eu tivesse esgueirado


aquela garrafa de uísque no vestiário, e levanto o telefone para o meu ouvido.

— Olá pai.

— Não foda-se 'Olá, pai'. Onde diabos você está?

— Estou no treino agora. Assim como toda sexta-feira no verão.

— Você está me respondendo?


Suas palavras são arrastadas, mas eu já sabia que ele estava bebendo. É
exatamente o que ele faz nos dias de hoje. Assim que ele chega em casa de um
turno, ele bebe. Ele tem sido assim desde que minha mãe foi embora.

— Não, eu só...

— Você precisa aprender quando calar sua boca, garoto.

Eu faço, meu maxilar cerrando. Houve um tempo em que eu ainda tentava


desafiá-lo. Principalmente agora eu apenas tento descobrir outra saída.

— Isso é melhor — diz ele, e eu ouço o barulho de bebida enquanto ele


toma outro gole. — Você sabe que se eu falasse com o meu pai do jeito que
você fala comigo, você sabe o que aconteceria? Eu levaria a porra do cinturão
até que minha bunda estivesse muito crua para me sentar.

Meu pai se orgulha muito do fato de nunca ter levantado a mão para mim.

— Você está me ignorando, Beau?

— Não, senhor — eu respondo, descansando minha cabeça contra a minha


mão.

Ele nunca me espancou. Nunca sequer ameaçou fazê-lo. Mas ele encontrou
outras maneiras de me deixar com medo dele. E para ele. No ano passado,
voltei para casa depois de um jogo fora e o encontrei desmaiado no chão. Ele
não acordava, não importava o que eu fizesse, e não acordou até eu levá-lo ao
hospital.

Então ele passou o resto do dia me xingando sobre todas as contas que ele
devia agora, porque eu tinha que ir e estragar as coisas.
— Você quer saber o que eu estou fazendo agora? Estou sentado aqui na
porra da escuridão porque meu filho tem a cabeça dele tão alta que ele não
consegue se lembrar de pagar as contas.

O pavor toma conta de mim, frio e paralisante. Eu tento lembrar a data e


tenho que checar no meu telefone. O vigésimo terceiro. Nossa fatura é devida
o mais tardar no vigésimo segundo, e nós pagamos tarde tantas vezes que eles
apenas desligam automaticamente agora.

Droga.

— Sinto muito, pai. Vou passar depois do treino e cuidar disso.

— Não, você vai fazer isso agora. Isso é o que significa ser um adulto, Beau.
Isso significa que você faz tudo errado na primeira vez, e se você não fizer,
então sua bunda vai ter que desistir de algo para cuidar disso mais tarde.

— Eu não posso. Nós deveríamos olhar as fitas, e nós acabamos de receber


um novo treinador...

— Sinto muito, você está me respondendo de novo?

Eu mantenho o telefone longe de mim e solto um suspiro. — Não senhor.

— Com certeza parece que você está.

— Eu vou pagar agora — eu digo, me colocando de pé.

Talvez eu possa chegar lá e voltar no tempo para assistir as fitas ainda. Não
importa se tomo um banho ou não.

— Não, não. Vá em frente e faça o que quiser Beau. E, já que você não quer
contribuir, também pode comprar o seu próprio lugar. Compre sua própria
comida, roupas e tudo mais. Toda outra merda que você precisa. Você pode
pagar sua própria maldita aula também.

— Eu vou pagá-lo, pai. Sinto muito.

Eu faço o meu melhor para desligar o resto do seu discurso. Se eu o escuto,


se eu o deixar chegar a mim, isso me deixa completamente pra baixo. Quando
eu finalmente ouço o silêncio do outro lado, aproveito a chance para terminar
a ligação.

— Eu estou indo agora. Eu te vejo em casa mais tarde.

Eu desligo imediatamente depois, depois coloco meu celular no silencioso.


É à saída de um covarde, mas se eu vou chegar lá e voltar antes que o treino
termine, não posso deixá-lo entrar na minha cabeça.

Eu vou direto para o meu armário, mudando rapidamente. Eu realmente


preciso de um banho, mas eu simplesmente não tenho tempo para um. Eu
coloco meus tênis, tento fazer meu armário não parecer um chiqueiro de
porco, e enfio minha mochila dentro, sabendo que voltarei mais tarde.

— Treinador, eu preciso de uns quinze minutos — eu digo quando paro na


porta do escritório dele. — É uma coisa de família...

Ele olha para mim e leva tudo em mim para não desviar o olhar. Eu posso
ver a pena em seus olhos. Ele sabe o que fazer aqui. Ele sabe por que eu estou
indo. E eu realmente queria que eu ficasse tão bêbado quanto o meu pai agora.
Pelo menos então eu poderia dar de ombros.

— Não podemos esperar por você, Woodridge — ele diz uniformemente.

— Eu sei. Eu voltarei a tempo.


Eu corro para o corredor que leva a saída e me deixo sair. Dando uma
corrida, quase alcanço as portas duplas que se abrem para o estacionamento
antes de ouvir alguém chamar meu nome.

— Beau!

Minha respiração fica presa na minha garganta e me viro para ver a última
pessoa que eu quero encontrar agora. Lance. Ele vem em minha direção e
parece... Preocupado.

— Ei, está tudo bem?

Não.

— Sim, está tudo bem. Apenas... meu pai se trancou para fora da casa.
Tenho que dar uma mão a ele rapidinho. Voltarei a tempo para a revisão.

Ele olha para mim com ceticismo, mas finalmente concorda. — Bem. —
Solto um suspiro de alívio quando ele se volta para o vestiário, mas antes que
eu possa escapar, ele acrescenta: — Bom trabalho lá hoje. Parece que você
realmente aceitou meu conselho.

É quando eu percebo isso. O caminho em frente. O jeito de sair dessa


bagunça que eu estou preso com meu pai. A saída da Eastshore. O caminho
para os profissionais, aonde ninguém vai me ligar e me dizer que sou um
merda inútil.

Lance.

Ele estava onde eu quero estar. Ele sabe o que é preciso para ir aos
profissionais. E eu seguiria cada maldita ordem que ele me der, treinar dia e
noite se isso significasse chegar lá.
— Ei, eu provavelmente vou comer um hambúrguer ou algo assim mais
tarde. Você quer vir? Meu prazer.

Eu o vejo assustado, seus lábios entreabertos, suas sobrancelhas


levantadas. —... Sim, claro. Um hambúrguer parece bom.

Obrigado foda. Eu lhe dou um sorriso, troco números com ele, então corro
para o estacionamento. Vou ter que dar o meu melhor discurso de vendas mais
tarde, mas pelo menos agora eu sei que tenho opções.
Eu recebo o texto de Beau algumas horas depois. Ele me deixa saber onde
estamos indo e pergunta se sete é bom pra mim, e eu quase mando de volta
dizendo que não posso fazer isso.

É uma ideia terrível para mim buscar alguma coisa com ele. Poderia ser
apenas uma coisa casual, mas mesmo que seja, eu sei como vai ser. Parece que
eu sou a favor de Beau acima dos outros jogadores.

Pior que isso, estou com um pouco de medo de que Beau não pretenda que
seja apenas um jantar casual. Talvez seja um pouco narcisista de mim. Nós
mal nos conhecemos, e se ele quisesse me convidar para sair, ele teria feito
isso.

Mas há algo lá. Uma atração do meu lado, o que é perigoso o suficiente. Se
a atração é mútua, eu estou contra a parede, não tenho certeza do que vai
acontecer. E se um repórter diligente querendo avançar em sua profissão
escolhida simplesmente passa pelo restaurante, a especulação se espalhará
como louca.

Eu penso em seu texto por um tempo. Acompanho os destaques esportivos


do dia. Assisto a parte de um jogo que eu gravei. Quando estou fazendo tudo
isso, parece tão... Vazio.

Quando eu estava na NFL, as pessoas estavam constantemente ao meu


redor. Eu raramente tive um momento para mim mesmo. Inferno, eu
raramente tinha tempo para estar em casa, mas quando estava, tinha outras
pessoas comigo. Amigos. Colegas de equipe. Até caras de outras equipes. De
vez em quando, minha esposa também estava em casa comigo.

Mas aqui é só eu. Sozinho nesta enorme casa à beira-mar. A solidão que eu
ansiava quando estava no campeonato exige um grande ajuste, e não tenho
certeza se já o fiz completamente.

Então, em vez de mandar uma mensagem para Beau dizendo a ele que não
posso, confirmo a hora e o lugar e coloco alguns cuidados em me arrumar.

Eu digo a mim mesmo que é só porque eu vou sair em público, se tirarem


uma foto minha pelos telefones das pessoas, eu não quero parecer que acabei
de sair da prática. Não tem absolutamente nada a ver com o Beau.

Dirijo-me ao Mac cerca de quinze minutos antes das sete, quando


concordamos em nos encontrar. Eu não o espero aqui cedo, mas me vejo
esperando por uma boa meia hora antes de finalmente vê-lo.

— Desculpe, estou atrasado — ele diz sinceramente, correndo até a minha


caminhonete. — Fiquei preso em algumas coisas de família.

— Tudo certo? — Eu peço pela segunda vez naquele dia.

— Sim, está bem.

Essa resposta é tão pouco convincente quanto à primeira. Não é da minha


conta, mas se for tornar Beau sempre atrasado, prefiro saber disso
antecipadamente.
— Você não está me esperando para comer, está? — Minha expressão deve
dar a resposta. — Cara, você deveria ter pedido. Nenhum sentido em você
sentado aqui com fome.

Isso é o que finalmente me leva ao fato de que isso pode não ser um
encontro. Se for, é muito estranho. Eu não posso dizer que eu estive em outros
encontros em que a outra pessoa me disse para apenas jantar sem eles.

Com a exceção de estar no ensino médio, pelo menos.

Eu deveria me sentir aliviado por isso. Beau me pediu para vir aqui porque
um dia poderíamos ser amigos. Porque eu o ajudei com o carro dele e ele quer
me pagar. Porque ele quer que eu me sinta bem-vindo como o mais novo
membro da equipe.

Qualquer coisa além do cenário que minha mente desesperada pintou.

Eu deveria me sentir aliviado, mas não sinto.

Nós dois pedimos refeições bastante modestas para dois homens que
dedicam tanto tempo e energia ao futebol, e eu imediatamente me arrependo
quando eu mordo meu hambúrguer. Eu realmente não comi aqui desde que eu
era criança, quando eu teria alegremente comido quatro desses hambúrgueres
muito grandes se meu pai tivesse me deixado.

É um lembrete sutil para mim de que eu deveria ligar para ele e para
minha mãe. A primeira coisa que fiz com o meu bônus de assinatura foi
comprar para meus pais - que me proporcionaram e ajudaram a conseguir a
chegar à NFL, em primeiro lugar - uma bela casa em Nápoles, onde poderiam
se aposentar. Eu não falo com eles há semanas, além de uma ligação rápida
para que eles saibam que me estabeleci em Eastshore.
— Eu aprendi muito na prática hoje — diz Beau, me afastando dos meus
pensamentos. — Acho que a maioria dos outros caras também.

— Estou contente. Eu sei que é uma grande mudança. O treinador Garvey


me disse os tipos de exercícios que vocês têm corrido e por quanto tempo. Mas
eu acho que aumentar a resistência de todos é um bom primeiro passo para
colocar a ofensiva em forma.

— Os exercícios que você fez conosco são o tipo de coisas que você faria na
NFL? — ele pergunta.

É uma questão inócua, e considerando quantas câmeras são montadas


durante os campos de treinamento, não consigo imaginar que os regimes de
prática básica estejam fora dos limites.

— Mais ou menos. Acho que a principal diferença na NFL é apenas o fato


de que as regras sobre quantas vezes as equipes podem praticar e por quanto
tempo são muito menos rigorosas.

Beau acena com a cabeça, terminando uma mordida antes de falar


novamente. — Desejo que a NCAA se ilumine com isso, mas acho que entendi.
Já é difícil trabalhar na agenda com a carga horária de todos.

— Eu posso imaginar — eu digo, franzindo a testa.

No meu caso, os anos que eu poderia ter passado tentando conciliar termos
intermediários e currículo estudantil com prática, tempo de academia e jogos
foram, em vez disso, usados para fazer malabarismos com declarações à
imprensa, aparições e festas.

Entre nós dois, eu diria que Beau tem muito mais experiência em ser
responsável com seu tempo.
— É meio o que eu queria conversar com você — ele diz, sem olhar para
mim.

A pequena mesa ao ar livre treme um pouco e, quando olho, percebo que é


porque a perna dele está mexendo.

— Eu não sinto que estou fazendo o suficiente. Quero dizer, sim, eu estou
contribuindo para a equipe. Tenho certeza que vou fazer um trabalho ainda
melhor disso este ano. Mas eu quero fazer mais. Eu quero fazer com que os
olheiros prestem atenção em mim em vez de alguém na UF21 ou LSU22 ou em
qualquer outro lugar.

Isso me pega desprevenido, embora eu não possa explicar o porquê. Eu


suponho que é natural que um jogador de futebol universitário queira uma
carreira na NFL. Mas o fato de ser o Beau apenas desencadeia uma onda
estranha e protetora em mim.

— Você ainda tem um pouco de elegibilidade — eu indico. — Muito tempo


para chamar atenção dos olheiros.

— Claro — ele diz com um pequeno encolher de ombros, — mas não é como
se eu não pudesse voltar e fazer o resto do meu curso mais tarde. Tendo
assinado com a NFL... Quero dizer, isso mudaria minha vida. Não a porra de
dúvida sobre isso. Você sabe como é, certo?

Melhor que a maioria, eu diria.

— É admirável que você queira melhorar tanto, mas é muita pressão —


digo gentilmente. — Os recrutadores não procuram apenas jogadores

21 University of Florida.
22 Louisiana State University.
excepcionais. Eles procuram homens que possam preencher um papel
específico em sua equipe.

Fui recrutado para os Jaguars porque precisavam de alguém que pudesse


controlar o campo esquerdo, fazer capturas em uma zona ridícula e fora de
qualquer cobertura. Não tenho certeza se teria sido convocado se fosse apenas
um bom receptor. Não por uma equipe que estava tentando construir uma
equipe para o campeonato, de qualquer maneira.

— É por isso que preciso de alguém que esteve onde eu quero estar.
Alguém que possa me colocar no caminho certo.

Eu olho para ele, um pouco surpreso quando tudo se encaixa. Não só isso
nunca foi um encontro, mas é um passeio projetado especificamente para me
atrair para o serviço. É mais do que um pouco presunçoso. Eu já tenho uma
posição de treinador, afinal.

— Eu vou trabalhar duro para isso. Eu farei qualquer coisa que você quiser,
o que você me disser para fazer. E eu não vou reclamar nem lamentar nem
nada assim. Tudo que eu quero é a chance de melhorar.

— Você tem essa chance na equipe — eu digo sucintamente. — Junto com


todos os outros jogadores na lista ofensiva da Eastshore. Você já está
recebendo meu tempo e minha atenção.

— Eu sei — ele diz, e ele sinceramente se encolhe. — Merda, eu sei como


isso soa. Como se eu quisesse tratamento especial. Eu não posso nem oferecer
para pagar a você ou qualquer coisa, porque se a escola descobrisse, eu seria
cortado.
E eu poderia muito bem ser demitido por receber dinheiro de um membro
da equipe apenas para fazer o meu trabalho.

— Como eu disse antes: é admirável que você queira melhorar. Você é um


atleta fenomenal, e eu acho que você poderia chamar a atenção de olheiros.
Mas você pode fazer tudo isso apenas colocando o trabalho em prática
normalmente.

Beau passa a mão pelo cabelo castanho-claro, desviando o olhar. Eu posso


ver angústia em seu perfil e minhas sobrancelhas franzem. Eu posso entender
querendo chegar à NFL, mas por que a preocupação com isso?

— Eu sei como soa, cara. Eu sei que todos os outros caras da equipe
provavelmente querem as mesmas coisas que eu. Mas eu só... Eu preciso sair
desta cidade.

Isso chama minha atenção. Eu encontro seu olhar e encontro um grande


conflito - e talvez até um pouco de tristeza - em seus olhos verdes. Eu quero
perguntar a ele o que ele quer dizer, mas quando ele desvia seu olhar, tenho a
sensação de que ele não iria me dizer e isso só tornaria as coisas mais difíceis
em geral.

Além disso, há uma parte egoísta de mim que na verdade não quer saber;
não quer se importar. Estou aqui para fazer um trabalho. Para treinar esta
equipe para uma temporada vencedora. Importar-se com alguém é apenas
uma receita para o desastre. Eu aprendi com Jen e todos os outros que eu
pensei que eram meus amigos quando eu estava jogando futebol.

— Eu entendo querendo ir além da sua casa. Mas...


— Não é isso — diz ele, passando a mão pela boca. Ele está claramente
desconfortável com essa conversa, e isso me deixa no limite também. — Quero
dizer, sim. Eu não quero acabar preso aqui como todo mundo na minha
família. Mas... Eu não sei, cara. Eu sinto que se eu ficar aqui, tudo vai ficar
pior.

Eu não sei o que ele quer dizer com isso, mas há dor nos olhos dele. Real
dor que corta através de mim, queimando meu coração como uma marca. Eu
não sei do que ele está escapando, mas seja o que for, eu posso sentir que é
algo grande. Algo que poderia determinar o curso de sua vida.

Em vez de me sentir irritado com ele e talvez um pouco zangado - já que


ele efetivamente decidiu me usar para seus próprios ganhos - começo a me
sentir culpado por não dar meu apoio. É louco. Eu não devo nada a esse
homem, e pretendo dar a ele atenção individual suficiente durante a prática,
para que ele possa ir tão longe quanto quiser.

Mas por alguma razão eu me vejo querendo ajudá-lo.

— E você acredita que a NFL vai mudar isso?

— Eu sei que vai — diz ele com uma mistura de convicção e ingenuidade
que me lembra de mim mesmo.

Eu tomo um gole da minha bebida e o considero, deixando escapar um


suspiro. O desejo de fazer isso está me puxando, mas se eu aprendi alguma
coisa no ano passado, é que preciso ser cauteloso em tudo.

— Eu não sei do que você está tentando escapar, Beau, mas você precisa
perceber que a NFL não é só sol e rosas. — Há uma intensidade na minha voz.
Eu tento forçá-la antes de falar novamente. — Há política envolvida, o mesmo
que em qualquer outro lugar, e há muito reconhecimento se você começar de
forma semirregular. Você será tratado de forma diferente por causa de quem
você é, e é muito fácil ser sugado para dentro. O que você acha que é uma cura
agora pode acabar colocando você em uma posição ainda pior se você se
machucar mais tarde ou simplesmente desistir da equipe com quem você
assinou.

Ele encontra meu olhar de novo, e eu posso dizer que ele está tentando
descobrir o quanto disso se aplica a mim. A imprensa tornou mais fácil para a
maioria das pessoas darem importância em qualquer história que mais
gostassem. Existem tantos ângulos diferentes que perdi a conta. Alguns
acreditam que eu festejei demais, usei muita cocaína, fodi com mulheres
diferentes toda noite até que respondi por isso. Outros acreditam que eu
estava usando drogas para melhorar o desempenho e respondi por isso - algo
que é ainda mais risível do que o primeiro ângulo. Existe até uma teoria da
conspiração que diz que outra equipe me pagou para deixar a liga
completamente quando eu não concordei em assinar com eles depois de me
tornar um atleta livre.

A verdade é mais complexa e mais mundana do que qualquer uma dessas


teorias, mas não consigo deixar de imaginar em qual Beau acreditou.

— Bem, eu tenho você, certo? — ele pergunta. — Então eu saberei o que


evitar.

Eu solto um pequeno bufo cínico. — Eu acho que sou o pior guia que você
poderia ter se o seu objetivo é evitar todas as armadilhas.

Ele balança a cabeça, soltando um suspiro pesado. Instantaneamente, sua


expressão muda de esperançosa para totalmente abatida, e isso me destrói.
— Eu entendo, cara. Eu não deveria ter perguntado. Eu não tenho certeza
se eu poderia até mesmo entrar na NFL, eu acho que eu estava apenas... eu
não sei. Procurando por algum tipo de conserto. — Ele se senta em sua
cadeira, seu hambúrguer esquecido. — Você provavelmente acha que eu sou o
pior, hein? Perguntando a você pessoalmente para me treinar como se você
me devesse alguma coisa?

— Está tudo bem — digo, sem saber o que fazer com essa mudança.

Quando conheci Beau pela primeira vez e até quando o vi em campo, sua
confiança parecia ilimitada. Ele era ousado e expressivo e sem medo de fazer o
que quisesse. Agora, porém, é como se o chão tivesse caído de debaixo dele e
ele estivesse lutando para encontrar o equilíbrio.

— O jantar ainda é comigo, a propósito. Eu realmente aprecio você


escutando.

Eu fui manipulado tantas vezes e de tantas maneiras diferentes que me


tornei proficiente em identificar as táticas. Tarde demais para minha carreira
profissional e minha vida pessoal, mas não é tarde demais para este novo
capítulo, seja lá o que for. Neste momento, meu instinto está me dizendo que
Beau não está tentando jogar com minha culpa.

E isso bate em algo que eu nem sabia que possuía. Algum desejo de fazer
algo não para mim, mas para outra pessoa. Há uma parte de mim que quer ver
alguém bem sucedido onde eu falhei - quero ter uma parte em fazer isso
acontecer.

Mas não posso me dar ao luxo de permitir isso. Eu simplesmente não


posso.
— Eu vou te dizer o que — eu digo, limpando minhas mãos em um
guardanapo. — Eu trabalharei com você três dias extras por semana, duas
horas por dia. Podemos fazer condicionamentos e exercícios, e podemos
revisar suas fitas e descobrir maneiras de melhorar antes do próximo jogo.

Seus olhos se arregalam e eu já tenho aquela sensação quente de fazer o


sonho de alguém se tornar realidade. Eu me empurro para frente, porém, com
medo de falhar antes de nomear minhas condições.

—... Mas eu não vou treiná-lo para a NFL. — Eu não posso em boa
consciência fazer isso. Não com tudo o que aconteceu. — Se isso acontecer,
ótimo. Mas não pense nisso como um caminho certo.

— Então, será como um treinamento individual e prolongado? — Ele


pergunta, e eu posso ouvir a esperança retornar à sua voz.

— Mais ou menos.

— Isso seria... Merda, quer dizer, eu vim aqui querendo perguntar, mas não
pensei... — Ele ri, e há um rubor em suas bochechas que eu posso ver que o
deixa ainda mais desconfortável. — Desculpe. Acho que não esperava que
você dissesse sim.

— Bem, se isso faz você se sentir melhor, eu não estou — eu digo com um
sorriso, tentando deixá-lo à vontade. Parece funcionar. — Eu não posso te dar
o que você quer, e o que eu estou oferecendo é mais um acordo entre amigos.
Eu vou te ajudar a ficar no topo do seu progresso, e você vai me ajudar a ficar
condicionado para que eu possa acompanhar o resto da equipe.

Ele ri disso, um som cheio e saudável que faz meu coração bater forte.

— Duvido que você precise de ajuda com isso.


Eu pego seu olhar enquanto ele vagueia, seja de propósito ou apenas por
reflexo. Ele vai para os meus ombros primeiro, depois para os meus braços
antes de olhar para o meu peito. Sinto-me exposto sob esse olhar, mas não da
maneira que costumo fazer sob escrutínio direto.

Em vez disso, todo o meu corpo fica vermelho e com uma pontada de
desejo. Alguma parte distante de mim deseja que este tivesse sido um
encontro e que houvesse uma opção para encerrá-lo voltando ao meu lugar.

Eu silencio esse pensamento imediatamente, no entanto. Mesmo que Beau


esteja interessado - e esse olhar vagaroso e lento me diz que ele está - nada
pode acontecer. Especialmente agora.

— Qual é o seu horário de aula? — Eu pergunto apressadamente, puxando


meu telefone.

A mudança sem graça do assunto funciona, e eu sou capaz de inserir os


dias e horários que ele me diz no calendário do meu telefone.

Nós marcamos a primeira sessão para amanhã. Contra o meu melhor


julgamento, eu o convido para o meu lugar, mas apenas para usar o meu
ginásio em casa. E só porque eu configurei exatamente o circuito que eu
prefiro. Foi uma das primeiras salas que montei quando me mudei.

Mesmo quando digo a mim mesmo que, no entanto, eu já sei que vou
acabar lutando contra meus desejos o tempo todo.
Eu não tenho certeza do que esperar quando chegar até a casa de Lance.
Acho que acho que ele vai ter uma mansão maluca, porque não, certo? Mas eu
nunca estive dentro de uma mansão e não é como se eu passasse cada hora
acordado pensando nelas. Claro, seria bom ter uma casa grande, mas nunca
foi à coisa mais importante em minha mente.

A vizinhança ou o que quer que eu esteja passando agora não é o tipo de


lugar que eu esperaria que uma estrela da NFL vivesse. A maioria das casas
daqui parece o tipo de casa de veraneio que um casal de aposentados
compraria se por acaso tivessem uma conta bancária bem carregada.

Elas são todas de dois andares, o que já é muito maior do que a casa em
que cresci. Mas elas não são mansões. Elas não têm um bilhão de quartos -
isso eu posso ver - ou separa alas ou qualquer coisa assim. A maioria dessas
pessoas provavelmente só contrata uma empregada de meio período ou algo
assim. Inferno, você provavelmente poderia limpar muito com apenas um
Roomba23.

Eu acho que é por causa do oceano, no entanto. A praia está literalmente à


direita no seu quintal. A maioria tem algum tipo de deck que leva até lá, e se
eu tivesse que adivinhar, eu diria que esta parte da praia provavelmente está
sob algum tipo de regra estranha de propriedade de terra, então eles têm tudo
para si.

23 Aspirador de limpeza robótico.


No momento em que o GPS me diz que cheguei à casa de Lance, não estou
tão surpreso com o que vejo. É um lugar legal, mas não muito vistoso.
Encaixa-se bem com todas as outras casas, e é realmente muito perto delas
também. Mal tem espaço suficiente para as crianças ou um cão para correr ao
redor.

Honestamente, o caminhão de Lance na garagem, ainda brilhando com um


acabamento ceroso, parece mais impressionante.

Eu estaciono no meio-fio, já que eu nunca perguntei onde eu deveria


colocar meu pequeno Kia, e pego minha mochila na parte de trás. Eu já estou
vestido com o meu equipamento de treino, mas eu tenho uma muda de roupas
e tênis no caso de Lance ser legal comigo usando seu chuveiro.

Eu posso já ter fantasiado sobre tomar um banho em sua casa, mas eu


empurro de volta o pensamento enquanto subo as escadas para sua varanda.
Ele está relutante o suficiente em trabalhar comigo. Se ele me pega olhando
para ele com uma protuberância na minha calça, eu estou fora.

Alcançando a porta da frente, eu bato e espero. Eu estou adiantado hoje.


Eu me assegurei disso.

Demora um pouco para abrir a porta. — Ei, eu não achei que você estaria
aqui tão cedo.

— Achei que devíamos começar cedo. Tudo bem? Eu posso correr pelo
quarteirão por um tempo — eu digo com um sorriso.

Lance ri, afastando-se da porta para me deixar entrar. — Não precisa.


Entre.
A primeira coisa que noto é ele. Ele está vestido com uma camiseta sem
mangas e shorts, e o visual definitivamente funciona para ele. Ele mostra seus
braços e pernas musculosas e eu sinto uma onda de calor me percorrer
enquanto penso naqueles braços me prendendo ou naquelas pernas em volta
de mim.

Porra. Eu preciso transar ou não vou sobreviver a isso.

Enquanto ele me leva para dentro, o mundo se abre um pouco mais e eu


começo a notar o que me rodeia. Enquanto o exterior da casa de Lance é
agradável, não parece um agradável da NFL. O interior definitivamente é. Os
quartos são grandes, cheios de mobília suficiente para provavelmente
acomodar dez pessoas. Passamos pela sala de estar dele, e é quase como um
cinema em casa com uma tela enorme, alto-falantes grandes e muitos lugares
para sentar.

Ele me leva a uma cozinha que é provavelmente maior do que a maioria


das dos restaurantes, e eu meio que me pergunto se ele tem seu próprio chef
pessoal. Quando ele abre a geladeira para tirar duas garrafas de água, vejo-a
abastecida com toneladas de frutas e legumes.

Lance me entrega uma garrafa e gesticula em direção ao corredor. — Fica


bem aqui.

“Fica bem aqui” acaba sendo após três outros quartos. Um quarto de
hóspedes, um banheiro que parece maior do que o principal em minha casa, e
o primeiro quarto não utilizado que eu vi que tinha algumas caixas empilhadas
no canto mais distante.

Isso deixa dois quartos, e como o do final do corredor está fechado,


imagino que seja o quarto dele. Vergonha.
Se eu estava um pouco sobrecarregado por toda a merda legal de Lance,
não é nada comparado ao seu ginásio. Eu estava esperando talvez algumas
máquinas, ou um desses híbridos tudo em um com uma esteira e alguns pesos
livres para o lado. Foda-se não. Este é um ginásio sério. Como se eu deveria ter
que pagar uma taxa de adesão apenas por estar aqui.

Há um circuito completo de aparelhos de musculação com objetivos


específicos, projetados para trabalhar grupos específicos de músculos. Uma
esteira, uma bicicleta ergométrica e uma elíptica cuidam do cardio, e todas
elas têm telas sensíveis ao toque que parecem realmente sincronizadas com
alguns aplicativos. Há um tapete no chão, uma bola de equilíbrio, uma
medicine ball24 e halteres em todos os tamanhos imagináveis. Há também um
banco de peso livre com pesos empilhados ordenadamente ao lado dele.

Meu pulso dispara e eu começo a me sentir um pouco tonto com a emoção


de tudo isso. Esta é provavelmente a mesma configuração de ginásio que ele
tinha quando ele estava na NFL. É feito sob medida para ajudá-lo a trabalhar
no que ele precisa. E agora eu vou começar a usá-lo.

— Podemos começar a aquecer— diz ele, puxando outro tapete do canto. —


Se você tem algum pedido de música, é melhor falar agora.

— Eu estou bem com o que quer que seja — eu digo, e fico ainda mais
surpreso quando ele coloca o telefone em uma espécie de berço e sua lista de
reprodução passa pelos alto-falantes nos cantos da sala.

24
É a horrível música de clube, mas é o que eu recebo por não dizer a ele o
que eu gosto.

Ele me faz um gesto e eu fico no segundo tapete enquanto ele está no


primeiro. Os alongamentos que ele me faz fazer - e faz comigo - são bem
rotineiros. Nada tão maluco assim. Eu posso sentir meus músculos se
alongando e se aquecendo, meu sangue bombeando enquanto meu ritmo
cardíaco chega a uma boa velocidade. Não nos esforçamos - talvez porque o ar
condicionado está soprando ar fresco e agradável aqui -, mas me sinto muito
mais ágil quando terminamos.

Depois disso, ele começa em algum cardio, deixando-me escolher entre a


bicicleta e a esteira. Eu escolho a bicicleta e tenho uma bela visão dele
correndo ao meu lado. Ele mantém uma conversa o tempo todo, falando
principalmente sobre sua rotina de exercícios quando estava com o Jags, e não
posso deixar de admirar o fato de que ele não está nem um pouco sem fôlego.

— Onde você sente que precisa melhorar em termos de seu corpo? — ele só
sai e me pergunta quando estamos dando uma pausa na água.

— Eu não me importaria de ter um pau maior, eu acho, mas eu faço tudo


certo.

Sua risada é assustada, e me faz perceber que eu apenas disse a primeira


coisa que me veio à mente. Eu me sinto um pouco mortificado, mas há um
calor em seu sorriso que me deixa à vontade.

Além do fato de que eu contei a ele sobre o meu pau.


— Uh... Eu acho que o meu torso poderia usar algum trabalho. Eu sinto que
não sou capaz de me livrar de ataques de merda do jeito que eu deveria ser.

Ele acena para isso, então começa a trabalhar me enviando através de um


circuito projetado para trabalhar no meu torso. Eu posso sentir os músculos
por todo meu torso queimando enquanto eu me empurro para entrar nas
repetições que ele quer. Lance não é uma espécie de sargento louco, mas há
um tom em sua voz que me empurra. Eu não quero desapontá-lo. Não quero
que ele me veja como fraco.

Quando ele me deixa quebrar, estou ofegante, suor escorrendo de mim


apesar do Ar condicionado. Sinto-me como se tivesse chegado ao limite e até
mesmo passado, e a onda de endorfinas me atinge quase imediatamente.

Lance trabalha em seu próprio circuito enquanto eu descanso, mantendo-


me flexível com alguns alongamentos, e meu cérebro dopado me diz que está
tudo bem encará-lo enquanto ele trabalha. Eu observo seus músculos
flexionados, admiro a força e a graça em seu corpo, e me vejo tendo que me
concentrar muito para evitar ficar excitado.

A última coisa que fazemos é ajudar um ao outro. Eu deveria ter percebido


que seria uma má notícia, mas eu pulo com os dois pés, ansioso para me
esforçar mais sob sua orientação. O banco de peso não é tão ruim. É quando
chegamos aos abdominais que eu luto.

Ele se ajoelha em meus pés enquanto eu estou esparramado de costas, e


meu cérebro já está evocando algumas imagens bastante vívidas. Ele poderia
puxar minha calça de corrida, puxar seu short, e empurrar para mim a partir
desta posição, segurando minhas pernas contra ele para bater mais fundo. Eu
o vi trabalhando nas máquinas de perna. Eu sei exatamente como ele
pareceria bombeando, e sei que ele teria uma resistência louca.

Não ajuda quando ele envolve seus braços em volta das minhas pernas
dobradas e as mantém firmes contra seu peito. Se eu não soubesse melhor, eu
pensaria que ele está propositalmente fodendo comigo.

Mas não. Ele está apenas fazendo o seu trabalho como um parceiro, e eu
tento o meu melhor para fazer os abdominais e limpar minha cabeça de
quaisquer outros pensamentos. Realmente difícil de fazer quando eu fico cara
a cara com ele em cada ascensão, sua boca a uma curta distância da minha,
seus olhos azuis focados em mim.

Eu não posso evitar. Eu começo a fantasiar. Eu penso em fechar essa


lacuna e beijá-lo, liberando esse desejo reprimido em uma explosão para que
ele saiba o quanto eu o quero. De lá, eu penso sobre ele debruçado sobre mim,
suas mãos pressionadas contra o chão em ambos os lados de mim, seu corpo
sobre o meu. Ele movendo seus quadris e moendo contra mim, seu pau duro
contra o meu, fácil de sentir através de seu short.

Talvez ele subisse em meu corpo, colocando os joelhos em ambos os lados


de mim e pegasse meu cabelo. Eu libertaria seu grande pênis e o levaria em
minha boca, sugando-o até que ele não aguentasse mais.

Ou talvez ele nem fosse tão paciente. Talvez ele me virasse e me fodesse
bem aqui neste tapete. A necessidade quente corta através de mim só de
pensar nisso, afiada o suficiente para limpar um pouco da neblina. Eu percebo
que não estou sozinho no meu quarto, onde posso apenas puxar meu pau para
fora. Estou na casa de Lance, com ele bem aqui me observando enquanto faço
abdominais meia boca enquanto minha mente está tão longe desse tipo de
exercício quanto possível.

E eu estou ostentando um tesão completo.

Eu nem fico surpreso com a minha sorte quando olho para ele e vejo seu
olhar se desviando. Suas bochechas coram e ele me libera. — Eu acho que você
está bom.

Sua voz é seca e áspera. Provavelmente melhor que a minha seria. Eu


tenho que levar alguns minutos para juntar minhas coisas, e eu com certeza
faço isso de costas para Lance, pegando uma toalha e minha água e apenas
ignorando o elefante na sala.

— Eu vou tomar um banho — ele consegue. — Sirva-se de qualquer coisa


na geladeira.

Ele se move como se estivesse no campo, tentando evitar um canto que


veio arruinar sua merda. Eu quase rio se não estivesse me sentindo totalmente
fodidamente humilhado.

A pior parte é que Lance parece o tipo de cara que não diz nada para ser
legal. Ele não vai me dar merda, mas sempre haverá essa coisa estranha entre
nós agora.

Porque Lance Harper é reto como uma flecha. Ele tem uma reputação de
conseguir quantias ridículas de buceta. A última coisa que ele quer ver é o pau
de outro cara.

Será uma maravilha se ele concordar em continuar me treinando.


Meus passos são pesados enquanto sigo pelo corredor e volto para a
cozinha. Pensar sobre o resultado disso praticamente mata minha ereção, e
meu pau está meio mastro e caindo.

Eu abro a geladeira e rezo, agradecendo a todos os deuses que consigo


pensar quando vejo um pacote de seis unidades de cerveja na parte de trás. Ele
disse qualquer coisa, então eu pego uma garrafa, tiro a tampa e vou me sentar
em seu sofá, tentando não pensar sobre como as coisas vão ser entre nós
quando ele sair.

O zumbido me atinge rápido, como se todo o sangue bombeando no meu


corpo estivesse carregando mais rápido que o normal. Eu começo a sentir que
o mundo não vai acabar; como se eu pudesse encontrar o meu equilíbrio e rir
disso como todo o resto. E quando Lance sai do chuveiro, o cabelo dele ainda
úmido, mas suas roupas mudaram, eu não sinto uma vontade irresistível de
dar o fora daqui.

— Oh, bom, você encontrou a cerveja — diz ele com um sorriso.

— Sim, obrigado.

Espero que ele permaneça do lado de fora da sala de estar, esperando até
eu levantar e sair de sua casa. Mas ele vem e se senta perto de mim. A uma
distância bastante amigável, mas mais perto do que eu me sentaria com
alguém que tivesse estourado um tesão na minha frente se eu fosse hétero.

— Você é bem-vindo para tomar um banho — diz ele, passando o braço


sobre as costas do sofá enquanto ele acena para o corredor. — O principal é
melhor. Está lá atrás, primeira porta à direita.
Minha boca fica seca quando penso em usar o chuveiro de Lance. Não
deveria ser nada quente sobre isso. É só um maldito banho, e não é como se
ele estivesse lá comigo. Mas minha mente evoca todas essas fantasias. E se ele
entrasse? E se eu saísse usando uma toalha ou menos? E se eu estivesse
pensado nisso e ele me escutasse gemer?

Exceto que posso responder a todos aqueles "e se". Ele não vai entrar
porque não me quer e é um ser humano decente. Se eu saísse com meu pau
saltando ao redor, ele provavelmente chamaria a polícia. Ou apenas rir e
nunca mais querer olhar para mim novamente. E sim, eu posso me safar com
isso no banho dele, mas eu seria o pior convidado de todos os tempos.

— Não, eu estou bem. Eu posso apenas pegar um em casa. Obrigado,


apesar de tudo.

Ele acena para isso. Ou ele não pega meus nervos ao redor dele, ou ele está
ignorando-os. Isso é provavelmente o que eu devo fazer, se estou sendo
honesto.

Mas em vez disso eu sento lá e penso sobre isso, mal ouvindo o 30 for 3025
que ele colocou. Eu devo ter dito alguma coisa, porque Lance começa a falar
comigo sobre isso e as palavras saem da minha boca, mas porra, se eu sei o
que são.

— Ei, como está o seu carro? — ele pergunta.

— Uh... Ela está bem — Pelo menos falar sobre eu ser um idiota é menos
estressante do que pensar em Lance.

25 É o título para uma série de documentários exibidos na ESPN.


— Você disse que alguém colocou cerveja no tanque? Como diabos isso
aconteceu?

Eu bufo. Eu poderia dizer a ele que Brady fez isso, e apenas Brady. Mas se
eu não posso ser honesto sobre o fato de que eu o quero, pelo menos eu posso
ser honesto sobre isso.

— Fui para esta festa no sábado à noite. Merda. Eu fiquei muito fodido,
aparentemente pensei que seria uma boa ideia colocar cerveja no meu tanque.

Lance ri, uma de suas bochechas se contorcendo. Tanto para não pensar
nele. Quando ele sorri assim, é difícil olhar para qualquer outra coisa.

— Porque estava com sede, certo?

— Exatamente — eu digo com um sorriso tímido.

— Eu posso superar isso. — Ele inclina a garrafa de volta, o líquido


espirrando. Eu olho para os lábios dele enquanto eles dividem em volta da
garrafa. — Meu irmão e eu fomos para a mesma escola por um ano. Ele
veterano, meu primeiro ano. Claro, ele me deu uma tonelada de merda sobre
isso, e já que ele estava jogando no time do colégio e eu não era permitido
ainda, eu realmente queria conhecer seus amigos para que eu pudesse me dar
bem com o time no segundo ano.

Eu me acomodo de volta no sofá, meu braço sobre o lado. Lance está


animado contando essa história, e é um tipo diferente de animação do que o
que vejo nele quando está treinando ou dando palestras. Este parece muito
mais real.

— Eu finalmente consegui ficar com eles, e eles estavam tendo essa festa
em um final de semana. Coisa típica do colégio - os pais de alguém estavam
fora da cidade, alguém tinha acesso a um armário de bebidas. Meu irmão e eu
fomos, e eu fiquei absolutamente destruído.

— Como duas cervejas e um refrigerador de vinho, certo? — Eu provoco


com um sorriso.

Lance ri. — Quanto a isso, sim. Eu me lembro de estar tão fora disso. Eu
entrei no armário de alguém pensando que era o banheiro. Tive minha calça
para baixo antes que eu percebesse.

— Oh, merda — eu digo com uma risada.

— De qualquer forma, os amigos do meu irmão me disseram que me


dariam uma chance de me provar. Disseram que fariam uma boa conversa
com o técnico no próximo ano se eu o fizesse algo.

Minhas sobrancelhas levantam. Eu posso adivinhar onde esta história está


indo, e eu não acho que vai ser bonito.

— Então eles me vendaram certo? Colocaram-me em um caminhão.


Dirigiram para algum lugar e disseram para eu me despir.

Eu solto um assobio baixo, balançando a cabeça. Sim. Eu posso adivinhar


onde isso está indo.

— Eu estava bêbado e impressionável, então é claro que eu fiz isso.

— De jeito nenhum. Onde eles te levaram?

— Essa é a melhor parte. Eles me apontaram em uma direção e eu podia


sentir meus pés batendo no cimento, depois na grama eventualmente. Eu
podia ver as luzes através da venda. Levou-me um minuto ou dois para
descobrir que eu estava em um campo de futebol, correndo pelado através
dele.

Isso me faz rir, porque soa como a pegadinha mais estúpida de


fraternidade. Provavelmente uma que eu teria aceitado também. Imaginando
Lance Harper, o solteiro mais cobiçado da NFL, correndo em um campo com
sua porcaria por aí é simplesmente hilário.

— Eu podia ouvir alguém gritando, e é meu irmão. Ele está correndo em


minha direção, joga algo sobre meus ombros, diz que temos que ir porque a
segurança está prestes a aparecer.

— Merda, cara. — Eu tenho lágrimas nos meus olhos de tanto rir.

— Então, é claro que estou pensando: como diabos nosso colégio conseguiu
uma equipe de segurança? E ele tira minha venda e eu não estou no nosso
colégio. Estou no meio do estádio da Eastshore.

— Você está falando sério?

Seu rosto se divide em um largo sorriso. — Mortalmente sério. As luzes


estão acesas, eu posso ouvir uma porta de carro fechar à distância, e meu
irmão tem essa lona em volta de mim que ele usa para cobrir seu carro. Eu
corro mais rápido do que nunca na minha vida, com ele atrás de mim, e mal
conseguimos sair antes que a segurança nos pegue.

Eu não posso mais falar. Estou rindo tanto que estou com dificuldade para
recuperar o fôlego. Meus lados doem, e tudo que eu posso ver é o pobre Lance
em sua lona tentando se proteger da segurança no meio do estádio dos Tigers.
— No momento em que voltamos, meu irmão estava tão chateado com os
caras. Ele brigou com eles, e eles definitivamente nunca me fizeram fazer
qualquer coisa novamente, isso é certo.

— Seu irmão parece um grande cara — eu digo quando finalmente posso


respirar de novo.

O sorriso de Lance se torna triste, a luz desaparecendo de seus olhos. Eu


imediatamente me arrependo de dizer qualquer coisa, mesmo que não
houvesse nenhuma maneira que eu soubesse que estava entrando em uma
mina terrestre. — Ele é.

Ele olha para a garrafa, o polegar subindo pela borda do rótulo. Eu o


observo em silêncio, bebendo o resto da minha própria cerveja. Quando ele
finalmente fala, sua voz é baixa.

— Eu realmente não falo com ele há um tempo. Cinco anos ou mais.

Eu não sei o que dizer sobre isso. Do jeito que as coisas funcionam com
meus pais, estou muito feliz por ser filho único. Eu não posso imaginar como
seria estar perto de seu irmão - o que parece ser para Lance, apesar da besteira
da escola - e depois não falar com ele por tanto tempo. Deve ter sido algo
grande e estou tentado a perguntar-lhe o quê. Eu posso ver a dor em seu rosto,
e não quero que isso piore ainda mais.

— Desculpe ouvir isso, cara— eu digo, me sentindo estranho.

Ele não diz mais nada sobre isso e eu não o culpo. Eu não quero falar sobre
a minha situação familiar também. Em vez disso, caímos em silêncio e não
acho que nenhum de nós esteja prestando atenção na TV, mas é uma distração
boa o suficiente por um tempo.
Eu termino minha bebida, coloco na mesa de café, e um pouco depois,
Lance fala novamente.

— Feito com sua cerveja?

— Sim — eu digo, vendo-o se inclinar para frente. — Mas eu terminei com


isto.

Espero que ele fique sentado ou chegue antes de mim. Ele é o profissional
de nós dois, afinal. Mas é como se estivéssemos em algum tipo de comédia
romântica em que o tempo parece se sincronizar da pior maneira possível. Ao
me aproximar, Lance faz também. Ambas as nossas mãos vão para a garrafa e
acabamos nos tocando em um acidente menos do que gracioso de dedos.

Não deveria ser nada, mas envia um raio de eletricidade pelo meu corpo,
deixando-me muito consciente de Lance e de quão perto ele está. Eu olho para
cima, planejando um pedido de desculpas, e vejo o olhar de Lance. Há algo em
seus olhos azuis escuros que me dizem, em algum nível instintivo, que ele
também sentiu.

E eu estou muito fodido para fazer qualquer coisa sobre isso.

— Eu vou... Apenas colocar isso na cozinha — ele diz, rapidamente pegando


a garrafa antes que isso aconteça novamente.

Eu abro minha boca, mas nenhum som sai. Ele está a meio caminho da
cozinha antes de eu administrar qualquer palavra. — É melhor eu ir embora.
Realmente aprecio o treinamento. Vou te ver amanhã.

Eu pego minha mochila e me retiro o mais rápido que posso, me sentindo


como uma idiota por todo o caminho. O mais triste é que não tenho certeza se
é porque agora sei que há uma chance - por menor que seja - ou porque eu
realmente não aceitei.
Eu sabia que as sós com Beau seria uma má ideia, eu nunca imaginei que
seria um grande desastre.

Temos algumas semanas antes do primeiro jogo da temporada, e ele e eu


passamos em nossas três sessões por semana como um relógio. Ele aparece na
hora, trabalha até a exaustão e nunca se queixa. Todas as coisas que admiro
em um atleta e uma pessoa. Ele é o aluno perfeito, aplicando o que eu lhe
ensino e melhorando visivelmente depois de cada sessão.

Mas ele é provavelmente a pessoa mais perigosa que eu poderia ter.

Eu estava ciente dele antes. Consciente da minha atração por ele. Mas era
um tipo vago de coisa. Principalmente inócuo; algo que eu poderia ignorar.
Tê-lo em minha casa torna isso muito mais visível. Toda vez que eu o vejo
fazendo seu circuito, eu me vejo encarando seus músculos enquanto eles
flexionam e trabalham. Seus braços estão tão bem definidos que eu posso vê-
los trabalhando como uma máquina bem lubrificada enquanto ele empurra os
pesos. Seu rosto está corado pelo esforço, o suor brilha em sua pele, e alguns
dos gemidos que ele faz quando ele ultrapassa seus limites são quase
obscenos.

Também é duro - sem trocadilhos - não lembrar o que aconteceu quando


eu o vi durante os abdominais. Eu só peguei por um segundo, mas foi o
suficiente para eu imaginar o que ele poderia parecer debaixo de sua calça de
corrida.
Consigo me impedir de fantasiar quando ele está aqui, mas apenas pelo
mais simples dos fios. Exercícios nos quais temos que trabalhar juntos - onde
tenho que tocá-lo - são os piores, e eu deliberadamente tento agendar o menor
número possível deles.

Quando estou sozinho, porém, não posso deixar de me entregar. Tendo


sido negado por horas, meu pau endurece com o menor pensamento dele. Faz
tanto tempo desde que eu estive com outro homem, e tenho o pior desejo que
se possa imaginar. Eu quero esse indício de aspereza. Esse corpo duro contra o
meu. Um campo de jogo igual onde estamos dando e recebendo.

A parte de minha luxúria quer que aconteça em uma das nossas sessões de
treinamento. Eu quero que ele faça algum tipo de movimento. Para me agarrar
e me puxar para baixo quando estou correndo. Para fechar a distância entre
nós quando sua boca já está tão perto da minha. Eu quero lamber o sal de seu
corpo, puxar a barra de suas calças e chupá-lo até que ele solte um gemido
para mim do jeito que ele faz quando ele não aguenta mais.

Com esses pensamentos em minha mente e todos os desejos reprimidos


que eu lido, nunca demora muito para eu gozar. Espero sentir alguma forma
de remorso depois, mas nunca sinto. Se qualquer coisa, eu quero mais dele.

E isso é um problema enorme, considerando que eu sou seu treinador.

No momento em que o primeiro jogo da temporada da Eastshore rola, eu


consigo me manter sob controle. Essa dor ainda está lá sempre que eu estou
perto dele, mas eu encontrei maneiras de enfraquecê-lo. Principalmente
envolve trabalhar ao lado dele, certificando-se de que estou fazendo meus
próprios exercícios enquanto ele faz os seus, então eu não tenho a chance de
vê-lo e pensar.
Temos uma sessão na sexta-feira, um dia antes do jogo, e já posso dizer
que ele melhorou. Nosso foco é em exercícios, e eu o levo para o campo da
escola secundária, fazendo o papel de QB e arremessando-o em uma variedade
de passes. É possível que ele esteja apenas trabalhando mais duro para mim,
ou talvez ele tenha ficado melhor, porque o tempo entre ele fazer a pegada e
correr com a bola é muito reduzido pelo que eu observei nas fitas dele.

Claro, o teste real virá quando ele estiver cercado pela defesa de Vanderbilt
com uma chance muito pequena de escapar.

Quando nos aproximamos do pontapé inicial, sinto que fiz bem o meu
trabalho. O ataque está em boa forma. Eles trabalham duro e acho que vão dar
uma briga real aos Commodores26. Melhor ainda, vou ter muito mais com o
que trabalhar depois do jogo, ganhando ou perdendo. Eu posso ver como todo
mundo está se apresentando e se ajustando de acordo. Isso será especialmente
importante para Beau, eu acho.

Quanto mais perto o jogo está, mais ansioso fico. Não só porque é um
vencer ou morrer, um teste de fogo do meu treinamento, mas porque sei que a
imprensa vai sair em massa.

Eles descobriram sobre minha posição como treinador na Eastshore


semanas atrás. Não é exatamente uma coisa difícil de descobrir, considerando
que eu sou dessa cidade e a Eastshore tem registros públicos de todos os seus
funcionários, mas eu esperava que pudesse de alguma forma voar por baixo do
radar.

Não é o caso. A "história", tal como ela é, foi abordada em todas as


principais publicações esportivas, em todos os segmentos esportivos de

26Ele se refere à Vanderbilt Commodores o time que os Tigers vão enfrentar. E não a banda de soul
dos EUA, liderada por Lionel Richie. KKKK
radiodifusão e até mesmo internacionalmente, como Kate me contou. A
especulação está voando em todo o lugar, com todos tendo uma opinião
diferente do motivo pelo qual eu aceitei esse trabalho. O mais popular é o que
tenho certeza de que meu agente está apoiando: que fiz algum tipo de acordo
com a Eastshore, e meu plano é destruir todas as outras equipes da SEC e
trazer a Eastshore de volta a um cenário nacional, para que eu possa me
redimir.

Parte disso é verdade. Eu gostaria de ver a Eastshore de volta ao topo. Mas


o resto é perigoso, e é dada aos meus assistentes renovada esperança sobre o
meu futuro como sua vaca de dinheiro.

Pior ainda é a especulação sobre a minha entrada na equipe da Eastshore


em particular. Alguns jornalistas e blogueiros estão ignorando o fato de que
minhas raízes estão escavadas nas profundezas da cidade e, ao invés disso,
estão se fixando na imagem do Rainbow Tigers e no que isso significa. Todos
os dias eu espero ver Jen traindo minha confiança de uma vez por todas, mas
isso nunca acontece.

A única vantagem de tudo isso é que isso faz com que minha ansiedade
sobre o jogo real pareça ridícula em comparação. E, de fato, isso é
completamente infundado. Ficamos com a posse em primeiro lugar, e nosso
ataque atinge o chão correndo, marcando um TD27 nos primeiros dois minutos
do jogo, graças à alta energia e agitação.

Isso é um bom presságio para mim, e eu recebo tapas nas costas dos outros
treinadores. Eu parabenizo os jogadores, deixando que eles saibam o que
fizeram quando estão de volta ao banco. Eu não sinto que qualquer um deles
precise ser mimado, mas quando você joga um esporte de equipe como o

27 Touchdown
futebol, é crucial saber que você está contribuindo de uma forma valiosa. A
imprensa se concentra nas jogadas chamativas, mas todos os membros de um
time de futebol fazem essas jogadas acontecerem, e esses jogadores precisam
ser apreciados tanto quanto os quarterbacks, receptores e Running backs que
normalmente recebem todo o crédito.

No entanto, há muitos elogios, já que rapidamente assumimos uma


liderança enorme, colocando três TDs no tabuleiro antes que Vanderbilt
receba o primeiro. A energia é alta no vestiário na metade do tempo, e embora
eu adoraria focar nisso, não posso deixar de notar a segurança extra
contratada para bloquear as entradas. Presumivelmente, para manter os
jornalistas fora.

A metade de final do jogo é mais rápida do que a primeira. Eastshore


domina completamente, e qualquer empurrão que Vanderbilt tente montar é
fechado por nossa defesa. A liderança aumenta de forma tão significativa que
o treinador Garvey coloca os segundo e terceiro jogadores da sequência na
quarta, fazendo um teste de resistência para os nossos titulares.

Mas não antes de Beau fazer um espetáculo próprio.

Nossa linha se estabelece as 55 jardas. É a primeira e a décima, com


pouquíssima ameaça de qualquer pressão real sobre o QB até agora. Mas algo
acontece quando a bola é quebrada. Ele escapa das mãos de Brady, e ele mal
consegue pegá-la antes que ela atinja o chão. O tempo que ele perde por causa
disso é monumental, e eu posso ver um de seus LBs28 mais ágeis rompendo a
linha.

28Linebackers (LB). Tem uma função híbrida. Em jogadas de passe, ajudam a cobrir os recebedores e
em jogadas de corrida auxiliam na perseguição ao Running Back (RB).
Ele é forçado a arremessar o que é certamente um passe muito impreciso, e
eles têm cobertura de zona por todo o meio-campo. Tanto é assim que eu
estou esperando uma interceptação, meu coração martelando no meu peito
enquanto eu assisto.

Mas não é interceptado. Beau consegue ler o caminho da bola, passa por
um cornerback's29 e pega-a do ar antes que ela possa entrar nos braços do
cornerback. Ele gira com força, empurrando com o pé direito e correndo em
alta velocidade entre dois caras grandes. Uma vez que ele sacode o terceiro
defensor, esse é o fim. Ele corre quarenta e cinco jardas para outro TD.

— Trabalho fantástico — eu digo, batendo palmas nas almofadas enquanto


ele corre para as laterais. — Excelente leitura sobre quando ser agressivo.

Ele tira o capacete e está sorrindo, mas há uma doçura nisso mais do que a
arrogância que vi nos rostos de outros jogadores. É quase como se ele não
acreditasse que estou realmente elogiando ele. É tão cativante quanto
preocupante, e faço uma anotação para destacar seus sucessos com mais
frequência.

O jogo é quase uma lavada, com a pontuação final de 49 a 7. É uma grande


vitória para a Eastshore, e deve fazer com que o resto da SEC tome
conhecimento. Este não é o mesmo time que foi atropelado no ano passado.
Somos uma força a ser reconhecida novamente e estou honrado por fazer
parte disso.

Infelizmente, a segurança aumenta após o jogo, e alguns jornalistas são


autorizados a voltar ao vestiário. Eu oro para que eles realmente falem com os
caras que fizeram tudo isso acontecer - os jovens trabalhadores que arrasaram

29São os jogadores que ficam nas pontas cobrindo os recebedores adversários para não deixar que
recebam os lançamentos ou ainda tentar interceptar a bola.
hoje - mas não. Todos eles me atacam. Cada fodido deles se alinha em um
semicírculo ao meu redor, gravadores e microfones na minha cara.

Eu não deveria estar surpreso, e ainda assim estou. Eles me perguntam


sobre a vitória; sobre como é ganhar um jogo como treinador, em vez de um
jogador. Um deles decide ser atrevido e pergunta se eu traduzi o manual de
Jacksonville para a Eastshore - é uma pergunta que nem sequer me preocupo
em responder. E, claro, há muita atenção ao ângulo de que isso é apenas um
trampolim, com todo mundo tentando entender o que vem depois.

— Este é o 'depois' para mim. A Eastshore me deu uma chance e eu não


tenho planos de desperdiçá-la — digo, tendo que forçar a frustração da minha
voz.

— Existe uma chance de você treinar na NFL? — Alguém pergunta,


ignorando completamente a minha resposta.

— Não tenho planos de voltar à NFL de qualquer forma — eu digo.

Há horas daqui, tenho certeza de que meus assistentes estão muito


descontentes com essa resposta, mas não consigo encontrar em mim para me
importar. Quando as perguntas continuam a se concentrar em mim, eu faço o
meu melhor para direcioná-las para outro lugar.

— Eu aprecio as palavras amáveis, mas eu não ganhei este jogo. Os


jogadores ganharam este jogo. Eles são aqueles com quem vocês deveriam
conversar. Quero dizer, você viu o tackle30 de Cortez no segundo tempo? Ele
fechou completamente ou a corrida de Lewis no terceiro período, pegando a
descida apesar de estar absolutamente cercado. O mesmo com Brady,

30 Ato de derrubar o adversário.


resgatando uma jogada que deu errado, mantendo a cabeça sob pressão e
correndo para marcar.

Claro, eles não querem ouvir nada disso. É apenas a imprensa local que me
libera e começa a falar com os jogadores.

O treinador Garvey finalmente os manda embora, e eu tenho um momento


de paz para repassar algumas coisas imediatas com ele, como configurar o
cronograma de prática para a semana e conseguir algum tempo de fitas nos
próximos dois dias. Com a partida dos jornalistas, sinto que posso finalmente
respirar de novo, e estou ansioso para poder analisar nossas jogadas e ver
onde meus rapazes têm espaço para melhorias, porque sei que todos da equipe
ainda o fazem.

Com a programação definida nos telefones de todos, volto para o vestiário


para pegar minhas coisas. Eu não tinha realmente feito um plano para depois
do jogo, mas acho que vou para casa e aproveitar a vitória com um pouco de
paz e tranquilidade. Talvez ligue para Xavier e verei se ele pegou algum dos
melhores momentos quando eles estão em destaque.

— Ei, Lance — eu ouço um dos caras dizer, me parando da minha saída.

Muito poucos deles me chamam de Treinador Harper. Principalmente os


calouros. Eu suponho que não me importo, mas torna muito mais óbvio que
eles estão respondendo a Lance Harper mais do que qualquer outra coisa.

— Nós vamos para o The Top. Você quer vir?

Eu nem sequer pensei no The Top em anos. Tem sido um dos bares mais
quentes desde antes de eu estar no ensino médio. Eu sempre quis ir para lá;
para encontrar uma maneira de entrar com meus amigos e de alguma forma
evitar ser identificado. Perdendo a faculdade, no entanto, eu nunca fui
realmente.

— Talvez outra hora — eu digo com um sorriso.

Não é que eu seja antissocial. Eu tinha uma reputação de ser o homem em


festas que todos queriam conversar. Mas isso era um ato, e o meu eu real é
mais propenso a gostar de grupos menores. Além disso, depois de ser
perseguido pela imprensa por uma hora inteira, eu poderia usar algum tempo
sozinho para recarregar.

— Sim, cara, você deveria ir totalmente — eu ouço Beau dizer. — Eu vou ter
sua primeira rodada.

— Eu fico com a segunda — Brady chama.

— Yo, terceira pra mim — diz Cortez.

O jogador que perguntou sorrir para mim, dando de ombros. — Parece que
a sua noite inteira está pronta. Agora você tem que vir com a gente.

Não são as bebidas gratuitas que me fazem considerá-lo. É como Beau está
olhando para mim agora, com esperança em seus olhos. É como se ele
realmente quisesse que eu fosse. Não como Lance Harper, mas apenas como
outro dos caras.

E Deus me ajude, essa parte de mim que anseia por ele está apenas
procurando por uma desculpa para deixar minhas inibições.

— Eu posso ficar um pouco — eu digo, e a resposta me faz pensar que


realmente não será tão ruim.
The Top está absolutamente lotado, com uma fila para entrar antes mesmo
de chegarmos.

Todos nós caminhamos até lá, já que fica a poucos quarteirões do estádio,
mas parece que muitos fãs e outros estudantes nos venceram. Um aplauso
sobe quando entramos, um derramamento de amor mostrado para a equipe. É
disso que me lembro de morar aqui. Orgulho de nossa escola, orgulho de
nossos jogadores, e me vejo desejando que a imprensa se concentrasse nisso
em vez de mim.

De forma refrescante, minha presença é quase um não problema. Eu sou


abordado por algumas pessoas enquanto nos acomodamos em uma longa
mesa que na verdade são três juntas. A maioria deles apenas me parabeniza
por um bom jogo, com um cavalheiro mais velho querendo apertar minha
mão.

É estranho, mas um grande alívio, e me dá a chance de me concentrar


apenas em me divertir.

Canecas são trazidos para a nossa mesa, bebidas são derramadas, e eu mal
consigo começar a minha primeira cerveja antes de Brady iniciar uma
discussão apaixonada com Cortez sobre a chance dos Dolphins este ano. Na
metade, ele se vira para mim e pede minha opinião.
— Você parece pensar que eu de alguma forma ganhei conhecimento
enciclopédico da NFL enquanto eu estava lá. Isso não acontece até que você
tenha pelo menos dez anos.

Isso gera uma risada, e a pequena confusão de nervos que sinto começa a
diminuir. É uma coisa boa e ruim, porque me vejo olhando mais para Beau.
Ele consegue colocar duas canecas cheias no tempo que me leva para saborear
metade da minha primeira, e suas bochechas já estão coradas.

Ele é muito mais barulhento enquanto bebe, percebo, mas quem não é. Ele
também é menos protegido; muito mais rápido para sorrir e rir e apenas se
divertir.

Mas à medida que a noite avança, começo a ver um lado diferente de Beau
Woodridge. Ele bate de volta cerveja após cerveja, bebendo mais do que até
mesmo os maiores caras da equipe. Mesmo quando é óbvio que ele está
bêbado, ele continua.

Em um ponto, uma música explode através dos alto-falantes montados na


parede e Beau coloca uma mão para cima, dizendo a todos para "calar a boca".
Então ele sobe para a mesa, derrubando um jarro quase vazio junto com
algumas canecas vazias. Ele prende os polegares no cinto e começa a fazer
uma dança instável na música country que está tocando.

E... É engraçado. É hilário assisti-lo. Seus movimentos são exagerados e ele


não se importa com o mundo. A mesa inteira está rugindo de tanto rir, e posso
ver que ele também chamou a atenção da maioria dos outros clientes.

Mas quando vejo seu rosto, isso me atinge com uma familiaridade tão
surpreendente que minha risada simplesmente para completamente. Esse
rosto é um que eu vi no espelho muitas vezes para contar. O mesmo que vi em
fotos e vídeos espalhados pela internet. É o rosto de um homem que está
fazendo um show.

E isso só piora. Em um ponto, ele começa a levantar lentamente a camisa.


Eu vejo seu abs tonificado e, apesar das minhas melhores tentativas de ignorá-
lo, eu posso sentir meu pau se mexer. Não importa que eu tenha empatia com
ele agora, ou que eu até tenha pena dele um pouco. Eu ainda anseio por ele.

Ele parece saber disso, porque ele fecha os olhos enquanto puxa a camisa
para cima. Eu não posso desviar o olhar, observando-o revelar mais e mais
pele. Um estômago plano. Peitorais firmes que parecem ter sido esculpidos em
granito. Músculo forte nos braços e ombros.

Ele tira a camisa, joga em mim e diz: — Eu sei que você quer isso.

Minhas bochechas parecem que estão pegando fogo quando percebo que
estamos no meio de um bar, cercado por seus colegas de equipe, e ele acaba de
revelar um segredo que eu não estou totalmente ciente de que ele sabia. Meu
instinto é fugir. Para chegar o mais possível longe daqui.

Mas eu não vejo olhares em minha direção. Eu não ouço tons de silêncio
abafados. Todo mundo está apenas rindo de Beau, incitando-o a mais. Ele está
fazendo muito de um espetáculo que eu tenho certeza que eles acham que é
tudo parte disso.

Vou me lembrar, no entanto. Ele continua, mas eu me desculpo, saindo


pelos fundos. Eu pego um táxi para a minha casa, meus ouvidos ainda soando
pelo quão alto estava naquele bar. A viagem inteira para casa, eu tento
processar o que estou sentindo. Não é realmente decepção. Ele está na
faculdade. Eu esperaria que os universitários agissem assim, e certamente não
vou condená-lo por isso.
Não, é mais profundo que isso. Mais profundo do que pena. Eu acho que o
que eu sinto é... Preocupação. Deus me ajude, estou preocupado com ele e, ao
sair do táxi, sinto-me tão inseguro quanto ao nosso acordo como sempre.

Eu não posso treiná-lo para uma carreira na NFL. Essa vida vai destrui-lo
da mesma forma que para mim.
Estou com um pouco de medo de falar com o Beau.

Não é que eu realmente tenha medo da reação dele, embora eu não o


conheça bem o suficiente para dizer como ele reagirá. Eu pensei que eu
conhecia. Eu pensei que ele era apenas um homem trabalhador, farto de sua
vida, mas o fato de ele se tornar uma pessoa completamente diferente quando
ele está bêbado me preocupa. Ele mesmo disse: foi ele quem colocou cerveja
em seu próprio tanque de gasolina, provavelmente porque alguém o incitou a
fazê-lo.

Alguém que é impressionável, que quer ser amado vai ser comido vivo na
NFL, assim como eu fui.

Eu ainda não decidi se quero apenas finalizar nosso treinamento. Não


parece justo, e para ser honesto, isso me dá mais um propósito. Treinar o time
tem sido ótimo, mas é muito gratificante trabalhar com o Beau e vê-lo
melhorar como resultado direto do tempo que passo com ele.

Eu só não quero levá-lo direto para a toca do leão. Se alguém tivesse me


parado anos atrás, eu não estaria onde estou hoje. Ignorando meu correio de
voz e tentando reunir coragem para dizer a um garoto da faculdade que sei
melhor do que ele.

É fodidamente patético.

Fiel à forma, porém, eu adio, focando na prática. Nosso primeiro tempo


juntos como equipe é gasto na revisão de fitas. Todos os nossos caras estão
amontoados dentro de uma tela. As luzes estão apagadas e um projetor mostra
segmentos de filmagem do jogo. O treinador Garvey assume a liderança nisso,
mas tenho a chance de dizer minha parte quando o foco se transformar em
nosso ataque.

Eu tive alguns treinadores que não tinham nada a dizer depois de uma
vitória, e acho que a falta de orientação leva à complacência. Eu também tive
treinadores que, apesar de uma vitória, derrubaram seus caras, absolutamente
eviscerando-os com críticas selvagens. Das duas opções, aquela faz muito mais
dano.

Mas felizmente há uma terceira. Eu escolho pegar o meio termo, elogiando


o que eles fizeram certo e apontando alguns lugares onde eles podem
melhorar. Eu escolho indivíduos para ambos, mas eu tento acertar todos os
caras que jogaram a maior parte do jogo, para que todos tenham algo para
trabalhar.

Eu posso ver o resultado no nosso próximo treino. Brady trabalha em jogar


a bola rapidamente após o snap porque ele sabe que nem sempre tem o tempo
que precisa no bolso. Lewis está emparelhado com um dos nossos LBs mais
sanguinários, porque nem todos eles serão tão dóceis quanto os de Vanderbilt.
Eu também tenho Beau trabalhando para pegar e segurar a bola, porque para
aquela bola que ele pegou no meio da defesa de Vanderbilt, havia várias outras
que estavam incompletas.

Está indo bem, até que eu ouço alguém gritando na beira do campo.

— Beau! Beau Woodridge, não me faça falar duas vezes, garoto!

Eu examino - junto com a maior parte da equipe - e vejo um homem de


meia-idade encostado na cerca. Ele tem a maior parte do seu peso corporal
pressionado contra ela, uma barriga de cerveja esmagada contra o elo da
cerca. A única razão pela qual ele não veio para o campo é porque há um
guarda de segurança do outro lado do portão, obviamente tentando impedi-lo.

Quando olho para ele mais de perto, vejo um homem bem vestido. Sua
camisa de flanela está enrugada, no entanto, como se estivesse enrolada no
chão antes de colocá-la nesta manhã. Sua calça jeans tem rasgos e eles estão
desgastados nos tornozelos. Ele tem pelo menos três dias de barba por fazer, e
eu posso praticamente sentir a gordura de seu cabelo daqui. Ele fez um
esforço, mas não muito. E mesmo se ele estivesse vestido com um terno
impecável, seu barulho iria denunciá-lo.

O treinador Garvey me disse antes de eu aceitar o trabalho que às vezes as


pessoas loucas simplesmente chegam ao campo. Bêbado, alto ou sóbrio e que
se acham no direito. É por isso que a Eastshore começou a ter um guarda de
segurança do estádio presente nos treinos, porque eles teriam um estranho
idiota que gritaria obscenidades e faria ameaças depois que eles se tornaram
conhecidos como os Rainbow Tigers.

Mas isso não é um cara aleatório. Ele está chamando Beau


especificamente, e quando eu olho um pouco mais perto, eu posso ver o
porquê. Seu rosto é como uma versão mais velha e muito mais desgastada do
que a de Beau. Este tem que ser o pai dele.

Meus medos se confirmam quando vejo Beau correndo para ele. Sua
cabeça está erguida, mas todo o seu corpo está rígido com o esforço disso. E
quando ele chega até a cerca, ele simplesmente desliga completamente.

Seu pai ainda está gritando, mas não de uma maneira coerente o suficiente
para eu ouvi-lo do campo. Beau continua se tornando cada vez menor, e algum
instinto em mim entra em ação. Ninguém deveria fazê-lo se sentir assim. Nem
mesmo o pai dele.

Especialmente não seu próprio pai.

Então eu ouço os caras ao meu redor começarem a falar.

— Beau, se eu te disser mais uma vez o que eu te disse mil vezes — Cortez
zomba em um sotaque grosso — Eu quero o meu Bud31 na lata, como um
verdadeiro americano. Pare de me comprar essas garrafas gays.

— Mas papai — começa Brady, imitando Beau. — Eu apenas pensei que


talvez pudéssemos nos unir a isso. Aqui, eu vou te mostrar como chupar.

Ele faz um movimento inconfundível, estufando a bochecha. Os outros


caras riem disso.

— É por isso que sua mãe foi embora, Beau! Porque você fez Jesus chorar.
Você está feliz com você mesmo?

Eu giro para eles, minhas mãos cerradas em punhos, minha mandíbula tão
apertada que eu posso sentir o osso triturando. Eles pegam imediatamente, o
riso cortando completamente.

— Se eu ouvir vocês falarem sobre um de seus colegas de time assim


novamente, eu vou cortar vocês. Compreendem?

— Nós estávamos apenas brincando! — Brady protesta.

— Eu não me importo. Ele é seu companheiro de equipe. O seu trabalho é


apoiá-lo. E eu estou falando sério, Brady. A próxima vez que você puxar essa
merda, você está fora.
31 Budweiser, também conhecida popularmente como Bud, é uma cerveja do tipo Lager americana.
Deixo-os então, sentindo-me completamente enojado. Chega um pouco
perto de casa para mim. De todos os caras que eu conheci na lista dos Jags,
Xavier é meu único amigo de verdade. Eu descobri isso do jeito difícil quando
tudo deu errado.

Agora, a mesma coisa está acontecendo com Beau, e os caras que bebem
com ele e riem com ele nas festas são os mesmos caras rindo dele agora.

Quando me aproximo de Beau e seu pai, posso ouvir o que realmente está
sendo dito. O mais doentio é que os caras não estão tão errados.

— Bem, com certeza a merda não desapareceu. Fadas não entraram em


nossa casa durante a noite e tiraram da minha carteira.

— Pai, podemos conversar sobre isso em casa — Beau pede, desespero em


sua voz.

— Não, nós podemos falar sobre isso agora, porque eu vim aqui na hora do
almoço, já que meu filho inútil não vai atender ao maldito telefone dele!

Ele pega seu próprio telefone e, por um segundo, parece que vai jogá-lo na
cerca.

— Eu não tenho o seu maldito dinheiro! — Beau grita de volta.

Eu posso ver a raiva no rosto de seu pai e me aproximo da cerca, chamando


sua atenção.

— Sr. Woodridge? Eu sou Lance Harper, o treinador do seu filho. Qual é o


problema?

Ele olha para mim, me avaliando. O grunhido de desaprovação - ou


descrença - me diz tudo o que preciso saber sobre o que ele pensa de mim.
— Eles têm drogados treinando você agora? É para onde está indo meu
dinheiro, onde estão indo os meus impostos?

Certo. Outra das teorias dos tabloides - de que eu estou viciado em cocaína
e a NFL tentou me forçar à reabilitação, então quando eu recaí, eles me
chutaram. Eu nunca usei cocaína. Nunca fui para reabilitação. A coisa mais
ilegal que fiz foi fumar alguma maconha.

— Estamos no meio da prática agora — eu digo calmamente. — Tenho


certeza de que Beau pode ligar para você depois.

— Jesus — ele diz, rindo. — Que porra é essa? Você está se escondendo
atrás de um treinador agora, Beau? Você é tão importante que precisa de
alguém para ser um homem para você?

Beau recua, e meus dentes se apertam ainda mais, provocando um choque


de dor ao longo do meu queixo.

— Você vai ter que sair. Agora mesmo.

O guarda de segurança avança, colocando seu corpo grande no caminho do


Sr. Woodridge, apenas no caso do portão não ser suficiente. E agora, não
tenho certeza de que seja. O Sr. Woodridge olha para nós três, balança a
cabeça e finalmente se vira e sai cambaleando.

Atrás de nós, eu posso ouvir que o scrimmage 32 começou de novo. Os


outros treinadores devem ter juntado os caras de volta à sua rotina para que
eles não fiquem por perto e assistam. Eu sou grato por isso, e eles não
precisam de mim neste exato segundo, porque minha atenção está focada em
Beau.

32 Scrimmage: a linha imaginária onde toda a jogada começa.


— Eu não preciso de você para me proteger — diz ele sombriamente,
olhando para o pai.

— Eu sei disso.

Ele olha para mim, seus olhos se estreitam. O brilho desaparece depois de
um momento, como se ele visse a sinceridade em meus olhos. Eu sei que Beau
não teria chegado tão longe com um pai assim se ele não pudesse cuidar de si
mesmo. Eu não sei por que eu interferi, além do fato de que algum instinto me
disse que eu deveria. Algo primitivo que apenas reagiu ao Beau sendo atacado.

Ele encontra meus olhos e há tristeza e vergonha nos seus. Eu quero


acalmá-lo; dizer a ele que ele não tem nada do que se sentir envergonhado.
Mas eu não sei as palavras para fazer isso, e eu nem sei se elas seriam bem-
vindas.

— Então, volte logo, ok? Isso não tem nada a ver com você.

Ele puxa o capacete de volta e sai correndo, deixando-me com um oficial de


segurança que está fazendo um bom trabalho de permanecer estoico sob as
circunstâncias.

Beau está certo, claro. Tudo que nós somos um para o outro é treinador e
jogador. Nós nem somos amigos. Na verdade, não. Mas há uma parte de mim
que quer fazer isso certo. Uma parte de mim quer cuidar dele.

E está ficando cada vez mais difícil de ignorar.


Pela primeira vez na minha vida, começo a ficar com medo de praticar
futebol.

Já é ruim o suficiente que todos os caras tenham visto o jeito que meu pai
estava agindo - ouvi-lo gritar por mim enquanto ele está bêbado. Mas Lance
realmente se envolveu. Ele ouviu o que meu pai disse. Ouviu o jeito que ele
falou comigo, e me viu apenas ficar lá e pegar tudo.

Alguma parte estúpida de mim está feliz por ele estar disposto a lutar por
mim. Ninguém se levantou para o meu pai em meu nome desde antes da
minha mãe sair. Mas o fato de que Lance Harper agora sabe o quão fodida é a
minha vida em casa - e o quanto eu sou uma buceta quando se trata do meu
pai - me faz sentir mal. O futebol é minha armadura. Eu pratico e jogo em
jogos porque é algo produtivo que posso fazer quando todo o resto é uma
merda. Todo o meu relacionamento com Lance é construído com lado um
meu, que trabalha duro em jogar bola, e um pouco de outro lado meu que faz
festa depois de um dos poucos pontos positivos da minha vida.

Agora ele conhece a terceira parte dessa equação. A parte em que nada
dessa merda importa, porque é para isso que vou para casa. A parte em que
ficarei preso para sempre se eu não puder ir para a NFL.

E sei que isso vai mudar a maneira como ele me trata. Não tem jeito, não
tem. A última coisa que eu quero é pena de Lance Harper, mas eu já sei que
estou em um monte de coisas.
Ele não me ajuda no treino, no entanto. Quero dizer, não mais do que ele
fez antes. Ele definitivamente não me mima nem me trata como se eu fosse me
dividir em um milhão de peças se ele ousasse me criticar. É uma coisa boa,
porque nessa primeira prática depois, eu estou me apresentando como uma
merda. A única coisa boa que posso dizer é que, pelo menos, não estamos
fazendo scrimmage hoje, porque eu sugaria ainda mais, e seria bem mais
aparente.

Eu sei que não estou saindo do nosso treinamento individual, no entanto.


Pela primeira vez na minha vida, eu considero recuar porque estou com medo
de algo. Não seria tão difícil dizer a ele que estou doente. Ou apenas dizer a
verdade: não quero fazer isso.

Mas o futebol é a minha cura, e se eu me colocar em uma posição onde não


estou jogando tão bem quanto deveria estar, vou me sentir pior. Então eu
engulo e apareço na casa de Lance depois da escola na tarde de quinta-feira.

E… tudo bem. Fodidamente sem complicações, honestamente. Nós


fazemos um circuito, depois batemos na praia para trabalhar em alguns
exercícios de passes com os quais tive problemas ontem. Nós mal falamos e o
que dizemos é completamente relacionado ao futebol. É como se esse dia
nunca tivesse acontecido.

Meus sentimentos sobre isso são muito mais complicados do que eu quero
admitir.

Isso me deixa ansioso, por exemplo. Como se eu soubesse que ele tem o
dedo dele pairando sobre o grande botão vermelho e eu estou apenas
esperando ansiosamente para ele empurrá-lo, completamente indefeso contra
a bomba nuclear que virá quando ele o fizer. Eu prefiro que falemos sobre isso
agora, quando eu posso esperar e me preparar para isso, e quando estamos
terminando, eu tento criar coragem para fazer exatamente isso.

Lance me bate um soco, mas não do jeito que eu esperava.

— Você tem planos hoje à noite? — Pergunta ele.

Estamos em pé em sua cozinha e ele está servindo os dois shakes de


proteína de seu liquidificador. As coisas têm gosto de bunda, não importa o
que estão misturados, mas eles são fáceis o suficiente para engolir.

— Não realmente — eu digo, olhando para ele cautelosamente enquanto ele


me entrega o meu copo.

— Bom — diz ele com o mesmo sorriso que sempre consegue fazer o meu
coração tropeçar em si mesmo. — Beba seu shake, então vamos sair. Eu quero
pegar a estrada antes que esteja escuro demais.

—... Na estrada para onde? — Eu pergunto, olhando para o relógio em seu


DVR33.

É um pouco depois das sete agora. Não vai nem começar a escurecer por
mais meia hora, e o sol não vai se pôr completamente até as nove da noite. Eu
não sei onde diabos ele planeja ir que ele acha que não teremos chegado lá por
essa altura, mas estou intrigado.

— Você vai ver — diz ele com um sorriso.

33 O DVR (acrônimo em inglês para Digital Video Recorder) ou PVR (acrónimo em inglês para
Personal Video Recorder) é um dispositivo eletrônico que grava vídeo em formato digital em unidade de
disco, USB flash drive, SD cartão de memória, SSD ou em outro local ou em rede dispositivo de
armazenamento em massa.
Eu sei que devo dizer a ele que tenho outras coisas para fazer, mas é
mentira. O que mais eu vou fazer? Ir para casa e ouvir meu pai gritar comigo
até ele desmaiar? Trabalhar no dever de casa. Eu não preciso passar nos
testes?

Posso muito bem estar preso em um carro com um cara que eu sou atraído,
mas não tenho conseguido falar em dias. Por que não.

Então eu termino meu shake, pego minha bolsa e sigo Lance até a
caminhonete dele. Eu a lanço na parte de trás, depois subo no carro ao lado
dele. Não é como se eu não estive aqui antes, mas foi quando eu só o conhecia
como Lance Harper. Agora que ele é um humano como todo mundo, ele se
sente perto demais.

Ele coloca uma estação de rock clássico e nos guia em direção à rodovia,
indo para o norte ao longo da costa. Acho que ele está indo para algum bar ou
restaurante. Talvez uma praia privada. Mas ele continua indo até que estamos
completamente fora de Eastshore, depois, além das pequenas cidades que
pontilham a costa.

Cerca de uma hora depois, enquanto o anoitecer está começando a se


estabelecer, saímos da rodovia em Jacksonville. No centro de Jacksonville, na
verdade, depois de passarmos pelo que tem de ser a mais assustadora ponte
levadiça conhecida pelo homem.

— Visitando um amigo? — Eu finalmente pergunto.

Principalmente para evitar pensar no fato de que posso literalmente ver


através da água se olhar para baixo.

— Algo assim — diz ele com um sorriso.


Contra o meu melhor julgamento, eu realmente começo a ficar animado.
Talvez ele esteja me arrumando uma apresentação com alguns superstar da
NFL. Bem. Outros superstar da NFL. Poderia percorrer um longo caminho
quando se trata de me reclutar.

Minhas esperanças voam quando nos aproximamos do EverBank Field.


Não há jogo lá esta noite, mas ainda está iluminado, visível a quilômetros de
distância. Meu coração começa a bater no meu peito enquanto ele puxa para
dentro, contornando o posto de segurança e dirigindo direto para um lote
lateral que eu estou supondo que os jogadores e treinadores usam.

— O que estamos fazendo aqui? — Eu pergunto quando saio da


caminhonete.

— Foi uma semana difícil. Eu imaginei que você poderia usar um pouco de
diversão. E eu não sei você, mas eu costumava sonhar em fazer esse tipo de
coisa quando eu era criança.

Eu ainda não tenho ideia do que "esse tipo de coisa" é, mas estou em
estado de assombro enquanto caminhamos em direção ao estádio. Eu mal
noto Lance puxando seu telefone e mandando mensagens para alguém. Eu
também estou preso em como esse lugar é enorme. Por mais triste que seja, eu
nunca estive em um jogo da NFL. Os maiores estádios que vi são aqueles em
que jogamos.

Eu ouço um portão ser aberto, me tirando dos meus pensamentos. Os


pelos se levantam na parte de trás do meu pescoço e eu olho para Lance. Ele
poderia entrar em uma tonelada de problemas por isso. Mas ele não parece
preocupado. Na verdade, ele está olhando para o som.
Eu sigo seu olhar e vejo um homem de uniforme parado ali. Ele tem o
logotipo dos Jaguars no peito, o nome dele do outro lado. Não é segurança, já
que ele não tem uma arma ou até um cassetete na cintura. Tudo que vejo são
chaves.

— Ei, Monty. Bom te ver de novo.

Lance estende a mão para o homem e ele o puxa para um abraço. Eu


apenas fico para trás, piscando, ainda não tendo ideia do que está
acontecendo.

— Faz um bom tempo.

Lance e Monty fazem conversa fiada, e eu tento ficar ocupado, mas me vejo
olhando para Monty. Este portão é aparentemente no final de uma passagem
entre as arquibancadas inferiores. Eu posso ver diretamente o campo daqui.

— Desculpe, não consegui mais tempo para você — eu finalmente ouço


Monty dizer.

Agradeço-lhe porque o Lance o faz, enquanto me pergunto o que ele quis


dizer. Mais tempo para o que? Eu descubro bem rápido, enquanto Lance abre
o portão, me chamando para entrar. Andamos entre as arquibancadas, o
campo aparecendo à vista.

Quando meus sapatos tocam o chão, eu finalmente entendo o que ele quis
dizer. Ele costumava sonhar em vir aqui quando ninguém mais estava por
perto. Andando pelo campo. Talvez jogando a bola ao redor. Quem poderia
amar futebol sem ter essa fantasia pelo menos uma vez?

Eu me sinto um pouco tonto quando saio para o campo propriamente dito.


— Isso é loucura. Como diabos você fez isso acontecer?
— Vale a pena ser amigo do zelador — diz ele com um sorriso. — Você quer
fazer alguns exercícios? Sem pressão. Apenas por diversão.

Eu aceno, e nos alinhamos para lançamentos. Lance faz cada exercício


comigo, me dando alguém para competir. Eu me esforço para correr mais
rápido do que ele, trabalhar mais do que ele, e todo o tempo minha mente está
trabalhando como se eu fosse uma criança novamente, me pintando neste
estádio, sendo assistido por milhões de fãs ao redor do mundo.

Depois de suar, Lance e eu acampamos na linha de 50 jardas. A grama bem


cuidada me cutuca enquanto sento, minhas pernas esticadas na minha frente,
as palmas das mãos no chão. Lance se senta perto de mim, molhando seu
cabelo molhado de suor com uma garrafa de água.

Isso é quando me atinge. Este não é apenas um exercício de treinamento


aleatório. Ele veio com isso depois de me ver lutar com meu pai. Ele veio com
isso para ajudar ao me mostrar o que eu posso ter se continuar trabalhando
duro o suficiente.

É tão profundamente tocante que por alguns minutos eu apenas fico


sentado, atordoado. Quando o peso disso acertar em mim, eu acho melhor dar
algo a ele também. A verdade de quem e o que sou.

Começando com quem e o que meu pai é.

— Ele não foi sempre tão ruim — eu digo baixinho.

Lance olha para mim, confusão nos olhos dele. Ele rapidamente
desaparece, e ele me dá um único e lento aceno para continuar.
— Ele costumava ir aos meus jogos infantis quando eu era criança.
Totalmente sóbrio. Só o tempo que ele bebia era nos fins de semana, e mesmo
assim era como uma coisa de uma vez por mês no máximo.

Isto é tão estranho. Às vezes, quando olho para ele, essa é a pessoa que
vejo. Ele não era o melhor pai do mundo. Mas ele estava feliz a maior parte do
tempo, e eu realmente sentia que ele me amava. Se eu não o ver desse jeito,
mesmo quando ele está falando sério, eu não estaria mais lá.

— O que mudou? — Lance pede gentilmente.

— Minha mãe o traiu. — As palavras têm gosto de veneno na minha boca, e


eu sei que meu rosto mostra minha amargura. — Eu acho que ela não estava
feliz por um tempo, então ela... Encontrou alguém que a fez feliz. Eles moram
juntos em Tucson agora. Ela me envia cartões de Natal com fotos de sua nova
família todos os anos.

— Isso é fodido — diz Lance.

Sim. Isto é. Se eu estivesse no lugar do meu pai, provavelmente também


beberia.

— Há outras coisas acontecendo. O trabalho dele é estressante e ele não


conseguiu uma promoção em dez anos. Então, quando ele chega em casa, ele
bebe. E ele não para até que toda a bebida da casa se vá, ou até que ele
desmaie. O que acontecer primeiro.

Alguns momentos passam. Eu posso ouvir o som do tráfego noturno à


distância enquanto eu recolho meus pensamentos.

— Ele fica físico com você? — Ele finalmente pergunta, e quando eu olho
para ele, eu posso ver que sua mandíbula está definida em uma linha dura.
— Não. — Eu corro o meu polegar sobre as folhas duras de grama. — Faz
algumas ameaças bastante convincentes, mas ele é todo papo. Eu acho que ele
tem um pouco de medo de mim.

Ele ainda faz muito dano apenas com suas palavras, no entanto. Meu pai,
um respeitável operário, torna-se a definição de lixo branco quando ele está
bebendo. E ele leva tudo em mim.

— Você mora com ele? — Quando eu aceno, ele continua: — Por quê? Você
não se qualifica para moradia no campus? Ou merda. Você poderia dividir um
apartamento com alguns outros caras.

Eu sinto uma pontada de saudade. Eu quero me mudar desde que eu tinha


idade suficiente para que realmente funcionasse. Tantas vezes pensei em
apenas arrumar minhas coisas e ir embora.

— Eu não posso. — Eu respiro fundo, então solto lentamente. — Poucos


anos atrás, quando eu ainda estava no ensino médio, papai bebeu muito e
tomou um punhado de pílulas para dormir em cima disso. Cheguei em casa
depois de sair com os amigos, encontrei-o caído em sua cadeira. Eu percebi
que ele estava desmaiado, mas algo não parecia certo.

Lance olha para mim, aqueles olhos azuis escuros feridos.

— Eu fui ver como ele estava, e ele não estava realmente respirando tão
bem. Liguei para uma ambulância e eles tiveram que lhe dar oxigênio
imediatamente, depois bombear seu estômago quando ele chegou ao pronto-
socorro.

— Merda — diz Lance depois de um momento. — Eu sinto muito, Beau.


Eu já ouvi isso antes. Eu confiei em um professor uma vez, logo depois que
aconteceu. Ela disse a mesma coisa. Então ela traiu minha confiança e disse ao
diretor e ao orientador sobre o que estava acontecendo. Foi preciso muito
esforço para impedir que os serviços sociais se envolvessem, e a relação entre
eu e meu pai piorou por causa disso.

Eu não vejo pena nos olhos de Lance, no entanto. E apesar de quão pouco
eu o conheço, sinto que posso confiar nele. O que é uma sensação muito nova
para mim e acho que levarei muito tempo para processar.

— É o que é, certo? Mas é por isso que quando eu digo que preciso sair da
Eastshore... Eu preciso sair da Eastshore.

Eu sorrio, tentando esconder o quanto essa ideia me assusta. Sim, eu


compraria um bilhete só de ida daqui. Mas e se meu pai decidir parar de
cuidar de si mesmo quando eu for embora? Ele já confia em mim para tanto.
Se eu não me lembrar de pagar as contas, ele estaria na rua, apesar de ter o
dinheiro para cuidar de sua própria merda.

Há uma coisa que me assusta mais: acabar como ele. Amargo, apenas
desperdiçando meus dias, nem mesmo lembrando o que aconteceu no dia
anterior. É uma existência horrível.

Se Lance realmente sente meu medo, ou ele está apenas respondendo à


calmaria na conversa, eu realmente não sei. Ele se aproxima um pouco de
mim e aperta meu ombro com uma mão forte, apertando-a.

Eu coloco minha mão por cima dele e deixo ir meu sorriso falso em um
sorriso agradecido - embora triste. Mesmo esse contato com ele me enche de
calor, como se eu estivesse enrolado em um cobertor grosso, escondido de
qualquer coisa ruim que pudesse acontecer. Quando meus olhos se encontram
com Lance, vejo que a promessa de segurança ecoa ali.

É muito atraente para mim desviar o olhar. Em vez disso, me vejo


chegando mais perto, querendo levar o que ele oferece da maneira mais
visceral possível. Querendo sentir mais dele; saber que alguém dá a mínima
para o que eu estou passando. Que alguém está bem com o pedaço de merda
que sou quando ninguém está assistindo.

Não há espaço em minha mente para dúvidas. Eu me inclino para frente,


ficando cada vez mais perto dele, e nem fico surpreso quando ele se inclina
para mim também. Quando nossos lábios finalmente se encontram, é mais do
que a liberação física que eu tenho desejado. Há um vínculo lá. Uma conexão
emocional que eu posso sentir pulsando através de nós dois.

A mão de Lance embala a parte de trás da minha cabeça, uma garantia


silenciosa de que estou seguro com ele. Ele me aproxima mais, e eu me
reposiciono para me ajoelhar na frente de onde ele está sentado, a grama
cutucando minhas pernas através das minhas calças.

Eu sou aquele que empurra o beijo mais fundo, minha língua sondando a
costura de seus lábios. Eu provavelmente estaria em seu colo, se não fosse pelo
fato de as luzes do estádio piscarem, algo que eu posso ver mesmo atrás das
minhas pálpebras fechadas.

Lance quebra o beijo e eu abro os olhos, tentando recuperar o fôlego. Esse


beijo foi muito mais doce do que qualquer outro que eu compartilhei com um
cara, e eu sinto que apenas tentei pisar em terra firme depois de saltar em um
trampolim por horas a fio. Um pouco tonto. Não tenho certeza do meu
equilíbrio. Quero subir de volta para onde o mundo ainda está girando.
— Pedi a Monty que nos avisasse quando o tempo estivesse quase
acabando — diz ele em voz baixa, e finalmente percebo que ainda estamos na
linha de 50 jardas, no meio de um estádio de futebol profissional. — É melhor
sairmos.

Ele começa a ficar de pé e eu coloco a mão em seu braço, parando-o. —


Você não vai pirar comigo, vai? Porque se isso vai mudar as coisas, talvez
apenas... Apenas esqueça que te beijei.

Eu me odeio por ficar assim - por esse lapso repentino de desconfiança.


Mas se você não pode se sentir inseguro depois de beijar seu ídolo, quando
você se sentará inseguro?

— Isso não é provável — diz Lance depois de me estudar por um momento.


— Quero dizer… Eu sou seu treinador. Eu devo dizer para você esquecer, e que
isso nunca vai acontecer novamente. Mas eu estaria mentindo se dissesse que
não quero.

Eu me vejo sorrindo para isso. Eu não posso evitar. Nós voltamos para a
caminhonete dele, e eu estou mais ciente dele do que nunca. Há cerca de uma
dúzia de vezes diferentes que eu quero apenas agarrá-lo e beijá-lo novamente.
Mas seja o que for, é novo demais para pular de todo coração.

Consigo manter minhas mãos para mim mesmo, mas à medida que nos
afastamos do EverBank Field, já posso dizer que as coisas vão mudar para nós.
Lance e eu não temos tempo a sós antes do jogo no sábado.

Provavelmente é uma coisa boa. Por mais que eu tenha pensado sobre
aquele beijo - por mais que eu tenha imaginado o que poderia ter acontecido
se não tivéssemos sido interrompidos - eu sei que não estaria fazendo nenhum
trabalho em nossa sessão de treinamento. Pelo menos, nenhum trabalho
relacionado ao futebol.

Nosso segundo jogo é contra Ole Miss34, e mesmo perdendo o primeiro


período, o jogo ainda não está perdido. Eles têm uma linha defensiva mais
forte que o Vanderbilt, então nunca temos a chance de massacrá-los como
fizemos em nosso primeiro jogo.

Em vez disso, usamos o que Lance nos ensinou. Somos calmos e


tranquilos, focados em quaisquer ganhos que conseguirmos, em vez de
ficarmos presos a jogadas insanas e oscilantes. Lenta e constante nos
movimentamos ao longo dessa linha de gol, e no final, é suficiente para ganhar
o jogo por 14 pontos.

Desta vez no ano passado, já estávamos com 0-2 e enfrentando uma certa
perda na semana seguinte com os Vols em nossa programação. A celebração
que começa logo após o apito final é realmente difícil de entender.

34 Ole Miss Rebels representa a Universidade do Mississippi, também conhecida como "Ole Miss".
Como uma mariposa puxada diretamente para uma chama, eu me movo
para o centro dela, totalmente preparado para me animar no The Top. Talvez
esperando que isso quebre as minhas últimas inibições e eu me encontre na
casa de Lance mais tarde.

Mas Lance me alcança do lado de fora do vestiário, seus olhos azuis


brilhando com a vitória.

— Ei, você tem alguns minutos? Há alguém que eu quero que você
conheça.

Isso me deixa curioso pra caramba, então eu o sigo para o estacionamento,


onde vejo um cara grande e largo encostado na caminhonete. Sério, ele é largo
o suficiente para que ele quase pegue todo o lado do carro. Quando nos
aproximamos, percebo quem ele é.

Xavier Delgado. Puta merda. Ele é um dos LBs mais poderosos da liga no
momento. Ele virou a maré de jogos inteiros para os Jags antes de fechar
completamente os quarterbacks.

E ele está em pé no estacionamento da Eastshore, apenas arrepiante.

— Ei. Você deve ser Beau Woodridge. Bom jogo hoje.

Não só ele está aqui, mas ele realmente nos assistiu jogar? Isso se
transforma na porra da Twilight Zone35.

— Hey — eu digo, tentando encontrar minha voz.

Eu não sei por que eu sou capaz de funcionar ao redor de Lance e não de
Xavier. Talvez porque Lance tenha esse jeito descontraído sobre ele, enquanto

35 Uma área onde dois modos diferentes de vida ou estados de existência se encontram.
Xavier apenas grita um jogador de futebol muito foda. Cada músculo em seu
corpo anuncia abertamente o quão poderoso ele é.

— Não deixe sua aparência enganar você — diz Lance. — Xavi é um cara
legal. Ele me ajudou a me instalar no novo lugar.

— Só porque eu não tinha nada melhor para fazer naquele dia — diz Xavier
com um sorriso.

Essa expressão é o que finalmente me faz relaxar. Isso suaviza suas


características, me mostra que ele não é muito mais velho que eu. E que ele
não é apenas um homem só que conduz uma maquina mortífera. Pelo menos
não enquanto ele está fora do campo. Eu odiaria ser um QB agora mesmo.

— Prazer em conhecê-lo, cara — eu digo, estendendo a mão para apertar. —


Você veio aqui para o jogo?

— Sim, bem. Esse cara não vai me deixar sozinho sobre isso. Diz que existe
um Receiver36 incrível que eu só tinha que ver, então aqui estou eu.

Eu sei que ele está brincando, mas o olhar no rosto de Lance é inestimável.
Há um pouco de cor em suas bochechas, e ele parece estar dividido entre socar
Xavier ou simplesmente ir embora. Ele também não fará nenhum, e eu me
pergunto o que ele tem dito ao seu antigo companheiro de equipe.

Ele provavelmente falou de mim como atleta. Isso é tudo. Eu deveria estar
sobre a lua sobre isso, mas por algum motivo, minha bunda gananciosa não
pode deixar de desejar mais.

36Wide Receiver (WR). É o recebedor. Responsável por correr a rota pré-determinada na jogada e
agarrar a bola quando lançada em sua direção pelo QB.
— Eu imaginei que eu levaria meu cara para um bife se vocês ganhassem.
Você quer se juntar a nós, Woodridge?

Eu olho de volta para o vestiário, onde ainda posso ouvir meus colegas de
equipe comemorando. Uma festa grande e turbulenta versus um jantar
tranquilo com apenas algumas pessoas? Não teria sido uma escolha antes.
Mas agora eu quero passar tempo com Lance e seu amigo.

E não só porque eles são ambos as estrelas da NFL.

— Sim, isso seria fantástico — eu digo. — Deixe-me apenas pegar minha


merda.

Chegamos lá cerca de uma hora depois. Xavier me avisou que é um pouco


fora do caminho, mas aparentemente fora do caminho significa a meio
caminho de Jacksonville, por uma estrada abandonada, escondida em um
grande bosque de árvores.

Para um lugar tão distante do mapa, está absolutamente lotado. O


estacionamento está cheio e temos que esperar na fila apenas para conseguir
uma mesa. O gerente do restaurante sai depois de apenas dez minutos,
aparentemente tendo sido informado de quem são Lance e Xavier, e nos
oferece a chance de pular a fila, mas os caras recusam.

Mesmo assim, a fila parece se mover mais rápido, e quando finalmente


estamos sentados, o servidor está em cima de nós em instantes. Desde que
Lance me levou, eu peço uma cerveja, imaginando que vou precisar dela para
falar de forma semi coerente, entre esses dois caras.

Porra, agora, essa é uma ideia.

— Você se lembra da primeira vez que viemos aqui? — Xavier pergunta,


recostando-se em seu assento depois que todos nós pedimos. — Lembra-se
daquela mulher com a bunda linda do bar?

— Aquela que estava em cima de você? — Lance pergunta, sorrindo.

— Cara, ela pode ter estado em mim, mas ela estava com o olho em você o
tempo todo. — Ele balança a cabeça. — Oportunidade desperdiçada, cara. Mas
ei. Você tem a chance de se redimir esta noite.

Eu sigo seu olhar e vejo três mulheres sussurrando uma para a outra, todas
olhando diretamente para Lance. Um pouco de ciúme se inflama em mim, e eu
rapidamente olho para longe, não querendo fazer um idiota de mim mesmo.

Obviamente, Lance Harper pode pegar qualquer pedaço de bunda que ele
queira. E a maioria das pessoas, incluindo seu amigo, aparentemente parece
assumir que ele é hétero. Talvez ele seja. Nós nos beijamos uma vez. Não
significa nada. Pelo que sei, poderia ter sido um beijo de pena ou algo assim.
— Sim, isso não vai acontecer, mas fique à vontade. — Lance diz
caridosamente.

Ele olha para mim e quase parece comunicar silenciosamente alguma


coisa. Culpa, talvez. Como se ele estivesse arrependido por seu amigo tentando
pegá-lo com algumas mulheres enquanto saímos juntos.

Que é louco. Não é como se o Lance fosse meu.

— Não, cara. Eu não estou com o O.P.P.37 não mais. Sheila chutaria minha
bunda.

Lance ri disso. — Você está de volta com Sheila de novo? Quando a porra
disso aconteceu?

Eu prefiro ser na maioria das vezes a terceira roda em sua conversa,


ouvindo enquanto eles falam sobre essa garota louca que Xavier
aparentemente tem uma queda desde seu ano de novato. Parece que os dois
têm garotas apenas se reunindo para eles, o que não é uma surpresa. Eu me
pergunto se seria o mesmo para mim, mas com caras.

O único problema com isso é que minha mente ciumenta fixa apenas em
um cara.

Como Lance é um cara legal, ele tenta me incluir na conversa. Não tenho
muito a dizer a uma estrela da NFL e começo a me sentir mal. Mas Xavier
decide voltar sua atenção diretamente para mim.

— Então Lance me disse que você quer se tornar profissional.

37Significa "oposição". É normalmente usada por criminosos para se referir aos seus inimigos.
Isso pode ser considerado gíria americana, mas é usado apenas em Pittsburgh, Califórnia e Chicago.
Nosso bife já chegou à mesa nesse ponto, e ele está no meio de cortá-lo. O
cara gosta de sua carne super mal passada. É vermelho escuro enquanto ele
corta pedaços pequenos.

— Esse é o plano — eu digo, me sentindo um pouco ansioso.

É estranho, porque ele e Lance são ambos jogadores profissionais. Mas


sinto que conheço Lance além disso tudo - como se a carreira dele não fosse
mais o que o define para mim. Talvez nunca tenha sido. Não desde que ele
parou para me ajudar na beira da estrada.

— Eu vi você jogar. Você é muito bom. E com Lance trabalhando com você,
praticamente uma garantia que você vai fazer isso.

Minha esperança aumenta, minha inveja é esquecida. Eu sei que não


deveria deixar meu valor como jogador ser validado por caras que eu nem
conheço - caras que provavelmente só me viram jogar uma vez - mas não
posso evitar. É bom ouvir alguém me dizer que sou bom o suficiente.

— Ele fez bons progressos. Trabalha duro. Eu não acho que é algo de
certeza, mas ele tem uma boa chance — diz Lance.

Ele é a voz da razão para o excesso de Xavier, aparentemente. Mas até a


visão dele parece otimista, e isso me faz sorrir.

— Você tem alguém com quem você está agora? — Xavier pergunta,
apontando o garfo para mim.

Eu pisco para ele, tentando entender. — Uh... Eu não...?

— Você tem uma garota que você está transando regularmente?


Eu rio disso, tão alto que chama a atenção das outras mesas. Merda. A
última vez que eu tentei 'Transar com uma garota', eu estava bêbado em uma
festa do ensino médio e ela estava no meu colo, tentando me montar. Não
poderia estourar um tesão para salvar minha vida. Foi quando eu mais ou
menos aceitei que eu só gosto do Pau.

— Eu sou gay pra caralho, então não — eu digo antes de pensar melhor.

Eu sinto que vivo nessa estranha bolha em Eastshore. No campus, no


campo, todo mundo só aceita que eu gosto de caras. Nossa equipe tem uma
reputação por isso, e uma política de tolerância zero para pessoas que se
incomodam em acabar com isso.

Fora disso, porém, eu geralmente tenho que ser cuidadoso. A Eastshore é


uma grande cidade turística, tanto para pessoas que vêm de outras cidades da
Flórida quanto para as que vêm de outros estados ou países. Mas fora disso, o
condado tem muitas áreas rurais próximas, e uma porcentagem decente de
pessoas que pensam que a escola está apenas se desonrando ao deixar as
queers38 brincarem.

Eu não sei se Xavier é uma dessas pessoas. Suas sobrancelhas levantam,


ele parece um pouco surpreso, mas então ele me lança um sorriso de lobo.

— Tudo bem, então. Você tem um cara que você está transando
regularmente?

Eu rio novamente com a facilidade com que ele adapta a pergunta.

— Jesus, Xavi — diz Lance em torno de um bocado de bife.

38Queer é uma palavra proveniente do inglês usada para designar pessoas que não seguem o modelo
de heterossexualidade ou do binaridade de gênero.
— Não se engasgue com sua carne, cara. Deixe isso para os profissionais."

Eu ri de novo, porque o que mais eu posso fazer? Dizer a ele que eu ficaria
totalmente satisfeito em engasgar com a carne de Lance por ele? Quer dizer, é
provavelmente uma piada que eu faria no vestiário, mas eu realmente não
quero nenhum desses caras do jeito que eu quero Lance. Estou seguro lá.

— Não tenha um relacionamento estável ou qualquer coisa, não— Eu digo,


mantendo meu olhar longe de Lance.

Eu posso senti-lo olhando para mim, e um arrepio percorre minha espinha.

— Ok, bom. Eu não sei como é para os caras gays, mas você vai ser muito
fodidamente popular assim que assinar. Mesmo que você não prove o buffet,
vai irritar alguém que já esteve com você por um tempo.

— Isso que aconteceu com Sheila? — Eu pergunto, esperando mudar o foco


de volta para Xavier.

— Perto o suficiente — diz Xavier com um sorriso tímido. — Eu não posso


evitar, cara. Tantas mulheres lindas só procurando por amor.

Lance revira os olhos, engolindo outro pedaço de carne. — Você está


fazendo parecer que a NFL é apenas um mar de buceta.

— Isso é porque é — diz ele com um encolher de ombros. — Todas as


garotas - ou garotos – que você pode foder, toda a merda de prateleira que
você pode beber. E não pense apenas porque há um teste de drogas de vez em
quando que caras não estão experimentando o que é dado a eles.
— Eu acho que o ponto que Xavi está tentando fazer — diz Lance
sobriamente, — é que há muita coisa que pode te atrapalhar, e apenas dez por
cento disso é o jogo em si. Alguns de nós não são cortados para lidar com isso.

A mesa fica quieta, o silêncio como um cobertor grosso que paira sobre nós
três.

— Eu não quis dizer isso assim, cara. Apenas tentando dizer ao garoto para
ter cuidado.

Lance sorri, mas é um gesto apertado que não atinge seus olhos. — Sim,
cara, eu sei que você não fez isso. É legal. — Ele empurra a cadeira e coloca o
guardanapo de volta na mesa. — Eu tenho que mijar. Volto daqui a pouco.

Ele deixa a mesa e Xavier solta um suspiro, balançando a cabeça. Eu não


posso evitar. Eu tenho que perguntar.

— O que diabos aconteceu com ele na NFL? Ele age como se tivesse
acabado de sair de uma guerra.

— Não muito longe disso — resmunga Xavier. — Mas não é minha história
para contar. Você quer saber, você pergunta a ele.

Justo. Volto a comer, o único som durante algum tempo é a raspagem de


garfos e facas nos pratos. Depois de alguns momentos, posso sentir os olhos de
Xavier em mim novamente e olho para cima.

— O que?

— Você e Lance estão fodendo?

Eu quase engasgo com o meu bife, tossindo e raspando minha garganta


antes de tomar um gole de água. Xavier é rápido em acompanhar.
— É legal se você está. Não é da minha conta. Eu já conheço o bi de Lance.
Apenas... Ninguém mais sabe, sabe?

Eu engulo, colocando meu garfo para que eu não possa ficar desse jeito
novamente. — Provavelmente algo que você deveria perguntar a Lance.

Ele sorri, balançando o dedo para mim. — Eu gosto de você. Mas... Ouça,
eu não estou tentando ser um idiota. Eu só sei como as pessoas são, e eu sei
como Lance é. Se algo está acontecendo com vocês dois, mantenha a calma,
sim? Se a imprensa se apossar disso e é tudo que alguém vai falar.

A imprensa. Jesus. Minha maior preocupação é como seria se a equipe


soubesse que eu gostaria de transar com meu treinador. Talvez até namorar
meu treinador. Eu conheço a imprensa que persegue Lance. Há sempre um
par de repórteres em nossos jogos agora, ansiosos por um furo.

Mas nunca pensei em como as coisas públicas poderiam chegar.

Talvez seja por isso que Lance não falou sobre o beijo. Talvez ele já se
arrependa. Eu provavelmente deveria estar feliz. Tenho certeza que não quero
minha vida sexual transmitida em todo o país.

Mas há uma parte de mim que já está de luto pelo que poderia ter sido.
Eu posso dizer que tem algo errado com Beau.

Nós dirigimos de volta para Eastshore em quase silêncio, apenas ouvindo o


zumbido suave do rádio e os pneus se movendo ritmicamente sobre o asfalto.
Quando eu era criança, eu me lembro de ser acalmado por esses sons, quando
meu pai nos levava nas férias de verão. Agora isso só me deixa ansioso.

Há uma parte de mim que queria que Beau conhecesse Xavier porque eu
quero que eles gostem um do outro. É estúpido e maluco e não faz sentido,
mas quando convidei Xavi para o jogo, eu esperava que eles se dessem bem.

E eu acho que eles fizeram tudo certo. Xavier falou de um estilo de vida
acelerado, garota diferente a cada noite, mas eu sei que ele não é esse cara.
Assim como eu sei que Beau não é o cara que fica bêbado toda noite e coloca
um burburinho acima de tudo em sua vida.

Houve alguma tensão lá, no entanto. Eu pude sentir isso. E eu sei que Xavi
deve ter dito algo quando eu saí para recuperar a minha compostura, porque
Beau ficou muito mais quieto depois disso.

Quando chegamos à estrada, o resto da viagem apenas um tiro reto, eu


finalmente decido tocar no assunto.

— Eu sei que Xavier pode ser um pouco intenso, mas ele é um bom cara.

Beau olha para mim, assustado, como se estivesse mergulhado em


pensamentos. — Oh, sim. Ele parece legal.
Eu não ouço nenhum sarcasmo, então deixo minha tentativa de conversa
cair em silêncio. Beau é o próximo a quebrá-lo.

— Ele perguntou se eu e você temos algo.

Meu sangue corre frio, meu pulso acelerando ao pensar nessa pergunta. Eu
não chamaria Xavier de mais perceptivo que o normal, então se ele percebeu o
que há entre nós, dever ser mais óbvio do que eu imagino.

Tanto de mim quer se esconder disso. Eu sei o que isso vai significar se isso
sair. Xavi não vai me trair, mas a próxima pessoa a pegá-lo provavelmente irá.

E ainda há outra parte de mim que está ansiosa para abraçar a


oportunidade. Eu sei que sou bissexual por um longo tempo, e tive que afastar
essa parte de quem eu sou. Eu quase desejo ter liberdade para apenas ir em
frente.

— O que você disse? — Eu pergunto com cautela.

— Não se preocupe com isso — diz Beau, piscando-me um sorriso que sei
ser falso. — Eu disse a ele que não há nada acontecendo. Quero dizer, aquele
beijo não significou nada, certo?

Estou me concentrando na estrada e agora estou feliz por não poder ver os
olhos dele. Pode haver um apelo neles e não sei como responder. Tudo o que
sei é que meus sentimentos são tão cheios de conflito que estou paralisado. Eu
quero dizer a ele que ele está certo e apenas voltar ao status quo.

Mas eu também quero tirar esse caminhão da estrada e mostrar a ele que
isso significa alguma coisa.
— Certo — eu digo finalmente, cautela ganhando.

Eu não posso me dar ao luxo de chamar atenção. Para a imprensa me


deixar sozinho, tenho que tentar ser o menos noticioso possível. E isso
simplesmente não pode incluir Beau.

Se há alguma mudança entre nós depois disso, é de maneiras sutis.

Nós ainda treinamos três dias por semana. Nós ainda saímos às vezes
como amigos. Mas ele se sente um pouco mais distante, e eu fico um pouco
mais em cima dos meus próprios pensamentos. Eu faço tudo em meu poder
para evitar que minha mente se desvie da linha que desenhei na areia e, na
maior parte, funciona.

Diante de uma semana de folga, fico decidindo se vou cancelar nossas


sessões juntas e deixar que ele tenha mais tempo para estudar. Decido
cancelar um deles, e o segundo continua normalmente, mas o terceiro uso
como oferta de paz.

Porque apesar do fato de que tem sido uma mudança sutil, ainda é uma
que eu sinto, e fica sob minha pele mais do que eu quero admitir. Então,
resolvo convidar Beau para comer e jogar, esperando que pudéssemos apenas
relaxar e aproveitar a companhia um do outro sem o gorila de oitocentos
quilos sentado em nossos peitos.
Eu coloco a sala de estar toda arrumada, com o projetor para fora, então
temos uma tela enorme. Peço duas pizzas enormes, loto a geladeira com
cerveja e digo a mim mesmo que isso vai funcionar. Depois desta noite, não
vou mais pensar nos lábios dele nos meus.

Ele chega por volta de seis, quinze minutos antes de a pizza chegar. Lanço
lhe uma cerveja e abro a minha, encostado no balcão da cozinha.

— Pouco surpreso — diz ele, levantando sua cerveja. — Imaginei que você
me pegaria aqui e seria como... Brincadeirinha! Vamos trabalhar duro hoje,
espero que você tenha vindo preparado.

Eu rio disso, minhas sobrancelhas levantadas. — Cara. Eu sou realmente


muito de um senhor de escravos?

Beau sorri. — Oh, nah. Só achei que você poderia querer misturar um
pouco as coisas. Eu tenho minha bolsa no meu carro, só por precaução.

— Sim, bem, você não vai precisar. Quero dizer, a menos que você tenha
um kit de primeiros socorros lá.

Sua testa franze quando ele olha para mim. — Kit de primeiros socorros?
Que porra é essa?

— Você vai precisar disso para cuidar das contusões de onde eu o chutar no
seu traseiro em Halo39.

Ele solta uma risada surpresa e sem filtro que envia um raio de calor
através de mim. Eu encontro meu olhar persistente em seus lábios.

Droga.
39 Halo é uma série de jogos de tiro em primeira pessoa de ficção científica militar. E não, infelizmente
ele não está referindo a música da Beyoncé.
— Cara, isso foi horrível.

— Sim, foi muito ruim — eu concordo com um sorriso.

Nós travamos uma guerra mal-humorada um com o outro até que a pizza
chegue aqui, e apesar desse pequeno lapso, eu me sinto muito bem com isso.
Estamos apenas saindo. Beau se tornou um amigo para mim, como Xavier é.
Não há necessidade de desperdiçar isso porque meu pau quer mais.

Ele pega seu telefone enquanto comemos e me mostra alguns memes de


futebol doidos, e parece que tudo vai ficar bem. Até o Halo vai bem. Eu
configuro no modo death-match40, então estamos enfrentando um ao outro e
apenas caçando constantemente um ao outro nos mapas.

Por cerca de uma hora, é apenas um concurso de medição de pau. Beau


tem habilidades de movimento muito melhores do que eu, então ele pode
pegar tiros na cabeça como se eles não fossem nada. Mas eu tenho melhor
consciência situacional, e há algumas vezes em que consigo usar o ambiente a
meu favor e destruí-lo totalmente.

Uma vez que a pizza se foi e nós abrimos uma segunda cerveja cada um,
decidimos parar de foder com o outro e levar o nosso show na estrada,
agrupando para alguns jogos contra outras pessoas. Não é uma grande
surpresa que façamos uma equipe incrível, com Beau atirando e eu
observando sua retaguarda, aliando alvos em sua linha de visão.

— Porra de bichas vagabundas — diz uma voz jovem soando sobre nossos
fones de ouvido.

40Deathmatch (também conhecido em português como "mata-mata") é um modo de jogo amplamente


usado e integrado em vários jogos eletrônicos da categoria de tiro e RTS. O objetivo de um jogo de
deathmatch é matar quantos jogadores possível até que uma certa condição ou limite é alcançado,
geralmente sendo um limite de mortes ou de tempo.
Esse é o perigo de jogar online. Oito anos de idade que pensam que são
merdas quentes.

— Nós não estávamos nem perto de você, cara. Acalme seus peitos —diz
Beau.

— Aposto que você nem sabe o que são — diz ele.

— O que, mamas? É aqui que eu deveria fazer uma piada sobre sua mãe?

Eu sufoco uma risada, tentando manter meu olho no jogo. Beau apenas
consegue outro tiro na cabeça desse garoto, e ouvimos palavrões altos e
incoerentes, como se ele estivesse com a boca bem no microfone.

— Volte a chupar um ao outro, bicha.

— Merda, é uma boa ideia. Espere, deixe-me pegar o pau do meu cara aqui
fora.

Não consigo controlar meu riso enquanto Beau tira o fone de ouvido e abre
a calça bem no microfone. Ele propositalmente se deixa morrer, depois coloca
o fone de ouvido de volta enquanto faz sons de sucção.

— Oh, baby, seu pau é tão grande. Eu não sei se posso aguentar tudo.

Lágrimas ardem nos meus olhos e meus lados doem. Meu personagem está
morto há muito tempo, e eu ainda estou sentado, prestes a ser desconectado
por estar inativo. Mas os sons sufocantes que Beau faz absolutamente me
matam.

O som do nosso novo amigo desconectando coloca o último prego no


caixão.
Estou tossindo quando ambos somos expulsos da partida. As lágrimas
estão escorrendo pelo meu rosto. Beau está rindo também, e ele dá um
tapinha nas minhas costas como se eu estivesse engasgando.

— Você está bem, cara?

— Sim — eu digo, sem fôlego. — Só não vi ninguém se empolgar tanto


antes.

— Se você não pode provocar as pessoas com sua sexualidade, o que você
pode fazer? — Ele pergunta, sorrindo. — Embora agora eu esteja com tesão pra
caralho.

Eu não sei se ele quis dizer isso. A julgar pelo olhar surpreso que ele me dá
quando encontro seu olhar, acho que ele não o fez. Eu rio nervosamente,
tentando fingir, mas meus olhos me traem. Eu olho para o colo dele, onde as
calças ainda estão abertas. Tudo o que posso ver são as suas cuecas. Ele não
está duro nem nada - não tem o pau dele fora.

Mas ainda assim, esse desejo me atinge com força. Droga, o que é sensato.
Eu o quero. E posso dizer que ele também me quer. Eu posso ver isso em seus
olhos enquanto ele lê o desejo no meu.

Eu arranco meu fone de ouvido, jogando-o no chão com o controle, me


aproximo no sofá para beijá-lo. Ele está lá para me encontrar, e nossas bocas
batem juntas, todo fogo, calor e necessidade. Ele geme contra mim, o som
acendendo algo em mim quando eu enfio minha língua em sua boca.

Antes que eu esteja realmente ciente de que isso está acontecendo, Beau
sobe em cima de mim, sentando no meu colo. Nós nos beijamos
freneticamente enquanto ele mói contra mim, meu pau começando a se esticar
contra as minhas calças.

Eu não posso pensar além da minha necessidade. Ele está conduzindo cada
ação que estou tomando enquanto minhas mãos se movem sobre suas costas,
para baixo, para sua bunda, ajudando-o a se mover contra mim. Eu inclino
meus quadris para cima, empurrando de volta contra ele, e quando nossas
coxas se encontram, eu posso facilmente imaginar-me transando com ele
enquanto ele salta no meu pau.

Porra, é uma imagem quente. O corpo nu de Beau brilhando de suor, os


músculos trabalhando para manter-se em movimento, a boca frouxa enquanto
cede.

O instinto puro me impulsiona quando nos beijamos, o encontro de lábios


e línguas não é praticado, encontrando um ritmo baseado apenas na
necessidade. Eu alcanço entre nós, deslizando minha palma por baixo da
camisa, sentindo seu abdômen saltar e flexionar sob meus dedos enquanto ele
estremece.

Há um ponto em que provavelmente poderíamos parar com isso e apenas


considerar isso... Eu não sei. Insanidade induzida por halo, eu acho. Eu cruzo
esse ponto enquanto aproveito sua calça aberta para acariciar a linha dura de
seu pau.

— Foda-se — ele respira contra a minha boca. — Não pare.

Ele se afasta de mim o suficiente para que eu possa ver o desespero em


seus olhos. Ele me deixaria transar com ele agora se eu quisesse, e uma grande
parte de mim quer.
Ele se desloca para me montar, não tão tímido em tirar as calças de seus
quadris, me dando melhor acesso. Eu o acaricio através de sua cueca, seu eixo
duro descansando contra seu corpo, a cabeça espreitando por cima de seu cós.

Ele devolve o favor, estendendo a mão entre as minhas pernas para me


tirar da minha calça. Eu gemo, minhas bolas já estão apertadas, e é preciso um
grande esforço para eu me segurar, para acalmar meu pau duro quando ele
desfaz minha calça e tira meu pau, apertando-o com sua grande mão calejada.

A luxúria me leva ao ponto de não me importar com qualquer coisa


enquanto eu capturo sua boca novamente. No início, nem sequer ouço o meu
telefone tocar. Quando finalmente ouço, apenas gemo, finalmente enfio a mão
por baixo do cós da cueca de Beau e aperto seu pênis.

Não é até que eu percebo que é um toque exclusivo que eu começo a ser
arrancado da minha névoa, e ainda me leva outro toque para descobrir que é o
tema dos Jaws.

Beau percebe e ele olha para mim, com os olhos meio fechados e vidrados
de desejo. Há um apelo nessas profundezas verdes, e é um que me desfaz.

Eu ignoro o telefone completamente, mesmo quando ele começa a tocar de


novo, e pego meus braços embaixo de Beau, levantando-o comigo. Eu o beijo
forte, revelando seu gemido gutural. Minhas calças estão quase caindo dos
meus quadris, mas eu não preciso de muita manobra. Não quando meu pau
está basicamente me dominando agora, fazendo-me ceder ao desejo que tenho
desde que conheci esse homem.

Eu passei tanto tempo reprimindo meu desejo por outros caras, e não
posso mais fazer isso. Não com este.
Com um grunhido de esforço, eu o jogo de volta no sofá. Ele olha para
mim, lábios entreabertos, acariciando seu próprio pau quando eu chuto
minhas calças e caio de joelhos. Eu não me importo em tirar as calças dele
antes de levá-lo à minha boca. Não há nada de sutil nisso. Eu não provoco a
cabeça com lambidas leves. Eu não toco meus lábios ao redor do seu eixo. Eu
apenas o levo tão fundo na minha boca quanto posso, então eu fecho meus
lábios ao redor dele e recuo.

— Poorra.

Seus dedos passam pelo meu cabelo, me segurando no lugar. Ele segue
minha liderança, levantando seus quadris para empurrar em minha boca. Eu
posso sentir seu pênis entrando e saindo, eu posso imaginá-lo fazendo a
mesma coisa que ele está fazendo quando ele bater dentro de mim e meus
músculos se contraem em antecipação. Eu amo isso. Parece o primeiro gosto
de alguma nova droga, e tudo que eu quero é mais. Mais disso. Mais dele.

Eu o puxo da minha boca, lambendo a parte de baixo do seu eixo, meus


olhos encontrando os dele. Minha mão substitui minha boca, trabalhando
sobre seu pênis salivante, e eu mergulho minha cabeça para provocar suas
bolas.

— Porra, Lance — ele geme, e eu posso sentir suas bolas apertarem na


minha boca.

Sabendo que ele está perto, eu levo seu pênis de novo, chupando com força
quando uma mão serpenteia até o meu próprio pênis, meus joelhos
amortecidos pelo tapete no chão de madeira. Quando ele finalmente me solta,
fico exatamente onde estou, minhas mãos nos quadris para evitar que ele se
afaste enquanto eu pego tudo o que ele tem para dar.
Embrulhado no momento, eu não estou realmente ciente do que estou
fazendo. Eu não me importo com a aparência ou o que as pessoas vão pensar.
Estou apenas conseguindo o que preciso e confiando em Beau o suficiente
para ser um parceiro nisso. Ele não me deixa para baixo, nem mesmo me
dando a chance de recuperar o fôlego antes de me puxar de volta, beijando-me
com força.

Não é muito antes de nossas posições serem invertidas, eu estando na


frente dele, mãos em seus ombros enquanto ele leva meu pau dolorido em sua
boca. Ele está fugindo do desejo, assim como eu. Suas ações não são
praticadas, mas ele compensa com seu vigor, seus lábios se movendo
rapidamente sobre meu pau, uma de suas mãos massageando minhas bolas.

Ele me leva lá dentro, apenas alguns minutos de seus lábios e língua


atentos, suas mãos na minha bunda, me puxando mais profundo enquanto eu
gozo em sua boca.

É o encontro sexual mais gostoso que tive. O que eu tenho sonhado sem
nem saber disso. E quando acaba, eu desmorono no sofá ao lado dele.

Beau é o primeiro a falar e eu posso ouvir o sorriso em sua voz. — Eu não


sei o que aconteceu, mas Jesus.

Eu solto uma risada ofegante, olhando para ele. Espero ver seus olhos
ainda cobertos de luxúria; para encontrar sua libido igual à minha, e que ele
estará pronto para mais em breve. Mas o que vejo é muito mais penetrante
que o desejo. Há emoção real em seus olhos. Um carinho que está fixado em
mim.

Faz meu coração apertar no meu peito e rouba a respiração dos meus
pulmões. Eu sou forçado a desviar o olhar, porque tenho medo do que meus
próprios olhos revelam. No segundo que faço, o humor está quebrado. Beau
olha para todos os lados, menos para mim, puxando as calças apressadamente
para cima.

Ele limpa a garganta e diz: — Parece que você recebeu uma mensagem de
voz.

Eu solto um suspiro trêmulo, em seguida, pego meu telefone, segurando-o


no meu ouvido depois de colocar minha senha de correio de voz. Observo
Beau se levantar, entrar na cozinha e tirar um pouco de água da torneira. Meu
coração ainda está acelerado e uma pontada de saudade passa por mim e eu
não tenho certeza se é apenas luxúria.

Então eu ouço a voz do meu agente.

— Acho que você deve estar no campo. Só queria lembrá-lo que o divórcio
está programado para ser finalizado na próxima semana. O advogado aceitou
seus termos e é bom que o juiz assine tudo. Seria melhor se você estivesse lá,
apenas pelas aparências. Kate reservou um voo para você. Ela pode fornecer
detalhes sobre o que você precisa dizer e fazer. Mande-me um texto quando
você receber isso.

Parece que um balde inteiro de água gelada acaba de passar pelas minhas
veias. Qualquer coisa que eu estava pensando anteriormente é completamente
sufocada pelo fato de que, em poucos dias, eu vou ter que ficar no mesmo
quarto que minha ex - uma mulher que eu achava que amava - e deixar todo
mundo saber que ela brincou comigo. Pior ainda, eu vou ter que deitar e rolar,
porque se eu não...

Eu olho para Beau, medo substitui a dormência. Se eu não for, e isso sair,
nós dois ficaremos arruinados.
Eu ainda posso provar ele em meus lábios, e eu não tenho certeza se vou
conseguir tirar os sons que ele fez da minha cabeça. Eu não quero.

O que eu quero tirar da minha cabeça é o jeito que ele olhou para mim. Eu
não sei o que deixei escapar depois que terminamos. Aparentemente eu me
transformo em um idiota maior depois que gozo, porque ele agiu como se eu
tivesse dito a ele que o amava entre gemidos carentes.

Talvez eu tenha dito, apenas não com palavras. Se eu fiz, é algo que eu
ainda não entendo. Eu gosto de Lance. Eu sou muito fodidamente apaixonado
por ele e manteria para mim mesmo se pudesse. Mas o amor é um grande
salto.

De qualquer forma, posso dizer que o assustei e mantenho distância


enquanto ele verifica o correio de voz. A mudança nele é instantânea. No
segundo em que ele pega o telefone, ele fica diferente. Desligado. Retraído em
si mesmo como se ele tivesse que usar algum tipo de armadura apenas para
passar por isso. Eu não sei o que a pessoa do outro lado da linha diz para ele,
mas seu rosto fica branco, perdendo o rubor que tinha desde o momento em
que comecei a tocá-lo. Eu prendo minha respiração enquanto ele abaixa o
telefone, circulo de volta para a sala de estar para encontrar seus olhos.

— Más notícias?
Ele solta um som irônico que não é bem uma risada. — Não realmente, eu
acho.

Eu lhe entrego o copo de água que enchi para ele e tento não me deixar
hipnotizar pela forma como os músculos em sua garganta funcionam
enquanto ele bebe. Ele se endireitou, eu noto, seu pau foi colocado dentro da
calça e fechada de volta.

Provavelmente é melhor. Se tivéssemos continuado, acho que eu teria


deixado ele me foder ali mesmo naquele sofá. Sem camisinha, sem
lubrificante, sem nada. Eu fiquei meio louco desde o momento em que sua
língua mergulhou na minha boca.

O engraçado é que eu não tenho certeza se vou me arrepender.

— Meu divórcio está sendo finalizado — diz ele, desligando a tela do


telefone e colocando-o no bolso.

Oh. Merda. Por um minuto eu esqueci. Sobre tudo. Não apenas o fato de
que ele ainda é casado - se separando -, mas também o fato de ser quem ele é.

— Eu sinto muito?

Ele me dá um sorriso triste. — Sim, é como eu me sinto também. Eu só... —


Ele passa a mão pelo cabelo grosso, e eu lembro como me senti quando ele me
chupou. — Sente-se como um fracasso.

Sua admissão é tranquila, e imediatamente rasga meus pensamentos longe


de Lance de joelhos. Eu olho para ele e pela primeira vez vejo a mistura
confusa de emoções em seus olhos. A dor é provavelmente a mais
proeminente.
— Você deu o seu melhor, certo? — Eu pergunto, me sentindo inútil.

Que diabos eu sei sobre manter um casamento junto? Eu nunca cheguei


perto, e minha mãe traiu meu pai porque ele é um idiota.

— Eu não sei — diz ele. — O melhor que pude com tudo mais acontecendo,
eu acho.

Hesitante, me sento ao lado dele no sofá, cuidando do espaço entre nós. Eu


quero me sentar ao lado dele; tocá-lo e confortá-lo de alguma forma. Mas eu
não sei se ainda estamos lá.

— Você a amava? — Pergunto, embora não tenha certeza se quero saber a


resposta.

Ele apenas encolhe os ombros. — Eu pensei que eu amava. Quer dizer, eu


não teria pedido para ela se casar comigo do contrário. Mas... Olhando para
trás, eu acho que eu estava mais apaixonada pela ideia de alguém realmente
me quer só... Por mim.

Meu coração dói ao ouvir isso, e uma confissão surge espontaneamente em


minha mente. Eu quero você por você.

— É uma coisa de merda ficar chateado — diz ele, desviando o olhar. — Não
é como se você vivesse a vida esperando que as pessoas tratassem você como
algo diferente de uma celebridade.

Eu olho para Lance, e sinto que estou vendo ele pela primeira vez.
Realmente vendo ele. Não os pequenos fragmentos da máscara que ele
mantém no lugar. Não minha própria percepção dele. Mas o homem que está
lá embaixo de tudo isso.
A verdade me bate tão certa quanto qualquer coisa que eu já conheci.

— Mas você fez.

Ele olha para mim, assustado. Mas lentamente suas feições relaxam e ele
solta um longo suspiro. — Sim.

O silêncio preenche a sala, o único som é o zumbido do ar-condicionado


quando liga. Quando Lance fala novamente, sua voz é baixa.

— Tudo que eu sempre quis foi jogar futebol. Minhas notas nunca foram
tão boas, eu não estava interessado em me juntar às forças armadas como meu
irmão, e eu realmente não conseguia me imaginar trabalhando no mundo
corporativo como meu pai. O futebol era praticamente tudo que eu tinha.

Eu conheço esse sentimento. Estendendo a mão, coloco uma mão


encorajadora no joelho de Lance e aperto um pouco.

— Não era que eu precisasse — diz ele, e eu posso ver a culpa em suas
características. — Meus pais estavam bem, para eu e meu irmão nunca faltou
nada. Mas eu ainda sentia que o futebol era algo que eu tinha que fazer. Eu
estava bem, mas meus treinadores nunca fizeram grande diferença sobre isso.
No que dizia respeito a eles, eu era um pedaço de um todo maior, e quando fui
recrutado, achei que seria mais do mesmo, só que em uma escala maior. — Seu
sorriso se torna amargo. — Isso foi antes de eu ter um exército de assistentes.

— Começou com meu agente. Meu pai o encontrou para mim, para ter
certeza de que conseguiria um bom contrato. Ele disse que a melhor maneira
de eu buscar o que eu valia era ter certeza de que as pessoas sabiam meu
nome, já que não era como se eu estivesse saindo de uma escola da SEC.
Usando o dinheiro do meu pai, ele contratou um especialista de imprensa, um
organizador de eventos e algumas outras pessoas encarregadas de agendar
meus dias. Naquele verão depois do colegial, minha família gastou as
economias me mandando por todo o país. Mas funcionou. A imprensa pegou,
e eles correram com o ângulo que meu agente queria vender.

Eu me lembro de quando Lance Harper chegou em cena. Ele saiu do nada


para, de repente, ser um dos jogadores mais cobiçados da história da NFL.
Todo mundo disse que ele tinha o tipo de talento que você não pode obter
treinando - que a idade dele era a prova disso. Lembro-me de seguir as
notícias daquele ano tão fodidamente excitado para ver quem o pegaria.

Eu nunca teria adivinhado que tinha sido alimentado com uma carga de
besteiras cuidadosamente preparada.

— Uma vez que fui recrutado, houve muito mais pressão. Eu tinha equipes
de câmera me seguindo no acampamento, na academia e em qualquer lugar
que eu pisasse fora do campo de treino. Foi como se todos tivessem me
apoiado e queriam garantir que o investimento deles valesse a pena. Eu nunca
conheci minha equipe como Lance. Eu sempre fui Lance Harper, o garoto
superstar com talento dado por Deus que sempre tinha uma câmera seguindo
cada movimento seu. Muita gente era legal comigo; deu-me coisas que eu não
merecia. Faziam tudo para ter certeza de que eu estava feliz, só porque eles
sabiam que poderiam pedir um favor mais tarde. Mas nada disso era por mim.

Meu coração dói por ele quando percebo o que ele está dizendo. Ele não
tinha amigos nem aliados de verdade. Eu estou supondo que Xavier é o único.
Sendo tão jovem e sendo jogado para os lobos... Eu não posso imaginar isso.

— Jen era uma dessas pessoas — diz ele, e eu posso ouvir a amargura em
sua voz. — Ela descobriu o que eu precisava. Jogou muito bem o ângulo da
menina da cidade pequena. Fez-me sentir como se ela realmente me
enxergasse. Uma vez que o acordo pré-nupcial foi assinado, ela era apenas
uma pessoa completamente diferente.

Minha mandíbula aperta. Eu nem conheço essa mulher, mas eu já a odeio


pelo que ela fez com Lance.

— Não foi de todo ruim. Mas foi o mesmo com ela e com a imprensa.
Quando eu estava no centro das atenções, acumulando touchdowns, ganhando
jogos, ela era a garota por quem eu me apaixonei. Quando estávamos
perdendo, quando eu não estava recebendo muita atenção, ela era
fodidamente viciosa.

— É por isso que você acabou pedindo o divórcio?

Ele ri disso, um som sombrio. — Eu provavelmente teria ficado casado,


idiota que sou. Mas quando eu disse a ela que estava pensando em deixar a
NFL, ela me disse que sairia se eu fizesse isso. Eu tentei resolver isso com ela,
mas ela voltou pedindo mais do que combinamos no acordo pré-nupcial.

— Que porra é essa?

— Eu fiquei chateado, finalmente comecei a me levantar. Então ela...


Começou a chantagem. — Ele solta um suspiro e eu posso ver o tumulto em
seu rosto. — Eu estupidamente disse a ela quando estávamos noivos que eu
era bissexual. Eu queria que ela soubesse, no caso... Eu não sei. Eu acho que
senti que devia isso a ela.

Eu não posso ajudar a raiva que surge em mim, desta vez direcionada para
Lance. Ou eu adivinho mais especificamente quem disse Lance tal besteira e o
fez acreditar nisto.
— Ela parecia totalmente legal com isso. Disse que achava quente, e talvez
pudéssemos convidar um cara algum dia. — Reviro os olhos para isso. — Mas
foi à primeira coisa que ela tirou para usar contra mim.

— Jesus — eu digo com os dentes cerrados. — O que, ela só ia dizer à


imprensa que você gosta de pau?

É difícil para eu entender. Meu pai me deu merda sobre minha


sexualidade, mas ninguém na Eastshore fez isso. Eu sei que não há muitos
jogadores de futebol abertamente gays na NFL, no entanto, e aqueles que são
abertos sobre isso correm o risco de ser expulso de suas equipes por motivos
de merda.

— Bem, não apenas isso. Ela ia girar toda essa história sobre como ela me
pegou na cama com um dos meus companheiros de equipe. Isso nunca
aconteceu, mas ainda teria fodido sobre nós dois.

Eu realmente espero nunca conhecer essa mulher. Ela parece o pior.

— Merda é, mesmo com tudo isso, eu ainda sinto que eu deveria ter
tentado mais fazer funcionar.

— Foda-se isso — eu digo por impulso. — E foda-se ela. Ela manipulou


você, Lance. Ela queria seu dinheiro e seu status e uma vez que você disse a ela
que estava desistindo, ela o traiu. Cara, você deveria estar dançando nu nos
degraus do tribunal quando essa merda acabar.

Ele ri disso, um pouco da tensão diminuindo de seu rosto. Não posso


deixar de sentir que fiz um bom trabalho quando vejo isso.
— Sim. Você está certo. — Ele geme, passando a mão pelo rosto. — Deus.
Fale sobre problemas do primeiro mundo. Celebridade reclama de sua vida
horrível, noticiário das 11h.

— Hey — eu digo, estendendo a mão para colocar em seu ombro. Ele se vira
para olhar para mim e eu posso ver como ele está vulnerável. — Eu não dou a
mínima quanto dinheiro você fez. O que você passou? É lixo. Você tem todo o
direito de se sentir assim.

Ele solta um suspiro, e eu sei que ninguém nunca disse a ele que está tudo
bem em ficar com raiva da mão da vida que ele recebeu. Só porque ele tem um
par de ases não significa que ele ainda não tenha um punhado de merda fora
deles.

— O que você tem que fazer para finalizar o divórcio? — Pergunto.

— Meus assistentes querem que eu apareça na audiência em Jacksonville.


É a próxima terça-feira.

Eu estremeço. —Você quer alguma companhia? Quer dizer, provavelmente


vai parecer estranho se eu for com você, mas eu posso... ficar em um hotel ou
algo assim.

Ele sorri para mim, colocando a mão por cima da minha. Calor se espalha
através de mim ao seu toque. — Obrigado, mas você tem sua própria merda
para se preocupar aqui. É só um dia. Eu dou conta disso.

— Bem, se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

Lance acena com a cabeça e depois desvia o olhar. Eu observo o pomo de


Adão dele enquanto ele engole. — Eu me sinto como um babaca por dizer isso,
mas... Nós provavelmente devemos esfriar as coisas até depois da audiência.
Apesar das minhas melhores tentativas de encobrir, me vejo sorrindo. —
Eu posso esperar. Não é como se eu estivesse recebendo alguma coisa regular
de qualquer maneira. O que é mais alguns dias?

Ele ri de novo e o alívio inunda meu corpo, junto com uma alegria
vertiginosa que parece estúpida à luz do que ele me disse. Mas eu percebo que
isso é uma coisa de uma vez. Algo que ele talvez finja que nunca aconteceu. O
fato de que ele quer que as coisas se acalmem um pouco significa que ele
também quer que elas continuem. E por isso, posso definitivamente esperar.
A audiência no tribunal é que eu esperava.

Dentro da pequena sala de conferências, o tom é moderado. Os advogados,


já tendo chegado a um acordo, apenas o apresentam ao juiz sem comentários
adicionais. Eu não olho para Jen e ela não olha para mim quando nosso
divórcio é aprovado nos termos estabelecidos - principalmente por ela.

Com tudo assinado, ela receberá mais de 65% do meu patrimônio líquido.
A casa em Jacksonville, toda a mobília, o Cadillac que deixei lá e metade do
que está na minha carteira de investimentos, junto com pensão mensal para
que ela possa manter tudo. Eu não tenho em mim para ficar com raiva. Eu
estou me preparando para o que eu sei que está chegando, e
surpreendentemente, Jen não é o pior que eu vou ter que suportar hoje.

Assim que saio da sala de conferências, começa.

Câmeras piscam, microfones são enfiados na minha cara, e há pelo menos


meia dúzia de repórteres esperando para me perguntar sobre meus fracassos.
Kate me deu um roteiro para isso, e eu não me desvio disso. Eu não tenho
energia para isso.

Eles perguntam como estou me sentindo, e eu digo a eles — Estou um


pouco triste, é claro. Quem não estaria. Mas ansioso para começar o novo
capítulo da minha vida. — Eles perguntam se foi realmente uma separação
amigável e eu lhes digo. — Sim. Como eu disse antes, estamos apenas em
lugares diferentes em nossas vidas. Eu desejo-lhe bem.
Não demora muito para começarem a jogar mais forte. Eles perguntam
sobre os rumores de um caso - do lado de Jen, ao invés do meu - e eu sou
rápido em negar essa ideia para que ela não retalie. Eles perguntam como me
sinto sobre o acordo, e o fato de que Jen está ganhando mais do que ela
concordou, e eu sabiamente mantenho meus pensamentos verdadeiros para
mim mesmo.

Eles até começam a me pressionar sobre a Eastshore, e eu respondo a essas


perguntas da mesma forma que tenho todas as outras, mudando o foco do
meu impacto na equipe para o trabalho dos jogadores.

Há uma que me assusta, no entanto. Um homem chamado Michael


Sommers de uma revista on-line que eu nunca ouvi falar. Ele é respeitoso o
suficiente, me dando espaço enquanto eu tento deixar o tribunal. Sua pergunta
rouba qualquer boa vontade que eu possa ter sentido em relação a ele.

— Eu ouvi que você passa algum tempo extra com Beau Woodridge. Você
pode me dizer um pouco sobre isso?

O sangue congela em minhas veias e, apesar dos meus melhores esforços,


eu sei que minha surpresa aparece na minha cara. Como eles descobriram
meu acordo com Beau, e o que eles estão tirando disso? Eu não posso permitir
a especulação. Eu não posso permitir que eles descubram sobre nós. Ainda
não. Não quando Jen ainda podia se virar e me ferrar ainda mais.

— Woodridge tem uma carreira promissora pela frente. Eu suponho que eu


estimulei um pouco, mas não mais do que qualquer outro jogador no time.

Sentindo minha aflição, meu advogado me afasta do tribunal, longe da


imprensa. Ele até anda comigo até o meu caminhão, onde eles continuam a
seguir. Não é até eu sair do estacionamento que eles desistem.
Ao longe, posso vê-los rodeando outra pessoa. Jen Ela está nos degraus do
tribunal, conversando com uma câmera. Boa. Deixe-os atormentá-la por um
tempo. Eu fiz a minha parte.

Eu saio do centro da cidade, fazendo um desvio para abastecer meu


caminhão quando tenho certeza de que ninguém está seguindo. Colocando
meu caminhão sob a sombra de um enorme carvalho, eu chamo meu agente e
o deixo saber que tudo correu bem.

Ele não me oferece quaisquer condolências ou palavras de encorajamento.


Ele não brinca comigo. Ele nem parece reconhecer que isso pode ter sido
difícil para mim.

E quando ele desliga, sinto-me ainda mais frio do que antes. Tanto é assim
que a única coisa que eu quero no mundo é um pouco de calor. Um sorriso
sincero. Um toque carinhoso. Alguém que sabe o quanto isso é difícil para
mim, e sabe, que apesar do que eu disse à imprensa, não estou bem.

Parece errado se apoiar em alguém desse jeito, mas eu pego meu telefone
da mesma forma, sabendo que ele vai entender.

— Ei, como foi? — Pergunta ele em tom de saudação.

— Acabou. — Eu não gosto de como soa mal, e eu tento corrigi-lo. — Estou


a caminho de casa. Você acha que pode me encontrar na casa daqui à uma
hora?

— Eu estarei lá.

Essas são provavelmente as palavras mais reconfortantes que já ouvi, e


desta vez, quando volto para Eastshore, meu fardo parece mais leve. Mesmo
que seja apenas por hoje, posso deixar tudo isso - toda a vida fodida de Lance
Harper - para trás em Jacksonville.

Eu chego em Eastshore um pouco mais cedo do que eu pensava, e estou


aliviado de ver o carro de Beau na entrada da garagem. No fundo da minha
mente, eu sei que provavelmente deveria leva-lo para a garagem, apenas no
caso, mas eu não posso me incomodar com isso, sabendo que isso levará
minutos preciosos para longe de nós.

Quando ele sai do seu carro, me cumprimentando com um sorriso, é


preciso tudo em mim para não apenas agarrá-lo e beijá-lo no meio da entrada
da garagem. Eu me atrapalho com minhas chaves, lutando contra mim
mesmo, e empurro minha cabeça em direção à porta, chamando-o para ir
comigo.

Ele não precisa ser informado duas vezes.

E, para meu alívio, ele não me faz mais perguntas sobre como foi. Ele não
diz uma palavra, e eu ainda posso ouvi-lo alto e claro. Eu não preciso me
preocupar em sentir que estou usando ele, aparentemente. Ele veio aqui
esperando isso, e está me oferecendo isso livremente.
O mínimo que posso fazer é oferecer-lhe alguma comida ou bebida, mas eu
não faço. Quando entramos no foyer, eu posso ver em seus olhos que ele não
precisa disso. Não quer isso. Existe um acordo tácito entre nós: finalmente
estou livre e a única coisa que preciso fazer é exatamente o que eu quero.

Minhas mãos se movem para os lados do seu rosto e eu o beijo faminto,


usando meu corpo para prendê-lo contra a porta agora fechada. Ele responde
ansiosamente, e com o mesmo tipo de fome faminta que está me guiando, sua
língua está encontrando a minha, suas mãos arrancando minha camisa da
minha calça com cinto.

Um som baixo ressoa na minha garganta, quase como um grunhido de


protesto quando ele recua. Mas é só para levantar minha camisa, os botões se
soltando, voando pelo corredor estreito. Ele prende seus dedos no meu cinto e
o usa para me puxar de volta para ele, e nossos corpos colidem com a mesma
certeza que nossas bocas.

Eu não sei quem remove o que, só que é frenético, os dedos segurando os


botões e tecido, as palmas das mãos se movendo sobre a pele recém-
descoberta. Sua língua desliza sobre o meu mamilo endurecido enquanto eu
saio da minha calça social, chutando meus sapatos no processo. Eu raspo
meus dentes ao longo do cordão de músculos em seu pescoço enquanto ele se
livra de suas calças, gemendo meu nome o tempo todo.

Eu não acho que eu teria qualquer problema em levá-lo aqui mesmo,


contra a porta da frente. A julgar pela maneira como suas cuecas estão, eu
também não acho que ele faria. Mas eu mantenho o preservativo e lubrificante
no meu quarto, e uma vez que estivermos nus, eu não quero ter que parar.
Eu o levo até lá, nós dois nos distraindo ao longo do caminho. Ele me
empurra contra a parede, um quadro de imagem chocalhando atrás de mim.
Eu suspiro quando ele cai de joelhos, me dando sua boca através da minha
boxer, em seguida, me puxando para fora e me levando profundo.

Eu o puxo para seus pés, beijando-o com força, e pego uma mão cheia de
sua bunda, dando-lhe um pouco de incentivo para levá-lo a se mover para o
quarto. É onde tiramos as últimas roupas e eu o jogo de volta na cama,
abrindo a gaveta da mesinha de cabeceira para pegar o que eu preciso
enquanto ele me observa, pura necessidade em seus olhos, sua mão
acariciando seu pau.

Eu o quero dentro de mim, eu percebo. Tanto quanto eu quero estar dentro


dele. Nós não falamos sobre isso, mas eu realmente espero que ele seja
flexível. A julgar pela fome em seus olhos, acho que ele estaria pronto para
qualquer coisa.

Rolando o preservativo para baixo, eu escorrego meu eixo com lubrificante,


em seguida, entrego-lhe a garrafa, observando como ele usa dois dedos para se
preparar.

— Diga-me se é demais — eu digo em um súbito lapso de consciência.

Seus olhos brilham em resposta. — Apenas foda-me, Lance.

Eu subo na cama, levantando suas pernas contra o peito enquanto me


posiciono. Eu espero ter que ir devagar. Para empurrar nele uma polegada,
então esperar, empurrar mais adiante, então esperar. E tem um pouco disso.
Eu afundo dois centímetros nele sem resistência, e seu gemido quase me faz
perder. Eu deixo ele se ajustar, mas uma vez que ele relaxa, é fácil para mim
deslizar o resto do caminho até que minha pele esteja rente à dele.
Ele está apertado em volta de mim, abraçando meu pau da maneira mais
terrivelmente perfeita. É preciso toda a minha força de vontade para não ceder
e invoco minhas forças, recuando para empurrar.

Beau geme para mim, um som necessitado, sua boca aberta, sobrancelhas
desenhadas em uma expressão que está quase implorando quando ele olha
para mim. Eu trabalho em um ritmo, empurrando nele, penso que estou muito
ansioso. Mas ele apenas me implora para ir mais rápido. Impulsionado por
seus apelos, eu bombeio nele, suor em minha pele, picando em meus olhos.
Mantenho o olhar fixo em Beau enquanto ele se agarra a tempo com meus
impulsos, e o que vejo ali é o que acaba me desfazendo.

Eu estou fodendo ele como se eu precisasse para viver, e ele não está
apenas pegando isso - ele está se divertindo com isso. A conexão entre nós é
mais profunda que a carnal, e eu sinto meu coração apertar no meu peito
enquanto empurro meu corpo até seus limites.

Eu não sei quando isso aconteceu, e eu nem sei como me sinto sobre isso.
Tudo o que sei é que, em algum momento, comecei a me apaixonar por Beau,
e o que está acontecendo entre nós agora é a culminação das semanas e meses
que passamos juntos, tão inevitáveis quanto qualquer outra coisa na vida.

Esse é o pensamento que preenche minha mente quando eu enfio nele uma
última vez. Esse é o pensamento que aquece meu corpo, me deixa sem fôlego
enquanto ele grita comigo ainda dentro dele.

E esse é o pensamento que parece infiltrar-se em cada essência do meu ser


quando me inclino para beijá-lo, meu coração batendo no meu peito.
Eu preciso disso. Eu preciso de alguém que conhece o meu verdadeiro eu.
Alguém que quer o meu verdadeiro eu. E agora que eu tenho, não tenho
certeza se posso desistir.

Quando finalmente me retiro, a sensação de perda é aguda; imediata. Eu


cuido do preservativo, depois caio na cama ao lado dele, ofegante, meu corpo
liso de suor.

— Deveríamos ter feito isso semanas atrás. Nós podemos fazer disso uma
parte regular do nosso treino agora — Beau diz com um sorriso delirante.

Eu rio, e assim que recupero o fôlego o suficiente para fazê-lo, levanto-me


sobre ele e o beijo. — Espero que você ainda esteja no clima, porque ainda não
terminei com você.

Eu nunca tive dúvidas sobre a ética de trabalho de Beau e ele se mostra tão
confiável aqui. Eu o ajudo, claro, passando minhas mãos pelo corpo dele,
explorando cada centímetro dele. Eu traço o cabelo macio em seu peito,
seguindo um caminho para baixo em seu abdômen. Eu ignoro o seu pau,
dando-lhe a chance de se recuperar, e em vez disso raspo minhas unhas
afiadas sobre suas coxas.

— Já foi topo antes? — Eu finalmente pergunto, olhando em seus olhos.

Eu vejo um choque de calor lá, e meus músculos se apertam


involuntariamente, meu corpo já está reagindo à resposta que eu posso
imaginar que está chegando.

— Não tanto quanto eu gostaria — ele admite, lambendo os lábios.

Beau toma as rédeas uma vez que ele sabe o que eu quero, nos mudando,
então ele está em cima de mim, me beijando, me tocando. Ele leva muito
tempo para explorar meu corpo da mesma maneira que eu explorei o dele, e
quando meu pau começa a endurecer em resposta, ele muda sua atenção para
lá. Eu estendo a mão para ele, fechando a mão em torno de seu eixo,
acariciando no tempo com ele. Com um pouco de encorajamento, faço-o
inclinar-se para que eu possa acariciar a nós dois, nossos pênis deslizando um
contra o outro.

Não demoro muito para chegar ao ponto em que eu preciso


desesperadamente dele dentro de mim, e uma emoção me domina quando o
vejo ir para a mesma gaveta na qual cheguei antes. Eu prendo a respiração e
vejo quando ele enrola um preservativo sobre o seu pênis, e meu coração está
batendo forte quando ele se ajoelha na cama, posicionando-se.

Já faz muito tempo desde que alguém fez isso por mim e quando ele entra
em mim, sinto meu corpo resistir. Eu solto um longo suspiro, tento relaxar e
sorrio para ele em encorajamento. Demora um pouco de tempo e paciência,
mas eventualmente ele é capaz de empurrar todo o caminho dentro de mim, e
essa sensação de plenitude que eu tenho quase me faz gozar imediatamente.

Ele se move dentro de mim, lentamente no início, construindo um ritmo


constante. Meus lábios se separam quando olho para ele, e ele se inclina sobre
mim, capturando minha boca com a dele. É a experiência mais íntima que eu
já tive, com ele dentro de mim, quadris bombeando enquanto nos beijamos.
Ele nem precisa tocar meu pau. A proximidade, a sensação compartilhada é
suficiente, e eu venho com um estremecimento, respirando contra seus lábios.
Eu sinto ele se juntar a mim logo depois, soltando o corpo dele, e eu o
mantenho lá, beijando-o o tempo todo, sentindo a vibração de seus gemidos.

Por um longo tempo, parece que o resto do mundo não pode nos tocar. Ele
está enrolado em meus braços tentando recuperar o fôlego, e eu sei que não há
como parar a onda de emoção que me atinge. Beau me vê - o meu verdadeiro
eu. E ele me quer do mesmo jeito. Não há como eu dizer a ele o que isso
significa para mim, e eu nem sequer tento. Eu não quero estragar este
momento perfeito.

Eu sei que o amanhã trará o mundo real de volta ao foco, mas por
enquanto eu só quero gostar de ser eu mesmo com um homem que eu acho
que estou começando a me apaixonar.
Nem Lance ou eu parecemos capazes de fazer qualquer coisa em meias
medidas.

Tanto quanto eu brinco sobre isso, estar juntos, foder no quarto tornou-se
tanto uma parte dos nossos treinos como o treinamento de circuito ou treinos.
Eu tinha sido topo uma vez antes de conhecê-lo, mas agora não posso
imaginar voltar ao fundo. Não é nem mesmo sobre a posição ou algum poder
ou o que quer que seja que as pessoas tentem dizer a si mesmas.

É apenas o fato que me permite chegar muito mais perto de Lance, dando e
tomando em igual medida. Nós esgotamos um ao outro o tempo todo,
geralmente dando várias rodadas, limitados apenas pelo tempo que nossos
corpos levam para se recuperar.

Como tudo com Lance, é explosivo, vem rápido, mas com um poder que é
quase esmagador, obrigando-me a me render.

Não é só foder também. Somos ótimos juntos na cama, mas depois que
estamos exaustos, nos abraçamos e conversamos. Eu conto mais sobre minha
família. Sobre como minha mãe era antes das coisas começarem a dar merda,
e o que aconteceu quando elas começaram.

Ele fala mais sobre sua própria família, e eu o provoco sobre a vida de
classe média branca que ele viveu, além de alguns ataques de angústia
adolescente. Ele sabe que eu não quero dizer isso. Lance tem lidado com
muitas lutas, é só que a maioria delas veio depois que ele entrou na NFL.

Mesmo com uma educação bastante normal, ele não tem o relacionamento
ideal com sua família. Ele vê seus pais algumas vezes por ano quando ele vai
para Nápoles. E seu irmão... Bem, seu irmão é outra lata de vermes.

— Nós éramos inseparáveis enquanto crescíamos — ele me conta uma noite


enquanto estamos deitados juntos em sua cama. — Justin é um par de anos
mais velho que eu, mas às vezes quase parecia que éramos gêmeos.

Eu o ouço falar, aproveitando a vibração que ressoa através da palma da


minha mão em seu peito.

— Ele jogou bola no colegial, mas nunca recebeu o reconhecimento que eu


fiz. Nunca pareceu ciumento, no entanto. Ele sempre estava feliz por mim.
Quando comecei a receber atenção da NFL, ele me disse que estava orgulhoso
de tudo que eu fiz. Meus pais sempre acharam que caiu no meu colo, mas
Justin viu o quanto trabalhei para isso.

Eu sorrio para isso, traçando círculos sobre seu peito. — Parece um bom
cara.

— Ele era. É — Lance diz, depois de um momento de hesitação. — Mas...


Eu não fui tão bom para ele.

Eu posso sentir a tensão em seu corpo e eu olho para ele. Há dor em seus
olhos, mais profunda até do que a dor que eu vi quando ele me contou sobre
sua ex. Eu quero saber, mas eu tenho sido tão ganancioso com o tempo de
Lance e qualquer outra coisa que ele esteja disposto a me dar ultimamente. Eu
fico quieto, esperando que ele compartilhe por conta própria.
— Ele foi para o exército logo após o ensino médio. Ele sempre quis servir,
então não foi uma surpresa para ninguém. O que eu não sabia é que ele nunca
esperou ser implantado.

Suas feições se franzem e ele olha para a parede, sua mão acaricia meu
ombro antes de continuar.

— Ele tentou falar comigo sobre isso, mas foi quando eu comecei a receber
atenção dos olheiros. Eu tive que cortar a maioria das nossas ligações, e o
tempo todo, ele continuou me apoiando. Sempre que eu estava estressado ou
incerto ou qualquer outra coisa, ele me dizia que eu passaria por isso.

Eu sinto seu peito subir e descer enquanto ele suspira antes de continuar.
— Eu fui à última pessoa da família a descobrir que ele estava sendo
implantado. Foi no meio de todas as turnês de imprensa que meu agente me
colocou, e ele me disse para me concentrar nisso. A única coisa que ele queria
era para ficarmos juntos antes de ele partir. Mas eu deveria estar em Nova
York naquele fim de semana. Eu percebi que poderia alcançá-lo mais tarde, e
ele me disse para ir e se divertir. Então eu fiz.

Meu coração pula na minha garganta e eu posso sentir isso apenas se


afastando. Esta não é uma história que tenha um final feliz. Eu já posso sentir
isso.

— Descobri mais tarde que ele ligou para mamãe na noite anterior ao
embarque. Ele estava chorando. Apenas completamente aterrorizado. Falei
com ele talvez três vezes no ano que ele passou no exterior. Chamadas do
Skype pela internet são bem curtas na merda da base. Ele nunca demonstrou o
quão assustado ele estava.
— Um dia depois do treino, recebo este texto da minha mãe dizendo que
Justin está vindo para casa. Que ele recebeu alta médica, mas não era grande
coisa.

Do jeito que ele diz isso, eu posso adivinhar que foi.

— Acontece que ele estava tendo ataques de pânico, mas porque ele era
mantido na base e principalmente os tinha à noite, ele era capaz de esconder
isso de todo mundo. Até ele sair em patrulha. Ele simplesmente quebrou
completamente. Sua unidade teve que levá-lo de volta à base. Eles o
mandaram para casa depois disso, e mamãe acabou me contando sobre isso
um mês depois que aconteceu.

— Eu tentei ligar para ele, mas tudo foi para o correio de voz. Textos foram
ignorados. Eu tentei o telefone fixo da mamãe quando ele estava morando lá, e
ela sempre me disse que ele não estava se sentindo bem. Eventualmente eu
apenas… Parei de tentar. Eu pensei que talvez ele me contatasse quando ele
estivesse se sentindo bem, mas já faz cinco anos. E agora toda vez que penso
em ligar para ele...

Eu prendo a respiração, esperando pelo terrível fim dessa história. Mas


isso nunca vem. Lance apenas deixa suas palavras sumirem e eu olho para ele,
me sentindo um pouco incrédulo.

—... Mas ele está vivo?

Lance olha para mim, piscando. — Sim. Última vez que ouvi, ele conseguiu
um apartamento fora da cidade. Ele vai ao VA41 para terapia de grupo.

41 Associação de Veteranos.
— Jesus, eu pensei que você ia me dizer... Eu não sei. — Eu sei, mas eu não
quero dizer isso. — Lance… Olha, eu sei que você acha que ele não quer ver
você, mas isso é besteira. Mesmo que ele estivesse bravo com você por fazer o
que ele mandou, de jeito nenhum ele não quer você em sua vida. Ele
provavelmente só... Eu não sei. Parece que ele falhou com você ou algo assim.

— Talvez — diz Lance, olhando para longe de mim.

Eu descanso minha mão ao longo de sua mandíbula, virando-o de volta


para me encarar. — Eu sei que não é meu lugar dizer qualquer coisa, mas...
Você deveria vê-lo. Quero dizer, seus pais parecem muito fora de sintonia com
tudo, então eles não vão ajudar em nada. E posso dizer que sente falta do seu
irmão.

— Eu nem sei como eu faria isso.

Eu chego em cima dele, pegando seu telefone de onde ele está na mesa de
cabeceira. Com ele assistindo, eu percorro seus contatos até encontrar o nome
de seu irmão.

— O chame. Defina algo. Ou inferno, é só pegar o endereço com sua mãe e


passar por lá. Tenho certeza de que ele ficará feliz em ver você.

Eu entrego o telefone e sorrio quando ele começa a digitar um texto.


É uma boa ideia Lance não aceitar meu conselho para apenas aparecer na
porta de Justin.

Em vez disso, eles agendam um horário que funciona para os dois. E para
mim, uma vez que, para minha surpresa, Lance me pede para ir até lá com ele.
Não posso deixar de pensar que vou me encontrar com seu irmão não como
Beau Woodridge, um jogador e um amigo, mas como namorado de Lance.

O passeio todo para lá, estou nervoso como o inferno. Tanto que eu nem
tento fazer uma refeição por causa do meu estômago. Eu já estou me
perguntando se concordar em encontrar Justin para o almoço é uma ótima
ideia. Não deixaria exatamente uma primeira impressão incrível vomitar nos
sapatos dele.

Eu não sei por que estou tão nervoso. Nunca aconteceu antes. Mas quando
penso em meus relacionamentos passados, nenhum deles chega nem perto do
que quer que seja com Lance. Se eu já não me apaixonei completamente por
ele, estou no caminho certo, e acho que só quero causar uma boa impressão na
pessoa que mais significa para ele no mundo.

Eu posso dizer que Lance está nervoso também, então eu empurro meus
próprios nervos, quase desejando estar indo a um bar em vez de um
restaurante. Pelo menos assim eu seria capaz de lidar um pouco melhor.

Quando chegamos lá, dou um aperto no joelho de Lance, mostrando-lhe o


que espero ser um sorriso tranquilizador. — Vamos lá, cara. É só seu irmão. Se
você pode encarar um estádio cheio de fãs malucos, você pode enfrentar esse
cara.
Ele ri disso e a tensão nos ombros diminui. Mas apenas por um momento.
Quando ele olha para mim, sua expressão fica dolorida novamente. Algo entra
em seus olhos que eu realmente não consigo ler. Culpa, talvez?

— Ei, então... Justin não sabe que eu sou bi. Eu realmente descobri isso
depois que ele já tinha ido para o exército.

Eu não acho que o peso total dessas palavras realmente me atinge no


começo. Eu sou como um cão distraído sentado ali, abanando o rabo, sem
perceber que a van em que estou está indo direto para o canil.

Lance precisa soletrar antes de me atingir.

— Eu prefiro não contar a ele sobre nós. Ainda não. É... muito para
processar tudo de uma vez, sabe?

Eu posso sentir a respiração deixar meus pulmões, e sei que a dor que sinto
está escrita em todo o meu rosto, porque ele imediatamente começa a recuar.

— Eu quero que ele saiba. Eu quero que ele seja o primeiro a saber. Mas eu
só... Eu preciso lidar com uma coisa de cada vez. Eu não o vejo há anos, Beau.
Eu não posso simplesmente lançar isso nele.

Ele está pedindo permissão, percebo. Praticamente implorando por isso. E


eu, sendo o idiota que sou... Eu dou a ele.

— Não, eu entendo. Eu provavelmente faria a mesma coisa. Não se


preocupe com isso.

Aquelas palavras praticamente selam o resto daquela visita para mim. Sou
apresentado como amigo de Lance e mal consigo ouvir. Eu sorrio e faço uma
conversa educada e toda a merda que eu deveria fazer, mas eu sou apático de
qualquer forma. Minha única salvação é ver a seleção de cervejas que está
disponível, apesar de ser no meio do dia.

Eu bebo, e enquanto isso não adormece a dor, pelo menos faz com que seja
um pouco mais tolerável. Suficiente para que eu possa manter o ato. O mesmo
que eu uso toda vez que vou a uma festa ou tento sair com pessoas que
realmente não me conhecem. É algo que eu nunca pensei que teria que usar
com Lance, mas ei, aqui estamos nós.

Seu irmão é um cara legal. Ele basicamente diz a Lance que ele é cheio de
merda e que ele não tinha motivos para ficar longe. Eu tenho um
pressentimento de que, se eu dissesse a ele sobre nós - se eu simplesmente
dissesse - ele seria totalmente legal. Mas não é meu lugar, e esperar que Lance
faça isso é um jogo idiota.

Não deveria me incomodar. Eu confio em Lance. Eu sei que ele não iria
apenas me esconder como se ele estivesse com vergonha de mim. Mas
enquanto os dois irmãos conversam - e eu trabalho na minha segunda cerveja,
com apenas uma salada no estômago -, começo a imaginar se alguém algum
dia saberá de mim.

Lance disse isso um milhão de vezes antes, e eu vi a prova disso: a


imprensa segue cada movimento dele. Eu não ficaria surpreso em ver alguém
acampando do lado de fora do restaurante com uma câmera, registrando toda
essa troca sincera. E enquanto Lance pode ser divorciado agora, ele ainda é
um candidato para voltar ao campeonato. A última coisa que ele
provavelmente quer é que seus futuros companheiros de equipe saibam que
ele está em caras.
Esses são os pensamentos que rasgam minha mente durante o almoço. Eu
me sinto um pouco egoísta, mas não consigo me concentrar em ser feliz por
Lance. Tudo o que posso pensar é que, mesmo que o que ele e eu tenhamos
seja real, Lance Harper não pode se dar ao luxo de ser real.

E, por mais horrível que seja, o álcool correndo por mim é a única coisa
que me impede de dizer essas coisas. É a única coisa que me mantém
apoiando Lance, sendo externamente feliz por ele enquanto interiormente
estou me preparando para que isso termine antes mesmo de ter começado.

É o que me faz passar por aquela longa viagem de volta a Eastshore, e para
onde eu escapo quando voltamos para o seu lugar e ele me agradece - em
palavras e ações - por apoiá-lo hoje.

Quando o zumbido desaparece, tanto dele quanto da cerveja, digo a mim


mesmo que estou sendo egoísta. Trazer isso só vai fazer Lance se sentir mal, e
com tudo o que ele fez por mim, eu devo isso a ele, pelo menos. Eu digo a mim
mesmo que só preciso confiar nele - que ele vai passar a dizer às pessoas em
seu próprio tempo.

Eu digo a mim mesmo isso, mas vai ter que ser muito mais convincente
para o meu coração acreditar nisso.
Eu me sinto muito bem em me convencer de que nada está errado. Eu sou
praticamente um especialista em abraçar os bons e apenas ignorar os maus.
Eu não teria conseguido morar com meu pai se não fosse esse o caso. E eu não
teria conseguido voltar a uma rotina normal com o Lance.

Eu vou para a aula e a prática, e eu apareço cedo para todos os meus


treinamentos particulares com o Lance naquela semana. Uma coisa que
aprendi é que, se você parar de fazer algo só porque está se sentindo uma
merda - mesmo que seja só por um dia - as pessoas não deixarão você em paz
sobre isso. Então eu vou e ajo como se nada estivesse errado e, eventualmente,
parece que nada está.

É um truque muito útil, e me fez passar a maior parte da minha vida desde
que minha mãe foi embora. Eu acho que é apenas a evolução de "fingir até
você conseguir", e eu sou muito, muito bom nisso. Tanto é assim que depois
de uma semana fazendo isso, eu não tenho mais que fingir. O sorriso e o riso
que faço quando estou com o Lance são reais. O trabalho que eu coloco com a
equipe é real. O foco que eu coloco no próximo jogo é muito real, não deixando
tempo para pensar no que Lance e eu somos.

Eu não quero saber a resposta, então eu simplesmente não questiono. Eu


aproveito o meu tempo com ele e aproveito cada segundo que ele me dá. E ele
me dá muito.
Mas eu acho que um castelo de cartas está praticamente esperando que o
vento forte acabe com isso.

Começa a desmoronar em uma noite de quinta-feira. Estamos com cinco


jogos na temporada com um recorde de 4-1, e ainda dois na divisão. O jogo no
sábado é contra o Tennessee, o atual número um, e se vencermos,
provavelmente vamos eliminá-los do topo.

Eu deveria estar em casa, ignorando o meu pai gritando e descansando. Ou


no Lance, ganhando um pouco mais de tempo em sua academia. Em vez disso,
aceito um convite para uma festa no Alpha Phi Alpha.

Em algum nível eu sei por que, mas na época é apenas reflexo. Como ceder
a um mau hábito sob um pouco de estresse.

Eu chego lá por volta das dez, tarde o suficiente para que eu possa me
aproximar do barril e não ter que interagir com muitas pessoas antes que eu
comece a falar. Eu ando até lá do ponto de ônibus, não querendo o azar de
dirigir para casa porque eu sei que vou ficar fodidamente bêbado. Eu posso
sentir isso.

Eu começo imediatamente, e uma vez que eu tenho um par de copos cheios


de cerveja velha em mim, eu desafio os garotos da fraternidade, colocando-os
na vergonha. Primeiramente, eu ganho pelo menos o dinheiro da lavanderia
de três caras, acabando com um forte zumbido e um bolso sobrecarregado
pela troca. Na parte de trás, alguns caras têm uma mesa preparada para o beer
pong42, e eu me junto para isso também, até que eu tenho caras que eu nem
conheço me aplaudindo como se eu fosse seu melhor amigo.

42 Beer pong, também conhecido como Beirute, é um jogo de bebida no qual os jogadores jogam uma
bola de pingue-pongue sobre uma mesa com a intenção de pousar a bola em um copo de cerveja do outro
lado.
Isso é bom. Não apenas por causa da atenção, mas porque esses caras não
têm ideia do que está acontecendo comigo. Eles não sabem sobre o meu pai.
Eles não sabem sobre o Lance. Eu nem acho que eles sabem que eu jogo pelos
Tigers. No que diz respeito a eles, sou apenas mais um irmão de fraternidade
com boa pontaria.

Por volta de uma - pelo menos foi à última vez que verifiquei o meu
telefone - eu compartilho um baseado com um cara lá na parte de trás que me
diz que seu nome é Travis. Ele tem olhado para mim a noite toda, me
avaliando e, embora eu não acredite em gaydar, sei que ele está afim de mim.

Mesmo em minha bunda bêbada eu não levaria longe o suficiente para


trair. Mas que cara não gosta de ser flertado? Tenho certeza que Lance
entenderia. Inferno, tudo o que ele tem que fazer é andar fora de casa e ele tem
homens e mulheres prontos para se despirem para ele.

Travis ainda não fez nada e, enquanto não o fizer, ainda estaremos bem.
Ele dá uma longa tragada no baseado e o entrega para mim, lentamente
deixando a fumaça escapar de suas narinas antes de falar.

— Então, eu provavelmente estou fora de linha aqui, cara, mas... Você é


gay, certo?

Não é a maneira mais avançada que me fizeram essa pergunta, mas ainda
me faz rir.

— Sim. O que tem isso?

Ele encolhe os ombros. — Você me viu checando você e você não parecia
querer me dar um soco. Uma pista muito grande.
Eu passo o baseado de volta, fechando meus olhos enquanto me deixo
aproveitar a sensação. Que no topo com cerveja me faz sentir muito bem.
Tanto que quase decido deixar esse cara ter esperança. Mas eu posso ver o
rosto ferido de Lance em minha mente e decido colocar minhas cartas na
mesa.

— Não estou procurando por uma conexão, desculpe. Eu estou vendo


alguém.

Ele me dá um sorriso de lobo. Isso muda suas características, faz com que
ele pareça mais velho do que ele aparenta. Mais velho que o resto dos caras
aqui. Eu acho que provavelmente é apenas a combinação de bebida e maconha
falando, no entanto.

— Eu ouvi que você e Lance Harper eram uma coisa. Se qualquer parte
disso é verdade, então o respeito muito, cara. Eu daria minha bola esquerda
para pegar um pouco disso.

Eu bufo, e antes que eu possa pensar melhor, as palavras saem da minha


boca. — Por que não as duas bolas? Isso é o que eu dou. Quase toda noite.

É um exagero, mas... Tanto faz. Se você não pode se gabar da sua vida
sexual enquanto está bêbado, que porra você pode fazer?

De todas as coisas estúpidas, Trevor na verdade me dá um high five43 por


isso. E sinto que realizei alguma coisa. Como se eu consegui fazer algo que
caras gays só sonham. E talvez eu tenha.

— Por que ele não está aqui? — Pergunta ele, deixando escapar um fluxo
lento de fumaça.

43Informalmente, quando se quer comemorar algo ou fechar um acordo, costuma-se bater a palma da mão
aberta contra a mão aberta de outra pessoa.
— Temos um jogo amanhã, então ele provavelmente está dormindo ou algo
assim.

Trevor me dá um olhar longo, seus olhos fodidos em cada centímetro do


meu corpo. — Ele não sabe o que está perdendo.

Eu não sei o que me faz fazer isso. Talvez seja a combinação da cerveja e da
maconha. Talvez seja que essa máscara finalmente está escorregando. Talvez
seja apenas o fato de eu ter passado semanas lutando contra isso, e há muito
que posso fazer.

Seja o que for, me vejo dizendo a Travis - um cara que acabei de conhecer -
sobre meu relacionamento com Lance.

Eu conto a ele sobre como as coisas começaram, como elas se


intensificaram e onde estão agora. Eu conto a ele sobre o irmão de Lance e
meus sentimentos complicados sobre toda aquela reunião. Eu compartilho
demais ao extremo, dizendo a ele o quão fodidamente o sexo incrível com
Lance é, e o fato de que eu provavelmente lidaria com qualquer coisa se nós
continuássemos fazendo isso.

Eu digo a ele todas as coisas que sei que deveria estar dizendo a Lance, e
assim que a primeira parte da informação privada sai da minha boca, eu
simplesmente não consigo parar. Travis ouve, observa e interpreta o garçom
com seu cliente meu bêbado, deixando-me tirar tudo do meu peito.

Tudo enquanto eu ainda estou bebendo.

Quando Travis vai mijar, eu tenho a brilhante ideia de pegar meu celular e
mandar uma mensagem para Lance. O que eu envio é uma confusão
incoerente, mas eu sei o que eu quis dizer: como é esse armário?
Sua resposta vem apenas alguns instantes depois.

LANCE: Onde você está?

Eu também não sei o que envio na segunda vez, mas sei o que estou
sentindo quando a envio. Ferido.

Percebo tarde demais que minha estratégia de "fingir até você conseguir"
não funciona dessa vez. O único lugar em que eu fiz isso é a profundidade da
minha própria negação, e acontece que essas águas são muito superficiais
quando suas inibições são inexistentes.

Meia hora depois, Lance aparece. Eu ouço a comoção que ele causa antes
de eu vê-lo, caras berrando e gritando como... Bem, como se eles acabaram de
ver um atleta da NFL abrir caminho em uma festa da fraternidade.

Ele me encontra no quintal, desmaiado em uma cadeira de jardim. Eu mal


estou acordado, e tenho certeza que meu sangue é apenas álcool puro agora,
com um pouco de maconha jogada em boa medida.

Eu me sinto um idiota, mas não é nada comparado com o jeito que eu me


sinto quando Lance olha para mim. Tudo o que posso juntar é que ele parece
desapontado. Talvez até machucado.

Bem foda-se isso.

— Não me toque, porra — eu digo em voz alta, sacudindo-o. — Eu não lhe


disse para vir aqui.

— Você tem um jogo amanhã, Beau — ele diz calmamente.

— Oh, é por isso que você está aqui? Não dá a mínima para mim, só não
quer estragar a sua reputação como meu treinador?
— Você sabe que isso não é verdade — ele diz em voz baixa, tentando
manter nosso negócio privado, apesar do fato de que continua chamando
atenção. — Vamos. Podemos conversar sobre isso na caminhonete.

Eu não sei o que me impede de fazer uma cena pública ainda maior. Eu
acho que há apenas algum resquício de sentido em minha cabeça, e alguma
consciência do que devemos ser para todos nessa festa. Eu sigo Lance de volta
para sua caminhonete, sentindo-me como uma adolescente que foi pego
fugindo.

Esse sentimento fica ainda mais forte quando estamos sozinhos.

— Eu não posso acreditar em você, Beau. À noite antes de um dos maiores


jogos da temporada? Sério?

— Então, desculpe-me, porra, eu não sabia que você é meu pai. Aqui, você
quer chamar o treinador? Dizer a ele que eu sou um bad boy?

Eu puxo meu telefone e tudo, mas empurro para ele. Ele bate no chão de
sua caminhonete, fazendo um ruído muito alto contra o alumínio ou o que
quer que seja que esteja lá embaixo.

— Por que você está fazendo isso? — Pergunta ele, olhando para mim como
se eu tivesse me transformado em uma pessoa totalmente diferente. — Por que
você faz isso?

— Oh, caramba, eu não sei, Lance Harper. Talvez porque meu namorado
esteja com vergonha de admitir que estamos transando.

É incrível as coisas que você diz quando está bêbado. Coisas honestas que
se sentem insignificantes mais tarde, mas soa como a coisa mais séria do
mundo saindo. O sóbrio Beau sabe que é mais complicado do que eu estou
fazendo parecer. Beau Bêbado não dá à mínima.

— Eu não tenho vergonha de você. Jesus, é disso que se trata? Eu te disse


que queria esperar para contar a Justin sobre nós. Você disse que estava bem
com isso!

— Sim, bem, eu menti — eu digo, satisfeito comigo mesmo.

— Entendo — murmura Lance.

Ele enfia as chaves na ignição. Elas ressoam alto, não realmente indo na
abertura nas primeiras vezes. Eu faço algumas bobagens bêbadas quando elas
finalmente deslizam para lá, e espero que o motor ronque para a vida,
desligando a parte de Lance da conversa.

Mas o alarme soa, as chaves na ignição, mas não viradas. Lance olha pela
janela, e eu posso ver que ele está com aquele olhar ferido no rosto. Aquele
que eu odeio.

— Eu estou com medo, ok?

Ele apenas anuncia para o espaço vazio entre nós e fica lá por um tempo
enquanto eu o observo. Não tenho como responder e, eventualmente, ele
continua.

— Tudo o que eu quero é chegar a um ponto em minha vida em que as


pessoas me deixem em paz — ele admite, com a voz tensa. — E namorar você,
é... Quero dizer, isso me coloca na frente de novo, Beau. ‘Ex-receptor dos
Jaguars é Secretamente Gay’.
Eu posso ver a manchete tão claramente quanto ele diz. Alguma parte
teimosa de mim quer retrucar; salientar que ele não é gay de verdade, ele é bi.
Mas tenho o suficiente para manter a boca fechada nesse ponto.

Em vez disso, eu me concentro no ponto óbvio. Estamos terminando.


Talvez eu tenha pensado que aconteceria de forma diferente - com Lance
querendo voltar ao campeonato em vez de se afastar dos holofotes - mas isso
não muda o resultado. Não há lugar para mim em sua vida.

—... Mas parece que não posso deixar você ir.

Suas palavras me tiram da minha festa de pena e eu olho para ele, de olhos
arregalados.

— Eu preciso de tempo, Beau. Preciso de tempo para descobrir o que quero


dizer à minha família e o que quero dizer à imprensa. Porque eles vão
descobrir, de uma forma ou de outra. E eu odeio isso. Eu não quero arrastar
você para esse mundo...

— Eu não me importo com nada disso — eu digo rapidamente, quase


tropeçando na minha própria língua para tirar as palavras. — Eu não dou a
mínima quantas pessoas sabem. Eu só quero estar com você.

Lance me dá um pequeno sorriso. — Sim, mas você é muito mais corajoso


do que eu.

— Você é muito mais corajoso do que se dá crédito.

— Essa é uma das coisas que eu amo em você — diz ele. — Você sempre vê
o melhor em mim.
Levamos alguns momentos para perceber o que ele disse. Suas bochechas
coram e eu acabo com esse sorriso estúpido e bêbado. Isso faz ele rir, então eu
acho que não estou indo muito mal.

— Sim, eu disse isso. Eu te amo.

— Bem, quem não iria? — Pergunto, jogando o mais casualmente possível.

Por dentro, estou cambaleando, porém, minhas emoções se enroscam em


um nó apertado. No fundo, sei como me sinto sobre Lance. Eu nunca esperei
que ele se sentisse assim por mim. Eu não me preparei para isso, e as palavras
ficam presas na minha garganta. É quase como se eu as expressasse agora,
estaria me deixando vulnerável demais.

Em vez disso, eu me inclino sobre a cabine e o beijo, esperando poder dizer


a ele como me sinto sem nenhuma palavra.

Ele recua, com o rosto todo franzido. — Cara, você tem gosto de maconha.

Eu rio disso, passando a mão pelo meu cabelo. — Sim.

O motor finalmente ressoa, e começo a baixar um pouco a guarda. Mas ele


se vira para olhar para mim e meu coração fica preso na minha garganta.

— Você tem que falar comigo, Beau. Eu não tinha ideia de que você se
sentia assim.

Eu olho para o chão, ignorando o jeito que meu estômago se agita. Se eu


estou enojado com a ideia de abrir todas as minhas inseguranças estúpidas
para ele ver ou eu apenas virei a cabeça rápido demais, eu não sei.

— Eu vou chegar lá — eu digo, e prometo a mim mesmo que vou fazer


melhor.
Eu nunca tive alguém que se importasse tanto assim antes, e eu não acho
que posso suportar perdê-lo.

Ele me leva de volta ao seu lugar, e depois de uma tonelada de café, um


banho e uma boa escovada nos dentes, eu o deixo saber tudo que eu não posso
dizer, e quão grato eu estou por tê-lo em minha vida.
Eu sou acordado pelo som do toque desagradável do meu agente.

Quase consigo ignorá-lo, mas o tom repetitivo e ríspido acaba me levando


ao estado de vigília e dou um tapinha na mesa de cabeceira para o meu celular.
Eu tento algumas vezes realmente tocar o ícone verde "aceitar" ao deslizar
para a esquerda, ouço Beau gemer ao meu lado.

Com o telefone no meu ouvido, eu olho para ele, tentando ter uma ideia de
como ele está se sentindo. Fiz café ontem à noite pra ele, e ele ficou sóbrio. O
que aconteceu depois disso foi algo que eu nunca experimentei antes com
outra pessoa - essa conexão completa e total que vem de dar a alguém seu
coração e saber que ele também lhe deu o dele.

Isso não muda o fato de que ele vai ter uma ressaca infernal hoje, e meu
olhar suaviza enquanto o vejo enterrar a cabeça debaixo do travesseiro para se
esconder da luz do sol.

Estou tão focado nele que levo um momento para perceber que John disse
algo que ele realmente quer uma resposta.

— Desculpe, meio adormecido. O que foi?

— Ele está ai agora, não é? Jesus, Lance. Eu sou todo para você
permanecer relevante para a imprensa, mas você poderia ter me dado um
aviso sobre isso.
Meu coração começa a bater, meu corpo parece saber de algo antes do meu
cérebro. — Do que você está falando?

— Ok, tudo bem — diz ele em uma voz quase em pânico que diz que
definitivamente não está. — Nós vamos ter que fazer algum contra ataque
criativo. Nós apenas diremos que você queria esperar até que seu divórcio
fosse finalizado. Nós podemos ir com o ângulo que você teve que esconder
quem você realmente é. As pessoas amam essa merda. Elas comem isso.

Minha cabeça já está doendo e meu coração ainda está acelerado. — Você
vai ter que me tratar como eu tivesse cinco anos, John, porque eu ainda não
tenho nenhuma ideia do que você está...

— Beau Woodridge. Esse é o nome dele, certo? Eu não tenho certeza do


quanto eles acertaram.

Minha respiração para em meus pulmões e minha garganta se fecha de


repente. Por alguns momentos, eu apenas esqueço completamente como
respirar. Eu tenho que me forçar a isso.

— O que tem ele? —Eu pergunto, trêmulo, voltando-me para olhar para sua
forma adormecida.

— Eles sabem que vocês dois estão namorando. Ou o que você está
fazendo.

Ele não precisa explicar quem "eles" são, mas me pergunto até onde a
história se espalhou. Empurrando-me para fora da cama, vou até a minha
mesa, ligo meu laptop e espero impacientemente que ele pegue o sinal wifi.
John está falando comigo o tempo todo enquanto digito meu nome no
mecanismo de busca.
As manchetes que vejo fazem meu estômago revirar. Lance Harper não
perde tempo após o divórcio. Lance Harper: Você nunca vai adivinhar com
quem ele traiu. O esporte mais fechado do mundo: por que o incidente com
Lance Harper nunca deveria ter acontecido.

Eu clico em um deles. Eu nem sei ao certo qual. Minha mão está tremendo
tanto que não consigo mover o trackpad 44 direito. Eu digitalizo o texto do
artigo. Fala sobre meu relacionamento com Beau, supondo erroneamente
quando começou. Há até uma foto granulada de um celular de Beau entrando
na minha caminhonete, e depois indo para a casa comigo depois. Aquele beijo
carinhoso que compartilhamos na minha varanda da frente, quando pensei
que estávamos totalmente sozinhos? Agora está sendo visto por milhões de
pessoas.

Meu estômago se agita. Eu posso ouvir John, como uma mosca zumbindo
no meu ouvido, mas eu o ignoro e, em vez disso, apenas clico no próximo
artigo. É mais do mesmo, com algumas seções que são quase idênticas à outra.

— Quem escreveu o primeiro artigo? — Eu pergunto, cortando John no


meio da frase.

— Algum blogueiro local. O garoto tem um sério problema sobre alguma


coisa. Parece que ele realmente quer derrubar o Eastshore.

Se todo o meu mundo não estivesse desmoronando, eu poderia demorar


um segundo para ficar chocado no tom casual de John. Normalmente ele tem
dois modos comigo: profissional de colarinho engomado ou vendedor de
carros usados.

44 É uma espécie de mouse ótico utilizado em computadores e notebooks.


— Eu vou te mandar o link. Kate vai sair no próximo voo. Ela vai se
encontrar com vocês dois e nós podemos descobrir a melhor maneira de girar
isso.

Eu mantenho o telefone longe da minha orelha, abrindo o link que ele


enviou. A bile sobe para a parte de trás da minha garganta enquanto eu a leio,
meus nervos muito desgastados para lidar com tanto ao mesmo tempo.

— Eu não posso lidar com isso agora, John — eu digo desesperadamente. —


Eu te ligo de volta mais tarde, quando eu descobrir o que diabos está
acontecendo.

Eu desligo antes que ele possa protestar, digitando o nome do artigo,


Novas Táticas, O mesmo Rainbow Tigers: O que eu aprendi indo disfarçado -
e inclino-me sobre a minha mesa para ler.

Meu telefone toca e zumbe na mesa, e eu rapidamente decido fazer um


favor a todos e apenas desligá-lo por agora. Minha visão é confusa, as palavras
não querem vir para mim facilmente, mas eu continuo e leio de qualquer
maneira.

O autor é aparentemente um defensor LGBTQ e um estudante da


Eastshore que está preocupado com a forma como os Tigers usaram a
sexualidade de alguns membros da equipe para jogar com o sistema. Se eu
tivesse que adivinhar, eu diria que ele começou seu blog depois do que
aconteceu com Trent e Tucker, mas isso realmente não importa. Minha
contratação na Eastshore aparentemente o colocou na trilha, e de lá ele
escreve que não foi muito difícil juntar as peças.

— Tudo certo? — Eu ouço a voz sonolenta de Beau perguntar da cama.


Meu coração dói quando percebo que vou ter que ser o único a dizer a ele.
Não adianta adiar, então eu respiro fundo e só digo isso.

— A imprensa descobriu que você e eu estamos juntos. Todo mundo vai


saber por esta tarde, se eles já não sabem.

Ele é lento para reagir, empurrando-se para uma posição sentada. Olho de
volta para ele, vejo que seu cabelo está levantado de todas as maneiras e ele se
envolveu em um pequeno casulo de cobertores para combater o meu uso
pesado de Ar condicionado.

Eu gostaria de poder voltar para a cama com ele e aproveitar algum tempo
juntos, como planejei fazer antes de irmos para Knoxville com a equipe. Agora
tudo o que posso pensar é que merda de circo tudo vai ser, e o quanto a vida
de Beau vai mudar.

E eu sou o único culpado por isso.

— Espere — diz ele, trabalhando o sono fora de sua voz, — As pessoas


sabem sobre nós... Como... Nós... Nós?

— Sim — eu digo com pesar.

Ele empalidece, seus olhos verdes arregalados e questionadores. — Mas


como? Nós fomos cuidadosos, não fomos? Nunca fizemos nada em público,
sempre mantemos tudo profissional ao redor dos caras. Como diabos eles
descobriram?

— Eu não sei — eu digo. — Parece que algum blogueiro tem uma vingança
pessoal contra a equipe. Acho que ele conseguiu juntar as peças.
Mas isso não explica as fotos, percebo. Pesquisando no post do blog, eu
tento descobrir como o autor as conseguiu. Um parágrafo pula para mim:

Então eu fui a uma festa de fraternidade. Eu não tenho orgulho disso,


mas todos nós fazemos coisas malucas em nome da justiça, certo? Eu apareci
na minha melhor roupa de menino de fraternidade, apareci com um nome de
garoto de fraternidade (Travis, obviamente), e trouxe um quebra-gelo de
fraternidade comigo. (Erva. Maconha. Não diga à polícia do campus). Não
demorou muito para encontrar Woodridge.

Gelo lança através de minhas veias, bombeando do meu coração direto


para as pontas dos meus dedos. Eu solto um suspiro trêmulo e pergunto: —
Você se lembra de um cara chamado Travis?

Eu não olho para ele. Eu não posso. Minha mente está juntando tudo e não
estou gostando do que encontro.

—... Merda. Eu me lembro de alguém, mas...

— O que aconteceu, Beau?

— Eu não me lembro! — ele diz, com a cabeça entre as mãos. — Havia esse
cara. Acho que ele perguntou sobre você. Sobre nós.

Eu fecho meus olhos e solto um longo suspiro. Eu quero acreditar que esse
cara apenas seguiu Beau, dando um palpite. Mas isso parece cada vez menos
provável. Quando eu leio mais do post do blog, é fácil reunir exatamente o que
aconteceu.

Eu não tenho certeza de quanto ele bebeu. Vamos apenas dizer que estava
em algum lugar nos níveis de "tanque reserva". Mas ele estava muito ansioso
para confiar em mim sobre seus problemas de relacionamento e os
julgamentos e tribulações envolvidos em namorar uma celebridade no
armário. Ei, todos nós estivemos lá, amigo.

Ele diz em detalhes sobre o que Beau disse, fazendo citações diretas para
dar ênfase. Há aparentemente um arquivo com a voz real de Beau nele. Eu não
me atrevo a ouvir. O que há é mais que suficiente.

Eu me sinto entorpecido quando a gravidade do que aconteceu finalmente


se instala em mim. Eu pensei que tinha sido o único a prejudicar Beau, e talvez
eu ainda tenha. Mas eu também achava que Beau sabia como me sentia sobre
tudo isso - que queria manter pelo menos uma parte da minha vida pessoal
privada até que eu tivesse tempo de processar tudo.

Em vez disso, ele ficou descuidadamente bêbado em um prédio cheio de


estranhos e colocou tudo sobre a mesa para um deles se levantar e apresentar
ao mundo.

— Como você pôde fazer isso? —Eu me pego perguntando, incapaz de


esconder a dor na minha voz.

— Eu estava bêbado, Lance! Não é como se eu soubesse com quem eu


estava falando ou o que eu estava dizendo a ele.

— Sim, você estava bêbado. De novo. Você não acha que esse é o maldito
problema?

Eu posso sentir um senso de raiva. Ódio. Não para Beau, mas pelo fato de
que ele fez outra coisa estúpida enquanto estava bêbado. Ele se tornou uma
pessoa completamente diferente do homem que eu amo. Ele se tornou alguém
que traiu minha confiança. Alguém que eu desprezo.
Não é justo. Eu sei que não é justo. Eu deveria ter dito a ele como eu me
sentia sobre sua bebida quando tive a chance. Mas pela primeira vez, acho que
tenho direito a esses sentimentos mesquinhos que estão girando em mim.

— Como se eu soubesse quem era esse idiota se eu não estivesse bebendo?


— Ele finalmente se afasta, a cabeça inclinada sobre o celular.

— Isso nunca teria chegado a este ponto.

— Você sabe o que mais teria ajudado a não chegar a este ponto? Você está
agindo como se eu realmente existisse.

Isso dói e apenas alimenta esses sentimentos de traição. Ele sabe por que
eu não poderia simplesmente anunciar isso para o mundo. Ele sabe o quanto
eu queria - precisava – de privacidade. Ele também sabe que estou disposto a
ser aberto em meu próprio tempo. E nada disso tem nada a ver com ele.

— Eu não posso lidar com isso agora. Temos que pegar o ônibus — eu digo,
indo em direção ao banheiro.

Eu tenho que encontrar uma maneira de impedir que isso cause impacto
na equipe. Duvido que eu seja bem sucedido nisso - o treinador Garvey pode,
compreensivelmente, querer que eu fique para trás e não vá para Knoxville
com os rapazes -, mas tenho que tentar. Eu devo isso a eles, e Beau também.

Eu deixo a água quase escaldante me lavar, respirando fundo para tentar


limpar a minha cabeça. Meu pai sempre foi grande em fazer listas para passar
por momentos estressantes, e eu tento fazer uma agora, listando todas as
coisas que vamos ter que fazer para corrigir isso, começando com uma reunião
com Kate.
Quando saio do banheiro, sinto que, com sucesso, deixei meus sentimentos
de lado; como se eu pudesse enfrentar Beau sem apenas ficar com raiva.

Mas ele não está em lugar algum para ser encontrado.


Eu pego um táxi para a faculdade porque não posso me sentar na
caminhonete de Lance nem mesmo pelos quinze minutos necessários para
chegar lá. Eu não posso estar trancado naquele carro sabendo que ele acha que
sou um pedaço de merda inútil.

A pior parte disso é... Ele está certo.

De jeito nenhum eu deveria ter sido tão idiota. Mesmo se eu estivesse


bêbado. Em vez de manter minha boca fechada e apenas lidar com minha
própria merda, decidi ser o imbecil ingênuo que derrama suas entranhas em
um blogueiro que só quer lucrar com uma grande história. Graças a mim, ele
provavelmente conseguiu tudo o que queria.

Eu leio o post enquanto estou no carro. Eu vejo minhas palavras usadas


contra mim - usadas contra Lance. Mesmo usadas contra Eastshore como um
todo, uma vez que este blogueiro tem alguma teoria conspiratória sobre a
administração usando caras gays para conseguir mais fundos para a escola. Eu
não posso imaginar num mundo onde isso seja um pouco verdade, mas isso
não importa. O dano está feito.

E assim que eu entro no vestiário, é bem claro que o palpite de Lance sobre
"esta tarde" foi realmente otimista. Todo mundo sabe. Muitos dos caras
apenas evitam meu olhar completamente. A conversa para ou se transforma
em sussurros. São apenas os mais sinceros que dizem o que todo mundo está
pensando.

— Cara, Woodridge. Respeito. — Brady me bate com força nas costas. Eu já


me sinto doente e isso não ajuda. — Você fez o que 90% das donas de casa dos
EUA gostariam de poder fazer.

Isso gera uma risada reservada de alguns caras, e alguns outros tentam
falar.

— Eu sabia que esse cara era gay. De jeito nenhum ele se divorciaria de
uma esposa tão gostosa.

— Hey, Woodridge, ele é um topo ou um fundo? Aposto que ele é um topo.


Maldição, cara. Eu poderia ser gay por um pedaço disso.

Eles estão apenas brincando. Eu sei que eles não querem dizer nada com
isso. Mas quando eu faço meu caminho até meu armário, pego minha malha
de prática e todas as minhas outras merdas, a realização me atinge com força:
eu não tenho nenhum amigo de verdade aqui.

Nenhum desses caras esteve onde estou agora, mas não há ninguém me
oferecendo uma mão.

O futebol é um dos poucos lugares onde eu sentia que poderia fazer parte
de algo - onde eu poderia fazer uma contribuição que importasse. Mas eu acho
que esses caras - como todo mundo - só gostam de mim quando estou bêbado
e fazendo coisas estúpidas que eles podem rir no dia seguinte.

— Woodridge — eu ouço a voz do treinador, calma e fria, e todos os


músculos do meu corpo ficam tensos. — Eu preciso ver você no meu escritório.
Um coro de "oooooh" soa dos caras ao meu redor. Treinador acaba com
isso batendo sua prancheta contra a parede.

— Parem com isso — diz ele, soando muito menos calmo. — Eu vou dizer
isso uma vez, então ouçam: se eu pegar alguém falando sobre isso fora deste
vestiário, você não estará jogando pelo resto da temporada.

Isso os acalma e eu sigo o Treinador quase em silêncio, deixando minha


mochila na frente do meu armário. Neste ponto, eu não sei se vou mesmo
estar naquele ônibus para Knoxville.

— Por que você não se senta, Beau — diz o treinador, e acho que ele nunca
usou meu primeiro nome antes. Quando me coloco em uma cadeira, ele
continua. — Eu te trouxe aqui primeiro porque é importante que você seja
completamente honesto comigo. Vou fazer algumas perguntas, e preciso que
você responda a verdade. Ok?

Eu apenas aceno com a cabeça, meus dedos apertando o braço da cadeira,


depois solto em um ritmo nervoso.

— Alguma coisa neste post de blog é fabricada? Você vai ter que perdoar
minha ignorância, aqui, eu não sei o que as crianças podem fazer com o
Photoshop ou o que quer que seja.

— Não — eu digo simplesmente. — É tudo real.

Ele concorda, estudando-me por um momento antes de continuar. — Há


quanto tempo isso vem acontecendo?

— Apenas algumas semanas.


Ele inspira, depois solta lentamente pelo nariz. Uma eternidade parece
passar antes que ele faça sua próxima pergunta.

— Ele te forçou a fazer alguma coisa? Disse que ele te ajudaria a entrar na
NFL se você fizesse alguma coisa por ele?

Meus olhos se arregalam. — O quê? Não. Jesus. Ele nunca fez nada assim.

O treinador Garvey acena com a cabeça e o alívio é claro em suas feições. —


Tudo bem. Isso é bom. Eu posso trabalhar com isso.

Eu não posso deixar de me perguntar se o treinador já viu uma situação em


que isso aconteceu. Faz minha pele rastejar só de pensar nisso. Um treinador é
alguém em quem você deveria confiar.

— A escola vai querer investigar. A NCAA não tem uma regra dura e rápida,
mas se a administração decidir punir isso, minhas mãos estão amarradas. Eu
os convenci a deixar vocês dois irem para Knoxville com a equipe para que
vocês não estejam presos aqui no tanque de tubarões, mas não posso deixar
você jogar.

— Eu entendo — eu digo, olhando para o chão acarpetado.

Eu vejo o treinador olhar pela janela, e através das cortinas posso ver
Lance. Se o vestiário ficou quieto quando eu cheguei, é como um necrotério
agora.

— Vá em frente e termine de se preparar. Eu preciso falar com Harper por


um segundo.
Eu não olho para Lance quando volto para o meu armário. Eu não posso.
Em vez disso, pego meus fones de ouvido, aumento o volume no meu telefone
e espero que a bateria de alguma forma dure toda essa viagem de nove horas
até o Tennessee.

Nós somos atacados por câmeras no segundo em que descemos do ônibus


em Knoxville. A Eastshore enviou dois de nossos seguranças conosco, e é
preciso que os dois - além do nosso grande treinador defensivo - os
mantenham para trás quando nos dirigimos para os quartos de hotel.

Passei a maior parte do trajeto de ônibus quase silencioso tentando não


pensar no que poderia acontecer a seguir e não consegui. Eu nunca estive
realmente tão desgraçado e triste, mas todos os cenários parecem merda.
Minha mente se fixa em um em particular: eu provavelmente terei permissão
para jogar, porque, quem diabos sou eu? A mídia vai girar para parecer que
Lance me seduziu. Vou continuar recebendo atenção até que isso acabe. Mas
Lance será demitido e a imprensa não deixará de persegui-lo.

Tudo porque não consegui manter a boca fechada. Porque eu estava me


sentindo inseguro e ao invés de falar com Lance, eu dei a porra de um
blogueiro tudo o que ele precisava para nos expor.
E não é como se fosse apenas nós. Este jogo contra os Vols é importante
para a equipe, e não posso ajudá-los. Pior que isso, ninguém vai se concentrar
no jogo real. Todas as histórias sobre isso - ganhar ou perder - serão sobre
Lance e eu.

É besteira, e por mais horrível, a única coisa que consigo pensar enquanto
somos levados para nossos quartos de hotel é que eu realmente preciso de
uma bebida.

Eu abro o minibar imediatamente, mas não há bebida à vista. Os caras se


preparam para as luzes se apagarem depois de um longo dia na estrada, mas
eu já estou pensando em maneiras de sair desse quarto - fora deste hotel - sem
que ninguém perceba.

Eu consigo fazer isso um pouco depois das duas da manhã. Colocando uma
das chaves do hotel no meu bolso, faço o meu caminho até a porta, ouvindo
para qualquer movimento no corredor. Eu não ouço nada, então eu
silenciosamente abro e a fecho atrás de mim.

Eu posso ver um dos nossos seguranças no final do corredor, mas ele é fácil
de evitar. Eu tomo o caminho de volta para a escada, e saio no andar seguinte,
atravessando para o elevador, para que ninguém me ouça descendo quatro
lances de escada.

Do saguão, é um tiro direto para as ruas do centro de Knoxville, e pela


primeira vez naquele dia, finalmente sinto que posso respirar.

Eu encontro o bar mais próximo, sento num banquinho e começo a beber


uma cerveja, esperando que isso limpe minha cabeça. Se alguma coisa, piora o
meu humor, e a dose de Tequila não ajuda. Normalmente, quando estou em
um bar ou numa festa, estou em movimento, conversando com as pessoas,
sendo social. Agora eu me sinto cada vez mais parecido com meu pai, apenas
querendo me matar no esquecimento sem ninguém por perto para ver isso.

Assusta-me tanto que quando uma garota pergunta se eu quero ir a essa


festa que ela e suas amigas vão - depois de flertar sem sucesso em mim por
vinte minutos - eu digo que sim.

Eu realmente não lembro como chegamos lá ou onde à festa estava.


Lembro-me apenas de subir um monte de escadas e, em seguida, ser entregue
um copo descartável depois mais copo descartável. Tomei uma pílula que
alguém me deu e lembro-me finalmente de sentir que "ganhei". Eu não estava
mais pensando em Lance.

Eu não estava pensando em mais nada. Eu estava de pé, dançando até


sentir que ia ficar doente.

A última coisa que eu lembro foi o cheiro de tinta nublando minha cabeça,
alguém me puxando para os meus pés, puxando minha camisa para cima. Algo
úmido e frio no meu peito e estômago. Então o ar fresco da montanha
passando por mim com a grama abaixo de mim antes de tudo ficar escuro.
Eu sou despertado de um sono já agitado por alguém batendo na porta.

Parece que está ecoando na minha cabeça, vindo de todas as direções, e eu


levo alguns momentos para perceber que é porque alguém está batendo na
porta ao lado da minha também.

— Dê-me um minuto — eu grito com voz rouca, balançando as pernas para


o lado da cama.

Na cama ao lado, o coordenador defensivo - Martin Valesco - está se


virando de costas. O treinador perguntou se eu queria ter um dos seguranças
do lado de fora, mas nós dois concordamos que isso atrairia mais atenção. Em
vez disso, estou dividindo um quarto com Valesco, cuja estrutura monstruosa
tende a assustar praticamente qualquer pessoa que não o conheça.

— Se isso é qualquer um dos meus caras, você diz a que eles estarão
fazendo Up-downs por uma hora — ele murmura.

Antes de nosso primeiro jogo fora de casa, nossos treinadores me


informaram sobre a tradição de brincadeiras da Eastshore no hotel. Elas são
praticamente inofensivas e, pela primeira vez, eu esperava por elas. Hoje à
noite, no entanto, ou hoje de manhã, não sei ao certo qual é, só não tenho
paciência para ninguém que consiga arranjar brincadeiras. Meu mundo está se
desfazendo. O mesmo acontece com o Beau. A equipe provavelmente vai ver
culpa injustificada nisso. Eu não tenho isso em mim para achar as pegadinhas
de alguém engraçadas.
Quando me aproximo, não ouço o som de pés descalços recuando no chão
acarpetado. Em vez disso, alguém bate na porta novamente, fazendo com que
ela se sacuda nas dobradiças.

— Eu estou indo — eu rosno, meus dentes cerrados.

— É Beau! Ele não está respirando!

O pânico na voz de Brady faz meu coração parar mais do que as próprias
palavras. O tempo parece se arrastar quando eu me lanço em direção à porta,
abrindo-a, meus dedos enfiados entre a madeira e a maçaneta. Eu vejo Brady
lá, seu rosto branco, olhos arregalados.

— Onde?

— Nós o trouxemos para o saguão — diz ele, sem fôlego, parecendo à beira
das lágrimas. — Os filhos da puta só o deixaram no gramado.

Eu só posso imaginar o que isso significa, mas não tenho como esperar por
uma explicação. Ouço a porta do treinador Garvey se abrir, mas já estou
correndo para a escada, descendo as escadas dois ou três degraus de cada vez
para chegar ao térreo o mais rápido possível. Eu posso ouvir Brady bem atrás
de mim e grito de volta para ele.

— Você ligou para uma ambulância?

— O hotel fez.

Com certeza, eu posso ouvir sirenes à distância. É um pequeno conforto,


no entanto, quando finalmente chego ao saguão e vejo Beau deitado ali, sem
vida, com o corpo estendido sobre um tapete. Três de seus companheiros de
equipe estão em pé ao redor dele, e um membro da equipe do hotel também
está lá, parecendo apavorado.

Corro até ele, caindo ao seu lado. — Quando isto aconteceu?

— Dez minutos atrás, no máximo. Eu ouvi um carro ir embora — diz o


funcionário do hotel — e quando olhei lá fora, ele estava no gramado.

Eu viro minha cabeça, colocando meu ouvido logo acima da boca de Beau,
desesperado para ouvir alguma coisa. Sua respiração é superficial e rouca, mas
está lá, e o pulso dele lateja fracamente contra meus dedos. Pode não significar
nada, mas pelo menos ele ainda está respirando.

Recuando, tomo sua aparência. Sua camisa está faltando e todas as partes
visíveis de seu corpo estão pintadas de laranja45. A raiva me enche quando
percebo quem “esses filhos da puta” devem ser. Jogadores? Estudantes? Fãs?
Não importa. Eles o deixaram nesse estado sem pensar em chamar a porra de
uma ambulância.

— Onde ele estava na noite passada? — O treinador Garvey pergunta de


cima de mim.

Cortez, um dos caras que estava dividindo um quarto com ele, solta uma
resposta. — Eu não sei, treinador. Ele estava no quarto quando você mandou
apagar as luzes. Ele deve ter saído depois.

As sirenes se aproximam até que eu possa ver as luzes vermelhas piscando


na entrada da frente do hotel. Tudo acontece em um borrão então, uma equipe
de primeiros socorros dos bombeiros chega lá primeiro e avalia Beau
enquanto uma ambulância para atrás deles. Eles colocam um soro nele,

45 O time que eles irão jogar é os Vols, no qual as cores do time são branco e laranja.
começam a colocar alguns líquidos e o colocam na maca, levando-o para a
ambulância.

— Eu quero ir com ele — eu digo, não tenho certeza se estou falando com o
pessoal de emergência ou com o treinador Garvey.

O treinador é quem responde, no entanto. — Eu não acho que é a melhor


ideia, filho. Mas aqui. — Ele me joga suas chaves. — Leve minha caminhonete.

Eu luto através da multidão reunida no saguão - uma que felizmente não


inclui nenhum cinegrafista ou repórter ainda - e vou para o estacionamento,
observando o grande Ford estacionado perto da parte de trás. Alguns caras
estão me seguindo. Eu nem sei qual. Eles não esperam por permissão. Um
deles sobe na cabine comigo, os outros dois pulam na traseira.

Eu não sei como chegamos ao hospital sem chamar a atenção de qualquer


policial, mas de alguma forma nós fazemos, e os caras saltam para fora
quando eu estou preso estacionando a caminhonete do Treinador na garagem.

Quando finalmente chego à sala de espera do pronto-socorro, vejo o


treinador Garvey preenchendo formulários, os caras que eu trouxe se
amontoam ao redor dele.

— O que eles disseram? — Eu pergunto, sem fôlego.

— Seu nível de álcool no sangue está fora dos limites — diz ele, olhando
para mim com olhos preocupados. — A pressão arterial está muito baixa. Eles
estão trabalhando para estabilizá-lo agora.

O estabilizar. Jesus Cristo. Eu passo a mão pelo meu cabelo e me afasto do


grupo, sentindo como se eu estivesse a segundos de quebrar completamente.
Brady parece sentir isso. Ele vem e enrola um braço em volta do meu ombro.
— Ele vai ficar bem. Ele é um filho da puta teimoso.

Eu apenas balanço minha cabeça, saindo de debaixo dele. Eu não quero


alguém me consolando agora. Toda a atenção deles precisa estar em Beau e
garantindo que ele passe por isso. A atenção de todos precisa estar lá.

— Eu preciso ligar para o pai dele — eu digo, e vou para fora, o celular na
mão.

Eu puxo a lista de contatos de emergência que o treinador Garvey me deu e


rolo os nomes até encontrar o Sr. Woodridge. A primeira chamada vai direto
para o correio de voz. O mesmo acontece com a segunda. E a terceira. Na
quarta, deixo uma mensagem quase coerente. Na quinta, eu realmente digo a
ele o que está acontecendo. E na sexta, eu digo a ele que ele deve ao filho
realmente agir como seu pai pela primeira vez porra.

Assim que eu desligo, desmorono e choro. Soluços profundos e feios que


são arrastados para a superfície em suspiros trêmulos.

Por que diabos ele teve que fazer isso? Por que não falei mais com ele antes
de chegarmos aqui? Por que eu não tentei falar com ele qualquer momento
hoje?

Não tenho chance de responder a nenhuma dessas perguntas. Em vez


disso, eu ouço um obturador de câmera e acende raiva em mim antes mesmo
de olhar para cima. Quando olho, vejo o que parece ser um enfermeiro, o
telefone na mão. Tirando fotos de Lance Harper, dobrando-se e chorando
como um bebê.

— Saia daqui — eu grito.


Mas ele não é o pior disso. Meu grito parece tirá-los da toca. Eu vejo uma
van de notícias do outro lado da rua e meus dedos se fecham em punho ao
meu lado. Um homem com um tablet vem ao lado do pronto-socorro, seu
olhar atento a mim. Quando ele começa a gritar meu nome, eu apenas perco.

Eu não ouço a porta sendo aberta atrás de mim. Eu mal sinto os braços de
Cortez envolvendo os meus, me segurando. Eu só sei que se ele não tivesse, eu
iria tirar toda a minha raiva e frustração no primeiro repórter ao me alcançar.

Tenho certeza de que meu agente ligaria logo de manhã, tentando fazer o
controle de danos quando todas as manchetes lessem "Lance Harper Ataca
Perigosamente a Imprensa". Mas eu não me importo.

A segurança do hospital os mantém à distância, e eu sou deixado na sala de


espera esperando por Beau. Eu não sei quanto tempo passa, mas é mais que
suficiente para eu tomar uma decisão sobre o futuro.

Essa insanidade? Essa coisa em que a imprensa acha que está tudo bem me
atacar quando estou mais vulnerável? Para se aproveitar das pessoas que eu
amo apenas por uma boa história? Não vai parar. Isso nunca vai parar.

E Beau pagou o preço por isso.

Eu começo a tremer quando a compreensão me ocorre. Eu vagamente ouço


Brady perguntar a uma enfermeira por um cobertor, e enquanto eu posso
senti-lo sobre meus ombros, ele não se registra como real. Mesmo quando o
médico finalmente sai, parece que essa coisa toda é apenas um longo pesadelo.

— Você que está aqui para Beau Woodridge? — ele pergunta.

Todo mundo de fica, inclusive eu. Minhas pernas tremem e Brady é quem
me mantém em pé.
— Sim — diz o treinador — Como ele está?

— Ele fez muito dano a si mesmo — diz o médico, e me pergunto quem


treina essas pessoas para conversar com outros humanos. — Seu BAC46 era
0,38%, o que nós consideramos ser um nível severo de envenenamento por
álcool. Nós também encontramos traços de anfetaminas em seu sistema. Nós
estávamos esperando que ele recuperasse a consciência para que ele pudesse
expelir o conteúdo de seu estômago de forma menos invasiva. Mas acabamos
tendo que optar pela lavagem gástrica. Ele está gravemente desidratado, por
isso estamos dando líquidos para ele. Também queremos monitorar sua
função hepática e renal nas próximas vinte e quatro horas.

— Mas ele vai ficar bem? — Eu pergunto, minha voz soando estranha aos
meus próprios ouvidos.

— Ele vai se recuperar. Ele é jovem o suficiente para acreditar que ele não
causou danos permanentes. Mas há mais coisas assim e, da próxima vez, ele
não terá tanta sorte.

O treinador Garvey agradece ao médico, e Cortez pergunta quando


podemos vê-lo, mas mal ouço a resposta. Eu passo longe do grupo, meus pés
me guiando para o banheiro. Quando estou lá, mal tenho tempo de levantar o
assento antes de vomitar.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto e, quando me lavo, penso no que o


médico disse. Da próxima vez ele não será tão sortudo. E haverá uma próxima
vez, se ele estiver envolvido comigo. A imprensa sabe que ele existe agora. Eles
não vão deixá-lo sozinho.

46 Blood-alcohol concentration (concentração de álcool no sangue): a porcentagem de álcool na


corrente sanguínea de acordo com as leis da maioria dos estados americanos é de 0,10, é a definição legal
de intoxicação, embora alguns estados usem um percentual ligeiramente inferior, como 0,08.
Eu passei todo esse tempo preocupado que a NFL iria quebrá-lo. Mas, na
verdade, sou eu quem está prejudicando ele, apenas sendo quem eu sou.

Os olhos de todos estão em mim quando saio do banheiro, e vejo a pena


refletida em todos os lugares que olho. Isso faz meu estômago revirar
novamente.

— Eu não posso estar aqui — eu digo, e depois de jogar as chaves do


Treinador de volta para ele, eu saio, atravesso a multidão de repórteres e
continuo andando.
A primeira coisa que eu noto é que tudo dói.

Minha cabeça, meu braço, meu estômago são as principais coisas. Tudo o
mais é uma dor surda. É claro que tudo é praticamente eclipsado pela dor
lancinante da luz forte quando abro os olhos, e solto um gemido áspero em
resposta.

Não tenho certeza de onde estou. As paredes são apenas brancas e limpas.
Mais branca do que a maioria das paredes do hotel, e definitivamente mais
branca do que as paredes em casa. Eu posso ouvir bipes constantes e o
arrastar de alguém se movendo ao redor. Viro a cabeça, lutando contra uma
onda de náusea e vejo o treinador Garvey de pé ao meu lado.

— Ei, filho. Você nos deu um susto infernal.

O treinador Garvey nunca foi realmente duro, mas esse eu acho é o mais
gentil que já ouvi a voz dele. Isso me deixa preocupado, e eu tento juntar
minhas coisas um pouco mais rápido para descobrir o que está acontecendo.

Meus olhos se concentram em máquinas e monitores, bandejas e


equipamentos estéreis, uma única cadeira e uma cortina semifechada.

Eu estou em um maldito hospital.

— O que aconteceu? — Eu pergunto, minha garganta dolorida.


O técnico tira o jarro da bandeja e me serve um pouco de água. Eu bebo
avidamente, deixando o líquido frio acalmar minha garganta.

— Você bebeu demais na noite passada. Alguém no hotel encontrou você


no gramado da frente, inconsciente.

Meu coração nisso. Eu sei que estou vivo - eu não poderia estar aqui
conversando com ele se não estivesse - mas, por um segundo muito real, sou
atingido por aquela sensação de medo que você tem quando pensa em sua
própria morte. Eu me pergunto o quão perto eu cheguei, mas meu cérebro
simplesmente corre para longe desse assunto. Em vez disso, tento lembrar o
que estava fazendo na noite passada. Pedaços e pedaços voltam para mim. O
bar. A festa depois do bar. Bebida após Bebida. Tudo lá é muito nebuloso.

Tudo o que sei é que me humilhei completamente e a minha equipe.

E isso nem menciona Lance.

Meu coração dói quando penso nele. Ele já estava tão desapontado comigo,
e o que eu fiz? Fui e bebi até que tive que ser levado para o pronto-socorro,
aparentemente. Provavelmente tive meu estômago bombeado. Isso é pior do
que qualquer coisa que meu pai já fez, de longe.

— Onde está Lance? — Eu pergunto, olhando ao redor da sala.

Alguma parte de mim quer que ele esteja aqui. Talvez enrolado em uma
cadeira que eu não tenha percebido antes, ou no final do corredor pegando um
café. Mas eu já sei quando pergunto que ele não está aqui. Ele não deveria
estar.

— Eu não sei como isso aconteceu - eu acho que eles provavelmente têm
pessoas atrás dele. Mas um pouco depois que chegamos aqui, alguns
repórteres apareceram. Lance... bem, ele não aceitou bem. Eu acho que ele
está tentando se certificar de que eles deixam você em paz.

Eu não sei se o treinador está apenas tentando poupar meus sentimentos,


ou o que, mas eu realmente não acredito nele. Tenho certeza de que a
imprensa o seguiu, e posso ver Lance ficando chateado com eles, mas não acho
que eles sejam a razão pela qual ele não está aqui.

Ele não está aqui porque não pode lidar comigo, o lixo humano. E eu não o
culpo de jeito nenhum.

Dói mais do que qualquer das dores físicas que estou sentindo agora. Eu
tive namorados antes, mas nenhum como Lance. Eu nunca disse isso a ele, e
tenho certeza que é o melhor agora, mas acho que estou apaixonado por ele há
algum tempo. Não apenas a paixão pelo culto ao herói, mas o amor real pela
pessoa por trás da celebridade.

E graças à outra noite, sei que ele também me amava.

—Estão o os caras...? — Eu pergunto, engasgando com a pergunta


enquanto eu luto contra as lágrimas.

— Eu os mandei de volta para o hotel para descansar um pouco. Eles me


disseram que fizeram um vídeo e enviaram para o seu telefone.

Ele pesca através de um saco plástico. Minhas calças estão lá, junto com
meus sapatos. Ele me entrega meu telefone, depois me empresta seu próprio
carregador, conectando-o na parede.

— Você deveria dormir um pouco, treinador. Grande jogo hoje.


— Não, eu vou ficar bem. Eu não tenho que estar lá até o meio-dia, de
qualquer maneira.

Eu olho para ele e vejo os círculos escuros sob seus olhos, as linhas que não
estavam lá antes. Parece que ele envelheceu dez anos durante a noite.

— Sério, treinador. Eu vou ficar bem. Apenas... Vai ganhar um para mim.

É preciso mais do que isso para convencê-lo, incluindo uma enfermeira


entrando e dizendo que meus sinais vitais estão bons e que eles só vão me
monitorar hoje - nada mais do que isso. De alguma forma eu consigo segurar
minhas coisas enquanto ele está lá, mas no segundo que ele sai, eu posso
sentir as lágrimas ardendo em meus olhos.

Elas não caem até eu assistir ao vídeo. É apenas um bando de caras me


desejando bem, me dizendo o quão importante eu sou para o time, e como é
melhor eu não fazer nada parecido com isso de novo, mas isso me bate forte.

Eu tento me distrair, carregando o Facebook e depois o Twitter. Ambos são


um campo minado, com centenas de notificações de pessoas que não conheço.
Eu me conformo em verificar meu e-mail e, novamente, recebo mensagens de
pessoas com quem nunca conversei na vida.

Mas há um que se destaca para mim:

DE UM IDIOTA

Eu abro e encontro uma longa carta aparentemente escrita pelo cara que
conheço como Travis. Seu nome verdadeiro é Spencer. Ele é um estudante da
Eastshore e ativista LGBTQ que diz que só se preocupa com o atletismo da
ESC se aproveitando de atletas gays. Ele me diz que nunca quis que chegasse a
este ponto, que ele removeu o post completamente. Ele também diz que quer
usar qualquer parte do dinheiro publicitário gerado para ajudar a pagar
minhas contas hospitalares.

É um gesto legal, eu acho, mas não posso deixar de me irritar com ele pelo
que ele fez. Mesmo vindo de um lugar de preocupação, ele expôs Lance e eu
para todo mundo do caralho.

Eu não posso colocar a culpa toda nele, no entanto. Eu tenho que assumir a
responsabilidade por minhas próprias ações. Ninguém mais escapou ontem à
noite e ficou tão bêbado que acabou em uma cama de hospital ainda com o
corpo manchado com a pintura laranja.

Eu deixo o telefone de lado, evitando intencionalmente minhas mensagens


de texto e correio de voz. Não é até algumas horas depois que eu verifico, e isso
parece um soco no estômago. Não há nada de Lance. Nada mesmo.

Mas há uma tonelada de chamadas perdidas e mensagens de voz do meu


pai. Uma parte de mim quer ouvir sua voz, mesmo sabendo que será arrastada
e gritante. Mas eu simplesmente não consigo lidar com isso agora.

Não tenho certeza de quanto tempo durmo. Tempo suficiente para que, da
próxima vez que eu acordo, eu possa ouvir o jogo na TV. Alguém deve ter
ligado. É o segundo trimestre e a Eastshore está sendo destruída.

Eu não posso assistir, então eu desligo. Mas ainda posso ouvi-lo do posto
das enfermeiras sempre que os Vols marcam, e sei que estamos diante de uma
lavada.

Por volta das quatro ou mais, ouço passos pesados vindo pelo corredor. Eu
acho que é um médico, mas não é um cara de jaleco branco que passa ao redor
da cortina.
É o meu pai.

Eu me endireito, meus olhos arregalados quando eu o observo. — Pai? O


que você está fazendo aqui?

— O que estou fazendo aqui? — Sua voz é frenética. Eu posso ver manchas
pelas laterais do seu rosto não barbeado. — Meu filho está no hospital. Onde
mais eu estaria?

Não tenho ideia de como ele chegou aqui. Eu nem sei se estou apenas
sonhando isso. Tudo o que sei é que ele está aqui, de uma forma ou de outra, e
está sóbrio.

Ele também está chateado. E triste.

— Que porra você estava pensando, Beau?

Meu monitor cardíaco apita. Eu quase quero rir disso. Sim, sem merda, ele
aumenta minha pressão arterial.

— Você poderia ter morrido!

— Você acha que eu não sei disso? — Eu atiro de volta.

Ele olha para mim então, e a dor em seus olhos é algo que não posso
encarar. Eu tenho que olhar para longe dele, mas ele ainda consegue me
alcançar, sua voz embargada.

— Você... Você estava tentando...?

— Não — Eu digo imediatamente. — Não. Eu só... Eu estava provando que


você está certo, pai. Vivendo meus sonhos como o pedaço de merda sem valor
que você sempre soube que eu poderia ser.
Ele não só senta tanto como colapsa na cadeira, seu rosto em suas mãos.
Depois de um longo momento, ele finalmente fala novamente.

— Eu fiz isso.

Eu sei o que ele quer dizer, e a merda é que uma parte de mim não
discorda dele.

— Tenho certeza que você não me forçou a começar a beber, pai.

— Que escolha você teve? — Ele pergunta, sua voz tensa. — Eu jurei que
nunca faria isso, e aqui estamos nós. — Ele solta um suspiro e continua: —
Meu pai era um bêbado horrível. Ele fazia isso desde o momento em que
acordava até o momento em que desmaiava. Não trabalhava. Não fazia nada
além de beber. Ele apenas recolhia seus cheques por invalidez e nos mandava
para a loja de bebidas para ele quando ele estava bêbado demais para dirigir.
Eu disse a mim mesmo que nunca seria assim. Eu nunca daria esse tipo de
exemplo para meu filho.

— Você não é assim, pai — eu digo, uma parte de mim se sentindo irritado
com o fato de que de alguma forma eu tenho que ser o único a acalmar seus
medos.

— Não, eu sou pior que isso. Depois que sua mãe começou a ter um caso...
Eu não sei. Não é desculpa. Não importa que você seja um homem adulto
agora. Eu tenho sido um péssimo Pai. Mas eu quero fazer as coisas direito.

Eu me afasto dele, focando em um ponto na parede. Ele prometeu antes


que ele pararia de beber, e eu simplesmente não consigo ouvir isso agora.

— Eu assinei os dois para um programa— diz ele, colocando a mão no bolso


e pegando o telefone. Ele traz um site e mostra para mim.
— Eu não preciso de um maldito programa — eu digo, empurrando o
telefone para longe.

Lágrimas ardem nos meus olhos de novo e sinto-me ainda mais fracassado
porque sei que isso não é verdade. O que eu faço? Não é apenas "bebida
social", seja lá o que isso signifique. Eu sei quando bebo. Eu sei por que eu
bebo. E eu sei que faço muito isso. Eu posso não ser o mesmo tipo de
alcoólatra que meu pai é... Mas eu sou um alcoólatra.

Eles dizem que admitir é metade da batalha - que levanta um peso de você
só se ver através de olhos sóbrios. Mas eu ainda sinto que estou enterrado
abaixo de algumas centenas de toneladas de merda.

— Nós dois precisamos, Beau — ele diz suavemente. — E eu preciso de você


lá comigo. Eu não posso fazer isso sem você, filho, e eu não acho que você
pode fazer isso sem mim. Já é hora de eu começar agir como seu pai e estar lá
para apoiá-lo. Começando com isso.

Minha garganta se contrai e eu cometo o erro de olhar para ele. Eu não sei
o que espero, mas a sinceridade acaba com qualquer outra defesa que eu
tenha. Eu engulo o enorme nó na garganta e lentamente aceno.

— OK — eu digo em um quase sussurro. — OK.

Seus braços vêm ao meu redor, e eu sou arruinado por soluços de corpo
inteiro enquanto choro contra sua camisa. Eu não sabia o quanto eu precisava
disso, e mesmo assim, tudo que consigo pensar é que eu gostaria que Lance
estivesse aqui também.
Quando o treinador Garvey primeiro sugere que eu tire uma folga, sinto-
me o maior fracasso do mundo.

Não fui eu que acordei no hospital. Eu não sou aquele que de repente foi
empurrado para os holofotes durante um dos seus pontos mais baixos. A única
coisa errada comigo é o fato de que me sinto culpado por trazer tudo isso para
Beau.

Mas quando voltamos para Eastshore e me vejo invadido novamente pela


imprensa, decido aceitá-lo. Tenho medo do que posso fazer se tiver que lidar
com eles todos os dias, e a última coisa que a equipe precisa é que eu seja pego
batendo num repórter.

Então, por duas semanas, eu me escondo em minha casa. Naquele


primeiro dia, uma equipe de filmagem monta do lado de fora, só esperando
pegar alguma coisa. Eu fecho todas as cortinas e me escondo até que elas
eventualmente ficam entediadas e seguem em frente. Por fim, só tenho que
fazer chamadas, mandar textos e e-mails, e tudo isso é fácil de bloquear.

O que não é fácil de bloquear é o puxão que sinto por Beau. Eu me


certifiquei de que ele ficasse bem e até mesmo ouvi que ele e seu pai estavam
indo para algum programa de tratamento. Eu quero estar mais envolvido. Eu
quero estar lá para ele; ajudar ao apoiá-lo. Eu quero que ele saiba que eu me
importo. Inferno, neste momento eu me contentaria em ouvir sua voz.
Mas não consigo me obrigar a fazer isso. Toda vez que eu pego meu
telefone, meu dedo hesita em suas informações de contato. É patético, e eu me
escondo atrás do meu medo da imprensa perseguindo-o quando realmente
estou com medo de que, se eu o ver de novo, tudo termine.

Xavier vem uma vez, mas nada realmente muda na minha rotina até que o
técnico Garvey pergunta se ele pode aparecer. Eu digo a ele para trazer sua
esposa junto que eu vou grelhar bifes para todos. O treinador ajuda enquanto
sua esposa prepara os acompanhamentos, e nós conversamos no quintal,
fazendo conversa em enquanto tomamos conta dos bifes.

— Eu ouvi de Beau hoje — ele finalmente diz em uma transição que é tão
perfeita que parece natural.

— Oh sim? — Eu pergunto, ignorando o nó na garganta. — Como ele está?

O treinador me dá o mesmo sorriso paciente que ele usa com os caras. —


Ele está indo bem. Ele e seu pai completaram o programa interno. Agora eles
estão dando outros passos. Eu conversei com seu conselheiro e eles acham que
vai ser bom para ele voltar a jogar futebol.

Isso é um alívio. Eu sei o quanto Beau ama jogar. Isso o mataria se ele
tivesse que ficar o resto da temporada fora.

— É claro, a administração está respirando no meu pescoço. Todo mundo


no país sabe o que aconteceu naquela noite, e nós vamos ser responsabilizados
se isso acontecer de novo. Significa que eu tenho que ficar de olho nele, e
testa-lo todo mês por drogas.

Minha testa franze quando eu viro um pedaço de bife. — Eu acho que é a


melhor alternativa.
Eu não digo a ele que é degradante. Beber é uma parte tão importante da
vida universitária que não há como eles realmente poderem monitorá-lo. Se
houvesse, a NCAA perderia a maioria de seus times de futebol. A droga que eu
recebo, mas até onde eu sei, isso foi uma coisa única.

— Eu vou falar informalmente agora, e quem sabe, eu posso estar saindo


da linha com isso. Mas você realmente precisa falar com esse garoto.

Eu suspiro, olhando para longe dele. — Eu sei. Eu fiz um trabalho de


merda como seu treinador.

— Eu não estou falando sobre o seu papel como seu treinador. Olha, filho.
Eu não te conheço muito bem, mas eu sei o que vi. Você estava infeliz no
campeonato. Parecia que estar aqui era uma grande melhora, e eu não acho
que é tudo por causa de uma mudança de cenário.

Ao meu lado, ele cutuca os legumes que embrulhamos frouxamente no


papel alumínio. As pontas chamuscadas dos espargos espiam pelas beiradas.

— Nunca pensei que eu estaria treinando uma equipe que todo mundo
acha que é progressista. Mas eu vi garotos saírem de suas conchas aqui. Eu os
vi se tornarem os homens que deveriam ser, sem ter que se preocupar com
seus companheiros de equipe julgando-os por isso. Falei com caras que me
disseram que queriam vir para a Eastshore porque é um espaço seguro para
eles.

— É uma grande parte do por que eu aceitei o trabalho — eu digo, sorrindo


para ele. — Você tem algo especial aqui.
— Eu sei — ele diz, devolvendo meu sorriso, — mas você também, Lance. O
que quer que você tenha, você parece feliz aqui. E é hora de você descobrir o
quanto disso é por causa de Beau.

Minha respiração fica presa na minha garganta. Eu imaginei que ele estava
apenas tentando me convencer a ficar em Eastshore no final desta temporada,
mas ele está... Tentando salvar meu relacionamento por mim?

— E a NCAA?

— Treinadores e jogadores namorando são 'desaprovados', mas não há


nenhuma regra real nos livros. A escola ainda vai querer ficar de olho nas
coisas, ter certeza que ele não está recebendo uma vantagem injusta. Mas eu
confio em ambos para entenderem isso.

Concentro-me nos bifes, virando os dois últimos que precisam ser cozidos
no meio. Uma pequena parte de mim está desesperadamente agarrando-se
àquele fragmento de esperança. O resto de mim ainda está preocupado com o
que eu tenho a oferecer. Sem mencionar o fato de que eu praticamente
abandonei Beau quando ele mais precisava de mim.

— Vou pensar sobre isso — digo a ele, e é a resposta mais honesta que
posso dar agora.
Eu penso muito nos próximos dias, mas ainda não decidi. Tudo o que sei é
que estou cansado de não falar com o Beau. Eu quero ouvir sua voz, mesmo
que seja só por alguns minutos antes que ele me diga para ir me foder.

Sentado na beira da minha cama sem querer levantar e começar meu dia,
abro suas informações de contato e debato sobre o envio de um texto ou
realmente ligar para ele. Meu dedo passa sobre a opção de texto, mas a tela
muda e o telefone muda o foco. É o meu agente, John, e apesar de me sentir
tentado a ignorá-lo, sei que devo a ele pelo menos uma conversa. Ele tem sido
bom para mim nas últimas duas semanas, principalmente respeitando meus
desejos de ser deixado sozinho.

— Ei, Lance! — Ele diz assim que percebe que eu atendi. Ele está muito
mais esperto do que o habitual. — Eu tenho ótimas notícias.

— Você descobriu como voltar no tempo? — Eu pergunto ironicamente.

— Melhor que isso. Olha, eu sei que você queria algum tempo para relaxar,
mas enquanto você estava fora, eu estava trabalhando duro e finalmente posso
dizer que consegui alguns resultados sérios para você.

Eu posso sentir minha cabeça começando a doer apenas pensando sobre o


que esses resultados podem ser. — Parece ótimo — murmuro.

— Eu jantei com o treinador dos Rattlers na semana passada, e ele me


disse que eles estavam morrendo de vontade de ter você na lista deles. Eles
estão até dispostos a igualar seu salário inicial da NFL, que é sem precedentes,
Lance. Isso é o quanto eles querem você.
Eu deveria me sentir animado, ou pelo menos orgulhoso. Uma equipe
decente me quer, e eles me querem o bastante para investir uma fortuna
considerável em mim.

Mas em vez disso eu me sinto... Exausto.

— Agora, há uma pequena coisa com isso: eles precisam saber que você é
uma escolha estável, e isso significa fugir daquele acidente de trem que você
está passando em Eastshore.

— Desculpe-me? — Eu pergunto, esperando não significar o que parece que


ele quer dizer.

— Vamos lá, Lance. Você tem que admitir que o garoto é um sonho
molhado de um jornalista. Você queria ficar longe da imprensa seguindo cada
movimento seu, certo? Eu posso te dizer que não vai acontecer com ele na
foto.

— Ele estava na merda do hospital, John.

— Porque ele bebeu para quase ficar em coma. Olha, eu sinto muito pelo
garoto, mas a simples verdade é que se você quer uma chance na IFL...

— Não. Você sabe o que, eu não estou fazendo mais isso. — Ele começa a
me interromper, mas eu continuo falando. — Eu não quero ir para a IFL. Eu
não quero voltar para a NFL. Eu não quero ter nada a ver com o futebol
profissional desde que saí. Eu aprecio o que você e todo mundo fez por mim,
mas eu estou fora. Eu vou pagar suas taxas pelo o resto do ano e, e mais um
pouco, mas eu estou feito.

— Você precisa de mim, Lance. Sem mim, você seria...


— Muito mais feliz — eu termino por ele.

E então eu simplesmente desligo o telefone.

Claro que ele liga de volta. Ele provavelmente vai continuar ligando de
volta. Ele pode até enviar assistentes para minha casa. Mas eu não me importo
mais. Terminei de tentar fazer o que eles querem que eu faça, ou seja, o que
eles querem que eu seja. Estou cansado de colocar uma máscara para lidar
com as pessoas.

Houve um tempo em que estar na NFL era a única coisa que eu queria, mas
eu vivi essa vida. Eu sei o quão superficial é quando seu agente está vendendo
você como uma marca e não promovendo você como um atleta ou - Deus me
livre - uma pessoa. Eu vivi isso e não quero participar disso.

Há caras por aí que precisam dessa perspectiva - que precisam de alguém


para afastá-los dos abutres que farão uma refeição com seus restos mortais. A
equipe precisa disso, e Beau também precisa disso.

Não sei se algum dia seremos mais do que jogador e treinador, mas pela
primeira vez na vida sei o que quero e, mais importante, o que não quero.

Tudo o que tenho que fazer agora é pegar.


Eu honestamente não esperava que o treinador me fizesse jogar pelo resto
da temporada.

Quando ele me disse que meu conselheiro acha que seria bom para mim
jogar, imaginei que iria praticar, trabalhar duro lá e passar muito tempo no
banco até provar que eu não sou um completo fodido.

Mas não. Por alguma razão louca, o treinador Garvey parece confiar em
mim para jogar, mesmo quando as apostas são altas.

Ele está se concentrando no ataque desde que Lance foi embora. Acho que
todos sentem sua ausência, mas nenhum deles menciona quando estou por
perto. Eu tento não pensar nisso, porque a verdade é que eu me sinto triste
quando eu faço. Tenho a sensação de que ele simplesmente não vai voltar e
não o culpo.

Talvez não esteja tudo em meus ombros, mas ele provavelmente teria
conseguido entrar no território "não tão interessante" se tivesse continuado
com os Tigers. Em vez disso, ele foi pego comigo. E então eu fiz um idiota
completo de mim e dele em uma noite.

Não, eu não iria culpá-lo por sair. Mas ainda dói.

Eu acho que, por essa razão, é uma coisa muito boa que o treinador está
me deixando jogar. Em vez de pairar, sentado no banco e me perguntando se
Lance está observando de sua casa grande, eu posso chegar lá em cima no
campo, sentir a grama, sentir a batida da bola contra minhas luvas, deleitar-
me com uma entrada dura porque pelo menos significa que estou vivo.

Nós corremos para o campo do nosso túnel, e quando meu nome e número
são chamados pelos alto-falantes, o estádio explode em aplausos. Eu posso ver
pessoas em pé, agitando sinais, e meu coração aperta no meu peito quando
percebo que estão aqui para me apoiar.

Meu olhar varre as fileiras de pessoas, procurando uma em particular. Eu


localizo meu pai perto da frente, perto do nosso banco. Ele está torcendo com
mais entusiasmo do que qualquer um lá fora, e eu tenho que me esforçar para
manter minhas coisas juntas.

As coisas estão bem melhores entre nós. Imperfeito. Eu encontrei uma


garrafa que ele escondeu acima da geladeira e nós conversamos sobre o fato de
que ele sentiu como se precisasse de uma rede de segurança para os dias
realmente ruins. Mas as coisas são melhores do que eram. Por mais terrível
que seja, sinto que isso nos deu uma maneira de nos entendermos, e estamos
trabalhando em maneiras de lidar sem usar o álcool como muleta.

Quando eu disse a ele que estava jogando, ele prometeu que viria ao meu
jogo hoje. Eu realmente não acreditei muito nisso. Ele não veio a um jogo
desde que eu estava no ensino médio. Mas vê-lo aqui agora me faz pensar que
talvez as coisas possam mudar. Talvez possamos ter o tipo de relacionamento
que eu queria quando estava crescendo.
Isso me dá impulso suficiente para eu começar o jogo forte. Nós não
pontuamos na nossa vez com bola, mas eu pego um primeiro down47 com o
meu lançamento e a multidão age como se fosse à coisa mais incrível que já
existiu. A defesa nega sua passagem, e quando nós pegamos a bola novamente,
eu já posso dizer que o Estado da Flórida está ficando cansado de ouvir nossos
fãs.

Dez minutos do terceiro período, Brady joga um simples Screen Pass48. Eu


corro no meu lado, os LBs pressionando o quarterback. Espero que ele jogue
para fora, mas ele joga na minha direção. Seu Cornerback49 salta no ar. Minha
interferência é a única razão pela qual não surge uma interceptação, mas nos
custa uma bandeira e qualquer esperança de salvar o período.

— Merda, Woodridge, me desculpe — seu Cornerback insulta. — Você não


vai voltar a beber agora, vai? Maldição, eu espero que não tenha provocado
você. Ei, se você precisar de algo para fazer você se sentir melhor depois que
vocês forem destruídos, eu tenho algo para você.

Ele se encolhe através de suas calças, um gesto que dura apenas um


segundo antes de Cortez empurrá-lo com tanta força que ele se esparrama no
chão. Bandeiras voam de todas as direções, e nós acumulamos tanta
penalidade de jardas que somos colocados em um lugar horrível quando
punidos.

47 É a expressão utilizada para dar nome a jogada que se inicia. Cada equipe tem direito a quatro

downs (chances) para ganhar as 10 jardas e iniciar uma nova sequência de jogadas.
48 Passe curto que visa ganhar jardas a partir de bloqueios, onde normalmente jogadores da linha

ofensiva abrem espaço para o recebedor.


49 Cornerbacks (CB) – São os jogadores que ficam nas pontas cobrindo os recebedores (WR)

adversários para não deixar que recebam os lançamentos ou ainda tentar interceptar a bola.
Tudo simplesmente vai para baixo a partir daí. Nós só jogamos por sete
minutos indo para o meio, mas parece muito mais. Entro no vestiário,
tentando manter a cabeça erguida, mas já me sinto abatido.

Eu não estava pronto para isso.

Eu faço o meu melhor para desligar, pegando meus fones de ouvido, mas
atrás de mim eu ouço um monte de garotos gritando. Eu me viro para olhar e
vejo a última pessoa que eu esperava aqui: Lance.

É provavelmente a melhor coisa que eu poderia ter desejado agora, mas


também é a pior. Apenas ter um vislumbre do seu sorriso me faz sentir mais
leve, como se os fardos que estou carregando não são tão pesados. Mas a
realidade óbvia é que Lance não está aqui para mim. Ele está aqui para o time
dele.

Ele olha para mim do outro lado do vestiário, chamando minha atenção.
Eu dou-lhe um pequeno sorriso, principalmente porque eu não sei mais o que
fazer. Quando ele sorri de volta, eu me sinto como aquele garoto idiota
novamente que estava totalmente apaixonado por ele.

Eu não posso fixar meu desempenho no terceiro período nele, mas posso
dizer que ele foi definitivamente uma distração. Com ele assistindo, eu me
esforço mais, mas não mais esperto. Enquanto o QB está gritando, eu estou lá
pensando no que a presença de Lance significa, e se ele vai ficar por aqui
depois desse jogo.

A bola salta dos meus dedos, desliza pelas minhas palmas e apenas passa
direto por mim, porque eu nunca cheguei onde eu precisava estar. Eu estou
jogando horrivelmente, e não é surpresa quando o treinador finalmente tem
que me tirar.
Eu tomo um longo gole da minha garrafa de Gatorade e, pelo canto do
olho, o vejo e Lance conversando. O treinador acena com a cabeça, então
Lance começa a andar em minha direção e meu coração dispara em um ritmo
frenético.

— Eu quero você de volta lá — ele diz — mas acho que eles entraram na sua
cabeça.

— Estou na minha cabeça — eu digo rispidamente, sem olhar para ele.

Lance se agacha para que ele possa estar ao nível dos meus olhos. Apesar
dos meus melhores esforços, não posso desviar o olhar daqueles lindos olhos
azuis dele.

— Você é um jogador melhor do que isso, Beau — diz ele, sua voz cheia de
convicção. — Você sabe disso e eles sabem disso.

Eu apenas dou de ombros com isso. — Não mais.

— Se eu acreditasse nisso, eu não estaria aqui — ele diz baixinho.

Eu procuro seus olhos, tentando descobrir o que ele quer dizer. Algo passa
entre nós. Algo que dá vida a essa pequena centelha de esperança dentro de
mim. Eu o amo e o odeio por isso.

— Nós tínhamos um acordo — continua ele, — e, no que me diz respeito,


ainda temos. Se uma chance nos profissionais é o que você quer, eu ajudarei
você a chegar lá. Da maneira certa. Mas tem para começar aqui.

Eu não posso deixar de rir disso. — Vamos lá, Lance. Eu não posso nem
lidar com o futebol universitário sóbrio. Vou me destruir nos profissionais.
— Eu não acredito nisso. Você sempre foi um jogador melhor - e uma
pessoa melhor - sóbria. O cara que eu conheci, o cara que eu...

Eu prendo a respiração, esperando pelas palavras, mas tudo que ouço é o


frenético clique das câmeras. Meus olhos se fecham e minha mandíbula se
aperta.

— Sinto muito — diz Lance em um quase sussurro. — Eu vou me livrar


deles depois do jogo.

— Você não deveria ter que se desculpar por eles — eu digo, e essa pequena
centelha de esperança é apagada aos poucos.

Eles nunca vão deixar Lance em paz, e eu não o culpo por não querer sua
vida privada lá fora para todo mundo ver. É bem simples. Enquanto ele ainda
for Lance Harper, nunca haverá nada de real entre nós.

Mas o que ele está oferecendo... É minha melhor chance. Eu posso não
precisar escapar da Eastshore como fiz quando começamos este acordo, mas
eu ainda quero ir pros profissionais. Esta é a minha chance de aprender com
ele, trabalhar com ele e melhorar sob sua orientação.

E talvez possamos ser amigos novamente. Eu poderia usar um amigo,


mesmo que dói pensar nele como apenas isso.

O canto da minha boca puxa em um sorriso quando uma nova resolução se


instala em mim. — Se eu ajudar a ganhar isso, vamos colocar pimenta na pizza
na próxima vez.

Ele ri disso, um sorriso iluminando suas feições. — Combinado.


Dói muito saber que não posso ter tudo dele. Mas esta é minha chance de
retribuir, mostrar a ele o quanto ele fez por mim. Eu não posso desperdiçá-la.
Eu não posso decepcioná-lo.

E então, quando o treinador Garvey me coloca de volta durante a próxima


jogada, eu cavo fundo e vou para esses filhos da puta com tudo o que tenho.
Beau é uma força absoluta da natureza.

Eu o assisto do lado de fora, e assim que ele corre para o campo, eu posso
ver a diferença nele. Ele apenas irradia confiança, a cabeça erguida, as costas
retas e altas, caminhando firme e seguramente.

A defesa percebe a mudança também. Ficam inquietos, arrastando-se


como cavalos nervosos tentando decidir se devem ou não fugir. Quando todos
se põem na linha de scrimmage, não posso evitar o sorriso quase feroz que
puxa meus lábios.

Eles fizeram a escolha errada.

Naquele primeiro snap 50 , Brady cai de novo no pocket 51 , fura para a


esquerda, depois dispara uma espiral apertada no lado direito do campo. Ela
navega nas luvas em espera de Beau, e ele a enlaça perto de seu corpo,
esquivando do Cornerback que tenta derrubá-lo.

Ele é derrubado, mas só depois de ganhar vinte e dois metros de um passe


de oito jardas.

50 Movimento que o Center realiza para dar início a jogada, passando a bola por entre as pernas para o
quarterback.
51 Formação na qual a linha ofensiva diminui os espaços entre si para proteger melhor o quarterback,

utilizada em situações de passe.


A ofensiva leva isso até o fim, e eu posso ver o crescimento neles como uma
unidade coesa. Eles estão todos trabalhando juntos, assistindo uns aos outros,
e eu sei melhor do que qualquer um que uma vez que eles caiam em sincronia,
nada pode pará-los.

Beau pode não perceber, mas ele é o coração desse ataque. Sua confiança,
seu impulso é o que leva o restante deles a um ritmo acelerado, e o que, afinal,
os mantém lá pelo resto do jogo.

Eu assisto a jogadas insanas, que define carreira, enquanto os Tigers


agarram seu caminho de volta, todo o esforço que culmina em um jogo de
parar o coração que finalmente decide o jogo.

A linha está montada bem na frente das vinte jardas. Graças a uma
penalidade. Uma field goal52 não fará isso - não quando os Seminoles podem
queimar tempo do relógio depois. Os defensores sabem que tudo o que
precisam fazer é segurar a linha, pressionar o QB e manter o jogo.

Mas nossos meninos estão prontos.

A linha ofensiva segura seus maiores caras, e minha respiração fica presa
na garganta quando vejo um LB romper apesar disso. Ele vai para Brady,
vindo em torno de seu lado cego, a um passo de derrubá-lo. Brady o vê no
último momento e chuta a bola, sendo derrubado no chão logo depois.

Deve ser o fim do jogo. A bola deve estar morta ou, pior ainda,
interceptada.

52 Field Goal: Quando se acerta um chute entre as duas traves adversárias, vale 3 pontos.
Mas Beau viu isso, mesmo na loucura da zone coverage53. Ele luta por
posição e ele arranca a bola do ar, protegendo-a com sua vida. Ele torce para
fora de um tackle 54 , evita outro e dispara numa explosão de velocidade
deixando todos os outros para trás em seu caminho para a linha do gol.

Eastshore toma a liderança pela primeira vez em todo este jogo, e o


estádio apenas entra em erupção.

O Estado da Flórida tenta fazer algum tipo de movimento, mas os fãs são
absolutamente ensurdecedores, fechando-os completamente. Nós ganhamos o
jogo por quatro pontos, garantindo nosso lugar na pós-temporada.

É uma sensação incrível, muito melhor pelo fato de os caras levantarem


Beau sobre os ombros após a vitória, comemorando como se tivessem acabado
de ganhar o Super Bowl.

Tanto quanto eu estou preocupado, eles têm.

O vestiário é um caos completo, e pela primeira vez, os repórteres que


estão aqui de volta não se importam comigo. Eles conversam com Beau, Brady
e Cortez e todos os outros caras que fizeram a vitória acontecer.

Preciso de uma boa hora para chegar perto o suficiente para falar com
Beau. Quando eu faço - uma vez que estou olhando para aqueles olhos verdes
claros - quase me esqueço de tudo o que planejava dizer.

— Você fez um trabalho incrível — eu digo, dando o elogio de um treinador


primeiro. — Você deve estar muito orgulhoso de si mesmo.

53 É um esquema de defesa no futebol americano usado para proteger contra um passe.


54 Ato de derrubar o adversário.
Eu posso ver um pouco de cor em suas bochechas. — Sim, eu estou bem
com isso.

Eu dou um tapinha no ombro dele, mas mesmo apenas tocá-lo de uma


maneira tão inocente me faz desejar muito mais. Eu quero desesperadamente
puxá-lo para um beijo, mas não tenho ideia de onde estamos.

Pelo que sei, Beau decidiu que não vale a pena. Ainda assim tenho que
tentar.

— Você tem alguns minutos? — Eu pergunto baixinho, empurrando meu


queixo em direção à porta. — Há algo que eu preciso dizer.

Meu coração dispara e, apesar da distância entre nós, eu quase posso sentir
o seu acelerando também.

— Sim, claro.

Ele se dirige para a porta e eu o sigo assim, feliz que os repórteres pareçam
ocupados. Mas assim que saio, vejo onde o resto deles foi avisado para
esperar. Não é tanto quanto eu esperava, mas é o suficiente para me deixar
nervoso. E agitado.

Beau pega imediatamente.

— Está tudo bem. Podemos conversar mais tarde — diz ele, pegando a
porta.

Eu sabia que essa atenção não iria parar durante a noite. Eu sei que há
uma boa chance de que não pare até que alguém mais interessante apareça.
Mas, pela primeira vez, percebo que nada disso está sob meu controle e, o que
é mais importante, não deveria ditar o modo como vivo minha vida.
Eles sempre podem estar aqui, mas e daí? Eu vou estar aqui também, e se
eu tiver o meu caminho, o mesmo acontecerá com Beau.

Eu estendo a mão para o braço de Beau. Eu posso ouvir as câmeras


clicando, mas eu não me importo mais. Ele olha para mim, seus olhos
esperançosos e eu sei que tudo que eu quero no mundo está aqui.

— Você quer um pouco de Clickbait55? — Eu pergunto, finalmente, olhando


para a imprensa reunida. — Que tal isso: Meu nome é Lance Harper, ex-Wide
Receiver do Jacksonville Jaguars, atual coordenador ofensivo dos Eastshore
Tigers. Sou bissexual. E... Estou apaixonado por Beau Woodridge.

Sua ingestão aguda de ar é tudo que ouço, embora eu saiba que todo
mundo está assistindo isso, todos os sites que dependem disso para vender
anúncios devem estar ficando loucos. Eu volto para Beau, encarando-o
diretamente nos olhos, inabalável enquanto eu derramo meu coração para o
mundo ver.

— Quando cheguei aqui, tudo que eu queria fazer era simplesmente... Não
existir. Eu estava tão cansado de ser quem as pessoas esperava que eu fosse.
Mas a partir do momento em que nos encontramos, você me mostrou que eu
não precisava ser assim. Eu sempre fui apenas Lance quando estava com você,
e eu... Não posso dizer o quanto isso significa para mim.

— Isso é tudo que já me importou — diz ele, sua voz calma, seu rosto a
centímetros do meu. — Quero dizer, eu não vou mentir: eu posso ter tido uma

55 Clickbait (também conhecido por sua tradução para o português caça-clique) é um termo pejorativo

que se refere a conteúdo da internet que é destinado à geração de receita de publicidade on-line,
normalmente à custa da qualidade e da precisão da informação, por meio de manchetes sensacionalistas
e/ou imagens em miniatura chamativas para atrair cliques e incentivar o compartilhamento do material
pelas redes sociais. Manchetes clickbait costumam prover somente o mínimo necessário para deixar o
leitor curioso, mas não o suficiente para satisfazer essa curiosidade sem clicar no conteúdo vinculado.
coisinha por Lance Harper. — Seus lábios se contorcem em um sorriso. — Mas
ele não é o cara que eu amo. Você é.

Eu o alcanço, descansando minha palma contra seu rosto, sua barba


fazendo cócegas em meus dedos. Ele se inclina em meu toque, adoração
brilhando em seus olhos. Eu nunca percebi o quanto eu queria ouvir essas
palavras dele, mas agora que elas estão por aí, parece que finalmente
encontrei a parte de mim que estava faltando.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Ele me pergunta, seu olhar
passando rapidamente para o nosso público. — Nós vamos ser colocados em
exibição.

Ele não se importa com isso. Eu posso ouvir em sua voz, ver em seus olhos.
Ele está disposto a ignorá-los e continuar vivendo sua vida, do jeito que eu
deveria ter feito anos atrás. E se ele pode fazer isso por mim, com certeza
posso fazer isso por ele. Por nós dois.

— Acho que é melhor darmos um show a eles, então — eu digo, sorrindo


para ele antes de eu fechar a distância entre nós, puxando-o para mim para o
tipo de beijo que com certeza vai estar na primeira página.

E pela primeira vez, não estou preocupado sobre o que imprensa dirá sobre
isso. Deixe-os escrever o que eles querem. Beau e eu sabemos a verdade disso,
e isso é tudo que importa.
No final, a imprensa se cansou de nós depois de seis meses.

As primeiras semanas foram um inferno. Fizemos o nosso melhor para


evitar todos os meios de comunicação, mas é como deixar de lado os
comentários sobre qualquer vídeo do Youtube já criado. Você sabe que não
deveria lê-los. Você sabe que eles só vão te deixar com raiva. Mas você não
pode evitar. Você tem que ver o desastre em primeira mão.

E no nosso caso, é um tremendo desastre espetacular. Os artigos que nós


lemos foram na maior parte especulativos. Nós até tivemos pessoas
expressando apoio para nós, e havia todo um subconjunto de meus fãs que
afirmavam que eles sabiam o tempo todo. Houve memes feitos sobre nós -
alguns deles realmente muito engraçados - e um monte de Fanfic que eu sei
que pelo menos um dos caras da equipe leu.

Mas depois daquelas primeiras semanas, nós apenas… Ignoramos isso.


Deixamos desaparecer no fundo. Era como se tivéssemos saído da tempestade
e ganhado o direito de ficar em uma garoa inofensiva. Fomos capazes de
aproveitar o bem e deixar que a trilha ruim se transformasse em um zumbido
monótono que mal se registrava, a ponto de até mesmo uma exposição de Jen
falar apenas de nós dois.
Eventualmente, os repórteres e blogueiros e todas aquelas pessoas que me
perseguiram durante a maior parte da minha carreira simplesmente pararam
de se importar. Dentro de três meses, após a grande final da Eastshore, o
número de pessoas que nos seguiam diminuiu drasticamente. Mais três meses
e eles mudaram para a próxima grande novidade.

Não é como se todo mundo tivesse parado de escrever sobre nós de uma
vez, mas o período de entressafra é na maior parte do tempo em que Beau e eu
podíamos relaxar e aproveitar nosso tempo juntos.

Nós conversamos sobre ele se mudar quando a temporada terminasse, mas


concordamos que ele precisava passar esse tempo com seu pai. Ainda nos
víamos todos os dias, e ele vinha para a minha casa o tempo todo, mas era
importante para ele estar lá - para ajudar o pai e a si mesmo. Demorou muito
para chegar lá. Nós passamos por alguns problemas difíceis. Longas noites em
que dissemos coisas que não queríamos dizer. Mas é só treze meses de Beau
sóbrios agora, e ele está ficando cada vez mais confortável com quem ele é
como pessoa.

Fui mantido como coordenador ofensivo da Eastshore e, sinceramente, é


muito mais gratificante do que minha carreira na NFL. Eu gostei do meu
tempo jogando profissionalmente, mas ajudar outros jogadores a atingirem
seu potencial é uma ótima sensação. Com a imprensa desaparecendo em
segundo plano, tive muito mais tempo para me concentrar apenas no time.
Agora, na minha segunda temporada como coordenador ofensivo, e no ano
Junior de Beau com os Tigers, acho que temos a chance de ser campeões da
SEC novamente.

Beau e eu estamos no meu lugar, antes do nosso quarto jogo da temporada,


com cerca de uma hora antes de termos que estar no campo. Estamos jogando
no Alabama, e eles estão tendo um ano tão bom que estamos muito
desfavorecidos. Mas nenhum de nós está preocupado. Na verdade, nem
estamos gastando esse tempo fazendo exercícios ou levantando pesos.
Estamos apenas relaxando juntos no meu sofá.

Eu tenho um controle em minhas mãos e estou focado atentamente na tela.


Estamos jogando um jogo 3x3 com o Xavi como um terceiro, e até agora
estamos arrebentando. Beau está sentado ao meu lado, inclinando-se para
frente e, pelo canto do olho, posso ver sua expressão; o rosto bonito que ele faz
quando se concentra em alguma coisa. Ele muda para um enorme sorriso
enquanto ele consegue eliminar o nosso último adversário.

— Isso aí. Topo das eliminações. Chupem isso nerds.

Eu bufo, ouvindo a voz de Xavier no meu fone de ouvido.

— Você também morreu como vinte vezes, cara — diz ele. — E eu não estou
sugando nada. Você tem Lance para isso.

Isso acontece toda vez que jogamos juntos. Beau e Xavi ficam super
competitivos um com o outro, Beau geralmente consegue uma vitória, e Xavier
se vinga dizendo algo que o faz corar. Eu posso ver o vermelho ruborizando
suas bochechas agora e não posso deixar de sorrir. Ele revira os olhos para
mim, mas depois abaixa as sobrancelhas, com um sorriso no rosto.

— Ainda tenho uma hora — diz ele sugestivamente.

— Isso deve ser minha sugestão para sair — diz Xavi. — Eu tenho que ir ao
ginásio de qualquer maneira. Chute a bunda dos Crimson Tide hoje.

— Nós vamos tentar — eu digo. — Mais tarde, cara.


Depois que Xavier se desconecta, eu fecho os menus. Beau se inclina para
frente e pega seu prato da mesa, dando outra mordida no macarrão que fiz
para o almoço mais cedo. Eu não vou fazer testes para o Top Chef em breve,
mas melhorei no ano passado. Eu até ajudei a preparar o jantar de Ação de
Graças em novembro passado, com um plano de apoio pronto para o caso de
eu estragar tudo.

Eu só estraguei um pouco, e Beau foi legal o suficiente ao mentir para mim


sobre o sabor estranho que meu purê de batatas tinha.

— Obrigado por tudo isso — diz ele depois de engolir.

Eu sei que ele não está apenas falando sobre o macarrão. Há uma razão
pela qual ainda estamos aqui agindo como se ainda fosse o período de
entressafra. — Você está nervoso?

— Foda-se, sim, eu estou nervoso — diz ele com uma risada.

Eu me viro para encará-lo, estendendo a mão para segurar seu ombro. —


Se eles não saírem desse jogo dispostos a fazer qualquer coisa para conseguir
você, então eles são idiotas.

Algumas semanas atrás, Xavi me deu a notícia de que a diretoria estava


procurando por novos jogadores para preencher a lista dos Jags. Eu puxei
algumas cordas, usei minhas amplas conexões para o bem, e dei algumas das
melhores fitas de Beau para um recrutador, e agora os recrutadores vão vê-lo
jogar. Eu sei que a pressão disso pesa sobre ele, mas ele tem muito mais
confiança do que costumava, e ele está pronto para isso.

— Bem, eles deixaram você ir embora, não é?

— Sob protesto — lembro-lhe com um sorriso.


Eu coloco o controle para baixo e me levanto, me movendo para ficar
diante dele. Alcançando suas mãos, eu o puxo para cima, seu corpo duro quase
colidindo com o meu. Eu envolvo meus braços ao redor dele, sinto-o relaxar
em meu abraço, e é tudo apenas... Certo. Tudo sobre isso está certo, e quando
olho para ele, posso dizer que ele concorda. Seus olhos estão embaçados, há
um sorriso nos lábios e, de repente, eu sei o melhor caminho possível para
livrar o resto de seus nervos.

— Que tal aproveitar ao máximo essa hora? — Eu pergunto, inclinando-se


para beliscar sua mandíbula.

— Como quiser, treinador.

Eu rio disso, e o jeito que seus olhos parecem brilhar faz meu coração
apertar no meu peito. Mesmo que hoje não seja o começo de uma nova
carreira para Beau, é mais um dia que passamos juntos, e apenas um dos
muitos que planejo ter com ele. Eu quero que ele receba boas notícias hoje. Eu
quero que os Tigers tenham uma temporada recorde. Eu quero que a
Eastshore me mantenha outro ano.

Mas tudo que eu preciso? Está bem aqui com o Beau, e não há nada no
mundo que possa tirar isso de mim.

FIM

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