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CARNEIRO, SFBC
“Do desabrigo à confiança:
Daseinsanalyse e terapia”
CARNEIRO, SFBC
Daseinsanalyse
CARNEIRO, SFBC
DASEIN
• Prática terapêutica fundamentada no Dasein.
CARNEIRO, SFBC
Visão heideggeriana
• O que encontramos na base da existência
humana quando dirigimos o olhar para ela?
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DESAFIOS DO ATENDIMENTO
• A teoria serve de anteparo entre a experiência de
sofrimento do paciente e a impotência que
sentimos.
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SENTIDO DO ATENDIMENTO
modo do terapeuta estar na sessão
• Encontro entre duas pessoas, duas existências
singulares, uma que sofre, e outra que escuta e
que procura compreender o que está
acontecendo naquela vida.
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Em síntese
• A existência é o modo como o ser se dá. É a
própria abertura, compreensão do mundo; e
não apenas uma compreensão no sentido
intelectual, mas compreensão no sentido de
projetar-se, de abarcar o que se apresenta
(captar o para quê dos entes de determinada
situação). É uma compreensão sempre
imbricada numa disposição afetiva relativa ao
que é compreendido (p. 18).
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Existência
• A existência é abertura compreensiva e
disposta afetivamente.
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O PACIENTE
• O fenômeno que temos diante de nós é a existência de
alguém.
• “Isso supõe termos de lidar com tudo o que está
implicado naquele modo particular de ser-no-mundo.
Ali estão todos os significados e todos os afetos que
compõem aquele modo de existência, com tudo o que
eles trazem de esperança e de dor. Aquela existência é
sua história já vivida e a que se faz momento a
momento se abrindo para o futuro. Ali está um ente
que , dada sua condição de ser mortal, está sempre
deixando de ser, mas está , ao mesmo tempo, sempre
vindo-a-ser, dada sua condição de ser história” (p. 19).
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Objetivo do trabalho terapêutico
• O foco do nosso trabalho é a facticidade* da
existência da pessoa que nos procura no
consultório.
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Modos de aproximação
• Suspensão dos conceitos tradicionais da psicologia.
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Paradoxos
• Cada ser humano carrega em si todos os
paradoxos e todos os conflitos que significam
existir: sentimentos contraditórios; querer e
não querer ao mesmo tempo; precisar se
tornar si mesmo e se afastar de si mesmo;
precisar de um sentido para a vida e não
conseguir se dedicar a ele; saber da
necessidade do outro e sentir a dificuldade de
conviver com o outro; precisar de proteção e
saber de seu desabrigo.
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Resumo dos existenciais (pgs.43-47)
• Existenciais = caracteres fundamentais do Dasein. Tudo o que
ontologicamente caracteriza o Dasein.
– Ser-no-mundo
– Poder-ser
– Facticidade
– Decadência
– Cuidado
– Temporalidade
– Compreensão
– Projeto
– Ser jogado
– Disposição afetiva
– Discurso
– Impropriedade
– Corporeidade
– Ser-com-o-outro CARNEIRO, SFBC
Compreensão do paciente
• Nosso cuidado com a existência concreta do paciente é
permeada pelo compreensão que temos do Dasein
como ente que realiza sua essência no ter que cuidar
de seu ser, que está sempre em jogo.
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Caso clínico fictício (p. 50)
• Jovem de 20 anos, muito bonita. Sofre um
acidente de carro com o namorado. Seu rosto fica
desfigurado e passa por várias cirurgias.
• Namorado tem alta antes dela e some.
• Dizem que ela estava dirigindo o carro, e ela diz
que era ele, mas ninguém acredita.
• Trabalha com cosméticos e valoriza muito a beleza.
Sua vida, seus projetos se baseiam no fato de ser
bonita.
• Após o acidente, sente que, de uma hora pra
outra, sua vida acabou. Não há futuro, não pode
confiar em ninguém.
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Terapeuta
• A terapeuta é afetada pela paciente:
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Terapeuta
• Acolher a paciente na sua facticidade,
singularidade e não como “a-gente”:
(Opinião da tia psicóloga) “Por que uma menina sai
dirigindo desse jeito, certamente depois de beber
muito e, quem sabe, com alguma droga? Você não
vê que há no fundo uma vontade de acabar com a
vida?”
“- Ah tia. Você não está exagerando em concluir
assim sobre essa destrutividade da moça? A gente
não sabe nada sobre ela.” (p.53).
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Terapeuta
• Acolher a paciente na sua facticidade,
singularidade e não como “a-gente”:
“Alguma coisa , que ela [terapeuta] não sabia bem o
que era, tinha se esvaziado naquela hora, e se sentiu
sozinha.
Depois que ela saiu da sala, a tia ainda falou
para quem estava lá:
- Nos primeiros tempos de consultório é assim
mesmo. Ela está impressionada. Mas se você se
deixar levar assim pelos problemas dos outros, você
está perdida (...) cada coisa tem sempre sua
explicação” (p. 54).
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Terapeuta
• O modo como a pessoa vê a situação é mais
importante que o fato:
(Mãe não acredita que ela não estava dirigindo e
explica) “Me explicaram que quando uma coisa é muito
ruim, a pessoa começa a achar que aquilo não foi por
causa dela.”
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Terapeuta
• A terapia é um compartilhar junto ao paciente a
interpretação da facticidade da sua existência:
(sonho com terra marrom da cor de terra de
desenho de criança, terra mexida, toda revirada)
“Acho interessante o seu modo de explicar a cor da
terra dizendo que é cor de terra de desenho de
criança. Por que não é só cor de terra e pronto?
- (...) Tem um marrom nas caixas de lápis de cor
que é meio feio, mas tem um marrom cor de terra
que é bonito (...)
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Terapeuta
- Então a terra do seu sonho era bonita?
- Era bonita. O estranho era estar toda revolvida
(...)
A terapeuta ligou essa terra revolvida com o
sentimento da moça de ter tido sua vida toda
mexida nos último tempos. Mas não disse isso.
Apenas perguntou:
- Você já viu terra desse jeito?
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Terapeuta
- Assim, inteiramente mexida, não. Mas já vi
quando em algum lugar vai haver uma plantação
e então eles mexem a terra antes, ou quando vão
construir alguma coisa numa região e revolvem
tudo para nivelar, pra preparar o terreno.
Entende? É possível que fossem plantar ou, quem
sabe, construir lá naquela terra.
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Terapeuta
A terapeuta pensou: “ ainda bem que não falei o
que tinha pensado antes”. E disse: “-É parece que
sim. Numa terra bonita, marrom-cor-de-terra,
alguma coisa está pra ser plantada ou construída. E
tem a cor dos desenhos de criança. Desenhos de
criança. Isso diz alguma coisa pra você?
- Ora, desenho de criança a gente só faz quando é
criança. Depois, nunca mais. Outras coisas a
gente perde também quando cresce.
- Por exemplo?
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Terapeuta
- Confiança.
- Mas no seu sonho há um toque de criança, há
a cor de terra dos desenhos de criança. Será
que há um toque de confiança?
A moça rapidamente olhou pra trás. Havia
lágrimas em seus olhos quando ela disse pra
terapeuta:
- Será possível?
- É possível.” (p. 101)
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Paciente
• A procura por terapia em geral está ligada ao
sentimento de estar desabrigado, de se
encontrar na inospitalidade da existência:
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Paciente
• Cuidado, responsabilidade pela própria
existência:
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Paciente
• Terapeuta aponta possibilidades que estão aí. Não
as inventa:
“Você quer atingir alguém [com a sua revolta contra o
mundo]. Mas tem uma capacidade de amar que faz
com que não queira prejudicar certas pessoas; não
quer, por exemplo, que sua mãe e sua irmã sofram por
você. Apesar da sua revolta, você mantém essa
capacidade de ter consideração, de ter cuidado para
com os seres humanos. Isso é sinal de que o que
aconteceu não arrasou você totalmente (...) disse que
perdeu a confiança, mas tem confiado em mim
[terapeuta]. Alguns aspecto de seu mundo e de você
mesma estão preservados. A vida pode recobrar
sentido” (p. 85)
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