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As Confissões
De tudo quanto Agostinho produziu, destaco aquela que muito
provavelmente foi a sua principal obra: As Confissões. Trata-se de
sua autobiografia, escrita em treze livros no curso de três anos,
entre os anos de 397 e 400. Há muito que se poderia falar sobre As
Confissões e seus benefícios e virtudes. Eruditos e literatas, tanto
da filosofia como da teologia, certamente já têm empreendido o
papel de analisar as muitas riquezas dessa obra e extrair o sumo de
seu rico conteúdo. Aqui queremos oferecer apenas um pequeno
vislumbre dessa que permanece como uma das mais importantes
obras literárias de todos os tempos.
Foi então que tuas perfeições invisíveis se manifestaram à minha inteligência por meio de
tuas obras. Mas não pude fixar nelas meu olhar; minha fraqueza se recobrou, e voltei a
meus hábitos, não levando comigo senão uma lembrança amorosa e, por assim dizer, o
desejo do perfume do alimento saboroso que eu ainda não podia comer11.
Buscava um meio que me desse força necessária para gozar de ti, e não a encontrei
enquanto não me abracei ao Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus,
que está sobre todas as coisas, Deus bendito por todos os séculos, que chama e diz: Eu
sou o caminho, a verdade e a vida.12
Ele ainda conta como Deus o alcançou e salvou e como ele passou
a perceber a mão providente de Deus nas diversas fases de sua
vida, além de ter uma noção mais plena e gozosa da beleza de
Deus, depois de sua conversão. As Confissões também são uma
expressão de adoração e uma declaração de amor e devoção a
Deus e nela ele exalta a Deus louvando-o pela criação. Num certo
ponto, ele confessa:
Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro de mim,
e eu lá fora, a te procurar! Eu, disforme, me atirava à beleza das formas que criaste.
Estavas comigo, e eu não estava em ti. Retinham-me longe de ti aquilo que nem existiria
se não existisse em ti. Tu me chamaste, gritaste por mim, e venceste minha surdez.
Brilhaste, e teu esplendor afugentou minha cegueira. Exalaste teu perfume, respirei-o, e
suspiro por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e o desejo de
tua paz me inflama.15
Notas:
1 - Bento XVI. Os Padres da Igreja (Campinas, SP: Eclesiae, 2012)
p. 183-184
2 - Richard D. Balge, Martin Luther, Agostinian (artigo publicado em
http://www.wlsessays.net/files/BalgeAugustinian.pdf), acessado em
novembro de 2013.
3 - Benjamin Breckinridge Warfield, John Calvin: the man and his
work (The Methodist Review, Outubro de 1909).
4 - Timothy George. Teologia dos Reformadores (São Paulo, SP:
Edições Vida Nova, 2004), p.76.
5 - Martinho Lutero. Luther Works, LI, xviii.
6 - Peter Fraenkel, Testimonia Patrum: The Function of the Patristic
Argument in the Theology of Philip Melanchthon (Genebra: Droz,
1961), p. 32.
7 - Recomendo a leitura do artigo de S. J. Han: An Investigation into
Calvin’s use of
Augustine (http://www.ajol.info/index.php/actat/article/viewFile/5221
4/40840), Acessado em novembro de 2013.
8 - Paul Helm. Apud em N. R. Needham, The Triumph of
Grace (London: Grace Publication, 2000), p.8
9 - Justo Gonzalez, A Era dos Reformadores (São Paulo, SP:
Edições Vida Nova, 2004), p.112.
10 - Basil Hall, Martin Bucer: Reforming Church and Community, ed.
D. F. Wright (Cambridge, UK: Cambridge Press, 1996), p. 150.
11 - Agostinho, Confissões (São Paulo, SP: Editora Nova Cultural,
1999), p. 185.
12 - Ibidem, p. 192.
13 - Ibidem, p. 190.
14 - Ibidem, p. 214.
15 - Ibidem, p. 285.
16 - Agostinho. Confissões. Nota de J. Oliveira Santos, apud, De
Bono Perseverantiae:Quid vero nobis primitus et maxime Deus
iubet, nisi ut credamus in Eum? Et hoc ergo ipse dat (São Paulo,
SP: Nova Cultural, 1999), p. 286.
17 - Ratzinger, Padres da Igreja, p. 201.
18 - ibidem, p. 193.