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CAPÍTULO 1

Introdução
VOCABULÁRIO DOS TERMOS BÁSICOS CONCEITOS BÁSICOS DA ARTE TRIDIMENSIONAL
NATUREZA EVOLUTIVA DA ARTE MATERIAIS E TÉCNICAS TRIDIMENSIONAIS
OS TRÊS COMPONENTES DA ARTE Subtração
Tema Manipulação
Forma Adição
Conteúdo Substituição

UNIDADE ORGÂNICA ÁREAS DE APLICAÇÃO TRIDIMENSIONAL


Escultura
ABSTRAÇÃO Arquitetura
EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA PESSOAL Trabalho com metal
Trabalho com vidro
DESENVOLVIMENTO DE IDEIAS
Cerâmica
PENSAMENTO CRÍTICO E ANÁLISE Fibras
CONCEITOS BÁSICOS DA ARTE BIDIMENSIONAL Design de produtos
MEDIA BIDIMENSIONAIS E TÉCNICAS COMBINAÇÃO DE INGREDIENTES: UM RESUMO

Olafur Eliasson, Só vejo as coisas quando elas se movem, 2004. Madeira, vidro com filtro com efeito de cor, aço inoxidável,
alumínio, lâmpada HMI, tripé, cilindro de vidro, motores, unidade de controle, tamanhos variáveis.
Instalação na Galeria Tanya Bonakdar. Fotografia: Fabian Birgfeld, PhotoTECTONICS. Doação de Marie-Josée e Henry Kravis em honra de Mimi Haas.
Cortesia do Museu de Arte Moderna de Nova York. © 2004 Olafur Eliasson.

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VO C A B U L Á R I O D O S T E R M O S B Á S I C O S
2 F U N D A M E N T O S Arte
DE A–R
“Expressão
TE formal de uma imagem concebida ou de uma concepção
imaginada em termos de determinado medium.” – Sheldon Cheney

Encontre a definição dos termos abaixo no Glossário, página 299.


abstração escultura percepção conceitual
adição espaço percepção ótica
área negativa estética plano
área positiva estilo plano (adj.)
arte expressão plano do desenho ou quadro
arte abstrata, não figurativa figura plástica (adj.)
ou concreta figura retilínea princípios de organização
(arte) descritiva forma Realismo
arte representativa glíptico relevo
artes gráficas habilidade manual repetição
artistas conceituais instalações subjetivo
artistas processuais manipulação substituição
assemblage massa subtração
Bauhaus medium, media (pl.) técnica
bidimensional modelagem tema
conceito moldagem tridimensional
Cubismo moldura unidade
decorativo Naturalismo unidade orgânica
design objetivo volume

A NATUREZA EVOLUTIVA DA ARTE


O desejo de criar não é um fenômeno bulbosas (Figuras 1.1 e 1.2). Por que a ser compartilhadas com os outros?
recente. Parece ser um anseio funda- eles trabalhavam em cavernas de ro- Eram parte de um ritual xamã para
mental que remonta aos primórdios chas protuberantes com acesso tão garantir uma caçada bem-sucedida,
da humanidade. Nossos ancestrais limitado? As imagens destinavam-se cultuar os espíritos dos bisões e dos
pré-históricos rastejavam em passa-
gens de cavernas escuras onde, com
tochas tremeluzentes, criavam im-
pressionantes imagens de bisões e
cavalos nas paredes, gravavam em
chifres de cervos e esculpiam figuras

1.1 Cavalo em Fuga Atacado por Flechas. Pin-


tura rupestre paleolítica, 15000–10000 a.C.,
Lascaux, França. No contexto das belas artes,
um significado da palavra fundamental é o dese-
jo essencial ou básico de criar arte. Bettmann/Corbis.

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1.3 Pintura em um teto,Templo Vanni Vinayagar, Sattur, Distrito de Virudhunagar,Tamil Nadu, Índia.
Localizada em um templo na Índia, esta pintura no teto apresenta uma visão artística do mistério do
universo. Por meio da arte, os fiéis são inspirados e motivados a contemplar questões existenciais.
© Melvyn Longhurst/Alamy.

cavalos ou garantir a fertilidade e a quê dessa necessidade persistir nos


continuidade da tribo? Ainda que seres humanos ainda hoje.
possamos especular sobre seus pro- Mas o que exatamente é a arte?
pósitos, essas primeiras imagens reve- Suas múltiplas definições são comple-
1.2 Vênus de Lespugue, escultura do Período lam algo tão antigo quanto a própria xas e de difícil compreensão. O termo
Aurignaciano, c. 25000–18000 a.C., encontra- humanidade – o anseio e a necessida- é frequentemente sinônimo de habi-
da na Caverna Rideaux de Lespugue na base
dos Pirineus, França. 13,3 cm de altura. Prova-
de mágicos de criar. lidade manual, o que sugere conhe-
velmente utilizada como um fetiche mágico de Mesmo hoje, vivendo em um cimento dos materiais e do seu ma-
fertilidade, a Vênus de Lespugue foi esculpida em mundo digitalizado e mecanizado, nuseio habilidoso. De fato, qualquer
uma presa de mamute durante o Período Aurig- parecemos tão impelidos quanto os habilidade criativa e variável pode ser
naciano. Scala/Art Resource, Nova York. antigos a interpretar o funcionamen- classificada como arte. Durante os
to do universo e do nosso ambiente séculos XIV, XV e XVI, as corporações
imediato por meio da arte (Figura de ofício (ou guildas), que mantinham
1.3). De fato, a quantidade de obras os padrões e as tradições dos ofícios
sendo criadas hoje é ímpar. A arte dos artistas, eram chamadas de “Arti”.
mostra o ordinário de um modo Atualmente, o termo as artes refere-se
extraordinário e dá significado ao aos ramos do saber que estudam as
mundano. Ela dá o sentido que traz habilidades criativas, tais como artes
vitalidade ao cotidiano e nos trans- musicais, artes visuais, artes dramáti-
porta para além dele. Com a arte, cas, e assim por diante. Os termos arte
podemos comunicar emoções com- e obras de arte, portanto, referem-se
plexas, confortar a alma ou instigar o também aos frutos de tais habilidades
pensamento e a ação; sua linguagem – produtos que em geral apresentam
expressa nossa sensibilidade e trans- estrutura intencional, percepção in-
mite nossas ideias como nenhuma comum e intuição criativa. Para uns,
outra. Essa pode ser a razão pela qual uma obra de arte é alcançada somente
o anseio fundamental de criar objetos quando a criação ultrapassa a simples
de arte remonta aos primórdios da função ou utilidade e assume mais
humanidade e, certamente, é o por- do que o significado comum. Para

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1.4 Estas descrições filosóficas de “ar te”


Muitos filósofos, ao longo dos anos, opinaram sobre os exemplificam um esforço constante para deci-
propósitos e as qualificações da arte: frar sua verdadeira natureza e sugerem que a
arte é uma coisa diferente para cada pessoa.
• a expressão formal [estruturada] de uma imagem concebida em termos Repare que várias dessas definições enfatizam
de determinado meio (Cheney) o “prazer” como componente da arte, embora
alguns tipos de arte não tenham qualquer inten-
• a criação de uma forma produzida pela cooperação de todas as
ção de provocar prazer. Seja qual for a definição,
faculdades da mente (Longman)
a arte pode ser relaxante ou estimulante; para o
• forma significativa (Bell) artista, também pode causar frustração – mas,
na maioria dos casos, por fim, traz uma sensação
• eloquência (Burke)
de realização.
• inevitabilidade inesperada de relações formais (Fry)
• um conjunto unificado que causa prazer (Mather)
• um diagrama ou paradigma com um significado que causa prazer (Lostowel)
• aquilo que causa prazer além do desejo (Tomás de Aquino)
• prazer objetificado (Santayna)
• imitação [reflexão da vida ou de outras ideias]
• propaganda [ênfase na comunicação em vez da expressão, implicando
um esforço para influenciar a conduta]

outros, tudo o que é criativo tem va- será apenas um mero “artesanato” em A estética, a apreciação filosófi-
lor, seja qual for o nível de habilidade. vez de “arte”. Bons artesãos, no entan- ca do “belo”, é um estudo complexo
Os propósitos e características da arte to, certamente afirmariam que suas que ainda está em evolução, em par-
variam com cada indivíduo, cultura obras são de fato belas. De qualquer te por causa do conceito de beleza,
e época. Assim, nesse sentido, a defi- maneira, a beleza é subjetiva e de- que mudou radicalmente durante as
nição de arte ainda está se desenvol- pende, em parte, das expectativas do últimas gerações. Ao procurar por
vendo (Figura 1.4). observador. O público normalmente novos meios de expressão, cada ge-
Pense sobre a sua própria defini- gosta de imagens que lhes sejam fa- ração de artistas altera a natureza da
ção de arte... e tenha ciência de que miliares, reconhecíveis, sentimentais arte. As técnicas e ambições também
sua opinião pode mudar. Considere, ou agradáveis de sentir e espera por mudaram muito desde a época das
por exemplo, a imagem de uma flor. elas. Entretanto, nem todas as pessoas, antigas civilizações, e hoje temos um
Quando ela é arte e quando não é? mesmo aquelas de culturas similares, conjunto de diferentes abordagens à
Faz diferença se a imagem é um dese- concordariam sobre a beleza de deter- arte. Seja qual for o tempo ou o lugar
nho ou uma fotografia, se foi pintada minado tema, muito menos quanto da criação, a arte sempre foi produzi-
com o dedo de uma criança ou é uma ao seu tratamento visual. E se a obra da porque um artista quis dizer algo
pintura composta por números? E se incluir uma imagem emocional, mas e escolheu uma maneira particular de
você mal puder reconhecer a flor? tiver sido mal executada? Ainda é dizer. Para cada obra, o artista faz es-
Parte do público sente que a obra considerada bela? E se na obra faltar colhas quanto a estrutura, media (ma-
de arte deve ser “bela” (isto é, visual ou uma imagem marcante, embora tenha teriais e ferramentas), técnicas (mé-
intelectualmente agradável), ou então sido habilmente executada? todos de usar os media) e tratamento

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1.5 Piet Mondrian, A Árvore Cinza, 1911. Óleo


sobre tela, 179,7 × 109,1 cm. Nesta obra,
constatamos o início da abstração que marcou
o progresso de Mondrian visto nas Figuras 1.6 e
1.7, até a pureza de seu estilo maduro mostrado
na Figura 1.8. © 2011 Fundação Mondrian/Holtzman sob os
cuidados de HCR International Washington, DC.

1.6 Piet Mondrian, As Árvores, 1912. Óleo


sobre tela, 94,0 × 70,8 cm. Esta pintura tam-
bém faz parte da progressão gradual abstrata
de Mondrian na série das árvores até seu pu-
rismo clássico final da Figura 1.8. É um passo de
distanciamento do maior realismo da Figura 1.5
e em direção à maior abstração da Figura 1.7.
Museu de Arte Carnegie, Pittsburgh; Fundo dos Patronos para
as Artes. Acc 61.1 Fotografia: Peter Harholdt. © 2011 Funda-
ção Mondrian/Holtzman sob os cuidados de HCR International
Washington, DC.

do tema, para melhor expressar sua


ideia. Com o tempo, o conjunto da
obra do artista pode revelar sua iden-
tidade expressiva, como uma assina-
tura – esse atributo significativo é co-
nhecido como estilo artístico. Alguns
estilos, outrora únicos aos artistas
individuais, foram adotados por ge-
rações de artistas e tiveram um uso
histórico mais abrangente. Em muitos
casos, o estilo de um artista muda à
medida que sua obra se desenvolve e
cresce. Um exemplo excelente é a obra
de Piet Mondrian (Figuras 1.5, 1.6,
1.7 e 1.8), cujo estilo final influenciou
artistas de outros campos (Figuras
1.9, 1.10 e 1.11). É comum que artis-
tas jovens se sintam tentados a impor
prematuramente um estilo à sua obra
em vez de permitir que ele amadureça

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1.8 Piet Mondrian, Composição em Azul, Preto, Vermelho e Amarelo, 1922.


Guache sobre papel, 41 × 49 cm. As cores primárias divididas por linhas
pesadas, formando uma grade bidimensional, são típicas da obra tardia de
Mondrian. Este é o estilo que se tornou muito influente ao longo dos anos.
Nationalgalerie, Berlim. Bildarchiv Preussischer Kulturbesitz/Art Resource, Nova York. © 2011 Fun-
dação Mondrian/Holtzman sob os cuidados de HCR International Washington, DC.

1.7 Piet Mondrian, Composição, 1916. Óleo sobre tela e tiras de ma-
deira, 120,0 × 79,9 cm. Como uma sequência das Figuras 1.5 e 1.6, esta
obra posterior pode ser considerada ainda mais próxima da severidade
do estilo final de Mondrian, exemplificado pela Figura 1.8. Fundação Solomon R.
Guggenheim, Nova York (FN 4/9.1229). © 2011 Fundação Mondrian/Holtzman sob os cuidados de
HCR International Washington, DC.

naturalmente. No entanto, eles devem o tratamento do cada vez mais abstra- do que via porque sua exposição era
se lembrar de que, como uma assina- to tema. Os artistas contemporâneos limitada; sua arte local se adequava às
tura, o estilo expressivo de um artista também fazem escolhas expressivas, normas estéticas do status quo e lhes
realmente se desenvolve por meio do geralmente não entendidas ou não era familiar. Ao contrário daqueles
tempo e da prática repetida. consideradas relevantes pelo público. tempos mais bairristas, as sofistica-
Frequentemente, a evolução do es- Como resultado, muitas pessoas que das técnicas de impressão e distri-
tilo e da finalidade resultam em uma querem se envolver ativamente com buição de hoje nos disponibilizam a
obra de arte que ultrapassa os limites a arte acham que muito do que veem maior parte da arte, tanto a do pas-
da aceitabilidade do público. Nos sé- não lhes faz sentido. Antes do sécu- sado como a do presente. Além dis-
culos XIX e XX, os artistas seguida- lo XX, o público tinha uma melhor so, a televisão, a Internet, o rádio via
mente consternavam as pessoas com compreensão e uma maior aceitação satélite bem como o transporte aéreo

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1.9 Gerrit Rietveld e Truus Schröder, Casa


Rietveld-Schröder, 1920–24. Rietveld (arquiteto
e projetista) e Schröder (cliente e coprojetista)
eram membros, junto com Mondrian, do grupo
Stijl, na Holanda – fato que provavelmente ex-
plica as similaridades em estilo. © Nathan Willock/
Architectural Association Slide Library, Londres. © 2011 Gerrit
Rietveld/Sociedade dos Direitos dos Artistas (ARS, Artists Ri-
ghts Society), Nova York.

1.10 Gerrit Rietveld, Ca-


deira Vermelha/Azul, projetada
em 1918 (feita c. 1950 por G.
van de Groenekan). Madeira
de pinho ebanizada e pintada,
88,4 × 60,0 × 75,5 cm. A re-
lação entre os elementos ho-
rizontais e verticais e as justa-
posições de cor em uma grade
assimétrica são características
compartilhadas por esta cadei-
ra e as pinturas de Piet Mon-
drian. Museu de Arte de Toledo, Toledo,
Ohio. Comprada com fundos da Doação
testamentária de Florence Scott Libbey,
em memória de seu pai, Maurice A. Scott
(1985.48). © 2011 Gerrit Rietveld/So-
ciedade dos Direitos dos Artistas (ARS),
Nova York.

1.11 Vestidos de Yves Saint Laurent inspira-


dos em Mondrian. As modelos apresentam
vestidos inspirados no pintor Piet Mondrian du-
rante o desfile de despedida do lendário estilista
francês Yves Saint Laurent, em 22 de janeiro de
2002, no Centro Georges Pompidou, em Paris.
© AP Photo/Remy de la Mauviniere.

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contribuíram para a emergência de


uma cultura global.
A fim de apreciar as muitas for-
mas de arte às quais temos acesso
atualmente, devemos entender os
fundamentos de onde elas se desen-
volveram. Este livro procura propor-
cionar tal compreensão ao exami-
nar os muitos fatores envolvidos na
produção de uma obra de arte e os
princípios que os norteiam.

OS TRÊS
COMPONENTES
DA ARTE
Tema, forma e conteúdo sempre fo-
ram os três componentes básicos
de uma obra de arte e estão ligados
de modo inseparável. Geralmente,
o tema pode ser definido como o “o
quê” (o tópico, foco ou imagem); a
forma, o “como” (o desenvolvimento
da obra, sua composição ou materia-
lização); e o conteúdo, o “porquê” (a
intenção do artista, a comunicação ou
o significado por trás da obra).

Tema
O tema da arte visual pode ser uma
1.12 Barbara Chase-Riboud, Os Banhistas, 1973. Piso em relevo, alumínio moldado e seda
pessoa, um objeto ou uma ideia.
em 16 peças, 400 × 400 × 12 cm. Barbara Chase-Riboud não limita sua imagem a uma apre-
Existem muitos e variados modos de sentação superficial do tema (os banhistas). Ela revela significados mais profundos por meio da
apresentar o tema, mas isso somente forma da obra, com a repetição das dobras da superfície ondulada moldada e o contraste do
tem importância se o artista se sentir metal com os leves rolos de seda. Cortesia da artista e de Jernigan Wicker Fine Arts, Califórnia.
motivado por ele.
Imagens objetivas, que represen-
tam pessoas ou objetos, parecem es-
tar o mais próximo possível dos seus
correspondentes no mundo real e
podem ser claramente identificadas
(veja as Figuras 6.1, 6.24 e 8.11). Es- físico específico e essa imagem não fi- podem ler a linguagem da forma. (A
sas categorias de imagens também são gurativa é considerada abstrata (veja abstração será discutida em detalhes
chamadas de figurativas. as Figuras 1.8, 7.25 e L.71). Aqui, mais adiante.)
Artistas que exploram o processo pode ser difícil para o observador A música, como a arte visual,
de abstração (simplificação e reorga- identificar o tema, uma vez que este relaciona-se com os temas e forne-
nização) criam imagens que se pare- se baseia exclusivamente nos elemen- ce uma comparação interessante.
cem menos com o objeto em que se tos da arte em vez de em pessoas ou A menos que ela tenha uma letra, é
baseiam, embora ainda possam ser re- objetos da vida real. Muitas vezes, difícil identificar um tema específi-
conhecíveis (Figura 1.12; veja também esse tipo de tema se refere às ideias co em uma obra musical. Às vezes, o
as Figuras 1.5, 4.20, 5.25, 9.9 e 9.13). do artista sobre energia e movimento, tema é reconhecível – as trovoadas e
No tipo de abstração mais extre- que orientam o uso de matérias-pri- o canto dos pássaros na sinfonia Pas-
mo, o tema não se refere a um objeto mas e se comunicam com todos que toral de Beethoven ou as buzinas dos

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1.13 Charles Sheeler, Composi-


ção Baseada no Vermelho (Pensilvâ-
nia), 1958. Óleo sobre tela, 66,0 ×
83,8 cm. O tema – uma constru-
ção feita pelo homem – está bem
claro. Porém, uma obra de ar te
deve ser julgada não apenas pelo
seu tema, mas por como este é
tratado. Museu Montgomery de Belas Artes.
Coleção Blount de Arte Norte-Americana.

táxis em Um Americano em Paris, arte, dando-lhes ordem e significado os elementos de qualquer modo que
de Gershwin. Outras vezes, no en- por meio dos princípios de organiza- produza o caráter desejado para a
tanto, o tema é mais abstrato, sendo ção. Ao estudarmos a forma de uma obra. Entretanto, os elementos são a
uma emoção ou ideia que emana obra, estamos analisando como ela foi ordem dada e a estrutura significati-
fortemente da música. Fanfarra para criada. Mais especificamente, exami- va de uma obra quando ordenados
o Homem Comum, de Aaron Co- namos o porquê do artista fazer certas conforme os princípios de organi-
pland, é um bom exemplo: ele não escolhas e como essas escolhas intera- zação, que ajudam a integrar e or-
tenta descrever o tema literalmente, gem para formar a apresentação final ganizar elementos. Esses princípios
mas cria um tema musical nobre, da obra de arte. Nesse sentido, a pa- são: harmonia, variação, equilíbrio,
acessível e enaltecedor que exalta a lavra forma talvez faça mais sentido proporção, dominância, movimento
situação difícil do homem comum. na expressão “dar forma” do que no e economia. Eles ajudam a criar re-
De modo semelhante, a arte abstra- substantivo isolado. lações espaciais e transmitem efeti-
ta procura mostrar uma imagem ou Os elementos da arte, que in- vamente a finalidade do artista. Os
ideia mais geral como tema. cluem linha, textura, cor, figura e princípios de organização são fle-
Não importa qual seja o tipo de valor tonal, são os “blocos de cons- xíveis, não dogmáticos e podem ser
arte, a consideração mais importante trução” mais básicos, indispensáveis combinados e aplicados de inúmeras
é como o tema é tratado. Após você e imediatos da expressão. Suas carac- maneiras. Alguns artistas os organi-
reconhecer o tema em uma obra (seja terísticas, determinadas pelas esco- zam intuitivamente, enquanto outros
ele óbvio ou não), pergunte a si mes- lhas dos media e técnicas feitas pelo os planejam de modo mais conscien-
mo se o artista lhe deu expressão artista, podem transmitir uma ampla te, mas, com a experiência, todos de-
(Figura 1.13). variedade de sensações complexas. senvolvem um sentimento instintivo
Todos os artistas devem trabalhar os para a organização de sua obra. Esses
elementos separadamente ou combi- conceitos são tão importantes que
Forma nando-os. Sua organização contribui um capítulo deste livro, sobre a for-
Como componente da arte, a palavra para o sucesso ou fracasso estético de ma, vai se concentrar nos princípios
forma se refere à disposição ou orga- uma obra. de organização, enquanto capítulos
nização geral de uma obra de arte. É Baseando-se na expressão pre- individuais cobrirão cada um dos
resultante do uso dos elementos da tendida, cada artista pode ordenar elementos.

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Conteúdo
A mensagem emocional ou intelectual
de uma obra de arte é seu conteúdo
– uma assertiva, expressão ou estado
de espírito trabalhado pelo artista e
interpretado pelo observador. Dos
três componentes da arte, o conteúdo
pode ser o mais difícil de identificar,
pois o público, sem comunicação di-
reta com o artista, deve decifrar suas
ideias ao observar o tema e a forma
da obra. Em Menina no Colo da Morte
(Figura 1.14), por exemplo, a ênfase
impressionante dos movimentos dia-
gonais para a esquerda, os acentuados
contrastes entre valores tonais altos
e baixos e os agressivos e poderosos
traços do desenho nos dão uma ideia
do que é a vida para Käthe Kollwitz,
embora, talvez, não compreendamos
o quão profunda é sua paixão.
O ideal é que a interpretação do
observador esteja sincronizada com
os propósitos do artista. No entanto,
a diversidade de experiências entre
os observadores pode afetar a comu-
nicação com o artista. Para muitas
pessoas, o conteúdo é determinado
por sua familiaridade com o tema;
elas estão limitadas às sensações des- 1.14 Käthe Kollwitz, Menina no Colo da Morte, 1934. Litografia em creion,
pertadas pelos objetos ou conceitos 42 × 38 cm. O talento natural de Käthe Kollwitz para desenhar foi estimulado por
que conhecem. Um conteúdo muito seu pai, que a inscreveu em aulas particulares antes de mandá-la para uma escola
mais amplo e mais significativo não de arte para mulheres em Berlim. Depois de estudar o trabalho de Edvard Munch,
ela criou imagens fortes de grande carga emocional. A fome e a morte eram temas
depende apenas da imagem, mas é comuns em sua casa, pois seu marido era médico, mas a morte se tornou uma ob-
reforçado pela forma. Isso ocorre es- sessão depois que seu filho, Peter, foi morto na Primeira Guerra Mundial e seu neto,
pecialmente em obras mais abstratas, também chamado Peter, na Segunda Guerra Mundial. Nesta composição, o tema
nas quais o observador pode não re- da morte é destacado pelos movimentos diagonais marcantes, contrastes extremos
conhecer a imagem como um objeto de valor e os traços ousados do desenho. Arte © 2011 Sociedade dos Direitos dos Artistas
(ARS), Nova York/VG Bild-Kunst, Bonn. Fotografia © Käthe Kollwitz Museum Köln.
conhecido e deve, portanto, interpre-
tar o significado com base nas figuras
e em outros elementos. Imagens que subconsciente, expressar sua raiva pode ajudar a expandir os pontos de
são difíceis de reconhecer e que talvez (conteúdo). Ele, assim, é compelido vista e levar a uma interpretação de
não tenham nada de figurativo, ainda a trabalhar com formatos pontiagu- conteúdo mais completa. Por exem-
assim podem ter conteúdo se o obser- dos e escarpados, vermelhos muito plo, uma compreensão mais profunda
vador souber interpretar a forma. fortes e traços agitados e cortantes do uso específico e pessoal da cor por
Ocasionalmente, os artistas po- (forma), bem como imagens explodi- parte de Van Gogh pode ser obtido
dem não ter consciência do que os das (tema). Às vezes, o significado das com a leitura de suas cartas ao irmão
motivam quando fazem escolhas figuras não objetivas torna-se claro na Theo, que expressavam a evolução da
em relação à imagem ou à forma. mente do artista somente após evoluir crença de que a cor transmitia senti-
Para eles, o conteúdo da obra pode e se modificar na tela. mentos e posturas específicos e era
ser subconsciente em vez de delibe- Embora não seja um requisito mais do que uma simples experiên-
rado. Um artista, por exemplo, que para a apreciação de uma obra de cia ótica. Ele sentia que com o uso da
tem um confronto violento com al- arte, uma pequena pesquisa sobre a cor sua pintura poderia ser poderosa
guém muitas vezes precisa, de modo vida do artista, sua época ou cultura, como a música de Wagner. As cartas

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também revelavam uma iconografia


de cores pessoal em desenvolvimen-
to, na qual as cores vermelho e verde
simbolizavam as terríveis paixões pe-
caminosas da humanidade; as linhas
de contorno pretas, uma sensação de
angústia; o azul cobalto, o firmamen-
to do paraíso; e o amarelo, o amor.
Para Van Gogh, a cor não era estrita-
mente uma ferramenta para a imita-
ção visual, mas um instrumento para
transmitir suas emoções pessoais (Fi-
gura 1.15). O simbolismo da cor pode
não ter sido empregado em todas as
suas pinturas, mas uma compreensão
da sua finalidade ajuda a explicar al-
gumas de suas escolhas e o poder da
cor em sua obra.

UNIDADE ORGÂNICA
Se um artista é bem-sucedido em unir 1.15 Vincent van Gogh, O Café Noturno, 1888. Óleo sobre tela, 69,8 × 88,9 cm. Van Gogh utilizou
a cor para transmitir suas emoções pessoais, e não como ferramenta estritamente para a imitação vi-
todos os três componentes (tema, for-
sual. Ele viu, no café provinciano, as obsessões pecaminosas da humanidade, que expressou com tons
ma e conteúdo) em uma obra, eles de vermelho. Utilizou os tons de verde para representar os poderes da escuridão, em contraste com
se tornam inseparáveis, mutuamente uma atmosfera ocre, como a fornalha do diabo. Sua aplicação pessoal simbólica das cores evoluía
interativos – como se fossem um or- constantemente. © Galeria de Arte da Universidade de Yale/Art Resource, Nova York.
ganismo vivo. Quando isso é alcan-
çado, podemos dizer que a obra tem
unidade orgânica, não contendo
nada que seja desnecessário ou que
possa distrair, com relações que pare-
cem inevitáveis (Figura 1.16).
Um bom aparelho de televisão
apresenta os mesmos princípios de
unidade orgânica encontrados na
arte. Possui um número de partes
necessárias para o funcionamento
complexo, mas mínimo, e essas partes 1.16 Este diagrama ilustra a relação entre
apenas funcionam quando propria- tema, forma e conteúdo descrita no texto.
Qualquer um desses componentes pode ser o FORMA
mente montadas. Quando todas as
ponto de partida de uma obra. Por exemplo, a “como”
partes estão ativadas, elas tornam-se
inspiração para um trabalho pode começar de-
organicamente unificadas. Esse sen- pois da observação de um objeto (tema), que
so de “integralidade” recíproca, do pode despertar sentimentos fortes no artista
e” O
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mesmo modo que existe na tecnolo-


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(conteúdo) e levar ao desenvolvimento de uma


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gia sofisticada da televisão, também é composição (forma). Também pode começar


O

com a manipulação irreverente de figuras e co-


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almejado na arte. A unidade orgânica


res em uma tela (forma), que sugere um senti-
não garante que o trabalho seja jul- mento ou emoção a se desenvolver (conteúdo)
gado uma “grande obra de arte”, mas e, então, torna-se uma imagem (tema). A tristeza
ajuda a dar-lhe uma importante sen- ou paixão de um artista por uma questão social
sação de totalidade. (conteúdo) também pode ser a ideia inicial que
passa a ser expressa por meio de cores (forma) combinando para produzir uma
Nas Figuras 1.17A e B, vemos o UNIDADE ORGÂNICA
e resulta em um padrão de traços não objetivos
estágio inicial e final de uma gravu- (tema). Seja qual for a evolução, progressão ou
ra de Rembrandt. Muitos ficariam ênfase dos componentes – tema, forma e con-
felizes com esta versão preliminar, teúdo –, a unidade orgânica é o objetivo final.

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1.17 Rembrandt Harmenszoon van Rijn, Cristo Sendo


Apresentado ao Povo, primeiro estágio e último estágio, 1655.
Gravura (ponta seca). Rembrandt buscou a apresentação
mais interessante e comunicativa de sua ideia. Ao fazer isso,
apagou e mudou muitas coisas, o que, neste caso, envolveu
raspar uma parte da placa de cobre. A figura A é a primeira
versão da obra, e a figura B é a última. Museu Metropolitano de Arte
de Nova York, doação de Felix M. Warbug e sua família, 1941. (41.1.36). Imagem ©
Museu Metropolitano de Arte de Nova York. Art Resource, Nova York.

Tema: Rembrandt escolheu representar o Na primeira gravura (A), o leiaute horizontal profundidade desconhecida – enfatizando
momento em que Cristo foi apresentado é estabelecido pelo tamanho da chapa e pela ainda mais a sensação de altura.
aos judeus – sacerdotes, governantes e povo. fila de pessoas na parte inferior, mas a ênfase
Após enfatizar a parte inferior da chapa (B)
Ele inclui uma variedade de personagens, horizontal se transforma em vertical na últi-
dos ricos aos mendigos, e a cena se passa ma gravura (B). Para isso, Rembrandt enfatiza para aumentar a sensação de altura, Rem-
no pátio do palácio ou pretório de Pilatos, o um movimento para cima na composição brandt faz o mesmo com a extremidade
governador. (No entanto, Rembrandt prova- criando um ponto de vista baixo (uma pers- superior. Embora a composição pareça ainda
velmente baseou a arquitetura e as pessoas pectiva de baixo para cima), localizado um mais horizontal, pois parte do topo da gravu-
de seus rascunhos nas áreas judaicas de pouco acima do túnel de esgoto à esquerda ra foi removida, detalhes arquitetônicos foram
Amsterdã, visto que suas viagens não incluí- (perceba como os ângulos das linhas que acrescentados à parte central, nivelados com
ram a Palestina.) definem a parede à extrema direita parecem o topo das duas paredes recuadas – o que
estar um pouco mais horizontais na primeira mantém a verticalidade bem enfatizada. Esse
Forma: A organização de Rembrandt foca acúmulo de detalhes visuais ajuda a ativar
gravura (A) e mais direcionados para baixo
as figuras próximas ao centro, e as mudanças visualmente a parte superior da área da
na última gravura (B)). Com o ponto de vista
entre a primeira gravura (A: etapa 1) e a úl- plataforma e a tornar a parte central dessa
baixo, o espectador tem a impressão de
tima (B: etapa 5) enfatizam a figura de Cris- área ainda mais importante. Na última etapa
estar olhando para cima. Para reforçar ainda
to, aprimoram a complexidade da cena e (B), essa projeção para cima é reforçada pela
mais a verticalidade, ele apaga as pessoas
levam o espectador para dentro da imagem. adição de um arco sobre a porta que está
que estavam em primeiro plano no centro
Ele parecia gostar de resolver problemas logo atrás das figuras centrais. Rembrandt
da primeira gravura (A) e as substitui com
compositivos que permitissem apresentar aumentou e escureceu toda a área para que
túneis de esgoto e uma figura escura na par-
a informação de maneiras dicotômicas. Por esses personagens pareçam estar mais altos
te inferior da figura (B). Isso enfatiza a verti-
exemplo, poderia colocar uma imagem no na composição e tenham mais importância
calidade das cinco paredes da composição,
centro de uma composição e ainda fazer do que tinham antes.
ao permitir que a área central flua de cima
esse objeto parecer mais alto ou mais baixo?
para baixo sem interrupções.
Como a verticalidade poderia ser enfatizada Embora essa composição possa parecer,
em um leiaute horizontal? Seria possível Além disso, Rembrandt dirige nossa atenção à primeira vista, semelhante em ambos
criar uma composição que parecesse seme- para a extremidade inferior da figura ao criar os lados de um eixo vertical imaginário,
lhante e dessemelhante ao mesmo tempo, uma tensão entre ela e a área imediatamente Rembrandt tenta encontrar maneiras de
em ambos os lados de um eixo central? Po- acima – devido à sua relativa proximidade e tornar todas as áreas semelhantes e desse-
deria escurecer uma área para recuá-la e, ao aos tons escuros. Ele ancora as figuras escuras melhantes ao mesmo tempo. As áreas das
mesmo tempo, fazer o objeto ao seu lado dos túneis enfatizando o plano base onde se paredes recuadas, logo à esquerda e à direita
avançar? Se um objeto fosse clareado ou encontram as pessoas dos dois lados. Essas da área central, têm aproximadamente a
escurecido para ser incluído em uma área linhas do plano base se estendem, subcons- mesma largura, mas o lado esquerdo está
maior, como ele poderia fazer isso sem per- cientemente, até o centro escuro da imagem, sombreado e o direito está banhado de luz.
der o objeto – o objeto ainda assim poderia o que ajuda a amarrá-las à extremidade infe- Ambos os lados possuem janelas arquea-
ser destacado? rior. A nova parede aberta mergulha em uma das nos segundos pavimentos, mas, para

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I N T RO D U Ç ÃO 13

reforçar a diferença, as aberturas da direita é escurecido e, consequentemente, recua. imagem nos mostre o momento no qual
são claramente mais altas. No último estágio A porta esquerda do pavimento térreo é Cristo é apresentado ao povo, ela o faz sem
da gravura (B), as partes superior e inferior aprofundada com o acréscimo de cinco ar- endossar qualquer ponto de vista religioso
das janelas à direita foram rebaixadas para cos sucessivos e a figura que emerge na área específico.
o nível das que estão à esquerda; porém, ao mais escura. Na porta oposta, as figuras que
remover as vidraças que se encontram acima emergem são iluminadas em relação à escu- Sabemos que a gravura foi feita durante
das figuras humanas e abrir completamente ridão na qual se inserem, e o contraste tonal um período de crise econômica na vida de
a área das janelas à direita, estas se tornam entre claros e escuros (luzes e sombras) as Rembrandt, e ela reflete um interesse que o
claramente distintas e, ainda assim, parecem faz avançarem, dirigindo-se para a escada. As artista teve durante toda sua vida: os temas
mais altas que as do lado esquerdo da ima- duas estátuas acima das figuras centrais tive- bíblicos. Considerando a grande diversidade
gem. Todas as quatro janelas têm mulheres, ram seu valor tonal elevado, assim ficaram das doutrinas religiosas do período, é possível
mas a mulher da janela bem à direita está recuadas em relação aos protagonistas da que sua intenção fosse meramente desen-
com o corpo para fora. gravura. O desenvolvimento dos escuros em volver uma imagem que tivesse apelo para as
ambos os lados do terraço central, ainda que massas e que a venda desta edição lhe desse
Além disso, as paredes laterais extremas se
seja heterogêneo, também ajuda toda a área lucro. Contudo, levando em conta a perda de
originam no mesmo ponto na parede ao
central da imagem a avançar. popularidade de Rembrandt, é estranho que
fundo, mas têm larguras e alturas diferentes.
– mesmo em nome de uma venda mais signi-
No último estágio da gravura (B), o topo da Além disso, o uso engenhoso que Rem-
ficativa – ele não estivesse disposto a oferecer
parede lateral direita ficou consideravelmente brandt dá ao terraço como um elemento
aos compradores aquilo que eles buscavam
mais alto com o acréscimo de uma cornija. À visual lhe permite criar uma separação
na obra dos gravuristas concorrentes: uma
direita, com a elevação das figuras do fundo metafórica e física entre a classe dominante
apresentação direta e despojada da imagem.
e o sombreamento de toda a área com um e os plebeus, sempre mantendo o foco nas
tom de cinza similar, Rembrandt amarra toda figuras principais. Com a eliminação da fila Não querendo fazer concessões, ele parece
a imagem, fazendo o lado direito da compo- de pessoas que no primeiro estágio cruzam motivado a explorar o uso de claros e escu-
sição ficar mais equilibrado visualmente com o primeiro plano (A), o terraço, a parede e ros e a solução de problemas compositivos
o esquerdo, competindo por nossa atenção, e as figuras centrais avançam muito, como se pessoais.
isso é conseguido sem que seja preciso usar o observador estivesse sendo convidado “Se me erguerem” é um tema recorrente nas
figuras do mesmo tamanho ou o mesmo nível a participar do evento que se desenrola. escrituras geralmente associado ao conceito
de sombreamento. A sensação de estar olhando para o alto da crucificação, e, sem dúvida, era conhecido
também insere o observador no nível térreo,
Após aumentar com sucesso a verticalidade por Rembrandt. Ele parece motivado – se
junto com o povo.
da composição, Rembrandt trabalha com não por essa citação – ao menos pela ideia de
o problema da manipulação do espaço, Conteúdo: Mesmo que os observadores colocar as figuras principais no centro de uma
fazendo algumas áreas avançarem e outras possam ler vários significados na obra, é pos- composição horizontal e, ao mesmo tempo,
recuarem. No estágio final, a figura de Cristo sível identificar com segurança o que motivou negar tal localização com a ênfase da verticali-
avança, uma vez que o espaço à sua direita Rembrandt a criar esta gravura. Embora a dade e a elevação ótica da plataforma.

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mas Rembrandt continuou ajustan-


do as áreas à procura da unidade or-
gânica. À medida que estudamos as
duas imagens e consideramos os três
componentes de uma obra de arte,
quase podemos ouvir o diálogo crí-
tico que o conduziu às mudanças na
composição.
Durante o processo criativo, a
ideia inicial inspiradora da obra pode
se originar de qualquer um dos três
componentes. Uma vez encontrada,
será trabalhada em conjunto com os
demais componentes. Não há ordem
para o desenvolvimento da obra, não
há uma estratégia que possa ser consi-
derada “melhor” que as outras.
O senso de unidade pode ser di-
fícil de ser detectado nas obras de
alguns artistas contemporâneos que
misturam os componentes. Nessas
obras, as distinções entre tema, for-
ma e conteúdo são nebulosas, vagas
ou completamente perdidas, pois
esses componentes, às vezes, são
tratados como se fossem idênticos. 1.18 Pablo Picasso, Touro, estágios I–XI, 1945. Gravura. Esta ilustração mostra a progressão da
Tal ruptura com a abordagem tradi- abstração do primeiro ao décimo primeiro estágio da obra, à medida que Picasso reduz sua imagem
cional exige uma mudança no nosso à essência do tema. Réunion des Musées Nationaux/Art Resource, Nova York. Fotografia: R. G. Ojeda. © 2011 Legado de Pablo
pensamento. Picasso/Sociedade dos Direitos dos Artistas (ARS), Nova York.

Na Arte Conceitual, por exemplo,


o conceito é o principal (o produto é
considerado insignificante) e o con- Como o artista sabe quando a referência no mundo natural. Duran-
teúdo e o tema parecem ser a mesma unidade orgânica foi realmente al- te séculos, os artistas trabalhavam na
coisa. Um artista conceitual frequen- cançada? Isso é um entendimento produção de imagens figurativas para
temente evitará a utilização de meios intuitivo – muitas vezes sentido na a Igreja ou para mecenas abastados.
e formas comuns a fim de transmitir boca do estômago – de que todas as A oportunidade de autoexpressão
uma mensagem ou analisar uma ideia peças se encaixaram instintiva e in- de um artista era um tanto limitada
(por exemplo, usar combinações de telectualmente e que a obra “faz sen- àquilo que seus patronos podiam
palavras, fotografia e objetos “acha- tido”. O trabalho está finalizado ou aceitar. Posteriormente, a era indus-
dos” criados pelo homem). Na Arte não? O artista, tendo dado o melhor trial, a ascensão de uma classe média
Processual, o ato de produzir é o úni- de si mesmo, quase nunca está certo abastada e ansiosa por coisas belas,
co aspecto significativo da obra, redu- disso. Talvez a perspectiva de alguns bem como o avanço da descoberta
zindo, assim, a forma e o conteúdo a dias, meses ou até mesmo anos lhe dê científica alteraram os parâmetros e
uma só entidade. Esses dois grupos a resposta. o propósito da arte. Após a invenção
de artistas estão mais interessados em da câmera fotográfica no século XIX,
suas ideias e técnicas do que na “apa- muitos artistas começaram a sentir
rência” do produto final e, embora ABSTRAÇÃO que não mais “necessitavam” regis-
possam considerar intelectualmente Vamos estudar, por um momento, trar a realidade com grande precisão
“belos” seus trabalhos, provavelmen- a abstração, um processo de sim- (a câmera poderia fazer isso); em vez
te não usariam esse termo. Estilos plificação e reorganização de infor- disso, sentiram-se livres para expres-
que envolvem tais fins podem causar mações. A abstração permite que o sar suas experiências de modos mais
perplexidade se os objetivos do artista tratamento do tema se desenvolva a interpretativos e subjetivos. Uma
não forem compreendidos pelo ob- partir de uma imagem exclusivamen- nova investigação científica da teo-
servador. te descritiva para outra sem qualquer ria da cor, que jogava com as várias

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A evolução da abstração

Semi- Abstração
Naturalismo Realismo abstração
Abstração Abstração
Objeto figurativa não figurativa
físico como
referência

Estilo totalmente Estilo representativo, Estilo parcialmente Estilo baseado em Estilo não
representativo, mas com ênfase na representativo, um objeto físico, mas representativo,
com detalhes essência emocional, mas simplificado simplificado e com iniciado sem qualquer
específicos não em detalhes e com ajustes. ajustes para parecer referência a um objeto
(muito objetivo). específicos não figurativo. físico. Baseado
(mais subjetivo). puramente no desenho.
A forma e o conteúdo
atuam como tema.

Detalhe da Detalhe da Detalhe da Detalhe da Detalhe da


Figura 1.21 Figura 1.22 Figura 1.18 Figura 1.23 Figura 1.24

1.19 Abstração é um termo relativo, pois se encontra em graus diferentes em todas as obras de arte, da representação comple-
ta à total falta de objetividade. Este diagrama ilustra resumidamente esses graus de abstração em vários períodos históricos – do
período mais descritivo ao desenvolvimento da abstração não figurativa. Essa progressão pode também ocorrer com um artista,
durante sua vida, ou mesmo no desenvolvimento de uma única obra.

cores, umas contra as outras, afastou imagem. Às vezes, o tema permanece volveu de uma imagem puramente
ainda mais o artista de uma inter- uma imagem reconhecível; outras ve- descritiva para uma sem referência
pretação estritamente figurativa da zes, torna-se apenas um padrão gráfi- no mundo natural. (Essa mudança é
realidade. Os artistas simplificaram co ou um bloco de elementos distante demonstrada pela análise dos vários
as imagens e reorganizaram os ele- do que você perceberia visualmente. períodos históricos na arte, mas tal
mentos formais para melhor comu- Para os observadores que esperam progressão também poderia ocorrer
nicar a essência de suas experiências. uma cópia literal de um objeto físico, ao longo da vida de um artista ou
Esse processo ficou conhecido como um alto grau de abstração pode tor- mesmo no desenvolvimento de uma
abstração e, à medida que se desen- nar uma obra mais difícil de entender única obra.)
volvia, a obra de arte se tornou um e apreciar. No entanto, a abstração No estilo conhecido como Na-
instrumento de maior autoexpressão. destina-se a tornar um significado turalismo, o tema possui uma re-
Na verdade, toda obra de arte mais profundo mais acessível e claro ferência física, a qual o artista re-
exige certo grau de abstração, por (Figura 1.18). O grau de abstração produz tão próxima do visualmente
menor que seja. O próprio fato de não deveria impedir o observador percebido quanto possível (Figura
registrar a vida em um medium ar- de contemplar mais cuidadosamente 1.21; veja também a Figura 1.19). Os
tístico faz o tema se abstrair da rea- a obra de arte. Reconhecível ou não, artistas que produziam nesse estilo
lidade. Mesmo a representação mais o tema é apenas um dos componen- eram muito objetivos no desenvol-
naturalista de uma borboleta ainda tes; o modo como é apresentado ou vimento do seu tema, criando uma
é uma imagem simplificada de sua concebido para ser expressivo é uma imagem muito específica, com pouca
existência tridimensional – e regis- consideração igualmente importante interpretação pessoal. Usavam uma
trada em uma superfície plana. Uma na busca pelo significado (veja a Fi- abordagem bastante descritiva, re-
abstração ainda maior ocorre quan- gura 1.20). alçando detalhes precisos e caracte-
do os artistas adotam a liberdade e a O diagrama da Figura 1.19 ilus- rísticas individuais dos objetos para
expressividade do processo e aumen- tra a evolução da abstração e mostra criar uma imagem o mais próximo da
tam a quantidade de mudanças na como o tratamento do tema se desen- realidade. Tal ênfase foi aplicada na

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1.20 Vincent van Gogh, A Noite Estrelada, 1889. Óleo sobre tela, 73,7 × 92,1 cm. A pintura A Noite Estrelada foi
completada perto do asilo de Saint-Remy, 13 meses antes da morte de Van Gogh, aos 37 anos. Suas cartas indicam que
queria criar, a partir de sua imaginação, uma natureza mais interessante e reconfortante que a observada na realidade.
Estava interessado em linhas exageradas – torcidas como nas xilogravuras. Essa estilização marcante, com as pinceladas
do tipo staccato, o movimento circular e rodopiante dos elementos cósmicos e o cipreste em forma de chamas, mantém
o espectador ativamente envolvido. Museu de Arte Moderna de Nova York. Adquirido por meio da Doação testamentária de Lillie P. Bliss (472.1941)
Museu de Arte Moderna de Nova York, Estados Unidos. Imagem digital © Museu de Arte Moderna/Licenciado por Scala/Art Resource, Nova York. Imagem
Digital © Museu de Arte Moderna/Licenciada por Scala/Art Resource, Nova York.

utilização do detalhe observável para exemplo, pintariam uma imagem que ordenados para salientar aqueles que
recriar um objeto que Gustave Cour- representasse as péssimas condições eram essenciais. O tema se tornou
bet, um dos líderes do movimento, de trabalho e as privações enfren- quase abstrato, embora ainda de-
uma vez disse: “Traga-me um anjo e tadas pelas mulheres da época, em pendente de um objeto inicial (veja as
eu lhe pintarei um anjo.” vez de um retrato detalhado de uma Figuras 1.18 [o primeiro touro na se-
A abordagem tornou-se mais mulher específica. Uma abordagem gunda linha], 7.32, 8.44 e L.54). Fre-
subjetiva ou criativa com o trabalho realista é mais subjetiva e inovadora, quentemente, o propósito era tornar
de Honoré Daumier e de todos que utiliza mais pinceladas experimentais mais acessível um significado mais
trabalhavam com o Realismo. Nesse e sacrifica informações específicas profundo – como o desejo dos cubis-
estilo, a obra ainda é um tanto repre- para obter ganhos com as impressões tas de mostrar uma fragmentação so-
sentativa, mas não tão dependente do universais. ciocultural – mesmo que o objeto ori-
detalhe específico. O tema era simpli- Como a obra dos artistas se tor- ginal fosse difícil de ser reconhecido
ficado ou abstraído daquilo que era nou cada vez mais subjetiva, eles (veja a Figura L.51).
percebido por meio da visão e desen- começaram a simplificar e a reorga- À medida que os artistas continu-
volvido para enfatizar uma resposta nizar suas experiências visuais em avam sua busca por novas maneiras
emocional (Figura 1.22; veja também um grau ainda mais alto. O tema, que de se expressar, alguns descobriram
a Figura 1.19). Os realistas queriam ainda era reconhecível, foi reduzido a a empolgação de organizar vários ele-
mostrar significados universais em seus elementos mais expressivos e in- mentos formais em obras de completa
vez de informações específicas – por formativos. Esses elementos foram re- abstração. Dentro da arte abstrata, há

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I N T RO D U Ç ÃO 17

1.21 Gustave Courbet, Enterro em Ornans, 1849. Óleo sobre tela, 3,0 × 6,7 m. Courbet foi o principal expoente das
aprendizagens naturalistas de alguns pintores realistas. Os críticos o condenaram duramente por pintar imagens “feias” de
pessoas comuns realizando atividades cotidianas. Bridgeman Art Library/SuperStock, Inc.

1.22 Honoré Daumier, A Revolta, c. 1852–58.


Óleo sobre tela, 86,3 × 111,7 cm. Influencia-
dos por um clima de positivismo científico, os
artistas do movimento Realista tentavam regis-
trar o mundo como ele se apresentava a seus
olhos, mas também queriam interpretá-lo e re-
gistrar verdades atemporais. A pintura de Dau-
mier mostra sua representação bastante realista
de um protesto político. Adquirido em 1925. Coleção
Phillips, Washington, D.C.

duas abordagens de criação que são trata que não mais se assemelha ou não objetiva, a imagem parte de uma
frequentemente indistintas, a menos mesmo parece representar a referên- definição não representativa que é
que se conheça a finalidade do artis- cia inicial (Figura 1.23; veja também puramente inventada, não se referin-
ta. A primeira abordagem, a abstração a Figura. 1.19). Com tal abordagem, o do a qualquer objeto físico (Figura
objetiva, ocorre quando os artistas ba- efeito não é sempre previsto durante o 1.24; veja também as Figuras 1.19,
seiam sua obra em um objeto físico, desenvolvimento da obra. 1.55 e 7.25). Às vezes, uma obra su-
mas, durante o processo de trabalho, Para aqueles que trabalham com gere um significado ao artista à me-
a imagem acabada se torna tão abs- a segunda abordagem, a abstração dida que se desenvolve; outras vezes,

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1.23 Vasily Kandinsky, francês nascido


na Rússia, 1866–1944. Improvisação N° 30
(Canhões), 1913. Óleo sobre tela, 111,0 ×
111,3 cm. Em torno de 1910, Vasili Kandinsky
começou a pintar figuras biomórficas em mo-
vimentos livres, com ricas combinações de ma-
tizes. Seu estilo característico anterior pode ser
visto nesta ilustração. Esta forma abstrata de
expressão era uma tentativa de representar os
sentimentos do artista em relação aos objetos
em vez de descrever a aparência deles. Coleção
do Memorial Arthur Jerome Eddy, 1931.511, Instituto de Artes
de Chicago. Fotografia © Instituto de Artes de Chicago. © 2011
Sociedade dos Direitos dos Artistas (ARS), Nova York, ADAGP,
Paris.

1.24 Franz Kline, Mahoning, 1956. Óleo e


colagem de papel sobre tela, 2,03 × 2,54 m.
O artista estava mais interessado na real ação
física envolvida neste tipo de expressão que no
caráter da pintura resultante. Coleção do Museu Whi-
tney de Arte Norte-Americana, Nova York. Compra realizada
com fundos do Museu Whitney de Arte Norte-Americana.
57.10. © 2011 Legado de Franz Kline/Sociedade dos Direitos
dos Artistas (ARS), Nova York.

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I N T RO D U Ç ÃO 19

o significado é puramente o prazer de al”. Todavia, alguns artistas veem o ideias ao estudar manchas de café em
trabalhar com os elementos ou com a galho da árvore, mas imaginam uma toalhas de mesa.
expressividade da emoção do artista. criança chorando ou um cavalo em- Ao tentarmos ver o que é único em
Ambas as abordagens à abstração exi- pinando. Quando a imaginação de- tudo o que está a nossa volta, pode-
gem que os observadores interpretem sencadeia essa visão criativa e sugere mos expandir nossa sensibilidade e
o conteúdo somente com os media, imagens adicionais, o artista está em- resposta à arte. A escritora Gertrude
técnicas, elementos e princípios de pregando uma percepção conceitu- Stein escreveu: “Uma rosa é uma
organização utilizados pelo artista. al. O artista inspirado por conceitos rosa é uma rosa.” Uma interpretação
criativos é chamado de artista “con- literal nos levaria a pensar que todas
ceitual”. Leonardo da Vinci, ao escre- as rosas são idênticas, mas sabemos
EXPANSÃO DA ver seu Tratado de Pintura, registrou que cada rosa tem uma característi-
CONSCIÊNCIA uma experiência com a percepção ca própria, mesmo sendo de espécie
conceitual enquanto estudava as nu- e cultivo idênticos. Cada objeto é es-
PESSOAL vens: “Uma vez, no alto de Milão, em sencialmente único – não importa se
Quando um artista vê um objeto – direção ao Lago Maggiore, vi uma é uma cadeira, árvore ou pessoa. Uma
um galho de árvore, por exemplo – e nuvem com o formato de uma enor- das principais características que dis-
se inspira para reproduzir o original me montanha feita de chamas...” Em tinguem os artistas é a habilidade de
como o viu, ele está usando e buscan- outra ocasião, ele recomenda con- ver (e experimentar) as diferenças su-
do inspiração por meio da percepção templar manchas nas paredes como tis entre as coisas. O artista, ao expor
ótica. O artista que somente repro- fonte de inspiração. Seguindo os essas diferenças, pode fazer o comum
duz o que percebe no “mundo real” passos de Leonardo, o escritor e pin- se tornar singular; a monotonia, em-
é considerado um artista “perceptu- tor Victor Hugo teve muitas de suas polgante (Figura 1.25).

1.25 Patricia Nix, A Primavera, 1992–94. Téc-


nica mista sobre tela, 182,8 × 203,2 cm. A Pri-
mavera, de Patricia Nix, apresenta rosas como
um tema repetido, mas com diferenças sutis de
textura, cor e tratamento, mantendo-as interes-
santes e únicas. Da coleção de Ivan Blinoff, Londres. Cor-
tesia da artista.

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1.26 Nicolas Poussin, Apolo e Dafne, 1627, 97 × 131 cm. Esta pintura conta a história de Apolo, um deus mitológico.
Enquanto caminhava no Monte Olimpo, viu uma bela ninfa chamada Dafne. Encantado, perseguiu-a até que ela pedisse
ajuda para seu pai, Peneus, o deus dos rios. Quando Apolo a alcançou, os pés de Dafne se tornaram raízes, suas mãos
foram cobertas com folhas e seu corpo se tornou o tronco de um pé de louro. Como lembrança de seu amor perdido,
Apolo montou uma coroa de louros – que passou a ser dada como o maior prêmio nas competições em toda a Grécia.
Alte Pinakothek © Artothek/Art Resource, Nova York.

Toda arte é ilusória até certo pon- racterísticas, podemos apreciar mais tanto, produzir uma “similitude” não
to, e algumas obras têm mais sucesso o que vemos (e ficar menos condicio- é o segredo para chegar à arte. Mui-
que outras em nos retirar da exis- nados quando desenvolvemos ideias tos dos melhores fotógrafos não se
tência comum para um estado mais para as nossas próprias obras). Por contentam em simplesmente mirar
significativo. Molduras, galerias, pal- exemplo, algumas pessoas esperam e fotografar. Eles complementam a
cos, figurinos ou maquilagens exa- que a arte conte uma história de uma habilidade que a câmera tem de cap-
gerados, entre outras coisas, servem maneira descritiva (Figura 1.26). turar o mundo com grande precisão
para afastar a obra de arte do mun- Muitas obras boas contêm elementos com outros elementos formais: pro-
do cotidiano. Essa “distância estéti- que contam uma história, mas nem curam pela melhor vista compositiva
ca” auxilia o público a se concentrar todos os artistas têm a necessidade (ângulo e enquadramento), criam ou
nos conceitos apresentados e parece ou obrigação de narrá-la. Além disso, aguardam as melhores condições de
transportá-lo para além do mundano, sabemos que muitas pessoas julgam luz, usam filtros, alteram a profundi-
para um mundo de emoções e signifi- uma obra de arte pela sua semelhan- dade do campo ou fazem ajustes na
cados. “Ver” a arte não é suficiente, é ça a algo. Mesmo os melhores artis- revelação (Figura 1.27).
preciso senti-la e reagir a ela. tas perceptuais, como os habilidosos Quando o artista investiga além
Nossa capacidade de responder artistas plásticos e gráficos, tentam da superfície de algo e emprega meios
a uma obra de arte depende de man- incorporar mais do que uma pura ré- desconhecidos para descobrir ver-
termos a mente aberta. Ao nos li- plica em sua obra. A maior parte dos dades inesperadas, os resultados po-
vrarmos da expectativa de que todas artistas percebe que as considerações dem ser muitas vezes perturbadores.
as formas de arte deveriam seguir as de forma são igualmente importantes A exposição a uma nova experiên-
mesmas regras ou ter as mesmas ca- para o resultado da obra e que, por- cia artística frequentemente causa

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1.27 Minor White, Lua e Incrustações na Parede, 1964. Impressão em gelatina de prata. Os fotógrafos podem ter van-
tagem sobre outros artistas visuais quando se trata de registrar a realidade objetiva, mas muitos fotógrafos-artistas não se
satisfazem com aparências óbvias e utilizam estratégias técnicas complexas para estruturar ou aprimorar a imagem final.
Arquivo Minor White, Universidade de Princeton. Doação testamentária de Minor White. (MWA64-6). Reproduzida com a permissão do Arquivo Minor White,
Museu de Arte da Universidade de Princeton. © Curadores da Universidade de Princeton.

tal perturbação em um observador. lação às instalações. Ao utilizar vá- como uma galeria, as instalações são
Nessas condições, o artista pode ser rios meios para criar ou modificar normalmente compostas por múlti-
acusado de incompetência ou char- um ambiente interno ou externo, a plas partes, às vezes ocupando todo
latanismo. Muito do que hoje é va- intenção do artista é intensificar a o espaço disponível do chão e/ou das
lorizado na arte já foi execrado. A consciência do observador acerca paredes. O posicionamento das obras
aceitação geral de uma arte mais ra- do espaço ambiental, de modo que pode ser simples, complexo, ordena-
dical acontece quando já transcorreu ele o veja e pense de um jeito novo do ou aparentemente aleatório.
tempo suficiente para os novos méto- (Figura 1.29). As instalações podem Os observadores reagem de mo-
dos se tornarem conhecidos. Então, a variar em escala, da relativamente dos diversos – alguns excitados, ou-
nova linguagem perde a sua dureza e pequena à imensa. São criadas com tros perplexos, uns tendo o modo
o verdadeiro significado da arte pode qualquer material disponível, como de ver alterado e outros sem fazer
ser compreendido. Não há por que se metal laminado, fibra de vidro, ma- qualquer julgamento imediato. Re-
sentir envergonhado, confuso ou des- deira, bronze, aço, plástico, pedra, centemente, algumas instalações pro-
confiado em relação a uma arte que raios laser, som, projeção controlada vocaram reações fortes e até violen-
é nova para você. Com exposições, por computador e outros meios mis- tas – o público descrevendo-as como
ideias e pesquisas contínuas, você co- turados. Se localizadas ao ar livre, as desumanizadoras e irracionais. O que
meçará a ver o essencial de uma obra instalações podem ser simples (em- não é surpreendente, pois a instala-
de arte por meio da técnica e do mé- bora em geral sejam muito grandes) ção é uma forma de arte relativamen-
todo (Figura 1.28). e frequentemente estão em um es- te nova, e estilos de arte incomuns
Grande parte do público, por paço público bem visível. Quando muitas vezes produzem um clamor
exemplo, sente curiosidade com re- assentadas em um espaço interno, geral. Richard Serra, um veterano em

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OS PORTÕES, PROJETO PARA O CENTRAL PARK, NOVA YORK


Os planos de Christo e Jeanne-Claude para sua obra de arte temporária (1979–2005)

Manifesto a beleza do Central Park. Contudo, o evento Fios de náilon: trançados em 101.468 m2 de
Para aqueles que caminharam através de Os durou apenas 16 dias; depois os portões foram tecido e costurados em 7.500 painéis de tecido
removidos e seus materiais, reciclados. (74 km de bainhas)
Portões, o tecido cor de açafrão se transfor-
mou em um teto dourado sobre as passarelas, Os portões Mão de obra
criando sombras coloridas. Visto dos prédios ao Número de portões: 7.500 Empregos: centenas de moradores da Cidade
redor do Central Park, Os Portões pareciam um Altura dos portões: 4,8 m de Nova York foram contratados para fabricar
rio dourado que aparecia e desaparecia através Largura dos portões: variável, entre 1,6 e 5,4 m e montar os portões; instaladores e equipes de
dos galhos nus das árvores e ressaltava o for- Localização: acompanhando os contornos das manutenção, uniformizadas e com rádios de
mato dos caminhos serpenteantes. vias de pedestre, perpendiculares aos 37 km apoio, trabalharam dia e noite para executar
de passeios a obra.
A obra de arte, que durou 16 dias, era de aces-
Espaçamento dos portões: variável, entre 3,0 e
so gratuito para todos e será lembrada como Como Christo e Jeanne-Claude sempre fizeram
4,5 m
uma experiência alegre para os nova-iorquinos, em seus projetos anteriores, Os Portões foi uma
sendo uma expressão democrática que Olms- Materiais (reciclados) obra inteiramente financiada pela empresa dos
ted evocou ao conceber um parque “central”. Aço: 4.800 ton artistas, C.V.J. Corp. (Jeanne-Claude Javacheff é
Os tecidos luminosos e ondulantes ressaltaram Tubos de vinil de 12,7 × 12,7 cm: 96 km a Presidente), com a venda de croquis, dese-
o desenho orgânico do parque, enquanto os Reforços de alumínio fundido: 15.000 nhos preliminares, colagens, maquetes em esca-
pilares retangulares remeteram à grelha geo- Placas de nivelamento de aço: 15.000 la, obras anteriores das décadas de 1950 e 60 e
métrica das quadras da cidade que circundam Parafusos e porcas autoatarrachantes: 165.000 litografias originais de outros temas. Os artistas
o parque. A obra Os Portões harmonizada com Placas de nivelamento de vinil: 15.064 não aceitam qualquer tipo de patrocínio.

1.28 Christo e Jeanne-Claude, Os Portões, projeto para o Central Park, Nova York, 1979–2005. Os Portões
é a culminação de anos de planejamento e trabalho árduo, dedicados não apenas ao projeto e à organização,
mas também às providências legais necessárias para uma obra de arte tão grande e integrada ser instalada em
apenas cinco dias e ter todos os tecidos desenrolados em um só. As fotografias mostram os portões cor de
açafrão instalados e sua fabricação. © Christo e Jeanne-Claude 2005. Fotografias: Wolfgang Voltz/Redux.

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I N T RO D U Ç ÃO 23

instalações geralmente de natureza


minimalista, teve algumas de suas
obras desmontadas ou deturpadas.
Seu Arco Inclinado foi removido em
função de protestos (Figura 1.29). Por
outro lado, esses protestos desperta-
ram o ódio de muitos artistas para os
quais deveriam ser dadas rédeas livres
à arte, pois muitas formas de arte que
no passado produziram críticas gene-
ralizadas tornaram-se aceitas com o
passar do tempo.
Apesar das fortes reações boas
e más às instalações, elas agora são
certamente parte do mundo da arte.
Uma instalação bem feita aumen-
ta o envolvimento do observador e
produz uma experiência envolvente.
Essas obras muitas vezes exigem um 1.29 Richard Serra, Arco Inclinado, 1981. Aço Cor-Ten (73 toneladas), 36,5 m de comprimento
× 3,6 m de altura com inclinação de 8% em relação ao Federal Building. Esta instalação para uma
trabalho extremamente intensivo
localização específica foi erguida na Praça Federal de Nova York, encomendada pelo programa Arte-
de seus criadores – sem dúvida, um -na-Arquitetura dos Serviços Gerais de Administração dos Estados Unidos. Ela dividia o espaço em
trabalho de amor – e fazem os ob- dois, forçando os observadores a prestarem mais atenção em seus próprios movimentos através do
servadores perceberem determina- espaço. Infelizmente, não agradou a muitos trabalhadores da praça, que reclamaram que a instalação
do ambiente de uma nova maneira. interferia no uso público do espaço, restringia as vistas e o acesso às edificações administrativas, pro-
movia o crime e atraia lixo e ratos. Muitos acreditavam que uma “escultura pública” deveria ser mais
Alguns artistas significativos nessa
convidativa, independentemente do direito de criação do artista. Depois de oito anos de controvér-
área são Ann Hamilton (veja a Figura sia, a escultura foi desmontada e destruída. © 1985 David Aschkenas.
8.50), cuja obra é geralmente sensual;
Olafur Oliasson (Figura 1.30), cria-
dor de ambientes imersivos; Patrick
Dougherty, que torce e inclina ga-
lhos e cria altíssimas obras nas quais
os observadores podem entrar (veja
a Figura 6.21); e Jennifer Steinkamp,
criadora de instalações interativas
com vídeo, som e espaço.
Todos têm a capacidade de apre-
ciar o belo ou o expressivo, como
evidenciam as escolhas estéticas que
fazemos diariamente. Mas devemos
expandir nossa sensibilidade e gosto
de maneira contínua, tornando-os
cada vez mais inclusivos. Isso pode
significar que uma obra de arte que
você não gosta ou acha estranha tal-
vez não seja necessariamente mal
executada ou desprovida de signifi-
cado. A qualidade da arte, contudo,
é sempre subjetiva e questionável.
Mesmo com treinamento, os gostos
das pessoas não se revelam idênticos. 1.30 Olafur Eliasson, Só vejo as coisas quando elas se movem, 2004. Madeira, vidro com filtro com
É possível que a prova mais confian- efeito de cor, aço inoxidável, alumínio, lâmpada HMI, tripé, cilindro de vidro, motores, unidade de
controle, tamanhos variáveis. Esta obra, com suas luzes e cores em constante mudança, cria um
te da qualidade de uma obra de arte ambiente envolvente e inebriante para os espectadores. Instalação na Galeria Tanya Bonakdar. Fotografia: Fabian
surja somente com o tempo e com o Birgfeld, PhotoTECTONICS. Doação de Marie-Josée e Henry Kravis em honra de Mimi Haas. Cortesia do Museu de Arte Moderna
eventual consenso das pessoas. de Nova York. © 2004 Olafur Eliasson.

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24 F U N D A M E N TO S D E A RT E

de desenvolver ideias ou superar um


bloqueio criativo. Pode ser que você
queira expandir a lista.
Procure por ideias estimulantes a
sua volta. Ande de ônibus pela cida-
de ou visite um restaurante e, assim,
observe como as pessoas se relacio-
nam umas com as outras. Estude a
vida e a pulsação de sua cidade. Veja
a natureza de perto – observe forma-
tos, princípios, texturas e padrões.
Lembre-se do esqueleto do sapo
esmagado que você viu na saída do
estacionamento – ele poderia sim-
bolizar algum tema em especial?
Complemente um impulso discutin-
do o que for remotamente relaciona-
do. Rabisque ou experimente com
qualquer medium disponível. Pen-
se em uma questão social urgente.
Liste todos os verbos, advérbios ou
adjetivos que poderiam se associar
àquela questão e adicione anotações
coloridas a cada um desses termos.
Anote uma frase que tenha chamado
sua atenção durante um noticiário,
sarau ou discussão com um amigo.
Observe o maior número possível de
variações da ideia ou de sua apresen-
tação, incluindo metáforas visuais –
que são modos de expressar as ideias
sem realmente descrevê-las. E, como
em qualquer bom debate, tente ex-
pressar um conceito, sentimento ou
1.31 Anish Kapoor, Mársias, 2002. PVC e aço. Kapoor projetou essa escultura colossal (154,8 m contexto contrários em termos de
de comprimento × 34,7 m de altura) para o Salão Turbine do Museu Tate, em Londres. Ela é tão
grande que o espectador não consegue ver a peça inteira de qualquer ângulo que se posicione,
imagem, cor e caráter emocional.
devendo mentalmente construir a composição a partir de diversos pontos de vista. Instalação em Resumidamente, observe, explore e
cortesia, Tate. desenvolva. Crie o maior número de
ideias possível.
As obras de arte existentes tam-
bém podem servir de estímulo. Tente
imaginar o que uma obra de outro
DESENVOLVIMENTO DE IDEIAS artista estava tentando desenvolver.
A criatividade emana das ideias. Uma Todos os artistas ocasionalmente Considere o conceito ou “proble-
ideia criativa, para o artista, pode se deparam com bloqueios de criati- ma” que estava sendo visualmente
compreender um plano totalmente vidade, podendo até levar anos para resolvido e pense como as escolhas
abrangente, um conjunto único de serem rompidos. Um artista princi- do artista reforçaram o conteúdo.
relações, uma atitude a ser transmi- piante pode ter dificuldades até mes- Não importa se você identifica corre-
tida ou uma solução a um problema mo em dar início a um projeto (“não tamente o problema do artista origi-
visual. Uma ideia pode “dar na telha” sei o que fazer!”). Embora um objeto nal ou não. Você pode tentar aplicar
ou ser o produto final de um esforço conhecido ou uma experiência nor- o mesmo conceito ao seu tema. Ou
muito cuidadoso, como refletem as malmente seja o melhor começo em descobrir uma nova direção e explo-
notas, esboços e as incontáveis revi- tais situações, as seguintes estratégias, rar modificando a questão ou com-
sões da obra de arte. sugeridas pelos artistas, são modos binando vários problemas. Talvez

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você até descubra um aspecto que o alcançar o público potencial. Ideias fáceis e benéficos à medida que você
artista original falhou em detectar novas e empolgantes, que desafiam estudar e se sentir mais à vontade com
e tente resolvê-lo a sua própria ma- os paradigmas estabelecidos para o vocabulário, os princípios e os ele-
neira. Veja quantas soluções diferen- cada etapa do processo, são a espinha mentos da arte. Se possível, participe
tes podem ser desenvolvidas para o dorsal de uma campanha bem-suce- das discussões e/ou críticas em sala
mesmo problema. dida. Essa procura por ideias pode ser de aula ou, pelo menos, mantenha
Infelizmente, o bloqueio do ar- muito lógica, quase científica, e pode um diálogo interno. Os benefícios
tista pode ocorrer bem no meio da ser usada tanto no ateliê como no são duplos: você aprenderá a iden-
criação da imagem. Alguns artistas, meio empresarial. tificar e articular problemas visuais
quando não conseguem conectar ou conceituais em uma obra e as ex-
as partes quase finalizadas da obra, periências se tornarão uma fonte de
sentem que devem sacrificar uma PENSAMENTO CRÍTICO ideias. Quando um problema anterior-
parte satisfatória dela a fim de obter a E ANÁLISE mente analisado ocorrer mais tarde
liberdade de prosseguirem desenvol- em sua obra, a solução para o bloqueio
vendo o restante da imagem. Antes Em certo ponto do processo criativo
se apresentará mais cedo e talvez seja
de fazer isso, mantenha um diálogo (na realidade, em muitos pontos),
aplicada de modo subconsciente.
contínuo com você mesmo. Faça o surgirá a necessidade de análise e
Como se começa uma crítica?
que for necessário para ver sua obra avaliação. A capacidade de pensa-
Infelizmente, não existem fórmulas.
com olhos novos ou sob um novo mento crítico desempenhará um
Você pode querer identificar os três
ponto de vista. Tente analisar a obra papel vital para se alcançar uma obra
componentes da obra (tema, forma e
refletida no espelho. Erga suas mãos unificada e bem-sucedida. Esse pro-
conteúdo), avaliá-los separadamente
e cubra porções dela para visualizar cesso de revisão, formal ou informal,
e, então, examinar como eles funcio-
partes isoladamente, observe com os também conhecido por crítica, iden-
nam juntos, como um todo. No início,
olhos semicerrados ou vire a imagem tifica o que está funcionando bem e
a análise pode parecer desagradável,
de cabeça para baixo. Muitas vezes, ajuda a descobrir modos construtivos
mas algumas das seguintes questões
as áreas problemáticas se tornam vi- para melhorar as áreas problemáticas
podem ajudar.
síveis quando olhadas de uma nova da obra.
maneira. As críticas não se restringem a • Quais áreas parecem mais bem-
Embora muitos artistas criem qualquer disciplina e podem ocorrer -sucedidas e por quê?
suas próprias ideias em seus ateliês, tanto em ambientes individuais como • Quais áreas parecem incompletas
a maioria dos artistas do setor em- coletivos. Por exemplo, após um dia ou problemáticas e qual o motivo?
presarial parte de um conceito inicial inteiro produzindo canecas de café, • Como o tema é apresentado?
que lhes é dado. Designers gráficos, os ceramistas de um ateliê escolherão • Há metáforas visuais ou simbóli-
designers de produtos e arquitetos que cinco de suas melhores peças, ana- cas que teriam ajudado a expandir
têm pedidos de clientes ou mesmo lisarão estas e tentarão descobrir as a imagem?
artistas trabalhando em encomendas qualidades especiais que as fazem se • Se a imagem é não figurativa, o
específicas são obrigados a utilizar destacar como melhores. O mesmo que sugere seu significado?
um tema ou conteúdo predetermina- poderia ser feito comparando os es- • Como os elementos são emprega-
dos. Para eles, a busca por ideias não boços preliminares de uma obra ou dos para dar suporte ou destruir a
termina após receberem o objetivo estudando obras-primas atraentes. É imagem em termos de composi-
inicial. Muito pelo contrário, é apenas importante lembrar que “criticar” não ção (por exemplo, escolhas de cor,
o início. Para que a ideia seja amplia- significa “censurar”. Analisar e avaliar linha, etc.)?
da e desenvolvida, pode ser neces- uma obra não significa desaprovar o • Os princípios de organização
sário considerar todas as variáveis do artista por “erros”. Infelizmente, mui- foram observados (por exemplo,
desenho do produto (ou seu design), tos artistas principiantes, levados pelo harmonia versus variação, etc.)?
pesquisar a concorrência, identificar medo de cometer erros, não conse- • Qual o propósito por trás da obra?
a faixa etária à qual o artigo se desti- guem criar absolutamente nada. Não • O que está sendo comunicado:
na, determinar o tamanho e tipo de pare antes de começar. um sentimento, uma ideia, uma
caracteres, esquemas de cores, leiau- Quando aplicadas a um trabalho estética pessoal?
tes que sejam mais atraentes àquela em andamento, as críticas podem • A obra é muito esotérica?
faixa etária, fazer breves estudos de ocorrer a qualquer momento e se • A obra é muito óbvia?
mercado sobre conceito, desenho e repetir até que a ideia e a criação es- • Onde a obra consegue integrar
cor e lançar múltiplas estratégias para tejam em sintonia. Esses momentos esses componentes e onde ela
tornar seus produtos irresistíveis e de reflexão e crítica se tornarão mais falha?

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Talvez você queira partir da sua pró- superfície plana também pode repre- por eles é decorativo – relativamente
pria impressão sobre cada questão, sentar um plano de referência ima- plano ou raso.
mas então pergunte a si mesmo o que ginário no qual o artista pode criar No entanto, quando as imagens
levou àquela resposta e como ela po- ilusões de espaço. ou elementos parecem existir na fren-
deria ser modificada – existem outras Por exemplo, os elementos brutos te ou atrás do plano do desenho ou
interpretações, pontos de vista ou podem ser manipulados para produ- quadro e sentimos que poderíamos
relações que poderiam ter sido mos- zir um efeito bidimensional (com as mergulhar na imagem e dar voltas ao
trados? Ao passo que a sua capacida- dimensões de altura e largura – como redor e atrás dos elementos da arte,
de de analisar aumenta, você desco- um círculo, triângulo ou quadrado) diz-se que o espaço é plástico. Seja
bre que é cada vez menos necessário ou um efeito tridimensional (com com o espaço decorativo, seja com o
explorar conscientemente uma lista as dimensões de altura e largura e a plástico, o plano do desenho ou qua-
de questões. Confie no seu subcons- ilusão de profundidade – como uma dro é empregado como base para a
ciente para revelar as questões mais esfera, pirâmide ou cubo). Em uma definição do espaço pictórico, bi ou
importantes. obra bidimensional, os elementos e tridimensional.
a imagem parecem se encontrar ren- É importante observar a diferença
tes ao plano do desenho ou quadro, entre espaço plástico e artes plásticas.
CONCEITOS mas, quando os elementos são tridi- Por exemplo, designers gráficos criam
BÁSICOS DA ARTE mensionais, uma perfuração daquele espaço plástico, mas não são neces-
plano é sugerida (Figura 1.32A). sariamente designers plásticos. Obras
BIDIMENSIONAL Quando os elementos se apegam gráficas (desenho, pintura, impressão,
Artistas que trabalham com a arte demais ao plano da imagem e não fotografia, etc.) geralmente existem
bidimensional geralmente iniciam se lançam em nossa direção ou para sobre uma superfície plana e depen-
com uma superfície plana. A super- longe de nós drasticamente no for- dem da ilusão da terceira dimensão.
fície plana é o plano do desenho ou mato, podemos dizer que eles são de- Por outro lado, os produtos das artes
quadro no qual os artistas executam corativos. Aqui, esse termo se refere plásticas (escultura, cerâmica, arqui-
as suas imagens. Um pedaço de pa- à condição espacial, embora também tetura, etc.) possuem massa concreta
pel, uma tela, um painel ou uma cha- possa se referir à ornamentação. e ocupam espaço real. Com as obras
pa de cobre pode funcionar como Quando os elementos são dessa na- de arte tridimensionais, o artista par-
plano do desenho ou quadro. Essa tureza, dizemos que o espaço criado te do material – metal, argila, pedra,

1.32A O plano do desenho ou quadro. O movimento pode acon-


tecer em uma superfície plana, como indicado pelas setas horizontais e 1.32B A moldura. A moldura representa os limites extremos ou fronteiras
verticais azuis-claras. O artista também pode criar a ilusão de movimen- do plano do desenho ou quadro. Esses limites, indicados aqui por uma linha
tos de avanço e recuo no espaço, como mostrado pela seta que vai do tracejada, representam as extremidades da tela ou da folha de papel na qual o
amarelo ao azul-escuro. artista trabalha. O tamanho e a direção da moldura estão entre as primeiras
decisões tomadas durante a composição da obra e, às vezes, é indicada por
uma margem desenhada nos croquis preparatórios.

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vidro e outros – em vez do plano do


desenho ou quadro e o trabalha como
uma forma total contra o espaço cir-
cundante, sem as limitações da super-
fície plana.
Os limites definidos da área de
trabalho (ou do plano do desenho ou
quadro) são em geral chamados de
moldura (Figura 1.32B). A moldura
deveria ser claramente definida antes
do início da composição. Após defi-
nidos seu formato e proporção, todos
os elementos de arte e os seus empre-
gos serão influenciados por ele. Or-
ganizar os elementos de arte dentro
da moldura, no plano do desenho ou
quadro, é um problema para o artista
pictórico.
As proporções e os formatos dos
quadros empregados pelos artistas
são variados. Quadrados, triângu-
los, círculos e elipses sempre foram
empregados como molduras, mas o
mais popular é o retângulo, que, em
suas variadas proporções, oferece ao
artista uma diversidade interessante
dentro do espaço bidimensional (Fi-
guras 1.33, 1.34, 1.35). Alguns artistas
selecionam as proporções externas
de seus quadros com base nas razões

1.33 Esphyr Slobodkina, Composição em Elipse, c. 1953. Óleo sobre chapa 1.34 Wang Hui, Florestas de Outono em Yushan, 1672. Nanquim e
de gesso, 82,5 × 156,2 cm. Slobodkina utilizou uma moldura com formato tinta colorida sobre papel. Esse formato retangular enfatiza a verticali-
incomum para enfatizar uma pintura abstrata angular. Embora hoje sejam raros, dade da imagem, apresentando uma vista tanto do paraíso quanto da
esses formatos eram relativamente comuns no passado para temas religiosos terra. Essas proporções eram muito utilizadas pelos artistas clássicos
tradicionais. Galeria de Arte Grey. Coleção de Arte da Universidade de Nova York. Doação do sr. e chineses que pintavam paisagens, para capturar a escala majestosa do
da sra. Irving Walsey, 1962. ambiente montanhoso. Cortesia do Museu do Palácio, Pequim.

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1.35 Elizabeth Murray, Fechadura, 1982. Óleo sobre duas telas, 2,5 × 2,8 m. Murray utiliza o espaço físico do
plano do quadro. As formas que compõem o plano do quadro acrescentam movimento e um elemento tridimen-
sional a suas pinturas. Esse aspecto caótico de sua obra é mantido sob controle pelas formas chapadas e abstratas.
Coleção de Agnes Gund. © Elizabeth Murray. Cortesia da Galeria Pace, Nova York. © 2011 Sociedade dos Direitos dos Artistas (ARS), Nova York.

geométricas (veja a seção “Proporção” do desenho ou quadro, a direção e o negativas (Figuras 1.36A e B). Às ve-
no Capítulo 2). Essas regras sugerem movimento dos elementos artísti- zes, especialmente na arte não figu-
a seleção de comprimentos e larguras cos devem se harmonizar com esse rativa, as imagens funcionam como
de proporções adversas (como 2:3 ou formato. De outro modo, tenderão a áreas positivas e negativas depen-
3:5) em vez de relações iguais. Os re- prejudicar o objetivo da unidade pic- dendo da perspectiva (Figura 1.37).
sultados são arranjos espaciais visual- tórica. Embora as áreas positivas possam
mente agradáveis. A maior parte dos As áreas ocupadas por imagens parecer concretas e mais explícitas, as
artistas, no entanto, baseia-se em seus objetivas e não objetivas são chama- negativas são igualmente importantes
instintos e não em uma fórmula me- das de áreas positivas. Os espaços para a unidade total da imagem. É
cânica. Uma vez estabelecido o plano não ocupados são denominados áreas importante para o artista principiante

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A B
1.36 Paul Gaugin, Moça com Leque, 1902. Óleo sobre tela. O tema, na figura A, representa uma forma
positiva que foi acentuada pela análise cuidadosa da área negativa, ou entorno. Na figura B, as áreas escuras
indicam as formas negativas, e a área branca designa o local da imagem positiva. Museu Folkwang, Essen, Alemanha/
The Bridgeman Art Library.

1.37 Robert Motherwell, África, 1965. Acrílico sobre linho belga, 2,0 × 5,6 cm. Nesta obra não figurativa, ou não
objetiva, algumas áreas foram pintadas e outras não. É muito simples, talvez até de maneira enganosa. Para o espectador,
as partes escuras parecem ser as formas positivas, embora, após certo tempo de observação, o efeito possa ser oposto.
Museu de Arte de Baltimore. Doação do artista. BMA 1965.012. Cortesia da Fundação Dedalus. Arte © Robert Motherwell/Licenciada por VAGA, Nova York,
Nova York.

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(e também para aqueles que estão em superfícies úmidas, seja em secas. CONCEITOS
aprendendo a apreciar a arte) prestar Para o desenhista, a diferença entre
atenção e levar em conta os efeitos das uma pressão forte e um toque leve
BÁSICOS DA ARTE
áreas negativas. A imagem pode pare- pode ser tão marcante quanto a textu- TRIDIMENSIONAL
cer chata, superlotada e/ou confusa se ra da superfície de desenho. Grafite, Nas artes gráficas bidimensionais
inexistir o uso apropriado e sensível carvão, lápis coloridos, pastéis ou giz (desenho, pintura, fotografia, gravu-
das áreas negativas. também podem ser misturados, apa- ra, desenho gráfico, etc.), as imagens
Tradicionalmente, a figura e o pri- gados ou agressivamente utilizados costumam ser em duas dimensões
meiro plano eram considerados po- (Figura 1.38). As tintas – não impor- (altura e largura), mas podem gerar
sitivos, enquanto as áreas do fundo ta se são aplicadas por pincel, pena, uma ilusão de espaço. Nas artes tridi-
eram consideradas negativas. O termo speedball, pena de bambu ou pape- mensionais, a dimensão adicionada é
figura provavelmente veio da forma lão – podem ser muito interessantes a da profundidade real, que permite
humana, que era utilizada como tema pela sua reação às superfícies secas ou que o observador perceba a obra de
principal na arte e sugeria uma relação úmidas. Para os gravuristas, ver a mu- múltiplos ângulos, o que aumenta seu
espacial, com a figura ocupando uma dança da superfície é intrigante: na impacto. Sendo a profundidade ver-
posição à frente do fundo remanes- litografia, o desenho surge na pedra dadeira fundamental à arte tridimen-
cente (veja as Figuras 1.36A e B). Mais ou na chapa enquanto a água resiste sional, o observador deve ver pessoal-
recentemente, pintores abstratos ado- magicamente ao uso da tinta (veja a mente a obra para melhor apreciá-la.
taram os termos campo, significando Figura 1.14); chapas para entalhe são Neste livro, os meios mais convenien-
área positiva, e fundo, área negativa. gravadas com ácido até que a imagem tes de transmitir uma experiência
Falavam, por exemplo, de um campo fique marcada abaixo da superfície da tridimensional são as reproduções
de cores sobre um fundo branco ou chapa (veja a Figura 3.15); em xilo- fotográficas; contudo, as palavras e as
um campo de figuras contra um fundo gravuras e gravações em madeira, a representações gráficas em 3-D não
de valor tonal contrastante (veja as Fi- resistência da madeira confere uma substituem a experiência realmente
guras 2.59 e 7.25). textura única (veja a Figura 3.18); sensorial. Assim, é muito importante
imagens em estêncil ou serigrafia po- que o leitor observe obras de arte que
dem ser com cores decorativas e su- de fato sejam tridimensionais.
MEDIA BIDIMENSIONAIS perfícies chapadas ou etéreas, por sua Tema, forma e conteúdo – os com-
transparência e textura (veja a Figura ponentes da arte – funcionam nas artes
E TÉCNICAS 4.1). Os exemplos são infinitos. plásticas do mesmo modo que nas ar-
Cada medium artístico (materiais e Muitos dos media e técnicas se tes gráficas. A importância de cada
ferramentas) possui características padronizaram com o passar dos anos. componente, todavia, pode variar com
intrínsecas que afetam a sensibilida- No entanto, os artistas não se restrin- o medium. Escultores, por exemplo,
de da obra. Os artistas também usam giram a materiais ou usos padroni- utilizam os componentes para expres-
várias técnicas para explorar e reve- zados. Com o avanço tecnológico, sar seus objetivos; arquitetos, ceramis-
lar nuances desejadas ao empregarem uma avalanche de novos materiais tas e artistas que trabalham com metal,
o medium escolhido – por exemplo, e procedimentos foram disponibili- embora expressivos, também podem
uma fotografia tem uma aparência zados para experimentação e desen- interpretar a forma para promover a
diferente de uma xilogravura, um volvimento. Alguns são meras ex- utilidade e a ornamentação da obra.
pincel produz um tipo de linha dis- tensões de abordagens tradicionais, A organização formal é mais com-
tinto de um bico de pena. Dependen- enquanto outros, como a produção plexa na arte tridimensional do que
do do que o artista quer comunicar, a de imagens em computador, não nas artes gráficas. Os materiais, desen-
escolha do material e da técnica pode têm precedentes. De fato, o empre- volvidos em um espaço real por meio
intensificar incrivelmente a expressi- go massivo de hardware digital e de da manipulação física, existem tanto
vidade da obra. software para a edição, manipulação em um sentido tátil quanto visual. As
A interação dos meios com as e outros aprimoramentos da imagem complexidades resultantes expandem
várias técnicas também estimula os se tornou bastante comum entre ar- o conteúdo ou o significado da forma
artistas. Os pintores se sentem atraí- tistas e desenhistas. Muitas vezes, o (Figura 1.40). É importante observar
dos pelo odor e o toque do gesso tradicional e o não tradicional se mis- a diferença entre a definição de forma
umedecido impondo resistência ao turam, especialmente em obras mul- como “organizadora ou organização”
pincel tanto no afresco quanto no tidisciplinares. Independentemente (como anteriormente definida) e seu
afresco seco. Tintas a óleo e aquare- do refinamento ou da simplicidade, uso comum, significando o “formato”
las conferem uma excitação tátil di- todas as inovações ampliaram a visão de um objeto de duas ou três dimen-
ferente do guache e da têmpera, seja do artista. sões. Os escultores frequentemente

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I N T RO D U Ç ÃO 31

1.38 Thomas Hilty e Tamara Monk, Fênix, 2006. Grafite, lápis e tinta acrílica, 91,4 × 121,9 cm. Este trabalho em técnica mista
mostra o esforço colaborativo de dois artistas. Eles misturaram eficientemente as aplicações de grafite, lápis e tinta acrílica para
criar superfícies expressivas e de texturas variadas. Cortesia dos artistas.

1.39 Phil Dunne, Quem é Essa Garota, 2010. Imagem digital. O


uso de computadores permitiu que artistas e designers utilizem
uma variedade maior de cores, texturas e efeitos. Esta imagem
jamais poderia ser concebida, muito menos criada, antes da in-
venção da tecnologia digital. © Phil Dunne.

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32 F U N D A M E N TO S D E A RT E

1.41 Figura Uli, Nova Zelândia. Madeira pin-


tada, 152 cm de altura. Para ilustrar os diferen-
tes significados do termo forma, podemos dizer
que as formas, nesta escultura, são os formatos
1.40 Mel Kendrick, Bronze com Dois Quadrados, 1989–90. Bronze (edição de individuais abertos e sólidos, ou que a forma da
três), 185,4 × 71,1 × 71,1 cm. Feita para ser percebida por meio da visão e do obra consiste no conjunto dessas partes indivi-
tato, esta escultura engana ao parecer de madeira, mas ter sido criada com a mani- duais. Hamburgisches Museum für Völkerkunde.
pulação e modelação do bronze. O escultor conhecia bem seu material para criar
esse tipo de efeito trompe l’oeil. Cortesia do artista.

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