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CÂMARA DO MEIO

(republicação)

Em 05.08.2014 o Respeitável Irmão Jason Paixão Miranda, Loja Luz e Saber nº 2.380, Rito Adonhiramita, GOB, Oriente
de Goiânia, Estado de Goiás, formula pedido para o seguinte esclarecimento:
jasonpaixaomiranda@gmail.com

Câmara Do Meio

Solicito a gentileza do Irmão estimado irmão, em podendo, me enviar sua abalizada consideração a respeito do assunto
“CÂMARA DO MEIO”, inclusive no aspecto metafísico. As considerações usuais são de que é o local onde se reúnem os
Mestres, isto é: uma Loja de Mestre. De acordo com os meus parcos conhecimentos, entendo ser isto muito pouco.
Considero que o assunto representa um pouco mais. Gostaria de saber mais a respeito. Saúde e Paz em Jesus!

Considerações:

Câmara do Meio é o título dado à Loja de Mestre na Moderna Maçonaria. Essa concepção começou a fazer parte do
especulativo maçônico após o aparecimento do Terceiro Grau (1.724) e sacramentado por ocasião da segunda Constituição
de 1.738 relacionada à Primeira Grande Loja em Londres.

Como uma Loja, exceto quando é o título dado à corporação, só existe em trabalhos abertos, uma sessão aberta no
Terceiro Grau, por extensão intitula-se Câmara do Meio.

A alegoria da Câmara do Meio já está presente na Tábua de Delinear inglesa (teísta) desde o Grau de Companheiro e se
relaciona diretamente com o Livro das Sagradas Escrituras: “A porta do lado do meio estava na parte direita da casa; e
subiam por um caracol ao andar do meio e deste para o terceiro” (todos os grifos são meus) – Reis I, 6, 8. Ainda em outra
versão bíblica: “A porta que levava à câmara do meio estava no lado sul da casa e por um caracol se subia ao segundo
andar e deste para o terceiro” (os grifos são meus). O lado direito da casa, sob o ponto de vista do Átrio, corresponde ao
Sul, ou Meio-Dia.

Em relação ao termo “caracol” inserido nos textos bíblicos, evidentemente se refere à Escada em Caracol, cujo emblema
possui alto valor simbólico já que essa “escada” de acesso para “câmara” representa a dificuldade e a sinuosidade que o
Obreiro tem que passar para atingir a Câmara do Meio (aperfeiçoamento), que nesse caso sugere o Santo dos Santos do
Templo de Jerusalém.

À bem da verdade a alegoria alude ao elo que existe entre o “meio-dia” (juventude) e o final da jornada à “meia-noite”
(maturidade e morte - o Mestre que ingressa no Oriente).

É dessa a relação maçônica existente entre a lenda da construção do Templo de Jerusalém e a Loja, mais especificamente
ao Oriente da Oficina, que explica o porquê de só se permitir o ingresso no Oriente em Loja aberta àquele que já tenha
atingido a plenitude maçônica – o Mestre.

Graças também a essa alegoria maçônica é que os Companheiros no Templo (Loja) ocupam sempre a Coluna do Sul, já
que pelo texto bíblico que dá origem ao apólogo, a porta que leva à Câmara do Meio (Loja de Mestre) simbolicamente está
situada no Sul.

Diga-se ainda de passagem que na alegoria do Templo o mesmo era um conjunto constituído por três partes – a primeira
se denominava Ulam (átrio) onde se formava a assembleia; a segunda chamada Hikal onde os sacerdotes desempenhavam
as suas funções e por fim a terceira nomeada Debir (santuário) onde era depositada a Arca de Aliança.

Com o advento da criação do grau de Mestre e por extensão da Lenda do Terceiro Grau cujo palco seria o Templo de
Jerusalém se desenvolveria o arcabouço doutrinário e filosófico do simbolismo da Moderna Maçonaria que passaria
definitivamente a associar especulativamente o aprimoramento do Homem com a construção do Templo. Daí a relação
incondicional e sucessiva entre os três Graus cuja jornada vai do Ocidente em direção à Luz do Oriente.

Nesse sentido não se poderia mencionar a Câmara do Meio sem considerar a sua relação com o grau de Companheiro
como penúltimo estágio do aprimoramento – Do pórtico ao Sul em direção à Câmara do Meio onde se situa a Árvore da
Vida, local onde o Mestre pode então assim afirmar: “A A∴M∴É C∴”.

Vale ainda mencionar que essa alegoria constituída pela tríade Escada em Caracol, Templo de Jerusalém e Câmara do
Meio é valida apenas para o simbolismo da Moderna Maçonaria, já que esse conjunto emblemático, bem como a Lenda de
Hiran, não corresponde ipsis litteris à completa realidade descrita no texto bíblico.

Assim, o termo “Câmara do Meio” é em Maçonaria uma espécie de Nec Plus Ultra, cuja característica filosófica envolveu
conhecimentos racionais que determinaram regras e fundamentos do pensamento enquanto era urdida a chave destinada
para se encontrar a Palavra Perdida (conhecimento real, não o aparente).

É a razão que pode, na ordem natural dos fatos, explicar o termo “Câmara do Meio” em Maçonaria. Daí pela “ordem
natural” que envolve a construção do Templo e a Lenda do Terceiro Grau, os Aprendizes ocupam o Norte, Companheiros o
Sul e os Mestres o Oriente donde dali simbolicamente parte para qualquer das latitudes e longitudes terrenas (o Ocidente
da Loja).

Se bem compreendida a Arte, a Câmara do Meio desfaz todas as ilações temerárias daqueles que de quando em quando
lançam sementes ao vento tentando inverter a circulação e a localização dos Aprendizes e Companheiros na Loja. Para
esses incautos poder-se-ia perguntar: e o pórtico da Câmara do Meio? Invertendo os escritos bíblicos, ele passaria do Sul
para o Norte? Como então ficaria a referência feita à construção do Templo mencionada nas Escrituras? Essa menção
seria subvertida? Contar-se-ia então uma nova Lenda com Hiran tentando fugir do primeiro algoz pelo Norte?

Nada fora arquitetado por acaso.

T.F.A.
PEDRO JUK

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