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“Encontro-me num tal estado de perturbação cerebral, numa perturbação tão grande que
temo, a qualquer momento, que minha frágil razão me abandone […] Parece-me agora que
sigo melhor e que penso com mais exatidão na orientação de meus estudos. Chegarei à
meta tão buscada e há tanto tempo perseguida? Estudo sempre a partir da natureza e
parece-me que faço lentos progressos”
Merleau Ponty era pintor e escreveu isso a um mês antes de morrer; não tinha amigos, não
tinha apoio da família e era muito sozinha;
“Essa perda dos contatos dóceis com os homens, essa incapacidade de dominar situações
novas, essa fuga nos hábitos, num meio que não se coloca problemas, essa oposição rígida
entre a teoria e a prática, entre “ser fisgado” e uma liberdade de solitário “ - cezanne sofreu
disso na vida e via na arte uma unica motivaçao para estar vivo
“É possível que, não obstante suas fraquezas nervosas, Cézanne tenha concebido uma
forma de arte válida para todos” - acreditava que a arte salvava
“O sentido de sua obra não pode ser determinado por sua vida. “
“Provêm dos sentimentos e querem antes de tudo provocar sentimentos. São pintados
quase sempre em grandes pinceladas e apresentam antes a fisionomia moral dos gestos
que o seu aspecto visível.” - como era o estilo de sua arte
acreditava que “Além disso, cada cor que vemos na natureza provoca, por uma espécie de
repercussão, a visão da cor complementar, e essas complementares se excitam” “Cézanne
faz supor que ele busca outro objetivo: há não apenas as sete cores do prisma, mas dezoito
cores, seis vermelhos, cinco amarelos, três azuis, três verdes, um preto.” Atraves da luz e da
forma possibilita a visao de cores complementares
“O objeto não está mais coberto de reflexos, perdido em suas relações com o ar e os outros
objetos, ele é como que iluminado secretamente do interior, a luz emana dele, e disso
resulta uma impressão de solidez e de materialidade”
ainda assim escolheu não excluir totalmente o impressionismo e foi capaz de trazer algumas
caracteristicas para suas obras “Sua pintura seria um paradoxo: buscar a realidade sem
abandonar a sensação, sem tomar outro guia senão a natureza na impressão imediata, sem
delimitar os contornos, sem enquadrar a cor pelo desenho, sem compor a perspectiva nem o
quadro “
Bernard sobre essa nova arte declarou que era o suicidio de cezanne: “ele visa a realidade
e proíbe-se os meios de alcançá-la. “
ele passou a brincar com os modos de perspectiva e visao da arte: “Ora, as sensações
fariam inverter os objetos e sugeririam constantemente ilusões, como o fazem às vezes –
por exemplo a ilusão de um movimento dos objetos quando movemos a cabeça –, se o
julgamento não corrigisse a todo instante as aparências”
para a realidade, só pode julgar assim sua pintura quem não prestar atenção à metade do
que ele disse e fechar os olhos ao que ele pintou
arte e natureza era uma dicotomia e era de desejo de cezanne uni-las. Cézanne não
acreditou ter que escolher entre a sensação e o pensamento, como entre o caos e a ordem.
ele confiava q a inteligencia e a razao fossem entender a arte: ““Eu gostaria de uni-las. A
arte é uma apercepção pessoal. Coloco essa apercepção na sensação e peço à inteligência
para organizá-la como obra”
o desejo de chegar em uma ordem entre sensaçao & inteligencia “Percebemos coisas,
entendemo-nos sobre elas, estamos enraizados nelas, e é sobre essa base de “natureza”
que construímos ciências.” PAGINA 12
Sendo assim, como um gancho também para “repor as essências na existência”, Merleau
Ponty pontua o desenvolvimento das ciências humanas a partir de seu entendimento
fenomenológico da percepção, uma vez que serve como fundamento para outras ciências e
para futuros filósofos, a mudança de plano entre a busca pelo entendimento dos fenômenos
da natureza para o entendimento de uma análise descritiva do que aparece para nós a partir
do real
2. Em “A dúvida de Cézanne” Merleau-Ponty apresenta a pintura de Paul Cézanne numa
abordagem peculiar à fenomenologia, destacando os seguintes temas: a relação entre
pintura e desenho; o olhar e a relação com os demais sentidos; a relação entre arte e
ciência; a relação entre arte, corpo e expressão. Elucide os temas mencionados
reconstruindo os argumentos do autor.
Assim como a filosofia apontada pelo filósofo Merleau Ponty sobre a fenomenologia da
percepção, ao tratar sobre Cézanne, um pintor do século XIX, ele adepta de suas
conceituações e trata a arte de um modo inovador. Inicialmente a relação entre pintura e
desenho, passa por transformações perante à história, isto é, a delimitação de uma forma,
preenchimento e um contorno deixam de ser prioridades para Cézanne e direciona suas
pinturas sem se preocupar com um contorno e forma exata dos objetos.
Consequentemente, ele foge dos conceitos pregados no impressionismo, que preza a figura
com cores vibrantes e vívidas a partir das delimitações puras entre cada objeto. De certo
modo, Cézanne interliga um pouco desses conceitos em suas obras, o qual apresenta a
figuração do objeto mas com uma ampla variação de cores dentro de uma luminosidade e
busca trazer uma estrutura essencial das formas e cores, onde questionava as convenções
tradicionais da pintura na época.
Cézanne buscava a representação da essência do objeto, que por não ser visível, tentava
mostrá-la visivelmente. A partir disso, entende-se a relação entre a arte e a ciência, uma vez
que é um modo empirista do fazer artístico ao visar e priorizar a experiência, isto é, a
extrema atenção à natureza, a cor e ao caráter inumano de sua pintura. A ligação do olhar
com os demais sentidos também ao representar o movimento e o aqui e o agora sem se
prender aos requisitos impostos pelo realismo.
Sendo assim, a arte sempre foi uma forma de expressão, e Cézanne não fugiu disso. A ideia
de despertar a arte no receptor e descentralizar o corpo no fazer artístico, tornando-o como
um objeto.