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Karin Lambert OAB/MG 183.

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EXCELENTÍSSIMA SRA. DRA. JUIZA DE DIREITO DA 2ª VARA DA


COMARCA DE CAMBUÍ-MG

Processo: 0003229-69.2021.8.13.0106

JOÃO PAULO DIAS GAMA, já qualificado nos autos em epígrafe, por sua
advogada devidamente constituída, vem à presença de Vossa Excelência, com
fundamento no art. 396-A da Legislação Adjetiva Penal, a presente

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

evidenciando fundamentos defensivos em razão da presente Ação Penal


agitada contra o mesmo, consoante abaixo delineado.

I-SÍNTESE DOS FATOS

Narra a representação que, o denunciando por erro de execução ,


na tentativa de lesionar a esposa Maria Juliana acabou por ofender a
integridade física da filha do casal, Agatha Sofia Dias Gama de um ano de idade

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além de Pedro Henrique Dias de Lima, de 02 (dois) anos de idade causando-


lhes as lesões corporais de natureza leve descritas no auto de exame de corpo
de delito que se apresenta ininteligível nos autos.

Autos a defesa para apresentação de Resposta a Acusação.

Eis apertada síntese do necessário.

II- DO DIREITO

Para a prolação de um decreto condenatório, faz-se necessário


que haja um juízo de certeza por parte do julgador quanto à responsabilidade
do acusado pelo cometimento da infração penal. Sendo assim, a prova, para
ensejar uma condenação, há de ser cristalina e convincente, caso contrário, faz-
se imperiosa a absolvição do réu.

A princípio, quanto ao teor da descrição acusatória, sabe-se que


o delito de lesão corporal se configura quando há ofensa à integridade física ou
à saúde de outrem (art. 129, CP), compreendida como a inteireza anatômica,
mas também fisiológica e psíquica da pessoa, e se qualifica, dentre outras
hipóteses, a partir da inclusão trazida pela Lei nº. 10.886/2004, quando for
praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro com
quem o agente conviva ou tenha convivido ou, ainda, no contexto das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.

O tipo penal em análise, somente pode ser praticado a título de


dolo, seja ele direto, quando o agente quer o resultado, ou eventual, quando
assume o risco de produzi-lo.

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Denomina-se o dolo de causar lesão como animus laedendi ou


animus vulnerandi. Conforme é cediço, o processo penal se volta para a
reconstrução processual dos fatos o mais próximo possível da realidade
histórica, de modo a assegurar as condições fáticas e jurídicas para a prolação
de um provimento jurisdicional que resolva e pacifique a questão posta em
juízo. Além do mais, rege-se pelo postulado do due process of law, e seus
corolários do contraditório e da ampla defesa, possibilitando, assim, que não só
a acusação, mas também a defesa possa influir no ânimo do julgador.

Dito isso, não se pode perder de vista que para a prolação da


sentença penal condenatória, o magistrado deve ter certeza clara e isenta de
qualquer mescla de dúvida. Do contrário, não há como impedir que o acusado
receba o benefício da dúvida.

Pois bem.

Na hipótese dos autos, perante a autoridade policial a esposa


do réu MARIA JULIANA DA SILVA DE LIMA narrou: “que JOAO PAULO
estava muito embriagado e tentou cuidar de PEDRO HENRIQUE, mas ele
acabou derrubando o filho no chão;

O acusado nega peremptoriamente a prática dos delitos de


descritos na denúncia e a respeito das ofensas e agressões supostamente
perpetradas em face dos filhos e esposa, refuta-as veementemente, asseverando
que estava sobejamente embriagado e que de fato deixou um dos filhos cair no
solo, mas nega agressões e finaliza acrescentando que embora não se recorde de
ter desferido soco visando atingir a esposa que acabou por atingir a filha,

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acredita que não o fez, muito menos de forma séria e idônea, haja vista a
alteração do seu estado em virtude da ingestão demasiada de bebida alcoólica.

Excelência, consabido que no processo penal a dúvida, quando


existente, sempre milita em favor do acusado, salvo nas hipóteses de decisão de
pronúncia, pois, somente a certeza e a verdade real autorizam um veredicto
condenatório, determinando, tal preceito, que as provas sejam claras e firmes,
consubstanciadas em dados objetivos, que demonstrem a materialidade e a
autoria delitivas.

A propósito, segundo o doutrinador Guilherme de Souza


1
Nucci , existindo conflito entre a inocência e a liberdade do réu e o jus puniendi
estatal, ou seja, havendo uma dúvida razoável, deve o juiz decidir em favor do
acusado, senão vejamos:

“(...) em caso de conflito entre a inocência do réu – e sua liberdade – e o direito-


dever do Estado de punir, havendo dúvida razoável, deve o juiz decidir em
favor do acusado. É um princípio conexo (e consequencial) à presunção de
inocência (art. 5º, LVII, CF). Aliás, pode-se dizer que, se todos os seres humanos
nascem em estado de inocência, a exceção a essa regra é a culpa, razão pela qual
o ônus da prova é do Estado-acusação. Por isso, quando houver dúvida no
espírito do julgador, é imperativo prevalecer o interesse do indivíduo, em
detrimento da sociedade ou do Estado. [...] Se o juiz não possui provas sólidas
para a formação do seu convencimento, sem poder indicá-las na
fundamentação da sua sentença, o melhor caminho é a absolvição.”

1
NUCCI, Guilherme de Souza. In Código de Processo Penal Comentado. 8 ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais,2008, p. 44-45 e 689

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Nesse sentido, preciosas são as lições de Fernando da Costa


Tourinho Filho2, in verbis:

“[...] Uma condenação é coisa séria; deixa vestígios indeléveis na pessoa do


condenado, que os carregará pelo resto da vida como um anátema.
Conscientizados os Juízes desse fato, não podem eles, ainda que intimamente
considerem o réu culpado, condená-lo, sem a presença de uma prova séria, seja
a respeito da autoria, seja sobre a materialidade delitiva.”

Dos elementos de prova coligidos aos autos não se pode


afirmar, com a segurança necessária, que o acusado efetivamente praticou os
atos de agressão e ameaça constantes da denúncia, pairando dúvida quanto à
autoria delitiva atribuída ao réu, devendo ser proferida a sentença absolutória
nos termos do artigo 386, do CPP, à luz do princípio in dubio pro reo.

Em relação a autoria delitiva não há nos autos elementos de


convicção que demonstrem que tenha sido o Réu o agente responsável pelas
lesões nos filhos, aliás não há nos autos prova do dolo, elemento subjetivo
exigido pela infração penal descrita na denúncia, notadamente considerando
que seu grave estado de embriaguez.

Sabe-se que, em casos de parca possibilidade probatória como


as situações envolvendo violência familiar, cabe ao juízo verificar a
razoabilidade das versões apresentadas pela acusação e pela defesa. Todavia,
no caso em tela, a prova não é segura o suficiente para demonstrar que o réu

2
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, in Código de Processo Penal Comentado, Saraiva, Vol.1, 12.ª
edição, 2009, págs. 940/941

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tenha agido com dolo ao causar as agressões mencionadas no caderno


processual.

Ademais, o auto de corpo de delito não deixa claro as lesões,


haja vista a ilegibilidade de modo a permitir aferir a existência de elementos
mínimos aptos a sustentar objetivamente a tese acusatória.

Nesse sentido, o Parquet sustenta que o réu se não tinha a


intenção de lesionar o filho, no mínimo assumiu conscientemente o risco deste
resultado. Entretanto, frisa-se que a possibilidade de “dolo eventual” é
descartada pois a configuração do dolo eventual só é crível se o réu possuía
condições de prever e consentir com a possibilidade de atingir os filhos, o que
no caso em apreço não ocorreu conforme a moldura fática delineada.

Ora Excelência, como asseverar que o réu conscientemente


anuiu com um resultado lesivo, aceitando a produção das supostas lesões se os
elementos presentes nos autos não dão suporte probatório mínimo para a tese
acusatória?

Assim, não sendo possível afirmar, extreme de dúvidas, a


existência de dolo por parte do acusado e, inexistindo provas mais
contundentes acerca das circunstâncias em que ocorreu o fato e prestigiando a
aplicação do princípio do in dubio pro reo, que preza pela absolvição do réu
quando ausentes provas suficientes para ensejar juízo condenatório firmado na
verdade atingida em juízo, deve ser o réu absolvido das condutas que lhe são
impostas.

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III- DOS PEDIDOS

Diante do exposto, a Defesa pugna pela absolvição do suplicante nos moldes do


artigo 386 inciso IV do CPP.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Cambuí, 13 de março de 2023.

Karin G. Lambert OAB/MG 183.454

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