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2021
Matrizes e modelos
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Figueiredo & Coelho Júnior
❧ Atravessamentos de paradigmas:
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Alvarez.
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A capacidade de apresentar detalhadamente a
sua experiência clínica, e de forma imagética,
tornou-se uma referência marcante na sua obra.
Ogden tem a habilidade de narrar os detalhes
da experiência emocional vivida na sessão
analítica, em especial, como duas mentes
pensam juntas. Ogden conduz o leitor à
intimidade da sala de análise, fazendo com que
a leitura seja, em si, uma experiência
transformadora.
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Na entrevista de 2013, Ogden diz que
raramente usa o termo identificação projetiva,
pois cada um tem uma definição e
compreensão do conceito, ele prefere descrever
o fenômeno. Relata que aquilo que tem em
mente quando fala em identificação projetiva é
a mãe e seu bebê criando uma terceira mente.
Sendo que a experiência emocional é
transformada na vivência do terceiro. Aqui
temos a evidência, declarada pelo próprio
autor, da passagem do conceito de identificação
projetiva para o conceito de terceiro, ou seja,
como duas pessoas pensam a partir de uma
terceira mente que se constitui no encontro.
Ogden (1994/1996, p. 7) escreve que …
“Considera o conceito kleiniano de identificação
projetiva um passo monumental na ampliação
do entendimento analítico da natureza e das
formas da tensão dialética subjacente à criação
do sujeito”.
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A partir dessa constatação vamos examinar
detalhes dessa transição, da identificação
projetiva ao conceito de terceiro analítico, em
alguns textos do autor.
ZICHT, S. R. The interpersonal tradition: the origins of
Psychoanalytic subjectivity. By
Irwin Hirsch. The Psychoanalytic Quarterly, v. 85, n. 1, p.
225-234, 2016.
Trata-se de uma metáfora fantástica para a compreensão
desse fenômeno intersubjetivo. A água é criada pelo
encontro, a água é o terceiro elemento criado e que,
concomitantemente, produz efeitos nos dois elementos
iniciais.
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O terceiro analítico é criado e recriado ativa e
continuamente por cada um dos parceiros, sendo que
cada um tece, então, o seu próprio terceiro analítico que
entra em relação com o terceiro analítico do outro.
O elemento fluído água seriam as emoções que circulam
produzidas por esse terceiro elemento; ou seja, algo que é
produzido pelo encontro, o terceiro elemento água, mas que
passa, também, a produzir novos efeitos, em um processo
contínuo.
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Outra imagem que podemos ter em mente para
compreender o conceito é a do Rio Negro que se encontra
ou colide como o Rio Solimões no Estado da Amazônia:
águas escuras e águas barrentas caminham por
quilômetros com suas cores diversas, criando, conforme
a correnteza segue, uma água comum, de cor singular,
que não é mais Negro nem Solimões, uma terceira água se
forma com formas únicas e irrepetíveis.
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Vinheta clínica: Antonino Ferro, 2003:
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...
Eu estava desesperado porque não conseguia, de forma
alguma, fazer diminuir a violência que havia na sala. Até que,
num certo momento, eu lhe disse (porque foi a imagem que
tive): ...
“Eu tenho a impressão, com o senhor, de estar como num
daqueles filmes de ‘faroeste’, no qual cai um copo e todos
sacam as pistolas e começam a atirar. E todos ficam, o
tempo todo, com terror desse tiroteio que pode acontecer a
qualquer momento.
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E essa foi a primeira vez que eu vi ele sorrir, se
tranquilizar, e por um bom tempo prosseguimos
falando, justamente por meio dos filmes de faroeste.”
Ogden faz articulações da identificação projetiva,
tanto com a teoria de Winnicott, quanto com a
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teoria de Bion.
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A principal ferramenta do analista, nos diz Ogden
em 1979, é sua habilidade em entender seus
próprios sentimentos e, também, o que está
acontecendo entre o analista e o paciente. O
analista precisa ter competência de formular de
maneira clara e precisa sua compreensão...
A gravura de Escher parece ser uma
imagem exitosa da unidade
dialética analista-analisando:
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A gravura evidencia a permeabilidade entre
as mentes, podemos pensar que o terceiro é
a gravura na sua totalidade, a cena do
encontro analítico. As bolas que circulam a
dupla, parece ser uma boa representação dos
objetos analíticos...
A rêverie como o próprio sentido da palavra
revela, é o sonho acordado, o devaneio. A
capacidade imaginativa da mente é a reverie;
implica a permeabilidade e a disponibilidade
mental e emocional à comunicação do outro.
Grande parte do movimento psíquico de uma
sessão implica a capacidade de rêverie do analista e
a possibilidade do seu uso nas interpretações.
No entanto, essa experiência, muitas vezes, é
desorganizadora, pois é vivida como algo
extremamente pessoal e íntimo, compreendida
inicialmente mais como uma falha técnica do que
como algo que emerge do encontro entre as duas
mentes presentes na sala. Se pudermos fazer uso
dela, a reverie funciona como uma verdadeira
bússola, indicando nortes do campo emocional
gerado pelo encontro de duas mentes, do analista e
do analisando
E, afinal, como podemos compreender o
conceito de identificação projetiva hoje?
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“ Considera a identificação projetiva
uma dimensão de toda a
intersubjetividade, às vezes como
qualidade predominante da experiência,
outras somente como um sutil pano de
fundo.”
O terceiro e o campo analítico, breves
apontamentos
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O campo analítico
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O conceito de campo analítico do casal Baranger
consiste em considerar o encontro das duas
subjetividades, analista e analisando, em constante
interação. As duas subjetividades geram tanto novos
pensamentos como, também, levantam defesas
inconscientes, os denominados baluartes, formados a
partir de uma fantasia inconsciente da dupla. Tudo o
que acontece no campo analítico é fruto do
funcionamento tanto da mente do analista como da
mente do analisando em complexa interação.
Ogden, considera os conceitos, metáforas que
enfatizam diferentes aspectos do
funcionamento mental.
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A metáfora do terceiro analítico enfatiza
a criação de uma terceira mente,
irredutível à soma de duas mentes. O
campo analítico enfatiza as forças
criadas pela experiência consciente e
inconsciente da dupla, podemos dizer
que tem um caráter espacial.
Os dois conceitos se sobrepõem, não existindo
uma clara distinção entre eles.
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Ogden tende a usar o conceito de campo
analítico vinculado a questões que envolvem o
setting. O conceito de terceiro analítico
vinculado a rêverie, ou seja, o modo como esse
fenômeno expressa uma produção do terceiro,
e não uma criação exclusiva do analista ou do
paciente
Ogden diz que em pouco tempo, ambas as
metáforas, terceiro analítico e campo
analítico, se tornarão obsoletas e outras terão
de ser inventadas, ou seja, a teoria
psicanalítica, assim como a análise, é uma
sonda que expande o próprio campo que
investiga (Bion), uma obra aberta.
Cabe a nós, como estudiosos e
pesquisadores da psicanálise, historicizar e
articular os conceitos, atravessando
paradigmas com rigor e ética, nesse universo
transmatricial criativo da psicanálise
contemporânea.