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DOI:https://dx.doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2021.v6.n19.pxx-xx

FORMAÇÃO DO CANTAR CENTRADO NA DOCÊNCIA:


RECONSTRUINDO A TRAJETÓRIA DE FELIPE

Dyane Rosa
https://orcid.org/0000-0003-3626-2697
Projeto Arte nas Escolas e Comunidades, Prefeitura de Criciúma

Teresa Mateiro
https://orcid.org/0000-0002-3527-8366
Universidade do Estado de Santa Catarina

resumo Este artigo tem como objetivo apresentar a formação do cantar de


Felipe, estagiário de licenciatura em Música, pela perspectiva da pes-
quisa (auto)biográfica. Inicialmente, contextualizamos o lugar de en-
contro, o espaço de formação e o cantar em sua trajetória formativa.
Descrevemos como foi realizada a entrevista narrativa oral e desta-
camos pesquisas com licenciandos na área de Educação Musical. Em
seguida, compartilhamos a história de Felipe construída de maneira
conjunta, ressaltando o seu desejo de ser professor, sua formação
musical e pedagógico-musical, e suas experiências profissionais. O
que mais nos chamou atenção na história do estagiário foi a forma
como ele organizou a sua formação, demonstrando ter autonomia
em relação às suas escolhas formativas, de modo que potencializa
sua autoformação. A docência parece ser o ponto principal de sua
trajetória, pois durante a narrativa, Felipe se vê como professor e sua
formação é concretizada por meio de suas experiências docentes.
A pesquisa (auto)biográfica é um exercício do próprio sujeito que o
leva a conhecer sua formação, refletindo e sintetizando e, portanto,
conhecendo a si mesmo e o modo como aprende.
Palavras-chave: História de formação. Estágio curricular supervisio-
nado. Entrevista narrativa. Formação musical.

abstract EDUCATION OF SINGING FOCUSED ON TEACHING:


RECONSTRUCTING FELIPE’S TRAJECTORY
This article aims to present Felipe’s singing education, trainee of
Music Degree, from the perspective of (auto)biographical research.
Initially, we contextualize the meeting place, the training space, and
singing in his formative trajectory. We describe how the oral nar-

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rative interview was conducted and highlight research with under-


graduate students in ​​music education. Then, we share Felipe’s sto-
ry built together, highlighting his desire to be a teacher, his musical
and pedagogical-music education, and his professional experiences.
What most caught our attention in the trainee’ story was the way he
organized his education, demonstrating autonomy in relation to his
formative choices, which enhances his self-training. Teaching seems
to be the main point of his career, because throughout the narrative
Felipe sees himself as a teacher and his formed education is realized
through his tutoring experiences. (Auto)biographical research is an
exercise by the subject himself that leads him to know his education,
reflecting and synthesizing and, therefore, knowing himself and the
way he learns.
Keywords: Formation story. Supervised traineeship. Narrative inter-
view. Music education.

resumen FORMACIÓN DEL CANTAR ENFOCADA EN LA


ENSEÑANZA: RECONSTRUYENDO LA TRAYECTORIA DE
FELIPE
Este artículo tiene como objetivo presentar la formación de canto
de Felipe, estudiante de Licenciatura en Música, desde la perspecti-
va de la investigación (auto)biográfica. Inicialmente, contextualiza-
mos el lugar de encuentro, el espacio de formación y el cantar en
su trayectoria formativa. Describimos cómo se realizó la entrevista
narrativa oral y destacamos la investigación con estudiantes de pre-
grado en el área de educación musical. A continuación, compartimos
la historia de Felipe construida en conjunto, destacando su deseo
de ser docente, su formación musical y pedagógico-musical, y sus
vivencias profesionales. Lo que más nos llamó la atención en la his-
toria del estudiante de práctica docente fue la forma en que organizó
su formación, demostrando autonomía con relación a sus opciones
formativas, lo que potencia su autoformación. La docencia parece
ser el punto principal de su trayectoria, pues a lo largo de la narrati-
va Felipe se ve a sí mismo como un maestro y su formación se con-
creta a través de sus experiencias docentes. La investigación (auto)
biográfica es un ejercicio del propio sujeto que lo lleva a conocer su
formación, reflexionando y sintetizando y, por tanto, conociéndose a
sí mismo y el modo cómo aprende.
Palabras-clave: Historia de la formación. Practicum. Entrevista narra-
tiva. Educación musical.

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Introdução
Ler [um texto] escrito sobre mim causou uma A busca por conhecer o processo da forma-
estranheza salutar de ter suas ideias e história ção do cantar antes e durante a graduação tam-
de vida sendo filtradas e repassadas por outra bém foi temática propulsora para esta investi-
pessoa. No entanto, essa estranheza deu rapi-
gação. Concordamos com Calvente (2013, p. 77)
damente lugar ao encantamento de perceber a
beleza na contação de histórias, na diversida- quando diz que, para o professor, as atividades
de de olhares e como isso tem o poder de dar cantadas são uma “questão de sobrevivência”
humanidade à própria história que é contada e, por isso, é importante o desenvolvimento
(FELIPE, 2020). da intimidade com sua própria voz. Portanto,
Conhecíamos Felipe há um tempo, pois fre- a formação nessa área é relevante para a sua
quentamos o mesmo lugar de formação – o profissão. A narrativa de Felipe que apresenta-
departamento de música de uma universida- mos está organizada em episódios temáticos
de pública. Ele tinha as características de um que se contextualizam em relação com as vozes
licenciando em Música que buscávamos para de outros autores. Assim, tecemos o presente
investigar o processo de formação do cantar relato sobre sua trajetória formativa.
por meio da pesquisa (auto)biográfica: estar Discutir a formação na perspectiva da pes-
matriculado na disciplina de Estágio Curricular quisa (auto)biográfica implica pensar em trans-
Supervisionado e ter o cantar como atividade formação, isto é, no sujeito que se permite “um
principal em sua prática pedagógica. Conver- gesto de interrupção”, que “está aberto à sua
samos com ele, pessoalmente, e apresenta- própria transformação” (LARROSA, 2002, p. 26).
mos o projeto de pesquisa1, convidando-o a O objetivo principal da transformação possi-
participar. Com o seu aceite, realizamos uma bilitada por essa abordagem, segundo Josso
entrevista narrativa que foi complementada (2002), é o de transformar a vida sociocultu-
com conversas posteriores, trocas de e-mails, ramente programada em uma obra inédita a
mensagens por WhatsApp e documentos. ser construída. Em cada narrativa tem-se uma
O Estágio Curricular Supervisionado é o forma particular que diferencia o processo de
momento crucial da licenciatura e, como afir- formação de uma pessoa para outra, apresen-
mam Azevedo, Grossi e Montandon (2008), é o tando assim, um esclarecimento individualiza-
“divisor de águas”. Muitas vezes, é nessa etapa do ao conceito desse processo.
do curso que o estudante decide se continua A biografia educativa, segundo Dominicé
ou não na profissão, define o professor que (2010), pode tornar-se tanto um instrumen-
quer ser e inicia a construção de sua identi- to de investigação como de formação e vice-
dade profissional. Além disso, é somente na versa. O objeto de investigação é o processo
prática que se desenvolvem habilidades e sa- de formação que vai sendo reformulado com
beres, adquirindo outros conhecimentos pe- ajuda de interrogações, que constroem e ins-
dagógico-musicais. Por essas razões, nos in- crevem o sujeito no movimento da reflexão.
teressava conhecer a trajetória formativa de De acordo com o autor, a reflexão não era um
licenciandos (ROSA, 2020) inseridos no campo objeto de investigação, mas um objetivo do
real de atuação, por sabermos que é um perío- investigador. Este é quem convida o partici-
do de desafios e reflexões. pante a pensar sobre sua formação. Dessa
forma, a biografia educativa é um instrumen-
1 Projeto submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
da universidade e aprovado sob o número 3.557.937. to de investigação para o pesquisador e um

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instrumento de formação para os participan- Entrevista narrativa


tes, e essa articulação implica em um novo
A entrevista, que foi gravada com a autoriza-
significado.
ção de Felipe2, foi realizada no dia 21 de maio
Bragança (2011) entende que formação é
de 2019 em uma sala da universidade. Teve
um processo educativo pelo qual se busca a
1h35min de duração, resultando em 16 páginas
construção de conhecimentos, considerando
de transcrição. Essa entrevista fez parte de um
os espaços da vida humana como espaços
estudo preliminar3 que permitiu a reflexão so-
de formação e potencial transformação. For-
bre o exercício da entrevista. Outros contatos
mar-se, conforme a autora, passa por olhar
foram realizados no decorrer do ano e, em 27
para si, olhar para o outro, para as relações
de março de 2020, voltamos a conversar, desta
estabelecidas socialmente e pela aprendiza-
vez por Skype, já que o contato pessoal estava
gem experiencial, construída por experiên-
restrito, devido à pandemia causada pelo vírus
cias que tomam sentido no percorrer de uma
SARS-CoV-2 que causa a covid-19. O licencian-
vida. Vaillant e Marcelo (2012) destacam que
do, ao narrar sobre si mesmo, voltou ao passa-
o conceito de formação está vinculado com a
do e repensou seu presente. Fez isso de modo
capacidade e a vontade e, desse modo, o in-
natural e cativante.
divíduo é o responsável pelo desenvolvimen-
A narração aconteceu de forma oral, no for-
to de seus próprios processos formativos. En-
mato de entrevista narrativa (JOVCHELOVITCH;
tretanto, isso não significa que esse sujeito
BAUER, 2010). Para Souza e Meirelles (2018, p.
tenha uma formação totalmente autônoma,
296), “a entrevista narrativa é uma entrevista
uma vez que é “[...] através da formação mú-
individual onde os sujeitos falam de si e de
tua que os sujeitos podem encontrar contex-
seus percursos, disponibilizando informações
tos de aprendizagem que favoreçam à busca
importantes de suas existências”. Vinculada
de metas de aperfeiçoamento pessoal e pro-
à pesquisa qualitativa, caracteriza-se por ser
fissional.” (p. 29).
não estruturada e de profundidade, “consti-
O sentido da formação no contexto da pes-
tuindo-se um dos corpora fundantes da pes-
quisa (auto)biográfica traz a formação para o quisa (auto)biográfica”. Desse modo, o colabo-
lugar da subjetividade, com o olhar sobre o rador conta a sua história com poucas inter-
sujeito, em uma intensa “autoprodução” que rupções do entrevistador que, por sua vez, sem
caminha junto com intrincadas “dinâmicas participar diretamente, estimula a narração.
da vida pessoal e coletiva”, salienta Bragança As narrativas construídas na perspectiva
(2008, p. 69). É a formação no sentido da rejei- metodológica da pesquisa (auto)biográfica,
ção às determinações impostas das estruturas conforme apontam Amorim e Fernandes (2017),
de formação já consagradas e ao isolamen- são fortes aliadas para investigar a formação
to do sujeito que, ao entrar em um processo acadêmico-profissional, uma vez que essa
formativo pela pesquisa (auto)biográfica, re- formação deve ultrapassar o trivial ensino de
inventa o fazer científico para bem longe das conteúdos. Ensinar é um processo conjunto,
fronteiras disciplinares. Como diz Dominicé de constante interação social entre professor
(2012, p. 28), “a vida é tomada como um todo”,
2 Agradecemos ao Felipe Damato de Lacerda por par-
pois constatou nas histórias de vida que os in-
ticipar da pesquisa e permitir identificá-lo com seu
divíduos, ao narrar seus processos formativos, nome próprio.
3 Uma versão foi apresentada e publicada nos Anais do
não separam a dimensão cognitiva da afetiva XXIV Congresso Nacional da Associação Brasileira de
em seu desenvolvimento. Educadores Musicais (ABEM) (MATEIRO; ROSA, 2019).

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e alunos. Os professores, antes de tudo, são tiva, entrevistas temáticas, entrevistas indivi-
pessoas possuidoras de experiências únicas e duais e entrevistas narrativas autobiográficas.
ideias subjetivas que devem ser consideradas Essa diversidade está associada aos sentidos
em sua formação, pois é por meio dessas ex- das experiências que o sujeito atribui a si e ao
periências passadas e futuras, e de suas sub- mundo no decorrer de sua formação musical,
jetividades, que esses indivíduos formam sua como afirmam as autoras.
identidade social e profissional. Na área de Educação Musical, pode-se
A narrativa de Felipe revela a formação de considerar que o trabalho de Maria Cecília de
um adulto que, como ressalta Dominicé (2010 Araújo Rodrigues Torres (2003) foi o primeiro a
p. 199), “não pertence a ninguém senão a ele ser realizado na perspectiva da pesquisa (auto)
próprio”. Por isso, o sujeito da experiência é o biográfica. A autora, fundamentada na histó-
sujeito em formação, que se apropria de sua ria oral, investigou entre as estudantes de um
história de vida, sem seguir um modelo prees- curso de licenciatura em Pedagogia, suas con-
tabelecido. O autor sublinha que “pelo contrá- cepções e formas de constituírem sua identi-
rio, um instrumento de investigação só se pode dade musical. Reinicke (2019), com a mesma
estandardizar, se se anular essa dimensão de abordagem metodológica, com ênfase na pes-
formação” (p. 210) e, portanto, se o caminho a quisa-formação, criou um grupo de formação
percorrer é formador, não se pode impor um com estudantes de Pedagogia para acompa-
plano de pesquisa. Não se trata necessaria- nhar e compartilhar saberes, conhecimentos
mente de aprender, mas de refletir sobre o que e experiências relacionadas aos processos de
se aprendeu no passado, pois “cada narrativa desenvolvimento de conhecimentos musicais
é o reflexo da maneira como o caminho per- e pedagógico-musicais. Torres fez entrevistas
corrido foi compreendido, a formação definida semiestruturas individuais e Reinicke narra-
e o processo interpretado” (p. 213). tivas individuais e em grupo. Ademais, usou
Fortalecendo o uso das narrativas como também narrativas escritas, assim como Torres
meio de possibilitar a formação de um indiví- usou autobiografias musicais, tanto narradas
duo, citamos a dissertação de Alves (2015), que oralmente quanto escritas.
faz uso de fontes autobiográficas, objetivan- Os professores em exercício têm sido os
do compreender a construção da identidade mais estudados, tanto na área de Educação
profissional dos licenciandos em Música da como no campo da Educação Musical, confor-
Universidade Federal do Rio Grande do Nor- me a revisão de literatura realizada por Almei-
te (UFRN). Não foram encontradas pesquisas da (2019). O interesse dos pesquisadores tem
realizadas com estudantes de licenciatura em revelado veemência em compreender a tarefa
Música, com exceção de Alves, que utilizaram de educar, bem como a importância de desta-
entrevistas narrativas no âmbito da pesquisa car o aspecto pessoal na formação de profis-
(auto)biográfica. Contudo, vale ressaltar que sionais do Magistério. Temáticas comuns são a
no levantamento bibliográfico de Pedrollo e trajetória profissional dos professores, proble-
demais autores (2021, p. 11), sobre abordagens máticas que emergem dos relatos, vivências e
metodológicas em pesquisas (auto)biográficas biografias, e a análise de momentos críticos
em Educação Musical, a entrevista foi a fon- relacionados a reformas curriculares e mudan-
te mais utilizada nas 47 pesquisas analisadas, ças sociais (SANCHO; HERNÁNDEZ, 2011).
considerando a multiplicidade de modelos: No levantamento de Madeira e demais
entrevista semiestruturada, entrevista narra- autores (2021), a temática formação docente

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é a mais estudada em trabalhos acadêmicos sador tenta capturar o fato reconstruído pelo
nas áreas de Educação e Música. As autoras narrador por meio de uma memória seletiva,
informam que “a presença de temas como que pode ser intencional ou não. De acordo
formação, experiência, memória e prática com Bodgan e Biklen (1994, p. 51), o significado
docente indica um elo com a pesquisa (auto) é de suma importância, pois os pesquisadores
biográfica como marcante na valorização do devem se preocupar com as perspectivas dos
sujeito pesquisado” (p. 10). Vale destacar ou- participantes e como esses interpretam os sig-
tras pesquisas de revisão de literatura leva- nificados no decorrer de sua história, ou seja,
das a cabo com o intuito de conhecer o que eles “[...] estabelecem estratégias e procedi-
se tem investigado na interface entre Educa- mentos que lhes permitam tomar em consi-
ção Musical e (auto)biografia. São elas: Gon- deração as experiências do ponto de vista do
tijo (2019); Röpke e Monti (2021); e Marques e informador”. Foi nesse sentido que conhece-
demais autores (2021). mos a formação do cantar de Felipe, ouvindo
e compreendendo o modo como ele interpreta
suas experiências e constrói significados.
Análise da narrativa de Felipe
Apresentar a formação do cantar de Felipe, es- Ressignificando as experiências
tagiário de licenciatura em Música, pela pers-
formativas de Felipe
pectiva da pesquisa (auto)biográfica, signifi-
ca considerar como o licenciando narra essa Felipe, desde seus 13 anos de idade, teve o de-
formação e a relaciona com a prática docente sejo de ser professor. Não sabia de que maté-
durante seu estágio curricular supervisionado. ria, mas sabia que iria trabalhar com o ensi-
Conforme Bogdan e Biklen (1994) explicam, os no. Esse desejo foi o que o motivou a iniciar a
dados na pesquisa qualitativa devem ser ana- construção de sua trajetória de formação do-
lisados de forma indutiva, ou seja, não partem cente. Fez vestibular para licenciatura em Mú-
de fatos comprovados e resultam em uma con- sica e licenciatura em História, e passou nos
clusão subjetiva. A subjetividade surge a partir dois processos. Como a universidade em que
iria cursar História estava com calendário aca-
da análise que, por sua vez, é construída à me-
dêmico atrasado devido a uma greve, ele deu
dida que dados são recolhidos e agrupados.
início à licenciatura em Música. Já tocava vio-
A singularidade da história de Felipe indi-
lão e guitarra, gostava de rock e heavy metal, e
cou a possibilidade de interpretar o que foi
usava cabelo comprido. Lembra que, na época,
narrado, sendo reconstruído para este artigo o
queria muito cantar como os cantores que ou-
que se refere às suas experiências formativas
via, mas não conseguia.
em Música e, em especial, ao ato de cantar e à
No momento da matrícula, Felipe relata
sua trajetória para a escolha da profissão do-
ter escolhido a disciplina de Expressão Vocal,
cente. Assim, as informações são descritivas,
entre Flauta Doce e Percussão4, e diz que essa
no sentido de analisar o conteúdo, respeitan-
do a forma como foram registradas e transcri- 4 Na graduação em licenciatura dessa universidade,
no currículo da época, todos os alunos no ato da
tas. O que mais nos interessa é compreender o matrícula deveriam obrigatoriamente escolher dois
processo da formação do licenciando e não os instrumentos, os quais estudariam de maneira mais
aprofundada durante todo o período do curso. No
resultados alcançados. currículo da época, as disciplinas citadas eram cha-
Ao dar uma nova interpretação ao que foi madas de Grupos Musicais (Expressão Vocal), Gru-
pos Musicais (Percussão) e Grupos Musicais (Flauta
narrado, segundo Abrahão (2012), o pesqui- Doce). Já as disciplinas que abordavam o ensino do

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escolha foi “quase no susto […] eu tomei a deci- é nesse momento em que ele é entrevistado.
são de fazer Expressão Vocal assim... Percussão Durante a narrativa, Felipe afirma: “fui arreba-
estava meio fora da minha área e foi meio que tado pela área”, mas o caminho para terminar
por exclusão. Vou cantar porque eu não tinha essa graduação está sendo longo. Futuramen-
interesse nem em Percussão e nem em Flauta te, pensa em fazer um curso de doutorado,
Doce”. Assim, fez todas as disciplinas relacio- mas não necessariamente para ser professor
nadas ao canto e ao ensino do canto que po- no ensino superior.
deria fazer na época (Prática de Regência I, II, Quando se refere à sua formação, Felipe
III e IV, Grupos Musicais (Expressão Vocal) I, II explica que pensa nela como um arco: “um
e III5) e, inclusive, uma disciplina que não fazia arco grande de formação docente”. Queria le-
parte de seu currículo (Instrumento Eletivo IV cionar, só não sabia bem o que, então, no iní-
– Canto). cio, esse arco ainda não era muito claro e, por
Após ter cursado três semestres, pediu isso, foi sendo construído durante toda a sua
transferência para o curso de bacharelado trajetória, desde a escolha pela licenciatura
em Violão na mesma universidade. Formou-se em Música até à retomada do curso. Para ele
nessa graduação, fez um curso de especializa- é importante terminar a licenciatura para que
ção, lato sensu, em Pedagogia Instrumental e também possa dar aulas em escolas de Edu-
Performance, na área de violão, e mestrado em cação Básica. Conversando sobre a represen-
Música, na área de Educação Musical. Depois tação visual do arco, o licenciando disse que
de concluir o mestrado, Felipe voltou para a li- imaginou um arco como os Arcos da Lapa, do
cenciatura em Música para finalizar o curso, e Rio de Janeiro (Figura 1).

Figura 1: Arco de formação docente

Fonte: elaboração das autoras.

violão e do piano eram chamadas de: Instrumento Desse modo, sua trajetória formativa foi
(Piano) ou Instrumento (Violão). Com o respectivo representada por um arco “guarda-chuva”
número do semestre, exemplo: Instrumento I (Piano),
Grupos Musicais II (Expressão Vocal). No ato da matrí- que abarca os cursos acadêmicos e expe-
cula, o aluno deveria escolher uma opção dos Grupos
riências profissionais e pessoais. Cada arco
Musicais e outra opção da disciplina de Instrumento.
Felipe escolheu Grupos Musicais (Expressão Vocal) e menor como os cursos de especialização em
Instrumento (Violão).
Pedagogia Instrumental e Performance, o ba-
5 Apenas dois semestres dessa disciplina e da Prática de
Regência são obrigatórios, sendo as demais eletivas. charelado em Violão e suas experiências pro-

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fissionais como regente, professor de canto sidades e como regente coral em grupos co-
e violão, contribuiu para a totalidade, pois rais. Essas experiências transformaram suas
para sustentar um arco maior, precisa-se de concepções de ensino, uma vez que “é na prá-
vários arcos menores. Além disso, Felipe in- tica pedagógica que a identidade profissional
clui como pontos fortes de sua trajetória de começa a tomar forma. É onde a significação
formação a redescoberta vocal e o mestrado social do que é ser professor começa a ter sen-
em Música. tido.” (FIALHO, 2014, p. 58).
Durante o curso de Especialização quando A formação, segundo Larrosa (2004), é um
fazia algumas disciplinas com a turma de Didá- processo de construção social, em que os
tica Instrumental e Performance em Canto, ele sentidos são construídos por meio de expe-
pôde conviver com estudantes da área de can- riências, as quais estão intimamente relacio-
to e teve acesso à disciplina de Neurociência, nadas à identidade. Sendo assim, aquilo que
em que conheceu o funcionamento do siste- se constrói só tem significado por meio de en-
ma nervoso central, envolvendo característi- trelaçamentos de relações com os outros, com
cas da atenção consciente, tipos diferentes de o contexto em que se está inserido e consigo
memória e processos de memorização, e uma mesmo, ou com aquilo que faz sentido para si.
disciplina de Imagens Mentais, conhecendo Passeggi (2016) ressalta que é preciso se expor,
assim o uso de analogias e de recursos para o ter experiências e refletir sobre elas para tirar
ensino instrumental e performance. Tudo isso lições para a vida e para aprender sobre nós
foi, para ele, uma “experiência didática rica” mesmos e o mundo.
e um maior contato acadêmico com conheci- Um aspecto importante para Felipe em seu
mentos para o que ele realmente queria fazer: percurso foi o fato de não ter feito mestrado
ensinar. logo após o bacharelado. Ele planejou fazer pri-
Felipe foi em busca de trabalhos que, de meiro uma especialização e trabalhar na área
alguma forma, envolvessem a docência para como professor e depois o mestrado em Mú-
ter experiências e dar significado à sua for- sica. Assim, estaria bem mais preparado, pois
mação musical. Ele sentiu necessidade de se fazer pesquisa em educação musical para ele,
inserir na sociedade, em seu contexto social e [...] não fazia o menor sentido sem você nunca
profissional, para estabelecer relações entre ter pisado em sala de aula, você nunca ter en-
o que sabia e o que podia fazer. Desse modo, sinado, você nunca ter tentado, por exemplo, no
caso da minha área de canto ou de canto coral.
Felipe começa a construção de quem é, pois,
Qual é a validade de eu ser um pesquisador se
conforme Larrosa (2004, p. 13), “[...] o sentido
eu não consigo afinar um cantor desafinado,
de quem somos é análogo à construção e in- se eu não tenho recursos didático-pedagógi-
terpretação de um texto narrativo e, como tal, cos para ajudar um aluno que tem problemas
obtém seu significado tanto nas relações de de afinação a melhorar? Enfim, isso é uma con-
intertextualidade que mantém com os outros cepção minha, isso não é válido também para
todo mundo. Mas isso foi o que me moveu.
textos como de seu funcionamento pragmático
em um contexto”. Durante a entrevista, Felipe explicou que
As experiências profissionais de Felipe con- o seu trabalho de mestrado tratou sobre
cretizaram-se como professor de canto e vio- “como a formação dos regentes corais se dava
lão em escolas específicas de música, como dentro de cursos de bacharelado em Regência
professor substituto de canto e regência em Coral, especificamente, tendo em vista que o
cursos de licenciatura em Música em univer- regente coral vai trabalhar com coro amador,

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ele vai ter que ensinar música, vai ter que en- é de 432 h/a para o Estágio Curricular Super-
sinar a cantar”. Sua pesquisa se encontra com visionado. É a partir do quinto semestre que
a formação do seu cantar e o faz refletir sobre o acadêmico começa a cumprir as disciplinas
sua própria formação. Foi também um perío- de Estágio Curricular Supervisionado I, II, III
do emocionalmente intenso, com momentos e IV, do qual o I e II devem ser desenvolvidos
difíceis que o levaram a iniciar processos de em diferentes contextos de educação musi-
autoconhecimento. cal, podendo ser realizados em espaços não
Outro fato marcante em sua trajetória, escolares e o III e IV em escolas de Educação
entre o curso de especialização e o início do Básica da Rede Pública de Ensino. O estágio
mestrado, foi a sua redescoberta vocal como pode ser realizado em duplas ou individual-
consequência de uma doença que afetou os mente. Naquele semestre, o licenciando op-
músculos de sua laringe e pescoço. Isso exigiu tou por fazer em dupla e em uma turma de
que redescobrisse o funcionamento de seu Ensino Médio.
aparelho fonador. Recomeçou a perceber o Para o entrevistado, a formação docente
seu corpo por meio da exploração e do estu- nunca deve estagnar, não termina, pois “esta-
do de seus músculos laríngeos e de seu pes- mos em eterno processo de formação”. Nesse
coço, tomando consciência do que podia ou sentido, Pereira (2010, p. 136) afirma que “[...]
não fazer, como e de que forma. Foram mais o sujeito é uma formação existencial singular,
de três anos para poder voltar a cantar. O pro- uma emergência constituída num campo so-
cesso de reconhecer sua voz e desenvolvê-la cial, em constante iminência de deixar de ser
passou pelo percurso do autoconhecimento e o que está sendo para tornar-se outro jeito”.
do encontro da sua própria identidade pes- O licenciando acrescenta que quando se pen-
soal e profissional, como cantor e professor sa que esse processo terminou, “você está se
de canto. colocando num lugar onde você para de nadar
Em suas palavras: “isso me tornou um pro- no meio de um rio e você vai ser levado pela
fissional muito mais humano, consegui com- correnteza e essa correnteza muitas vezes está
preender os meus alunos com muito mais pro- relacionada ao sofrimento”.
fundidade”. Parafraseando Passeggi (2016), Acredita que o “fundamental é ter um pro-
Felipe se expôs, sem medo de padecer sob o jeto de formação profissional e saber que ela,
impacto da experiência, conseguindo trans- a graduação, não contempla essa formação
formar um momento difícil de uma doença e profissional na sua totalidade, ela é uma peça
os dois anos do curso de mestrado em vida, do quebra-cabeça, a graduação é uma peça e,
formação e conhecimento. No retorno à licen- vão ter outras, e você tem que, enquanto pro-
ciatura, Felipe desenvolveu sua prática do- fissional, saber e ir atrás dessas peças”. Esse
cente também por meio do Estágio Curricular movimento de “ir atrás das peças” é o que se
Supervisionado. Afirmou sentir-se preparado, denomina de autoformação, isto é, quando
uma vez que considerava ter tido experiências a formação é construída pelo próprio sujei-
formativas e profissionais tanto na academia to. Nós, que ouvimos e procuramos legitimar
quanto fora dela e que poderiam contribuir as palavras de Felipe, em um processo per-
para o período de estágio. manente de pesquisa e formação recíproca,
No curso de licenciatura em Música, no imaginamos esse quebra-cabeça de forma-
qual Felipe está inserido, a carga horária total ção (Figura 2).

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Figura 2: Quebra-cabeça de formação

Fonte: elaboração das autoras.

Docência no centro da narrativa em conjunto”. Como afirma Stephens (2013), ao


Para ser um bom professor de Música, na opi- analisar histórica e socialmente as diferentes
nião de Felipe, é importante “ter uma grande identidades e os papéis profissionais, o status
experiência e uma grande vivência profunda recai mais no conhecimento da matéria do que
com música, com prática musical”. Em sua nar- na aplicação desse conhecimento.
rativa, conta que ficou desmotivado quando No início de sua atuação profissional, Feli-
iniciou o curso de licenciatura em Música por- pe se preocupava com uma “noção de um per-
que gostaria de praticar mais o seu instrumen- feccionismo para evitar o erro a todo custo, o
to. Ele refletiu: “na época, minha sensação era desenvolvimento da técnica como o ápice do
de que a parte musical era deixada um pouco ensino instrumental no ensino de música”. Ele
de lado ou simplificada”. Como pretendia ser explica que isso não acontecia somente por
professor e entendia que para ser um “bom” estar cursando o bacharelado de Violão, já que
professor, precisava de maior “bagagem e ex- muitos instrumentistas que cursavam licencia-
periências musicais”, decidiu pelo bacharelado tura, na época, tinham essas mesmas concep-
em Violão. Apesar disso, destacou que “ser um ções sobre o ensino instrumental. Podemos in-
bom professor começa aí, mas não termina aí”. ferir que a primazia na performance é algo que
A necessidade de ser primeiro músico e de- os indivíduos já trazem consigo mesmo antes
pois professor está relacionada à concepção de entrar em um curso superior de Música e
de que para ser um bom professor de Música mesmo em algumas licenciaturas essa carac-
é preciso ser músico. Jorgensen (2020, p. 23), terística conservatorial ainda perdura (PEREI-
filósofa e educadora musical americana, afir- RA, 2014).
ma: “alguns dos mais destacados professores O saber cantar e tocar está relacionado ao
de música que conheço são, antes de tudo, “saber-fazer” do professor (TARDIF, 2006), en-
músicos. As suas competências musicais per- quanto o saber-ensinar refere-se ao conheci-
mitem-lhes inspirar e encantar os seus alunos mento pedagógico do conteúdo necessário e
com o poder e o profundo sentido comunitá- inerente à profissão docente (SHULMAN, 1987).
rio que deriva da prática vocal ou instrumental Felipe tem razão ao trocar de curso, pois as

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disciplinas pedagógicas e, principalmente, os ra foi primordial, contribuiu para sua formação


estágios curriculares supervisionados são os como cantor e professor de canto. Portanto,
alicerces dos cursos de licenciatura, diferen- um professor com “[...] características revela-
temente dos cursos que formam músicos que, doras de alguém psicologicamente equilibra-
apesar de não serem esses os únicos objetivos, do, emocionalmente estável (disponibilidade
têm ênfase em teoria musical, leitura, escrita e afetiva positiva), social e interessado pelos
domínio da técnica instrumental. Na época, o alunos, ajudam a descortinar aquilo a que cha-
seu interesse estava mais voltado para o co- mamos um ‘bom’ professor” (CUNHA, 2010, p.
nhecimento e as habilidades musicais. 42). O licenciando refletiu: “se fosse uma pro-
No entanto, o entrevistado reconhece que fessora de canto mais vinculada à tradição do
a docência “exige um corpo de conhecimento canto lírico do Bel Canto italiano, bem adestra-
específico que é da docência, que é o foco da dor de voz, talvez eu não tivesse tido o mesmo
licenciatura, mas também exige uma formação impacto, talvez esse processo não tivesse sido
técnica [musical] de profundidade”. O conheci- tão significativo para mim”.
mento da matéria e o conhecimento pedagógi- Felipe refere-se a uma professora centra-
co são igualmente necessários, pois não basta da na técnica vocal e não no aluno como um
tocar, é necessário saber ensinar, como bem todo. Se ele tivesse tido uma professora assim,
reforça Penna (2007). Esse saber ensinar, deno- talvez o cantar poderia não ter se tornado tão
minado por Shulman (1987) de “conhecimento importante em sua vida pessoal e profissional.
pedagógico da matéria”, caracteriza-se por ser Ele cita outros professores que fizeram dife-
o conhecimento típico do professor que atua rença em sua formação do cantar como o pro-
em escolas de Educação Básica. É aquele co- fessor de Regência. Desse modo, foi se interes-
nhecimento individual e socialmente construí- sando cada vez mais por cantar e tendo prazer
do que se aprende na prática do dia a dia da em cantar. Fez parte do coral da universidade
sala de aula. e, por se destacar nas disciplinas de Regência,
Para ser professor de Música da Educa- foi monitor do naipe. Conta que esse foi seu
ção Básica, afirma Penna (2007), é necessário, primeiro contato com a docência: “por ser mo-
além de saber tocar, ter compromisso social, nitor de naipe, acabava também já exercendo
humano e cultural, perceber as necessidades a docência tentando ajudar os outros cantores
e potencialidades dos alunos respeitando os da comunidade no aprendizado das linhas, en-
vários espaços e culturas em que estão inse- fim, tudo ainda meio rudimentar, mas já estava
ridos. Essas características aparecem na fala o germe ali”.
de Felipe quando narra sobre a professora que Sobre ser mais professor de canto ou re-
teve na disciplina de canto durante o curso de gente, Felipe comenta que essas duas identi-
licenciatura: “ela acolhia bastante o sentimen- dades caminham juntas com ele e que não vê
to dos seus alunos e naturalizava muitas coi- diferença entre elas. Acredita que o professor
sas, enfim, hoje eu tenho percepção de que isso de canto rege o aluno e que o regente deve
foi muito positivo”. Essa professora acolheu as também ser um pouco professor de canto. Em
necessidades de Felipe como aluno, o perce- relação à sua realização como professor, Feli-
beu como pessoa, o que para ele fez toda a pe diz: “o ápice da minha realização profissio-
diferença em sua trajetória. nal não é eu cantar bem, o ápice é eu conseguir
No momento em que Felipe precisou de “li- ajudar os outros a cantarem”. Quando pergun-
bertação de expressão e emoção”, a professo- tado como se identificava, Felipe respondeu:

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“eu sou professor de Música, eu sou professor adulto, mas também mostrar que se tratava de
de Música que trabalha com diversas áreas in- um dado incontornável”. Todas as experiên-
tegradas”. cias pelas quais um indivíduo passa ao longo
Felipe tem muitas áreas de interesse e, por da vida farão parte da sua formação. Conhecer
isso, diz enfrentar pequenas crises, quando ele a própria história ajuda a construir um indi-
se pergunta: “será que escolhi a área certa?”. víduo e, assim, o sujeito que se conhece será
O entrevistado reforça que, frequentemente, cada vez mais capaz de conhecer o “como” e
se coloca em dúvida. Para entender o que o “de que forma” aprende. Portanto, esse sujeito
faz permanecer professor de Música, ele des- será capacitado também para a possibilidade
creve o relato de uma aluna que lhe enviou de construir sua formação.
uma mensagem depois de uma apresentação. Felipe diz como é gratificante estar com
A aluna agradece a ajuda que Felipe lhe deu alunos que também estão passando por um
para vencer o perfeccionismo e a fazê-la en- processo de reforma interior. Fazer os alunos
tender o processo, confessa que teve medo e se perceberem como pessoas o fez aderir ao
vergonha ao se apresentar e que tem ciência mesmo processo: “o grande estimulador é
de que o ensaio foi melhor. Fala que a expe- você enquanto professor se colocar no lugar
riência foi maravilhosa e que, assim, está per- de redescoberta o tempo inteiro e não como
dendo o medo. detentor do conhecimento, das verdades...”.
Afirma que essa mensagem foi “um grande E acrescenta: “eu acho que quando você con-
clímax” da sua atuação docente e acrescenta segue se mostrar dessa forma para o aluno e
que: “existem pequenos momentos no dia a dia mostrar que você também está passando por
que vão te alimentando nesse sentido”. Além esse processo, isso estimula e encoraja o aluno
disso, o processo que a aluna descreve aconte- a passar por um processo similar de redesco-
ce porque o aluno vai “se livrando do lixo emo- berta emocional”. Inclusive, conta que se en-
cional” e sem isso, para ele, a melhora técnica contra constantemente nesse processo de au-
e musical não ocorre. De fato, o autoconheci- toconhecimento ou reforma interior e, quando
mento é uma escada poderosa para a melhoria explica isso ao aluno, constrói-se uma via de
técnica, ou melhor ainda, para a aprendizagem identificação de professor-aluno que contribui
de forma geral. Conforme Josso: diretamente para o sucesso da aula. Abrahão e
Frison (2010, p. 203) ressaltam que o “[...] pro-
O acto de aprender encontra-se assim sucessi-
vamente contextualizado nas lógicas de partida fessor é um eterno aprendente, pois se cons-
e de chegada, dependendo, ao mesmo tempo, titui na interação com o outro e, nessa intera-
do passado, do presente e do futuro, das carac- ção, aprende e ensina”.
terísticas bio-psci-socioculturais de determi-
nado aprendente na sua singularidade e final-
mente da capacidade de objectivar os diferen- Considerações finais
tes aspectos em jogo nas situações educativas
Investigar o processo de formação docente
(JOSSO, 2002, p. 182).
em Música por meio da pesquisa (auto)biográ-
Dessa forma, de acordo com Josso (2002, fica foi enriquecedor e desafiante. No exercí-
p. 187), “a abordagem biográfica da formação cio investigativo, percebemos quão complexo
tem permitido não apenas desenvolver a ideia é a escrita da narrativa do outro pela subje-
que as formações instituídas não podiam des- tividade inerente ao processo formativo. Essa
prezar a bagagem experiencial do seu público abordagem teórico-metodológica destaca a

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história de vida do indivíduo ou parte dela e, Expressou, ainda, que sente necessidade em
particularmente, o modo como cada um cons- se distanciar um pouco da formação formal,
trói a sua formação. Determina um processo referindo-se nomeadamente à universidade.
de análise que exigiu uma mudança de olhar, Felipe vê sua história como um todo e sin-
que requer atenção à narrativa para perceber tetiza sua formação. Percebemos que obser-
como Felipe ia construindo os sentidos para a var a totalidade da trajetória de sua formação
formação músico-pedagógica no decorrer de profissional foi importante na medida em que
sua história. Esse olhar se aproximou de um lhe proporcionou refletir como sua formação
sentido transdisciplinar, tanto pelo aspecto continuará no futuro. O exercício da narrati-
subjetivo quanto por tentarmos compreender va possibilitou a decisão consciente dos seus
a realidade ultrapassando as fronteiras disci- próximos passos formativos, pois é percep-
plinares, a que estamos tão formatadas. tível a responsabilidade que tem sobre sua
Ficou evidente o poder formativo que essa própria formação, potencializando assim sua
abordagem possibilita. A pesquisa, por meio da autoformação. Portanto, ter uma visão inte-
narrativa oral, é um exercício do próprio sujei- gral e específica da formação pode auxiliar na
to que o leva a conhecer sua formação, sinteti- construção da autonomia do sujeito sobre seu
zá-la, refleti-la e, assim, conhecer a si mesmo e percurso formativo, como estudiosos da área
como aprende, além de conquistar autonomia vêm enfatizando – questão essa que também
sobre o seu próprio processo formativo. Os é reafirmada neste estudo.
episódios narrados são, normalmente, os pon- Destacamos a forma como a ação de can-
tos cruciais de formação elegidos pelo sujeito. tar foi importante para desenvolver a expres-
Nas palavras de Felipe: “Participar desta pes- sividade de Felipe como pessoa. Comunicar-se
quisa autobiográfica teve alguma importância por meio do canto possibilitou a comunicação
pessoal para mim. A entrevista me estimulou com o mundo ao seu redor. A experiência no
a revisitar memórias e acontecimentos que há curso de mestrado e a redescoberta vocal por
tempos não contemplava, além de me ajudar a meio de momentos emocionalmente difíceis
dar um sentido de totalidade à minha própria fez com que ele reforçasse a busca pelo auto-
trajetória de formação profissional”. conhecimento, encontrando, assim, uma nova
O que mais nos chamou atenção na história forma de ser professor. Tornou-se um profes-
do licenciando foi a forma como ele organizou sor de canto e um regente que olha mais para
a sua formação profissional para ser músico os alunos e os cantores como pessoas, colo-
e professor de Música. Felipe demonstrou ter cando-se em posição de igualdade em suas
autonomia em relação às formações escolhi- relações durantes os processos de ensino e
das no decorrer de sua história. Quando ele aprendizagem. Observamos que Felipe estará
fala sobre o “arco de formação docente”, com- engajado nesse processo de desenvolvimento
preendemos que o percurso foi pensado e pla- pessoal e profissional por toda a sua vida. Ele
nejado. Não temos certeza de que esse plane- será um eterno aprendente.
jamento foi desenhado nessa ordem ou se al- A docência parece ser o ponto princi-
guns acontecimentos foram surgindo no meio pal de sua história, pois desde cedo quis ser
do caminho, como é também natural. Apesar professor e um “bom professor”. Essa concep-
disso, durante a entrevista, ele refletiu que, em ção levou-o a ir em busca do conhecimento
alguns momentos, precisou e precisará parar musical em primeiro lugar para, depois, en-
para dar atenção a outros âmbitos de sua vida. tão, retornar ao curso de licenciatura. Essa

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retomada, fazendo-o voltar ao ponto inicial, ponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/


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Dyane Rosa é mestre em Música pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Atualmente, trabalha em esco-
las da prefeitura de Criciúma como professora de Música no Projeto Arte nas Escolas e Comunidades, com oficinas de
Musicalização e Canto Coral. E-mail: dyanerosa@gmail.com

Teresa Mateiro é doutora em Filosofia da Educação pela Universidade do País Vasco, Espanha. Realizou pós-doutorado
na Universidade de Lund, Suécia. Professora associada do Departamento de Música (DMU) da Universidade do Estado
de Santa Catarina (Udesc). Atua nos Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) e Mestrado Profissional em Artes
(PROF-ARTES) na mesma instituição. Líder do Grupo de Pesquisa Educação Musical e Formação Docente (Formusi) da
Udesc. É editora da Revista ORFEU (PPGMUS/UDESC). E-mail: teresa.mateiro@udesc.br

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