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A importância dos trabalhos de

educação cooperativista para a extensão rural


The importance of the work of cooperativist
education to rural extension
La importancia del trabajo de la educación
cooperativista para la extensión rural

Palloma Ferreira Rosa*


Nora Beatriz Presno Amodeo**
Diego Neves de Sousa***

Resumo
A educação cooperativista é o processo de aprendizagem que vai além de meros discursos e expla-
nações e valoriza de igual modo o lado social, empresarial e as demandas específicas de formação
das organizações e dos associados. No caso das cooperativas agrárias, as demandas de formação
correspondem às ações direcionadas aos produtores rurais. Este estudo objetiva analisar a contribui-
ção dos instrumentos de educação cooperativista à extensão rural e descrever a relação da educação
cooperativista junto à atuação da Empresa de Assistência e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais.
Metodologicamente, utilizou-se da pesquisa exploratória e da técnica do questionário enviado a 452
cooperativas agrárias durante 2011 e 2012. Entre os resultados, evidencia que o desenvolvimento de
trabalhos de educação cooperativista realizado pelas organizações tem se revelado como trabalhos
extensionista, proporcionando benefícios às cooperativas que buscam viabilizar em seu cotidiano as
orientações e capacitações recebidas.
Palavras-chave: cooperativas agrárias, educação cooperativista, extensão, extensão rural, gestão
cooperativa.

Abstract
The cooperativist education is the learning process that goes beyond mere speeches and proposals
and values, similarly, the social and business side and the specific demands of the training of organiza-
INVESTIGACIÓN
tions and partners. Regarding agricultural cooperatives, the training demands correspond to actions

*
Magíster en Extensión Rural de la Universidade Federal de Viçosa (ufv). Docente de la Universidade Norte do Paraná
(Unopar). Correo electrónico: pallomarf@yahoo.com.br
**
Doctora en Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade de la Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ufrrj). Docente
del Departamento de Economía Rural de la Universidade Federal de Viçosa (ufv). Correo electrónico: npresno@ufv.br
***
Magíster en Extensión Rural de la Universidade Federal de Viçosa (ufv). Analista de la Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), Pesca e Aquicultura. Correo electrónico: diegocoop@hotmail.com

Cómo citar este artículo: Ferreira Rosa, P., Presno Amodeo, N. B. y Neves de Sousa, D. (2012). A importância dos trabalhos
de educação cooperativista para a extensão rural. Revista Cooperativismo & Desarrollo, 20(101), 11-27.

Revista Cooperativismo & desarrollo ¤ Volumen 20 Número 101 ¤ julio – diciembre 2012 11
Palloma Ferreira Rosa – Nora Beatriz Presno Amodeo – Diego Neves de Sousa
INVESTIGACIÓN

directed to rural producers. This study is done in order to analyze the contribution of cooperative
education tools to the rural extension and describe the relationship of cooperative education and per-
formance of the Empresa de Asistencia y Extensión Rural of the Department of Minas Gerais. Method-
ologically, it was used for exploratory research and for the technique of the questionnaire sent to 452
agricultural cooperatives throughout 2011 and 2012. Among the results is evidenced that the devel-
opment of cooperative education works done by organizations has been shown as extension jobs
providing benefits to cooperatives looking to daily make viable the guidance and training received.
Keywords: agricultural cooperatives, cooperativist education, extension, rural extension, cooperative
management.

Resumen
La educación cooperativista es el proceso de aprendizaje que va más allá de meros discursos y plan-
teamientos, y valora, de igual modo, el lado social, empresarial y las demandas específicas de forma-
ción de las organizaciones y de los asociados. En cuanto a las cooperativas agrarias, las demandas de
formación corresponden a las acciones direccionadas a los productores rurales. Este estudio se hace
con el fin de analizar el aporte de los instrumentos de educación cooperativa a la extensión rural, y
describir la relación de la educación cooperativa y la actuación de la Empresa de Asistencia y Extensión
Rural del Departamento de Minas Gerais. Metodológicamente, se utilizó la investigación exploratoria,
y para la técnica el cuestionario enviado a 452 cooperativas agrarias durante el 2011 y el 2012. Entre
los resultados se evidencia que el desarrollo de trabajos de educación cooperativa realizado por las
organizaciones se ha mostrado como trabajos extensionistas proporcionando beneficios a las coope-
rativas que buscan viabilizar diariamente las orientaciones y capacitaciones recibidas.
Palabras clave: cooperativas agrarias, educación cooperativista, extensión, extensión rural, gestión
cooperativa.

Descriptores alfanuméricos (jel codes): I250 – Education and Economic Development; R110 – Regio-
nal Economic Activity; R580 – Regional Development Planning and Policy.

Recibido: 13 de marzo del 2012 Aprobado: 15 de junio del 2012

Introdução de estudo ou de trabalho, aspectos relativos


A educação cooperativista sempre foi uma à educação do homem, principalmente no
ação relevante para as cooperativas e, por que diz respeito à valorização humana, com
isso, merecedora da atenção de estudiosos vistas à melhoria das condições de vida
presentes no mundo todo. Antes mesmo do tecido social. Nas próprias palavras de
de ser oficialmente criada a primeira coo- Owen, “a educação seria a pedra filosofal
perativa em 1844, a sociedade dos Probos capaz de transformar o comportamento
Pioneiros de Rochdale Ltda., os então cha- existencial da sociedade e criar uma estirpe
mados socialistas utópicos, como Robert nacional de cidadãos” (Owen apud Klaes,
Owen e Charles Fourier, já colocavam na 2005, p. 51).
pauta de suas discussões, seja nos grupos

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Influenciados diretamente pelos socia- cooperativas. Informam o público geral,


listas utópicos e comungando com alguns particularmente os jovens e os líderes de
de seus pressupostos, os próprios Pioneiros opinião, sobre a natureza e as vantagens
da cooperação (aci – Aliança Cooperativa
percebiam na educação cooperativista
Internacional, 1995, s.p.).
uma das bases para o desenvolvimento
das cooperativas, propondo-a como um Desse modo, amplia-se não só o signi-
dos princípios ou regras para garantir seu ficado, mas também o conteúdo da edu-
funcionamento e, para que pudesse ser cação cooperativista, incluindo, além dos
viabilizada, manifestaram a necessidade da associados, os administradores, executivos
criação de um fundo específico que a finan- e os empregados das cooperativas. A assem-
ciasse. Assim, foi adotado pelo movimento bleia recomenda, ainda, que os benefícios
cooperativo mundial um fundo, conhecido do cooperativismo sejam difundidos ao
na lei brasileira como Fundo de Assistência público, em especial aos jovens e aos líderes
Técnica, Educacional e Social (Fates). das comunidades, onde as cooperativas
Desde a criação das cooperativas até estão presentes.
os dias atuais, a educação cooperativista É nesse sentido que Valadares define
é um dos princípios mantidos por estas a educação cooperativista
organizações mesmo com algumas modi-
ficações introduzidas pelas Assembleias […] como um processo e um método para
formular e executar políticas de educação
Internacionais da Aliança Cooperativista
cujas características se referem a aspectos
Internacional (aci) de: 1934 (Londres), essenciais à prática da cooperação: a
1937 (Paris), 1966 (Viena) e 1995 (Man- gestão democrática. Compreende o pro-
chester – Congresso do Centenário da cesso propriamente dito de preparação
aci) (Pinho, 2003). e adoção de planos e estratégias por
Foi na última modificação dos princí- decisões das bases cooperativistas e dos
pios cooperativistas, ocorrido em 1995, dirigentes e sua execução por parte do
em assembleia democraticamente reali- órgão responsável pela administração do
serviço educacional e pelo esquema de
zada com a participação das cooperativas
organização comunitária adotado pela
associadas à aci do mundo todo, que o 5o
cooperativa (Valadares, 2005, p. 33).
princípio cooperativista ficou descrito sob
o seguinte título: Educação, Treinamento Dada a importância da educação coope-
e Informação. Este princípio passou a rativista para essas organizações, e por se
ter a seguinte redação, definida pela aci tratar de uma atividade específica —
­ distinta INVESTIGACIÓN

(1995, s.p.): das atividades econômicas que são próprias


das cooperativas, o que pode impor difi-
As cooperativas promovem a educação
e a formação dos seus cooperados, dos culdades e complicações próprias—, inda-
representantes eleitos e dos trabalhadores gamos aqui como ela é implementada e
de forma que possam contribuir eficaz- preocupamo-nos especialmente do caso das
mente para o desenvolvimento das suas cooperativas agrárias mineiras.

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As cooperativas agrárias são organi- cooperativista realizados junto às coope-


zações econômicas geridas por e para os rativas agrárias, muitas das vezes, pelo
seus membros. Trata-se de organizações seu objetivo e pelo público, podem ser
que funcionam articulando o acesso dos considerados atividades de extensão rural.
produtores aos mercados e organizando Assim, este estudo tem como objetivo ana-
serviços para os seus associados que con- lisar a contribuição dos instrumentos de
tribuem para a viabilidade econômica das educação cooperativista à extensão rural
propriedades e/ou o aumento da qualidade e, especificamente, descrever a relação da
de vida. educação cooperativista junto à atuação
Obviamente, são as próprias cooperati- da Emater-mg nesse campo.
vas agrárias as responsáveis pela educação
Metodologia
cooperativista, mas existe todo um leque
de outras organizações que auxiliam ou Na fase exploratória da pesquisa e com
complementam as atividades das coope- o objetivo de identificar se existe alguma
rativas. São aquelas organizações que, relação das atividades de educação coo-
de uma forma ou outra, estão focadas perativista que são realizadas junto às
no desenvolvimento socioeconômico da cooperativas agrárias, com os trabalhos
cooperativa. Dentre as que se dedicam de extensão rural, foram enviados ques-
à promoção da educação dentro de seus tionários, que continham 24 questões
respectivos espaços de atuação no Estado entre fechadas e abertas, a 452 coopera-
de Minas Gerais, podem ser citadas a tivas agrárias do Estado de Minas Gerais,
Empresa de Assistência Técnica e Extensão tanto àquelas filiadas à Organização de
Rural (Emater), algumas organizações Cooperativas de Minas Gerais (ocemg),2
pertencentes ao Sistema S,1 como o Serviço quanto às outras, cujo contato foi estabe-
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas lecido observando-se os endereços de coo-
Empresas (Sebrae), o Serviço Nacional de perativas agrárias disponíveis na Tetelista.
Aprendizagem do Cooperativismo (Ses- net.3 Deste montante enviado, obteve-se
coop) e o Serviço Nacional de Aprendi-
zagem Rural (Senar), algumas Instituições 2
A ocemg edita anualmente seu Anuário, no qual é
de Ensino Superior, a Unitrabalho (Rede possível obter as principais informações econômicas
do cooperativismo mineiro. Apresenta o ranking das
Interuniversitária de Estudos e Pesquisas cooperativas mineiras em categorias como número de
associados, empregados, receitas totais, salários médios
sobre o Trabalho), as Incubadores Tecno- de empregados, sobras de exercício e riqueza gerada
lógicas de Cooperativas Populares (itcps) por associados, entre outros, além de fazer referência a
indicadores de desempenho das cooperativas em relação
e Organizações Não Governamentais ao quadro social, funcional, financeiro, operacional e
(ongs) de alcance regional. Percebe-se, contribuições para a sociedade. Em seu interior é possível
encontrar também o endereço das cooperativas dos
dessa forma, que os trabalhos de educação diversos ramos do cooperativismo, filiadas à ocemg.
Essa filiação é obrigatória por lei, embora muitas
cooperativas optem por não fazê-lo, daí a opção de
procurar cooperativas em outras fontes (Anuário, 2008).
1
São todas entidades privadas de interesse público,
dedicadas cada uma a um segmento social específico 3
O endereço eletrônico da Telelista.net é http://www.
e geralmente vinculados e dirigidos pelos sindicatos telelistas.net, que possui em seu conteúdo endereços de
patronais correspondentes. empresas, profissionais e pessoas de todo o Brasil.

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o retorno de 51 questionários. Assim, o Consonante a isso, Desroche enfatiza


questionário enviado às cooperativas foi que:
divido nas seguintes partes: em primeiro
Em nível cooperativo, tal visão peda-
lugar, as perguntas foram direcionadas gógica se caracteriza pela dualidade da
a identificar a atual situação das coope- formação cooperativa, que, por um lado,
rativas relacionada à realização ou não apresenta centros, institutos e universida-
de educação cooperativista; pretendia-se des que oferecem oportunidades de for-
paralelamente identificar quais tipos de mação cooperativa, com frequência sem
contatos com o movimento cooperativo
atividades eram consideradas do campo
e, por outro, a condição autodidata de
da educação cooperativista. Em um dirigentes e executivos de cooperativas
segundo momento, as perguntas visavam que não recebem ou recebem de forma
a determinar quais eram as organiza- inadequada e incompleta a formação e
ções que contribuíam na realização do a capacitação necessárias para o manejo
trabalho de educação cooperativa junto econômico e social das cooperativas (Des-
roche apud Schneider, 1999, p. 209).
às cooperativas. Também se buscou iden-
tificar os tipos de atividades que essas Visto sob esse ângulo, a aci realiza
organizações realizam e desenvolvem a seguinte indagação: Quem deve ser
com as cooperativas. E, por fim, verificar o responsável pela educação cooperati-
em que âmbitos os efeitos da educação vista? Para a comissão especial, todos são
cooperativista são percebidos e quais os diretamente responsáveis pela educação
desdobramentos dessa educação para os e reeducação cooperativa. Desse modo,
empreendimentos cooperativos agrários. enfatiza que, em primeiro lugar, devem vir
os cooperados, que por meio da utilização
Instrumentos da Educação de metodologias adequadas de educação
Cooperativista e seus conteúdos de adultos devem ser participativos nas
Capacitação/Formação Cooperativista discussões, nos núcleos regionais, trabalhos
de grupos, cursos, seminários, congressos,
Neste tópico é oportuno salientar as obser-
palestras, reuniões, pré-assembleias e
vações feitas pela aci, por meio de sua
assembleias, entre outros meios de parti-
comissão especial formada em 1966, sobre cipação dos membros, que lhes permitam
determinadas considerações a respeito da atuar de maneira mais incisiva na vida de
educação cooperativista. Esta Comissão suas cooperativas. INVESTIGACIÓN
parte da concepção de que a verdadeira Os dirigentes, executivos e funcionários
educação cooperativista deve ir além são posicionados em segundo lugar. E deles
da mera educação formal apontando a tem se exigido cada vez mais uma adequada
necessidade da realização de um processo formação técnica e universitária, comple-
permanente de aprendizagem cooperativa, mentada com a formação específica sobre as
que transcenda a educação institucionali- cooperativas e sua administração específica.
zada presente nas universidades e escolas. Assim, segundo a comissão, torna-se mais

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desafiante para um profissional gerir uma blicos presentes nas cooperativas exigem
cooperativa do que uma empresa capita- necessariamente conteúdos educativos que
lista, isso porque exige de tal profissional sejam ministrados em atendimento às suas
determinados conhecimentos que não demandas e características específicas.
são necessários quando se trata de uma Isto posto, outra pergunta, comple-
empresa de capital. mentar à primeira, é realizada pela aci:
Em terceiro lugar, e não menos impor- O que se deve entender por educação
tante, precisa-se capacitar a própria comu- cooperativista? E a própria instituição res-
nidade em geral, de onde advém o candidato ponde ao mencionar que “toda atividade
potencial a associado(a), que também que desperta o interesse comprometido
deve ser alvo da educação cooperativista dos associados já é em si um método de
(Schneider, 1999). educação” (aci, 1995, p. 10). E esta noção
Em linhas gerais, a educação cooperati- se aplica, da mesma forma, às diversas
vista promove um papel protojônico para os atividades de natureza econômica, social,
associados nas organizações cooperativas e cultural e, de modo especial, aos cursos,
a cooperação como estratégia de desenvol- seminários e trabalhos de grupo, orga-
vimento. No entanto, para que se viabilize nizados, por exemplo, pelos comitês de
a participação dos associados na gestão educação (Schneider, 1999).
da cooperativa, a capacitação em deter- Em sequência, menciona-se que estas
minados conteúdos vinculados à gestão atividades precisam, acima de tudo,
econômica das organizações é necessária. ser bem planejadas e ter objetivos cla-
É fácil perceber, dessa forma, que a ros, para que os conteúdos abordados
capacitação cooperativista é específica possam contemplar tanto os aspectos
para esse tipo de organização socioeconô- econômico-administrativos como os
mica e deve ser adequada ao público ou à aspectos sociais. E, nesse sentido, a reco-
cooperativa individualmente. Uma simples mendação é para se utilizar de métodos
capacitação em gestão empresarial não pedagógicos que estimulem a participação
seria adequada, assim como também não constante dos associados nos processos de
o seria uma capacitação que só enfatize ensino-aprendizagem.
a discussão dos aspectos sociais da orga- Assim, é fácil perceber que a partici-
nização. Assim, as capacitações precisam pação
ser realizadas levando em consideração as
[...] é o objetivo e o meio para se constituir
múltiplas facetas da questão cooperativa e,
e manter uma cooperativa. Objetivo,
essencialmente, ensinar ao cidadão comum porque é justamente com a finalidade de
a cooperar, a administrar seu próprio em- participar da riqueza e benefícios gerados
preendimento econômico para, em última pelo seu trabalho que as pessoas se unem
instância, conseguir democratizar a econo- nessa forma de sociedade. E meio, porque
mia (Amodeo, 1999). somente através da efetiva, consciente
Desse modo, as capacitações realizadas e responsável participação de todos os
precisam considerar que os diferentes pú- associados se obterá o sucesso das metas

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socioeconômicas do empreendimento coo- metodologias e de tecnologias adequa-


perativo (Santos, s.d, pp. 12-13). das (Schneider, 2003, p. 14).

Watkins enfatiza que os conteúdos Portanto, e como apresentado até aqui,


da educação cooperativista devem estar a educação cooperativa é um processo
direcionados a: i) uma informação que contínuo de aprendizagem, que deve
seja adequada, completa e sobretudo atua- abranger públicos distintos (funcionários,
lizada sobre o que sucede na cooperativa; dirigentes, associados, comunidade) e com
ii) conhecimento técnico em atendimento diferente nível educativo, haja vista que
às peculiaridades da dupla natureza da existem determinadas demandas que são
cooperativa, como empreendimento específicas para cada um desses públicos
econômico e como sociedade de pessoas; e que por isso exigem conteúdos variados
iii) a necessidade de conhecimento tanto —de gestão empresarial, de gestão social,
sociológico, como econômico da coope- participação, cooperação, produção—
ração, demonstrando que é um fenômeno nas propostas de capacitação/formação
social entre muitos outros; e iv) conhe- apresentadas, que a faz muito complexa
cimento sobre as histórias das origens e e especializada.
da evolução do Movimento Cooperativo
Organização do Quadro Social
(Schneider, 1999).
Ao se pensar acerca dos conteúdos A Organização do Quadro Social (oqs)
da educação cooperativista, Schneider é uma prática educativa reconhecida
(2003) acrescenta que pelos interlocutores das cooperativas e
por órgãos de representação do coope-
[…] devem levar em conta tanto a for- rativismo, por ser primordial no desen-
mação cooperativista quanto a prática volvimento de trabalho educativo de
da cooperação, com suas metodologias
capacitação e formação dos associados,
e estilos adequados de condução do pro-
cesso cooperativo. A educação doutri-
contribuindo diretamente para o avanço
nária é fundamental, pois é ela que, por da participação dos membros associados
meio dos seus valores e princípios, dá na organização. É uma forma de orga-
sentido a todo o processo, que incentiva nizar a gestão social muito utilizada nas
e direciona todas as atividades e práti- cooperativas agrárias. Se bem conduzida,
cas cooperativistas em prol de maior a oqs pode viabilizar importantes
bem-estar e dignidade das pessoas que espaços de capacitação e participação
compõem a cooperativa. É o trabalho
do quadro social e aumentar, de maneira
INVESTIGACIÓN
sobre os valores e os princípios do coo-
considerável, o envolvimento direto de
perativismo que cria entre os agentes da
cooperação a afinidade mental e afetiva diferentes grupos de produtores rurais
que os motiva a cooperar e a continuar associados no processo de tomada de
cooperando. Porém, a dimensão doutri- decisão e controle da gestão empresarial
nária, para atingir com eficiência seus de cooperativas. Assim, além de ser um
objetivos, requer o uso de práticas, de instrumento de educação cooperativa, a

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oqs pode funcionar como importante são diretamente contemplados: a gestão


canal para o desenvolvimento de traba- social, a gestão empresarial e a assistência
lhos de extensão rural. técnica. A educação cooperativista referente
ao ramo agropecuário dispensa atenção de
Sob a denominação Organização do Qua-
modo especial às capacitações vinculadas
dro Social, se incluem diversas práticas
que têm por objetivo a formação de uma com assistência técnica direcionada aos pro-
nova instância de exercício de poder nas dutores associados, visando a influenciar
cooperativas, além das instâncias usual- nos processos produtivos das propriedades
mente encontradas. Estas práticas condu- dos cooperados.
zem à formação de Comitês Educativos, Nesse contexto, a educação e a informa-
ou Conselhos de Representantes, que, a ção permanentes dos associados adquirem
despeito de diferentes formas organiza- um lugar de destaque.
cionais e particularidades no seu funcio-
namento, estão orientados pelos mesmos As práticas de organização do quadro so-
objetivos: estruturar um espaço de poder cial, viabilizadas por intermédio de arran-
na cooperativa, viabilizando a partici- jos institucionais como Comitês Educativos,
pação democrática do maior número de e direcionadas para ampliar as possibilida-
associados na gestão do empreendimento des de envolvimento direto de diferentes
cooperativo (Valadares, 1995, p. 47). grupos de produtores rurais associados no
processo de tomada de decisão e controle
Isto porque a institucionalização da da gestão empresarial de cooperativas,
prática de oqs nas cooperativas significa traz implicações políticas significativas
uma instância a mais de participação, na conformação do conflito entre grupos
porém de caráter menos formal que as dominantes e dominados em espaços regio-
nais da área de ação da cooperativa (Vala-
assembleias, no ambiente da organização.
dares, 1996, p. 11).
A oqs viabiliza a ampliação do exercício
do poder na cooperativa e conduz as novas Assim, se, por um lado, a implemen-
formas de controle democrático e de par- tação dessa prática educativa pode sig-
ticipação dos associados na vida de suas nificar para os agricultores familiares
cooperativas. Geralmente, organizam-se maiores possibilidades de acesso a bens
comissões locais em diferentes lugares da e serviços prestados pelas cooperativas,
área de influência da cooperativa, cons- por outro lado, para os grandes produ-
tituídas por associados, que se reúnem tores, a participação pode assumir ares
periodicamente para obter informações de de ameaça; isso devido à introdução de
sua organização e dos produtos, discutir novos atores sociais que passam a par-
questões do seu interesse vinculadas à coo- ticipar mais ativamente do processo
perativa, receber capacitação em diversos decisório da cooperativa (Valadares,
aspectos, incluindo questões técnico-pro- 1996). Por isso, essa importante prática
dutivas. É passível de mencionar que, educativa pode ser comprometida pela
por meio da instrumentalização da oqs ação de forças contrárias à sua real
nas cooperativas agrárias, três conteúdos implementação.

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Ainda segundo Valadares (1996), para de Crédito e Assistência Rural de Minas


dar vida aos trabalhos relacionados à oqs, (Acar) fundada em 1948, para dissemi-
muitas cooperativas agrárias estão criando nar-se posteriormente pelos demais Esta-
um departamento próprio ou Comitê Edu- dos do Brasil. Tal instituição foi pioneira
cativo, que se encontra vinculado dire- no que diz respeito à assistência técnica e
tamente ao conselho de administração, extensão rural no país, com seus traba-
responsável por assumir as atividades rela- lhos direcionados para a “introdução de
tivas ao desenvolvimento social e político novas técnicas de agricultura e economia
dos associados, no intuito de prepará-los, doméstica, de incentivo à organização e
por meio das atividades de capacitação, de aproximação do conhecimento gerado
para que possam atuar como verdadeiros nos centros de ensino e de pesquisa aos
donos e usuários do empreendimento produtores rurais” (Emater, 2009, s.p.).
cooperativo. As “Acares” seriam substituídas pelas
O crescimento do número de associa- “Emateres” em 1975 ao deixarem de
dos das cooperativas agrárias tem provo- funcionar como associações para se
cado o distanciamento dos associados de constituírem em empresas estatais de
suas cooperativas e tem reduzido, dessa prestação de serviços aos produtores
forma, sua participação. Assim, muitas rurais e suas famílias.
cooperativas têm buscado estabelecer, Minas Gerais foi o palco desta primeira
de maneira institucional, a formação de experiência, por meio de um convênio
subgrupos em várias localidades perten- celebrado com a American International
centes ao seu âmbito de atuação, com Association (aia) for Economic and Social
o objetivo de melhorar as condições
Development, dos Estados Unidos, que
de participação dos associados, o que
colaborou decisivamente para a concre-
permite, desse modo, enfrentar em grupo
tização deste processo.
os aspectos burocráticos da cooperativa e
se constituem, nas palavras de Valadares Em todos os países que adotaram a
(1996, p. 17), “em um canal através do extensão rural, a influência norte-ame-
qual os associados podem expressar suas ricana quanto à filosofia, aos princípios,
necessidades, desejos e inquietudes, além aos métodos e à utilização dos meios de
comunicação foi marcante. A partir desta
de constituir um meio de comunicação e
influência, a Acar conseguiu estabelecer
informação importante entre os dirigen-
uma experiência inovadora em Minas INVESTIGACIÓN
tes e as bases sociais”. Gerais, ao definir a família do produtor
Relações entre a Educação como foco da ação dos extensionistas e
Cooperativista e a Emater-MG não os produtos por elas gerados, além de
conjugar pioneiramente assistência téc-
A trajetória da Emater-mg se confunde
nica e crédito rural (Emater, 1999, p. 5).
com a própria história da extensão
rural no Brasil. Nesse sentido, como sua Este foco permanece até os dias atuais,
antecessora, pode-se citar a Associação embora o contexto histórico tenha modifi-

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cado em cada situação vivida o perfil destas que vai ao encontro desta é a de que “as
intervenções e as consequências positivas e pessoas em grupo aprendem com mais
por vezes negativas deste processo. facilidade e se habituam a resolver proble-
A Emater-mg foi importante incenti- mas comuns em conjunto, fortalecendo o
vadora da organização e do desenvolvi- espírito comunitário” (Renault e Santana,
mento de grupos associativos, como as 1996, p. 5).
cooperativas e associações. Primeiro, em Neste ponto, deve-se enfatizar que o
consonância com a mentalidade dissemi- público preferencial da Emater-mg na
nada na década de 1970 e 80, em que as atualidade —seguindo o que estabelece a
organizações de produtores rurais eram Política Nacional de Extensão Rural— são
consideradas instrumentos viabilizadores os agricultores familiares, quilombolas e
do almejado “desenvolvimento rural”; os assentados da reforma agrária. Nesse
também, baseados no que a própria marco, além de promover a melhoria
experiência tem demonstrado, através na qualidade de vida e da produção e
do trabalho coletivo, é possível alcançar produtividade das propriedades rurais,
maiores benefícios que trabalhando de junto a esses produtores e suas famílias
forma isolada. Assim, promovem-se de modo sustentável, a Emater tem ainda
organizações já que teriam maior poder o compromisso de assessorar as formas
de barganha na comercialização dos pro- organizativas, com o objetivo de promo-
dutos, na compra de insumos necessários ver a participação dos produtores rurais
à produção, o que possibilitaria melhores na condução de programas e projetos de
oportunidades de geração de renda e, desenvolvimento social e econômico.
assim, encontraria, no seu próprio meio, Para tanto, mobilizam os produtores
as condições sociais de reprodução, com rurais para participarem de cursos e trei-
qualidade de vida. Adicionam-se a isso namentos profissionalizantes, palestras,
oportunidades de melhores condições de reuniões, dias de campo, encontros técni-
acesso às políticas públicas para este seg- cos, Diagnósticos Rápidos Participativos
mento, isto porque, dependendo das (drp) e eventos. O conteúdo destas ativi-
especificidades, estas políticas estão dades pretende atender às necessidades
geralmente direcionadas para grupos de dos produtores rurais na condução dos
indivíduos que se encontram de alguma trabalhos desenvolvidos no dia a dia em
maneira organizados. suas propriedades, na inclusão de pro-
Dentro desse contexto, existe o enten- gramas que garantam certificação de seus
dimento também de que o atendimento produtos e consequentemente sua melhor
individual às famílias rurais é mais one- aceitação pelo mercado consumidor, no
roso. Assim, os programas de orientação uso de tecnologias certas para cada tipo de
ao produtor foram desenvolvidos, em sua processos produtivos, educação ambien-
grande maioria, em torno de demonstra- tal, economia familiar, associativismo/
ções de alcance coletivo. Outra premissa cooperativismo, entre outras.

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No que se refere à área de competência dependência do agente que presta o serviço


da Emater-mg, relacionada ao associati- e da concepção ou do objetivo que orienta
vismo/cooperativismo, as orientações ten- suas práticas. Apesar desta diversidade,
uma característica parece ser comum a
dem a disseminar a ideia da importância do
esta variedade de concepções e práticas de
trabalho conjunto e da cooperação para as
extensão rural: a missão de promover o
comunidades rurais. Para tanto, utilizam- desenvolvimento (Dias, 2007, p. 2).
se alguns materiais de cunho educativo
como suporte a estes trabalhos, tais como, Dessa forma, educação cooperativista,
folders e cartilhas, que pretendem ser como está sendo colocada neste estudo,
autoexplicativos e de fácil entendimento. poderia ser considerada um tipo específico
Os assuntos abordados contemplam a de extensão rural, quando orientada ao
parte relativa à gestão cooperativa e asso- desenvolvimento de organizações coopera-
ciativa, com ênfase no aspecto empresarial tivas e seus associados, com a cooperação
destas organizações, com conteúdos sobre e participação como linhas orientadoras.
legislação tributária, sobre a constituição e Vale ressaltar que a Emater não se
legalização, as diferenças entre associação reconhece como uma organização que
e cooperativa e o passo a passo para a realize educação cooperativista, embora
criação desses empreendimentos, seu fun- as cooperativas a assinalem como uma
cionamento, a doutrina cooperativista e os de suas parceiras no que as cooperativas
princípios e valores. No entanto, a ênfase designam por educação cooperativista.
principal da Emater está na assistência Como as cooperativas agrárias estão
técnica aos produtores rurais e, portanto, constituídas por produtores rurais e
é nesse aspecto que ela articula suas ações comercializam e/ou processam o que eles
com as cooperativas e seus cooperados, produzem, o aumento da produtividade
sendo eles, na condição de produtores, seu e/ou qualidade da produção afeta dire-
público privilegiado. tamente o empreendimento econômico
Mas aqui tenta se aprofundar nas possí- e, por isso, consideram que faz parte do
veis relações entre educação cooperativista e seu papel “educador” promover uma
extensão rural, para o qual se deve também “melhora” da capacidade produtiva dos
considerar a própria definição de extensão seus associados e, para isso, possibilitam
rural. Nesse sentido, Dias (2007) afirma que a assistência técnica. Dessa forma, a Ema-
ter se apresenta como parceira natural INVESTIGACIÓN
Extensão rural é um conjunto bastante
nessas atividades.
diverso de concepções e de práticas que se
Portanto, a Emater, pela sua própria
expressam em serviços técnicos e especia-
lizados de assistência, assessoria, apoio e
natureza extensionista, apresenta uma
consultoria, ofertados por organizações longa trajetória na instrumentalização da
públicas ou privadas a uma enorme diver- educação cooperativista, por buscar desen-
sidade de tipos de agricultores. O que é volver ações de promoção da cooperação
(ou o que pode ser extensão rural) está em com grupos de produtores e fomentar

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Palloma Ferreira Rosa – Nora Beatriz Presno Amodeo – Diego Neves de Sousa
INVESTIGACIÓN

o trabalho coletivo e a cooperação entre Com 5% aparecem os que acreditam


os indivíduos; especialmente porque as ser a união das alternativas anteriores,
questões atinentes à assistência técnica pro- o que aponta também a possibilidade de
dutiva são consideradas pelas cooperativas maior adesão dos cooperados no dia a
agrárias parte dos conteúdos da educação dia da cooperativa, que se tornam mais
cooperativista e o Fates, frequentemente, comprometidos com o empreendimento
financia essas atividades. e ainda destaque para as possibilidades
de concretizar parcerias imprescindíveis
A percepção das cooperativas agrárias
para um melhor desempenho no mercado.
Outras informações podem também ser O gráfico 1 permite visualizar os dados
extraídas com base na compilação das descritos acima e evidencia o papel da
respostas aos questionários, o que per- educação cooperativa.
mite obter um panorama geral de como Dentre os interlocutores das coope-
estaria estruturada a educação coopera- rativas que responderam positivamente
tivista nas cooperativas respondentes, ao quando perguntados se realizam educação
tomar como referência o ponto de vista cooperativista, isto é, 49% do total dos
apresentado pelos próprios interlocutores entrevistados, 33% assinalaram que a
das cooperativas. forma mais utilizada para sua concretiza-
De acordo com as respostas obtidas, ção é o desenvolvimento de ações educati-
22,2% dos informantes apontam que vas, em atendimento às diversas demandas
a educação cooperativista possibilita e aos campos de atuação da cooperativa.
maior envolvimento dos cooperados nas Essas ações agrupam palestras, cursos,
decisões e um número importante (21%) encontros e eventos (ver gráfico 2).
reconhece que ela permite o aprofun- Um número expressivo (17,4%) dos
damento da comunicação entre o asso- respondentes afirma desenvolver a prá-
ciado e a cooperativa. Outros 19% dos tica de educação cooperativista por meio
respondentes afirmaram que, por meio da realização de projetos/programas/
da educação cooperativista, é possível convênios, como o Projeto Cultura da
difundir os princípios e valores coopera- Cooperação do Sebrae, do Educampo,
tivistas e o aprimoramento da capacita- de assistência técnica; programas de
ção técnico-produtiva dos cooperados. integração comunidade-cooperativa, de
Corrobora-se, com base neste último inclusão digital e educação cooperativista
dado, que as cooperativas pertencentes nas escolas e convênios mantidos com
ao ramo agropecuário incluem dentro das instituições como o Sescoop, Sebrae,
responsabilidades concernentes à educa- Emater e Senar. É apontada ainda de
ção cooperativista a assistência técnica modo significativo pelos respondentes
direcionada aos produtores associados. a prática de oqs com uma porcentagem
Outros 13% consideram que esta edu- de 13% e também a realização de dias
cação permite também obter melhorias de campo com um percentual de 10,9%.
da gestão econômica da cooperativa. Por meio também de informativos

22 Revista Cooperativismo & desarrollo ¤ Volumen 20 Número 101 ¤ julio – diciembre 2012
A importância dos trabalhos de educação cooperativista para a extensão rural

Maior envolvimento dos


5,1 cooperados nas decisões.
13,1 22,2
Melhorar a comunicação
associado-cooperativa.
Difundir os princípios e
19,2 valores cooperativista.
Melhorar a capacitação
21,2
técnico-produtiva dos
cooperados.
19,2 Melhorar a gestão
economica ou da financeira
da cooperativa.

Gráfico 1. Papel da Educação Cooperativista

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2009

2,2
Ações educativas
4,3
6,5 32,6 Projetos/programas/convênios
6,5 OQS
Dias de campo
6,5
Informativos
10,9 Treinamento/capacitação
Reuniões
13 17,4
Integração
Outros

Gráfico 2. Forma em que as atividades de educação cooperativista são realizadas

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2009

(6,5%), como: encartes e jornais locais, participação e educação cooperativista,


treinamento/capacitação (6,5%), através especialmente porque esta prática foi e
da realização de reuniões periódicas ainda é desenvolvida de modo especial
promovidas pela diretoria e técnicos pelo ramo agropecuário. Constatou-se,
INVESTIGACIÓN
com grupos de associados (6,5%), sendo através da pesquisa, que o desenvolvi-
outro meio utilizado a integração entre os mento da oqs é feito prioritariamente
funcionários, cooperados e órgãos sociais por meio de comitês educativos, grupos
como as comissões de produtos. de produtores rurais e núcleos locais. Em
Nesse sentido, tornou-se determinante menor medida, recorre-se a comissões
identificar os meios de realização da oqs, por produtos e serviços, bem como a
pela importância como ferramenta de comissões regionais e de representantes.

Revista Cooperativismo & desarrollo ¤ Volumen 20 Número 101 ¤ julio – diciembre 2012 23
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INVESTIGACIÓN

A forma como as cooperativas pesquisa- ção cooperativista no desenvolvimento


das desenvolvem a oqs e sua frequência das cooperativas.
é apresentada no gráfico 3. Dentre os recursos disponíveis nas
Com relação aos impactos positivos cooperativas para financiar a educação
gerados pela prática da educação coope- cooperativa, encontra-se o Fates, insti-
rativista, 46% dos respondentes assinalam tuído por meio do artigo 28 da Lei 5.764,
os reflexos na gestão social da coopera- de 16/12/1971. O Fates é “destinado à
tiva. Para 17% do total de pesquisado, prestação de assistência aos associados,
os impactos positivos se dão na gestão seus familiares e, quando previsto nos
econômica. Para 31% dos respondentes, estatutos, aos empregados da coopera-
os impactos da educação cooperativista tiva, constituído de 5% pelo menos das
são sentidos no aumento da produção e sobras líquidas apuradas no exercício”
qualidade dos produtos comercializados. (Lei 5.764/1971). A distribuição dos
De forma direta ou indireta, isso está modos de utilização dos recursos do
relacionado aos constantes apelos por Fates nas cooperativas estudadas pode
melhorias dos processos produtivos ser observada no gráfico 5.
dos associados, para sobreviverem nos Os resultados da pesquisa mostram
mercados locais e globais onde estão que, embora o recurso do Fates deva ser
diretamente inseridos. Ainda com 6%, os empregado prioritariamente para a capa-
participantes da pesquisa apontam que citação dos membros associados, um terço
o impacto da educação cooperativista é dos recursos destina-se à capacitação do
sentido, de modo especial, na participação quadro funcional e 58% para assistência
dos cooperados nos cargos de conselhos, técnica (agronômica ou veterinária). Essa
no aumento do quadro associativo e na expressiva utilização do recurso do Fates
capacitação dos associados. O gráfico 4 para capacitar os funcionários parece estar
permite a análise dos impactos da educa- relacionada ao tamanho da cooperativa.

8,4

12,5 33,3 Comitês educativos


Grupos de produtos
Núcleos locais
16,7
Comissões de
representantes/produtos
Outros
29,2

Gráfico 3. Meios de realização da oqs

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2009

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A importância dos trabalhos de educação cooperativista para a extensão rural

6,3

16,7 Gestão social da cooperativa.


45,8
Aumento de qualidade e
quantidade dos produtos
comercializados.
Gestão econômica da cooperativa.
31,3
Outros.

Gráfico 4. Modo como os impactos da educação cooperativista são sentidos nas


cooperativas

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2009

4,6 2,4 1,8 Capacitação para


4,6 funcionários.
6,5
Assistência técnica.
28,4
Capacitação dos
associados.
16,4
Capacitação dos
dirigentes da cooperativa.
Atividades de
17,9 responsabilidade social.
23,9
Não possui Fates e/ou
não utiliza o recurso.

Gráfico 5. Forma de utilização dos recursos do Fates

Fonte: Dados da pesquisa de campo, 2009

As cooperativas categorizadas como gran- qualidade do atendimento aos associados.


des (número de associados), acima de 401, Também, nas definições de educação coo-
que realizam educação cooperativista, uti- perativa apresentadas, não se fazia menção INVESTIGACIÓN
lizam-se de forma mais intensa os recursos específica à assistência técnica (destinada
do Fates para capacitar seus funcionários. a aumentar ou melhorar a produção nos
Provavelmente isso se dá em função de estabelecimentos dos associados), embora
que, quanto maior a cooperativa, maior possa ser considerada inclusa em algumas
o número de funcionários que necessitam dessas definições. No entanto, destinar o
de capacitação sobre os diversos aspectos Fates para assistência técnica é tradicional
relativos ao cooperativismo para elevar a entre as cooperativas agrárias brasileiras.

Revista Cooperativismo & desarrollo ¤ Volumen 20 Número 101 ¤ julio – diciembre 2012 25
Palloma Ferreira Rosa – Nora Beatriz Presno Amodeo – Diego Neves de Sousa
INVESTIGACIÓN

Considerações Finais cação cooperativista realizado pelas


organizações, de modo especial as
A educação cooperativista é um dos pila-
cooperativas e a Emater, tem se revelado
res em que se assenta o desenvolvimento
como autênticos trabalhos de natureza
das cooperativas. Isso é reconhecido desde
extensionista e tem proporcionado uma
as origens do movimento cooperativo e
série de benefícios às cooperativas que
continua sendo reiteradamente afirmado
buscam viabilizar em seu cotidiano as
por integrantes das cooperativas contem-
orientações e capacitações recebidas.
porâneas, não só quando perguntados
especificamente sobre isso, mas também Referências
quando chamados a elencar os pontos Aliança Cooperativa Internacional (aci) (s.d.).
críticos que asseguram o êxito destas Recuperado de http://www.ica.coop/coop/
organizações ou, pela negativa, quando principles.html
enumeram os principais problemas, as Amodeo, N. B. P. (1999). As cooperativas
questões vinculadas à deficiente educação agroindustriais e os desafios da competiti-
cooperativista aparecem entre os “vilões” vidade. (Tese de Doutorado em Desenvol-
vimento, Agricultura e Sociedade). cpda,
mencionados em primeiro lugar. Universidade Federal Rural do Rio de
Desse modo, foi possível perceber a Janeiro, Rio de Janeiro.
polissemia do conceito de educação coo- Anuário do Cooperativismo Mineiro (2008).
perativista e a diferença também na sua Maiores Cooperativas de Minas Gerais. Belo
função para as cooperativas, e pôde ser Horizonte: ocemg.
constatada ainda uma grande variedade Dias, M. M. (2007). Extensão rural para qual
de públicos e de temáticas promovidas, desenvolvimento? Em M. M. Dias (Org.),
Abordagens Atuais sobre Extensão Rural
bem como de metodologias e do tipo (pp. 35-47). Viçosa: Universidade Federal
de atividades incluídas nos processos de Viçosa.
de educação destinados às cooperativas ­­Empresa de Assistência Técnica e Extensão
agrárias mineiras. Rural (Emater-mg). (1994). Programa de
No caso da Emater, esta apresenta desenvolvimento empresarial da Ema-
uma longa trajetória na realização de ter-MG: definições institucionais. Belo
Horizonte.
trabalhos de educação cooperativista, já
Empresa de Assistência Técnica e Extensão
que desenvolve ações de promoção da
Rural (Emater-mg). (1999). Relatório de
cooperação com grupos de produtores atividades 1998. Belo Horizonte.
rurais, ao fomentar o trabalho coletivo e Klaes, L. S. (2005). Cooperativismo e ensino a
a cooperação entre os indivíduos, assim distância. (Tese de Doutorado em Engenha-
como também questões relacionadas à ria de Produção). Universidade Federal de
assistência técnica produtiva são consi- Santa Catarina, Florianópolis.
deradas pelas cooperativas agrárias parte Pinho, D. B. (2003). A educação cooperativa
nos anos 2000 valorizando a cidadania
dos conteúdos da educação cooperativa.
brasileira. Em J. O. Schneider. Educação
Conclui-se, dessa maneira, que o cooperativa e suas práticas (pp. 135-77).
desenvolvimento de trabalhos de edu- Brasília: Unisinos.

26 Revista Cooperativismo & desarrollo ¤ Volumen 20 Número 101 ¤ julio – diciembre 2012
A importância dos trabalhos de educação cooperativista para a extensão rural

Renault, G. C. y Santana, M. C. G (1996). Valadares, J. H. (1996). A Prática de Organi-


Conheça a Emater- mg . Belo Horizonte: zação do Quadro Social nas Cooperativas
Emater-mg. Mineiras. Belo Horizonte: ocemg/pnfc/
Santos, F. E. G (s.d.). Educação cooperativista intercoop.
e organização do quadro social de coopera- Valadares, J. H. (2005). Profissionalização da
tivas. Belo Horizonte: Sescoop-mg. gestão cooperativista: modismo ou necessi-
Schneider, J. O. (1999). Democracia, participa- dade? Revista Universo, 3(16).
ção e autonomia cooperativa. São Leopoldo: Valadares, J. H. (2005). Participação e poder:
Unisinos. o Comitê Educativo na cooperativa agrope-
­­Schneider, J. O. (2003). Pressupostos da educa- cuária. (Dissertação de Mestrado em Admi-
ção cooperativa: a visão de sistematizadores nistração Rural). Universidade Federal de
da doutrina do cooperativismo. Em J. O. Lavras, Lavras/mg.
Schneider. Educação cooperativa e suas prá-
ticas (pp. 13-58). Brasília: Unisinos.

INVESTIGACIÓN

Revista Cooperativismo & desarrollo ¤ Volumen 20 Número 101 ¤ julio – diciembre 2012 27

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