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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Flávia Helena da Silva Santos


Sabrina Avelar Santos
Verônica Raimunda Gonçalves Veríssimo
Welbert Morais da Silva

EMPODERAMENTO FEMININO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O


COLETIVO E O PARTICULAR

BETIM
2023
Flávia Helena da Silva Santos
Sabrina Avelar Santos
Verônica Raimunda Gonçalves Veríssimo
Welbert Morais da Silva

EMPODERAMENTO FEMININO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O


COLETIVO E O PARTICULAR

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de graduação em
Psicologia, do Centro Universitário
UNA/Betim, como requisito parcial para
obtenção do título de Psicólogo.

Orientador: Prof. Alexandre Rocha. Me.

BETIM
2023
Flávia Helena da Silva Santos
Sabrina Avelar Santos
Verônica Raimunda Gonçalves Veríssimo
Welbert Morais da Silva

EMPODERAMENTO FEMININO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O


COLETIVO E O PARTICULAR.

Trabalho de conclusão do curso de


Psicologia apresentado ao Centro
Universitário Una, Betim, como requisito à
obtenção de título de Psicólogo.

Orientador: Prof. Alexandre Rocha Araújo

BANCA EXAMINADORA

Local: Betim/MG
Horário: 18:00
Data: 29/06/2023

____________________________________

Prof. Luiz Felipe Viana


Centro Universitário UNA

BETIM
2023
RESUMO

O presente trabalho apresenta algumas considerações acerca do empoderamento


feminino coletivo e particularizado, para que as mulheres possam realizar escolhas de
acordo com seu próprio interesse, ocupando lugares de liderança, lutando por
igualdade de gênero, possuindo liberdade para executar seus desejos nas diversas
áreas de sua vida. Foi realizado estudo qualitativo, com pesquisas e estudos
bibliográficos na perspectiva da Psicologia Sócio Histórica. Diante dos estudos e
revisão bibliográfica, apresentamos o movimento feminista como estratégia coletiva
de empoderamento feminino na busca por direitos civis e igualdade de gênero, que
através de reinvindicações luta pelo direito à liberdade; e a Psicoterapia que trabalha
o autoconhecimento como estratégia particularizada, que possibilita o
desenvolvimento de autonomia e amor próprio; ambas estratégias de grande
relevância para a Psicologia. Romper paradigmas sociais, como a desigualdade de
gênero, em uma sociedade patriarcal que considera a masculinidade como
superioridade, é uma luta que apresenta desafios diários. É importante destacar que
o empoderamento feminino não será efetivo em apenas uma das estratégias
apresentadas, mas sim no conjunto de estratégias coletivas e particularizadas, que
percorra um movimento de um grupo até a singularidade de cada mulher.

Palavras-chave: Empoderamento feminino. Psicologia. Movimento feminista.


Estratégias. Psicoterapia.
ABSTRACT

The present work presents some considerations about collective and individualized
female empowerment, so that women can make choices according to their own
interest, occupying leadership positions, fighting for gender equality, having freedom
to execute their desires in the various areas of their life. A qualitative study was carried
out, with research and bibliographic studies from the perspective of Socio-Historical
Psychology. In view of the studies and bibliographic review, we present the feminist
movement as a collective strategy of female empowerment in the search for civil rights
and gender equality, which through claims fights for the right to freedom; and the
Psychotherapy that works on self-knowledge as a particularized strategy, which
enables the development of autonomy and self-love; both strategies of great relevance
for Psychology. Breaking social paradigms, such as gender inequality, in a patriarchal
society that considers masculinity as superiority, is a struggle that presents daily
challenges. It is important to highlight that female empowerment will not be effective in
only one of the strategies presented, but in the set of collective and particularized
strategies, which go through a group movement until the singularity of each woman.

Keywords: Female empowerment. Psychology. Feminist movement. Strategies.


Psychotherapy.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................7

2. MÉTODO.............................................................................................................................8

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................................................8

3.1. Empoderamento feminino...................................................................................................8

3.2. O movimento feminista como estratégia social do empoderamento feminino.................11

3.3. Psicoterapias como estratégia individual de empoderamento feminino……...................13

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS…........................................................................................16

5. REFERÊNCIAS………………….....................................................................................18
1. INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, o papel social da mulher vem se modificando através de


lutas e movimentos feministas, que surgiram através das reivindicações pelos direitos
à liberdade e igualdade de gênero, que a possibilita ocupar novos espaços, de
maneira a fazer escolhas de acordo com seus próprios interesses, diante das diversas
áreas de sua vida. Porém, ainda existem muitos obstáculos impostos pela sociedade,
devido à uma cultura e representações sociais que por muito tempo ocuparam e ainda
ocupam uma sobreposição em relação às capacidades e direitos da mulher.

O empoderamento feminino, tem sido cada vez mais discutido em nossa


sociedade e é tema de uma luta do movimento feminista como influência coletiva e da
Psicoterapia como influência particularizada, buscando a conscientização da mulher
acerca dos seus direitos e a execução dos próprios interesses diante dos seus
diversos papéis sociais e a autonomia para uma possível mudança da realidade de
ser mulher no Brasil.

Azevedo e Sousa (2019) definem o empoderamento feminino como


representação de consciência coletiva, apresentada por ações que fortaleçam as
mulheres e desenvolvam equidade entre os gêneros, e que apesar de interligado ao
movimento feminista, se tratam de coisas diferentes, pois “empoderar-se é o ato de
tomar poder sobre si.” (AZEVEDO; SOUSA, 2019, p.9)

O empoderamento fortalecido pelo feminismo enquanto um movimento de


mulheres que busca interesses coletivos; como também de forma individual e
particularizada, principalmente na visão da Psicologia, que trabalha o encontro com
cada singularidade através da Psicoterapia, podem ser pensados como estratégias de
conscientização e autoconhecimento, para que a mulher envolvida no processo de
empoderamento, entenda que sua realidade pode ser ressignificada.

Empoderando-se, a mulher passa a lutar por reconhecimento de seus direitos


e de suas competências, alcançando então, maior representatividade, ocupando
cargos estratégicos e de liderança, tendo assim, mais autonomia para executar suas
escolhas.
O artigo investigou as estratégias coletivas (feminismo) e individuais
(psicoterapia) que possibilitam o empoderamento da mulher brasileira, a fim de
compreender como estas podem contribuir na conscientização e autonomia do
reconhecimento e busca de seus próprios direitos, possibilitando uma mudança da
realidade feminina de forma coletiva e particularizada, tornando-as sujeitos mais
ativos para desenvolver seus diversos papéis na sociedade.

É de suma importância para o desenvolvimento social e promoção da saúde


mental, que a ascensão feminina e maior participação da mulher, em vários âmbitos
públicos/políticos, privados ou sociais, seja cada vez mais reconhecida.

2. MÉTODO

Diante do tema proposto, empoderamento feminino no Brasil e suas


estratégias, foi realizado um estudo qualitativo, baseado em revisão bibliográfica e na
perspectiva da Psicologia Sócio Histórica, através da abordagem psicossocial.

Para a realização da pesquisa, foram utilizadas revisões em artigos e


periódicos científicos da área (Google acadêmico, Scielo, PePsic), incluindo teses
relacionadas ao tema, as pesquisas foram realizadas entre agosto de 2022 e maio de
2023, totalizando em vinte e um artigos que foram utilizados, sendo a maioria da língua
portuguesa, utilizando as palavras-chave: empoderamento feminino, psicologia,
movimento feminista, estratégias, psicoterapia.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. EMPODERAMENTO FEMININO

O empoderamento feminino pode se formar a partir do enfrentamento coletivo


e individual das desigualdades, dentre elas a de gênero e das construções culturais.

O papel da mulher ao longo da história foi se modificando à medida que a


sociedade flexibilizou sua estrutura, os patriarcais provedores do lar foram
cedendo espaço às mulheres engajadas que trabalham fora, educam filhos e
administram lares. Hoje essa realidade atinge seu ápice de desenvolvimento:
o público feminino tem se qualificado cada vez mais e agrega ao papel de
filha, esposa e mãe o papel de profissional bem sucedida, apesar da
discriminação e violência ainda ser uma realidade. (AZEVEDO; SOUSA,
2019, p. 5-6).
Há diversas discussões acerca do empoderamento feminino e sua concepção.
Tramontina e Schmitz (2017) indicam que existem pelo menos duas vertentes acerca
do conceito de empoderamento feminino, uma institucionalizada, que associa o
empoderamento à questão econômica e outra feminista, ligada a todo processo de
conquista da autodeterminação.

A Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, faz uso da vertente
institucionalizada. Em 2010, a ONU criou a ONU Mulheres com o objetivo de promover
o empoderamento feminino e a igualdade de gênero. O uso do termo de maneira
institucionalizada, pode ser observado na cartilha “Princípios de empoderamento das
mulheres”, editada em 2016, onde foram desenvolvidos sete princípios norteadores
para o empoderamento de mulheres:

1. estabelecer liderança corporativa de alto nível para a igualdade de gênero;


2. Tratar todos os homens e mulheres de forma justa no trabalho– respeitar
e apoiar os direitos humanos e a não discriminação; 3. Garantir a saúde, a
segurança e o bem-estar de todos os trabalhadores e as trabalhadoras; 4.
Promover a educação, a formação e o desenvolvimento profissional das
mulheres; 5. Implementar o desenvolvimento empresarial e as práticas da
cadeia de suprimentos e de marketing que empoderem as mulheres; 6.
Promover a igualdade através de iniciativas e defesa comunitária; 7. Mediar
e publicar os progressos para alcançar a igualdade de gênero. (ONU, 2016,
p. 3).

Isso mostra que para a ONU (2016) o empoderamento feminino está na


importância de promover a participação da mulher em todos os setores da economia
e em todos os níveis de atividade econômica. Esses princípios passam uma ideia de
que o empoderamento só será efetivo através da ascensão social, que consiste em
conferir maior poder aquisitivo.

É de extrema importância considerar esses aspectos de obtenção de poder


através da ascensão social, da obtenção de renda e do trabalho, mas o
empoderamento engloba outros aspectos além da obtenção de poder aquisitivo. Sua
definição abrange os vários campos da vida da mulher, principalmente no que se
refere ao autoconhecimento, autonomia e ao processo de conscientização de seus
direitos e igualdade de gênero.

Ao se falar do empoderamento e da autovalorização, percebe-se que estão


intrinsecamente relacionados ao poder dos grupos minoritários, e neste caso, as
mulheres. Sendo assim, há a necessidade da valorização e de dar destaque a atuação
feminina nos vários setores os quais ocupam, além dos aspectos históricos, culturais,
políticos e sociais em que estão inseridas na sociedade. (SANTOS, 2018)

Ainda conforme Santos (2018) todos esses fatores levam “os indivíduos
pertencentes a esses grupos a se posicionarem criticamente, munidos de informações
sobre si mesmos e conscientes de suas habilidades próprias para, a partir disso,
criarem ferramentas ou poderes de atuação” (SANTOS, 2018, p. 2) nos locais em que
atuam.

Marinho e Gonçalves (2016) em sua revisão bibliográfica discutem três eixos


principais de análise sobre as estratégias de empoderamento feminino: o
empoderamento ancorado na renda feminina, as práticas de empoderamento
originadas no cotidiano das mulheres e o grupo como estratégia de empoderamento
feminino com valorização das especificidades, concluindo que: "para que o
empoderamento seja possível, não há fórmulas prontas e o processo será tanto mais
efetivo quanto mais se valorizar a história pessoal.” (MARINHO; GONÇALVES, 2016).

O número expressivo de práticas baseadas em oficinas e outras estratégias


grupais aponta para uma compreensão do empoderamento como processo
atravessado e alimentado pela construção coletiva, reforçando perspectivas
históricas do feminismo. O recurso a essas estratégias coletivas, o respeito à
diversidade das mulheres e o sucesso alcançado pelas estratégias
construídas com base no cotidiano das mulheres são dimensões alinhadas à
noção de suporte e de constituição de um processo de empoderamento
solidário, ao mesmo tempo que singular. (MARINHO; GONÇALVES, 2016).

As considerações de Marinho e Gonçalves (2016) demonstram o ponto


levantado acima, a respeito da importância de considerar a renda e o trabalho, mas
de entender o processo de empoderamento nos âmbitos coletivos e individuais,
estando interligadas, ou seja, não sendo possível alcançar o empoderamento
considerando apenas um desses aspectos, identificando a efetividade do processo
pelo conjunto das ações coletivas e particularizadas.

Para Azevedo e Sousa (2019) “a independência da mulher é fator altamente


importante para sua libertação.” Ações que promovem o empoderamento feminino,
são fundamentais para conquistar ainda mais espaço social e político, visando
benefícios sociais, poder e melhores condições pessoais e profissionais.

O empoderamento feminino passa por vários caminhos: na sociedade, pelo


conhecimento dos direitos da mulher, por sua inclusão social, instrução,
profissionalização, consciência de cidadania e, também, por uma
transformação no conceito. (AZEVEDO; SOUSA, 2019, p.9).

Contudo, “o machismo estrutural, invisível e impalpável, define crenças a


respeito de quem tem o poder e quem deve submeter-se” (EIBEL, 2020, p. 8). Desse
modo, segundo legitima a autora, ocorre uma grande discrepância de poder
estabelecida no relacionamento social definido entre homens e mulheres, isto é, o que
resulta numa sociedade subordinada às diretrizes sociais veladas, determinando uma
cultura denominada machista.

“Para que a mulher se empodere, ela deve se responsabilizar e assumir em


primeira pessoa a própria história, isto é, conhecer a sua própria identidade é um dos
caminhos para o empoderamento.” (ANTONELLO; ANDREOLA, 2019, p. 3). Dessa
forma, a psicoterapia pode auxiliar no empoderamento feminino, uma vez que a saúde
mental, o autoconhecimento, autoestima, autocuidado e a ressignificação são fatores
que influenciam significativamente o processo da mulher em empoderar-se.

3.2. O MOVIMENTO FEMINISTA COMO ESTRATÉGIA SOCIAL DO


EMPODERAMENTO FEMININO

O movimento feminista surgiu através das reivindicações e da luta das


mulheres por direitos iguais, por liberdade, equidade e respeito na sociedade,
podendo ser definido como uma “ação política das mulheres, que engloba teoria,
prática, ética e toma as mulheres como sujeitos históricos da transformação de sua
própria condição social” (SOARES, 1998, p.33).

Nesse cenário, algumas tendências marcaram o movimento feminista. Em sua


revisão bibliográfica Marinho e Gonçalves (2016) identificaram através dos estudos de
gênero realizados por Nogueira (2012) três vagas (que se referem as chamadas ondas
do movimento feminista).

Na Primeira vaga, que vai de meados do século XIX até cerca dos anos 1960,
as principais preocupações eram a emancipação das mulheres de um
estatuto civil dependente e subordinado e sua incorporação como cidadãs no
estado moderno industrializado. As reivindicações, portanto, eram por direitos
civis e políticos, estatuto de sujeito jurídico, direito ao voto, melhora nas
condições materiais da vida das mulheres, direitos sociais e no trabalho. A
Segunda vaga, que durou até cerca dos anos 1980, foi potencializada pela
participação das mulheres de classe média no mercado de trabalho. A ideia
central naquele momento era a luta contra a opressão feminina e a favor da
presença ativa da mulher tanto no trabalho quanto na família. (MARINHO;
GONÇALVES, 2016)

A terceira vaga, ocorreu a partir de 1990 e levantou então debates sobre a


diversidade sexual e a respeito dos papéis da mulher na maternidade e nas relações.
Ainda de acordo com Marinho e Gonçalves (2016) a noção de empoderamento
começa a ser pensada na segunda vaga “...como desafio das relações de poder entre
homens e mulheres". (MARINHO; GONÇALVES, 2016). E a partir da terceira vaga:

Soma-se ao conceito de empoderamento, a possibilidade de abertura para


um maior entrelaçamento e multiplicidades de grupos de mulheres que vivem
esse processo, expandindo o conceito e abarcando de forma mais direta as
multiplicidades de mulheres, sem perder de vista a importância da noção de
coletividade também presente no conceito. (MARINHO; GONÇALVES, p. 83,
2016).

Algumas perspectivas datam de séculos passados, como por exemplo as


histórias de Hipátia e Eleonora, que passam pela ideia do empoderamento feminino
através da ascensão feminina e da maior participação da mulher. Segundo Martins
(2019) no Egito, no século IV d.C., uma mulher chamada Hipátia ou Hypáthia obteve
destaque, por sua capacidade intelectual e de ensinar na própria Academia de
Alexandria, no século III d.C., sendo profundamente respeitada por seus alunos, por
seus conhecimentos de matemática, filosofia, astronomia entre outros temas,
escrevendo muitos livros e estudos relativos a suas pesquisas, que estavam na
biblioteca de Alexandria, posteriormente queimada.

Ainda de acordo com Martins (2019) no século XII, o rei Guilherme de Aquitânia,
preparou sua filha Eleonora para sucedê-lo ao trono, lhe proporcionando
conhecimento acerca das artes e das ciências, além de levá-la aos lugares onde
pudesse contatar diretamente o povo que iria governar. Resultou em uma mulher forte,
que levou hábitos civilizados às cortes de Aquitânia, França e Inglaterra, já que foi
casada com os reis desses países, inclusive interferindo na própria política dos reinos.
Eleonora também preparou suas filhas para serem, na sua força e perseverança,
mulheres para exigirem o respeito dos homens, introduzindo o cavalheirismo nas
cortes, além de hábitos civilizados de higiene. (Revista on-line de Política e Gestão
Educacional, 2019).

Diante disso e do conceito descrito acima por Soares (1998) acerca do


feminismo compreende-se que ele pode influenciar ações femininas em meio ao
predominante patriarcado, permitindo que mulheres tenham voz e participação social,
podendo expressar suas opiniões e posicionamentos, em meio ao contexto onde são
ignoradas e/ou segregadas. Para a feminista Srilatha Batliwala (1994):

O termo empoderamento se refere a uma gama de atividades, da


assertividade individual até à resistência, protesto e mobilização coletivas,
que questionam as bases das relações de poder. No caso de indivíduos e
grupos cujo acesso aos recursos e poder são determinados por classe, casta,
etnicidade e gênero, o empoderamento começa quando eles não apenas
reconhecem as forças sistêmicas que os oprimem, como também atuam no
sentido de mudar as relações de poder existentes. Portanto, o
empoderamento é um processo dirigido para a transformação da natureza e
direção das forças sistêmicas que marginalizam as mulheres e outros setores
excluídos em determinados contextos. (BATLIWALA, 1994, p. 130).

Com isso, à medida que se aprofunda na natureza do movimento feminista,


percebemos que ele rompe as barreiras de demandas civis e políticas, como a luta
por direitos, igualdade de gênero, entre outros fatores sociais, e considera também
questões mais particularizadas, como a subjetividade de cada mulher, que é um
interesse da Psicologia.

3.3. PSICOTERAPIAS COMO ESTRATÉGIA INDIVIDUAL DE


EMPODERAMENTO FEMININO

Conforme discutido por Marinho e Gonçalves (2016) na seção anterior,


pensando a partir dos mecanismos que podem ser utilizados de forma a promover o
empoderamento coletivo e individual de mulheres, a psicoterapia consiste em uma
estratégia que permite que o conjunto de técnicas e práticas terapêuticas utilizadas
auxiliem a mulher a adquirir autoestima e autoconhecimento, possibilitando-a fazer
suas próprias escolhas, reconhecer seus direitos e buscar sua autonomia e
autorrealização. Sendo assim, Marinho e Gonçalves (2016) afirmaram que o respeito
à diversidade das mulheres e o sucesso alcançado pelas estratégias construídas com
base no cotidiano delas, são dimensões alinhadas à noção de suporte e de
constituição de um processo de empoderamento solidário.

Diante deste cenário, é fundamental pontuar alguns desses fatores sob a ótica
da Psicologia: autoconhecimento, autonomia e amor próprio. De acordo com Silva
(2007) o autoconhecimento está associado ao isolamento em prol de uma avaliação
interna de si mesmo. Comportamentos e respostas a respeito de si são apreendidos.
“A utilidade do autoconhecimento está na possibilidade de previsão e no controle do
comportamento”. (SILVA, 2007, p. 9). Ainda de acordo com a autora, “como o
autoconhecimento se estabelece por meio da comunidade em que o indivíduo está
inserido, cabe lembrar que na psicoterapia este conhecimento se dá de forma mais
sistemática e objetiva.” (SILVA, 2007, p. 45).

Em relação à autonomia, Kagitçibasi (2005) citado por Barbosa e Wagner


(2013, p. 2), no estudo que fizeram sobre “A autonomia na adolescência: Revisando
conceitos, modelos e variáveis”, definiu como “a capacidade de independência em
relação aos outros, acaba por reforçar a noção de que seu desenvolvimento se dá de
forma individual, sendo assim concebida como uma capacidade contrária à relação ou
ligação com outros”. Assim, segundo a concepção do autor, a autonomia é o resultado
da construção dos saberes transpassados pelos parâmetros e valores culturais da
cultura ocidental.

Já o amor-próprio diz respeito ao “combustível que permite ao indivíduo atingir


o seu pleno potencial, e está cheio de compaixão, graça e amabilidade" (LOGAN, s/d).
Desse modo, eles encontram-se debilitados, o autocuidado não é colocado em
prática. E como empoderar as mulheres que não acreditam em suas qualidades e
competências?

A Psicologia possui várias abordagens que promovem o empoderamento


feminino, dentre elas, duas se destacam ao apresentarem métodos e técnicas que
mais se aproximam do processo de individualidade do empoderamento feminino, a
Gestalt-terapia e a Terapia Cognitivo Comportamental. Quanto à primeira, para
Luczinski e seus colaboradores (2019) a Gestalt-terapia consiste numa psicoterapia
relativamente plausível entre paciente e psicólogo, de forma horizontal, modificando
as partes implicadas. “Dá-se o nome de atitude dialógica a esta postura de abertura à
alteridade, ao “olho no olho” cuidadoso, disponível e confiante nas potencialidades do
outro.” (LUCZINSKI et al., 2019, p. 949)

[...] Para a Gestalt-terapia somos seres relacionais, isto é, enquanto sujeitos,


nos constituímos em relação. Essa premissa está ancorada em correntes de
pensamento que precederam o surgimento dessa abordagem teórica em
psicologia, enfatizando a dimensão ontológica de ser no mundo. A
fenomenologia e o existencialismo fornecem a fundamentação filosófica
necessária a essa compreensão, demonstrando que pessoa e mundo se
constituem mutuamente. (LUCZINSKI et al., 2019, p. 952)
Ainda conforme Luczinski e colaboradores (2019) “na prática clínica,
entendemos a palavra empoderar como um verbo intransitivo, um processo onde a
ação acontece no encontro da cliente com o contexto no qual está inserida.” (p. 958).
Com isso, é possível abrir espaço para a construção de novas possibilidades de
escolhas, onde a mulher pode ressignificar o contexto onde está inserida e
compreender que é capaz de construir o próprio futuro.

Em relação à Terapia Cognitivo Comportamental, “a prática clínica da terapia


cognitivo-comportamental (TCC) baseia-se em um conjunto de teorias bem
desenvolvidas que são usadas para formular planos de tratamento e orientar as ações
do terapeuta.” (JESSE; BASCO e MICHAEL, 2000, p. 15). O objetivo da terapia
cognitiva comportamental é a reestruturação cognitiva.

Nesse tipo de processo terapêutico, a TCC, os profissionais estimulam a


aplicação e o desenvolvimento de processos inteligentes e que se adaptam às ideias
para a resolução dos problemas. Desse modo, o profissional se dedica
incansavelmente para auxiliar os pacientes, identificando e modificando “pensamento
patológico em dois níveis de processamento de informações relativamente autônomo:
pensamentos automáticos e esquemas”. (Beck et al., 1979; D. A. Clark et al., 1999;
Wright et al., 2003 apud JESSE; BASCO; MICHAEL, 2000, p. 19)

De tal forma, a psicoterapia pode desempenhar um papel significativo no


processo de autoconhecimento, fazendo com que as mulheres reconheçam e
trabalhem sobre seus valores e crenças, assim como suas competências e desejos.
Quando se obtém esse tipo de poder, as pessoas são capazes de tomar decisões,
visando o próprio bem-estar e crescimento pessoal, que influencia no social e
profissional. Dessa maneira, o empoderamento feminino também está associado ao
processo de obtenção de autoconhecimento e autonomia das mulheres, fazendo com
que elas reconheçam seu valor, recuando também diante a propostas de trabalho e
relacionamentos abusivos. Peres (2019) destaca que

O processo do autoconhecimento ocorre quando nos damos a oportunidade


de abrir nossas mentes para o conhecimento, de quebrar os paradigmas
estabelecidos no decorrer da vida e que ficam armazenados na nossa mente.
Vale dizer aqui que paradigmas são modelos mentais nos quais baseamos
nossas percepções, ou seja, é o padrão através do qual entendemos,
analisamos e modificamos o mundo exterior. (PERES, 2019, p. 1)
E diz ainda que, “para que um paradigma seja realmente quebrado é
necessário que algo seja superado e o novo seja introduzido. É preciso questionar
conceitos, regras, emoções, crenças e tudo isso deve começar individualmente para
depois alcançar o coletivo”. (PERES, 2019, p. 1)

Portanto, a psicoterapia é uma estratégia de empoderamento feminino na qual


desenvolve reflexões acerca de conflitos, que junto ao autoconhecimento, auxilia na
resolução dos mesmos, assim como a superação de traumas e tratamento de
transtornos, facilitando a execução de projetos e objetivos pessoais.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise das pesquisas realizadas, encontrou-se estratégias que


influenciam o processo de empoderamento das mulheres, assim como sua história.

Apresentamos o movimento feminista como uma estratégia de empoderamento


feminino coletiva, que leva mulheres a alcançar objetivos e direitos sociais; e a
psicoterapia como estratégia particularizada da Psicologia, afim de trabalhar a
subjetividade e o autoconhecimento de cada mulher ao encontro do empoderamento
feminino.

O movimento feminista, é uma estratégia social de empoderamento feminino,


na qual as mulheres tem a possibilidade de se politizar e lutar por seus direitos civis,
para obterem voz e ascensão social em âmbitos públicos, políticos, sociais e
profissionais, possibilitando a mudança da realidade de mulheres de forma coletiva,
buscando por uma igualdade de gênero.

Já a psicoterapia, por sua vez, configura-se como uma outra estratégia


significativa no processo de empoderamento feminino, particularizada, que trabalha o
autoconhecimento e autonomia, fazendo com que as mulheres reconheçam e
trabalhem sobre seus valores e crenças, assim como suas competências e desejos.

Quando executadas as técnicas de autoconhecimento, na estratégia


particularizada de empoderamento feminino através da psicoterapia, mudando
paradigmas estipulados para mulheres dentro de uma sociedade patriarcal, elas são
capazes de tomar decisões, visando o seu bem-estar e crescimento pessoal, que
influencia no social e profissional, fazendo também, com que recuem diante a
propostas de trabalho e relacionamentos abusivos, desenvolvendo reflexões acerca
de conflitos e auxiliando na resolução dos mesmos, assim como a superação de
traumas e tratamento de transtornos, facilitando a execução de projetos e objetivos
pessoais.

É importante destacar que o processo de empoderamento feminino não será


efetivo apenas em uma das estratégias destacadas, mas sim diante do conjunto de
estratégias particularizadas e coletivas, que facilitem e influenciem este processo. Na
psicologia, através da psicoterapia, que será trabalhado o autoconhecimento, fazendo
com que a mulher conheça e explore seus desejos e competências, assim como a
estratégia do movimento feminista, que é uma ação coletiva, onde a mulher busca o
reconhecimento e a efetividade dos seus direitos civis, podendo executar o seu papel
na sociedade, da forma como deseja e se assemelha. Vale destacar também que
ambas as estratégias são um modo de enfrentamento do machismo estrutural.

Em tempos de grande volume de informação que gira em torno de todos os


assuntos contemporâneos, percebe-se que ainda existe muito a conversar, debater e
explorar acerca do empoderamento feminino, além das supracitadas neste trabalho.
REFERÊNCIAS

AZEVEDO, M. A.; SOUSA, L. D. de. EMPODERAMENTO FEMININO:


CONQUISTAS E DESAFIOS. SAPIENS - Revista de divulgação Científica, [S. l.], v.
1, n. 2, 2019. Disponível em: https://revista.uemg.br/index.php/sps/article/view/3571.

ANTONELLO, Geisi Graziane Goularte; ANDREOLA, Maria Tereza.


EMPODERAMENTO FEMININO. Publicado em 2019. Disponível em:
http://repositorio.faculdadeam.edu.br/xmlui/handle/123456789/555.

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KAGITÇIBASi, C. (2005) Autonomy and relatedness in cultural context: Implications


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LOGAN, Megan. Amor-próprio - Guia prático para mulheres: Liberte-se da


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https://www.penguinlivros.pt/wp-content/uploads/2021/10/Amor-Proprio.pdf. Acesso
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JESSE H. Wright, Monica R.; BASCO & THASE, Michael E. Princípios básicos da
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Acesso em 28 mai. 2023.

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