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ENSAIO ACADÊMICO
RECIFE
2023
A Hegemonia Cultural de Gramsci e a Revolução Cultural Chinesa: Uma
Análise Crítica
Resumo:
Este ensaio examina a teoria da hegemonia cultural de Antonio Gramsci à luz da
Revolução Cultural Chinesa, explorando como o Partido Comunista Chinês utilizou
estratégias de hegemonia cultural para consolidar e perpetuar seu poder durante
esse período tumultuado. A análise destaca a interseção entre ideologia, controle
estatal e transformação cultural, oferecendo insights sobre as dinâmicas complexas
da Revolução Cultural.
Introdução:
A Revolução Cultural Chinesa foi um fenômeno histórico e político de grande
magnitude que ocorreu na República Popular da China entre 1966 e 1976. Iniciada
por Mao Zedong, o líder do Partido Comunista Chinês, a revolução teve como
objetivo consolidar e perpetuar o poder do Partido, promovendo uma transformação
radical na sociedade chinesa. No entanto, ao contrário de outras revoluções com
foco predominantemente econômico, a Revolução Cultural Chinesa concentrou-se
principalmente em transformar as estruturas culturais e ideológicas da sociedade. O
período foi marcado por uma intensa mobilização política e perseguições em
pensadores e teóricos de sua maioria liberais, que eram considerados,
"revisionistas" ou "contra revolucionários" para o governo chines.
Mao Zedong buscou revitalizar o fervor revolucionário entre a população,
especialmente entre os jovens, convocando-os a se rebelarem contra as
autoridades estabelecidas e contra qualquer vestígio de pensamento considerado
contrário aos ideais do Partido Comunista.
Antonio Gramsci, teórico marxista italiano, oferece insights valiosos para entender
os aspectos culturais desse período por meio de sua teoria sobre hegemonia.
Gramsci argumentou que o controle político de uma classe dominante não poderia
ser mantido apenas pela coerção, mas também por meio da disseminação de uma
visão de mundo que fosse aceita e internalizada pela sociedade como um todo. Na
Revolução Cultural Chinesa, o Partido Comunista tentou estabelecer uma
hegemonia cultural através da reeducação ideológica, controle sobre a educação e
a cultura, e a promoção de uma nova forma de pensamento alinhada com os
princípios maoístas.
1. Revisão da Leitura
Os conceitos essenciais da hegemonia cultural de Gramsci se tornam relevantes ao
analisar a revolução cultural da China. Gramsci argumenta que a dominação de
uma classe não é mantida apenas pela coerção, mas também por meio da criação
de uma hegemonia cultural, onde as ideias da classe dominante se tornam as ideias
dominantes em toda a sociedade. A hegemonia cultural envolve a difusão de
valores, normas e ideologias que são aceitos como comuns por todos, mesmo por
aqueles que estão sendo subjugados. Na Revolução Cultural Chinesa, o Partido
Comunista Chinês, buscou estabelecer sua hegemonia cultural para consolidar e
perpetuar seu poder. Os Guardas Vermelhos, compostos principalmente por jovens,
desempenharam um papel central nesse processo. As raízes ideológicas da
Revolução Cultural remontam à interpretação maoísta do marxismo-leninismo. Mao
acreditava que a revolução não era um evento único, mas um processo contínuo
que exigia a purificação constante da sociedade para evitar a restauração do
capitalismo.
Os objetivos declarados da Revolução Cultural incluíam a eliminação de elementos
considerados "burgueses" ou "revisionistas" dentro do Partido Comunista e da
sociedade em geral. Mao buscava revitalizar o fervor revolucionário e instigar um
novo tipo de pensamento que estivesse de acordo com sua visão do comunismo.
Isso implicava desafiar as tradições culturais, intelectuais e políticas existentes. As
consequências culturais foram profundas. Instituições educacionais foram fechadas,
intelectuais foram perseguidos e obras consideradas contra-revolucionárias foram
censuradas ou destruídas. O culto à personalidade de Mao atingiu proporções
extremas, com sua imagem tornando-se onipresente.
3. Resistências e Contradições
Houve diversas formas de resistência à revolução cultural, resistência essa que
surgiu de contradições internas, lutas pelo poder e manifestações culturais que
desafiaram a narrativa até então instaurada pelo partido. Como conflitos internos
dentro do PCCh. Liu Shaoqi e Deng Xiaoping foram alvos da Guarda Vermelha, mas
representavam uma resistência interna a algumas das medidas consideradas mais
radicais. Os diferentes polos do PCCh refletiam as divergências ideológicas e
estratégicas, o que mais tarde resultou na posse de Deng Xiaoping à cadeira de
líder do partido, e por conseguinte, da China após a morte de Mao em 1976, que
também resultou no fim da revolução cultural. Também houve divergências e
conflitos dentro da guarda vermelha, como o de facções que demonstraram
resistência a certas práticas presentes no pensamento maoísta. A resistência
também ocorre no meio acadêmico e intelectual, onde esses pensadores que se
opuseram à ideologia oficial do país, escreviam suas críticas por meio da
clandestinidade. E por fim, a resistência no meio artístico, artistas encontraram
maneiras criativas de expressar descontentamento e resistência por meio de suas
obras. Pinturas, poesias e outras formas de arte subversiva desafiavam as normas
estabelecidas pelo partido, algumas obras eram codificadas com símbolos que
apenas quem era da cena artística chinesa poderia compreender o que era emitido.