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Estética/Filosofia da Arte

O PROBLEMA DA
DEFINIÇÃO DA ARTE
O que é a Estética?

• Estética
- provém do palavra grega aesthesis, que significa sensibilidade.

• A Estética é a disciplina filosófica que estuda o conhecimento sensível e a relação do


homem com os objetos belos.
O que é uma obra de arte?
Christo, The Reichstag embrulhado em tecido prateado
A Fonte, Marcel Duchamp (1917)
Philippe Starck, Espremedor de citrinos
Instalação de luz, Phillip Stearns

Arte com cubos rubik - Giovanni Contardi


https://www.youtube.com/watch?v=ZcgQN6lvSy4&app=desktop

Illusion Sculptures Only Appear If You Stand In The Right Spot | Master Craft - Michael Murphy
https://www.youtube.com/watch?v=BorcaCtjmog
Cisnes refletindo elefantes, de Salvador Dalí

Macaco Congo - https://www.mdig.com.br/index.php?itemid=46632


Alexa Meade - Living Paintings: Artist Reel - https://www.youtube.com/watch?v=GaJmRRBt6Xk
A Carmina Burana (1937) foi criada por Carl Orff (1985-1982)
https://www.youtube.com/watch?v=EJC-_j3SnXk – 3:38
Nobel da Literatura
Quentin Matsys, «The ugly duchess»
Leilão de arte realizado pela
multinacional de vendas por
leilão, Sotheby’s, em Nova
Iorque.
A obra de arte é «O grito»
(1895), do pintor norueguês
Munch, vendida por 119,9
milhões de dólares. Trata-
se do quadro mais caro da
história (pelo menos até
2012).

Atualidade: o quadro mais


caro da história - “Salvator
Mundi – Leonardo Da Vinci
https://www.comunidadecult
uraearte.com/da-vinci-e-salv
ator-mundi-o-quadro-mais-c
aro-do-mundo/
Importância do Problema
Para quê definir a arte?
“Qual o objetivo de uma definição? Por que queremos ou precisamos de uma definição?
É fácil ficar absorvido nos pormenores da discussão filosófica sobre definições e ao
mesmo tempo perder de vista o objetivo da discussão no seu todo. Eis três usos
possíveis de uma definição de arte:
1. Ajudar-nos a decidir em casos difíceis.
2. Explicar retrospetivamente por que razão aquilo a que se tem chamado «arte» é arte.
3. Dizer-nos relativamente a que objetos do mundo certos tipos de atenção cuidadosa
será provavelmente mais compensadora.”
Nigel Warburton, O Que é a Arte?
Definição explícita de “Arte”
Condições
Caraterística(s) Necessárias
que todas as obras de arte
têm em comum.
Verificar se é boa definição: (se existirem
contra-exemplos não é uma boa definição).
Algo que seja arte e não tenha essa(s)
caraterística(s).

Condições suficientes
Caraterística(s) que só a arte tenha.
Verificar se é uma boa definição:
Algo que tenha essa(s) caraterística(s) e não
seja arte.
A ARTE PODE DEFINIR-SE?

NÃO SIM

TEORIAS ESSENCIALISTAS TEORIAS NÃO


POSIÇÃO CÉTICA ESSENCIALISTAS
Teoria
(caraterísticas intrínsecas) (caraterísticas extrínsecas)

Imitativa Teoria
Subjetivismo/ Teoria
Relativismo
Representacio institucional
nal

Teoria Teoria
Expressivista histórica

Teoria
Formalista
TEORIAS ESSENCIALISTAS
Teoria da imitação (mimesis)

Platão Aristóteles
428/427 – 385 – 322 a. C.
348/347 a. C.

• O valor estético da obra de arte é conferido pelo grau de fidelidade com que o artista retrata a
realidade.
• Platão: Vê a arte como imitação e desvaloriza-a, por se afastar mais da realidade.
• Aristóteles defende o valor da arte como imitação:

- «imitar é natural aos homens desde a infância e nisto diferem dos outros animais, pois o homem é o que
tem mais capacidade de imitar e é pela imitação que adquire os seus primeiros conhecimentos».

- «Todos sentem prazer nas imitações».


Teoria da arte como imitação

Tese

X é arte se, e só Uma obra de arte tem de


se, é produção reproduzir algo de forma
humana que imita intencional.
a natureza ou a
ação do homem. Uma obra de arte é tanto
melhor quanto mais fielmente
reproduzir aquilo que imita.

rRapaz, de Ron Mueck (1999)


Teoria da arte como imitação

Artistas e obras
• http://www.caleidoscopio.art.br/exposicao/ron-mueck/ron-mueck.html
• https
://www.juicysantos.com.br/economia-criativa-em-santos/pinturas-impressionantes-de-al
yssa-monks
/
• http://www.ginaheyer.com/gallery/
• Filme “O rapaz que prendeu o vento” - https://www.youtube.com/watch?v=OBprnlpM744
https://www.youtube.com/watch?v=TKjUHSYpA24
Teoria da arte como imitação

Pontos fortes:

• É inegável que muitas pinturas, esculturas, peças de teatro, filmes imitam a natureza
(paisagens, objetos, pessoas, acontecimentos…).

• Oferece um critério classificativo, permite facilmente distinguir a arte da não arte.

• Oferece um critério valorativo que permite classificar como boas ou más as obras de arte,
basta comparar uma obra de arte com o aspeto da natureza que a mesma imita.
Exercício

Nestas três imagens encontramos representado um tema da arte cristã: Jesus Cristo após a
crucificação, morto nos braços da sua mãe, a Virgem Maria.

Pietá, de Michelangelo (1499) Pietá, de Van Gogh (1889)


Pietá, de El Greco (1592)
Tendo em conta o conjunto de obras de arte acima apresentado, formula objeções à
teoria da arte como imitação.
Objeções

Como saber se uma obra de arte imita o objeto ou a ação que pretende
reproduzir?

À partida poder-se-á pensar que a Pietá de Michelangelo, por ser mais realista, será
uma melhor imitação da realidade.
No entanto, esta obra foi produzida cerca de 15 séculos após o acontecimento original.

Logo, será difícil garantir que a obra imita o acontecimento tal como ele ocorreu.
Objeções

Pode o valor artístico de uma obra de arte ser reduzido ao grau de reprodução da
realidade?
Uma obra de arte perde o valor artístico por não reproduzir fielmente a realidade?

Para alguns autores, as obras de arte, ao refletirem uma interpretação subjetiva da realidade,
efetuada por um autor, recriam a realidade, ou seja, não a imitam.

As interpretações, como as de El Greco e Van Gogh do tema da Pietá, testemunham


características fundamentais do processo criativo e são reconhecidas como obras de arte.

Portanto, o facto de não imitarem tão fielmente a realidade, como a escultura de


Michelangelo, não implica que sejam desconsideradas como obras de arte.
Exercício

Tendo em conta a obra de arte


apresentada ao lado, formula
outra objeção à teoria da arte
como imitação.

s/n, Pedro Calapez (1997)


Objeções

Deverão as obras de arte que não imitam nenhum aspeto da realidade ser excluídas
do mundo da arte?

Por um lado, um número significativo de obras plásticas contemporâneas não são


sequer figurativas, ou seja, não reproduzem nenhum aspeto identificável da realidade.

Por exemplo, a generalidade da escultura e da pintura abstrata contemporânea não


refletem qualquer aspeto da realidade. Assim sendo, segundo a teoria da arte como
imitação, não teriam valor artístico.

Por outro lado, há formas de expressão artística, como a música e certas formas de
dança, que não imitam a natureza ou a ação humana. Desse modo, teriam de ser
excluídas das formas de expressão artística.
Definição explícita de “Arte”
Condições Necessárias
Caraterística(s) que todas as obras de arte
têm em comum.
Algo que seja arte e não tenha essa(s)
Há objetos que são obras de arte e não
caraterística(s).
imitam?

Condições suficientes
Caraterística(s) que só a arte tenha.
Algo que tenha essa(s) caraterística(s) e não
seja arte.

Há objetos que imitam e não são obras


de arte?
Teoria da arte como representação
Imitação e representação
• Para melhor resistir a contra-exemplos, alguns filósofos aperfeiçoaram a Teoria, substituindo o
conceito de imitação pelo de representação por este ser mais abrangente.
• “Tudo o que é arte representa algo” = “Um objeto só é arte se, e só se é uma representação”.
• “Se X é arte, então é imitação” ≠ “X representa Y se e só se o artista tiver a intenção de que X
esteja em vez de Y e a audiência compreender que a intenção é essa.”

A obra “a fonte”, de Marcel Duchamp:


• Arte como imitação: como o objeto não imita um urinol, dado que é
um urinol, então não pode ser considerado obra de arte.
• Arte como representação: como o objeto representa a ideia “qualquer objeto pode ser uma obra de
arte”, então pode ser considerado uma obra de arte.
Teoria da arte como imitação/representação
Objeções - Conclusão

• Definição restritiva: nem toda a arte imita/representa a realidade. Ex: Jam session de Jazz -
https://www.youtube.com/watch?v=Pt9_2lwlyjk ; Obras de expressionismo abstrato de Jackson Pollock:
https://www.ebiografia.com/jackson_pollock/; fotografia abstrata…; O conceito de representação
demasiado amplo: nem tudo o que representa é arte. Ex: sinais de trânsito, bandeiras, brincadeiras
de imitação de crianças…

• Há obras na pintura, literatura e música, reconhecidas como arte e aplicando este critério não o
seriam. Se o critério fosse forte não nos deixaria insatisfeitos e facilmente abandonaríamos a
nossa intuição de as classificar como arte.

• Muitas das vezes não estamos em condições de classificarmos se é uma boa ou má


imitação/representação pois retrata o passado.
Teoria expressivista

Liev Tolstói R. G.
(1828 – 1910) Collingwood
(1889 – 1943)
• O que confere estatuto artístico às obras são os sentimentos, as emoções transportadas para a
obra pelo artista.

• A obra de arte é o produto da vida interior do artista - (movimento romântico) -, e não do


mundo exterior.

“Uma obra é arte se, e só se, exprime sentimentos e emoções do artista.”


Teoria expressivista –Tolstói

«Toda a obra de arte leva o recetor a entrar numa espécie de relação entre aquele
que produziu, ou está a produzir, a arte, e todos aqueles que […] recebem a mesma
impressão artística. O discurso, ao transmitir os pensamentos e as experiências do
homem, serve de elo de ligação entre os homens, e a arte atua de forma semelhante.
A particularidade deste último elo de ligação, distinguindo-se da ligação por meio de
palavras, consiste em que enquanto pelas palavras um homem transmite os seus
pensamentos a outro, através da arte transmite os seus sentimentos.»
Lev Tolstói, O que é a Arte?

Exercício:
- Identifique a tese presente no texto acima transcrito.
- Construa um argumento válido, na forma canónica, em sua defesa.
Teoria expressivista –Tolstói

Tese

Uma obra é arte se, O objeto expressa uma emoção


e só se, exprime autenticamente sentida e
sentimentos e clarificada pelo artista.
emoções do artista O artista cria intencionalmente a
e ao mesmo tempo obra com o objetivo de provocar
desperta essas uma emoção específica no seu
emoções no seu recetor.
público.
A emoção estética sentida pelo
recetor é idêntica à emoção
expressa pelo criador e
partilhada por todos.

“O Grito”, de Edvard Munch (1893)


Teoria expressivista – Tolstoi

1º O artista tem de sentir, caso contrário não nada para comunicar.


2º O recetor tem de sentir, caso contrário não há lugar a comunicação de sentimentos.
3º O artista tem de ser autêntico nos seus sentimentos, caso contrário não há verdadeira
comunicação.
4º O artista tem de ter intenção de provocar sentimentos, pois a arte não deve ser feita ao
acaso.
5º O artista deve clarificar os seus sentimentos e transmiti-lo de forma adequada, para que
contagie e una as pessoas nos mesmos sentimentos.
Teoria expressivista – Collingwood
Tese

X é arte se, e só se, A emoção sentida


é expressão originariamente pelo artista não
clarificadora de possui ainda valor estético.
emoções.
O artista, através da imaginação,
refina a emoção original
transformando-a numa emoção
estética, o que lhe irá conferir
valor artístico.

A emoção estética do artista é


evocada pelo recetor da obra
Feeling Good, Nina Simone de arte ampliando a
https://www.youtube.com/watch?v=F compreensão dos seus
f-0pHwyQ1g próprios sentimentos.
Teoria expressivista – Collingwood

.
• A arte autêntica resulta de um processo criativo mental levado a cabo pelo artista, em que
este toma consciência gradualmente dos seus sentimentos através da criação artística.
A clarificação de emoções tanto deve acontecer da parte do artista como dos recetores.

• Na verdadeira arte, não há plano definido, ao contrário dos ofícios: artesanato, artes
decorativas, propagandísticas ou de entretenimento.

• Elementos novos em relação à definição de Tolstoi: a arte tem a função de clarificar


sentimentos indefinidos/confusos do artista; recurso à imaginação.
Teoria expressivista
Pontos fortes:

• São muitos e eloquentes os testemunhos de artistas que reconhecem a importância de


certas emoções sem as quais as suas obras não teriam certamente existido. Mais do
que isso, se é verdade, como parece ser, que a arte provoca em nós determinadas
emoções ou sentimentos, então é porque tais sentimentos e emoções existiram no seu
criador e deram origem a tais obras.

• Também nos oferece, como a teoria anterior, um critério classificativo que permite, com
algum rigor, classificar objetos como obras de arte. Com a vantagem acrescida de
classificar como arte todas as obras que não imitam nada.

• Oferece um critério valorativo: uma obra é tanto melhor quanto melhor conseguir
exprimir os sentimentos do artista que a criou.
Teoria expressivista

Objeções

Será que todo o tipo de objetos artísticos e


expressões artísticas expressam algum tipo de
emoção?

Na arquitetura, na pintura, na escultura, na dança e no


teatro, por exemplo, há um sem número de objetos que
não possuem qualquer intenção de expressar ou criar
sentimentos.

“Vega 200”, Vitor Vaserely


Teoria expressivista
Objeções
Será possível estabelecer uma identidade de
emoções entre o criador e o recetor da obra de arte?
.

Não é possível garantir que as emoções sentidas e


transmitidas pelo criador sejam geradas da mesma forma, ou
pelos mesmos motivos, no fruidor da obra de arte.

Cronos devora os filhos, Goya


(1819-1823)
Teoria expressivista
Objeções
Será que a existência de mediadores (interprete,
encenador, maestro…), que algumas expressões artísticas
exigem, não dificulta a partilha de sentimentos entre criador
e recetor?

A emoção partilhada no momento da execução da obra depende muito


da capacidade do intérprete, e de quem o orienta, na interpretação e
expressão dos sentimentos originais do criador da obra.

Assim sendo, no ato de criação artística, os seus mediadores podem


ser tão relevantes como o criador original.

HANS ZIMMER'S live Esta constatação leva-nos a perguntar quem está a gerar sentimentos
concert – “Inception” e que sentimentos são esses.
https
://www.youtube.com/watc
h?v=va1oiojnGrA
Teoria expressivista

Objeções - Conclusão

• Apesar do critério permitir aumentar amplitude de classificação de obras de arte, ainda há


obras reconhecidas como arte e aplicando este critério não o seriam:
- Há obras que não exprimem qualquer sentimento ou emoção (arte inexpressiva). Ex: arte
abstrata, Op Art, música aleatória, obras de arquitetura, entre outras, realizadas no sentido
do aperfeiçoamento técnico.
- Há obras que despertam sentimentos nos recetores diferentes dos do artista e/ou que
expressam sentimentos embora sem intencionalidade da parte do artista.
- Há obras que são resultado de um projeto coletivo (pintura da capela cistina de
Michelangelo foi feita por muitos pintores que não estariam a sentir a mesma emoção.
http://www.museivaticani.va/content/museivaticani/en/collezioni/musei/cappella-sistina/tour-virtuale.htm
l
).
Teoria expressivista

Objeções - Conclusão

• Muitas das vezes não estamos em condições de classificarmos se é uma boa ou má:
- Podemos não ter como saber qual foi o sentimento e/ou emoção de artistas já falecidos.
- As obras de autor desconhecido deixariam de ser consideradas arte.
• Todas as peças de teatro ou filmes quando os atores não estão a ser autênticos e a sentir
verdadeiramente aquilo que representam eram excluídas desta classificação.
• Alguns artistas afirmam que transmitem os sentimentos e emoções em bruto, num primeiro
impulso, sem clarificação.
Teoria formalista – Clive Bell
Tese

As obras de arte são criações


X é arte se, e só se,
humanas destinadas a provocar
tem forma
emoções estéticas nos
significante que
espetadores.
provoque nas
pessoas emoções
estéticas.
As emoções estéticas resultam
da forma significante:
existência de harmonia entre
linhas, formas e cores.
(esvaziadas de conteúdo)

Quadrado negro e quadrado vermelho,


Kazimir Malevich (1915)
Teoria formalista de Clive Bell
• A teoria dá foco ao sujeito que aprecia a obra de arte e não ao artista.
• Sabemos que estamos perante . uma obra de arte se sentirmos emoção estética.
• A caraterística capaz de provocar as emoções estéticas nos recetores é a forma significante.
• A forma significante pode ser encontrada: na pintura - combinações de linhas e cores; na
música – organização sonora; na literatura – a estrutura narrativa; na dança – combinação
de movimentos e figuras; na escultura – conjunto de traços e contornos.
• A teoria formalista defende: se o objeto é arte, então emociona-me.

Principal ponto forte:

• É uma definição que inclui todo o tipo de obras de arte, desde que provoquem emoções no
espetador.
Teoria formalista de Clive Bell
Objeções Será que a forma significante é suficiente para distinguir um objeto
artístico de um que não o é, independentemente do conteúdo?

Existem obras de arte


cujo conteúdo
semântico é
incontornável. Assim,
as linhas e as cores
que formam uma
composição é
importante, mas o que
as obras de arte
representam também.

Guernica, Pablo Picasso


Teoria formalista de Clive Bell
Objeções Será que a forma significante é suficiente para
distinguir um objeto artístico de um que não o é?

Nas obras de Andy Warhol, e outros artistas


do Ready Made, objetos comuns foram
elevados à condição de objetos artísticos.
Porém, a forma que possuem, como as latas
de sopa ou as caixas de Brillo (um detergente),
são exatamente iguais às do objeto comum.

Por outro lado, a ideia de forma significante


pode aplicar-se às obras plásticas, mas não a
obras de outras formas de manifestação
artística.
Sopa Campbell`s, Andy Warhol (1968)
Teoria formalista de Clive Bell

Objeções

Será que os conceitos de forma significante e de emoção estética foram suficientemente


esclarecidos, para poderem ser úteis para a determinação do que é uma obra de arte?

Alguns críticos da teoria formalista, defendem que esta assenta num erro de argumentação, pois
trata-se de um argumento circular.

O conceito de emoção estética é explicado com o conceito de forma significante e, por sua vez, o
conceito de forma significante é definido com o conceito de emoção estética.
Teoria formalista de Clive Bell

Objeções - Conclusão
• Se o critério é a forma e há objetos de arte que, pela sua forma, são indistintos dos não
artísticos (“A fonte” de Duchamp = urinol), porque razão não são obras de arte?
• Todas as obras que são inseparáveis do seu conteúdo seriam excluídas (ex: poesia).
• O conceito de forma significante é impreciso, de maneira a que consigamos identificar se um
objeto tem ou não forma significante. Clive ao dizer que tem forma significante quando nos
desperta emoções estéticas, sendo que as emoções estéticas são as despertadas pela
forma significante, incorre numa petição de princípio. Ou ao defender que quem não sabe
identificar a forma significante de um objeto não tem sensibilidade estética está a contornar
dificuldades. Esta falta de esclarecimento (de saber exatamente o que é) não permite
encontrar contraexemplos.
• O critério classificativo não é muito claro: como classificar quando perante a mesma obra de
arte, algumas pessoas sentem alguma emoção e outras não?
TEORIAS NÃO ESSENCIALISTAS
O facto de terem emergido novas formas de arte, tais como o
cinema e a fotografia, e de as galerias de arte terem exibido coisas
como um monte de tijolos ou uma pilha de caixas de cartão, forçou-
nos a refletir acerca dos limites do nosso conceito de arte. Dantes,
o que contava como arte parecia estar mais claramente definido.
No entanto, nos finais do século XX parece que chegámos a uma
situação em que tudo e mais alguma coisa pode ser arte. Se isto é
assim, o que fará que um certo objeto – um escrito ou uma peça
musical –, e não outro, seja digno de se chamar arte?

Nigel Warburton (1998). Elementos básicos de filosofia. Lisboa: Gradiva, pp.218-219 (adaptado).
Teoria institucional – GEORGE DICKIE

George Dickie
(1926 – 2020)

• Privilegia metodologicamente o contexto sociocultural em que um objeto é


instaurado como arte em detrimento das suas propriedades intrínsecas.

• Sublinha a importância de existir um critério classificativo, desvalorizando o critério


valorativo.
Teoria Institucional de George Dickie
Tese

X é arte se e só se Tem de ser um artefacto, (o


é um artefacto e significado de artefacto depende do
uso/da função que lhe é dado, é um
pertença ao mundo
objeto manipulado).
da arte.

ao qual uma ou várias pessoas


agindo em nome de uma certa
instituição social (o mundo da
arte) atribuem o estatuto de
candidato à apreciação. (o
mundo da arte é constituído por
artistas, produtores, espetadores,
críticos de arte, diretores de
Joana Vasconcelos, “Marilyn” museus, filósofos e historiadores
de arte, entre outros).
Teoria Institucional de George Dickie

O estatuto de obra de arte – 4. passos:

1 – Agir em nome de uma instituição.


2 – Atribuir um estatuto.
3 – Ser candidato.
4 – A avaliação.

Principal ponto forte:


.

Qualquer objeto pode ser um objeto de arte desde que esteja institucionalizado no mundo da
arte.
Teoria Institucional de George Dickie
Pontos fortes:
.

“… ela mostra também o caráter processual e efémero da atribuição do estatuto de arte a um


objeto. O que ela diz claramente é que os objetos que se encontram nos nossos museus,
galerias e livros de arte estão sendo apenas propostos como arte. Nada garante que eles
serão realmente apreciados e nem por quanto tempo. É um fato histórico que as obras
adquirem ou perdem valor em diferentes momentos e contextos.” Ramme, Noéli, “A teoria institucional e a
definição da arte”

Exercício:
- Esclareça o caráter processual e efémero de que fala o texto acima.
Teoria Institucional de George Dickie

Objeções
Como classificar obras de arte que não foram
programadas para o serem (arte adventícia)?
.

Nesse caso, não havia por parte do artista Arthur


Bispo do Rosário, que sofria de esquizofrenia, o
desejo de que seus objetos fossem contemplados
como obras de arte, pois eram, para ele, trabalhos
para Deus.

“Manto de Apresentação”
de Arthur Bispo do Rosário
Teoria Institucional de George Dickie
Objeções

O que leva os membros do mundo da arte, de entre os


objetos candidatos, a escolher um e a considerar que
possui propriedades passíveis de serem apreciadas,
elevando-o a obra de arte?

Tem de haver razões que levam os objetos a


serem considerados dignos de apreciação estética
e as mesmas não foram definidas.

Gaudi, “Sagrada Família”


Teoria Institucional de George Dickie

Objeções
Esta teoria é circular?

Obras de arte são definidas como objetos que são


aceites como tais pelas pessoas que entendem de
arte; e as pessoas que entendem de arte são
definidas como as que aceitam certos objetos como
sendo obras de arte.

Jeff Koons - obras expostas na


Galeria Gagosian em Nova York
Teoria Institucional de George Dickie
Objeções

Se qualquer pessoa pode se autoconsiderar como


pertencente ao mundo da arte e se basta uma pessoa
para atribuir o estatuto de candidato à apreciação de
um objeto, a arte corre o risco de se tornar privada e
no lugar de pública?

Antiartistas poderiam retirar o estatuto de arte a


obras historicamente consagradas?

Abbie Vandivere, conservadora-chefe de


pintura do museu Mauritshuis, examina a obra
“Rapariga com brinco de pérola” de Vermeer.
Teoria histórica – Jerrold Levinson

Jerrold
Levinson (1948)

• Procura resolver lacunas da teoria institucional da arte, de modo a permitir a existência de arte
fora do contexto institucional do mundo da arte.
Teoria histórica – Jerrold Levinson
Tese
O artista, como indivíduo
independente, tem a
X é arte se e só se intenção de propor o objeto
o artista, com para apreciação estética (e
direitos de não tem de agir em nome de
propriedade, tem a uma instituição).
intenção que o seu
O objeto tem de se
produto seja
inserido numa inscrever no curso da
dada tradição. história da arte. (um objeto é
arte dependendo da relação
que estabelece com outros
objetos já reconhecidos na
história como arte.)

Obras de arte da O objeto seja propriedade


https do autor.
://br.pinterest.com/edna9115/obras-de-artes
/
Teoria Histórica de Jerrold Levinson

Pontos fortes:

• Possibilita que obras solitárias possam adquirir o estatuto de obras de arte.


• Mostra que na arte não vale tudo, estabelecendo o critério histórico.
Teoria Histórica de Jerrold Levinson
Objeções

Será que tudo o que é considerado arte é


propriedade do artista?

Neste caso, Spencer Tunik não é proprietário nem


do local onde tirou a foto nem das pessoas que se
voluntariaram para participar.

Nem as obras de street art, como as de Vhils:


https://www.youtube.com/watch?v=Sd4vR5HI_x8
Nus de Spencer Tunik
https://www.instagram.com/spencer Exercício:
tunick/? - Construa uma contra-objeção.
hl=pt
Teoria Histórica de Jerrold Levinson
Objeções

Como classificar as primeiras obras de arte?

Se é uma condição para se considerar arte o objeto


se conseguir inscrever na história da arte,
comparando-o com outras obras
inquestionavelmente artísticas, neste caso, as
primeiras pinturas deixariam de ser arte.

Pinturas rupestres – Vale Foz Côa


Afinal, o que é uma obra de
arte?
Webgrafia:
• What makes something art? – YouTube – 7:50
• Filosofia 11º ano - A Filosofia e a Arte 💭🎨 - YouTube - 12:33

Artigos de Estética
• Almeida, Aires (2000). O que é arte?
http://criticanarede.com/fil_tresteoriasdaarte.html
• Costa, Cláudio F., “Teorias da arte”
https://criticanarede.com/est_tarte.html
• https://criticanarede.com/estetica.html

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