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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
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Artigo apresentado a Universidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obtenção de
Licenciatura em Pedagogia.
2Graduando em Pedagogia pela Universidade Potiguar – jessicahipolitoaraujo@gmail.com
3Graduando em Pedagogia pela Universidade Potiguar – max.lene.b@hotmail.com
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[...] um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de
práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas
e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades religiosas, sociopolíticas
ou simplesmente de socialização. (JULIA,2001).
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do aluno quanto aluno, mas na vida do ser humano em geral. Assim, trazemos
elementos do pensamento daqueles que tenham contato com tal trabalho o
questionamento para a importância da arte na formação de um ser humano.
Sobre a categoria memória, Halbwachs (1990) afirma que cada memória
individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva. [...] este ponto de vista
muda conforme o lugar que ali eu ocupo, e [...] este mesmo lugar muda segundo as
relações que mantenho com outros meios. Portanto, é do lugar que ocupo como arte
educador que traçarei aqui minhas memórias individuais e ao mesmo tempo
coletivas, pois esse sentido do conjunto de pessoas com quem vivi e vivo, define
também o meu lugar.
Em sua obra “Como as Sociedades Recordam” Connerton (1999), afirma que
as nossas experiências do presente dependem em grande medida do conhecimento
que temos do passado e que as nossas imagens desse passado servem
normalmente para legitimar a ordem social presente, e que como é transmitida a
memória dos grupos – exige que se reúnam duas coisas: recordação e corpos.
Nessa perspectiva, reunir sentimentos, emoções e corpos numa sequência de
reminiscências, nos faz reconstruir um mundo a que nele pertenço e vivo.
Afirma Severino (2001), que:
Assim, considera-se que este trabalho pode ser definido como um trabalho de
mapeamento representativo da vida escolar, social e cultural do sujeito, portador de
sua história, de sua memória e da memória da sua sociedade, trabalho este que
denota a realidade sócio histórica e cultural, e o itinerário vivido, encontrando-se na
memória permanece impresso no sujeito.
De metodologia qualitativa, esse trabalho se caracteriza como autobiografia,
pesquisa de campo, com auxílio da técnica da entrevista. Nesse sentido, foi
desenvolvido pesquisas nas Escola Municipal Ferreira Itajubá e Escola Estadual Dr.
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nos divertíamos com brincadeiras que hoje já não se vê. Começava assim minha
história com a arte.
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Trecho extraído do artigo A arte de contar e trocar experiências: reflexões teórico-metodológicas sobre
história da vida em formação, de Elizeu Clemente de Souza, presente em Revista Educação em Questão, Natal,
v.25, n.11, p.7-21, jan./abr.2006
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O mesmo parecia prever que aquilo realmente seria o que iria guiar meu modo de
ser. Ele via em rabiscos em suas paredes um futuro possivelmente grande.
Ora, devo todo agradecimento ao meu querido pai, por ter olhado com amor
para aqueles inocentes desenhos de criança, por ter visto ali muito mais que uma
simples travessura de um menino levado, mas sim, o desabrochar de um talento. Foi
sim, ele, o meu primeiro e grande incentivador.
Dos rabiscos nas paredes surgiram então meus primeiros passos na arte.
Lembro-me como se fosse hoje. Como já dito antes, meus brinquedos feitos por meu
pai viravam telas, meus cadernos e até mesmo meu corpo. Tudo era local de
expressão de arte aos olhos de uma criança da minha idade que via em seus
desenhos uma possibilidade de diversão de prazer para consigo mesmo.
Mas mesmo criança, eu me via na necessidade de expor aquilo que eu
expressava. Como que uma necessidade de levar para as outras pessoas, não
apenas para mim, mas via a possibilidade de uma identificação do outro com aquilo
que eu fazia, mesmo que tão simples e inocente como o que eu fizera.
Sendo assim, meu pai, sempre que pôde, me comprava cadernos em que eu
podia desenhar e ali eu me fazia muito feliz. Por sinal, me presenteando com uma
mesa inclinada, feita por ele mesmo, que muito se assemelhava a modelos
profissionais. Onde ali eu pude me sentir um verdadeiro desenhista. Mas sempre ao
ver quadros de artistas renomados eu ficava estarrecido com aquilo, como parecia
se expor propriamente um quadro, não como meu caderno em que eu desenhava
para mim, senão que algo maior.
Então ao me deparar com alguns restos de materiais de alvenaria do meu
pai, vi uma possibilidade que então não me sugira. Vi a possibilidade de reutilizar
aqueles objetos para confeccionar minhas próprias telas, essas que iriam compor o
meu ambiente de exposição, o quarto da minha avó.
Na casa da minha avó, vivíamos eu, minha mãe e meu irmão. Mas muito
próximo também estavam meus primos e tias que sempre estavam em contato
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conosco, (quase que o tempo todo, pode-se dizer). Como já foi apresentado,
situava-se em um bairro simples. Uma casa que sempre recebia muitas visitas,
tendo em vista que minha avó era costureira, tinha sempre alguma cliente que por ali
estava. E foi em meio a esse cenário que eu comecei então a expor propriamente a
minha arte.
Porém, tendo em vista os tempos que se viviam, onde possuir, comprar uma
tela era algo muito distante do que se via como possível, não havia outra forma de
fazê-lo, senão que criando. Quando digo criando, não me restrinjo as pinturas em si.
Eu tive que sim, eu mesmo, por curiosidade e vontade de fazer, eu mesmo fazer
aquilo. Eu mesmo produzir as telas onde iria expor meus desenhos e pinturas.
Feito isso, as paredes do quarto da minha avó se tornavam então o meu
ateliê, meu ambiente de exposição, ali, com “visitas” das admiradoras daquela arte
(que não eram outras, senão que as clientes da minha avó), que com suas
congratulações, me faziam sentir-se, naquele instante, um verdadeiro artista.
Ora, crescia em mim então, cada vez mais, esse desejo de me aprofundar
nisso que é a arte. Fazendo assim, levá-lo adiante. Para além da minha casa. A arte
começava a fazer, cada vez mais, parte da minha vida e a ser levada comigo para
onde eu fosse.
Fica claro assim, a importante virada que a arte pode causar. Como afirma
Mallet (2006): “O acontecimento biográfico é então entendido do sentido de um
acontecimento importante, ou marcante, como uma virada na existência”. 6
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Artigo extraído de: Revista Educação em Questão, Natal, v.25, n. 11, p. 7-21, jan./abr. 2006.
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Figura 2: Minha Arte na escola. Pela ausência de material fotográfico, exponho aqui gravuras que
retratam tal memória.
professores. A diversão eram os desenhos, era a arte. Com apenas sete anos de
idade, o lápis de cor, as canetinhas e o papel faziam mostrar meu mundo, eram
mundo.
Afirma Weisz (2003), que: “Na verdade, o conhecimento se constrói
frequentemente por caminhos diferentes daqueles que o ensino supõe”. Quem dera
toda desatenção escolar ser causada pela arte.Como já dito anteriormente: nasciam
ali minhas primeiras telas. Sim, os cadernos de atividades, o chão, as paredes da
escola e até mesmo meu corpo e dos colegas de classe, os mesmos pediam que os
“tatuasse” ou fizesse “relógios de pulso” ou outro desenho que gostavam.
Lembrando que, como já dito anteriormente, os desenhos na TV estavam em alta, o
que só instigava ainda mais a criatividade, além da de quem os desenhava, a de
quem pedia e se identificava com os desenhos que ali via.
Mas como era de se esperar, um aluno que tais características pouco tempo
duraria em uma escola privada em tempos de tanta rigidez e de uma educação tão
“conservadora”. A direção da escola logo se viu sem mais opções disciplinares em
sua busca de encaixar-me, por assim dizer, em seu sistema. Decepcionantemente,
para a minha mãe, tive que ser então transferido de escola. Outra realidade agora se
apresentara em minha então tão curta vida escolar.
Todo adulto, que foi um dia aluno, guarda consigo lembranças mais ou
menos precisas de sua escolaridade. Aliás, é importante sublinhar que
certas imagens, provavelmente anódinas para o aluno, em seu tempo de
escola, retornam precisamente à memória, quando ele se torna adulto. Se
essas lembranças estiverem ligadas à instituição escolar, elas são
preferencialmente orientadas para outras instâncias do contexto social,
personalidade do professor, relação entre pares, etc. (PEYRONIE, 2000).
É seguindo essa afirmação de Peyronie (2000), que, por sinal, muito bem
expõe que o adulto carrega consigo o seu eu estudante em memórias de sua
escolaridade, que partiremos aqui com o seguimento de tais memórias.
Aos dez anos fui transferido para a Escola Estadual Dr. Graciliano Lordão,
uma escola pública de estrutura completamente diferente do que se tinha na escola
anterior. Localizada no coração da comunidade, no centro do bairro das Quintas. Ali
havia uma boa estrutura, mas como pode se imaginar, pouco era aproveitada. Salas
de aula mais amplas, maiores, mas com um maior, muito maior, número de alunos.
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Claro, era uma escola da comunidade, eu via nos meus colegas de classe a imagem
da comunidade em suas faces. Confesso ter, inicialmente, uma difícil adaptação,
mas incrivelmente, logo me vi em meu lugar. A liberdade que ali encontrava para me
expressar, o olhar que havia para a arte que eu produzia ali era outro.
Segundo Paulo Freire7, precisamos superar a lógica da organização social da
escola hierarquizado em um sistema verticalizado, com saberes e conhecimentos
fragmentados, distante da realidade do aluno.
A professora então, observando que havia algo especial ali, logo buscou
extrair, assim, o melhor, desenvolver como se lapida uma pedra e isso não pode
deixar de ser reconhecido. Segue aqui o relato da mesma:
Tendo vivido todo o meu ensino fundamental 2 (da terceira série, hoje quarto
ano, quando fui transferido, até a oitava, hoje nono ano), na Escola EstadualDr.
Graciliano Lordão, pode-se dizer que um grande desenvolvimento ocorreu ali.
Através de diversos momentos em que era exigido qualquer tipo de arte visual,
como por exemplo as eleições de líderes de classes, eu era sempre escolhido para
ilustrar cartazes e até mesmo santinhos, com o uso de papel crepom, pois naquela
época cópias não eram tão simples assim, então sempre me vinha a demanda de
ser o responsável por esse trabalho de ilustrar e muitas vezes até fazer caricaturas
daqueles “candidatos” a líderes.
Inclusive tive a felicidade de nesse tempo conhecer e conviver com outros
alunos que tinham uma capacidade brilhante no que diz respeito a desenhos e que,
junto a mim, passávamos horas a nos divertir com caricaturas entre si e até mesmo
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários a prática educativa. 16ª ed. São Paulo: Paz e
Terra. 2000.
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havia me imaginado naquela situação, mas aos poucos aquilo foi fluindo em mim e
eu me vi simplesmente transmitindo aquilo que eu havia aprendido ao longo dos
anos.
Vi-me repassando o que outrora havia sido repassado a mim. Me encantava
aquela situação, o interesse de saber o que eles (os alunos), trariam para a sala de
aula, todo aquele conhecimento prévio (aquele adquirido para além da sala de
aula),que eles mostravam, me fazendo aprender coisas impressionantes, só
tornavam tudo ainda mais fantástico. Afinal, como bem disse Weisz (2003):
Para aprender alguma coisa é preciso já saber alguma coisa ─ diz o modelo
construtivista. Ninguém conseguirá aprender alguma coisa se não tiver
como reconhecer aquilo como algo apreensível. O conhecimento não é
gerado do nada, é uma permanente transformação ─ (WEISZ, 2003, p.61)
Ora, o aprendizado está para além do que se é dado ali naquele recinto (sala
de aula). Como expôs a teórica acima. O conhecimento trazido pelos alunos naquele
primeiro dia me soou como algo inexplicável.
Foi de suma importância ter visto aqueles olhos brilharem a cada etapa do
desenho que se desenvolvia ali. No passo-a-passo, cada explicação, sempre o
despertar do interesse pelo conhecimento que estava sendo ali exercitado e, ao
mesmo tempo, me identificando, relembrando e me vendo, revivendo, de certa
forma, cada momento que um dia vivi como aluno, ali no lugar deles. Oportunidade
essa que, infelizmente, não pude ter e que, graças ao programa Mais Educação,
implantado no ano de 2007, pude ver crianças de comunidades carentes, de tão
pouca possibilidade, beneficiarem-se de um conhecimento técnico, ou seja, de algo
que pode vir a mudar suas vidas.
Figura 3: Trabalho executado pelas crianças da Escola Municipal Ferreira Itajubá no ano de 2013.
Inspirado na obra de Ivan Cruz.
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Esse foi um bom aluno, no qual pude muito me identificar, por seu
conhecimento prévio trazido nas aulas. Conhecimento esse que pudemos, juntos,
desenvolver. Seja através de trabalhos, como citados pelo próprio, ou em aulas de
passo a passo, etc.Abaixo pode se conferir alguns dos trabalhos realizados pelos
alunos durante o período programa Mais Educação, realizado em 2014:
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Figura 4: Exposição de trabalhos realizados pelos alunos, no período em que estava em execução o
programa Mais Educação no ano de 2014, em telas, com temas variados.
Como pode se observar seria impossível falar sobre minha história com a arte
e a educação sem falar também sobre o programa que me possibilitou esse contato
com a educação e que me mostrou o quanto isso era o que me tocava fazer
efetivamente. Em outras palavras, a minha história com a arte e educação se
confundem com o programa Mais Educação. Porém, é importante ressaltar, que o
que aqui é retratado trata-se exclusivamente dos anos a qual eu estive presente,
incluso nesse programa, de 2011 até 2014.
Relata-nos aqui a coordenadora do programa Mais Educação nesse período,
sobre a minha passagem pela Escola Municipal Ferreira Itajubá:
me faz remeter Paulo Freire, que antes já dizia que antes de aprendermos a
ensinar, precisamos sobretudo saber como aprender, e isso Tallisson fez
muito bem, sempre interessado, ele aprendeu ensinando. Percebi no
decorrer dos anos que aquele menino poderia ir além. Ele também se
percebeu e foi buscar na Academia, os conhecimentos que precisava para
preencher as lacunas que o tornará um professor habilitado. Parabéns
futuro professor Tallisson! Que os percalços que você encontrará na
educação, nunca sejam obstáculos para que você continue sempre
educando com amor. A sociedade agradece! (COORDENADORA DO
PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NA ESCOLA SUPRACITADA)
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BRASIL. Ministério da Educação. Programa Mais Educação. Passo a passo. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/passoapasso_maiseducacao.pdf>. Acesso em: 20 nov.2016.
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CONCLUSÃO
ABSTRACT
REFERÊNCIAS