Discorreremos a seguir a perspectiva de dois professores associados da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, a partir do artigo produzido por ambos “A Psicologia Ecológica e o
estudo dos acontecimentos da vida diária”. São estes: Clarisse Carneiro, graduada em
Psicologia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos com ênfase em Psicologia Ambiental e atuando
principalmente nos temas: Vivências em desastres, a vida diária nas cidades, metodologia qualitativa e
Pitágoras Jose Binde, também graduado na UNISINOS com Experiência na área de Psicologia da
Gestão Integral de Riscos e de Desastres; Políticas Públicas, com especial foco em Desenvolvimento
Sustentável.

Em seu artigo, Carneiro e Binde (2001), discutem a relação entre a Psicologia Ecológica (ou Psicologia
Ambiental), e o contexto dos acontecimentos da vida diária, a partir de uma retrospectiva histórica do
desenvolvimento desse campo, desde as contribuições de Roger G. Barker (1968), cientista social
percussor da Psicologia Ambiental, e seus associados, até os atuais avanços feitos na área.

Segundo eles a Psicologia Ecológica, vista em sua globalidade, possui como objetivo “uma articulação
teórica dos acontecimentos da vida diária”, sendo acontecimentos diários definidos por eles
como fenômenos da vida real, tais quais eles acontecem em condição de vida “natural” (ou
seja, diferente de condições mais ou menos artificiais, geradas ou manipuladas pelo
experimentador).

Para melhor visualizar o contexto da temática apresentada no artigo, foram explicitados alguns
conceitos definidos por Barker, tal qual o de “behavior setting”, tido como “a unidade ou
conjunto natural relacionado com a organização dos acontecimentos da vida diária, na qual se
desenvolve o comportamento ou a ação humana”. Para melhor compreensão foram usados
como exemplos uma aula de piano que acontece às quartas-feiras das 10:00 às 11:00 horas,
uma reunião de um determinado sindicado que ocorre nos últimos sábados de cada mês, das
8:30 às 11:00 horas, a missa dominical das 19:00 horas, uma determinada audiência jurídica,
um certo concerto de rock, entre outros. E definido ainda que: “no sentido de Barker, os
behavior settings são entendidos como unidades ou conjuntos naturais, limitados
concretamente no tempo e no espaço, nos quais certos modelos de comportamento ou ação -
que ocorrem dentro de um milieu (ou meio) mais ou menos específico -, acontecem sempre de
forma semelhante. Barker falava de “padrões estáveis de comportamento” (standing patterns
of behavior). Por milieu se entende as condições físicas e sociais imediatamente periféricas ao
acontecimento. É fundamental estar atento ao fato de que o indivíduo no behavior setting não
está somente em interrelação com o milieu não-humano (i.e., físico ou materialespacial), mas
também com os outros participantes do behavior setting. Isso significa que os participantes do
behavior setting são milieu uns para os outros, e isso ocorre especialmente através de suas
atividades”

Entretanto, a pesar das analises feitas tendo tal conceito como base, Carneiro e Binde também
apresentam as criticas feitas ao autor e concluem que a concepção de behavior setting oferece
a possibilidade de ordenar e taxonomizar os acontecimentos da vida diária em unidades ou
conjuntos de acontecimentos naturais e, ao mesmo tempo, de compreendê-los e analisá-los
como subsistemas de conjuntos de acontecimentos estruturais e funcionais superiores
(exemplificando, instituições, subsistemas da organização política de um município, estado ou
país). A concepção de behavior setting possibilita uma interpretação e análise simultânea das
unidades básicas espaciais-materiais e sociais, nas quais se realizam ou se desenvolvem
concretamente os acontecimentos da vida diária.
Quanto a questão dos desastres, os autores o consideram um conceito amplo e impreciso, pois
devem ser levados em conta o contexto econômico, político e social em que ele ocorre.
Segundo eles, todas essas variáveis se relacionam e o comportamento das pessoas envolvidas
será o resultado de como essas instâncias estão configuradas.