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ESSAS LEMBRANÇAS QUE CONSTROEM O EU ARTÍSTICO1

Tallisson Silva Goes2


Flávio José de Oliveira Silva3

RESUMO

O trabalho aqui proposto tem como objetivo reconstruir historicamente o meu


percurso formativo na arte e na educação através da modalidade da autobiografia. A
autobiografia representa uma forma de análise da vida do sujeito em função de uma
variedade de pressupostos. Tem aporte teórico baseado nas idéias de Soares
(1990), Mallet (2006), Freire (2000), Severino (2001), Cyrulnik, (1999) e relatos, além
de minhas memórias ─ memórias do meu caminho ─ o caminho da arte e a
transformação que a mesma pode causar, e veio a causar na minha vida,
demonstrada aqui em forma de uma narrativa autobiográfica.

Palavras-chaves: Arte. Educação. Escola. Autobiografia.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é de uma retrospectiva da minha trajetória estudantil e


profissional, mais do que isso, meu percurso formativo desde os primeiros contatos
com a arte, lembrando-me de quando desenvolvi meus elementares traços e
rascunhos e o que a educação aliada a essa representação me permitiu construir-
me como artista educador.
Nesse sentido, lançamos mão de um artefato denominado autobiografia,
comumente conhecido como memorial, que é o resultado de uma narrativa da
própria experiência humana retomada a partir dos fatos significativos que nos vêm à
lembrança. Construir um memorial consiste, então, em um exercício sistemático de
escrever a própria história, rever a própria trajetória de vida e aprofundar a reflexão
sobre ela. (SOARES, 1990). Portanto, é um exercício de autoconhecimento que está

1
Artigo apresentado a Universidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obtenção de
Licenciatura em Pedagogia.
2Graduando em Pedagogia pela Universidade Potiguar – jessicahipolitoaraujo@gmail.com
3Graduando em Pedagogia pela Universidade Potiguar – max.lene.b@hotmail.com
2

intimamente relacionada a um exercício de reminiscência, isto é, de buscar pela


memória.
Diante disso, no presente trabalho, destacamos como objetivo “reconstruir
historicamente o percurso formativo na arte e na educação” através da modalidade
da autobiografia, e, em específico, compreender a importância da arte para a
formação do indivíduo; analisar a trajetória de vida na arte e na educação
noscampos de trabalho: a escola estadual Dr. Graciliano Lordão e Escola Municipal
Ferreira Itajubá.
Com esse intuito, procuramos demonstraratravés de uma
narrativahistoriográfica,autobiográfica,ou melhor, através de reminiscências
pessoais, a reconstrução da nossa identidade enquanto sujeito formativo e formador,
tendo o campo da arte como introjeção nesta pesquisa. Como sugere Mallet (2006)
em suas pesquisas,

O estudo das reminiscências pessoais, através da perspectiva cognitiva


(mesmo incompleta), torna-se relevante porque, assim como a abordagem
clínica, essa perspectiva considera a recordação como um acontecimento
biográfico, vivenciado a outros conhecimentos escolares. (MALLET, 2006,
p. 9).

Dessa forma o estudo das reminiscências será a forma escolhida para o


desenvolver deste trabalho aqui presente, através de conhecimentos rememorados.
Nosso trabalho se filia também ao campo da história da educação, que
trazemos como elemento norteador, uma vez que, as memórias autobiográficas, se
tornaram nos últimos anos, instrumentos de reconstrução de ideias, sentimentos e
perspectivas de investigação nos estudos históricos da cultura escolar. A
autobiografia também é vastamente estudada nas práticas das professoras e
professores, histórias das instituições escolares, percursos formativos de docentes e
estudantes, estes objetos que compõem a cultura escolar. A cultura escolar4 é
atualmente um campo vasto de investigação e pretende descortinar fenômenos que
outros campos da ciência investigativa não deu conta ainda.
Sendo assim, é através de tal modo que buscaremos aqui então,
demonstrações concretas da arte como o agente de mudança na vida, não somente

4
[...] um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de
práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas
e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades religiosas, sociopolíticas
ou simplesmente de socialização. (JULIA,2001).
3

do aluno quanto aluno, mas na vida do ser humano em geral. Assim, trazemos
elementos do pensamento daqueles que tenham contato com tal trabalho o
questionamento para a importância da arte na formação de um ser humano.
Sobre a categoria memória, Halbwachs (1990) afirma que cada memória
individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva. [...] este ponto de vista
muda conforme o lugar que ali eu ocupo, e [...] este mesmo lugar muda segundo as
relações que mantenho com outros meios. Portanto, é do lugar que ocupo como arte
educador que traçarei aqui minhas memórias individuais e ao mesmo tempo
coletivas, pois esse sentido do conjunto de pessoas com quem vivi e vivo, define
também o meu lugar.
Em sua obra “Como as Sociedades Recordam” Connerton (1999), afirma que
as nossas experiências do presente dependem em grande medida do conhecimento
que temos do passado e que as nossas imagens desse passado servem
normalmente para legitimar a ordem social presente, e que como é transmitida a
memória dos grupos – exige que se reúnam duas coisas: recordação e corpos.
Nessa perspectiva, reunir sentimentos, emoções e corpos numa sequência de
reminiscências, nos faz reconstruir um mundo a que nele pertenço e vivo.
Afirma Severino (2001), que:

A história particular de cada um de nós se entretece numa história mais


envolvente da nossa coletividade [...] O Memorial constitui, pois, uma
autobiografia configurando-se como uma narrativa simultaneamente
histórica e reflexiva. Deve então ser composto sob a forma de um relato
histórico, analítico e crítico, que dê conta dos fatos e acontecimentos que
constituíram a trajetória acadêmico-profissional de seu autor, de tal modo
que o leitor possa ter uma informação completa e precisa do itinerário
percorrido. (SEVERINO, 2001,p. 175).

Assim, considera-se que este trabalho pode ser definido como um trabalho de
mapeamento representativo da vida escolar, social e cultural do sujeito, portador de
sua história, de sua memória e da memória da sua sociedade, trabalho este que
denota a realidade sócio histórica e cultural, e o itinerário vivido, encontrando-se na
memória permanece impresso no sujeito.
De metodologia qualitativa, esse trabalho se caracteriza como autobiografia,
pesquisa de campo, com auxílio da técnica da entrevista. Nesse sentido, foi
desenvolvido pesquisas nas Escola Municipal Ferreira Itajubá e Escola Estadual Dr.
4

Graciliano Lordão. Esse é, portanto, os lócus da investigação, e as entrevistas


realizadas, foram também realizadas nesse mesmo espaço.
Dividiremos então este trabalho em quatro sessões, sendo a primeira como
uma abordagem do que diz respeito ao meu primeiro contato inconsciente com a
arte, meus primeiros passos nesse caminho; a segunda mostrará a importância da
escola, tanto no que diz respeito ao sujeito discente quanto ao docente; na terceira
traremos para o debate, a importância de um programa que apoie e possibilite esse
contato dos jovens com a arte na escola e, por fim, a exposição da necessidade da
arte no desenvolvimento do ser humano quanto ser humano.

2 MINHA HISTÓRIA COM A ARTE

Exercitando minha memória, pôde-se fazer, através de tal, o que se pode


chamar de um memorial, desde minha infância até os dias atuais. O desenvolver da
arte em minha vida.

Nossas lembranças são necessárias para construirmos nossa identidade


narrativa, nossos esquecimentos nos ajudam a dar coerência ao relato
autobiográfico. (CYRULNIK, 1999, p. 151).

É com base na afirmação do teórico Cyrulnik (1999), que nos afiançamos a


partir daqui na necessidade de tal narrativa. Seguindo assim, o relato da minha
história com a arte. Meu relato autobiográfico.
Nascido em meados da década de oitenta, (coincidentemente, o auge dos
desenhos animados em redes de TV aberta), na cidade de Natal, Rio Grande do
Norte, onde, infelizmente, não se pode negar a falta de apoio as formas de artes em
geral. Filho do marceneiro Francisco de Assis Goes (in memória), e da técnica em
enfermagem, Maria Margareth Silva Goes. É importante ressaltar aqui que vivi uma
infância quase que dicotômica, tendo em vista que morava então no bairro das
Quintas, zona leste da cidade, com a minha avó, em virtude da separação entre
meus pais. Sendo assim; ora em companhia dos meus primos, tias e avó; ora em
companhia do meu pai, em sua casa- poderei relatar aqui detalhes dessas duas
vivências.
Nas ruas pavimentadas do bairro e entre os trilhos da linha férrea, frente à
casa da minha avó, de onde guardo lembranças, meus amigos e eu brincávamos,
5

nos divertíamos com brincadeiras que hoje já não se vê. Começava assim minha
história com a arte.

2.1 AS PRIMEIRAS REMINISCENCIAS (LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA)

Afirma Josso (1991, p. 343) que: A “autobiografia” expressa o “escrito da


própria vida”.5 E, é com base em tal afirmação que seguimos com as lembranças
aqui relatadas. Através de ilustrações em pipas, (coruja, papagaio, ou como quer
que seja chamado em qualquer parte do país), trazia ali, naquelas, a imagem de
heróis dos quadrinhos, comecei a conhecer e sentir o valor daquilo que fazia.
Amigos próximos começavam a, de certa forma, me mostrar o quão especial era o
que estava sendo feito ali. Valor esse que, por sinal, se mostrava ainda maior, tendo
em vista os complicados tempos (no que diz respeito a política financeira), que se
vivia no início da década de noventa no nosso país. Mas, feito esse recorte
temporal, ainda sobre o valor que aprendi a dar a minha arte, desde criança, um
importante acontecimento muito me marcou ali: quando nesse tão caricato bairro,
meus amigos brincavam com algumas dessas pipas confeccionadas por mim,
quando, no cruzamento entre elas, uma foi cortada e estava a cair.
Corri em sua direção e, ao atravessar a linha férrea, sem me dar conta, me vi
passar a poucos metros do trem que por ali passara. Vi a morte passar por meus
olhos em questão de segundos. Me dei conta ao chegar à casa da minha avó, sem
encontrar a pipa com o desenho do Capitão América, que tanto fazia sucesso com
seus quadrinhos naquela época, que procurava encontrarali, do que havia acabado
de acontecer, até hoje lembro do calor e do som estrondoso que ouvi naquela tarde.
Pude viver e continuar. Meus primeiros passos eram dados no que diz
respeito a arte.Enquanto isso, na casa do meu pai, eu encontrava meu local de
lazer. Tinha contato com uma realidade outra, totalmente diferente da vivenciada
com minha avó e primos e, mesmo que indiretamente, um incentivo muito maior no
que diz respeito ao que eu mais gostava, a arte.
Por ele ser marceneiro, cresci vendo-o desenhar móveis que iria vir a
construir. Mais do que isso, construindo alguns brinquedos que eu mesmo ilustrava.

5
Trecho extraído do artigo A arte de contar e trocar experiências: reflexões teórico-metodológicas sobre
história da vida em formação, de Elizeu Clemente de Souza, presente em Revista Educação em Questão, Natal,
v.25, n.11, p.7-21, jan./abr.2006
6

O mesmo parecia prever que aquilo realmente seria o que iria guiar meu modo de
ser. Ele via em rabiscos em suas paredes um futuro possivelmente grande.
Ora, devo todo agradecimento ao meu querido pai, por ter olhado com amor
para aqueles inocentes desenhos de criança, por ter visto ali muito mais que uma
simples travessura de um menino levado, mas sim, o desabrochar de um talento. Foi
sim, ele, o meu primeiro e grande incentivador.

2.2 OS PRIMEIROS DESENHOS (MEU ENCONTRO COM A ARTE)

Dos rabiscos nas paredes surgiram então meus primeiros passos na arte.
Lembro-me como se fosse hoje. Como já dito antes, meus brinquedos feitos por meu
pai viravam telas, meus cadernos e até mesmo meu corpo. Tudo era local de
expressão de arte aos olhos de uma criança da minha idade que via em seus
desenhos uma possibilidade de diversão de prazer para consigo mesmo.
Mas mesmo criança, eu me via na necessidade de expor aquilo que eu
expressava. Como que uma necessidade de levar para as outras pessoas, não
apenas para mim, mas via a possibilidade de uma identificação do outro com aquilo
que eu fazia, mesmo que tão simples e inocente como o que eu fizera.
Sendo assim, meu pai, sempre que pôde, me comprava cadernos em que eu
podia desenhar e ali eu me fazia muito feliz. Por sinal, me presenteando com uma
mesa inclinada, feita por ele mesmo, que muito se assemelhava a modelos
profissionais. Onde ali eu pude me sentir um verdadeiro desenhista. Mas sempre ao
ver quadros de artistas renomados eu ficava estarrecido com aquilo, como parecia
se expor propriamente um quadro, não como meu caderno em que eu desenhava
para mim, senão que algo maior.
Então ao me deparar com alguns restos de materiais de alvenaria do meu
pai, vi uma possibilidade que então não me sugira. Vi a possibilidade de reutilizar
aqueles objetos para confeccionar minhas próprias telas, essas que iriam compor o
meu ambiente de exposição, o quarto da minha avó.

2.3 ARTE NO QUARTO DA MINHA AVÓ

Na casa da minha avó, vivíamos eu, minha mãe e meu irmão. Mas muito
próximo também estavam meus primos e tias que sempre estavam em contato
7

conosco, (quase que o tempo todo, pode-se dizer). Como já foi apresentado,
situava-se em um bairro simples. Uma casa que sempre recebia muitas visitas,
tendo em vista que minha avó era costureira, tinha sempre alguma cliente que por ali
estava. E foi em meio a esse cenário que eu comecei então a expor propriamente a
minha arte.
Porém, tendo em vista os tempos que se viviam, onde possuir, comprar uma
tela era algo muito distante do que se via como possível, não havia outra forma de
fazê-lo, senão que criando. Quando digo criando, não me restrinjo as pinturas em si.
Eu tive que sim, eu mesmo, por curiosidade e vontade de fazer, eu mesmo fazer
aquilo. Eu mesmo produzir as telas onde iria expor meus desenhos e pinturas.
Feito isso, as paredes do quarto da minha avó se tornavam então o meu
ateliê, meu ambiente de exposição, ali, com “visitas” das admiradoras daquela arte
(que não eram outras, senão que as clientes da minha avó), que com suas
congratulações, me faziam sentir-se, naquele instante, um verdadeiro artista.
Ora, crescia em mim então, cada vez mais, esse desejo de me aprofundar
nisso que é a arte. Fazendo assim, levá-lo adiante. Para além da minha casa. A arte
começava a fazer, cada vez mais, parte da minha vida e a ser levada comigo para
onde eu fosse.
Fica claro assim, a importante virada que a arte pode causar. Como afirma
Mallet (2006): “O acontecimento biográfico é então entendido do sentido de um
acontecimento importante, ou marcante, como uma virada na existência”. 6

Figura 1: Arte no quarto da minha avó. Representação artística ilustrativa.

6
Artigo extraído de: Revista Educação em Questão, Natal, v.25, n. 11, p. 7-21, jan./abr. 2006.
8

3 MINHA ARTE NA ESCOLA

Alfabetizei-me na pré-escola (assim era chamada a última turma da etapa da


educação infantil), de uma escola particular da zona urbana de Natal, que por sinal,
hoje já não existe mais.
Lembro-me que era uma escola com estrutura física e rotinas comuns às
escolas de educação infantil da época: mesinhas para comportar as crianças em
grupos, brinquedos e joguinhos, letras e cartazes dispostos nas paredes, atividades
de pintura, de recorte e colagem, cantigas, contação de histórias e outras atividades.
De elementos que tornavam o ambiente alfabetizador, recordo-me apenas do
alfabeto na parede e de cartazes que não lembro bem qual o seu conteúdo. A
professora apresentava um perfil afetuoso com as crianças, era dinâmica e alegre.

Figura 2: Minha Arte na escola. Pela ausência de material fotográfico, exponho aqui gravuras que
retratam tal memória.

Sinceramente, eu não era dos melhores alunos, recebia frequentes queixas


da professora à minha mãe, justamente sobre o que hoje viera a se tornar objeto do
trabalho aqui realizado. Muito se reclamava a minha mãe sobre o fato de me distrair,
fazer de primeira opção os desenhos às atividades sugeridas no ambiente escolar.
Arriscava inclusive caricaturas, digamos que inocentes, infantis de alguns
9

professores. A diversão eram os desenhos, era a arte. Com apenas sete anos de
idade, o lápis de cor, as canetinhas e o papel faziam mostrar meu mundo, eram
mundo.
Afirma Weisz (2003), que: “Na verdade, o conhecimento se constrói
frequentemente por caminhos diferentes daqueles que o ensino supõe”. Quem dera
toda desatenção escolar ser causada pela arte.Como já dito anteriormente: nasciam
ali minhas primeiras telas. Sim, os cadernos de atividades, o chão, as paredes da
escola e até mesmo meu corpo e dos colegas de classe, os mesmos pediam que os
“tatuasse” ou fizesse “relógios de pulso” ou outro desenho que gostavam.
Lembrando que, como já dito anteriormente, os desenhos na TV estavam em alta, o
que só instigava ainda mais a criatividade, além da de quem os desenhava, a de
quem pedia e se identificava com os desenhos que ali via.
Mas como era de se esperar, um aluno que tais características pouco tempo
duraria em uma escola privada em tempos de tanta rigidez e de uma educação tão
“conservadora”. A direção da escola logo se viu sem mais opções disciplinares em
sua busca de encaixar-me, por assim dizer, em seu sistema. Decepcionantemente,
para a minha mãe, tive que ser então transferido de escola. Outra realidade agora se
apresentara em minha então tão curta vida escolar.

3.1 ESCOLA ESTADUAL DR. GRACILIANO LORDÃO: EU ESTUDANTE

Todo adulto, que foi um dia aluno, guarda consigo lembranças mais ou
menos precisas de sua escolaridade. Aliás, é importante sublinhar que
certas imagens, provavelmente anódinas para o aluno, em seu tempo de
escola, retornam precisamente à memória, quando ele se torna adulto. Se
essas lembranças estiverem ligadas à instituição escolar, elas são
preferencialmente orientadas para outras instâncias do contexto social,
personalidade do professor, relação entre pares, etc. (PEYRONIE, 2000).

É seguindo essa afirmação de Peyronie (2000), que, por sinal, muito bem
expõe que o adulto carrega consigo o seu eu estudante em memórias de sua
escolaridade, que partiremos aqui com o seguimento de tais memórias.
Aos dez anos fui transferido para a Escola Estadual Dr. Graciliano Lordão,
uma escola pública de estrutura completamente diferente do que se tinha na escola
anterior. Localizada no coração da comunidade, no centro do bairro das Quintas. Ali
havia uma boa estrutura, mas como pode se imaginar, pouco era aproveitada. Salas
de aula mais amplas, maiores, mas com um maior, muito maior, número de alunos.
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Claro, era uma escola da comunidade, eu via nos meus colegas de classe a imagem
da comunidade em suas faces. Confesso ter, inicialmente, uma difícil adaptação,
mas incrivelmente, logo me vi em meu lugar. A liberdade que ali encontrava para me
expressar, o olhar que havia para a arte que eu produzia ali era outro.
Segundo Paulo Freire7, precisamos superar a lógica da organização social da
escola hierarquizado em um sistema verticalizado, com saberes e conhecimentos
fragmentados, distante da realidade do aluno.
A professora então, observando que havia algo especial ali, logo buscou
extrair, assim, o melhor, desenvolver como se lapida uma pedra e isso não pode
deixar de ser reconhecido. Segue aqui o relato da mesma:

Trabalhando com um projeto chamado Lendo e criando história, tive a


oportunidade de descobrir a criatividade e capacidade artística de cada
aluno. Durante esse trabalho, um aluno se destacou com sua criatividade e
habilidade de grande relevância. Ao perceber que o aluno Tallisson, além
de dominar esse lado artístico amplamente, destacou-se através de suas
atividades bastantes evoluídas perante os demaisalunos. Enfim, o trabalho
do aluno incentivava inclusive os demais colegas, os seus desenhos
maravilhosos e inovadores. Continuei orientando, apoiando e outros
trabalhos foram surgindo, como cartazes, faixas e painéis. É importante
ressaltar que tive também a oportunidade de acompanhar seu crescimento
educacional e social.Passei a ser professora de artes de Tallisson da sexta
a oitava série do ensino fundamental. (PROFESSORA 1)

Tendo vivido todo o meu ensino fundamental 2 (da terceira série, hoje quarto
ano, quando fui transferido, até a oitava, hoje nono ano), na Escola EstadualDr.
Graciliano Lordão, pode-se dizer que um grande desenvolvimento ocorreu ali.
Através de diversos momentos em que era exigido qualquer tipo de arte visual,
como por exemplo as eleições de líderes de classes, eu era sempre escolhido para
ilustrar cartazes e até mesmo santinhos, com o uso de papel crepom, pois naquela
época cópias não eram tão simples assim, então sempre me vinha a demanda de
ser o responsável por esse trabalho de ilustrar e muitas vezes até fazer caricaturas
daqueles “candidatos” a líderes.
Inclusive tive a felicidade de nesse tempo conhecer e conviver com outros
alunos que tinham uma capacidade brilhante no que diz respeito a desenhos e que,
junto a mim, passávamos horas a nos divertir com caricaturas entre si e até mesmo

7
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários a prática educativa. 16ª ed. São Paulo: Paz e
Terra. 2000.
11

professores. Através da brincadeira fomos desenvolvendo, sem sentir, uma melhora


na nossa técnica, no nosso desenhar.
Mais uma vez, com o passar do tempo, pude notar o valor que era dado a
minha arte pelos meus colegas de classe. Em trabalhos em grupo, era de quem se
esperava qualquer tipo de ilustração. Chegando em alguns momentos até a ser
dado de fato valor até mesmo financeiro por alguns deles que se viam felicitados
com aquele desenho.
Essa valorização chegou inclusive aos corredores da direção, os professores
já me passavam esse reconhecimento que só me levava a crescer ainda mais.
Sendo assim, o que pode ser afirmado aqui é que a Escola Estadual Dr.
Graciliano Lordão foi, sem sombra de dúvidas, um divisor de água. O que
inicialmente me surgiu como uma punição, se revelou um auxílio ao meu eu artista e
assim, ao meu eu estudante que já se vendo bem, feliz em seu local de
aprendizagem, pôde finalmente crescer, evoluir e alcançar os devidos objetivos.

3.2 ESCOLA ESTADUAL DR. GRACILIANO LORDÃO: EU DOCENTE

Bom, o tempo passou, as responsabilidades chegaram e eu, em um dado


momento da minha vida profissional, me vi na necessidade de me firmar
profissionalmente. Comecei então a trabalhar numa empresa de peças automotivas
com meu irmão. Passei dois anos a trabalhar como vendedor, em período de
experiência, nesse local, na busca da tão sonhada carteira assinada. Porém com o
passar desse tempo, a empresa começou a esboçar alguns problemas e eu me vi
desconfortável em tal lugar. Aquilo não era o que eu queria. Talvez,
inconscientemente, a educação, de alguma forma, já me chamara.
Porém, por algum tempo, me vi então desempregado. Me vi sem saber como
agir. Parado, precisando de dinheiro. Pensei inúmeras formas de tentar superar isso,
nesse momento recordei-me então de um antigo mestre que me foi apresentado
pelo meu pai. O grande artista Igor Aragão ─ esse que no ano de 1999, por cinco
meses, me presenteou com riquíssimos ensinamentos que pude vir a aprimorar ao
longo dos anos ─ hoje tatuador. Pensei então inclusive em seguir seus passos.
Porém preferi esperar um pouco mais.
Enquanto isso, minha tia, hoje ex-professora da Escola Estadual Dr.
Graciliano Lordão (aposentou-se esse ano, 2016), coordenadora da Escola
12

Municipal Ferreira Itajubá, ouviu, na escola supracitada, que estavam a precisar de


um professor de educação artística em geral, a coordenadora do programa Mais
Educação8, Wanessa Cristina, comunicou-a que com a saída de um antigo
professor, a escola sofria com essa necessidade de suprir tal ausência, essa falta
para com os alunos que necessitavam desse contato com a arte, esse contato que
outrora fez tanta diferença em minha vida.
Ao ouvir sobre isso, minha tia logo lembrou de mim, tendo em vista que no
ano de 2004, eu havia feito um curso de aquarela no NAC (Núcleo de Arte e
Cultura), na reitoria da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte),
procurou-me com a proposta de apresentar-me a direção da escola. Surgia a
oportunidade de, mais do que mostrar meu trabalho (que a tanto tempo estava
guardado nos armários e em minha cabeça), mas de dar aos outros a oportunidade
que eu um dia tive, de dar aos outros a oportunidade do contato com a arte e com a
transformação que essa pode nos causar.
Como era de esperar, claro, aceitei a proposta e, feito o comunicado a direção
da escola, pela minha tia, logo foi convidado a uma reunião com a diretora da
escola. Não dá para explicar com palavras a felicidade que eu sentia em mim
naquela hora. Me sentia simplesmente realizado naquele instante, em alguns dias
eu estaria entrando para uma das escolas de maior qualidade, renomada, do bairro
das Quintas.
Era chegado então o mais importante momento. Ora, eu nunca tinha me visto
ou se quer pensado, imaginado numa sala de aula como esse mediador do saber.
Eu, docente. Eu docente. Ao ler Paulo Freire, me vem sempre em mente a sua
grande afirmativa quando trata do ser professor:

Ninguém começa a ser professor numa certa terça-feira às 4 horas da


tarde... Ninguém nasce professor ou marcado para ser professor. A gente
se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre a
prática. (FREIRE, 2000, p. 15).

O sentimento intrínseco na minha formação de ser docente já havia se


instalado no meu eu e assim, me deparei com aquela sala de aula cheia de crianças,
tão comum as escolas públicas do nosso país. Inicialmente fiquei surpreso, nunca
8
Programa criado pela portaria interministerial n° 17/2007 e integra as ações do plano de desenvolvimento da
educação (PDE), como uma estratégia do governo federal para induzir a ampliação da jornada escolar e a
organização curricular, na perspectiva da educação integral.
(http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/passoapasso_maiseducacao.pdf).
13

havia me imaginado naquela situação, mas aos poucos aquilo foi fluindo em mim e
eu me vi simplesmente transmitindo aquilo que eu havia aprendido ao longo dos
anos.
Vi-me repassando o que outrora havia sido repassado a mim. Me encantava
aquela situação, o interesse de saber o que eles (os alunos), trariam para a sala de
aula, todo aquele conhecimento prévio (aquele adquirido para além da sala de
aula),que eles mostravam, me fazendo aprender coisas impressionantes, só
tornavam tudo ainda mais fantástico. Afinal, como bem disse Weisz (2003):

Para aprender alguma coisa é preciso já saber alguma coisa ─ diz o modelo
construtivista. Ninguém conseguirá aprender alguma coisa se não tiver
como reconhecer aquilo como algo apreensível. O conhecimento não é
gerado do nada, é uma permanente transformação ─ (WEISZ, 2003, p.61)

Ora, o aprendizado está para além do que se é dado ali naquele recinto (sala
de aula). Como expôs a teórica acima. O conhecimento trazido pelos alunos naquele
primeiro dia me soou como algo inexplicável.
Foi de suma importância ter visto aqueles olhos brilharem a cada etapa do
desenho que se desenvolvia ali. No passo-a-passo, cada explicação, sempre o
despertar do interesse pelo conhecimento que estava sendo ali exercitado e, ao
mesmo tempo, me identificando, relembrando e me vendo, revivendo, de certa
forma, cada momento que um dia vivi como aluno, ali no lugar deles. Oportunidade
essa que, infelizmente, não pude ter e que, graças ao programa Mais Educação,
implantado no ano de 2007, pude ver crianças de comunidades carentes, de tão
pouca possibilidade, beneficiarem-se de um conhecimento técnico, ou seja, de algo
que pode vir a mudar suas vidas.

Figura 3: Trabalho executado pelas crianças da Escola Municipal Ferreira Itajubá no ano de 2013.
Inspirado na obra de Ivan Cruz.
14

Após cerca de um mês ministrando aulas na escola municipal Ferreira Itajubá,


pelo programa Mais Educação, logo me veio um convite um tanto quanto
inesperado. Fui convidado então para ser professor, também através do programa
Mais Educação, de artes na Escola Estadual Dr. Graciliano Lordão. Escola a qual
dei, como já dito aqui, importantes passos no que diz respeito a minha arte, e
também ao que sou hoje.
Eu me senti honrado. Estava de volta àquela escola a qual tanto devo e da
qual tanto carinho por ela tenho. Agora como docente. Com a missão de despertar
naquelas crianças aquilo que só a arte pode despertar em um ser humano. Agora
como referência para alunos em um local onde outrora precisei e obtive essa
referência.
Relata aqui oralmente um dos alunos envolvidos no programa Mais
Educação:

Entrei em 2010 no Graciliano Lordão, e foi lá onde tive diversas influências


no que diz respeito a arte, inclusive terminei o ensino fundamental em 2013.
Tallisson costumava ser bastante paciente e prestativo para com seus
alunos, no caso, ensinar. Foi nessa escola onde participei de projetos como
o Mais Educação e tive um amor maior pela arte, seja ela pintura, dança,
enfim. Foi na pintura e nos desenhos que eu tive mais afeto. Tive muito
auxílio do professor, que estava sempre presente. Fizemos diversos
trabalhos na escola; cartazes, datas comemorativas, pinturas em telas, etc.;
o professor Tallisson sempre nos ajudando e fornecendo dicas de uma
forma bastante compreensivanos nossos trabalhos, pois sempre nos
saímos bem e todos gostavam do que fazíamos lá. Esse grande homem
aumentou meu campo de visão no ramo, com certeza, não somente a mim,
mas a todos aqueles que eram alunos dele e eu sou grato por isso. (ALUNO
1).

Esse foi um bom aluno, no qual pude muito me identificar, por seu
conhecimento prévio trazido nas aulas. Conhecimento esse que pudemos, juntos,
desenvolver. Seja através de trabalhos, como citados pelo próprio, ou em aulas de
passo a passo, etc.Abaixo pode se conferir alguns dos trabalhos realizados pelos
alunos durante o período programa Mais Educação, realizado em 2014:
15

Figura 4: Exposição de trabalhos realizados pelos alunos, no período em que estava em execução o
programa Mais Educação no ano de 2014, em telas, com temas variados.

4 UMA EXPERIÊNCIA COM O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO

Como pode se observar seria impossível falar sobre minha história com a arte
e a educação sem falar também sobre o programa que me possibilitou esse contato
com a educação e que me mostrou o quanto isso era o que me tocava fazer
efetivamente. Em outras palavras, a minha história com a arte e educação se
confundem com o programa Mais Educação. Porém, é importante ressaltar, que o
que aqui é retratado trata-se exclusivamente dos anos a qual eu estive presente,
incluso nesse programa, de 2011 até 2014.
Relata-nos aqui a coordenadora do programa Mais Educação nesse período,
sobre a minha passagem pela Escola Municipal Ferreira Itajubá:

Fui coordenadora do Programa Mais Educação durante 5 anos e uma das


coisas que carregarei por toda a minha vida, e tenho orgulho de dizer por
onde passo, foi a evolução de um "menino", chamado Tallisson, que chegou
com muita vontade e coragem. Apesar do receio de fazer algo que ele
nunca havia feito antes- assumir uma sala de aula - o fez com muita
propriedade, com muito compromisso e com muito amor. Esses valores, os
bancos da universidade muitas vezes não repassam, e são primordiais para
quem acredita que educar não se resume a transmitir conhecimentos. Isso
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me faz remeter Paulo Freire, que antes já dizia que antes de aprendermos a
ensinar, precisamos sobretudo saber como aprender, e isso Tallisson fez
muito bem, sempre interessado, ele aprendeu ensinando. Percebi no
decorrer dos anos que aquele menino poderia ir além. Ele também se
percebeu e foi buscar na Academia, os conhecimentos que precisava para
preencher as lacunas que o tornará um professor habilitado. Parabéns
futuro professor Tallisson! Que os percalços que você encontrará na
educação, nunca sejam obstáculos para que você continue sempre
educando com amor. A sociedade agradece! (COORDENADORA DO
PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NA ESCOLA SUPRACITADA)

Expõe-se acima então o relato da coordenadora que me confiou tal trabalho,


me despertando o desejo de busca pela pedagogia. Essa pela qual tenho muita
gratidão por toda confiança depositada em meu trabalho. O que se caracterizou ali
foi de uma total aprendizagem.
O que é esse programa então? Ora, o programa Mais Educação
compreende o ser humano em suas múltiplas dimensões e como ser de direitos. É
um programa que visa o “além da sala de aula”. Como pode ser encontrado no
portal do MEC (Ministério da Educação).
Fundado no ano de 2007, como já dito anteriormente, esse programa vem,
com a proposta da inserção gradativa da escola em tempo integral, de possibilitar a
alunos de escolas de baixo IDEB, em territórios marcados por situações de
vulnerabilidade social, em outras palavras, jovens carentes, um maior contato, diria
até que um maior auxílio da escola. Esses se veem amparados por um programa
que lhes leva arte, cultura e tecnologias em geral de uma forma mais acessível. De
uma forma que lhes tire daquele tão pesado clima já vivenciado na sala de aula, mas
sem tirá-los, propriamente, da sala de aula.
No Passo a passo, Mais Educação, disponibilizado no site do MEC (Ministério
da Educação)9, pode se ler que:

O ideal da Educação Integral traduz a compreensão do direito de aprender


como inerente ao direito à vida, à saúde, à liberdade, ao respeito, à
dignidade e à convivência familiar e comunitária e como condição para o
próprio desenvolvimento de uma sociedade republicana e democrática. Por
meio da Educação Integral, se reconhece as múltiplas dimensões do ser
humano e a peculiaridade do desenvolvimento de crianças, adolescentes e
jovens. (BRASIL, 2014, p. 7-8).

9
BRASIL. Ministério da Educação. Programa Mais Educação. Passo a passo. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/passoapasso_maiseducacao.pdf>. Acesso em: 20 nov.2016.
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Sim, fica bem claro ao lermos no Passo a passo, do programa Mais


Educação, que o direito de aprender, conhecer, se faz necessário para uma
sociedade democrática.
Ora, sabemos da carência pela qual passam as crianças das comunidades
mais carentes, não somente da nossa cidade, mas de todo o nosso país. Logo se
mostrou de suma importância o programa idealizado pelo governo então presente, o
cuidado tido com essa população tão necessitada desse auxílio que a ela foi dado.
Afinal, uma democracia em que só uma parte (seleta), da sociedade tem acesso à
educação, a possibilidade de pensar as decisões tomadas sobre a mesma, se torna
uma aristocracia.

4.1 UM PROGRAMA PARA A ARTE

Tendo o programa Mais Educação, apesar de seu enfoque na língua


portuguesa e matemática, uma abertura para a educação, o crescimento cultural e
artístico, é imprescindível citar aqui as possibilidades que tal programa pode abrir,
para além das crianças, mas também para os docentes que ali se fazem presentes,
que, tendo em vista meu caso, aqui relatado, por exemplo, com o adentrar para esse
programa, descobri minha vontade pela pedagogia, já demonstrada aqui
anteriormente.
Como proposto como objetivo geral, no que diz respeito ás artes visuais no
âmbito do programa Mais Educação, está então para além da capacidade do
discente conhecer e “fazer arte”, faz-se necessário aqui um desenvolver do senso
crítico, sua capacidade de investigação, observação, expressão e cooperação.
Notamos aqui, um programa para o ser humano. Um programa capaz de, através,
não somente da arte, como trago aqui, mas da educação pedagógica em geral,
desenvolver e ampliar as possibilidades e capacidades críticas de uma comunidade
inteira, de muito além da escola, de todo o âmbito social que a envolve e lhe faz
escola.
Sobre isso, Libâneo (1984), bem diz que:

A valorização da escola como instrumento de apropriação do saber é o


melhor serviço que se presta aos interesses populares, já que a própria
escola pode contribuir para eliminar a seletividade social e torná-la
democrática. Se a escola é parte integrante do todo social, agir dentro dela
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é também agir no rumo da transformação da sociedade. (LIBÂNEO, 1984,


p. 39).

A afirmação de Libâneo (1984), só nos deixa ainda mais claro a necessidade


de uma educação que esteja para além da sala de aula. A escola não é uma bolha
dentro da sociedade ao seu redor, senão que faz parte dela.
Assim, o que pode se ver, e falar, sobre tal programa é que o mesmo, mais do
que um programa para a arte, se mostra um programa para o ser humano. Um
agente da educação, logo, um agente da democracia. Esse, através da arte, da
cultura, do saber, do pensar, leva aos jovens menos favorecidos uma nova
perspectiva, o desenvolvimento de suas capacidades críticas.

CONCLUSÃO

No desenvolver desse trabalho, no exercício do rememorar, me vejo por fim,


consciente de que a arte no âmbito pedagógico e para além de tal, está, e estará,
sempre presente e jamais poderá ser excluído do meu modo de ser.
A arte, enfim, estará sempre presente na sociedade e, levando em
consideração o que já foi dito anteriormente, fica claro a força que essa tem, a
capacidade de levar a uma sociedade um novo modo de se pensar, para além do
que já é sempre dado. A arte na escola é transformação e a arte na sociedade é
revolução.
Nos tempos em que vivemos,tal transformação, tal pensamento se faz cada
vez mais necessário. Vemos cada vez mais o pensamento crítico substituído por um
enquadrado, fabricado e distribuído pelas mídias diversas. A escola deve se
preocupar cada vez mais com o ensino das artes e incentivar as crianças no sentido
de valorização humana.
Tendo em vista que a função do pedagogo, do docente em geral é contribuir
para o aprendizado a sociedade em torno da educação, construindo saberes no
intuito de formar cidadãos conscientes da importância da participação na sociedade.
Énecessário então que haja uma constante formação, reflexão e, nunca um
acomodar-se, ou conformar-se com as “dificuldades” que a educação apresenta.
Isso não se difere do artista, menos ainda do docente de uma educação artística.
Afinal, somos, acima de tudo, agentes de formação de indivíduos.
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THESE MEMORIES THAT MAKE THE SELF ARTISTIC

ABSTRACT

The work proposed here aims to historically reconstruct my training course in


art and education through the mode of autobiography. The autobiography is a form of
analysis of the subject's life due to a variety of assumptions. It has theoretical
framework based on Smith's ideas (1990), Mallet (2006), Freire (2000), Severino
(2001), Cyrulnik (1999) and reports, and my memories of my ─ memórias caminho ─
the way of art and the transformation that it can cause, and came to cause in my life,
shown here in the form of an autobiographical narrative.

Keywords: Art. Education. School. Autobiography.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Programa Mais Educação. Passo a passo.


Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/passoapasso_maiseducacao.pdf>. Acesso
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