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- Contexto histórico da Crónica de D.

João I;

Entre 1383 e 1385, o rei D. Fernando morre sem deixar filho varão que lhe sucedesse fazendo com que existisse uma
crise profunda motivada, sobretudo pela questão da sucessão ao trono, após a sua morte. Como a filha D. Beatriz
estava casada com o rei D. João I De Castela, ficou como regente do reino, a rainha Leonor Teles que tinha como
amante o Conde Andeiro. Então um grupo de burgueses em nobres orientados por Álvaro Pais, resolveram fazer uma
revolução. Escolheram o Mestre de Avis, D. João, para matar o Conde Andeiro nos paços da Rainha. Entretanto, seria
dita ao povo que era D. João que estava a ser morto pelo amando da Rainha, afim de este apoiar a revolução. O
Conde Andeiro morreu, e houve a aclamação do Mestre como Regedor e Defensor do Reino.

D. João de Castela põe cerco a Lisboa, que só termina devido a um surto de peste. Em 1385, trava-se a batalha de
Aljubarrota contra os castelhanos onde os portugueses saem vitoriosos, garantindo a independência a Portugal. O
povo é considerado o papel de maior relevância neste projeto por este ter sofrido e a suportar as maiores
dificuldades para garantir a independência do seu país.

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- Afirmação da consciência coletiva;

Assim, evidencia-se na obra, como exemplificam os capítulos 11,115 e 148 da primeira parte, a afirmação da
consciência coletiva nacional. Fernão Lopes descreve a atuação coesa e determinada das massas populares,
expressando-se por uma só voz, na defesa e na independência. Existe a manifestação dos sentimentos que
pertencem a um grupo, que é a nação, assente no reconhecimento da autonomia política. Também a ação popular
coesa na defesa da independência nacional face a Castela e no apoio do Mestre de Avis (D. João), e a valorização da
sua terra, a sua identidade nacional e da vontade popular.

Fernão Lopes descreve igualmente as constantes demonstrações de coragem, de determinação e de patriotismo que
as resistências ao seu inimigo castelhano exigiram, com particularidade o cerco de Lisboa, durante o qual a
população de Lisboa se mostrou perseverante apesar das dificuldades passadas.

No capítulo 11 são os sentimentos de união e movimentação coletiva das figuras do povo na defesa do Mestre de
Avis.

No capítulo 115 é o esforço, a valentia e a determinação dos elementos do povo na recolha de mantimentos e na
preparação da defesa da cidadã face ao cerco castelhano.

No capítulo 148 o espírito de sacrifício, coragem, e resistência da população durante o cerco montado pelo rei de
Castela Lisboa e face ás suas consequências, em particular a escassez de alimentos.

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- A importância do povo:

O povo assume-se como protagonista e a força motora desta revolução, sem a qual ela não vingaria. Este tem
consciência coletiva porque sabe que tem de defender a sua pátria para que a mesma não perca a independência,
porque eles apoiavam e queriam que o seu rei fosse o Mestre de Avis (D. João) que era português. Apesar dos piores
momentos como o cerco de Lisboa, os ataques dos castelhanos, a miséria e a fome, quando o povo ouvia os sinos
deixava os seus ofícios e pegava em armas para defender a cidade, sendo assim muito corajoso, sempre muito unido
e também patriota.

É por isso elevado a herói, símbolo da unidade nacional, e o protagonista da revolução que se organiza e sofre
durante o cerco. Sem o apoio da multidão a revolução não se teria feito.
É um conjunto anónimo de figuras que agem e se expressam como um todo uno e coeso, partilhando as suas
vontades, sentimentos e emoções. Assim como uma rainha viúva deve salvar quem ficou no lugar do seu reino,
também a população de Lisboa é comparada a uma mulher que ficou viúva, e que encontrou agora um novo marido:
o Mestre de Avis (D. João I).

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- Atores individuais e coletivos na Crónica de D. João I (figuras que agem de forma singular e as que atuam em
grupo);

Como ator coletivo temos o povo que se assume como protagonista e a força motora desta revolução. Este tem
consciência coletiva porque sabe que tem de defender a sua pátria para que não perca a independência, porque eles
queriam que o seu rei fosse o Mestre de Avis que era português.

Os atores individuais são Leonor Teles que era uma rainha impopular odiada pelo povo que considerava uma mulher
aleivosa que traía o marido, pois era amante do Conde Andeiro. A população acusa-a também de ter estado na
morte do marido, D. Fernando, e consideravam na ainda responsável pela cilada para matar o Mestre. O Conde
Andeiro é também odiado pelo povo porque não queriam que se este iria casar com a rainha Leonor Teles seria rei
castelhano, e não queriam que este tirasse a independência a Portugal.

O pajem do Mestre a figura individual que informa e incita o povo gritando que alguém quer matar o Mestre nos
paços da rainha. O Mestre de Avis é amado pelo povo de Lisboa, figura carismática e populista. É também afiável na
forma de lidar com o povo, e altruísta por não pretender benefícios.

D. João I é o rei de Castela e casado com a filha de D. Fernando, D. Beatriz. E Álvaro País o povo também gosta e foi
quem orientou esta revolução.

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- A escrita de Fernão Lopes.

A escrita de Fernão Lopes é muito rica, carregada de emoção, de pormenores vivos, com efeito de visualismo
descritivo o que faz dele um notável prosador medieval. O seu discurso apresenta inúmeras características que lhe
oferecem valor literário.

O recorte das personagens, bem como do contexto em que se movimentam, é feito numa linguagem marcada pelo
coloquialismo, pelo visualismo e pelo dinamismo, que aproximando se da oralidade, procura levar o leitor a ver e
ouvir os acontecimentos como se ele estivesse presente, usando diversos intervenientes na ação, sensações auditivas
(sempre que ouvirmos falar de ruídos e barulhos é sensação auditiva), mudanças espaciais, alternância entre planos
de conjunto e de pormenor.

Servindo-se, para isso, de apostrofes, e interpelações, do discurso direto, da enumeração de pormenores e de


vocabulário ligado aos sentidos e a outros recursos expressivos como a metáfora, a comparação, a personificação, e o
pleonasmo (reforço de uma ideia), ….

Nesta narrativa histórica é evidente a subjetividade como, por exemplo, o sentido crítico, a consciência social, a
perspicácia política, coexistem na solidariedade com a sua classe e com a cidade de Lisboa.

Sendo Fernão Lopes um verdadeiro artista de palavra, preocupado com a beleza da forma e não apenas com a
verdade do conteúdo.

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