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Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o

direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a


necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que
não produza, alimente ou reproduza as desigualdades (Souza Santos, p. 56).

Após a leitura e apropriação dos materiais, e, sobretudo de me permitir


enxergar o mundo através do olhar e do lugar do outro, não poderia deixar de
falar sobre o post da Amanda a partir das bases epistemológicas que formaram
o meu entendimento sobre as deficiências. Parto da consciência de que preciso
me despir do positivismo, evoluir para além do materialismo dialético em
direção a interseccionalidade, da participação social e do modelo
sistêmico. Tenho em mim, infelizmente, uma herança cultural regada de
preconceitos, de falta de vivência, e falta de informação sobre as pessoas e
suas deficiências. Mas, tenho em mim também a vontade de romper com essas
barreiras atitudinais, e já começo em reconhecê-las.
No post a Amanda fala sobre inclusão e identidade, e isso fica bem claro
quando diz que ao ser incluída “não se sentia gente” e que “nenhuma regra
anti-capacitista [iria] fazer diferença enquanto [ela fosse] só o que eles
querem”. Revela uma abordagem inclusiva capacitista, comum do modelo
médico, que encara a deficiência como um problema que reside na pessoa
ignorando as barreiras sociais e a própria subjetividade individual. A identidade
é multifacetada e moldada por uma série de fatores, incluindo as experiências
de discriminação e opressão, e, logo não deve ser abordada somente segundo
o modelo médico. Os modelos sociais são mais adequados, pois enfatizam a
importância de eliminar as barreiras sociais, culturais e ambientais que
impedem a participação plena das pessoas com deficiência na sociedade.
Falar sobre deficiência e identidade é falar sobre a maneira como as pessoas
se percebem e são percebidas em termos de raça, gênero, orientação sexual,
classe social, entre outros. A afirmar que o “espaço onde eu tenho liberdade de
expressão e essa liberdade excede falar da minha deficiência, essa liberdade
fala da minha identidade, da minha cultura e do meu nome”, Amanda fala da
necessidade da utilização do modelo social-crítico para ser caracterizada
enquanto pessoa com deficiência. Os estudos das teóricas feministas, cuja
base epistemológica abarca interseccionalidade, contempla a identidade e a
subjetividade do indivíduo considerando, por exemplo, que a pessoa com
deficiência não experimenta a discriminação apenas com base na deficiência,
mas também com base em outros aspectos de sua identidade, como raça,
gênero, orientação sexual e classe social.
Nós professores devemos encarar o capacitismo como estrutural na nossa
sociedade e combater sua prática e perpetuação na escola. Já presenciei
casos de alunos que sofreram esse tipo de preconceito por parte dos alunos e
até mesmo dos professores. Alguns se recusavam a fazer as tarefas
adaptadas, não por serem adaptadas, mas pela abordagem capacitista das
mesmas. Falta de formação, de informação, de empatia ou capacitismo
estrutural enraizado nos alunos e professores? A comunidade escolar deveria
saber que as barreiras sociais e a discriminação afetam as pessoas com
deficiência de maneira profunda essas experiências podem ser agravadas
pelas múltiplas dimensões de identidade.

Enfim, o post da Amanda Portanto nos ensinou que ao considerarmos as


experiências das pessoas com deficiência, é fundamental adotar uma
abordagem interseccional que leve em conta não apenas a deficiência, mas
também outras dimensões da identidade, como raça, gênero e classe, para
garantir uma compreensão mais completa e justa das suas vivências e
necessidades. Isso é crucial para promover a igualdade e a inclusão de todas
as pessoas, independentemente das suas características e identidades.

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