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INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA

MINISTRO PLÁCIDO CASTELO


Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos
Instrutores: Profº. Ms. José Almir Silva
Profa. Esp. Wanda Gomes de Oliveira Murta

LIMPEZA URBANA E MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Módulo I
O saneamento básico e os resíduos sólidos
LIMPEZA URBANA E MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
(PRINCIPAIS ASPECTOS)

1. MÓDULO 1: O Saneamento Básico e os Resíduos Sólidos

1.1. Um pouco da história – As soluções nos tempos antigos

Mesmo nas mais simples atividades humanas produzimos “resíduos”. Aquilo que popularmente
chamamos de “lixo”. Cada um de nós em particular compra, consome, produz e descarta
quantidades significativas de materiais provenientes das nossas demandas e necessidades do dia a
dia.

Ao prepararmos nossos alimentos, por exemplo, sobram cascas, folhas, peles, etc e, ao final, ossos,
sementes e etc. O metabolismo de nosso corpo, por sua vez, produz dejetos (fezes, urina,
secreções diversas). Tanto o lixo como os dejetos devem ser segregados e destinados a locais onde
não criem problemas para as atividades comunitárias, e nem para a saúde humana e animal.

Como consequência dessa “produção” é gerada diariamente no planeta uma grande concentração
de resíduos sólidos (LIXO), produzida em nossas residências, nos locais de estudo, de lazer e de
trabalho. Tem sido assim ao longo da história da humanidade.

Essa história inicia-se ainda na época das cavernas. Desde o início, o ser humano produzia lixo.
Mas, nos tempos antigos, na Idade da Pedra, a quantidade de lixo produzida era muito pequena e
sua reciclagem se dava naturalmente. Afinal, tratava-se quase que basicamente de restos de
alimentação (como ossos de animais), cadáveres e utensílios feitos de pedra, metal e argila, como
as pontas de flecha e os cacos de vasos de cerâmica.

No início dos tempos, os primeiros homens eram nômades. Moravam em cavernas, sobreviviam da
caça e pesca, vestiam-se de peles e formavam uma população minoritária sobre a terra. Quando a
comida começava a ficar escassa, eles se mudavam para outra região e os seus "lixos", deixados
sobre o meio ambiente, eram decompostos pela ação do tempo.

À medida que foi “civilizando-se” o homem passou a produzir peças para promover seu conforto e
bem-estar: vasilhames de cerâmica, instrumentos para o plantio, roupas mais apropriadas.
Começou também a desenvolver hábitos como construção de moradias, criação de animais, cultivo
de alimentos, além de se fixar de forma permanente em um local. A produção de lixo
consequentemente foi aumentando, mas ainda não havia se constituído em um problema mundial.

Um dos primeiros registros de controle do lixo data de 500 a. C., na Grécia. Os primeiros “lixões”
(local onde os resíduos iam se acumulando de forma aleatória e sem controle) surgiram nos
arredores da cidade de Atenas e atraíam ratos, baratas e outros insetos indesejáveis. À época
“descobriu-se” que a solução seria cobrir o lixo com camadas de terra, e os gregos, assim,
inventaram o que hoje chamamos de aterro controlado. No entanto, esse lixo era basicamente

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composto por restos de comida e de tecidos das vestimentas – ou seja, o lixo da antiguidade era
quase todo orgânico.

Durante a Idade Média Europeia, o destino do lixo ficava a cargo de cada um. Além de restos de
comida, o lixo passou a ser também constituído de excrementos de animais e humanos. Nesse
período ainda não havia o que chamamos hoje de SANEAMENTO BÁSICO. Antes da invenção dos
vasos sanitários e do sistema de esgoto, os excrementos poderiam, por exemplo, ser atirados nas
ruas das cidades, onde eram arrastados pela água das chuvas (imaginem o cheiro...).

Por isso, a Idade Média foi muito marcada por epidemias de doenças sérias, como a peste
bubônica ou Peste Negra, cuja causa está diretamente relacionada ao lixo, à ausência de hábitos de
higiene, à falta de saneamento.

Foi mais ou menos no século XIX que começaram a aparecer os materiais cuja reciclagem é muito
difícil, como o plástico, a borracha vulcanizada, as latas de conserva e o náilon.

No Brasil colônia, não havia coleta de lixo e rede de esgoto. Os dejetos eram descartados através
de grandes barricas que os escravos carregavam na cabeça (Chamado de “Tigres” ou “Cabungos”).
À tardinha, eram jogados nas praias, enchendo-as de detritos e espalhando fedor e tornando o ar
insuportável quando o vento soprava do mar.

No Rio de Janeiro, no início do século XX, Osvaldo Cruz, combateu a peste bubônica. Para isso, criou
um esquadrão de cinquenta homens devidamente vacinados, que percorriam armazéns, becos,
cortiços e hospedarias, espalhando raticida e mandando remover o lixo. Criou o cargo de
comprador de ratos. Este percorria as ruas da cidade, do centro e dos subúrbios, pagando 300 réis
por rato apanhado pela população.

Não podemos deixar de fazer aqui um breve parêntese para chamar a atenção para a questão do
reaproveitamento do lixo e dos dejetos.

A ideia de evitar-se o desperdício e de reutilizar as coisas é antiga. No Evangelho de João 6:12,


Jesus disse aos seus discípulos após distribuir pães e peixes e estavam todos saciados: “[...],
recolhei os pedaços que sobraram para que nada se perca.” A utilização na agricultura de fezes de
animais e humanos, era conhecida desde a Antiguidade. Todavia, informações sobre
reaproveitamento de lixo só se tornaram mais seguras a partir dos romanos.

Ações de reutilização e de reaproveitamento do lixo e de dejetos também é uma coisa antiga. Em


Roma por exemplo, existiam pessoas (chamadas canicolae) que buscavam coisas ainda úteis nos
locais em que desembocavam as cloacas. Há indicações da presença, nesta mesma cidade, de
serviços para manutenção de toaletes e latrinas privadas, mediante pagamento, e também de que
urina e fezes (inclusive dos toaletes públicos) eram comercializadas para uso agrícola. A urina era
também usada por curtidores de pele, e lavanderias mantinham vasos nas ruas para sua coleta.

Não se pretendeu aqui fazer uma análise ampla sobre o “lixo” durante toda a história, mas tentar
gerar no leitor a curiosidade sobre o tema, entendendo que certos hábitos e “soluções” não são

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novas e que as formas de coletar, reaproveitar, destinar e tratar o lixo e os dejetos não se dão
linearmente na história da humanidade. E até numa mesma época não ocorrem de igual modo.

Contudo é importante refletir sobre o tema. Apesar das inovações e dos aperfeiçoamentos da
limpeza urbana ao longo do tempo até hoje, através do uso de incineradores, unidades de triagem
e de reaproveitamento do lixo, a questão da geração de resíduos e sua disposição e destinação final
prosseguem sendo um grande problema, e que tais questões continuam sendo resolvidas de forma
muito precária, onde infelizmente, os resíduos ainda têm como destino o mar, os rios e os lixões.

Foto 1 – O lixeiro, carroça usada na área rural do RJ de 1930

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Foto 2 – Os “Tigres” ou “Cabungos” (escravos que carregavam os dejetos para serem lançados no
mar)

Foto 3 – Carroça de lixo - Tração animal (Augusto Malta – Arquivo geral da Cidade do RJ)

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Foto 4 - Escravo com barril de dejetos, Rio de Janeiro, século 19.
Obra O colar de ferro, castigo dos negros fugitivos, Debret

Foto 5 - Bonde de lixo, Augusto Malta, 1945, arquivo geral da cidade do Rio de Janeiro.

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1.2. O Saneamento Básico e os Resíduos Sólidos

As ações de saneamento ambiental ao longo da história da humanidade têm sido tratadas com
conteúdo diferenciado, conforme o contexto social, político, econômico, cultural de cada época e
nação. Por vezes, o saneamento ambiental tem sido tratado como uma política social; por outras,
como apenas uma política pública. Essa ambiguidade traduz-se não só no campo teórico como na
ação governamental.

Nos países onde as questões básicas de saneamento já foram superadas há muitas décadas, as
ações de saneamento ambiental são tratadas no bojo das intervenções de infraestrutura das
cidades. Nos países ditos em desenvolvimento e nos subdesenvolvidos, onde os serviços de
saneamento ambiental são extremamente deficientes ou inexistentes, conduzindo à disseminação
de enfermidades e óbitos, notadamente entre a população infantil, as ações de saneamento
ambiental deveriam ser encaradas como uma medida básica de saúde pública. Essa abordagem
aproximaria as políticas de saneamento ambiental às políticas sociais. No entanto, essa concepção
não é unânime (BORJA, 2004).

Uma rápida inserção na história do saneamento (ROSEN, 1994) permite concluir que desde os
primórdios as ações de saneamento sempre estiveram articuladas às de saúde pública. Com a
chegada da cidade industrial, as preocupações sanitárias ampliaram-se, criando uma forte relação
entre a produção da cidade, as condições de saneamento e o nível de saúde da população.

A problemática ambiental, que começa a se ampliar na década de 70 e passa a ser foco de atenção
e debate de instituições governamentais e da sociedade civil, não só por causa do impacto no
ambiente natural, como também na saúde humana, faz que o campo do saneamento passe a
incorporar, além das questões de ordem sanitária, as de ordem ambiental.

Certamente por isso surge o conceito de SANEAMENTO AMBIENTAL, que abrange o SANEAMENTO
BÁSICO (abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e manejo de
águas pluviais) bem como os aspectos relacionados à poluição do ar, poluição sonora, entre outros.

Segundo Rezende e Heller (2002) a atuação do Estado brasileiro no tratamento das ações de
saneamento no País pode ser dividida em três fases entre os séculos XVI e XX: na primeira, o
Estado estava ausente das questões sanitárias (século XVI até meados do século XIX); na segunda,
o Estado assume as ações sanitárias, havendo uma relação entre a melhoria da saúde e a
produtividade do trabalho (meados do século XIX até o final de 1950); e na terceira (a partir da
década de 60), ocorre uma bipolarização entre as ações de saúde e as de saneamento.

A saúde passa então a ter cada vez mais um caráter assistencialista e o saneamento passa a ser
tratado como medida de infraestrutura. Com o advento do Plano Nacional de Saneamento
(Planasa), as ações de saneamento passam a ser tratadas segundo a lógica empresarial do retorno
do capital investido. Mas, nesse mesmo período, as prefeituras continuam realizando as obras de
drenagem, e, mesmo de forma precária, a coleta e a destinação dos resíduos sólidos.

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Atualmente, existe uma forte pressão para a privatização dos serviços de abastecimento de água e
de esgotamento sanitário no País, tendo como modelo de concessão dos serviços a Parceria
Público-Privada (PPP).

Passemos agora a algumas definições sobre a área de atuação e a amplitude dos serviços que
integram o setor de SANEAMENTO BÁSICO.

É muito comum o entendimento de que o saneamento básico seja o conjunto de serviços que
envolvem somente o acesso à água potável e à coleta e ao tratamento dos esgotos.

Em outros casos o Saneamento básico é citado como sendo apenas os serviços de esgotamento
sanitário. Ainda se observa essa referência na TV, em periódicos, artigos, etc., no entanto essa
definição é bem mais ampla na prática, e foi bem delimitada com o advento da Lei 11.445/2007,
que “Estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico” (atualizada por meio da Lei
14.026, de 15/07/2020, o chamado NOVO MARCO DO SANEAMENTO.

SÓ ÁGUA E ESGOTO!

NÃO!!!

SÓ ESGOTO!

TAMBÉM NÃO!!!

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Em 2001, com a aprovação do Estatuto das Cidades (Lei nº
10.257 de 10/07/2001) foram estabelecidos novos marcos SE VOCÊ NÃO SABIA,
regulatórios de gestão urbana. FIQUE SABENDO:

Nesse contexto, em 2001 O Estatuto das cidades Bebês e fraldas:


regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição Federal
e estabeleceu as condições para uma reforma nas cidades
brasileiras, disciplinando o uso da propriedade urbana de
forma que sejam atendidos o bem comum, a segurança, o
bem-estar dos cidadãos e o equilíbrio ambiental. Há cinquenta anos, os
bebês utilizavam fraldas de
Apesar do disciplinamento proveniente do Estatuto das pano, que não eram
Cidades, até 2006 não existia uma norma que jogadas fora. Tomavam
estabelecesse diretrizes específicas para o setor de sopa feita em casa e
saneamento em âmbito nacional. bebiam leite mantido em
garrafas reutilizáveis. Hoje,
Em 05/01/2007 foi então editada a Lei 11.445/2007, a LSB os bebês usam fraldas
– Lei do Saneamento Básico, regulamentada pelo Decreto descartáveis, tomam sopa
Federal 7.217/10, o qual define e estabelece dentre em potinhos que são
outros, o que se considera como SERVIÇO PÚBLICO DE jogados fora e bebem leite
SANEAMENTO BÁSICO. embalado em tetrapak. Ao
final de uma semana de
Definiu essas estruturas como sendo o “conjunto de vida, o lixo que eles
serviços, infraestruturas e instalações operacionais” de produzem equivale, em
abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, volume, a quatro vezes o
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem seu tamanho.
e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização
preventiva das respectivas redes urbanas (Lei 11.445, Não reciclam não:
Art.3º). (*) Adesivos, etiquetas, fita-
crepe, papel-carbono,
Em 15/07/2020 foi então editada a Lei 14.026/2020 que papel toalha e papel
atualizou o marco legal do saneamento básico, ou seja, higiênico, guardanapos
atualizou a Lei 11.445/2007, dentre outras determinações. com gordura, fotografias,
papéis metalizados ou
plastificados não são
recicláveis.
Ossos também?
Os ossos foram um dos
itens mais reciclados antes
do século XX. Os ossos
eram usados para fazer
botões e gelatina, cola e na
fabricação do papel.

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SANEAMENTO
BÁSICO

(*) Atenção! Os
RECURSOS HÍDRICOS
NÃO integram os
serviços públicos de
saneamento básico
(Art. 4º da Lei
11.445/2007).

Ou seja, os mananciais,
açudes, rios, canais, etc.
não fazem parte dos
sistemas públicos de
Definiu a LSB, a LIMPEZA URBANA E MANEJO DE RESÍDUOS saneamento básico.
SÓLIDOS como sendo conjunto de serviços públicos,
infraestruturas e instalações operacionais de:

“constituídos pelas atividades e pela disponibilização e manutenção de infraestruturas e


instalações operacionais de COLETA, VARRIÇÃO MANUAL e MECANIZADA, ASSEIO e
CONSERVAÇÃO URBANA, TRANSPORTE, TRANSBORDO, TRATAMENTO e DESTINAÇÃO
FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADA dos resíduos sólidos domiciliares e dos resíduos de
limpeza urbana” (artigo 3º, I, c – Redação pela Lei nº 14.026, de 2020).

O serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos urbanos é composto pelas
seguintes atividades (artigo 7º, I, II e III - Redação pela Lei nº 14.026, de 2020):

De COLETA, de TRANSBORDO e de TRANSPORTE dos resíduos sólidos domiciliares e dos


resíduos de limpeza urbana;
De TRIAGEM, para fins de reutilização ou reciclagem, de tratamento, inclusive por
compostagem, e de DESTINAÇÃO FINAL dos resíduos sólidos domiciliares e dos resíduos de
limpeza urbana;
De VARRIÇÃO de logradouros públicos, de LIMPEZA DE DISPOSITIVOS DE DRENAGEM de
águas pluviais, de limpeza de CÓRREGOS e outros serviços, tais como PODA, CAPINA,
RASPAGEM e ROÇADA, e de outros eventuais serviços de limpeza urbana, bem como de
coleta, de acondicionamento e de destinação FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADA DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS PROVENIENTES DESSAS ATIVIDADES.

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1.3. Os Tempos Atuais

Como já vimos, a história mostra que o lixo é um indicador curioso de desenvolvimento de uma
nação. Quanto mais pujante for a economia, mais sujeira o país produzirá. É o sinal de que o país
está crescendo, de que as pessoas estão consumindo mais.

Até a metade do século XX a composição do lixo era predominantemente de matéria orgânica, de


restos de comida. Com o avanço da tecnologia, materiais como plásticos, isopores, pilhas, baterias
de celular e lâmpadas são presença cada vez mais constante na coleta dos resíduos que geramos.

A composição do lixo se torna a cada dia mais complicada, surgindo a necessidade de manejo de
resíduos de diferentes tipos e classes. Observa-se claramente neste contexto:

 O surgimento de novos materiais.


 Novas combinações químicas.
 Permanência da ausência da cultura da separação (Infelizmente!).
 Resíduos jogados e deixados em vias públicas, galerias de drenagem, rios e córregos,
havendo um elevado índice de descarte em locais inadequados.

Nos últimos cinquenta anos o Brasil se transformou de um país agrário em um país urbano,
concentrando, em 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de
85% de sua população em áreas urbanas (IBGE, 2010).

Antes do período da pandemia, a geração de resíduos acontecia de maneira descentralizada


nas diferentes regiões das cidades, uma vez que as atividades diárias eram desempenhadas
em diferentes locais (escritórios, escolas, centros comerciais etc), servidos por diferentes
estruturas de manejo de resíduos sólidos. Com a maior concentração das pessoas em
suas residências, observou-se uma concentração da geração de resíduos nesses locais,
atendidos diretamente pelos serviços de limpeza urbana.

A geração de RSU no país sofreu influência direta


da pandemia da COVID-19 durante o ano de 2020, tendo alcançado um total de
aproximadamente 82,5 milhões de toneladas geradas, ou 225.965 toneladas diárias. Com
isso, cada brasileiro gerou, em média, 1,07 kg de resíduo por dia. Como já mencionado,
uma possível razão para esse aumento expressivo foram as novas dinâmicas sociais que,
em boa parte, foram quase que totalmente transferidas para as residências, visto que o
consumo em restaurantes foi substituído pelo delivery e os demais descartes diários de
resíduos passaram a acontecer nas residências. 1.

1 Fonte: Abrelpe - PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL, 2021

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FIQUE LIGADO:

Ter saneamento básico é


um fator essencial para um
país poder ser chamado de
país desenvolvido.

Os serviços de água tratada,


coleta e tratamento dos
esgotos, limpeza urbana e
Um número absurdo, não acha? Fica claro que nosso país manejo de resíduos sólidos,
precisa caminhar muito para melhorar esse quadro! e drenagem urbana levam à
melhoria da qualidade de
Precisamos cada vez mais de água potável, redes de esgoto, vidas das pessoas,
sistemas de drenagem e de coleta, transporte e destinação sobretudo na Saúde Infantil
final adequada dos resíduos que geramos. com redução da
mortalidade infantil,
Integrantes de uma sociedade que a cada dia gera mais melhorias na Educação, na
resíduos, necessitamos de mais água e ocupamos os nossos expansão do Turismo, na
centros urbanos de uma forma cada vez mais veloz, nos valorização dos Imóveis, na
tornamos reféns de uma demanda crescente desses Renda do trabalhador, na
serviços. Despoluição dos rios e
Preservação dos recursos
Conforme a LSB, a universalização do Saneamento Básico hídricos, etc.
deve ser assumida como um compromisso de toda a
sociedade brasileira, necessitando de um expressivo esforço Em 2013, segundo o
dos três níveis de governo: União, Estados e Municípios, dos Ministério da Saúde
prestadores de serviços públicos e privados, da indústria, (DATASUS), foram
dos agentes financeiros e principalmente da população em notificadas mais de 340 mil
geral. internações por infecções
gastrintestinais no país.
Necessitamos urgentemente da atuação governamental, de
recursos, bons projetos de engenharia, de capacidade de Em vinte anos (2015 a
gestão, e principalmente do comprometimento e 2035), considerando o
participação de toda a sociedade no desenvolvimento destas avanço gradativo do
ações. saneamento, o valor
presente da economia com
Estamos diante de importantes desafios! saúde, seja pelos
afastamentos do trabalho,
seja pelas despesas com
internação no SUS, deve
alcançar R$ 7,239 bilhões
no país.

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1.4. O que fazer com o “lixo” que geramos?

Como já sabemos as atividades humanas geram lixo. ESTEJA ONDE ESTIVER O SER HUMANO
PRODUZ RESÍDUOS. Em casa, nas indústrias, nos estabelecimentos comerciais, nas escolas, nos
hospitais ou no campo, cultivando alimentos ou criando animais, toda atividade acaba por
desenvolver a geração de algum tipo de resíduo.

Onde lançar? Como diz o cearense: onde “rebolar”? O que fazer?


Qual o destino que devemos dar ao resíduo que geramos todos os dias?

Nada como uma cerveja gelada num lugar limpinho...


Ou um sol numa bela praia de areia limpinha e branquinha!!!

Que maravilha! Uma mistura saudável de pessoas e lixo... nas ruas e nas praias!

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Nada como contribuir com o meio ambiente e
jogar lixo “educadamente” pela janela do carro !!

As ações que acontecem rotineiramente no nosso local, na nossa área, podem ter ao longo do
tempo consequências no resto do planeta! Os resíduos produzidos em um determinado lugar e
lançados em um curso d’água ou no seu entorno, por exemplo, podem contaminar outros locais,
pois um rio geralmente corta mais de uma cidade. E aí corre para o mar, que percorre o mundo!

Da mesma forma, queimar lixo libera gases tóxicos que atingem a atmosfera e se espalham pelo
planeta, produzindo alterações climáticas e doenças respiratórias e cutâneas.

Um solo contaminado, ao ser lavado pelas chuvas, pode atingir o lençol freático.

É capaz também de poluir rios e tornar a água de várias localidades imprópria para o consumo.

Com o surgimento das cidades e o início da era industrial, o que proporcionou o crescente êxodo
rural, derivou daí um grave problema de difícil solução: o lixo urbano. Em virtude do crescimento
populacional nos centros urbanos, onde é consumido grande quantidade de alimentos, vestimenta,
bem como embalagens para os mesmos, cresceram assim a quantidade de resíduos, ou seja,
acessórios que serão descartados como inúteis para o ser humano.

Ao mesmo tempo em que a evolução tecnológica e industrial revoluciona a cada dia com
novidades no mercado consumidor, estimulando as pessoas a adquirirem cada vez mais, nem
sempre por necessidades, mas, sobretudo, para ostentar modernidade, dessa forma, aumentaram
as dificuldades referentes à produção de resíduos sólidos de diferentes naturezas (domésticos,
industriais, serviços de saúde, etc), os quais constituem-se atualmente numa das principais fontes
de degradação do meio ambiente.

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Nossas casas são ambientes dinâmicos, onde trocamos afetos e experiências, onde as pessoas se
abrigam, descansam se alimentam, se lavam e eliminam dejetos. É no interior das casas que
realizamos as mais íntimas atividades necessárias à nossa sobrevivência. O resultado de nossas
ações e atividades realizadas no interior de nossas casas, inclusive alimentação e higiene, retornam
para o exterior delas em forma de lixo e dejetos. Os resíduos eliminados pelo nosso corpo bem
como o lixo doméstico, não podem permanecer no interior de nossas casas, pois são excelentes
proliferadores de insetos que podem causar danos à nossa saúde, pois transmitem doenças. Sendo
assim o que fazer com os mesmos?

Se olharmos com cuidado, veremos que o lixo não é uma massa indiscriminada de materiais. Ele é
composto de vários tipos de resíduos, que precisam de manejo diferenciado. Assim, pode ser
classificado de várias maneiras.

O lixo pode ser classificado como “SECO” ou “ÚMIDO”. O lixo “seco” é composto por materiais
potencialmente recicláveis (papel, vidro, lata, plástico etc.). O lixo “úmido” corresponde à parte
orgânica dos resíduos, como as sobras de alimentos, cascas de frutas, restos de poda etc., que
pode ser usada para compostagem. Essa classificação é muito usada nos programas de coleta
seletiva, por ser facilmente compreendida pela população.

O lixo também pode ser classificado de acordo com seus riscos potenciais, definidos de acordo com
a NBR/ABNT 10.004 / 2004 (Veremos isso no Módulo 4).

Existe ainda outra forma de classificação, baseada na sua origem, podendo ser, por exemplo,
domiciliar ou doméstico, público, de serviços de saúde, industrial, agrícola, de construção civil e
outros. Essa é a forma de classificação usada nos cálculos de geração de lixo.

• O Lixo eletrônico

Vamos fazer aqui uma pequena abordagem sobre esse tipo de lixo, a estrela das últimas décadas! A
partir dos anos de 1980, um novo tipo de componente, quando descartado inadequadamente,
tornou-se prejudicial ao meio ambiente: o lixo eletrônico. São computadores, telefones celulares,
televisores e outros tantos aparelhos e componentes que, por falta de destino apropriado, são
incinerados, depositados em aterros sanitários ou em lixões.

Pilhas, baterias e computadores em desuso não podem ser descartados sem critério porque são
tóxicos e trazem riscos à saúde e ao meio ambiente; a destinação correta do e-lixo está prevista em
lei.

A Lei 12.305/2010, a chamada Política Nacional de Resíduos Sólidos (que será tratada no Módulo 2)
criou a responsabilidade e a obrigação de que todas as empresas, importadores, consumidores,
prefeituras e todo órgão público tenham a responsabilidade de recolher ou mandar para aterros
sanitários os lixos por eles criados ou utilizados. Algumas empresas fabricam materiais que quando
se tornarem lixo poderão prejudicar a saúde humana e o meio ambiente.

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O ciclo de vida do produto é também da responsabilidade do
FIQUE LIGADO:
consumidor para o descarte correto e não prejudicial ao meio
ambiente.
Você sabia que existem
Empresas que produzem materiais perigosos ao meio ambiente
pessoas que
têm a obrigação de realizar a logística reserva.
confundem “Spam”
com “lixo eletrônico”?
A logística reversa define que as empresas devem coletar os seus
Spam é termo utilizado
produtos após serem descartados pelos consumidores. Por
em referência aos e-
exemplo: uma empresa que fabrica celulares deve se
mails não solicitados
responsabilizar pelo recolhimento dos aparelhos descartados
que você recebe em
pelos consumidores. As empresas também devem divulgar aos
seu computador; já o
consumidores onde descartar o lixo eletrônico para ser devolvido
“lixo eletrônico” são os
à empresa através da logística reversa.
aparelhos elétricos
e/ou eletrônicos ou
1.4.2. O que fazer?
partes destes que
deixam de ter utilidade,
A famosa frase do químico francês Antoine Lavoisier) diz que “na
por defeito ou por
natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
estarem obsoletos.
Não existe uma solução única. Não existe uma solução fácil.
Quem, entre nós,
Foram publicadas importantes leis no setor de resíduos sólidos.
entrega um aparelho
Primeiramente a Lei Federal nº 11.445/2007 (LSB) incluiu os
eletrodoméstico sem
serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos no
uso, um celular
conjunto de serviços públicos ligados ao saneamento básico
obsoleto ou uma
(Art.2º) e instituiu um novo marco regulatório para essa área.
lâmpada queimada em
um posto de
Essa importante lei definiu o papel do município como
recolhimento?
responsável pela prestação desses serviços (Art.8º) e estabeleceu
os Planos Municipais de Saneamento (Art.9º) como instrumento
Estima-se que mais de 1
de planejamento da política municipal, incluindo o Plano
Mt (milhão de
Municipal de Resíduos Sólidos (Art.16, §2º), que deve apresentar
toneladas) de lixo
o diagnóstico, as diretrizes, programas e metas para os próximos
eletrônico acabe nas
30 anos.
lixeiras dos países ricos.
O segundo grande avanço na área foi a publicação da Política
Estimativas de 2016
Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) que apresenta
apontam que
como objetivos – entre outros – a gestão integrada de resíduos
aproximadamente 34
sólidos e uma nova hierarquia a ser seguida:
Mt de lixo eletrônico
• Não-geração
gerado em todo o
• Redução, Reutilização e Reciclagem;
mundo não foi
• Tratamento e,
rastreado nem
• Disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
relatado.

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INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA
MINISTRO PLÁCIDO CASTELO
(Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte)
Ou seja, é preciso que as políticas públicas acima mencionadas sejam aplicadas conjuntamente
para que esses objetivos sejam alcançados no Brasil, com a maior valorização possível dos resíduos
e o encaminhamento apenas de rejeitos aos aterros sanitários.

A Política Nacional de Resíduos também destaca um ponto importantíssimo e complexo, que é a


obrigatoriedade da erradicação dos lixões e a necessidade de integração dos catadores com a
implantação de programas de coleta seletiva nos municípios (Veremos isso com mais cuidado no
Módulo 3).

É importante salientar, portanto, que nenhuma tecnologia conseguirá dar uma solução definitiva
para os resíduos. E em sendo assim a gestão e o manejo corretos devem considerar desde a
redução na fonte, a reutilização e reciclagem, a compostagem ou outros processos de tratamento
da fração orgânica.

Infelizmente a cultura do Brasil aliada à falta de programas de coleta seletiva mais estruturados
impedem que a reciclagem se desenvolva de forma mais efetiva.

Enquanto isso...
Separe seu lixo, pelo menos o
“seco” do “úmido”. Ponha lá fora
somente nos horários e nos dias de
coleta. Não “rebole” em qualquer
lugar. Tenha um cuidado especial
com baterias, celulares, monitores,
lâmpadas. Esse tipo de resíduo não
deve fazer parte do nosso descarte
doméstico, não deve ser “jogado
fora” de qualquer jeito, e deve ser
separado e levado a pontos
especiais de coleta. Não desperdice.
Não tenha vergonha de
reaproveitar. E muito menos de
reutilizar.
Adquira o hábito de separar!!!
Não importa se a Prefeitura “ainda” não faz a coleta seletiva. Façamos a nossa parte!

“Há um momento para tudo e um tempo


para todo propósito debaixo do céu.
Tempo de nascer, tempo de morrer;
[...]
Tempo de guardar e tempo de jogar fora.”
Eclesiastes 3: 1,2,6
Bíblia de Jerusalém

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MINISTRO PLÁCIDO CASTELO
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