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Metodologia de Ensino do SENAR

Formação Profissional Rural


e Promoção Social

Brasília
2021

4ª edição
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL (Senar)

Presidente do Conselho Deliberativo


João Martins da Silva Junior

Entidades Integrantes do Conselho Deliberativo


Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA
Confederação dos Trabalhadores na Agricultura – Contag
Ministério do Trabalho e Previdência
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa
Ministério da Educação – MEC
Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB
Confederação Nacional da Indústria – CNI

Diretor-Geral
Daniel Klüppel Carrara

Diretora de Educação Profissional e Promoção Social


Janete Lacerda de Almeida

Coordenação Área de Formação Inicial e Continuada e Promoção Social


Deimiluce Lopes Fontes Coaracy

Equipe Técnica
Carolina Soares Pietrani Pereira
Marcelo Rebello Mendonça
Patrícia Fontes Machado

Fotografia
Banco de imagens sistema CNA/Senar

SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural.

Série Metodológica: Metodologia de Ensino do SENAR Formação


Profissional Rural e Promoção Social – Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural (SENAR) – Brasília : SENAR, 2021.

ISBN: 978-65-86344-05-9

128p.

Formação Profissional no Meio Rural no Brasil 2. Processo de Formação


Profissional Rural. 3. Zona Rural. 4. Processo de Assistência Técnica e
Gerencial no Meio Rural. 5. Aprendizagem rural. 5. Promoção social. SENAR.

I. Título.

CDU – 377.1
A educação provoca atitudes que transformam
hábitos, que abrem portas e redefinem vidas.

Para o SENAR, melhorar vidas é compromisso e missão.

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR)

Lista de Siglas

CBO – Classificação Brasileira de Ocupações

CTS – Comitê Técnico Setorial

FPR – Formação Profissional Rural

MEC – Ministério da Educação

PCP – Programa de Competências Profissionais para o


meio rural

SNAs – Serviços Nacionais de Aprendizagem

UC – Unidade de Competência
Sumário
Prefácio ......................................................................... 7

Introdução .................................................................... 7

1 - O SENAR e sua identidade institucional .................. 10

2 - Fundamentos da educação ...................................... 14

3 - Especificidades da educação profissional ................ 26

4 - Pressupostos gerais para a prática pedagógica ....... 32

5 - Referenciais metodológicos para a


prática pedagógica ...................................................... 42

6 - Planejamento de ensino e plano instrucional .......... 64

7 - Formação Profissional Rural - Modelo Híbrido ........ 104

Anexos .......................................................................... 118

Referências ................................................................... 124


6 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

A educação provoca atitudes que transformam hábitos, que abrem portas e redefinem vidas.
Para o SENAR, melhorar vidas é compromisso e missão.

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL - SENAR


SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 7

Prefácio
A Série Metodológica do Senar, especialmente o educação socioemocional, mindfulness, pensamento
volume intitulado Metodologia de Ensino do SENAR crítico, competências para o futuro e aos aspectos
Formação Profissional Rural e Promoção Social, é relacionados ao ensino híbrido. A empatia com os
resultado dos anos de experiência na construção alunos e jovens aprendizes e a possibilidade de
do processo ensino-aprendizagem, da expertise dos “fazer o caminho enquanto caminha”, no sentido
instrutores e da riqueza das vivências das pessoas de percorrer uma jornada de autodesenvolvimento
do campo. no fazer pedagógico, também são destaques desta
nova edição.
Recomendamos que você, instrutor, leia
com atenção para internalizar mais ainda nossa A padronização necessária ao trabalho de
abordagem de ensino-aprendizagem e para refletir qualidade em âmbito nacional decorre de conhecer
a respeito das novas orientações, que podem ser e adotar as orientações aqui contidas como
muito úteis ao seu trabalho. norteadoras em cada Administração Regional, com
as adaptações necessárias e o desenvolvimento
Enfatizamos especialmente a atenção a temas de documentos de execução das programações
como metodologias ativas de aprendizagem, ofertadas.

Introdução
O SENAR foi criado com a finalidade de organizar, do campo. Este documento, que integra a Série
administrar e executar a formação profissional Metodológica do SENAR e tem como foco a
rural (FPR) e a promoção social (PS) para jovens e metodologia de ensino da FPR e da PS, é direcionado
adultos em todo o território nacional. Para tanto, especialmente aos instrutores e equipes técnico-
desenvolve suas ações e atividades com foco no pedagógicas.
desenvolvimento profissional e social de pessoas
que vivem e/ou trabalham no campo. Como nas edições anteriores, trazemos aqui
atualizações relacionadas à metodologia de ensino
Sua estrutura compõe-se de uma Administração e ao conteúdo. Elas refletem as mudanças ocorridas
Central, em Brasília, e 27 Administrações Regionais, na sociedade, especialmente quanto a temas
presentes no Distrito Federal e em todos os estados como metodologia ágil, educação socioemocional,
do país. Conta com um contingente de vários mindfulness/atenção plena, design thinking e
profissionais, que desempenham atividades de empreendedorismo, fundamentais para a formação
gestão, supervisão, análise técnico-pedagógica, das pessoas no campo. Mais importante ainda,
mobilização e instrutoria, entre outras. buscamos oferecer contribuições para alicerçar o seu
papel como instrutor, reconhecendo que, ao oferecer
O docente do SENAR, a quem chamamos de as formações, você é o modelo para os participantes
instrutor, torna concretos os objetivos de ensino, das diversas ofertas formativas do SENAR – você
aprendizagem e avaliação, ministrando a formação ensina o que você é, muito mais do que as palavras
profissional e/ou a promoção social de pessoas que você disser. Sua presença incorporando os

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temas compartilhados é o que fica para as pessoas. período em sua vida, que não teria conseguido
Para as equipes técnico-pedagógicas, traz insumos superar se não tivesse… uma horta. Em sua
para que as programações planejadas tenham autobiografia, ele fala sobre como cultivar sua horta
sempre o foco educacional. o ajudou a manter a sanidade e as esperanças
e sobre como o cultivo tem a ver com propósito,
Também muito relevante é o fato de resiliência, generosidade e fé no futuro. Leia
estarmos caminhando para um modelo híbrido os trechos a seguir, escritos pelo próprio Nelson
de formação profissional rural. Reconhecemos Mandela.
que o desenvolvimento das novas tecnologias
da informação e comunicação tem servido a Quase no início da minha sentença na
diversas experiências pedagógicas inovadoras ilha Robben, pedi permissão das autoridades
e favorecido diretamente a aprendizagem. No para começar um jardim no pátio. Por anos,
entanto, ferramentas, plataformas, softwares e recusaram sem oferecer qualquer justificativa.
outros recursos por si sós não trazem nenhuma Mas por fim cederam, e pudemos cavar um
capacidade de inovação. Somente quando bem pequeno jardim em um pedaço de terra
empregados nas instituições de educação é que estreito, contra uma parede. O solo do pátio
se tornam importantes auxílios na construção do era seco e rochoso. Ele havia sido construído
conhecimento. sobre um terreno de rochas, e, para começar
meu jardim, tive que escavar uma grande
Neste documento, você encontrará subsídios quantidade delas para liberar espaço para as
para aprofundar sua compreensão sobre os plantas crescerem. Na época, alguns de meus
fundamentos do modelo de ensino híbrido e camaradas brincavam comigo dizendo que eu
subsídios sobre como aplicá-lo. São orientações era um ‘mineiro de coração’ porque gastava
fundamentais e sugestões, mas é claro que a sua meus dias e tempo livre cavando no pátio.
experiência em cada circunstância e contexto,
apoiada pela sua criatividade, será significativa As autoridades me cederam as sementes.
nos recursos utilizados em cada experiência de Eu inicialmente plantei tomates, pimentas
formação. e cebolas, plantas resistentes, que não
precisavam de um solo rico ou cuidados
Com esta nova edição, desejamos contribuir ainda constantes. As primeiras colheitas foram
mais para a unidade de ação pedagógica institucional pobres, mas logo melhoraram. As autoridades
no desenvolvimento dos cursos e programas da FPR não se arrependeram de me dar a permissão;
e da PS em todas as Administrações Regionais da uma vez que o jardim começou a florir,
instituição, alicerçadas na Metodologia de Ensino ofereci aos guardas alguns dos meus melhores
do SENAR. tomates e cebolas.

Embora eu sempre tenha gostado de


O cultivo da horta como o cultivo da vida jardinagem, só quando estive atrás das grades
é que pude cuidar de meu próprio jardim.
Você conhece Nelson Mandela? Não é exagero […] Comecei a pedir livros de jardinagem e
dizer que ele foi um dos líderes mais fortes e inspiradores horticultura. Estudei diferentes técnicas de
do mundo. De origem muito humilde, chegou à jardinagem e tipos de fertilizantes. Eu não
presidência da África do Sul e, por seus feitos na luta tinha muitos dos materiais dos quais os livros
contra o apartheid (negros não podiam frequentar os falavam, mas aprendi por ‘tentativa e erro’. Por
mesmos lugares que os brancos na África do Sul do um tempo, tentei cultivar amendoins, utilizei
século XX), recebeu um prêmio Nobel da Paz. diferentes solos e fertilizantes, mas, finalmente,
acabei desistindo. Foi um dos meus únicos
Por causa de sua militância por justiça social, insucessos. O jardim era uma das poucas coisas
passou anos preso. Foi um longo, solitário e difícil na prisão que eu podia controlar.

1
LEVENSTON, MIchael. Nelson Madela – Prisioner, Rooftop Food Gardener. City Farmer News, [s. l.], [20--?]. (Tradução nossa).
Disponível em: https://cityfarmer.info/nelson-mandela-prisoner-rooftop-food-gardener/. Acesso em: 2 abr. 2021.

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[…] que costumavam trazer bolsas para levar seus


A Bíblia nos diz que os jardins precederam vegetais frescos. Um jardim era uma das poucas
jardineiros, mas esse não foi o caso em coisas na prisão que se podia controlar. Plantar
Pollsmoor, onde eu cultivei um jardim que se uma semente, vê-la crescer, cuidar dela e depois
tornou uma das minhas mais felizes diversões. colhê-la ofereceu uma satisfação simples, mas
Era a minha maneira de escapar do mundo de duradoura. A sensação de ser o guardião desse
concreto monolítico que nos cercava. Poucas pequeno pedaço de terra oferecia um gostinho
semanas depois de examinar todo o espaço de liberdade. De certa forma, eu via o jardim
vazio que tínhamos no telhado do prédio e como uma metáfora para determinados
como ele era banhado de sol o dia todo, decidi aspectos da minha vida. Um líder também
começar um jardim e recebi permissão para deve cuidar de seu jardim; ele, também,
fazê-lo do oficial comandante. Todas as manhãs, planta sementes, e depois observa, cultiva
eu coloco um chapéu de palha e luvas ásperas e colhe os resultados. Como o jardineiro,
e trabalho no jardim por duas horas. Todos os um líder deve assumir a responsabilidade
domingos, eu fornecia vegetais para a cozinha pelo que cultiva; ele deve cuidar de
para que pudessem fazer uma refeição especial seu trabalho, tentar repelir inimigos,
para os prisioneiros da lei comum. Eu também preservar o que pode ser preservado, e
dei muito da minha colheita para os guardas, eliminar o que não frutifica.

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O SENAR e sua
identidade institucional
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1 – Parâmetros que alicerçam nossas ações

O SENAR é uma instituição relativamente recente, sobre a receita proveniente da comercialização


se comparada a outros serviços de aprendizagem, da produção rural. Vinculado à Confederação da
como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o SENAR é
(Senai) e o Serviço Nacional de Aprendizagem mantido pela classe patronal.
Comercial (Senac), que são da década de 1940. Criado
pela Lei nº 8.315/91, regulamentada pelo Decreto nº Embora adotando uma atuação descentralizada
566/92, o SENAR tem características semelhantes por meio das Administrações Regionais – e, com
às demais instituições do chamado Sistema S, mas isso, respeitando a autonomia das regionais e as
identidade própria e singular, finalidades claramente peculiaridades locais –, preconizamos uma unidade
definidas e autonomia para realizar estudos e em nossa ação educacional, por entendermos que
estabelecer prioridades com relação às nossas ações isso garante ações de Formação Profissional Rural
de FPR e atividades de PS. e atividades Promoção Social mais uniformes
e consistentes em termos nacionais, além de
Somos uma instituição de direito privado, sem fortalecer a identidade institucional.
fins lucrativos, constituída sob a forma de serviço
social autônomo. A principal fonte de custeio Realizamos nosso trabalho considerando os
para nossas ações é a contribuição incidente parâmetros a seguir.

Em nível internacional – as Em nível nacional – a legislação Em nível institucional – o


Recomendações da Organização educacional, do âmbito do Regimento do SENAR, as
Internacional do Trabalho (OIT) Ministério da Educação (MEC), normas internas e orientações
e do Centro Interamericano e a legislação que rege a metodológicas da Administração
para o Desenvolvimento do aprendizagem, do âmbito do Central, os planos estratégicos
Conhecimento na Formação Ministério da Economia, que – nacional e regionais – e as
Profissional (Cinterfor)3. embasam a estruturação de demandas de FPR e de PS do
cursos da chamada educação setor econômico do agronegócio.
formal, ou seja, regulamentados
por lei em termos de carga horária
e currículo mínimo estabelecidos

________________________________________________________
2
Tem como objetivos promover os direitos no trabalho, incentivar oportunidades de emprego decente, melhorar a proteção
social e fortalecer o diálogo sobre questões relacionadas com o trabalho.
3
Trabalha como extensão da OIT, atuando como observatório e disseminador de experiências positivas na formação profissional
realizada na América Latina, México e Caribe.

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Dentre esses parâmetros, os de âmbito princípios e diretrizes para cada uma das vertentes
institucional configuram nossa identidade de atuação.
institucional, tornando-a única e singular. Destaca-
se o atendimento às demandas do agronegócio
como essencial para mantermos sintonia com o Atenção! Relembre nossos
mercado de trabalho rural e alcançarmos nossa princípios e diretrizes no livro O
missão institucional. processo da Formação Profissional
Rural e Promoção Social para
2 – Vertentes de atuação: FPR, ATeG e PS instrutores, páginas 12 a 15.

O SENAR atua em Formação Profissional Rural


(FPR), Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) e Formação Profissional Rural (FPR)
Promoção Social (PS). Cada uma dessas vertentes
de atuação institucional tem identidade própria e Trata-se de um processo educativo, sistematizado,
finalidade ou propósito, complementando-se e inter- que se integra aos diferentes níveis e modalidades
relacionando-se no âmbito da formação integral do da educação e às dimensões do trabalho, da ciência
ser humano, buscando melhores condições de vida e da tecnologia, com o objetivo de desenvolver
em sociedade em termos não apenas de ganhos conhecimentos, habilidades e atitudes para a vida
econômicos, mas também de crescimento pessoal produtiva e social, atendendo às necessidades de
e coletivo. efetiva qualificação para o trabalho com perspectiva
de elevação da condição socioprofissional das
Considerando que nossa missão é realizar a pessoas.
Educação Profissional, a Assistência Técnica e
as atividades de Promoção Social, contribuindo Vale destacar que, no decorrer de nossa trajetória,
para um cenário de crescente desenvolvimento implementamos a FPR por meio de educação
da produção sustentável, da competitividade presencial, mas adotamos, também, alternativas
e de avanços sociais no campo, estabelecemos diferenciadas de desenvolvimento:

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• educação a distância: modalidade • ensino híbrido: uma abordagem à educação


educacional na qual a mediação didático- que combina o ensino tradicional presencial
pedagógica nos processos de ensino e com atividades on-line e oportunidades
aprendizagem ocorra com a utilização de meios de interação on-line. A aprendizagem
e tecnologias de informação e comunicação, híbrida está ajudando a mudar a maneira
com pessoal qualificado, com políticas de como pensamos sobre a educação e está
acesso, com acompanhamento e avaliação removendo muitas das barreiras que
compatíveis, entre outros, e desenvolva tradicionalmente existem. Não apenas
atividades educativas por estudantes e pode proporcionar aos participantes um
profissionais da educação que estejam em maior grau de flexibilidade e liberdade para
lugares e tempos diversos4. Esses cursos estão escolher como aprender, mas também pode
disponíveis no site http://ead.senar.org.br. expandir o acesso à educação.
_______________________________________________________________________________________________________________________

4
In: Decreto nº 9057, de 25 de maio de 2017, que regulamenta o art. 80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional.

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Fundamentos da
Educação
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1 – Conceito de educação
A educação moderna redundou em
completo malogro, por ter exagerado a
Educação não transforma o mundo. importância da técnica. Encarecendo-a em
Educação muda as pessoas. demasia, destruímos o homem. Desenvolvendo
Pessoas transformam o mundo. capacidades e eficiência, sem a compreensão da
Paulo Freire vida, sem uma percepção total dos movimentos
da mente e do desejo, nos tornaremos cada vez
mais cruéis, e isso significa fomentar guerras
O que é educação? Por que ela é capaz de e pôr em perigo nossa segurança física. O
transformar a vida das pessoas? O que ela pode exclusivo cultivo da técnica tem produzido
fazer pela sociedade? Partindo dessas perguntas, cientistas, matemáticos, construtores de
pode-se ter uma noção sobre como a educação pontes e conquistadores do espaço, mas não
é importante para o desenvolvimento de cada cidadãos éticos e solidários (KRISHNAMURTI,
indivíduo, da sociedade e do mundo como um todo. 1976, p. 16-17).

Há uma enorme variedade de definições existentes para explicar o que é educação, pois muitos autores e
pensadores já escreveram sobre o tema. Cada um deles escreveu em uma época, influenciado por condições sociais
e culturais diferentes, o que faz com que os conceitos sejam distintos. Eis alguns exemplos:

Processo que visa ao desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, através da aplicação de
métodos próprios, com o intuito de assegurar-lhe a integração social e a formação da cidadania.

A educação é um conjunto de elementos que mantêm entre si uma inter-relação funcional com um
propósito específico, pois ela, além de levar à pesquisa e à descoberta, acarreta mudanças, provocando
novos problemas que devem ser resolvidos, recomeçando o ciclo. Pesquisa, descoberta, mudança, homem
e sociedade. Podemos assim dizer que a educação realimenta todo o sistema social injetando na sociedade
novos problemas e novos resultados, recomeçando, assim, o ciclo, que cada vez mais leva o homem a
estudar, sendo assim um fenômeno próprio do ser humano (BUSCAGLIA apud SENAI, 2009, p. 9)5.

Educação é a transmissão e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas de uso, produção
e comportamento, mediante as quais um grupo de homens é capaz de satisfazer suas necessidades,
proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, de modo mais
ou menos ordenado e pacífico. Ao conjunto dessas técnicas se chama cultura, e uma sociedade humana
não pode sobreviver se sua cultura não for transmitida de geração para geração. A forma de realizar ou
garantir essa transmissão chama-se educação (ABBAGNANO, 2007)6.

Nos três exemplos acima, podemos observar pontos relevantes, tais como a educação como transmissão
da cultura, de geração a geração, e a educação como meio de integração individual e social. Aqui cabe refletir
também sobre o próprio conceito de cultura.

________________________________________________________________________
5
SENAI. Metodologia Senai para a formação profissional com base em competências: norteador da prática pedagógica. 3. ed.
Brasília-DF: Senai/DN, 2009.
6
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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CULTURA

1 AGR Ato, processo ou efeito de trabalhar a terra, a fim de


torná-la mais produtiva; cultivo, lavra.

2 AGR Ato de semear ou plantar vegetais.

3 AGR A área cultivada de um sítio. Leia o QR Code


com a câmera do
4 AGR Produção agrícola com técnicas especiais; cultivo. seu celular

5 BIOL Ato de cultivar células ou tecidos vivos numa solução com nutrientes,
em condições adequadas, a fim de realizar estudos científicos.

6 Criação de determinados animais.

7 ANTROP Conjunto de conhecimentos, costumes, crenças, padrões de


comportamento, adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam um
grupo social.

8 Conjunto de conhecimentos adquiridos, como experiências e instrução, que


levam ao desenvolvimento intelectual e ao aprimoramento espiritual; instrução,
sabedoria.

9 Requinte de hábitos e conduta, bem como apreciação crítica apurada7.

A questão da educação é complexa. Para contribuir para o progresso da sociedade em que


compreendê-la, precisamos ir além desses vive, baseando o desenvolvimento na participação
exemplos de definições e refletir mais sobre seu responsável dos indivíduos e das comunidades.
papel ou suas funções.
A educação influencia diretamente o indivíduo
No relatório para a Unesco sobre educação e a sociedade, que são interdependentes e se
para o século XXI, uma comissão internacional de complementam, não existe um sem o outro. Ou,
especialistas coordenada por Jacques Delors teve a como citado no relatório, ela se situa no coração
missão de repensar a educação do novo milênio, na do desenvolvimento tanto da pessoa como das
virada do século XX para o XXI. Para essa comissão, comunidades, cabendo-lhe a missão de fazer com que
um dos principais papéis da educação consiste em todos, sem exceção, façam frutificar os seus talentos
dotar a humanidade da capacidade de dominar o seu e potencialidades criativas, o que implica, por parte
próprio desenvolvimento. Ela deve ajudar a capacitar de cada um, a capacidade de se responsabilizar pela
cada pessoa a tomar o seu destino nas mãos e realização do seu projeto pessoal8.
________________________________________________________________________
7
Dicionário Michaelis. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=cultura. Acesso em: 27 set. 2021.
8
DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, Unesco, MEC, 1998. p. 16.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 17

Quer descobrir este tesouro?


Procure na internet por: “Educação: um tesouro a descobrir”, ou acesse
o QR code:
http://dhnet.org.br/dados/relatorios/a_pdf/r_unesco_educ_tesouro_
descobrir.pdf

Em qualquer sociedade e nos grupos que a compõem se podem observar os processos de ensinar e aprender.
A educação é responsável pela manutenção e perpetuação da sociedade por meio da transmissão, às gerações
que se seguem, dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um
membro no seu grupo ou sociedade.

Como processo de sociabilização, a educação acontece nos diversos espaços de convívio social, seja para
a adequação do indivíduo à sociedade, do indivíduo ao grupo ou dos grupos à sociedade. Como prática social,
a educação existe nas formas de:

Educação informal Educação formal Educação não formal


Tudo o que aprendemos Cursos regulamentados por De modo geral, são
ao longo da vida de legislação e reconhecidos experiências organizadas,
forma permanente e não pelo Ministério da que apresentam alguma
necessariamente estruturada, Educação (MEC), com os estrutura (pode ser um
principalmente através da requisitos de estrutura conteúdo programático, uma
socialização. Trata-se de formal: ementa, divisão metodologia, facilitação ou
aprendizados oriundos das por disciplinas, currículo, formas de avaliação) e não
experiências e interações organização em séries ou lidam com notas ou avanço
em ambientes diversos níveis gradativos, diploma de séries, por exemplo. Nela,
(amizades, vínculos familiares, e certificação. Ou seja, existem papéis e hierarquias
relações profissionais). Você a educação formal tem não muito rígidos, e a estrutura
já deve ter ouvido falar da a ver com a educação é muito mais flexível que na
chamada “escola da vida”! institucionalizada e é regida educação formal, adaptável ao
por normas e diretrizes. longo do processo.

No contexto do SENAR, a maioria das ofertas mas também age no sentido de transformá-la. Se a
formativas que compõem o Catálogo Nacional de sociedade hoje existe de determinada forma, ela é
FPR é sistematizada de acordo com a educação não resultante das ações das pessoas.
formal e reflete as necessidades do mercado de
trabalho elencadas por cada Administração Regional. A educação também é, ao mesmo tempo, um ato
social, cultural e individual. Como ato social, considera
Além disso, podemos abordar a educação sob um a sociedade um todo e cada meio social em particular,
olhar restrito ou amplo: restrito, quando trabalha determinando um ideal. Em todas as sociedades, a
individualmente a pessoa enquanto é criança, educação tem um componente homogeneizador,
jovem ou adulta; e amplo, quando considera a contribuindo para que todos os indivíduos tenham
pessoa inserida em um contexto social, levando em valores, crenças e normas de condutas semelhantes,
conta que a sociedade é o espaço para o exercício e um componente diferenciador, preparando
do trabalho, da liberdade, da transformação e da diferentemente os indivíduos para as diversas
realização. O indivíduo é moldado pela sociedade, necessidades da sociedade (distintas profissões).

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18 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Como ato cultural, a educação inclui todos os ela. Cada sociedade tem seus modos e
produtos da consciência e da interação coletiva conteúdos próprios de educação, diferentes
de determinada sociedade: a linguagem, a ciência de uma cultura para outra, necessários à
e a tecnologia, os valores, as crenças, as normas, vida e à reprodução da ordem de cada tipo
os hábitos, os costumes e as artes. O conteúdo da de sociedade em dado momento de sua
educação é, essencialmente, formado por esses história.
elementos da cultura de uma sociedade em dado • Função adaptadora – cumpre o objetivo de
momento de sua história e, portanto, depende da levar as pessoas a se adaptarem, quando o
situação em que se encontra e do que é valorizado rumo e a velocidade das mudanças do mundo
nesses momentos. moderno e globalizado exigem mais de cada
indivíduo e da sociedade em geral. Traz uma
Como ato individual, refere-se ao esforço dos constante atualização de conhecimentos,
próprios indivíduos para se apropriarem desses habilidades e atitudes para a melhor inserção
elementos que lhes servem para interpretar os na nova ordem socioeconômica, de forma
acontecimentos e orientar suas ações, com o crítica e consciente.
objetivo de aperfeiçoar a convivência, a mobilidade • Função transformadora – constitui um dos
social e a transformação dessa mesma sociedade. principais meios de realização da mudança
social. Deixa de ser vista como somente um
Portanto, discutir educação significa compreender compromisso da sociedade para com o indivíduo,
as relações recíprocas indivíduo-sociedade e suas passando a ser concebida como investimento
funções, descritas a seguir. no futuro. Possibilita tornar as pessoas agentes
de transformação, buscando garantir a evolução
• Função socializadora – consiste na social e econômica da sociedade em direção à
formação das pessoas na sociedade e para igualdade e à justiça social.

O PROCESSO EDUCATIVO

Gradual Deve ser construído, ou seja, um saber mais complexo exige conhecimentos prévios

Contínuo Inicia-se quando o indivíduo nasce, prolongando-se por toda a vida

Permanente Segue se reproduzindo em gerações sucessivas em uma sociedade

Compreendemos, então, que a educação está Dessa forma, ela tem impactos positivos tanto
associada aos aspectos pessoais, culturais, sociais na qualidade de vida das pessoas quanto no
e econômicos da vida dos indivíduos, do grupo, desenvolvimento econômico dos países e, desse
da comunidade e da sociedade, possibilitando ponto de vista, é considerada um investimento.
transformações na pessoa, modificando a Pesquisas como a realizada por Hanushek – professor
visão dela mesma e do mundo em que vive, da Universidade Stanford e doutor em Economia
capacitando-a a interagir com outras pessoas e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts
com a natureza para transformar a realidade em (MIT)9 – demonstram claramente os efeitos de um
que está inserida. bom ensino no crescimento econômico.

Podemos afirmar que a educação é um processo gradual, contínuo e permanente não só de adaptação,
mas também de transformação e evolução das pessoas inseridas em um contexto socioeconômico,
político e cultural, de forma a contribuírem para o progresso da sociedade em que vivem.

________________________________________________________________________
9
DHANUSHEK, Eric. In: Revista Veja. Ed. 2078, de 17/09/2008.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 19

2 – Os quatro pilares da educação – Relatório Jacques Delors

O Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI propõe que a
educação seja organizada em torno de quatro aprendizagens fundamentais ao longo da vida. Essas aprendizagens
serão os pilares do conhecimento e, dada sua interdependência, não podem ser consideradas de forma
estanque ou fragmentada pelas disciplinas escolares: aprender a conhecer, ou seja, adquirir os instrumentos da
compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio externo; aprender a conviver, a fim de participar
e cooperar com os outros; e aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes.

Aprender Aprender Aprender Aprender


a conhecer a fazer a conviver a ser
Indica o interesse, Mostra a Traz o desafio da Explicita a
a abertura para o coragem de convivência que apresenta importância da
conhecimento,que executar, de o respeito a todos e o aprendizagem
verdadeiramente correr riscos, de exercício de fraternidade integral: o papel
liberta da errar mesmo na como caminho do do cidadão e seu
ignorância. busca de acertar. entendimento. objetivo de viver.

Aprender a conhecer: adquirir os de fazer novos cursos e de ampliar conhecimentos,


instrumentos da compreensão fazendo-o perceber que o aumento do saber o leva a
compreender melhor o ambiente sob múltiplos aspectos
Aprendizagem que tem como finalidade o prazer e, com isso, a se tornar mais crítico e atualizado.
de compreender, de conhecer e de descobrir. Para isso,
a educação deve criar formas para que o adulto, após Enfim, para aprender a conhecer, antes de tudo,
concluir seus estudos, possa prosseguir com vontade o indivíduo deve aprender a aprender.

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20 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

DICAS PARA POTENCIALIZAR SEU DIA A DIA NOS ESTUDOS

A. Organize um ambiente limpo, agradável e, de preferência, silencioso. Esse será o seu local de estudos.

B. Procure criar o hábito da rotina, estudar sempre no mesmo lugar e no mesmo horário, se possível.
Quando notar, o hábito de dedicar algum tempo aos estudos se estabelecerá, e você poderá fazer isso
espontaneamente.

C. Evite distrações! Evite qualquer coisa que possa concorrer pela sua atenção nesse momento, como
celulares, TV, música etc.

D. Algumas pessoas preferem estudar escutando música, e tudo bem! Se for esse o seu caso, prefira músicas
mais calmas e instrumentais, pois as letras das músicas podem ser uma distração.

E. Ritmo! Esta é uma dica importante: não conseguimos sustentar a atenção por períodos de tempo
muito longos. A cada 25 ou trinta minutos, faça um breve intervalo de alguns poucos minutos para
tomar um café, ir ao banheiro, espreguiçar-se e alongar um pouco.

F. Qual a sua estratégia? Cada um aprende melhor de um jeito. Há quem goste de fazer resumos,
escrevendo ou reescrevendo o conteúdo de estudo com suas próprias palavras; há quem prefira
aprender ouvindo, gravando os conteúdos falados, escutando podcasts, fazendo pequenas
anotações. Enfim, é necessário “trabalhar” o conteúdo, transcrevendo-o, escutando-o, lendo-o, enfim,
manuseando-o de alguma maneira. Quando você só lê o que estuda, acaba retendo muito menos
informação do que poderia.

G. Desenhe, faça esquemas gráficos e resumos e tenha-os sempre à vista, fixando-os na parede do
quarto, do banheiro ou na geladeira, por exemplo.

H. Dê aulas a si mesmo. Finja que está dando uma aula a alguém em voz alta sobre o conteúdo de seu
interesse, pois esse é um excelente método para reter informações!

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 21

Aprender a fazer aponta-se para outros recursos: os saberes ou


os conhecimentos técnicos e tecnológicos que
Aprender a conhecer e aprender a fazer são embasam uma ação e as atitudes, os valores e os
indissociáveis. Aprender a fazer é um saber conhecimentos que estão no contexto dessa ação.
fundamental na educação profissional, mas não é o
único. Assim, não pode continuar a ter o significado Aprender a conviver
simples de preparar alguém para uma tarefa
material bem determinada, para fazê-lo participar na A educação deve trabalhar o aprendizado da
produção de alguma coisa. As aprendizagens devem convivência: ensinar a lidar com conflitos humanos
evoluir, não podem mais ser consideradas simples de forma a produzir mudanças, desde a simples
ideia de ensinar a aceitação da diversidade social
transmissão de práticas mais ou menos rotineiras,
e a convivência pacífica. Uma de suas missões é
embora estas continuem a ter um valor formativo
transmitir conhecimentos sobre a diversidade
importante.
da espécie humana e, assim, levar as pessoas
a tomarem consciência das semelhanças e da
O indivíduo aprende e põe em prática os seus interdependência de todos os seres do planeta.
conhecimentos. Dessa forma, aprender a fazer Reconhecer e legitimar as diferenças faz com que
não pode ser apenas ensinar o participante a nos tornemos mais amáveis, inclusive em relação
desempenhar funções que envolvam a habilidade a nós mesmos. Desenvolver essa atitude de
manual. Quando, nos dias de hoje, se diz que respeito e empatia assegura uma vida social mais
exercer uma profissão é mais do que saber fazer, harmônica.

A história do parafuso

A máquina da fábrica havia enguiçado, e foram chamados muitos mecânicos


para consertá-la. Todos passaram horas desmontando e remontando as peças,
mas nenhum foi capaz de encontrar o problema. Até que um mecânico muito
experiente foi chamado e, em menos de dez minutos, encontrou um parafuso
solto e fez o ajuste.

– O conserto fica em mil reais, por favor – disse ele ao encarregado.

– Mil reais!? Mas você só apertou um parafuso em menos de dez minutos!


Por favor, mande um orçamento com a discriminação dos custos de forma que
justifique esse valor, que eu apresento ao gerente para ver se ele aceita pagar.

Alguns dias depois, o encarregado recebeu um orçamento, que discriminava:

Serviços:

Apertar um parafuso: R$ 1,00


Saber qual parafuso apertar: R$ 999,00
(Estudei ao menos dez anos para saber qual parafuso apertar...)

O mecânico recebeu o pagamento.

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22 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Devem-se utilizar duas vias complementares: a coordenado por Edgar Faure. Essa ideia deu origem a
legitimação do outro e das diferenças e o diálogo para sucessivos estudos e, aos poucos, foi adotada pela maior
estabelecer uma agenda de projetos de interesses parte dos países. Desde então, vem sendo reiterada em
e valores comuns. Essas ações complementares documentos que norteiam os rumos da educação.
constroem, pouco a pouco, uma rede de apoio e
um senso de comunidade que facilitam muito a O pressuposto – tanto biológico quanto
resolução pacífica de conflitos em benefício do filosófico – de que o homem é um ser inacabado
interesse de todos. A educação socioemocional tem o leva a “aprender constantemente para sobreviver
papel decisivo nesses campos. e evoluir”.10 Pode-se afirmar que as consequências
desse postulado para a educação são inestimáveis,
A educação socioemocional, norteada por pois fez com que a instituição escolar deixasse
conceitos de habilidades sociais, capacidade de de ser vista como o único local de aprendizagem
expressão e escuta, manejo de emoções e resolução – ela ocorre em diferentes situações e lugares,
de conflitos, é um recurso fundamental para a boa compreendendo toda a sociedade.
convivência. Essas tecnologias de convivência são
fundamentais, pois só vive bem quem convive bem! Dessa forma, a educação ocorre ao longo de
toda a vida. Não se divide mais a vida humana em
Aprender a ser duas partes distintas: o tempo da aprendizagem (da
infância até a juventude) e o tempo da maturidade,
A educação deve contribuir para o em que se desfruta dos benefícios do aprendizado. O
desenvolvimento total do indivíduo: corpo, adulto continua aprendendo, na escola ou fora dela.
inteligência, sensibilidade, senso estético e
responsabilidade pessoal e profissional. Todos As instituições de formação profissional devem,
os seres humanos devem ser preparados, pela então, proporcionar oportunidades de aprendizagem
educação que recebem, para agir nas diferentes permanente – esta é definida na Recomendação
circunstâncias da vida. Para isso, cada um deverá ter 195/2004, da Organização Internacional do Trabalho
pensamentos autônomos e críticos. (OIT), como aquela que engloba todas as atividades
de aprendizagem realizadas ao longo da vida com
Essas aprendizagens ultrapassam a aquisição de o fim de desenvolver competências e qualificações.
informações e técnicas transmitidas pela educação
formal. Elas têm a ver com modos de ser no mundo. Cabe a essas instituições, e, portanto, ao
As práticas educativas que se comprometem com SENAR, oferecer a formação inicial e a formação
o ensino dessas formas de ser (mais empáticas, continuada, por meio de qualificações básicas,
tolerantes, curiosas, compreensivas, bondosas, críticas, complementadas por módulos integrantes
justas, cooperativas, felizes) compõem um todo de itinerários formativos, possibilitando novas
chamado educação socioemocional. Dentro delas, oportunidades de aprendizado e, assim, ampliando
destacam-se as práticas meditativas e o treinamento a capacitação profissional. Além disso, cumprem o
de atenção plena (mindfulness) como campos férteis papel de ofertar cursos de níveis mais elevados, como
para o desenvolvimento do autoconhecimento e o o técnico e o tecnológico, quando houver demanda,
reconhecimento da integralidade da experiência humana. ou cursos que proporcionem aperfeiçoamento,
atualização e especialização profissional, em
O ser humano deverá estar preparado para as quaisquer dos níveis de formação.
mudanças, no sentido de que toda a tecnologia
agora existente não o impeça de continuar 4 – Semelhanças e diferenças na educação infantil,
experimentando e descobrindo o novo. de jovens e adultos

3 – Educação escolar e educação ao longo da vida As propostas de ensino para jovens e adultos são
diferentes, em sua natureza, das atividades pedagógicas
A proposta de educação para todos ao longo da destinadas às crianças, embora as diretrizes e os
vida foi defendida no Relatório da Unesco de 1972, procedimentos se assemelhem em muitos aspectos.
________________________________________________________________________
10
FAURE, E. Aprender a ser. Lisboa: Bertrand, Difusão Europeia do Livro, 1974. p. 10.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 23

Destacamos como semelhanças: identificar as características que distinguem as


condições de aprendizagem de adultos e pautar a
• A aprendizagem é um processo gradual. ação docente por tais características.

• A atividade prática para a aquisição de Andragogia


conhecimentos é válida tanto para o
aprendizado de habilidades motoras
quanto das cognitivas. Especialmente no A Andragogia é a ciência e a arte que, sendo
meio rural, ela é a base do aprendizado parte da antropologia e estando imersa na
para crianças, jovens e adultos. Isso não educação permanente, desenvolve-se através
significa que essas semelhanças justificam de uma prática fundamentada nos princípios
a integração prematura de jovens ou da participação e da horizontalidade, cujo
crianças, efetivamente compondo a força de processo, orientado com características
trabalho familiar, de modo a serem privados sinérgicas pelo facilitador do aprendizado,
de seus direitos à educação, ao lazer e ao permite incrementar o pensamento, a
desenvolvimento saudável, garantidos por lei. autogestão, a qualidade de vida e a criatividade
do participante adulto, com o propósito de
• A importância da participação ativa no proporcionar uma oportunidade para que se
processo de aprendizagem. Tanto a criança atinja a autorrealização (ALCALÁ, 1999).
quanto o jovem e o adulto aprendem melhor
pela participação ativa.
Masetto (1992)11 aponta alguns princípios que
norteiam os processos de ensino e aprendizagem do
Exemplos de participação ativa
adulto e que podem propiciar condições para facilitar
a aprendizagem. Destacamos alguns deles a seguir.
· Fazer e responder perguntas

· Tomar notas, fazer registros, resumos, esquemas Participação – O processo de aprendizagem


de adultos ocorre pela troca de ideias, informações,
· Estudar temas de interesse próprio habilidades e experiências. Essa troca deve
englobar os instrutores da FPR ou da atividade da
· Resolver problemas PS e os participantes, os participantes entre si e
ambos com o ambiente.
· Trabalhar em equipe
Valorização da experiência e da contribuição
· Realizar pesquisas e apresentações dos participantes – No caso do adulto, o interesse
pelo aprendizado está diretamente ligado às
· Fazer estudos de caso
experiências por ele vivenciadas no seu cotidiano.
Sugerimos que você, instrutor, dê condições para
Já as diferenças relacionam-se com a bagagem que a experiência dos participantes seja aproveitada
cultural das crianças, dos jovens e dos adultos – como contribuição no desenvolvimento dos
os últimos, por suas vivências e conhecimentos, conteúdos estabelecidos nas ações/atividades.
têm maior capacidade de associação com o mundo
real. Outras diferenças referem-se aos interesses, Para uma aprendizagem significativa, é
necessidades e processo mental peculiares de fundamental apresentar o tema e os conteúdos da
cada faixa etária.Para que se possa desenvolver de aula com base nas dúvidas, questões, interesses e
forma eficiente o trabalho da FPR e da PS, é preciso exemplos trazidos pelos estudantes.

________________________________________________________________________
11
MASETTO, M. T. Aulas vivas. São Paulo: MG Editores Associados, 1992.

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COLABORATIVA

Forma-se uma comunidade de aprendizagem em que todos participam, têm voz e vez,
ensinam e aprendem uns com os outros. Para isso, deve-se estabelecer uma agenda
de interesses comuns dos alunos e criar grupos de trabalho em equipe para aprender
algo sobre eles. Assim, aprende-se, além do conteúdo, habilidades socioemocionais de
convivência, negociação, diálogo, planejamento e muitas outras.apresenta resultados.

ATIVA SIGNIFICATIVA

O aluno não é um mero receptor de Faz sentido para o aluno. Para que
conteúdo e participa ativamente do isso aconteça, a aprendizagem tem
processo de aprendizagem: responde de dialogar com seus contextos
a perguntas, faz perguntas, trabalha sociais, culturais, econômicos e
em equipe, resolve problemas reais, afetivos.
opina, apresenta resultados.

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Explicitação do significado – É de suma Desenvolvimento de um pensamento


importância a apreensão do significado da crítico – Uma vez que a FPR e a PS são processos
aprendizagem. Os conteúdos desenvolvidos educativos, devem propiciar oportunidades para que
precisam relacionar-se às vivências e experiências os participantes possam analisar criticamente suas
dos participantes das ações/atividades. Isso situações de trabalho, relações pessoais e perspectivas
permitirá que os participantes se sintam seguros sociais, na busca de alternativas que possam melhorar
para estabelecer paralelos entre os conteúdos suas condições como profissionais e cidadãos.
desenvolvidos e a prática vivenciada, para onde
serão revertidos os conhecimentos construídos, Estabelecimento de uma agenda comum/
levando-os a se sentirem estimulados a modificar objetivos em comum – No processo da FPR e da
o comportamento em relação ao outro e ao PS, é necessário estabelecer com os participantes
mundo. uma agenda comum.

Exposição clara dos objetivos – Os objetivos a Para tanto, você desenvolverá um equilíbrio entre
serem alcançados devem ser claros e fundamentar- a sua proposta e as necessidades e expectativas dos
se na identificação de necessidades, carências, participantes, por meio do diálogo. Nesse momento,
expectativas e interesses dos participantes. é oportuno esclarecer ao grupo aspectos sobre o
Esse aspecto é determinante no processo de desenvolvimento da ação/atividade e das exigências
aprendizagem do adulto. a serem cumpridas.

Criação de um sistema de retroalimentação/ Por fim, há que se considerar que a tendência do


retorno contínuo – O instrutor deve propor, como mundo educacional é tornar cada processo de ensino
parte dos processos de ensino e aprendizagem, um uma porta para novos conhecimentos. Você pode indicar
sistema que possibilite que ele e os participantes façam fontes e recursos para que os participantes busquem o
a avaliação do alcance dos objetivos estabelecidos, aprofundamento dos saberes, com novas informações
oferecendo comentários e considerações visando a e alternativas que ampliem suas possibilidades
ajustes e redirecionamentos. profissionais, sociais e econômicas.

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26 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Especificidades da
educação profissional
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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 27

1 – Educação, trabalho e formação profissional

desenvolvimento. Para a população que vivia no


Não devemos chamar o povo à escola campo, o cenário era outro. A ausência de uma
para receber instruções, postulados, consciência a respeito do valor da educação no
receitas, ameaças, repreensões processo de constituição da cidadania, ao lado de
e punições, mas para participar técnicas ultrapassadas de cultivo, que não exigiam
coletivamente da construção de dos trabalhadores rurais nenhuma preparação, nem
um saber, que vai além do saber de mesmo a alfabetização, contribuía para a ausência
pura experiência feito, que leve em de uma proposta de educação escolar voltada aos
conta as suas necessidades e o torne interesses dos camponeses.
instrumento de luta, possibilitando-
lhe transformar-se em sujeito de sua Os dados apresentados nas diretrizes citadas
própria história (GADOTTI, 1991).12 demonstram que a introdução da educação rural no
ordenamento jurídico brasileiro aconteceu somente
nas primeiras décadas do século XX, incorporando
A relação entre educação e trabalho, com a o intenso debate que se processava no seio da
passagem pelo mundo da educação para viabilizar sociedade a respeito da importância da educação
a entrada no mundo do trabalho, é um fenômeno para conter o movimento migratório e elevar a
recente, que se consolidou com a Revolução Industrial produtividade no campo.
do século XVIII. Como citado em documento do
Senac13, é perfeitamente compreensível essa ligação Gradativamente, as Constituições federais de 1937,
tardia entre educação e trabalho, considerando-se 1946 e 1967, bem como a regulamentação da formação
as relações sociais próprias da sociedade antiga e profissional pelas Leis Orgânicas15, vão aproximando
medieval, na qual o cultivo do conhecimento era os temas educação e trabalho, evidenciando a
privilégio das classes dominantes e o trabalho braçal relação entre eles e sinalizando a importância da
se destinava às pessoas escravizadas. educação profissional. No entanto, principalmente nas
proposições das Constituições citadas, podemos ver
O desenvolvimento capitalista implicou a relação que elas priorizavam o ensino industrial e comercial
entre educação e trabalho, pois as próprias características ao estabelecerem que as empresas comerciais e
do modo capitalista de produção criaram a necessidade industriais, excluindo-se, portanto, as agrícolas,
de formação do trabalhador. Isso aconteceu porque estavam obrigadas a ministrar, em cooperação,
esse modelo produtivo, além de requerer treinamento, aprendizagem aos seus trabalhadores menores.
qualificação, instrução ou formação mínima da linha de
produção, precisou contar com um quadro de gerência Já na Constituição de 1988 a educação é
e de supervisão bem preparado. tratada como direito de todos e dever do Estado,
transformando-se em direito público subjetivo,
Nesse contexto, é clara a diferença entre o independentemente de os cidadãos morarem
que ocorreu nos meios urbano e rural em nosso em áreas urbanas ou rurais. Os princípios e os
país, como citado nas diretrizes para a educação preceitos constitucionais da educação dizem
básica nas escolas do campo:14 a demanda por respeito a todos os níveis e modalidades de
educação escolar formal que foi se constituindo ensino ministrados em qualquer parte de nosso
vinha predominantemente das chamadas classes país. A relação entre educação e trabalho aparece
médias emergentes, que identificavam na educação claramente definida em seu art. 205, ao estabelecer
escolar um fator de ascensão social e de ingresso que a educação, direito de todos e dever do Estado
nas ocupações do processo de industrialização em e da família, será promovida e incentivada com a

________________________________________________________________________
12
GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. 2ª 2. ed.; São Paulo: Scipione, 1991. p. 16.
13
SENAC/DN. Referenciais para a educação profissional do Senac. Rio de Janeiro: SENACSenac/DFP/DI, 2004.
14
CNE/CEB – Parecer 36/2001. Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo.
15
A Lei Orgânica do Ensino Agrícola, objeto do Decreto-Lei 9.613/46, tinha como objetivo principal a preparação profissional para os
trabalhadores da agricultura.

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28 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

colaboração da sociedade, objetivando o pleno a criação do SENAR, mediante lei específica. A


desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o referida lei só viria a ser sancionada em 1991.
exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho. Considerar o trabalho um princípio educativo
significa dizer que o ser humano é produtor de
Com isso, apesar de não se referir direta sua realidade e, por isso, se apropria dela e pode
e especificamente ao ensino rural, o texto transformá-la. Equivale dizer, ainda, que somos
constitucional possibilitou às Constituições sujeitos de nossa história e de nossa realidade. O
Estaduais e à Lei de Diretrizes e Bases da Educação trabalho é o primeiro intermediário entre o homem
Nacional (LDB) o tratamento da educação rural e a realidade material e social. Constitui-se como
no âmbito do direito à igualdade e do respeito às prática econômica, porque nós garantimos nossa
diferenças. Além disso, estabelece, no art. 62 do existência produzindo riquezas e satisfazendo
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, necessidades (BRASIL, 2007).

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PARA O DESENVOLVIMENTO

Erik Erikson foi um dos mais importantes estudiosos do desenvolvimento humano.


Ficou famoso por sua teoria do desenvolvimento psicossocial, segundo a qual, para
nos desenvolvermos plenamente, temos de passar por oito estágios ou fases, cujas
crises previstas precisamos superar. Em duas dessas fases, a importância do trabalho é
fundamental: na 4ª e na 7ª fases.

Na 4ª fase de desenvolvimento, chamada de produtividade vs. inferioridade, que ocorre


por volta dos seis aos doze anos, a criança começa a se sentir uma pessoa trabalhadora,
capaz de produzir. Se esses sentimentos são estimulados, ela desenvolve um senso de
confiança, autonomia e iniciativa, que carregará para a vida adulta.

Na 7ª fase, chamada de generatividade vs. estagnação, que ocorre entre os 35 e


os sessenta anos, temos a necessidade de orientar a geração seguinte – é uma fase de
afirmação pessoal no trabalho e na família. Podemos ser produtivos em várias áreas. Existe
a preocupação com as gerações futuras, educando e criando os filhos. O que aprendemos
com isso é que, independentemente da idade, sem sermos e nos sentirmos produtivos de
alguma forma não podemos desenvolver todo o nosso potencial humano.16

Na sociedade moderna, a relação econômica vai se tornando fundamento da


profissionalização. Já sob a perspectiva da integração de trabalho, ciência e cultura, a
profissionalização se opõe à simples formação para o mercado de trabalho, pois ela
incorpora valores ético-políticos e conteúdos históricos e científicos que caracterizam a
práxis humana (BRASIL, 2007).

Assim, o trabalho não deve ser visto somente pelo viés econômico, mas considerando
os aspectos social e histórico como elementos de formação integral do ser humano. Daí
decorrem a importância e a responsabilidade social do SENAR, no contexto do desenvolvimento
do país, por meio da FPR e da PS de trabalhadores e produtores do campo.

________________________________________________________________________
16
HALL, C. et al. Teorias da personalidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 29

2 – Formação ou educação profissional?

No Brasil, o uso da expressão “formação diz respeito aos cursos superiores que formavam
profissional” é mais comum do que “educação para o desempenho de profissões.
profissional”. Isso se explica porque, por muito tempo,
incluindo as primeiras décadas do século XX, ela ficou Para as qualificações ao trabalho em geral,
associada ao conceito de “formação de mão de obra”, apenas uma minoria de trabalhadores precisava
reproduzindo uma oposição presente na sociedade desenvolver competências profissionais em níveis de
brasileira entre as “elites” e a maioria da população. maior complexidade. O monopólio do conhecimento
técnico e organizacional estava relegado aos
trabalhadores de nível gerencial. Não se considerava
A educação socioemocional representa uma a baixa escolaridade da massa trabalhadora um
inovação pedagógica que visa responder a esse entrave para o desenvolvimento econômico do país.
equívoco, formando não apenas “mão de obra
capacitada”, mas também cidadãos com mais Essa visão foi se modificando aos poucos, em
recursos para se desenvolverem integralmente, decorrência da criação ou da ampliação de redes de
vivendo e convivendo com dignidade, harmonia escolas profissionais e da demanda do mercado de
e possibilidades. trabalho, que passa a requerer perfis profissionais
diferentes daqueles formados em treinamentos
operacionais para uma produção em série e padronizada,
Assim, a formação profissional foi reservada, desde focada no desempenho de tarefas simples, rotineiras e
as suas origens, às classes menos favorecidas, àqueles previamente especificadas e delimitadas.
que necessitavam conseguir trabalho o mais rápido
possível e tinham pouco acesso à escolarização básica Antes, até mesmo a legislação educacional
regular. A visão de sociedade influenciou a identidade expressava a oposição entre a educação geral e a
da formação profissional, uma vez que a educação formação profissional. A nova Lei de Diretrizes e Bases
escolar regular era considerada desnecessária para a (LDB) da Educação Nacional trouxe um capítulo para
formação da mão de obra. abordar a formação para o trabalho, denominando-a
educação profissional, e deu um novo enfoque a essa
Essa separação entre educação escolar e modalidade de ensino. Apresentou-a como “integrada
formação profissional para o trabalho perdurou às diferentes formas de educação, ao trabalho, à
até meados do século passado, pois as atividades ciência e à tecnologia”, com o objetivo de conduzir
econômicas predominantes na sociedade brasileira “ao permanente desenvolvimento de aptidões para a
não exigiam educação básica regular, exceto no que vida produtiva” (art. 39).

APRENDIZAGEM - SERVIÇO

Lousa Comunidade

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30 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

LDB E FORMAÇÃO PARA O TRABALHO

Na LDB e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – as mais recentes diretrizes e


orientações para elaboração, desenvolvimento e avaliação de processos formais de educação
no país –, o protagonismo e a formação para o trabalho ganham destaque especial. Um dos
conceitos que orientam a formação para o trabalho é o de aprendizagem/serviço. Encoraja-
se, com base em problemas reais, a aplicação do que é aprendido com retornos positivos
para a comunidade, visando não apenas às tendências para o mercado de trabalho e a uma
reflexão sobre o mundo profissional, mas também ao desenvolvimento social. Isso ultrapassa a
aquisição de conhecimentos ou técnicas e envolve também planejar assumir responsabilidades,
desenvolver cidadania, cooperar, ser empático, criativo, sociável e crítico. Tudo isso a serviço de
um projeto de vida consistente, rumo ao desenvolvimento pessoal e comunitário. Encontrar
respostas educativas que satisfaçam as demandas desses documentos, ao passo que se
desenvolvem competências essenciais para os profissionais do século XXI, representa aumentar
as chances de uma vida digna, equilibrada, significativa e feliz.

Leia os QR Codes abaixo com a câmera do seu celular e obtenha mais informações.

LDB
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=12907:legislacoes&catid=70:legislacoes

BNCC
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf

APRENDIZAGEM-SERVIÇO
http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/metodologias_moran1.pdf

Atualmente, encontramos as duas expressões, da formação profissional. Compreende as atividades


“formação profissional” e “educação profissional”, que proporcionam às pessoas esclarecimentos sobre a
esta considerada mais abrangente. No fundo, tudo amplitude, as características, condições e tendências do
é educação. mercado de trabalho e as oportunidades de educação e
de emprego, para que desenvolvam atitudes adequadas
3 – Informação e Orientação Profissionais (IOP) em relação à escolha de uma ocupação.

O SENAR deverá promover a Informação e Orientação profissional – Componente do


Orientação Profissionais (IOP), com o objetivo de processo da formação profissional. Consiste nos
tornar mais eficaz o impacto socioeconômico das procedimentos utilizados para ajudar as pessoas a
ações da FPR. selecionarem uma profissão adequada, mediante
a análise crítica dos fatores que determinam as
Informação profissional – Componente do processo escolhas ocupacionais.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 31

É comum encontrar pessoas em permanente desejam ingressar no mercado de trabalho,


conflito por estarem “desperdiçando” seu tempo considerando-se as seguintes situações:
e sua vida com uma atividade profissional que
absolutamente não as satisfaz. Em geral, as raízes –– os que se preparam para ingressar no
dessas insatisfações para com o trabalho advêm, mercado de trabalho;
principalmente, de uma escolha profissional –– os que nunca frequentaram a escola;
malfeita. Assim, os recursos despendidos no –– os desempregados e os subempregados;
processo da FPR terão maior retorno quanto mais –– os que precisam mudar de profissão;
efetivo for o trabalho de IOP. –– os que carecem de ajustamentos
profissionais;
Sem querer fazer da IOP uma promessa para –– os que necessitam de orientação para o
resolver todos os problemas de desajustamento desenvolvimento de carreiras;
profissional, é importante, entretanto, admitir –– os que desempenham atividades sazonais;
sua contribuição para ampliar os horizontes do –– as pessoas com necessidades especiais e
indivíduo que se encontra em fase de opção por um deficiências;
determinado caminho profissional. –– os jovens aprendizes;
–– os aposentados por tempo de trabalho
1.1 – Objetivos ou por limitação física que desejam
desenvolver uma atividade;
• Oferecer esclarecimentos completos e
atualizados sobre as características e 1.2 – Processo de informação e orientação
tendências do mercado de trabalho, as profissionais
modalidades da educação profissional, a
natureza das ocupações e os requisitos O processo de IOP será constituído de séries
necessários ao seu eficiente desempenho, coordenadas de atividades a serem executadas
as oportunidades de emprego e de pelo SENAR, tendo em vista o cumprimento dos
formação profissional, as perspectivas de objetivos estabelecidos.
desenvolvimento de carreiras, o sistema
de remuneração e a legislação do trabalho. A orientação profissional assumirá a forma preventiva
ou corretiva, conforme se trate de prevenir ou corrigir
• Orientar as pessoas para a escolha escolhas ocupacionais não realistas que concorram
consciente e metódica de uma ocupação, para agravar os problemas de excesso ou carências no
de forma que possam obter, por mercado de trabalho, de migração ocupacional e de
intermédio do trabalho, elevados índices índices insatisfatórios de produtividade.
de realização pessoal e profissional.
1.3 – Inserção socioprofissional
• Assistir as pessoas nas mudanças de ocupação
e no desenvolvimento de carreiras, para que Compreende um conjunto de ações voltadas à
se adaptem a seus novos papéis ocupacionais. aproximação entre as instituições ofertantes de
educação profissional, os alunos, os empregadores
• Desenvolver a IOP ao longo de todos os níveis e as instituições de intermediação de mão de
da formação para o trabalho, apresentando obra vinculadas à relação de emprego e renda,
as opções de Itinerários Formativos e objetivando promover a empregabilidade e/ou
Profissionais, de forma contínua, em um oportunidades profissionais ao egresso.
sentido amplo e diversificado, para abranger
todos os ramos da atividade econômica rural. Deve abranger a relação das práticas profissionais
com o mundo do trabalho, o acompanhamento
• Facultar a IOP, em igualdade de condições, a egressos, a articulação entre instâncias e
a todas as pessoas, sem qualquer organizações vinculadas ao empreendedorismo
discriminação por motivos de raça, cor, individual, a economia solidária, as incubadoras, o
sexo, idade, religião, opinião política ou microcrédito produtivo orientado e demais políticas
origem social, aos que já participam ou vigentes de geração de emprego e renda.

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32 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Pressupostos gerais para


a prática pedagógica
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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 33

1 – Memória e processo de memorização

A memória e a memorização são elementos do e sim integrá-lo aos seus conhecimentos prévios,
processo de ensino-aprendizagem. Ao entender como organizando-os em conjuntos de “esquemas” ou
elas podem influenciar o êxito desse processo, você, “modelos” mentais úteis, que sejam importantes,
instrutor, pode escolher e utilizar diversas estratégias chamem a atenção e sejam úteis para quem aprende.
e estímulos sensoriais (visão, audição, tato etc.) que
propiciem a ativação das experiências anteriores do aluno, Isso acontece porque o adulto valoriza a
contribuindo para a aquisição de novos conhecimentos, compreensão de fenômenos e processos mais que
habilidades e atitudes. Alguns conteúdos, como os termos a simples retenção na memória. As explicações dos
e conceitos-base, requerem um esforço de memorização, fenômenos e as relações de causa-efeito têm grande
pois novos conhecimentos são posteriormente importância para ele, muito maior do que informações
construídos e articulados com base neles. isoladas e sem sentido pessoal ou prático.

Memória consiste na habilidade para reter ideias, Níveis de memória


sensações e impressões adquiridas anteriormente
e lembrá-las, tendo acesso a essas informações Memória sensorial – Envolve a apreensão de
sempre que necessário. Memorização é o processo sinais através dos órgãos dos sentidos (tato, paladar,
de acumulação de novos elementos de informação audição, olfato e visão), retendo as informações
na mente. adquiridas por um intervalo curto de tempo,
sem elaboração dessas informações em palavras,
sentimentos ou pensamentos.
Você sabia que as emoções têm a propriedade
muito especial de marcar eventos na memória?
Qualquer acontecimento vivenciado com uma
emoção forte o suficiente tende a ser lembrado
quase automaticamente. A palavra “recordar”
vem do latim recor, que significa “lembrar-se,
trazer à mente”, e de re, “de novo”, mais cor,
“coração” (para os romanos, o coração era
a sede da memória). Por isso, é importante
propiciar que os educandos sintam emoções
enquanto aprendem: o humor, o compartilhar
experiências pessoais, a surpresa, o avivamento
da curiosidade por meio de perguntas ou
mistérios, a contação de histórias... todas essas Quanto mais sentidos
são estratégias muito úteis!17 forem recrutados para uma
aprendizagem, maiores as
chances de se criarem esquemas
A capacidade de retenção na memória, como de memória duradouros!
processo físico-biológico, diminui à medida que
a idade avança. Por outro lado, a memória torna-
se mais seletiva e especializada no adulto. O ser Memória de trabalho – Seu conteúdo é
humano mais velho retém o que lhe interessa com informação ativada, ou seja, aquilo sobre o que
muito mais facilidade – ou seja, o conhecimento se está pensando no momento e que pode ser
que possui um significado prático ou emocional. recuperado ou utilizado para resolver problemas
sempre que necessário.
Em meio à grande quantidade de informações
que recebe diariamente, o adulto aprende com mais Memória de longo prazo – Envolve a
rapidez do que a criança aquilo que, para ele, tem valor capacidade de armazenagem permanente de
prático. Além disso, não é tão importante para o adulto conhecimento, resgatado e aplicado de acordo com
memorizar o novo conhecimento isoladamente, uma necessidade específica.
________________________________________________________________________
17
BISQUERRA, Rafael. Cómo educar las emociones? La inteligencia emocional en la infancia y la adolecencia. Barcelona: Hospital Sant
Joan de Déu, 2012.

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O bom funcionamento de cada um desses Retenção do conhecimento na memória


níveis de memória permite aplicar aquilo que é
memorizado aos problemas diários. Antes de ser trabalhado pela razão, o
conhecimento passa pelos sentidos. Essa
Tipos de Memória compreensão já aparecia na pedagogia de
Comenius, conforme citado por Haidt (2001),
Há diversos tipos de memória, de acordo que afirmava: “Associe-se sempre o ouvido à
com as experiências que são construídas por ela. vista, a língua à mão, ou seja, não apenas se
Apresentamos alguns exemplos a seguir. narre aquilo que se quer fazer aprender, para
que chegue aos ouvidos, mas represente-se
• Memória automática – Relaciona-se também graficamente, para que se imprima na
com informações usadas diariamente, imaginação por intermédio dos olhos”.18
por exemplo, os números de telefone,
tendo como base a repetição. Essa citação expressa a importância dos
órgãos dos sentidos no processo de memorização
• Memória afetiva – Relaciona-se com a e de aprendizagem. Isso não significa, claro,
importância com que as experiências foram que a deficiência em um ou mais dos sentidos
vivenciadas, tendo como base a associação. comprometa a capacidade da aprendizagem. O
quadro a seguir, fruto de pesquisa de Socony-
• Memória cognitiva – Relaciona-se com a Vacuum Oil Co. Studies, apresenta a porcentagem
interligação de conhecimentos e a construção de retenção na memória, de acordo com os órgãos
de redes, tendo como base a compreensão. dos sentidos.19

RETENÇÃO NA MEMÓRIA DE ACORDO COM OS ÓRGÃOS DOS SENTIDOS


COMO APRENDEMOS
1% através do paladar
1,5% através do tato
3,5% através do olfato
11% através da audição
83% através da visão
PORCENTAGENS DOS DADOS RETIDOS PELOS ESTUDANTES
10% do que leem
20% do que escutam
30% do que veem
50% do que veem e escutam
70% do que dizem e discutem
90% do que dizem e logo realizam
MÉTODO DE ENSINO DADOS RETIDOS DEPOIS DADOS RETIDOS DEPOIS
Somente oral 70% 10%
Somente visual 72% 20%
Oral e visual simultaneamente 85% 65%
________________________________________________________________________
18
HAIDT, R. C. C. Curso de Didática Geral. São Paulo: Ática, 2001.
19
FERREIRA, O. M. C.; JÚNIOR, P. D. S. Recursos audiovisuais no processo ensino-aprendizagem. São Paulo: EPU, 1986,. p. 5.

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Formas e processos de pensameno no adulto

A forma pela qual o indivíduo pensa está relacionada com o seu processo de aprendizagem. No adulto que
se encontra vinculado a um processo produtivo desde criança, como é o caso do trabalhador rural, o processo
de trabalho vai constituindo e reforçando uma forma de pensamento que se torna cada vez mais concreta. Esta,
por sua vez, influi sobre a maneira pela qual ele adquire novos conhecimentos.
Portanto, os programas educativos para adultos, sobretudo os que estão orientados para pessoas do meio rural,
devem considerar as características da estrutura lógica do seu pensamento, que parte sempre:

O ritmo de aprendizagem do adulto decorrerá do seu nível de desenvolvimento, fruto das suas experiências,
bem como da forma pela qual os conteúdos forem apresentados. Os recursos e técnicas instrucionais destinados
à aprendizagem de adultos devem ser diversificados, privilegiando as experiências concretas, para favorecer o
envolvimento do participante no processo de ensino.

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2 - Motivação da aprendizagem Estudiosos das áreas de administração, psicologia


e sociologia, entre outras áreas do conhecimento,
A intenção de aprender, principalmente para buscam compreender esse processo psicológico
o adulto, está profundamente ligada ao desejar e básico da motivação tendo em vista estimular
entender a finalidade do que se aprende. Considerando pessoas motivadas com seu trabalho, sua equipe e,
que cada pessoa é única e diferente das demais, atribuir acima de tudo, com a organização a que pertencem.
significados e sentidos pessoais ao que se aprende,
que dialoguem com as ambições e desejos do aluno, De acordo com Bueno (2002), a motivação é
torna possível enfrentar dificuldades como acordar de “como uma energia, uma tensão, uma força, ou ainda,
madrugada para pegar o caminhão que leva até a beira um impulso interno aos indivíduos. Sobretudo, o que
da estrada onde passa o transporte escolar, que fará é relevante considerar é que a motivação é interior
o percurso restante de mais duas horas até a escola. a cada indivíduo e leva-o a agir espontaneamente
Perseguir a solução para a praga que assola a lavoura para alcançar determinado objetivo”.
ou a cura para a febre maculosa em sua criação envolve
processos conscientes e inconscientes profundos e Já segundo Chiavenato (2000, apud SILVA,
pessoais relacionados ao desejo de sobrevivência, de 2006, p. 36), o ciclo motivacional, ocorre conforme a
responsabilidade pelo sustento, de mudança ou de sequência indicada no esquema a seguir.
esperança por melhores oportunidades.

Toda experiência prática de ensino-


aprendizagem que pretende ser bem-sucedida deve
considerar fatores como a valorização do esforço, a
autoimagem, os desejos pessoais e comunitários,
enfim, os motivos que levam à ação. A identificação
e a celebração de pequenas conquistas e avanços
nesse processo, tanto no âmbito pessoal quanto
no profissional e social, também são motivadores
poderosos da aprendizagem.

Por isso é tão importante discutir o que significa


motivação e quais os comportamentos individuais
que regem a conduta humana para aplicá-los em
quaisquer processos de inter-relação, especialmente
nos de ensino-aprendizagem.
Na visão do autor, a motivação tem um
Disciplina positiva e clima emocional que funcionamento cíclico. Todo organismo busca um
favorecem a aprendizagem estado de equilíbrio. Então surge um estímulo ou
incentivo, produzindo uma necessidade. Enquanto
Há muitos fatores emocionais que podem favorecer a necessidade não é satisfeita, há uma tensão no
ou dificultar a motivação e a aprendizagem. Um clima organismo. Então se adota um comportamento
emocional positivo, em que as pessoas mantenham boas em busca de resolver essa tensão. Se ocorrer a
relações, de cordialidade, respeito, amizade, confiança e satisfação dessa necessidade, o organismo entra
humor, é mais relevante para a aprendizagem do que em equilíbrio interno novamente.
outros fatores, como a estrutura do ambiente físico, a
didática do instrutor ou as dificuldades individuais dos O ciclo motivacional nem sempre alcança a
alunos. Estratégias ultrapassadas de ensino que utilizem satisfação – pode ser que ocorra uma frustração
medo, culpa ou vergonha como forma de coerção se ou mesmo uma compensação da necessidade.
mostram desmotivadoras, pois afastam o aluno da No caso da frustração da necessidade, o estado
preciosa alegria de aprender e de qualquer boa vontade de tensão contínua, gerando uma série de
para fazê-lo. consequências, como a ansiedade, por exemplo. Já
________________________________________________________________________
20
CASASSUS, Juan. Fundamentos da educação emocional. Brasília: Liber Livro Editora, 2009.

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a compensação é como se fosse uma recompensa Maslow define um conjunto de cinco


alternativa – não se consegue suprir a necessidade necessidades descritas na pirâmide.
inicial, mas se conquista algum outro objetivo em
seu lugar. 1. Necessidades fisiológicas (básicas), tais como
a fome, a sede, o sono, o sexo, a excreção.
O ciclo motivacional, com frustração ou
compensação, é exposto conforme se segue: 2. Necessidades de segurança, que vão da
simples necessidade de sentir-se seguro
dentro de uma casa a formas mais
elaboradas de segurança, como um emprego.

3. Necessidades sociais, ou seja, de


amor, afeto, afeição e sentimentos
tais como os de pertencer a um
grupo ou fazer parte de um clube.

4. Necessidades de estima, que passam por


duas vertentes: o reconhecimento das nossas
capacidades pessoais e o reconhecimento
dos outros em face da nossa capacidade de
adequação às funções que desempenhamos.

5. Necessidades de autorrealização, em que o


Abraham Maslow, por sua vez, propôs uma indivíduo procura tornar-se aquilo que ele
divisão hierárquica de necessidades, conhecida pode ser, sendo verdadeiro com sua própria
como Pirâmide de Maslow, em que os indivíduos natureza. É nesse último patamar da pirâmide
escalam as de nível mais baixo antes das de nível que Maslow considera que a pessoa tem de
mais alto para alcançar a sua autorrealização. ser coerente com aquilo que é na realidade.

PIRÂMIDE DE MASLOW

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Interpretada ao “pé da letra”, a pirâmide de de o indivíduo lidar com problemas, superar


Maslow mostra que, para chegar ao topo, é obstáculos ou resistir à pressão em situações
necessário passar pelas partes mais baixas. No adversas – choque, estresse etc. – mantendo os
entanto, sabe-se que há indivíduos que chegam recursos psicológicos para encontrar soluções e
à autorrealização sem passar por todas as traçar novos caminhos.
etapas da pirâmide, assim como há indivíduos
que estão realizados, mas sentem que ainda A ÁRVORE DA VIDA, dinâmica para cultivar e
falta algo ou alguma coisa. Nesse sentido, compartilhar recursos e propósitos
a personalidade e o meio social individuais
influenciam cada um. Para honrar a história e as necessidades dos
participantes, cultivando seus próprios recursos e
As necessidades estudadas por Maslow são esperanças, plante algumas árvores da vida. Convide
universais. Isso quer dizer que todos os seres os participantes a desenhar ou fazer colagens em
humanos precisam supri-las para se manterem um papel grande, de forma a criar uma árvore.
vivos e saudáveis. Contudo, cada um experimenta Nela, cada parte corresponde a algo especial, e os
essas necessidades em intensidades diferentes e participantes podem se beneficiar coletivamente do
tem estratégias ou métodos únicos para satisfazê- compartilhamento desses cultivos individuais.
las. Se cada um vivencia suas necessidades de
formas diferentes, suas motivações também são - Raízes da Árvore, Herança: de onde vêm
diferentes. (bairro, cidade, país); a história de suas famílias
(origens, nome de família, ancestrais, família
É mais realista dizer que, em vez de extensa); aqueles que lhes ensinaram a maioria das
motivar outras pessoas, podemos conhecer coisas; seu lugar favorito em casa; e uma música ou
as necessidades delas a fim de criar as dança do seu lugar de origem.
condições para que se sintam motivadas. Isso é
fundamental para a persistência requerida em - Terreno, o Presente: o chão representa o lugar
toda aprendizagem. onde vive no momento; e algumas atividades diárias
que fazem parte de sua rotina.
No caso da aprendizagem oferecida pelo
SENAR, qual a necessidade ou motivação do - Tronco da Árvore: Capacidades, Habilidades,
participante? Devemos estar aptos a identificá- Valores. Oportunidade para falarem sobre algumas
las para partir delas e criar as condições, de suas capacidades, habilidades e/ou valores e
proporcionar o ambiente de trabalho e determinar representá-los em desenhos. Isso inclui: capacidades
as tarefas que lhes permitam satisfazê-las. Essas que ficaram visíveis quando o participante falava
necessidades podem ser as mais variadas, como sobre sua rotina ou as que demonstrou ter em
aumentar sua rentabilidade ou produtividade, outros aspectos de sua vida. Em alguns contextos,
melhorar a gestão de sua propriedade, melhorar- perguntar às pessoas sobre suas próprias
se como pessoa etc. capacidades e habilidades pode ser inútil – pode
ser um contexto em que capacidades e habilidades
Também é fundamental se lembrar da geralmente não são vistas como características
sua motivação como instrutor, que podemos individuais, ou pode não ser apropriado “falar de
inserir em um conceito psicológico chamado si mesmo” na frente de outros, ou pode ser ainda
resiliência humana, definido como a capacidade que as capacidades e habilidades não sejam visíveis

________________________________________________________________________
21
DENBOROUGH, D. Collective Narrative Practice: Responding to individuals, groups and communities who have experienced hardship.
Adelaide: Dulwich Centre Publications, 2008.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 39

para a própria pessoa. Nessas circunstâncias, Se, em qualquer momento durante esse processo,
existe um elenco de opções para os facilitadores. o participante se referir a pessoas que já morreram
Primeiramente, deve ser muito mais fácil para o demonstrando tristeza, o instrutor poderá fazer
participante identificar habilidades e capacidades as seguintes perguntas: • Você passou momentos
dos outros do que as suas próprias. Pode-se pedir agradáveis com ela? • O que ela tinha de especial para
aos participantes que troquem sugestões entre si e você? • Essa pessoa gostaria que você se lembrasse
escolham, dentre essas sugestões, quais gostariam dela desse modo? Essas perguntas convidam a
de incluir no tronco da sua árvore. Em segundo contar histórias sobre o que foi importante no
lugar, pode ser mais apropriado que capacidades relacionamento com essa pessoa, o que contribui
e habilidades coletivas sejam listadas no tronco para honrar essa relação. Também poderá conduzir
– podem ser habilidades demonstradas pelo a histórias sobre como o participante continua a
participante em conjunto com outros, capacidade pensar nos que já morreram e a lembrar-se deles. É
de trabalho em grupo e assim por diante. Em possível incluir animais de estimação e personagens
terceiro lugar, é possível pedir aos participantes que de ficção nas folhas da árvore.
falem não apenas sobre capacidades e habilidades,
mas também sobre valores que são importantes - Frutos: Presentes Recebidos: os frutos
para eles ou qualidades que gostariam de ter na representam presentes que receberam. Não
vida. Esses valores e qualidades podem ser gravados precisam ser presentes materiais, podendo ser
no tronco da árvore. A história de sua relação com também demonstrações de carinho, cuidado ou
tais valores ou qualidades pode também, de alguma amor. O instrutor poderá perguntar: • Por que acha
forma, ser rastreada e registrada no tronco. que essa pessoa lhe deu isso? • O que gostaram em
você que a levou a fazer isso? • Como você acha que
- Galhos da Árvore: Expectativas e Sonhos: contribuiu para sua vida?
os galhos da árvore representam expectativas,
sonhos e desejos que o participante tem na vida. - Sementes e Flores: Contribuições do
Enquanto desenham os galhos, os instrutores Participante: as sementes ou flores da árvore
podem fazer perguntas para conhecer a história de são também um estímulo para os participantes
tais expectativas, desejos e sonhos e entender como pensarem sobre as contribuições ou presentes que
se conectam com pessoas significativas da vida do gostariam de oferecer aos outros no futuro.
participante em sua casa. Quando o facilitador
souber ouvir desde quando essas expectativas e O ato de responsabilizar-se por uma tarefa, por
desejos estão presentes na vida do participante, meio de empenho e esforço próprios, em busca de
poderá também perguntar como ele conseguiu um trabalho de qualidade, é a expressão maior da
manter tais sonhos e o que sustentou suas motivação humana. No caso específico do adulto,
esperanças. Também é possível perguntar quais são não podemos assumir que ele esteja motivado a
as suas esperanças para a vida de crianças, jovens, aprender quando ingressa em determinada ação
adultos e para a sua comunidade. educativa. Para Gagné (1996), uma variedade de
fatores relacionados às experiências prévias do
- Folhas da Árvore: Pessoas Especiais na Vida: aprendiz e até mesmo a situações instrucionais
as folhas da árvore representam pessoas que são vivenciadas anteriormente pode afetar o seu grau
importantes para o participante. O instrutor deve de motivação e a forma pela qual ela se expressa
deixar claro que podem ser pessoas vivas ou que já no comportamento de esforço da pessoa, durante e
morreram – só porque morreram não quer dizer que após tal situação.
ainda não possam ser muito importantes para nós. O
facilitador pode perguntar por que essas pessoas em A motivação do indivíduo pode ser extrínseca ou
particular são as mais especiais para o participante. intrínseca, o que vai influenciar a aprendizagem.

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pode ser altamente desmotivador, e as técnicas


A motivação intrínseca diz respeito a de atenção plena fortalecem a capacidade de
fatores inerentes ao aprendiz (a necessidade concentração das pessoas.
de ser competente e a busca por desafios,
por exemplo); já as recompensas aplicadas
Outro fator relacionado à motivação é a
externamente (o reconhecimento de
terceiros pelo seu trabalho ou do instrutor em curiosidade, o desejo de conhecer mais, a procura
atividades pertencentes ao processo ensino- de novas experiências e a exploração de estímulos.
aprendizagem, por exemplo) constituem a Para ajudar a desenvolver a curiosidade no processo
motivação extrínseca. Vários autores fazem educativo, o instrutor pode lançar mão de maneiras
a correlação de motivação intrínseca a metas de revitalizar os conteúdos técnicos por meio
internas ou metas de aprendizagem e de
de histórias, elementos emotivos e situações
motivação extrínseca a metas externas ou de
pessoais e profissionais que despertem o interesse
rendimento.
em saber mais, ou seja, a curiosidade do aprendiz.

A utilização e a apresentação de objetivos


Nesse âmbito, a motivação intrínseca costuma
desafiadores, claros em suas intenções, mas
ser mais efetiva e durável, e, dessa forma, é
alcançáveis, são também um aspecto que alavanca
importante que o adulto se esforce em adquirir
a motivação do aprendiz, assim como a autonomia
novos conhecimentos e habilidades. No entanto,
no ambiente de aprendizagem, com liberdade para:
ações externas de motivação provenientes do
instrutor podem ser desenvolvidas na busca de
• escolher seus próprios projetos de trabalho;
melhores resultados para os participantes das ações
• selecionar seus parceiros de grupo;
de FPR e das atividades de PS.
• expor sugestões de aprimoramento do processo
educativo, quando percebida a necessidade.
Outro aspecto relativo à motivação e que
repercute no comportamento do indivíduo é
Outras formas de motivação são as experiências
o sentimento que ele tem de autoeficácia.
indiretas. Quando o aprendiz vê uma pessoa
Pessoas que acreditam que o sucesso se deve
como ele tendo sucesso em uma tarefa, torna-
principalmente a sua própria iniciativa, esforço e
se mais propenso a acreditar que pode fazer tão
habilidade apresentam, geralmente, motivação
bem quanto o outro. Igualmente, o incentivo ou a
interna maior que pessoas que acreditam mais no
persuasão verbal de pares e do instrutor afetam a
sucesso como produto da sorte e de circunstâncias
motivação. Expressões como “eu sei que você pode
externas ou provocadas por outras pessoas. Estas,
fazer!” ou “você pode fazer ainda melhor!” reforçam
quando participam de ações educativas, geralmente
o empenho e a determinação do aprendiz.
necessitam de doses maiores de motivação externa.

A participação do adulto no processo


Nesse sentido, estratégias relacionadas ao
educativo também se faz fundamental para sua
treino e ao desenvolvimento da capacidade de
motivação. Ela é um direito, e não uma concessão
atenção, como as técnicas de mindfulness, podem
feita pelo instrutor, o que lhe daria caráter
ser extremamente relevantes. Atualmente, as
impositivo e externo, podendo levar o adulto a não
pessoas vivem um contexto que treina a distração,
perceber que o novo conhecimento tem a ver com
sobrecarregadas de estímulos sensoriais, como é
as condições concretas de sua vida.
o caso das redes sociais nos smartphones, o estilo
de edição de vídeo nas propagandas e filmes na
As bases do processo de aprendizagem do adulto
televisão etc. Deparar-se com a dificuldade de se
são a sua experiência pessoal e as condições
concentrar em tarefas simples que exijam atenção
externas oferecidas para que ele possa se

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desenvolver e aprender a aprender. Ao compreender as processo educativo, sua autoimagem nunca deve
possibilidades de transformar as condições concretas ser desmerecida, e sim preservada e melhorada.
de sua existência, o adulto se motiva e se interessa
pelo novo conhecimento. Sua memória passa a atuar A maneira pela qual qualquer indivíduo adulto
seletivamente, permitindo que o conhecimento vê a si mesmo diante da sociedade se forma com
adquira uma força que dinamiza sua ação. base nos papéis que ele desempenha, no valor das
atividades produtivas que ele realiza e na valorização
A autoimagem no processo educativo atribuída ao seu trabalho e às suas experiências
de vida acumuladas. Devemos valorizar essa
Todo adulto forma uma imagem de si próprio experiência acumulada, propiciando a percepção de
calcada em suas experiências, o que lhe dá um que as novas informações, se integradas às que já
padrão de comportamento acerca do qual ele está possui, poderão trazer ganhos em suas atividades
seguro de que é correto e o melhor possível. No socioeconômicas produtivas.

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42 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Referenciais metodológicos
para a prática pedagógica

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 43

1 – Teoria e prática ou prática e teoria?


A educação deve priorizar a aquisição de
Nos processos de ensino-aprendizagem, o que competências mais do que as informações
vem primeiro, a teoria ou a prática? Costumamos isoladas. Competências são um conjunto de
pensar que a teoria vem antes da prática, de modo conhecimentos, capacidades, comportamentos
que os conhecimentos ou fundamentos técnicos e e atitudes que permitem resolver problemas.
científicos formem a base para a ação prática, mas
isso é um mito. No SENAR, a sala de aula não se reduz ao
ambiente tradicional, acrescido de oficinas
A relação entre teoria e prática tem mais para as aulas práticas ou de laboratórios de
importância do que a ordem em que são ensaios técnicos e tecnológicos. Consideramos
desenvolvidas. Um ensinamento pode começar que o curral, o pasto e a plantação muitas
com a demonstração e o exercício prático e, vezes se tornam o ambiente de ensino e de
simultaneamente ou na sequência, partir para os aprendizagem. Isso amplia os horizontes da
conhecimentos e fundamentos que embasam essa educação rural, contribuindo para o que se chama
atividade profissional. Nos dias de hoje, em que já contextualização. No entanto, as aulas podem ser
superamos o tempo em que o trabalhador realizava desenvolvidas em ambiente real de trabalho, mas,
tarefas compartimentadas e repetitivas, restritas a um naquele momento, a situação é de aprendizagem.
posto de trabalho, o mais importante é o participante
saber por que, como e para que realiza a prática.
desenvolvida e das características de sua clientela
A própria legislação educacional vigente afirma naquele momento.
que não há dissociação entre teoria e prática.
Ela aponta que o ensino deve contextualizar 2 – Mediação da aprendizagem
competências visando à ação profissional. A
prática consiste em uma metodologia de ensino O que significa mediação da aprendizagem?
que contextualiza e põe em ação o aprendizado. Segundo Meier e Garcia , é um tipo especial de
A avaliação, da mesma forma, deve estabelecer interação entre alguém que ensina (o mediador) e
relações entre teoria e prática, em vez de enfocar alguém que aprende (o mediado)22. Essa interação
aspectos isolados e desvinculados. deve ser caracterizada por uma interposição
intencional e planejada do mediador que intervém,
Além disso, o saber-fazer é um saber fundamental organizando da forma mais proveitosa possível a
na educação profissional. É pela valorização ao apresentação e a interação das fontes externas de
saber-fazer que, no SENAR, usamos a expressão estímulos, exemplos e informações a que o aprendiz
“aprender a fazer fazendo”, o que não significa tem acesso.
desconsiderar os demais saberes, ou seja, o saber
(conhecimentos) e o saber-ser e conviver (atitudes Nesse sentido, é preciso considerar que a mediação
e valores). Exercer uma atividade profissional da aprendizagem parte do pressuposto de que toda
requer mais do que o saber-fazer – exige, situação educativa deve levar em conta três elementos:
também, os conhecimentos e fundamentos
técnicos e científicos que embasam a ação • o mediador, no caso do SENAR, geralmente é
prática e as atitudes e valores inerentes a ela. o instrutor;
Na educação profissional, esses saberes devem • o “mediado”, que é o aluno ou participante; e
estar presentes no desenvolvimento curricular de • a situação criada pela interação entre eles.
forma integrada ou, no mínimo, relacionada.
A mediação da aprendizagem depende, sobretudo,
Você, instrutor, tem flexibilidade para desenvolver da qualidade da interação entre mediador e mediado.
sua aula da forma que considerar mais adequada ao Por ser um processo dialógico, que utiliza a pergunta
conteúdo a ser ministrado, iniciando pela prática ou como ferramenta fundamental, ela não se limita aos
pela teoria, dependendo do tipo de atividade a ser conteúdos e aos resultados que o aluno alcança, pois
________________________________________________________________________
22
MEIER, Marcos; GARCIA, Sandra. Mediação da aprendizagem: contribuições de Feuerstein e de Vygotsky. Curitiba: Kapok, 2007

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44 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

não se privilegia a aprendizagem por conteúdos, e sim A melhor regulação da ansiedade pode ser
o desenvolvimento de competências. As perguntas, desenvolvida por meio de técnicas de atenção
adequadamente formuladas, asseguram a condução plena (mindfulness). São práticas simples e
do processo de lidar com o novo, provocando a profundas que auxiliam as pessoas a alicerçarem
curiosidade e o interesse necessários para sustentar a atenção no momento presente, em vez de se
níveis mais abstratos de pensamento. distraírem constantemente em projeções de futuro
– relacionadas à ansiedade – e em ruminações do
Para a solução de situações desafiadoras pelos passado – que podem levar a estados depressivos.
alunos, as perguntas precisam:
A confiança no instrutor, por sua vez, estabelece-
• ajudar a decodificar informações; se observando os critérios de mediação que,
• definir quais são os problemas a serem segundo Feuerstein24, por serem universais,
resolvidos; precisam estar presentes na interação entre
• analisar; instrutor e participante: a intencionalidade, a
• realizar inferências; reciprocidade, o significado e a transcendência. A
• comparar; intencionalidade e a reciprocidade são consideradas
• levantar hipóteses; básicas para a aprendizagem mediada, devendo
• classificar; estar sempre associadas.
• definir regras e princípios; e
• transferir aprendizagens com o • Intencionalidade pressupõe que o mediador
estabelecimento de relação entre a situação interaja proativamente com o mediado, ou
atual e as já vivenciadas, entre outras. seja, que tome a iniciativa para se aproximar do
mediado e ajudá-lo a perceber melhor, a prestar
Sobre isso, Paulo Freire, diz: atenção, a compreender o que está sendo
aprendido.
Estou certo, porém, de que é preciso Exemplo: Examinem o problema. O que ele
deixar claro, mais uma vez, que a nossa propõe que vocês façam?
preocupação pela pergunta não pode ficar
apenas em nível da pergunta pela pergunta. • Reciprocidade implica troca entre o mediador
O importante, sobretudo, é ligar, sempre que e o mediado. O mediador deve estar aberto às
possível, a pergunta e a resposta a ações que respostas do mediado, demonstrando satisfação
foram praticadas ou a ações que podem vir a com a sua evolução, e o mediado deve demonstrar
ser praticadas ou refeitas.23 reciprocidade, fornecendo indicações de que
está cooperando, de que se sente envolvido no
Desse modo, as perguntas voltadas para o quê e, processo de aprendizagem.
principalmente, para o porquê estimulam mudanças Exemplo: Vocês têm ideia de aonde pretendemos
nos modos de pensar do aluno que resultam na chegar com esta atividade?
melhoria do seu potencial de aprendizagem. Por
sua vez, as perguntas voltadas para o como o levam • Significado consiste em despertar o interesse
a se dar conta da importância da aprendizagem pela tarefa em si, pela busca do porquê de
estruturada, que conduz o seu pensamento de determinada atividade. Perguntas como “Por
forma sistemática. quê?”, “Você pode explicar a sua resposta?”
e “Você pode explicar um pouco mais sobre
No entanto, por melhor que sejam elaboradas, essas isso?” levam o aluno a não se contentar com
perguntas só levam ao alcance desse propósito se as respostas imprecisas e a buscar pontos a
respostas do aluno forem fruto de reflexão. Ele deve ser serem melhorados. É importante levá-lo a
incentivado a administrar sua ansiedade e impulsividade verbalizar seu raciocínio para comunicar com
diante dessas situações e a confiar no instrutor. lógica o conteúdo. É necessário, ainda, que o
________________________________________________________________________
23
FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. p. 49.
24
SOUZA, Ana Maria Martins de. et all. A mediação como princípio educacional: bases teóricas das abordagens de Reuven Feuerstein.
São Paulo: Senac São Paulo, 2004.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 45

aluno se aproprie da finalidade das atividades


propostas e de sua aplicabilidade. Nas situações METODOLOGIAS ATIVAS
de mediação do significado, tanto o mediado E COLABORAÇÃO
quanto o mediador devem estar envolvidos
ativa e emocionalmente com a atividade. O Metodologias ativas de aprendizagem são
mediador deve demonstrar interesse e observar todas as estratégias de mediação do ensino
se o mediado está percebendo o significado das em que a transmissão de conhecimento não
atividades. A interação pode ocorrer nas formas é meramente expositiva e unidirecional (o
verbal e não verbal, e, ao mesmo tempo que instrutor direciona conteúdos aos alunos,
explicita o valor e a relevância da atividade, o que os recebem passivamente). Ou seja,
mediador usa o olhar, a entonação da voz e os são modos de ensinar em que os alunos
gestos, expressando o seu interesse por ela.
participam ativamente da construção e da
Exemplos: Por que foi importante realizar essa aquisição dos conhecimentos, seja com
tarefa? Numa escala de 0 a 5, que valor vocês pesquisas próprias, trabalhos em grupo,
atribuem a essa atividade que fizemos hoje? apresentações, atividades práticas etc. Por
meio desses processos, os alunos tornam-se
• Transcendência visa promover a aquisição de coautores dos processos de aprendizagem,
princípios, conceitos ou estratégias que possam que se ramificam em diversas trilhas e
ser generalizados para outras situações, sem possibilidades de aprendizagens pessoais e
se limitar à resolução dos problemas imediatos grupais, em todas as direções.
da aula. Ela se dá quando o mediador cria,
com o uso de perguntas, condições para que o Para saber mais informações sobre
mediado transponha o que foi aprendido para as metodologias ativas de aprendizagem e
colaboração, acesse o QR code:
situações do dia a dia e do trabalho e relacione
a aprendizagem com suas aprendizagens
anteriores e com possíveis situações futuras.
Nesse sentido, “envolve a busca de uma regra
geral aplicável a situações correlatas, o que
exige o desenvolvimento do pensamento
reflexivo sobre o que está subjacente à situação
de modo a estendê-la para outros contextos. A
transcendência estimula a curiosidade, que leva http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/
a inquirir e descobrir relações, e o desejo de uploads/2013/12/metodologias_moran1.pdf
saber mais” (SOUZA, 2004).
Exemplo: Em que outras situações vocês podem
aplicar o que aprenderam hoje?
• Sentimento de competência é o trabalho no
sentido de melhorar a percepção que o aluno
Ainda segundo Feuerstein, há outros critérios
tem de si mesmo. Você, instrutor, pode chamar
de mediação, não universais, que complementam
a atenção para a competência que o aluno
os quatro primeiros e enriquecem o processo
demonstra na resolução de um trabalho ou
de mediação da aprendizagem. Dentre eles em partes dele, estimulando-lhe a autoestima.
destacam-se: sentimento de competência, Nesse sentido, o mediador tem o papel de
comportamento de compartilhar, individuação propiciar atividades com graus de dificuldade
e diferenciação psicológica, conscientização gradativa, que permitam ao mediado conquistar,
em relação à capacidade de se automodificar, progressivamente, uma autoimagem positiva.
adaptação a situações novas ou aceitação de Exemplos: Sua resposta está correta! Como
desafios e otimismo. você se sente com um resultado tão positivo?

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46 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Você sabe o que é autoestima? • Adaptação a situações novas ou


aceitação de desafios deve ser mediada
Autoestima é a forma pela qual nos avaliamos, para que o participante aprenda a lidar com
os juízos que fazemos de nós mesmos. Uma mudanças, sabendo manter-se em situações
autoestima saudável envolve a predisposição para que impliquem desequilíbrio. Nesse
se aceitar, apreciar-se, confiar em si, acreditar e momento, “o mediador deve se colocar
gostar de si. A essência da autoestima é acreditar ao lado do mediado para enfrentar esses
que somos dignos de felicidade. Isso influencia desafios. Enfrentar mudanças e delas
aspectos fundamentais de nossa vida: nossos níveis estar consciente deve ser o foco desse
de consciência, autoaceitação, responsabilidades, critério de mediação” (SOUZA, 2004).
intenções e felicidade como um todo25. Assim, o mediador estimula o mediado a
buscar o que existe de novo na situação de
• Comportamento de compartilhar tem como aprendizagem proposta, comparando-a com
objetivo desenvolver nos alunos a capacidade de as anteriores e percebendo mudanças no
cooperar. Para isso, o instrutor deve criar situações grau de complexidade entre elas.
para que os mediados compartilhem entre si
experiências, tais como explicações a respeito de • Otimismo – mediar esse critério significa
suas conclusões sobre o realizado, apresentação levar o participante a perceber que existem
de estratégias utilizadas, exposição de princípios e possibilidades de resolver situações
aplicações, acompanhadas de justificativas. Nesse complexas e vencer os obstáculos que se
contexto, os alunos desenvolvem a capacidade de apresentam. O otimismo é uma atitude em
respeito mútuo, uma vez que aprendem a levar em relação à vida que permite ver o mundo sob
consideração pontos de vista diferentes dos seus. uma perspectiva positiva. Há instrutores que
Exemplo: O grupo que já resolveu o problema veem as limitações de seus alunos como
pode explicar aos demais grupos como chegou ao a causa de seu próprio desânimo, mas há
resultado? aqueles que optam por uma postura mais
construtiva, vendo seus alunos como pessoas
• Individuação e diferenciação psicológica capazes de se modificarem. Otimismo não
são mediadas quando o instrutor estimula significa uma visão idealizada da realidade,
respostas divergentes e encoraja o pensamento mas aceitar a possibilidade de haver erros,
independente e original do participante. Para isso, medo, dúvidas e falsas percepções, que
é necessário que sejam valorizados o processo podem ser modificados por meio do otimismo
pessoal de trabalho, as estratégias alternativas na pedagógico utilizado pelo instrutor.
solução de situações desafiadoras e a variedade
de respostas. Com isso, o instrutor contribui para
o desenvolvimento da autonomia do aluno.
Exemplo: É possível pensar em outra maneira de Para uma inesquecível lição sobre otimismo
resolver essa questão? Dá para fazer essa atividade e resiliência, veja o emocionante curta-
de forma diferente e chegar ao mesmo resultado? metragem O homem que plantava árvores,
disponível no YouTube.
• Conscientização da capacidade de se
automodificar é agir para que o mediado tome
consciência de que pode mudar seu próprio
funcionamento mental. O mediado deve perceber
as transformações pelas quais está passando e
assumir, progressivamente, a responsabilidade de
verificar as mudanças que ocorrem com ele.
Exemplo: Comparando o desempenho de
vocês hoje e quando iniciaram o curso, houve
alguma mudança? Qual?
________________________________________________________________________
25
BRANDEN, Nathaniel. Autoestima e seus seis pilares. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 47

Conforme aponta documento do Senai, a e o tipo de curso que vai ministrar e a compreensão
mediação é uma estratégia que não permite dos conteúdos pelos participantes. O instrutor
improvisações. É um trabalho complexo, deve priorizar os critérios universais e praticar os
fundamentado na reflexão e no planejamento26. não universais quando se sentir em condições para
Para alcançar resultados eficazes nas situações tal, pois esses últimos se referem à ativação mais
de aprendizagem, o instrutor deve planejar a sua abstrata e psicológica, que exigirá reflexão e exercício
intervenção mediadora, elaborando questões para incorporação à ação docente.
que se transformem no fio condutor de seu ato
de mediação. Com isso, evitam-se perguntas Para Souza (2004), o docente é mediador quando:
irrelevantes para os objetivos propostos. Ao • tem o papel de parceiro na aprendizagem;
mesmo tempo, devemos considerar que a própria • é uma testemunha privilegiada do embate
dinâmica de interação com os participantes poderá entre o mediado e o ambiente;
encadear novos questionamentos. • é um observador do comportamento do
mediado, avaliando-o e favorecendo seu
Com a continuidade do trabalho de mediação, progresso, sua melhoria no pensar;
o participante conquistará mais autonomia em • instaura uma relação de ajuda, e não de
relação ao seu aprendizado, e o instrutor observará coerção;
que a sua intervenção se tornará menos necessária. • assume a tarefa essencial de organizar o
contexto, imaginando e propondo situações-
Ao planejar uma intervenção mediadora, é problema adequadas;
fundamental que o instrutor o faça de forma gradativa, • consegue se colocar no lugar do outro,
considerando sua experiência profissional, a natureza perceber sua lógica e suas intenções.
________________________________________________________________________
26
SENAI/DN. Metodologias Senai para formação profissional com base em competências: norteador da prática pedagógica.
Senai/DN. 3. ed. Brasília, 2009.

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48 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

3 – Formação com base em competências

Há uma diversidade de significados para o termo Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)28 e
competências, conferindo a ele uma característica vem sendo adotado nos âmbitos tanto da educação
polissêmica. A esse respeito, Depresbiteris27 geral quanto da educação profissional.
apresenta vários exemplos, entre eles os de que,
na perspectiva popular, o termo competência é Na verdade, por sua própria natureza, a educação
usado como “ser capaz de fazer algo de modo bem- profissional sempre teve grande proximidade com
feito”. Já na perspectiva jurídica é entendido como a o conceito de competência profissional, visto que
faculdade concedida por lei a um funcionário, juiz ou o desenvolvimento de habilidades não somente
tribunal, para apreciar e julgar certas ações. Outros cognitivas é fundamental – trata-se do saber-fazer.
exemplos poderiam ser citados, uma vez que o A diferença, quando se fala em competência,
termo competências adquire conotações diferentes é que nesta o ponto essencial é a mobilização
dependendo do contexto em que é utilizado. de saberes, a sua integração. Por isso, não
se confunde a concepção de competências
Um dos pioneiros a usar o termo competência com o que se denominava metodologia CHA
no âmbito da educação foi Noam Chomsky, em 1971, (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes),
que considerava que as pessoas nascem com uma porque a mobilização e a integração de saberes
competência linguística, um potencial biológico não eram expressamente previstas.
inerente à espécie humana. Para ele, competência é
diferente de desempenho: a competência representa Além disso, a formação profissional era centrada
o que a pessoa pode realizar idealmente, conforme em conhecimentos (saber) e habilidades (saber-fazer),
o seu potencial, e para medi-la é necessário observar com pouca ênfase no desenvolvimento de atitudes
vários desempenhos; já o desempenho está (saber ser e conviver). Estas eram desenvolvidas
estreitamente relacionado a um comportamento apenas para transmitir os direitos e deveres
observável, e é uma ação datada, pontual. do trabalhador e questões relativas à higiene e
segurança do trabalho, e não para o desenvolvimento
Na educação geral, as competências constituem das chamadas capacidades de gestão, tão necessárias
instrumentos importantes para o aprender a no mundo atual. Além disso, a formação profissional
aprender: por exemplo, diferenciar, identificar, era mais voltada ao posto de trabalho do que ao
classificar, analisar, sintetizar e resolver problemas, desenvolvimento da pessoa.
entre outras. Elas têm complexidades diferentes
- dialogar, por exemplo, requer a mobilização Nesse sentido, Yves Lichtenberger (revista Formation
de competências tais como saber se expressar Emploi – 1999) aponta que, ao contrário do que
claramente e fazer uso da linguagem corretamente. acontece com o termo qualificação, a competência
Por outro lado, argumentar é uma competência indica, sem ambiguidade, uma caracterização do
mais complexa, porque exige outras competências, trabalhador, e não do posto de trabalho – pode-se
tais como a de expor e a de defender uma ideia. falar de um posto de trabalho ou de um emprego
qualificado, mas não de um posto de trabalho ou
O surgimento do termo vem como proposta emprego competente. A competência é centrada
de superação de uma prática educativa voltada a na pessoa, e, se o posto de trabalho deixar de existir, a
transmitir conteúdos, afastada do desenvolvimento competência permanece com ela.
da capacidade de aplicá-los. A abordagem das
competências vem, principalmente, como uma Há educadores que veem a formação com base
forma de atribuir significado ao que se aprende. em competências como modismo. Um documento
da OIT/Cinterfor afirma: “Inovações como o enfoque
No Brasil, o enfoque em competências se fez de competências na formação, a formação modular,
presente na legislação educacional a partir da Lei de a avaliação baseada em critérios, o uso das TIC29 na
________________________________________________________________________
27
DEPRESBITERIS, Lea. Avaliação na educação profissional: a busca da integração de saberes. Pinhais: Ed. Melo, 2011.
28
BRASIL. Lei Federal n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional – LDB.
29
Tecnologia da Informação e Comunicação.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 49

O QUE SÃO COMPETÊNCIAS?

As mudanças na educação mundial nos últimos anos implicam a mudança de uma educação
centrada na aquisição de conhecimentos para um enfoque orientado ao desenvolvimento
de competências. Define-se competência como a habilidade de mobilizar adequadamente
um conjunto de conhecimentos, capacidades, habilidades e atitudes necessários para
realizar atividades diversas com certo nível de qualidade e eficácia. É preciso ter mais do que
conhecimento teórico: são necessárias habilidades (saber fazer), atitudes e condutas (saber
estar, saber ser) integradas ao conhecimento30.

1. CONHECIMENTO: Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social,
cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma
sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. PENSAMENTO CRÍTICO E CRIATIVO: Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das
ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas,
elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos
conhecimentos das diferentes áreas.
3. REPERTÓRIO CULTURAL: Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais,
e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. COMUNICAÇÃO: Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal,
visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se
expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos
que levem ao entendimento mútuo.

5. CULTURA DIGITAL: Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma
crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar
e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida
pessoal e coletiva.
6. TRABALHO E PROJETO DE VIDA: Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de
conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica
e responsabilidade.
7. ARGUMENTAÇÃO: Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e
defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação
ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. AUTOCONHECIMENTO E AUTOCUIDADO: Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional,
compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade
para lidar com elas.
9. EMPATIA E COOPERAÇÃO: Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e
promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de
grupos sociais, seu saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. RESPONSABILIDADE E CIDADANIA: Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade,


flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos,
sustentáveis e solidários

________________________________________________________________________
30
BISQUERRA, Rafael. Psicopedagogia de las emociones. Madri: Síntesis, 2009.

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formação em algum momento se poderiam catalogar A competência profissional é constituída de:


de modas e, portanto, ser vistas como passageiras”.
Sem dúvida, se pode advertir facilmente que já são • Competências básicas – conhecimentos básicos
transcorridas várias décadas desde a modularização ou fundamentos necessários ao desenvolvimento
dos conteúdos formativos, que datam dos anos 70, das competências específicas e de gestão, como
igual ao uso das TIC, cuja primeira onda expansiva se comunicação oral e escrita, leitura e compreensão de
deu com a educação a distância, mediada pelo uso textos, raciocínio lógico-matemático etc.
do rádio. Mais recentemente o advento do enfoque
de competências profissionais se viu submetido ao • Competências específicas – conhecimentos
mesmo juízo de valor sobre sua permanência. Hoje e habilidades de natureza técnica requeridos para o
em dia, há pouco mais de quinze anos de sua aparição desempenho de uma atividade profissional, como
em massa, o enfoque de competências se estendeu fazer a manutenção preventiva de determinado
à educação básica (pré-escolar, fundamental e equipamento, vacinar um animal, fazer a ordenha etc.
médio), técnica e formação profissional, e agora em
muitas universidades aperfeiçoam-se currículos a • Competências de gestão – conjunto de
partir das competências profissionais31. capacidades relativas à organização do trabalho,
à condição de responder a situações novas e
Na educação profissional, a formação com base imprevistas e de relações sociais, como usar o EPI
em competências busca sintonia entre o mundo do adequado à atividade profissional, saber trabalhar
trabalho e o mundo da educação em um contexto de em equipe, resolver problema surgido na atividade
globalização, flexibilidade e mudanças tecnológicas realizada, ter iniciativa etc.
cada vez mais aceleradas, que tanto acontecem no
meio urbano quanto no meio rural. Toda competência profissional é permeada pelas
chamadas competências-chave ou transversais,
Mas, afinal, como se define o termo que são competências comuns a várias profissões.
competência na educação profissional? No meio rural, podem-se citar como exemplos a
saúde e segurança no trabalho, o respeito ao meio
Da mesma forma que o termo competência, ambiente e a valorização do agronegócio, entre
a expressão competência profissional tem outras.
definições variadas, ora complementares, ora
conflitantes, de acordo com as políticas e modelos As competências emocionais são um conjunto
dos países a que se referem ou com os âmbitos de conhecimentos, capacidades, habilidades e
a que se aplicam – escola de educação geral, atitudes necessárias para tomar consciência,
instituição de educação profissional, empresa, compreender, expressar e regular de forma
entre outras. apropriada os fenômenos emocionais. São
fundamentais para os processos de aprendizagem
No SENAR, competência profissional é entendida e para a vida profissional, mas principalmente para
como: o desenvolvimento pessoal. Segundo o modelo
Bisquerra (2009), as competências emocionais
Um conjunto identificável e avaliável são cinco: consciência emocional, regulação
de conhecimentos (saber), habilidades emocional, autonomia emocional, habilidades
(saber-fazer) e atitudes (saber-ser e sociais, competências para vida e bem-estar33. Elas
conviver) que, mobilizados, permitam são fundamentais não só para o desenvolvimento
desempenho autônomo e eficaz no campo pessoal, mas também para o profissional e
de atuação profissional. comunitário.

________________________________________________________________________
31
Herramientas básicas para el diseño e implementación de marcos de cualificaciones – Guía de trabajo. OIT/Cinterfor. 2010.
32
Essa definição converge para as definições da OIT e da legislação educacional do Brasil. Na Recomendação 195/2004, da OIT,
o termo competência abarca os conhecimentos, as atitudes profissionais e o saber fazer que se dominam e aplicam em
um contexto específico. Nas diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional técnica de nível médio, a expressão
competência profissional é entendida como a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação conhecimentos,
habilidades, valores, atitudes e emoções necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas
pela natureza do trabalho.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 51

CONHECE AS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS?

As competências emocionais são um conjunto de conhecimentos, capacidades, habilidades e atitudes


necessárias para tomar consciência, compreender, expressar e regular de forma apropriada os fenômenos
emocionais. São fundamentais para os processos de aprendizagem e para a vida profissional, mas
principalmente para o desenvolvimento pessoal. Segundo o modelo Bisquerra (2009), as competências
emocionais são cinco: consciência emocional, regulação emocional, autonomia emocional, habilidades
sociais, competências para vida e bem-estar. Elas são fundamentais não só para o desenvolvimento
pessoal, mas também para o profissional e comunitário.

HABILIDADES DE VIDA CONSCIÊNCIA


E BEM-ESTAR EMOCIONAL
capacidade de tomar consciência
capacidade de adotar das próprias emoções e das
comportamentos apropriados e emoções dos outros, incluindo a
responsáveis para enfrentar de capacidade de perceber o clima
maneira satisfatória os desafios emocional de uma determinada
diários da vida. situação.

COMPETÊNCIAS
EMOCIONAIS
COMPETÊNCIA SOCIAL REGULAÇÃO EMOCIONAL
capacidade para manter boas capacidade de lidar com as
relações com as outras pessoas. emoções de maneira apropriada.

AUTONOMIA EMOCIONAL
conjunto de características e elementos relacionados com a gestão de si, incluindo
autoestima, atitude positiva perante a vida, responsabilidade, capacidade de analisar
criticamente as normas sociais, capacidade de buscar ajuda e autoeficácia emocional.

A primeira, consciência emocional, consiste em não confundir regulação emocional com repressão.
conhecer as próprias emoções e as dos demais. Isso A regulação consiste em um difícil equilíbrio
pode ser conseguido por meio da observação do entre a repressão e o descontrole emocional. São
próprio comportamento, bem como o das pessoas componentes importantes da habilidade de regular
que nos rodeiam. Supõe também saber distinguir as emoções: a tolerância à frustração, o manejo
entre pensamentos, ações e emoções; compreender da raiva, a habilidade de adiar gratificações e o
as causas e consequências das emoções; avaliar desenvolvimento da empatia.
sua intensidade; reconhecer e utilizar a linguagem
tanto verbal como não verbal. É imprescindível A autonomia emocional diz respeito à
ressaltar que a consciência emocional é o primeiro capacidade de não se ver seriamente afetado pelos
passo, isto é, o ponto de partida que impulsiona o estímulos do entorno. Trata-se da dialética tarefa
desenvolvimento das demais. de reduzir nossa vulnerabilidade ao entorno, ao
passo que preservamos a sensibilidade, mantendo
A segunda, regulação emocional, significa um equilíbrio entre a dependência emocional e a
dar uma resposta apropriada às emoções que desvinculação. Isso requer uma autoestima saudável,
experimentamos. É importante estar atento para autoconfiança, automotivação e responsabilidade.
________________________________________________________________________
33
BISQUERRA, Rafael. Psicopedagogia de las emociones. Madri: Síntesis, 2009.

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52 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

A quarta competência, das competências sociais, • a elaboração de desenho curricular com


abrange um conjunto de competências que facilitam base no perfil profissional estabelecido
as relações interpessoais, as quais estão sempre pelo Comitê Técnico Setorial Rural;
envoltas por diversos tipos de emoções. Tanto a
escuta quanto a capacidade para empatia promovem • o desenvolvimento do curso em módulos,
atitudes pró-sociais que amenizam situações em que com metodologias de ensino e de
estão presentes o racismo, a xenofobia, o machismo avaliação adequadas ao desenvolvimento
e tantos outros sintomas sociais. das competências identificadas no perfil
profissional.
Por fim, as habilidades de vida e bem-
estar são um conjunto de habilidades, atitudes Alguns cursos do SENAR foram estruturados
e valores que promovem a construção do bem- com base na adaptação dessas metodologias,
estar pessoal, que redunda em bem-estar social. mas é um trabalho que exige tempo e, portanto,
Vale retomar a concepção filosófica de que o realização gradativa, a partir de prioridades
bem-estar emocional está próximo da concepção estabelecidas pelas Administrações Regionais.
de felicidade, entendida como a experiência Quando o curso é estruturado com base nessas
de emoções positivas. As competências de metodologias, o instrutor passa por capacitação
vida e bem-estar estão relacionadas às demais específica, uma vez que ele conhecerá todo o
competências a serem desenvolvidas, uma vez processo de estruturação, desde a elaboração do
que não se pode esperar perfil profissional até a estruturação completa do
curso.
Vale ressaltar, ainda, que para vários estudiosos
a competência profissional só é de fato Já quando o curso se encontra estruturado na
demonstrada em uma situação real de trabalho, forma tradicional, sem a opção pela formação por
quando a pessoa, diante de determinado competências, pode-se desenvolver o processo
problema, mobiliza conhecimentos, de ensino e aprendizagem sob o enfoque das
habilidades e atitudes para resolvê-lo. O competências.
que se desenvolve nas instituições de educação
profissional são as capacidades que levam ao O que isso significa?
domínio de competências básicas, específicas e
de gestão para, futuramente, convergirem para a Significa que você, instrutor, desenvolve os
competência profissional. processos de ensino, aprendizagem e avaliação de
forma a integrar os saberes inerentes à ocupação
Uma das formas de trabalhar competências na (saber conhecer, saber fazer, saber ser e saber
educação profissional do SENAR foi inspirada nas conviver). Você continua com a responsabilidade
metodologias Senai para a Formação Profissional de transmitir conhecimentos, mas, na formação
com base em Competências34, mas adaptada à com base em competências, é fundamental que
realidade institucional e às peculiaridades do meio as capacidades que permeiam as competências
rural. Essas metodologias compreendem: básicas, específicas e de gestão sejam articuladas
e integradas para levarem ao que se denomina
• a elaboração de perfis profissionais por Comitê competência profissional. Para isso, deverá haver
Técnico Setorial Rural35, constituído por uma clara intencionalidade do instrutor, desde o
representantes do setor produtivo em estudo; planejamento de ensino.

________________________________________________________________________
34
SENAI. DN. Metodologias Senai para formação profissional com base em competências. Senai/DN. 3. ed. Brasília, 2009.
35
O Comitê Técnico Setorial é instituído no âmbito da entidade formadora por representantes do mercado, indicados por sua expertise
e por sua atuação profissional na área produtiva almejada. É o fórum em que os temas pertinentes à capacitação do trabalhador e do
produtor rural serão levantados para compor o perfil profissional que servirá como base para a oferta formativa.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 53

4 – Processos de ensino, aprendizagem e avaliação

Assim como na educação regular, a educação que busca dotar os participantes de condições
profissional também contempla os processos de intelectuais para dominar e aplicar conhecimentos e
ensino e aprendizagem, ambos permeados pelo habilidades e desenvolver atitudes sociais e atitudes
processo de avaliação. São processos distintos, inerentes à atividade profissional.
que não se confundem, mas indissociáveis na ação
educativa, pois estão intimamente relacionados. Ensinar, portanto, é o ato de facilitar a
aprendizagem. Para tanto, é necessário que o
instrutor adote as posturas a seguir.
O processo de avaliação complementa o
processo educativo. Deve ser visto como • Saiba que a sua atividade é socioeducativa
meio de coleta de informações para a e que a sua ação influi sobre os
melhoria do ensino e da aprendizagem, acontecimentos em seu meio. Essa
tendo funções de orientação e de apoio, e ação só pode ser valiosa se o instrutor
não de punição ou simples decisão final a participar ativa e conscientemente
respeito do desempenho do aluno. desses processos, beneficiando-se
das trocas tanto quanto os alunos.

A interação entre o instrutor/educador e • Busque, permanentemente, o aperfeiçoamento


o participante/educando, nos processos de e a atualização de seus conhecimentos
ensino e aprendizagem, gera a transformação de técnico-científicos e pratique a metodologia
ambos. Essa interação possibilita uma troca, na mais adequada ao processo educativo.
qual o educador tem a função estimuladora da
reflexão e da ação do educando, auxiliando-o na • Analise sua própria realidade pessoal
aprendizagem e na reelaboração do seu saber. como instrutor/educador e examine,
Diante do saber popular do educando36, não raro com consciência e criticidade, sua
acontece a reelaboração do saber científico do conduta e seu desempenho como
educador. interlocutor no diálogo educacional.

Ensino • Entenda que, nos processos de ensino e


aprendizagem, não há uma desigualdade
Pode-se entender o processo de ensino como essencial entre o instrutor/educador
uma sequência de atividades sistematizadas e e o participante/educando, mas um
orientadas para alcançar objetivos previamente encontro amistoso pelo qual um e
estabelecidos, de acordo com a natureza e o tipo outro se educam reciprocamente.
de programação, considerando os conhecimentos,
as experiências e o desenvolvimento intelectual dos • Considere que, quanto maiores forem as
participantes. interações e os vínculos afetivos entre
ele e o aluno, mais facilmente ocorrerá a
Como processo, o ensino deve ter um aprendizagem. O diálogo é uma condição
direcionamento intencional, sistemático e gradual essencial para a sua efetivação.

________________________________________________________________________
36
O participante dos cursos ou programas do SENAR muitas vezes é o trabalhador ou o produtor e, mesmo que tenha tido poucas
oportunidades de educação escolar, certamente tem o que se denomina competências tácitas, ou seja, adquiridas ao longo da vida e
do trabalho.

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54 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Aprendizagem fornece subsídios para a realimentação do processo.

A aprendizagem é o processo contínuo, dinâmico Em síntese, aprender é tornar-se diferente,


e complexo de assimilar e produzir, de maneira ativa, traduzindo na mudança/transformação da
conhecimentos e formas de ação, resultando em disposição ou capacidade humana, para formar
modificações nas condições externa e interna dos novos hábitos, ideias, atitudes, preferências e
indivíduos e em suas relações com o ambiente físico destrezas, provocando novos modos de pensar,
e social. Implica a busca de informações, a revisão agir e sentir. O agir, porém, condiciona-se às
da experiência adquirida, a aquisição de novas possibilidades de aplicabilidade daquilo que foi
competências, a adaptação, o acompanhamento e aprendido.
a implementação de mudanças e a modificação de
atitudes e comportamentos. Ou seja, não se trata de Conforme classificação proposta por Bloom37, a
um simples mecanismo de reprodução, pois o que aprendizagem pode ser dividida nos três domínios
é aprendido não se perde e serve de suporte para a a seguir.
aprendizagem posterior.
• Domínio cognitivo (saber): Refere-se a
Para provocar os efeitos anteriormente citados, conhecimentos, informações ou capacidades
ela precisa ser significativa, contextualizada, e intelectuais, como o desenvolvimento de
estabelecer relações com o que o aluno já sabe, capacidades de raciocínio, análise, tomada
envolvendo-o como um todo, com suas ideias, de decisão e sua aplicação a situações
seus sentimentos, seu meio e sua cultura. O aluno novas. Enfatiza a recordação ou a reprodução
deve ser considerado sujeito com uma história de de alguma coisa que presumivelmente foi
vida, valores, objetivos e sonhos pessoais, e não aprendida e que envolve a resolução de alguma
como um receptor passivo de conteúdos. tarefa intelectual. Promove transformações e
mudanças na assimilação, na integração, na
Os conteúdos significativos se opõem fixação e na aplicação de conceitos.
radicalmente aos conteúdos irrelevantes: quanto
mais significativos forem, maiores a aprendizagem e • Domínio afetivo (saber-ser): Refere-se a
a possibilidade de mudanças de valores, de conceitos sentimentos, emoções, gostos ou atitudes.
e de comportamentos. Eles devem estar relacionados Enfatiza uma tonalidade de sentimento,
à realidade vivenciada pelo aluno e às suas uma emoção ou um grau de aceitação ou
necessidades para que ele encontre respostas às rejeição. Nesse domínio da aprendizagem,
suas questões pessoais e de trabalho. Além disso, é as mudanças e transformações promovidas
fundamental que haja a possibilidade de transferência ocorrem no âmbito das ideias, dos interesses,
desses conteúdos em aprendizagens posteriores e/ das atitudes, das preferências, dos elementos
ou situações e circunstâncias de vida, possibilitando emotivos e dos valores da pessoa.
aplicabilidade e contribuição para as mudanças sociais.
O processo de ensino e aprendizagem, assim como o de • Domínio psicomotor (saber-fazer):
avaliação, deve possibilitar a resolução de problemas, Refere-se às habilidades operativas ou
dando ao aluno maior autonomia intelectual. motoras, ou seja, as habilidades para
manipular materiais, objetos, instrumentos
Outros aspectos relevantes a serem observados ou máquinas. Promove transformações e
no processo de aprendizagem são: a existência de mudanças nos hábitos, nas habilidades ou
diferenças individuais; a motivação que desperta o nas destrezas físicas e mentais.
interesse pelo assunto abordado; a concentração,
que depende da motivação e é influenciada O quadro a seguir sintetiza a combinação dos
pelos estímulos do ambiente; e a reação dos aspectos relacionados aos processos de ensino e
participantes, que, sistematicamente observada, aprendizagem.

________________________________________________________________________
37
BLOOM, Benjamin S. et al. Taxonomia dos objetivos educacionais. São Paulo: Editora Globo, 1983.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 55

DOMÍNIOS DA PRODUTOS DA MUDANÇA/ MEIOS PARA A AÇÃO DO INSTRUTOR


APRENDIZAGEM APRENDIZAGEM TRANSFORMAÇÃO MUDANÇA PARA PROMOÇÃO DOS DOMÍNIOS

COGNITIVO • Assimilação, • Do • Reflexão • Identificar os conhecimentos/


integração, desconhecimento • Verbalização vivências dos participantes
fixação e ao conhecimento • Associar as experiências dos
aplicação de participantes com os novos
conceitos conhecimentos
• Informações SABER • Graduar o ensino (informações/
• Conhecimentos conhecimento)
• Focalizar as ideias-chave (ativação
da percepção seletiva)
• Exemplificar
• Recordar as informações nos
momentos oportunos, levantando
questionamentos
• Dar feedback informativo da
verbalização

AFETIVO • Ideias • Da predisposição • Participação • Construir um ambiente propício à


• Interesses à atitude • Reflexão aprendizagem
• Atitudes • Discussão • Valorizar o profissional e o
conhecimento específico
• Preferências
QUERER FAZER • Valorizar os conhecimentos/
• Elementos
experiências dos participantes
emotivos
• Valorizar a resposta/participação
• Valores
• Utilizar argumentos
sistematizados com significação
para os participantes
• Enfatizar o objetivo da
aprendizagem conectado
com interesses/necessidades
do treinando, favorecendo a
motivação
• Realizar a autoavaliação

PSICOMOTOR • Hábitos • Da • Exercícios • Apresentar o resultado final


• Habilidades potencialidade • Repetição esperado
ao ato • Dar instruções verbais
• Destrezas
físicas e significativas
mentais • Sequenciar os procedimentos,
FAZER ações e movimentos pertinentes
• Desenvolver as habilidades
parciais e total
• Orientar quanto à necessidade de
repetições práticas da habilidade
total
• Dar feedback informativo do
desempenho
• Acompanhar o processo de
desenvolvimento da habilidade
prática, e não só observar o
produto final

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56 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Avaliação O instrutor e o participante constituem os


pilares dos processos de ensino e aprendizagem.
A avaliação é um processo sistemático, contínuo O participante é o principal elemento, visto
e integral, destinado a determinar em que medida que todas as ações e todos os procedimentos
os objetivos de ensino e de aprendizagem foram do instrutor devem convergir para um único
alcançados. Se o ato de ensinar e aprender consiste objetivo: que ele aprenda, de forma ativa,
na tentativa do alcance de objetivos previamente visando a melhorar seu desempenho no trabalho,
propostos, o de avaliar assume um caráter sua qualidade de vida, a de sua família e a da
orientador e cooperativo, que fornece informações comunidade na qual está inserido.
para a melhoria desse ato.
O instrutor exerce o papel de educador/
Assim, avaliar não consiste em apenas medir por facilitador, unindo seus conhecimentos técnicos ao
meio de descrições quantitativas, mas utiliza também saber didático-pedagógico. Por isso, recomendamos
interpretações qualitativas, nas quais se incluem estudar os conceitos e fundamentos apresentados
julgamentos de valor durante todo o processo de neste documento e, na medida do possível,
ensino e aprendizagem, e não somente ao seu final. aprofundá-los, visando ao alcance dos objetivos de
ensino, de aprendizagem e de promoção social da
A avaliação quantitativa tem como base critérios clientela do SENAR.
quantitativos, ou seja, explicitados por indicadores
numéricos – em cinco exercícios dados ao participante, O papel que você, instrutor, desempenha é de
ele deverá acertar pelo menos três, por exemplo. fundamental importância no desenvolvimento
Já a avaliação qualitativa tem como parâmetros de do processo educativo, com a troca de saberes
julgamento critérios qualitativos– aplicar uma vacina com base no diálogo e na busca conjunta de
no animal, com precisão, utilizando adequadamente novos conhecimentos. Uma série de fatores
a injeção, usando os equipamentos de segurança interfere em suas ações e pode influir positiva ou
adequados, por exemplo. negativamente. Como a sua eficiência depende da
forma pela qual encara os fatos e toma decisões,
Como aponta Depresbiteris38, em essência, os faz-se necessário que você desenvolva uma ação
critérios quantitativos e qualitativos são inseparáveis, pedagógica reflexiva em relação a sua postura
porque não se pode pensar em uma avaliação apenas como profissional.
quantitativa do aprendizado – devemos também analisar
até que ponto esse aprendizado está modificando Além disso, seu papel como instrutor vai além
qualitativamente os desempenhos do participante. de simplesmente dar aula. Perrenoud (2000)
chama a atividade docente de ofício de professor,
Instrutor e aluno: Pilares do ensino e da propondo novas competências para ensinar40.
aprendizagem Considerando a especificidade do SENAR,
instituição de FPR, de PS e ATeG com vistas à
De todos os fatores numa escola, melhoria da qualidade de vida das pessoas e ao
certamente o que mais explica a excelência desenvolvimento sustentável do país, destacamos
na sala de aula diz respeito à capacidade alguns atributos que podem ser perseguidos,
dos professores de despertar a curiosidade adquiridos ou reforçados por você, visto que
intelectual dos alunos e lhes transmitir
contribuem significativamente para uma prática
conhecimento39.
pedagógica eficaz.

________________________________________________________________________
38
DEPRESBITERIS, Lea. Avaliação na educação profissional: a busca da integração de saberes. Pinhais: Editora Melo, 2011.
39
PEREIRA, Camila. Veja entrevista: Eric Hanushek. Veja, 13 set. 2008. Disponível em: http://arquivoetc.blogspot.com/2008/09/veja-entrevista-
eric-hanushek.html. Acesso em: 28 set. 2021.
40
PERRENOUD, Phillipe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 57

Quais são eles?

• Ser organizado e dirigir as situações de • Administrar a heterogeneidade da turma,


aprendizagem com base nas representações dos respeitando o tempo de aprendizagem e de
alunos. mudança do outro e de si próprio.

• Suscitar o desejo de aprender, estimulando o • Manter equilíbrio para administrar as emoções


gosto pelo trabalho bem-feito e de qualidade. e os conflitos inerentes às relações interpessoais.

• Criar um ambiente de liberdade de expressão, • Considerar a cultura local, respeitando e


certificando-se de que todos estejam participando, valorizando crenças e costumes das comunidades.
sendo bom ouvinte e valorizando o feedback
recíproco. • Aprender a falar de forma fácil e simples sobre
questões complexas, sem sonegar informações, mas
• Ser um observador atento para perceber os decodificando símbolos por meio da sua relação
sinais verbais e não verbais de sua clientela. com a vida real.

• Agir como facilitador para traduzir teorias em • Buscar agir com humildade, sabendo colocar seus
ações práticas e vice-versa. conhecimentos sem arrogância e tendo coragem de dizer
que irá pesquisar e informar-se sobre o que não sabe.
• Estimular a pesquisa, a criatividade e o
desenvolvimento de comportamentos éticos. • Ser honesto com seus princípios e atitudes para
poder inspirar a confiança dos outros, considerando
• Propor situações-problema ajustadas ao nível ser exemplo a ser seguido.
e às possibilidades da clientela e ao meio no qual a
aprendizagem é desenvolvida. • Valorizar o desenvolvimento sustentável e a
preservação ambiental, incluindo a conservação de
• Utilizar novas tecnologias, explorando instrumentos de trabalho.
as potencialidades didáticas dos cursos e dos
programas. • Estar atento à questão da ética no exercício do
seu trabalho e na relação com as pessoas.
• Estar seguro de que seus objetivos pessoais
e profissionais estão em consonância com os • Desenvolver o senso de responsabilidade e de
objetivos da organização para a qual trabalha e da solidariedade e o sentimento de justiça.
clientela a que atende.
• Administrar a própria formação continuada.

SIGNIFICADO DA PALAVRA HUMILDADE

Você sabia que a palavra humildade está relacionada a húmus,


isto é, aos nutrientes do solo? Essa é uma metáfora bonita para
nos lembrarmos de que a humildade representa um nutriente
sem o qual não nos desenvolvemos.

Saiba mais aqui:


https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-
de-humildade-e-de-humilde/34405

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58 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

5 – Aspectos a serem considerados na condução desenvolver e os saberes pedagógicos referentes a


das ações da FPR e das atividades da PS como desenvolver a ação/atividade nas diferenciadas
áreas da aprendizagem também são fundamentais
É necessário pensar o adulto como indivíduo para que o objetivo possa ser alcançado.
capaz de se responsabilizar, perante o seu instrutor,
pelo seu processo de aprendizagem, com base nas Nesse enfoque, o conhecimento constitui procura,
experiências e conhecimentos acumulados ao longo e não posse, o que coloca em questão a postura do
de sua vida, pois a aprendizagem significativa não instrutor como aquele que tem autoridade, que
ocorre sem colaboração. trata com rigor as questões discutidas, mas não com
autoritarismo, como senhor e dono do conhecimento.
As pessoas do meio rural possuem a tradição
de oralidade, de conhecimento passado de pai para
filho. Claro que esse conhecimento pode e deve SIGNIFICADO DA PALAVRA AUTORIDADE
ser reelaborado, discutido, analisado criticamente,
sabendo como e por que utilizá-lo. Você sabia que autoridade significa
“qualidade de autor”? Assim, para possuí-la
Você, instrutor, tem a responsabilidade de de fato, deve-se contribuir para o crescimento
desenvolver, com os participantes da ação/ dos alunos, apoiando-os e assistindo-os nos
atividade, os processos de ensino e aprendizagem. processos de aprendizagem. A aprendizagem
O relacionamento com eles é fundamental, ponto- ativa e colaborativa envolve alegria, curiosidade,
chave no desenvolvimento eficiente e eficaz do liberdade para imaginar, experimentar e falhar.
trabalho educativo. Isso está muito distante de utilizar métodos de
coerção para estabelecer hierarquias através
Como educador, você precisa levar em conta os de medo, culpa ou vergonha41.
saberes da experiência e do conhecimento técnico
e pedagógico. Os saberes da experiência abrangem
todos os saberes advindos de diferentes práticas e No ambiente da FPR e da PS é preciso haver
situações vivenciadas ao longo de sua existência. compromisso, cooperação, questionamentos, críticas
Os saberes do conhecimento específico referentes e senso de responsabilidade dos participantes –
à ação de FPR ou atividade de PS que pretende comportamentos condizentes com uma postura adulta.
________________________________________________________________________
41
MULLER, Jean-Marie. Não violência na educação. 1. ed. São Paulo: Palas Athena, 2006. In: ROSENBERG, M. B. Comunicação não
violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 59

6 – Teorias e abordagens pedagógicas que


embasam o planejamento instrucional

Buscar compreender a importância dos e refletem visões de mundo e concepções de


fundamentos teóricos da educação é crucial para humanidade, de sociedade e da própria finalidade da
o planejamento, a operacionalização e a avaliação educação, além dos papéis de alunos e instrutores
de projetos instrucionais. Eles apoiam a construção diante dos conteúdos e das inter-relações pessoais.
de ambientes eficientes de ensino-aprendizado,
apropriados aos tempos modernos e às necessidades As teorias pedagógicas definem os princípios
de cada participante. que orientam o processo de ensinar os mais
diferenciados conteúdos, de acordo com suas
Todas as pessoas envolvidas nas ofertas particularidades sobre as teorias acerca de como se
educativas do SENAR, principalmente as equipes produz e se transmite o conhecimento. Mesclam em
técnicas das Administrações Regionais, os instrutores si os estudos teóricos em relação à aprendizagem dos
e os supervisores, que pensam, aplicam e analisam alunos (teorias de aprendizagem) e às concepções de
de maneira contínua o impacto da formação na vida ensino. Articulam esses pressupostos aos contextos e
dos participantes, precisam “beber” na fonte teórica recursos em que acontecem os momentos de ensino
da qual se originaram as estratégias de ensino e aprendizagem, em todos os níveis e para todos os
priorizadas em nossa metodologia educativa. Aqui, tipos de alunos.
apresentamos alguns desses teóricos e teorias e
encorajamos que avancem no conhecimento de Seels (1997, p. 12) propõe a reunião das teorias em
suas obras. três abordagens, que se complementam e formam
um continuum que engloba teorias psicológicas
Nesse sentido, vamos refletir sobre os termos de aprendizagem, teorias sociológicas e aspectos
educação e instrução. Para Carlos Brandão, “a pedagógicos ligados ao ensino.
educação está em todos os lugares e no ensino
de todos os saberes”. Ela transcende os espaços • Positivista – orientada pela determinação da
escolares e atinge todos os momentos da nossa lei de causa e efeito.
vida. É o processo que nos faz avançar nos
conhecimentos, ir além do já sabido e inovar. • Interpretativa – tenta descobrir as escolhas
Transforma a nós mesmos, e contribui para mudar envolvidas na ação humana.
a sociedade. A educação escolar é apenas um dos
inúmeros formatos possíveis da educação. • Crítica – busca analisar como a estrutura
social condiciona a ação humana.
Já a instrução diz respeito a uma manifestação
concreta de ensino. Trata-se de uma ação didática A escolha das abordagens pedagógicas
planejada que possibilita o desenvolvimento das depende do contexto, da forma pela qual as
capacidades e da criatividade dos seres humanos. pessoas aprendem e do papel do educador nesse
Envolve a aprendizagem de conhecimentos, processo. Essas abordagens estão embasadas nas
habilidades e atitudes úteis para a ação em teorias pedagógicas e podem ser classificadas como
determinados contextos socioculturais. Para Charles tradicional, inovadora ou avançada.
M. Reigeluth (1997, p. 44), instrução “é tudo o que
for feito para ajudar alguém a aprender”. As estratégias pedagógicas referem-se aos
instrumentos e atividades planejados para o alcance
Para planejarmos ações didáticas que de objetivos de determinado curso ou treinamento.
possibilitem o desenvolvimento das capacidades e Quando define suas estratégias, o instrutor se baseia
da criatividade, registrando-as, por exemplo, em um em uma dada abordagem pedagógica (tradicional,
plano instrucional, devemos olhar para as teorias humanista, comportamentalista, cognitivista
pedagógicas. Elas são historicamente datadas etc.), que, por sua vez, bebeu em uma fonte teórica.

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60 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Importantes teóricos de ciências e formações


diversas, como Ivan Pavlov (Fisiologia), Lev
Vygotsky (Direito, Literatura e História), Jean
TEORIA
Piaget (Epistemologia), Howard Gardner
(Psicologia, Inteligências Múltiplas), Frederic
ABORDAGEM Skinner (Psicologia Experimental) e outros,
estudaram e registraram as formas pelas quais
os processos mentais e sociais influenciam o
aprendizado. As colocações desses teóricos
alimentam os pensadores de possíveis
ESTRATÉGIA estratégias de ensino. Cada estudo originou
estudos e conclusões complementares, em um
processo cíclico de construir conhecimento
e de revisitar fundamentos. Esses trabalhos
foram agrupados em teorias com nomenclaturas
próprias, demonstradas no quadro sintetizado a
seguir.

COMO AS APLICAÇÃO DAS


INFLUÊNCIAS
TEORIAS PESSOAS TEORIAS NA NA PRÁTICA
TEÓRICAS
APRENDEM EDUCAÇÃO

BEHAVIORISMO Filosofia Condicionamento “Máquinas de As pessoas são


positivista clássico e operante; Ensinar” de estimuladas a
(séculos XIX e Estímulo-resposta Skinner: conteúdos aprender em seu
Baseia-se no
XX) Ivan Pavlov, distribuídos em próprio ritmo
comportamento,
John B. Watson, pequenos passos, (pessoas diferentes =
ainda que possam ser
Burrhus, Frederic de acordo com estímulos diferentes);
consideradas diferentes
Skinner os objetivos assim, respeitam-se
concepções sobre o que
operacionais a a individualidade
é o comportamento.
Privilegia as condutas que se propõem. e as necessidades
aprendidas cujos Instrução individuais.
resultados podem Programada de
ser observados e Skinner: conteúdos 1. Nesse sentido,
medidos com base divididos em trate diferentemente
em comportamentos pequenas unidades, os diferentes, o que
explícitos. As situações que tinham significa dar chances
de ensino devem objetivos definidos iguais para todos.
gerar aprendizagens de acordo com
visíveis e quantificáveis as hierarquias 2. Empregue
e, por isso, estão operacionais. criatividade na forma
pautadas basicamente A cada unidade de ensinar.
na repetição de de informação
experiências e correspondiam 3. Desenvolva os
na formação de exercícios de fixação conteúdos em
automatismos ou a serem respondidos unidades simples,
na incorporação da antes de se passar compostas de
aprendizagem. O para a próxima fase. pequenos tópicos
conteúdo é dividido em
ensinados passo a
tarefas específicas, que
passo, tendo clareza
podem ser medidas de
dos critérios para a
acordo com condições
avaliação.
e critérios previamente
estabelecidos.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 61

COMO AS APLICAÇÃO DAS


INFLUÊNCIAS
TEORIAS PESSOAS TEORIAS NA NA PRÁTICA
TEÓRICAS
APRENDEM EDUCAÇÃO

COGNITIVISMO René Descartes A aprendizagem Objetivos que 1. Promova a


(“Penso, logo ocorre na exigem raciocínios atenção para o
existo”), interação com e atividades tema (recepção).
A aprendizagem é Jean Piaget outras pessoas e é mentais que se
um processo lógico e (Epistemologia influenciada pelas expressam em 2. Informe os
linear de interiorização Genética), David emoções e pela posicionamentos, participantes
e ressignificação de Ausubel, Robert afetividade, entre opiniões e sobre objetivos
conhecimentos. Nos M. Gagne, Jerome outros fatores. resolução de da aprendizagem
cursos baseados Seymour Bruner, problemas. Ao (expectativa).
no cognitivismo, Howard Gardner Motivações considerar a
prevalecem objetivos internas e externas aquisição de 3. Estimule a
que exigem raciocínios ao sujeito influem. conhecimentos um lembrança de
e atividades mentais processo mental, aprendizagens
que se expressam Jean Piaget: a levar em conta anteriores
em posicionamentos, pessoa aprende as inteligências (recuperação).
opiniões e resolução de com a relação múltiplas.
problemas. com o meio, 4. Apresente
mas através de o conteúdo
Os cognitivistas um processo (percepção seletiva
preocupam-se com o de maturação do conteúdo).
perfil dos aprendizes, biológica. Brunner:
seus conhecimentos a aprendizagem 5. Forneça apoios
anteriores e as formas se dá através para o aprendizado
diferenciadas pelas quais da descoberta, (uso de exemplos,
melhor aprendem. e a pessoa casos, esquemas...).
deve se tornar
autossuficiente 6. Estimule o
na busca do desempenho (uso
conhecimento. de atividades
práticas,
Ausubel: a exercícios...).
pessoa aprende
significativamente 7. Forneça feedback
através de imediato para as
associações entre atividades dos
o novo e o que ela participantes
conhece. (reforço).

8. Avalie o
desempenho
(recuperação).

9. Aumente a
retenção e a
transferência
(generalização).

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62 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

COMO AS APLICAÇÃO
INFLUÊNCIAS
TEORIAS PESSOAS DAS TEORIAS NA PRÁTICA
TEÓRICAS
APRENDEM NA EDUCAÇÃO
1. Adeque a
CONSTRUTIVISMO Jean Piaget, Aprendizagem como Maior ênfase na linguagem científica
Lev Vygotsky e construção mental aprendizagem, à vivência do
Na abordagem seus seguidores e personalizada pelo e não no participante.
construtivista, a (Alexander sujeito que aprende, desempenho.
aprendizagem se Luria e Alexei dimensionada pelas Os recursos e 2. Promova um
dá na interação Leontiev) experiências prévias, estratégias devem ambiente de trocas e
entre o aluno e o estruturas mentais e ser vistos como interações entre todas
conhecimento. Assim, crenças que utiliza para ferramentas as pessoas, propondo a
os ambientes devem interpretar objetos pedagógicas para resolução de questões
propiciar que os e eventos, o que a criação de um contextualizadas e
aprendizes explorem determina que uma ambiente interativo significativas.
as mais diferenciadas mesma informação que, através de
possibilidades pode ser aprendida de determinada 3. Não especifique
de manipulação formas distintas. situação-problema, totalmente o
das informações, permita ao conteúdo, pois os
favorecendo a Zona de aprendiz explorar, aprendizes precisam
construção de Desenvolvimento investigar, analisar, construir suas próprias
significados em Proximal. [É um levantar hipóteses compreensões.
múltiplas perspectivas. conceito do teórico e testá-las, de Um conjunto de
A maioria dos da aprendizagem modo a construir informações básicas
autores considera russo Lev Vygotsky. o seu próprio pode ser oferecido, mas
que as abordagens Significa que, antes de conhecimento. o participante deve ser
construtivistas são as uma criança consolidar encorajado a pesquisar
mais adequadas para uma competência e a aprofundar seus
os estudantes que já nova e desempenhá-la conhecimentos e
possuem informações de modo autônomo posicionamentos.
básicas sobre os ou independente,
conteúdos a serem ela precisa do apoio 4. Especifique os
aprendidos. de um adulto. O que objetivos: ao se pensar
é feito na presença, nas taxonomias de
com a supervisão e o objetivos educacionais,
apoio do adulto está a função de análise é
dentro desta “zona o principal objetivo de
de desenvolvimento aprendizagem em cada
proximal”, e poderá ser domínio. As estratégias
consolidado para que a devem orientar o
criança, no futuro, atue participante a refletir
sozinha.] e analisar o que está
sendo proposto
Sociointeracionismo (o como objetivo de
meio exerce influência aprendizagem.
sobre a construção da
aprendizagem humana). 5. Construa ambientes
Os estudantes em que os aprendizes
possuem perspectivas explorem diferenciadas
individuais e únicas possibilidades de
de aprendizagem. O manipulação das
foco deve estar em informações, facilitando
suas capacidades assim a construção
mentais de acomodação de significados em
e assimilação de múltiplas perspectivas,
informações por meio além da resolução
de atividades ativas dos problemas e da
e contextualizadas. superação dos desafios
Estímulos à reflexão, baseados no mundo
à tomada de decisões, real.
à manifestação de
opiniões e a interações 6. Avalie a
com os demais aprendizagem com
participantes são flexibilidade para
estratégias a serem acomodar diferentes
perseguidas pelos formas de percepção
Desenvolvedores dos conteúdos. A
Instrucionais (DI) nesse avaliação deve também
contexto. incluir a autoavaliação.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 63

COMO AS APLICAÇÃO DAS


INFLUÊNCIAS
TEORIAS PESSOAS TEORIAS NA NA PRÁTICA
TEÓRICAS
APRENDEM EDUCAÇÃO

Contrapõe a
TEORIAS CRÍTICAS Henry Giroux, Necessidade visão generalista 1. Promova a constante
PÓS-MODERNAS Peter McLaren, de considerar e redutora do reflexão entre a
Anthony a experiência pensamento teoria e a aplicação
Apresentam Giddens, individual e moderno. Os prática, atividades
contextualizadas,
prescrições e relatos Rouanet etc. particular de recursos e as
o encorajamento à
universais para as cada pessoa, estratégias didáticas experimentação e à
pessoas de todas sua história de devem ser adotados descoberta individuais
as idades, culturas vida, as relações visando favorecer e/ou compartilhadas.
e formações. No cotidianas, as a aprendizagem
campo da educação, inteligências de todos, 2. Promova a
preocupam-se com múltiplas e as buscando apoiar reavaliação dos
as esferas pessoais, diferenças. a aprendizagem paradigmas teóricos.
sociais, culturais independentemente
e intelectuais que do estilo, do ritmo 3. Faça uma
sistematização,
compõem cada aluno. e das necessidades
uma ordenação
pessoais. das explicações de
Modelos processuais fenômenos novos que
são vistos como surgem na sociedade:
flexíveis e mutáveis. o efêmero, o modismo,
Técnicas de projeto a cultura do consumo,
participativo incluem a emergência de novos
professores e alunos sujeitos sociais etc.
como parte da equipe
que constrói e realiza 4. Apresente um
mapeamento das
o projeto.
transformações que
vão ocorrendo no
mundo contemporâneo
(e que caracterizam
a chamada “condição
pós-moderna”) para
aguçar a consciência
dos que se propõem a
se manter dentro de um
posicionamento crítico.

Como pudemos ver, a cada passo de um planejamento Nenhum treinamento pode ser totalmente
instrucional, seja na elaboração dos objetivos behaviorista, cognitivista ou construtivista,
instrucionais e na determinação da abrangência e pois mesclar as teorias de aprendizagem
profundidade dos conteúdos correspondentes ou possibilita obter o melhor resultado. Você deve
na escolha das técnicas instrucionais e das formas de estar abertoàs correntes pedagógicas e utilizar
avaliação, seremos inspirados por fontes teóricas que referências de cada uma, de forma a elaborar
constataram empiricamente os caminhos que podem um plano instrucional completo, didático e
levar ao sucesso da intervenção educativa. dinâmico.

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Planejamento de ensino
e plano instrucional
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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 65

1 – Conceito e importância do planejamento

Sabe-se que o ato de planejar permeia todas as se mais difícil se sentir útil, capaz e realizado, e isso
áreas de atividade do ser humano. As mudanças na afeta gravemente nosso próprio senso de bem-
ciência, na tecnologia e na organização do trabalho, estar. Parafraseando o gato Cheshire: “Se você não
cada dia mais velozes, e as questões sociais, políticas sabe para onde ir, qualquer caminho serve”.
e econômicas requerem dos profissionais uma ação
consciente e competente de planejamento. A ideia de planejamento é inseparável da
ideia de processo, que, por sua vez, implica ações
progressivas tendo em vista um resultado.
VIVER REQUER PLANEJAMENTO
O planejamento consiste em um processo
Entre as competências socioemocionais, contínuo que se preocupa com “para onde ir” e
há as habilidades de vida e bem-estar. Um “quais as maneiras adequadas de chegar lá”, tendo
dos componentes dessas habilidades é a em vista a situação presente e as possibilidades
capacidade de estabelecer planos ou metas futuras. Portanto, permite:
adaptativos e realistas, ou seja, ter um
projeto de vida. Para ilustrar a importância do • o estabelecimento de uma situação futura
planejamento para a vida, veja um trecho de desejada;
Alice no País das Maravilhas: • a coordenação e o controle das decisões
tomadas;
Alice perguntou: • as condições de escolher os meios mais
eficazes para o alcance do objetivo;
– Gato Cheshire... Pode me dizer qual o • a indução a maior responsabilidade, precisão
caminho que eu devo tomar? e coerência na execução da ação/atividade; e
– Isso depende muito do lugar para onde • o maior controle de possíveis falhas e
você quer ir – disse o Gato. insucessos.
– Eu não sei para onde ir! – disse Alice.
– Se você não sabe para onde ir, qualquer
caminho serve Planejamento é um processo que visa a
ordenação do curso das ações/atividades e
a racionalização de recursos para que sejam
A vida é complexa, cheia de imprevistos que alcançados objetivos previamente fixados.
podem desafiar sua capacidade de fazer planos, É um processo mental que requer análise,
segui-los ou de produzir sentidos que nos satisfaçam. reflexão e previsão, preparando um conjunto
Pode ser muito útil pensar na vida com base na de decisões com vistas à ação posterior para
metáfora do “caminho”, e não somente na “chegada”. alcançar determinados objetivos.
Existem imprevistos que podem desviá-lo de onde
queria ter chegado, mas isso não quer dizer que você
tenha perdido a viagem ou que não possa desfrutar A reflexão é um ponto fundamental no
da paisagem da caminhada. momento do planejamento. No caso específico
do planejamento de ensino, você deve contar
É por meio dos equívocos e das tentativas e com referenciais metodológicos que contemplem
erros que você pode ter experiências e aprendizados fundamentos de educação e teorias de
surpreendentes. Erros de rota permitiram aos aprendizagem. Deve buscar, também, aspectos
navegantes esbarrarem em continentes que não mais específicos ligados à realidade em que irá
conheciam, e foi a partir de “efeitos colaterais” trabalhar, tais como características, expectativas,
que muitos dos medicamentos disponíveis hoje ideias e valores dos participantes, características
no mercado foram descobertos. Estabelecer e expectativas do SENAR, dados do mercado de
determinados objetivos e alcançar outros acontece trabalho e da comunidade local e regional.
muito e pode ser igualmente bom – ou até melhor!
Uma das primeiras atividades do instrutor, no
Mas uma coisa é certa: não se pode desfrutar da momento do planejamento, é identificar em qual das
vida plenamente sem um senso de progresso, de vertentes (FPR ou PS) se insere o programa ou curso
desenvolvimento ou de propósito. Sem isso, torna- que ministrará, conforme mostram os quadros a seguir.

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PROGRAMAÇÃO EDUCATIVA DA FPR

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL


NATUREZA DA TIPO DE
NÍVEIS DESCRIÇÃO
PROGRAMAÇÃO PROGRAMAÇÃO

Destina-se a pessoas com 14 a 24 anos que pretendem


exercer atividades no meio rural. Deve seguir os
aspectos da lei de criação da aprendizagem nº
10.097/00 e as normas subsequentes.

Será organizada em tarefas de complexidade


APRENDIZAGEM progressiva, de acordo com o de senvolvimento físico
PROFISSIONAL e psicológico do aprendiz, e prevê atividades teóricas Curso
RURAL e práticas em núcleos básicos e específicos, além de
prática profissional realizada em ambiente de trabalho
nos moldes definidos pela lei.

FORMAÇÃO Confere-se aos participantes de cursos de


aprendizagem rural o Certificado de Qualificação
INICIAL Profissional de Aprendizagem Rural.

Destina-se a jovens e adultos, capacitando-os para


o exercício de uma ocupação existente e definida
pelo mercado de trabalho, mediante domínio de
QUALIFICAÇÃO um conjunto significativo de tarefas e operações
da ocupação, segundo o perfil profissional. Pode
PROFISSIONAL Curso
ser modularizada e complementada por cursos
BÁSICA de formação continuada e de níveis técnico e
tecnológico. Confere-se aos participantes de cursos
de qualificação profissional básica o Certificado
Ocupacional de Qualificação Profissional Básica.

Destina-se aos participantes que já exercem


determinada ocupação e necessitam aperfeiçoar
ou atualizar (em função de mudanças no processo
produtivo) competências específicas de determinado Curso e
APERFEIÇOAMENTO
perfil profissional, adquirindo novos conhecimentos treinamento
em determinados segmentos dessa ocupação.
Confere-se aos participantes de curso/treinamento de
aperfeiçoamento o Certificado de Aproveitamento.

Destina-se aos participantes que já exercem


determinada ocupação, apresentam certificação de
competências adquiridas em processos formativos
anteriores ou demonstram conhecimentos tácitos
FORMAÇÃO Curso e
ATUALIZAÇÃO e necessitam atualizar competências específicas
CONTINUADA de determinado perfil profissional, em decorrência
treinamento
de mudanças tecnológicas no processo produtivo.
Confere-se aos participantes de curso/ treinamento
de atualização o Certificado de Aproveitamento.

Destina-se aos participantes que já exercem


determinada ocupação e desejam aprofundar
competências em áreas específicas de determinado
perfil profissional, caracterizando em geral uma
ESPECIALIZAÇÃO nova função especializada. Curso

Confere-se aos participantes de cursos de


especialização o Certificado Ocupacional de
Especialização.

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No caso específico da FPR, deve-se observar o • Como formar esse profissional/pessoa?


seguinte: • Que conhecimentos, habilidades e atitudes
esse profissional precisará desenvolver,
a) identificar em qual nível essa formação se considerando o nível dessa formação?
insere (formação inicial, formação continuada ou
educação profissional de nível técnico); Essa reflexão deverá resultar em tomada de
decisões como:
b) verificar, após a identificação do nível, • definição de objetivo geral e de objetivos
qual a natureza da programação (Aprendizagem específicos;
Profissional Rural, Qualificação Profissional Básica, • definição de critérios de avaliação;
Aperfeiçoamento, Especialização, Atualização); • identificação dos conteúdos necessários
para o alcance dos objetivos;
c) verificar se há uma carga horária prevista • seleção de estratégias de ensino;
para essa formação e, considerando os aspectos • definição de espaços e instalações;
mencionados e o título do curso ou programa, • seleção de equipamentos e ferramentas;
refletir sobre: • seleção de materiais e recursos.

PROMOÇÃO SOCIAL (PS)

ÁREAS DE ATIVIDADES, ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO E CARÁTER DA PROGRAMAÇÃO

ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO
ÁREAS DE ATIVIDADES CARÁTER
(TIPO DE PROGRAMAÇÃO)
Curso
Seminário Educativo
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
Palestra Preventivo
Encontro
Dia Especial Educativo
APOIO ÀS COMUNIDADES
Encontro Preventivo
RURAIS
Palestra Atendimento
Educativo
Treinamento
ARTESANATO Cultural
Oficina
Econômico
Dia Especial Cultural
CULTURA Encontro Educativo
Oficina Recreativo

Curso
Encontro
Educativo
Palestra
EDUCAÇÃO Participativo
Programa
Preventivo
Seminário
Oficina

Atividades Físicas Educativo


ESPORTE E LAZER Encontro Participativo
Torneio Recreativo

Curso
Campanha
Educativo
Encontro
SAÚDE Preventivo
Palestra
Atendimento
Seminário
Programa

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2 – Plano instrucional

O plano de ensino é apenas um roteiro, No SENAR, o produto do processo de planejamento


um instrumento de referência, e, como tal, do instrutor é o plano instrucional, que representa
é abreviado, esquemático, sem colorido e o registro de sua reflexão. Ele contém um conjunto
aparentemente sem vida. Compete ao educador de ações educativas elaborado e utilizado por ele na
que o confeccionou dar-lhe vida, relevo e colorido execução das ações/atividades. O plano instrucional é o
no ato de sua execução, impregnando-o de sua instrumento de trabalho mais importante do instrutor
personalidade dinâmica, sua vibração e seu – deve ser continuamente consultado, anotado ou
entusiasmo, enriquecendo-o com sua habilidade rabiscado e, se necessário, corrigido ou alterado, e não
e expressividade42. somente guardado e apresentado à supervisão.
________________________________________________________________________
42
TURRA, C. M. G. et al. Planejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto Alegre: Sagra - DC Luzzato, 1995.

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RECOMENDAÇÕES SOBRE O PLANO INSTRUCIONAL

Deve ser elaborado a partir da identificação de necessidades. Para isso, o instrutor deve receber
informações prévias que permitirão a sua adequação à realidade concreta dos participantes.

Deve ser específico para cada ação da FPR e atividade de PS, em decorrência das peculiaridades que
cada uma apresenta.

Deve possuir componentes essenciais ao bom planejamento das ações/atividades:

• objetivos (geral e específicos);

• conteúdo;

• técnicas instrucionais;

• procedimentos de avaliação;

• recursos instrucionais (contendo espaços e instalações, equipamentos e ferramentas e materiais e


recursos);

• carga horária.

Deve conter na capa algumas informações que auxiliam o instrutor no planejamento e na execução
das ações/atividades.

Para o plano instrucional da FPR:


• identificação da ação: título; linha de ação; área ocupacional; ocupação43/código da CBO,
qualificação44; natureza e tipo da programação.

Para o plano instrucional da PS:


• identificação da atividade: título; área de atividade; atividade e tipo da programação.

Os planos instrucionais da FPR e da PS devem conter, ainda, os seguintes dados dos participantes:
quantidade, faixa etária, sexo, raça ou cor, grau de escolaridade, clientela, e, caso haja participação de
pessoas com necessidades especiais, quais são essas necessidades.

________________________________________________________________________
43
Ocupação é uma atividade profissional que decorre de uma área ou família ocupacional. Segundo o MTE, a ocupação surge da
agregação de situações similares de emprego e/ou trabalho. (MTE/CBO, 2002).
44
Qualificação, no âmbito da educação profissional, tem estreita ligação com o nível de formação da educação profissional. Por exemplo,
a qualificação profissional básica e a aprendizagem rural estão na modalidade formação inicial.

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Para facilitar a elaboração do plano instrucional da FPR, sugere-se a formatação a seguir.

PLANO INSTRUCIONAL – FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL

Título da ação da FPR: ____________________________________________________________ Nível

Linha de ação: ____________________________________________________________________ ( ) *FI – Formação Inicial

Área ocupacional: ________________________________________________________________ ( ) *FC – Formação Continuada

Natureza da programação:
Família ocupacional (CBO): ______________________________________________________
( ) Aprendizagem Profissional rural
Título da ocupação (CBO): _______________________________________________________
( ) Qualificação profissional básica

( ) Aperfeiçoamento

( ) Atualização

( ) Especialização

Tipo da programação:

( ) Treinamento

( ) Curso

INSTRUTOR
Nome: ______________________________________________________________________________________________________________________________

Profissão: ___________________________________________________________________________________________________________________________

Entidade a que se vincula ou onde trabalha: ________________________________________________________________________________________

PARTICIPANTES
Nº de participantes: _________________________________________________ Produtores rurais: _______________________________________

Gênero: Trabalhadores assalariados _______________________________

Feminino: _____________ Masculino: _____________Outros: _____________ Trabalhadores autônomos: _______________________________

Escolaridade: Faixa etária:

Ensino fundamental completo: ___________ Incompleto: _______________ De 16 a 18 anos: ____________ Acima de 18 anos: __________

Ensino médio completo: _________________ Incompleto: _______________ Etnia/ raça/ cor:

Ensino superior completo: ________________ Incompleto: _______________ Preta: ____________________________________________________

Sem escolaridade: ___________________________________________________ Branca: __________________________________________________

Participantes com deficiência (especificar as necessidades): Parda: ___________________________________________________

_______________________________________________________________________ Amarela: _________________________________________________

_______________________________________________________________________ Índígena: ________________________________________________

Data de elaboração do plano: Carga horária total: Local de realização da ação: _______________________________

___________/___________/__________ _______________ /horas Período de realização da ação: ____________________________

Assinatura do instrutor: _________________________________

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Carga horária
Recursos instrucionais
Avaliação
Técnicas Instrucionais
Conteúdo

2.1-

3.1-
1.1-
Objetivos específicos
OBJETIVO GERAL:

2-

3-
1-

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72 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Para facilitar a elaboração do plano instrucional de PS, sugere-se a formatação a seguir.

PLANO INSTRUCIONAL – PROMOÇÃO SOCIAL

Título da atividade da PS: ________________________________________________________ Tipo da programação/Estratégias educativas:

Área da atividade: ________________________________________________________________ ___________________________________________

Atividade: ________________________________________________________________________ ___________________________________________

___________________________________________________________________________________ ___________________________________________

___________________________________________________________________________________ ___________________________________________

___________________________________________________________________________________ ___________________________________________

INSTRUTOR

Nome: ______________________________________________________________________________________________________________________________

Profissão: ___________________________________________________________________________________________________________________________

Entidade a que se vincula ou onde trabalha: ________________________________________________________________________________________

PARTICIPANTES

Nº de participantes: _________________________________________________ Produtores rurais: _______________________________________

Gênero: Trabalhadores assalariados _______________________________

Feminino: _____________ Masculino: _____________Outros: _____________ Trabalhadores autônomos: _______________________________

Escolaridade: Faixa etária:

Ensino fundamental completo: ___________ Incompleto: _______________ De 16 a 18 anos: ____________ Acima de 18 anos: __________

Ensino médio completo: _________________ Incompleto: _______________ Etnia/ raça/ cor:

Ensino superior completo: ________________ Incompleto: _______________ Preta: ____________________________________________________

Sem escolaridade: ___________________________________________________ Branca: __________________________________________________

Participantes com deficiência (especificar as necessidades): Parda: ___________________________________________________

_______________________________________________________________________ Amarela: _________________________________________________

_______________________________________________________________________ Índígena: ________________________________________________

Data de elaboração do plano: Carga horária total: Local de realização da ação: _______________________________

___________/___________/__________ _______________ /horas Período de realização da ação: ____________________________

Assinatura do instrutor: _________________________________

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 73

Carga horária
Recursos instrucionais
Avaliação
Técnicas Instrucionais
Conteúdo

2.1-

3.1-
1.1-
Objetivos específicos
OBJETIVO GERAL:

2-

3-
1-

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Os componentes do plano instrucional são deve excluir a possibilidade de que um propósito


descritos a seguir. venha a ser confundido com outro. Ele atende aos
seguintes aspectos:
2.1. Objetivos • é orientado para os participantes da ação/
atividade: significa que a ênfase é no que
Objetivo é o alvo ou o fim que se quer atingir, ou o participante será capaz de fazer ou
o propósito ou o intuito de alguém em alcançar algo. saber, e não no que o instrutor pretende
A formulação de objetivos alcançáveis e adequados desenvolver;
à realidade mostra-se fundamental para garantir a • é claro e compreensível, descrevendo
viabilidade de qualquer atividade. o resultado desejado da aprendizagem:
precisa ter um verbo no infinitivo,
Objetivos educacionais ou da aprendizagem claramente definido, que descreva a ação ou
são afirmações claramente estabelecidas ou comportamento do participante;
descrições que documentam a intenção do • é viável ou alcançável pelos participantes da
instrutor e os resultaados educacionais esperados ação/atividade por intermédio de métodos e
após a implementação dos processos de ensino e meios adequados;
aprendizagem. Eles devem fornecer a indicação • é observável e mensurável;
precisa do desempenho, ou seja, o que se espera • é diretamente relacionado ao título ou
dos participantes em termos de conhecimentos, propósito do curso ou atividade, significativo
habilidades e atitudes após completarem a ação ou ao participante e baseado em necessidades
atividade proposta. educacionais relevantes.

Principalmente no caso da FPR, além de promover


o conhecimento técnico relativo às exigências Classificação e características dos objetivos
da ocupação em questão, os objetivos devem
contemplar a busca do desenvolvimento da Os objetivos educacionais são frequentemente
capacidade de organização, de gerenciamento, classificados dentro dos três domínios da
comunicação, negociação e inovação dos aprendizagem descritos anteriormente: o cognitivo,
participantes, que são expressões das o afetivo e o psicomotor.
competências socioemocionais.
• No domínio cognitivo, os objetivos
No processo educativo, a determinação de expressam a reprodução de conhecimentos
objetivos é primordial, uma vez que eles: aprendidos ou a resolução de alguma
atividade intelectual para a qual é preciso
• constituem a base para o planejamento; determinar o problema essencial – aplicação
• norteiam a avaliação, tornando explícitas as em situações novas, combinando ideias,
condições necessárias para seu alcance; métodos ou procedimentos previamente
• fornecem aos participantes um meio de aprendidos.
organizar seus próprios esforços para • No domínio afetivo, os objetivos enfatizam o
alcançá-los; e sentimento, a emoção ou o grau de aceitação
• são a origem para a determinação do ou rejeição e expressam interesses, atitudes
conteúdo, da seleção das técnicas e dos ou valores.
recursos instrucionais, dos procedimentos • No domínio psicomotor, os objetivos
de avaliação e da carga horária. enfatizam alguma habilidade manual.

Formulação dos objetivos educacionais A determinação de quais domínios serão


contemplados nos objetivos educacionais
Um objetivo educacional bem formulado depende dos resultados pretendidos com a
comunica, de forma clara, o alvo a ser alcançado e aprendizagem.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 75

É importante também detectar o nível de concretas, teórica ou praticamente, o que foi


desempenho pretendido no processo de ensino aprendido.
e aprendizagem. Algumas ideias de Bloom (1983) e
outros quanto ao campo cognitivo serviram de base • Análise é a capacidade de decompor um
para a definição destes níveis: todo em partes significativas. Envolve
os níveis anteriores: conhecimento,
• Conhecimento é o nível inicial de compreensão e aplicação.
desempenho. Refere-se à capacidade de
memorizar, de recordar – sob a forma • Síntese é a capacidade de juntar as partes
de identificação ou evocação – ideias, esmiuçadas pela análise para formar um
conteúdos, fenômenos, datas e fatos todo que constitua um padrão ou estrutura
específicos, além de maneiras e meios de que não estava evidente anteriormente.
tratar esses fatos.
• Avaliação é o nível mais complexo de
• Compreensão inclui o conhecimento. desempenho, impossível de ser alcançado sem o
É a capacidade de entender e empregar desenvolvimento dos outros. É a capacidade de
as informações adquiridas, de captar o julgar o valor dos conteúdos, fatos e fenômenos.
significado dos conteúdos, dos fenômenos e O aluno ou participante chega a maiores
dos fatos. autonomia, participação e capacidade crítica.

• Aplicação é o nível que supõe que, com base O gráfico a seguir mostra os níveis de
na compreensão de certos conhecimentos, o desempenho propostos associados aos níveis de
participante aplique em situações novas ou autonomia e capacidade crítica.

Maior

6 - Avaliação
5 - Síntese
4 - Análise
3 - Aplicação
2 - Compreensão
1 - Conhecimento

Baixo nível Alto nível


- de autonomia - de autonomia
- de participação - de participação

O gráfico mostra que quanto mais complexo o do aluno. Para facilitar a definição dos objetivos do
nível de desempenho atingido, maiores a autonomia, domínio cognitivo, apresentam-se, no ANEXO I,
a participação e a capacidade crítica. No processo de sugestões de verbos que podem ser utilizados.
ensino e aprendizagem, é desejável que se desenvolvam
níveis de desempenho mais complexos, considerando Quanto ao domínio psicomotor, relacionado
o grau de desenvolvimento dos participantes. às habilidades motoras, pode-se dizer que o nível de
desempenho está diretamente ligado à aplicação
Na prática, muitas vezes é difícil precisar os limites prática, embora essa aplicação possa ter característica
entre os níveis de desempenho. A maior preocupação de imitação, quando o aluno reproduz cada passo de
do instrutor não deve ser distinguir rigorosamente um uma habilidade com assistência constante do instrutor;
nível de outro, mas sim buscar, sempre que possível, de repetição, quando pratica uma habilidade várias
desempenhos mais complexos e criativos por parte vezes; de domínio, quando executa uma habilidade

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com precisão e velocidade adequadas; e de criação,


quando modifica, adapta ou introduz novos elementos VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DE FLUXO?
a uma habilidade previamente adquirida.
Fluxo ou flow é um estado psicológico
Apresentamos, no ANEXO II, uma sugestão de intenso bem-estar que, para muitos
de verbos que você pode utilizar na definição dos especialistas, representa o ápice da inteligência
objetivos do domínio psicomotor, de acordo com emocional. É um fenômeno que acontece
o pretendido. No desenvolvimento das habilidades
quando desenvolvemos tamanha maestria em
desse domínio, você deve ter sempre em mente
uma tarefa manual ou mental, e nos envolvemos
que os verbos descritos nos objetivos indicam um
caminho de aprendizagem pelo qual o aluno deve a tal ponto com o que está sendo feito, que,
ser conduzido, buscando-se sempre níveis mais simplesmente, não notamos que estamos
complexos de autonomia. fazendo esforço nem vemos o tempo passar.
Isso acontece com dançarinos, esportistas,
Finalmente, quanto ao domínio afetivo, cujos músicos, intelectuais, e pode acontecer com
objetivos devem expressar interesses, atitudes ou qualquer um. Esse fenômeno ocorre porque,
valores, apresentamos no ANEXO III uma sugestão nesses momentos, estamos usando toda a
de verbos que podem ser utilizados, indicando esses capacidade de processamento disponível em
interesses, atitudes ou valores a serem desenvolvidos. nosso sistema nervoso para desempenhar
com excelência determinada tarefa, de modo
Os objetivos também podem ser classificados que não sobra nenhuma energia ou recurso
em geral e específicos.
para rastrear a passagem do tempo. Para que
isso aconteça, devemos desenvolver um
Objetivo geral – Expressa a mudança/
transformação que o participante deve alcançar altíssimo grau de habilidade em alguma
ao final da ação da FPR e da atividade da PS, coisa, e a tarefa em si deve representar um
consistindo na base para o desempenho desejável desafio: se for simples demais, nos entediamos;
na ocupação/atividade. Caracteriza-se por ser mais se difícil demais, ficamos ansiosos. Quando se
amplo, alcançável em maior prazo, e por indicar o alcança esse patamar, muitos descrevem que
comportamento do participante ao final da ação de nem ao menos “pensam” sobre o que estão
FPR ou da atividade de PS. fazendo – é como se observassem seu próprio
corpo e comportamento de uma perspectiva
Objetivos específicos – Expressam os externa, como se as mãos ou os pés soubessem
comportamentos observáveis, fornecendo padrões sozinhos o que fazer, sem serem comandados
para avaliações de desempenho. Derivam do conscientemente. O resultado é uma tarefa
objetivo geral, facilitando e permitindo o seu
feita com perfeição e um forte sentimento de
alcance. Caracterizam-se por serem mais simples,
prazer com a atividade desempenhada45.
concretos e alcançáveis em menor tempo. Indicam
os comportamentos que evidenciam a aprendizagem
parcial em direção ao alcance do objetivo geral.
Devem orientar o docente na identificação do
conteúdo, na seleção de técnicas instrucionais e no
levantamento de indicadores de atitudes inerentes
ao trabalho.

A redação de objetivos específicos para os campos


cognitivo e psicomotor deve também abranger
as dimensões de extensão e de profundidade. A
extensão delimita o conteúdo a ser trabalhado. A
profundidade diz respeito aos níveis de desempenho
a serem atingidos. A dimensão de profundidade
contida no objetivo deve orientar o docente na forma
de condução e avaliação da aprendizagem.

________________________________________________________________________
45
CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. A descoberta do fluxo: a psicologia do envolvimento com a vida. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 77

Componentes dos objetivos

Os componentes do objetivo geral são a ação e a condição.


Já os objetivos específicos devem conter a ação, a condição e o critério de avaliação.

COMPONENTES DOS OBJETIVOS

AÇÃO CONDIÇÃO CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO

Indica o que o participante


Indica com que rendimento
deverá ser capaz de saber
(qualidade ou quantidade)
e fazer, ou seja, qual o
Indica a situação ou os a ação deverá ser
comportamento observável.
DESCRIÇÃO meios em que a ação será demonstrada para que se
demonstrada. possa avaliar e determinar
É expresso por meio de um
quando o objetivo foi
verbo no infinitivo e seu
alcançado.
complemento.

Sob que condições?


Onde? Com que qualidade?
QUESTÕES USADAS O que fazer?
Como? Com que quantidade?
Com o quê?

EXEMPLOS

DOMÍNIOS DA
AÇÃO CONDIÇÃO CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO
APRENDIZAGEM

1) Citar as diferenças
básicas entre o ...no aspecto da sua ...obedecendo à legislação
COGNITIVO
associativismo e o formalização... vigente.
cooperativismo...

2) Partilhar experiências
...de propriedades ...colaborando com o
AFETIVO sobre a administração
familiares... desenvolvimento do grupo.
rural...

...deslizando-a sobre a
...utilizando canivete de
PSICOMOTOR 3) Introduzir a borbulha... lâmina e obtendo encaixe
enxertia...
perfeito na incisão.

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78 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Exemplos de objetivos

Exemplo 1 – Formação Profissional Rural

Objetivo Geral Objetivo Específico

Ação: Condição: Ação: Condição: Critério:


O que Com O que Com Com que
fazer? o quê? fazer? o quê? qualidade?

Aplicar defensivos agrícolas com Revisar o pulverizador costal manual utilizando


pulverizador costal manual. chaves, lubrificantes e água, verificando a
inexistência de vazamentos, bem como se o jato sai
uniforme, constante e em forma de sereno.

Exemplo 2 – Formação Profissional

Objetivo Geral Objetivo Específico

Ação: Condição: Ação: Condição: Critério:


O que Com O que Com Com que
fazer? o quê? fazer? o quê? qualidade?

Analisar o desempenho econômico Determinar o custo da produção de leite


da atividade leiteira utilizando as utilizando a metodologia adequada, verificando a
medidas de resultado econômico. eficiência da produção.

Exemplo 3 – Promoção

Objetivo Geral Objetivo Específico

Ação: Condição: Ação: Condição: Critério:


O que Com O que Com Com que
fazer? o quê? fazer? o quê? qualidade?

Confeccionar cestas com Pintar a cesta utilizando o material de pintura,


papel-jornal. observando o tempo de secagem entre uma
demão e outra.

2.2. Conteúdo

Entende-se por conteúdo o conjunto de teóricos, informações técnicas e habilidades práticas,


informações e conhecimentos que embasarão a mas deve também contemplar o desenvolvimento de
aquisição de habilidades e atitudes consideradas novos hábitos, atitudes e valores.
necessárias ao desenvolvimento do curso ou
programa, selecionado com base no perfil profissional Há duas formas de abordagem para a
previsto. Ele não deve ser trabalhado de maneira linear, determinação de conteúdos da educação: o conceito
mecânica, considerando somente conhecimentos ingênuo e o conceito crítico (PINTO, 1991).

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 79

O conceito ingênuo é aquele em que o benefício dos participantes, considerando os


conteúdo se reduz à transmissão, ao participante, imprevistos que possam ocorrer durante o
do que o educador conhece. desenvolvimento do curso ou programa.

O conceito crítico é aquele em que o conteúdo Significação – Deve ser adequado às expectativas
se constitui não somente da “matéria” ou conteúdo e experiências dos participantes e vinculado à sua
ocupacional (tarefas e operações), mas também realidade, sua vivência, seus interesses e sua cultura,
incorpora as condições sociais e pessoais em de modo que ele possa aprofundar o conhecimento
todos os elementos dos processos de ensino e por iniciativa própria.
aprendizagem.
Utilidade – Refere-se à aplicabilidade do
Propomos o conceito crítico por entendermos conhecimento, propiciando o seu uso posterior
que o conteúdo não pode ser considerado uma carga em situações novas, contribuindo para a tomada
a ser transportada de um lugar a outro, como se o de decisão e para a solução de problemas reais do
instrutor fosse o doador do saber e o participante, um cotidiano de trabalho.
mero receptor. Ele é dinâmico e fundamentalmente
histórico e variável. Não se pode determinar o Critérios básicos para a organização do
conteúdo com contornos definidos e estáticos, e conteúdo
sim permitir acréscimos e supressões, agregando-se
elementos pessoais e sociais. Ainda que previamente Delineamos a seguir os critérios básicos a serem
planejado, ele deve ser desenvolvido conforme as considerados na organização dos conteúdos.
características da clientela do evento.
Logicidade – Corresponde à sequência lógica
O conteúdo deve estar presente em cada ação do em que devem ser organizados para possibilitar
instrutor, nos processos de ensino, aprendizagem e o crescimento acumulativo do participante em
avaliação. Está interligado, associa-se às técnicas de relação aos objetivos propostos.
ensino e interage com elas, indicando quais delas (formas
de desenvolvimento do conteúdo) serão utilizadas. Continuidade – Intimamente relacionada à
logicidade, é a articulação e a conexão entre os
Identificamos e definimos o conteúdo tendo em novos conhecimentos e os anteriores, como em
vista o alcance do objetivo geral e dos objetivos uma cadeia na qual cada elo se encaixa aos já
específicos, considerando a modalidade, o tipo e a existentes, de forma que nenhum conhecimento
natureza da programação, o diagnóstico da realidade fique estanque.
e das necessidades da clientela, abrangendo os
conhecimentos, habilidades e atitudes definidos Gradualidade – Refere-se basicamente ao
para cada um dos objetivos específicos. processo de ensino em pequenas etapas. Diz respeito
à distribuição adequada, em quantidade e qualidade,
Critérios para seleção do conteúdo dos conhecimentos, das habilidades e das atitudes
referentes ao trabalho ou sociais. Visa atender às
Os conteúdos devem ser selecionados de acordo possibilidades de realização do aluno, de modo a
com critérios que permitam o alcance dos objetivos desafiá-lo em níveis crescentes de dificuldades.
educacionais: validade, flexibilidade, significação e
utilidade.
Você se lembra dos processos gerais pelos
Validade – A coerência, adequação e vínculo que quais os adultos adquirem conhecimento?
o conteúdo mantém com os objetivos propostos, Organizar conteúdos para as aulas pode
devendo estar atualizado. ser mais fácil se você os levar em conta!
Para refrescar a memória, que tal rever o
Flexibilidade – Deve permitir alterações, infográfico sobre aprendizagens significativas
adaptações, renovações e enriquecimento em na página 24?

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80 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Além dos critérios considerados básicos, outros meio ambiente e ao conforto, dignidade e
aspectos importantes devem estar contidos no redução máxima possível do sofrimento dos
conteúdo, tais como: animais em todas as ocasiões;

• Informações tecnológicas relativas às • questões sobre ética e cidadania;


ações/atividades, segundo a natureza e/ou
o tipo da programação; • abordagens sobre a qualidade e a
produtividade.
• desenvolvimento de capacidades de raciocínio,
pensamento, análise, tomada de decisões, além No plano instrucional, o conteúdo deve ser
das manuais, motoras e comportamentais apresentado em tópicos, obedecendo a uma
diretamente relacionadas ao perfil sequência lógica e contínua, correspondente a
profissional e ao título do curso ou programa; cada objetivo específico. Recomendamos que no
conteúdo relativo ao primeiro objetivo específico
• informações e atividades relativas à segurança seja incluída uma introdução, contextualizando o
e saúde do trabalhador, à preservação do tema a ser abordado.

Método diretivo – A participação do educando Método participativo – O ensino é centrado na


é passiva, sem possibilitar a sua reflexão e a sua participação ativa de quem aprende. A aprendizagem
iniciativa, dando ênfase à exposição dogmática pelo realiza-se mediante a ação do educando. Esse método
educador. baseia-se na inter-relação do instrutor com os
participantes da ação da FPR e da atividade da PS, dos
As possíveis consequências do uso desse método são: participantes entre si e de ambos com o contexto social
e produtivo. O “diálogo de saberes” permeia todo o
• passividade do educando; processo, no qual educador e educando estabelecem
• sacralização da imagem do educador; comunicação horizontal, sem predomínio do saber de
• distância entre interesses e necessidades dos um sobre o do outro. Os saberes diferenciados não
educandos e o conteúdo ministrado; são tidos como concorrentes ou excludentes, mas
• ausência da problematização da realidade como complementares.
pelo educando;
• visão do educando como objeto a ser moldado As possíveis consequências do uso desse método,
pela ação do educador; considerado mais adequado ao desenvolvimento de
• tendência à competitividade entre os competências, são:
educandos;
• tendência a suprimir a originalidade, a • participação ativa do educando em todo o
criatividade e a autoconfiança do educando; processo de ensino-aprendizagem;
• tendência a gerar dependência do educando • motivação do educando pela percepção de
em relação ao educador. problemas reais;
• conteúdos ligados a aspectos significativos
da realidade dos educandos;
• intercâmbio de conhecimentos e
experiências entre todos os participantes;
• desenvolvimento da cooperação na busca de
conhecimentos para a solução de problemas
comuns aos participantes.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 81

GUIA PARA CRIAR COMUNIDADES DE


APRENDIZAGEM COLABORATIVA46

1. Participação em igualdade de condições Às vezes, isso surge naturalmente; outras vezes, você
Uma peça-chave dos esforços colaborativos é a pode pedir por isso e orientar. Receber o feedback e, em
sensação clara de que todos os participantes estão seguida, incorporá-lo são componentes vitais, nenhum
em igualdade de condições, ou seja, que todos sejam deles necessariamente fácil de implementar. Pedimos
igualmente valorizados e são importantes. aos participantes que nos enviem suas expectativas e
esperanças antes de virem, o que nos ajuda a projetar
2. Crie uma coorte o evento de acordo com os interesses deles, embora
O efeito de coorte é profundo. Quando as permaneçamos abertos. As expectativas vão mudando
pessoas se reúnem para uma experiência comum, conforme o grupo e as pessoas se aproximam e aprendem.
especialmente quando é intensa, o grupo pode se
tornar uma influência poderosa sobre os seus próprios 7. Resultados duradouros
membros e o seu ambiente. Uma coorte desenvolve A colaboração é, às vezes, considerada algo “do
uma sensibilidade às necessidades individuais de seus momento”, sem implicações futuras. No entanto,
membros também quanto ao que o grupo exige para ela tem uma história, um presente e um futuro – um
reter seu valor e integridade. Os indivíduos tornam-se componente do “mundo real” com sua própria ação. A
parte de algo maior do que eles. prática pode ser seguida durante reuniões face a face
ou atualizações regulares ou comunicações por e-mail,
3. Interseções: conexões pessoais e profissionais incluindo, juntar-se a outros em projetos ou pesquisas
Quando um profissional está “fazendo” seu trabalho, internacionais, apresentar colegas e conhecimentos a
ele também está presente como pessoa. A abordagem novos colegas, ou a implementação, à nossa prática
de que nossas ideias e pontos de vista pessoais podem diária, das ideias adquiridas durante os encontros. As
ser isolados de nossas tarefas profissionais é bastante novas relações de amizade e trabalho são mantidas à
problemática. Afirmar que nossa visão e postura podem medida que alguns participantes implementam formas
permanecer fora da sala de aula, espaço organizacional de colaborar, por exemplo, através da comunicação
ou de trabalho é, sem dúvida, uma ficção. Podemos até pela internet, consultando-se mutuamente em projetos
tentar minimizar nossas atitudes e opiniões pessoais, de pesquisa. Em outras palavras, os participantes são
mas nossa capacidade de conseguir isso é limitada, e integrados em uma comunidade colaborativa global.
elas sempre vêm à tona – isso pode ser um fator que
humaniza e cria vínculos com as pessoas. 8. Aprendizagem por meio da arte, música,
cultura, tradições populares
4. Hospitalidade Um dos grandes benefícios que a colaboração
“Sai caro ser barato” significa que, quando apresenta é lidar com a diversidade. A diversidade traz
abrimos mão da hospitalidade e da generosidade em o desconhecido, obriga-nos a prestar mais atenção,
termos de comida, comemorações, festas e recepções, estimula a nossa criatividade, dá-nos energia. Nossos
desistimos de ter pessoas reunidas em um ambiente esforços e discussões colaborativas nos levam a dialogar
de interação informal, próxima e pessoal. com praticantes de várias expressões culturais, trocando
ideias e visões. Essas trocas expandem qualitativa e
5. Lugar apropriado e cômodo quantitativamente nossa experiência profissional.
O desenvolvimento de bons relacionamentos
e conversas, que constituem a base de colaboração, 9. Abertura, que nos permite fazer o que a
só ocorrerá se for tomado um cuidado especial em ocasião merece
estabelecer o contexto da colaboração, bem como Abertura é a criação e manutenção de um
se houver uma atenção especial à forma de criar ambiente aberto, livre, criativo e respeitoso, em que a
a hospitalidade. É difícil, por exemplo, conseguir flexibilidade e atividades espontâneas são bem-vindas.
conversas significativas em uma sala fria ou quente Abertura para responder às necessidades de mudança
demais, estéril, ou onde as pessoas não possam falar e ser capaz de aproveitar oportunidades emergentes e
umas com as outras de frente. até inesperadas. A atitude e um ambiente de abertura
promovem e oferecem boas oportunidades para
6. Retroalimentação e ajustes estabelecer ações mutuamente coordenadas, em que a
A colaboração requer a capacidade de receber bem responsabilidade é compartilhada. Não é um “vale tudo
o feedback (retroalimentação) e colocá-lo em bom uso. e vamos ver o que acontece”.

________________________________________________________________________
46
LONDON, Sylvia. Guides for collaborating. International Journal of Collaborative Practices, Londres, n. 1, ano 1, 2009. p. 1-8.

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82 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Técnicas Instrucionais Técnicas individualizantes

A palavra “técnica” vem do grego e do latim Promovem o trabalho individual, favorecendo


e significa “conjunto de processos de uma arte a segurança de posicionamento do participante,
envolvendo a maneira ou jeito de fazer algo”, ou sua independência e capacidade de tomar
seja, refere-se ao “como fazer”. Nas situações de decisões. Exemplos: leitura e interpretação de
ensino, é a forma ou o procedimento utilizado pelo textos, instrução programada, pesquisa de um
instrutor para conduzir o conteúdo da ação da assunto, estudo de caso e demonstração.
FPR ou da atividade da PS, estruturado de maneira
lógica. Algumas dessas técnicas também podem ser
desenvolvidas em grupo, como o estudo de caso e a
Em várias situações, pode-se combinar mais de pesquisa de um assunto.
uma técnica para atingir determinados objetivos.
É importante que elas sejam aplicadas de maneira Técnicas socializantes
integrada ao desenvolvimento do conteúdo,
sem alterar sua continuidade, logicidade e Promovem a interação em grupo, favorecendo o
gradualidade. desenvolvimento das habilidades de comunicação,
percepção, participação, trabalho em equipe e
Na seleção das técnicas instrucionais, deverão liderança e de atitudes sociais, como o respeito
ser considerados: mútuo, a solidariedade, a integração entre os
membros do grupo e a consciência democrática.
• os objetivos da ação/atividade; Entre as técnicas socializantes, podem-se utilizar
• o conteúdo da ação/atividade; diversos jogos e dinâmicas que se encontram
• o tipo de aprendizagem requerida; na literatura, além de técnicas de discussão,
• a carga horária da ação/atividade; tempestade de ideias e exposição dinamizada.
• as características dos participantes da ação/
atividade; Para conduzir uma técnica instrucional, o
• o número de participantes; instrutor deve:
• o local da ação/atividade;
• os recursos instrucionais disponíveis. • conhecer todos os passos que a permeiam,
planejando-a;
Pode-se dizer que existem dois grandes grupos • ser claro ao expor suas intenções para com o
de técnicas instrucionais: uso daquela técnica;
• envolver e motivar a turma;
• técnicas individualizantes; • fazer ajustes necessários à técnica;
• técnicas socializantes. • concluir a técnica amarrando-a ao conteúdo
programático.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 83

Sugestões de técnicas ao instrutor do SENAR

Tratar-se-á, aqui, de algumas técnicas que podem momento adequado;


ser utilizadas nos cursos e programas do SENAR. No • elaborar síntese com a colaboração dos
entanto, a criatividade e o interesse do instrutor participantes;
poderão levá-lo a demais alternativas, na busca do • tirar conclusões com a participação de todos.
aprimoramento de sua ação como educador.
C. Finalidades da exposição dinamizada:
1. Exposição dinamizada
• despertar o interesse dos participantes em
relação ao assunto abordado;
Consiste na • introduzir assunto novo, com componentes
apresentação oral de cognitivos e esclarecimento de conceitos;
um tema organizado • fornecer uma base abrangente ao trabalho,
em sequência lógica dando uma visão global do assunto;
e desenvolvido • desenvolver temas específicos relacionados
dinamicamente, às situações reais de trabalho;
favorecendo a participação do educando no • revelar conhecimentos, habilidades e
processo de ensino e aprendizagem. Quando atitudes dos participantes;
feita de forma dinamizada ou dialogada, • auxiliar o instrutor a perceber as necessidades
pode ser extremamente valiosa. O termo dos participantes.
“dinamizada” se refere à participação ativa
e efetiva do educando, estimulado por 2. Demonstração
questionamentos, favorecendo a produção e
a reelaboração do conhecimento.
Consiste em
ensinar, passo a passo,
A. Planejamento da exposição dinamizada: como se executa
uma operação na
• construir o conteúdo necessário utilizando prática, para que
fontes, como memória, bibliografia e os participantes
consultas a outras pessoas; realizem a atividade
• elaborar o roteiro da exposição, dividindo posteriormente. É
o conteúdo em ideias breves e bem fundamental para o ensino de habilidades
expressas, limitando as informações para motoras, nas quais o movimento físico
que possam ser assimiladas prontamente e e o manuseio de objetos devem ser
exemplificando cada ponto importante; desenvolvidos, bem como a destreza mental.
• prever as questões que serão lançadas aos É a técnica do “aprender a fazer fazendo”.
participantes, incluindo as propostas pela
mediação da aprendizagem;
• preparar os recursos instrucionais adequados Demonstração e prática constituem ingredientes
ao conteúdo para facilitar a aprendizagem. essenciais de um programa de ensino, sobretudo
quando as habilidades devem ser aprendidas.
B. Desenvolvimento da exposição dinamizada: Recomendamos demonstrar essas habilidades e,
depois, permitir ao participante ampla oportunidade
• apresentar introdução motivadora; para praticá-las. Assim, propicia-se a articulação da
• levantar os conhecimentos prévios dos prática com o conhecimento teórico, confirmando
participantes; explicações orais e escritas e tornando-as mais reais
• desenvolver o tema de maneira lógica; e concretas.
• realizar questionamentos, exemplificações,
sínteses e discussões sempre que oportuno; Na demonstração, você, instrutor, enfatiza
• utilizar os recursos instrucionais no os exercícios e traz à tona o raciocínio, por meio

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84 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

de questionamentos, para que a tarefa proposta Fase 3 – Aplicação prática pelo participante:
possa ser realizada a contento, considerando a
aprendizagem relativa aos domínios psicomotor, • levar cada participante a executar a operação
cognitivo e afetivo. Agindo dessa forma, estará passo a passo;
encorajando os participantes a expor suas ideias, a • supervisionar essa execução, dando
discordar, a argumentar, a expor os saberes deles, informações sobre o desempenho e
adquiridos nas experiências de vida e de trabalho. corrigindo, se necessário.

A. Planejamento da demonstração: Fase 4 – Verificação:

• organizar a sequência da demonstração; • levar cada participante a executar


• selecionar e testar o equipamento; integralmente a operação;
• preparar outros recursos instrucionais, se for • observar o desempenho de cada participante;
o caso; • realizar, mesmo que oralmente, a
• planejar os meios de avaliação. autoavaliação pelo participante;
• avaliar o desempenho de cada participante.
B. Desenvolvimento da demonstração (em
duas fases distintas):
Importante:
Fase 1 – Preparação: • indicar os aspectos essenciais da realização
da tarefa;
• dispor convenientemente os participantes; • condensar a informação e focar a atenção
• fazer introdução motivadora; nos elementos críticos;
• levantar os conhecimentos prévios dos • explicar e identificar os critérios de êxito/
participantes, por meio de perguntas; avaliação;
• explicar como será desenvolvida a • planejar a sequência lógica da demonstração
demonstração, informando sobre os (transições de movimentos).
objetivos e a utilidade da atividade, a
manipulação de materiais, ferramentas e
instrumentos, as questões de segurança e as
atitudes inerentes a essa atividade.
Aprendizado

Fase 2 – Apresentação:

• apresentar o conteúdo da demonstração de


forma clara e concisa;
• apresentar a operação em ritmo normal,
apontando os aspectos essenciais para a Fases
f1 f2 f3 f2
realização da tarefa; Preparação Apresentação Aplicação
Prática
Verificação

• apresentar a operação em ritmo lento,


chamando a atenção para os elementos
críticos; C. Finalidades da demonstração:
• repetir a operação em ritmo normal,
identificando os critérios de êxito. • desenvolver as destrezas e habilidades
manuais e mentais exigidas pelo trabalho;
Isso dependerá da possibilidade de a operação • permitir a visualização imediata dos
ser realizada em ritmo lento, bem como do nível procedimentos na ordem em que devem ser
de complexidade da operação para o participante. executados;
Os aspectos de segurança e outros inerentes a essa • proporcionar a oportunidade de exercitar
atividade devem fazer parte da demonstração, como e provar os conhecimentos adquiridos em
exemplo a ser seguido, nunca devendo ser somente condições que correspondam à realidade do
verbalizados. trabalho.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 85

3. Estudo de caso 4. Situações-problema

Consiste no estudo As escolas rurais deveriam formar cidadãos


de um caso específico. dotados de mais autoconfiança pessoal e
Deve ser apresentado autossuficiência técnica, de modo que possam
aos participantes por ser eficientes corretores das suas ineficiências
meio de uma situação e ativos solucionadores de problemas47.
real ou hipotética, de
forma contextualizada,
para análise e, se necessário, uma proposição As situações-
de solução. problema baseiam-
se na apresentação
de situações abertas
Um caso pode se caracterizar como um fato, e estimulantes,
uma situação ou um problema a ser resolvido para que exigem dos
que os participantes reflitam, discutam e recorram participantes uma atitude ativa e um esforço
a fontes de informação, na busca de alternativas na busca de suas próprias respostas. Problema
de solução. Pode ser aplicado individualmente ou é uma situação que um indivíduo ou um grupo
em grupo. É uma forma de colocar em prática os precisa resolver e para a qual não dispõe de
conhecimentos aprendidos. um caminho rápido e direto que leve à solução.
Nesse sentido, o que é problema para alguns
A. Planejamento do estudo de caso: pode não ser para outros.

• formular os objetivos a serem alcançados;


• selecionar o caso a ser estudado ou criar a Uma situação só pode ser concebida como
situação hipotética; problema se ela for reconhecida como tal e se
• definir os pontos que deverão ser explorados. não se dispõe, de imediato, de procedimentos
automáticos que permitam sua solução. A
B. Desenvolvimento do estudo de caso: solução de uma situação desafiadora deve
sempre exigir um processo de reflexão e uma
• explicar a técnica do estudo de caso; tomada de decisões sobre a sequência de passos
• apresentar o caso, relatando-o com os a seguir.
detalhes necessários;
• levantar questões provocativas; Para Pozo48, solucionar problemas significa
• incentivar a participação; promover nos alunos o domínio de procedimentos,
• elaborar as conclusões. assim como a utilização dos conhecimentos
disponíveis, para dar resposta a situações variáveis
C. Finalidades do estudo de caso: e diferentes. Ensiná-los a resolver problemas supõe
dotá-los da capacidade de aprender a aprender,
• estimular a reflexão; habituá-los a encontrar por si mesmos respostas
• desenvolver a atitude analítica; às perguntas que os inquietam ou que precisam
• provocar a curiosidade e o interesse responder, em vez de esperarem por uma resposta
• desenvolver a capacidade de tomada de já elaborada por outros e transmitida pelo livro-
decisões. texto ou pelo professor.
________________________________________________________________________
47
LACKI, Polan. A escola rural deverá formar “solucionadores” de problemas. Disponível em: https://jornalcana.com.br/a-escola-
rural-deve-formar-solucionadores-de-problemas/. Acesso em: 30 jun. 2021.
48
POZO, Juan Ignácio. A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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86 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

A solução de situações-problema exige, além B. Desenvolvimento da situação-problema:


dos procedimentos adequados e de determinadas
atitudes, os tradicionais conteúdos – fatos e • apresentar os objetivos aos participantes;
conceitos que, se não forem compreendidos pelo • apresentar a situação-problema;
participante, vão impossibilitá-lo de resolvê- • proporcionar ao participante a adoção de
la. Para o aprendizado de fatos e de conceitos, suas próprias decisões durante o processo
o instrutor pode lançar mão da exposição de resolução, refletindo sobre ele;
dinamizada. • acompanhar o desenvolvimento da situação-
problema, proporcionando aos participantes
Você precisa considerar os conhecimentos as informações de que precisarem;
e habilidades já desenvolvidos e o nível de • avaliar mais os processos de resolução
aprendizagem de sua clientela para propor seguidos pelo participante do que a correção
situações, que, mesmo sendo simples, final da resposta obtida;
representam um problema para os participantes • propor a autoavaliação dos participantes em
de sua turma. Por outro lado, a apresentação relação ao trabalho;
de uma situação que já seja de domínio dos • valorizar mais a reflexão e a profundidade
participantes é um simples exercício, e não uma das soluções do que a rapidez com que
situação-problema. chegaram a elas.

A. Planejamento da situação-problema: C. Finalidades da situação-problema:

• definir os objetivos que se deseja alcançar • promover o processo de reflexão dos


com a situação-problema; participantes;
• formular a situação-problema, preferen- • desenvolver as capacidades de análise e de
cialmente dentro de cenários cotidianos e tomada de decisões;
significativos para o participante; • estimular a transferência de aprendizagens
• propor tarefas abertas que admitam vários anteriores para situações novas;
caminhos possíveis de resolução e solução; • promover a mobilização de conhecimentos,
• prever os passos para a solução-problema; habilidades e atitudes;
• definir se será realizada individualmente ou • incentivar a pesquisa, a criatividade e a busca
em grupo. de soluções.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 87

ESTUDO DE CASO SITUAÇÃO-PROBLEMA

Consiste no estudo de um caso específico: Baseia-se na apresentação de situações:


• Simples. • Abertas.
• Complexo. • Estimulantes.

Deve ser apresentado na forma de uma


A solução de uma situação-problema exige:
situação:
• Desafio.
• Real.
• Reflexão.
• Hipotética.
• Tomada de decisões.
• Contextualizada para análise.
• Sequência de passos a seguir.
• Com proposição de solução.

Problema é uma situação que um indivíduo


Um caso pode caracterizar-se como: ou grupo precisa resolver e para a qual não
• Fato. dispõe de:
• Situação. • Caminho rápido.
• Problema. • Caminho direto.
• Solução imediata.

Cabe ao participante:
Cabe ao participante:
• Dominar procedimentos.
• Refletir, discutir, recorrer a fontes de
• Desenvolver a capacidade de aprender a
informação.
aprender.
• Buscar alternativas de solução.
• Encontrar soluções por si mesmo.
• Colocar em prática os conhecimentos
• Considerar conhecimentos e habilidades
adquiridos.
já desenvolvidos.

O caso: O problema:
• Busca compreender, explorar ou descrever • Busca aprender a aprender, solucionar ou
acontecimentos. resolver situações.
• Inclui análise e teoria. • Apresenta estratégias e prática.

Observações:
Observações:
• Técnica de domínio cognitivo.
• Técnica de domínio cognitivo.
• Aluno tem papel de protagonista no
• Aluno tem papel de protagonista no
processo ensino-aprendizagem.
processo ensino-aprendizagem.
• Pode ser utilizado na avaliação somativa,
• Pode ser utilizado na avaliação formativa,
pois requer uma consolidação maior de
considerado parte de um instrumento
conhecimentos e a transformação destes
necessário ao processo de aprendizagem e
na prática, propiciando o alcance do
alcance do objetivo específico.
objetivo geral.
• Exige maior tempo para seu
• Exige menor tempo para o
desenvolvimento.
desenvolvimento.
• Técnica socializante ou individualizante.
• Técnica socializante ou individualizante.
• Instrutor: mediador da aprendizagem.
• Instrutor: mediador da aprendizagem.

Situação-problema é um estudo de caso detalhado e mais profundo, em que é apresentado um


contexto que representa um problema que requer uma solução não óbvia, que mobilize ativamente,
teste e treine diversas das competências e estratégias adquiridas nos processos de aprendizagem.

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88 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

5. Tempestade de ideias 6. Discussão

Propõe-se a captar Consiste na


as ideias em estado reunião de pessoas
nascente, antes de para, em grupo,
serem submetidas refletirem, de
aos processos de forma cooperativa,
pensamento lógico. a respeito de um
Em um primeiro momento, antes de proceder assunto, explorando o conhecimento
à análise crítica, a tempestade de ideias comum que possuam dele.
preserva e estimula a imaginação criativa.
O tratamento lógico é feito depois, em um
segundo momento. A técnica finaliza no momento em que há acordo
nos grupos, após uma análise sobre o assunto,
compreensão dos argumentos individuais e
Consiste em levar os participantes a percepção das consequências práticas dos acordos,
apresentarem sugestões ou ideias sem nenhum mesmo havendo pontos de vista divergentes.
tipo de restrição, opinando “tempestivamente”
sobre um assunto. Pode ser utilizada para situações É uma técnica que explora o conhecimento
que requeiram soluções criativas ou para captar comum, aplica a imaginação construtiva, fortalece
conhecimentos e experiências dos participantes a autoconfiança, a motivação e a apreensão do
sobre o assunto a ser introduzido. assunto e retira a passividade de uma única posição.

A. Planejamento da tempestade de ideias: A. Planejamento da discussão:

• estudar profundamente o tema; • ler sobre o assunto;


• formular a situação, problematizando o • definir os objetivos que se deseja alcançar
assunto, para provocar o envolvimento dos com a aplicação da discussão;
participantes. • formular o assunto exato da discussão;
• preparar o roteiro da discussão;
B. Desenvolvimento da tempestade de ideias: • disponibilizar e preparar o local para a
aplicação da técnica.
• apresentar a técnica;
• apresentar o tema, na forma de situação- B. Desenvolvimento da discussão:
problema;
• incentivar a ebulição ou a criação de ideias; • apresentar o assunto da discussão;
• realizar a sistematização e o tratamento das • levantar questões estimuladoras;
ideias; • coordenar o desenvolvimento da discussão;
• resumir e avaliar a aplicação da técnica. • elaborar as conclusões com os grupos.

C. Finalidades da tempestade de ideias: C. Finalidades da discussão:

• desinibir o grupo; • desenvolver um tema com a participação


• desenvolver a imaginação e a criatividade; ativa e ordenada do grupo;
• sondar opiniões e percepções; • chegar a conclusões e decisões
• incentivar a motivação dos participantes. cooperativamente.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 89

Diálogo e discussão: as diferentes formas de conversar49

Essas duas metodologias de conversação têm funções e efeitos diferentes. Isso não quer dizer que um jeito seja
melhor que o outro. São apenas diferentes, e cada um tem seu momento. Vamos compará-las?

Discussão Diálogo
• Escutar para debater. • Escutar para compreender.
• Um lado ganha, o outro perde. • Ninguém está tentando ganhar.
• Um lado está certo, o outro errado. • Toda participação é acolhida sem avaliações
• Toma decisões. de certo/errado.
• Encerra questões • Compartilha significados e entendimentos
entre o grupo.
• Abre questões.

7. Trabalho em grupo

A. Planejamento do trabalho em grupo:


Consiste no
desenvolvimento • definir os objetivos que se deseja alcançar
de um assunto ou com a técnica do trabalho em grupo;
atividade prática • formular o tema ou a atividade prática a ser
pelos participantes executada pelo grupo;
distribuídos em grupos. Permite a eles • preparar o roteiro do trabalho;
a participação conjunta na resolução de • definir se a formação dos grupos será
problemas e o desempenho de alguns papéis, voluntária ou de acordo com critérios
como o de liderança. preestabelecidos;
• disponibilizar e preparar o local para a
atividade do grupo.
Existem diversas formas de trabalho em
grupo, cabendo a você, instrutor, a escolha das B. Desenvolvimento do trabalho em grupo:
mais adequadas aos seus objetivos. Uma boa
estratégia é colocar uma situação-problema para • apresentar os objetivos e o tema ou a
ser resolvida pelo grupo, com o objetivo de criar atividade prática a ser executada pelo grupo;
o espírito de grupo e de capacitar para o trabalho • dividir os participantes em grupos, conforme
em equipe. o planejado;
• levantar questões estimuladoras;
Pode-se optar, também, pelo desempenho de • acompanhar e, se necessário, orientar o
papéis diferenciados entre os participantes. Nessa desenvolvimento do trabalho;
alternativa deve-se propiciar um rodízio de funções • observar o desempenho dos grupos;
a serem desempenhadas no grupo: o líder, o relator, • elaborar as conclusões com os grupos;
os responsáveis pela limpeza após o término • propor a autoavaliação dos participantes em
dos trabalhos, dando oportunidade a todos de relação ao trabalho;
“passarem” por funções diversas. • avaliar o desenvolvimento do trabalho em grupo.
________________________________________________________________________
49
BOHM, David. Diálogo: comunicação e redes de convivência. São Paulo: Palas Athena, 2005.

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90 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

C. Finalidades do trabalho em grupo: –– formular os ob jetivos a serem alcançados;


–– selecionar o tema ou campo da pesquisa
• desenvolver um tema ou atividade prática para investigação;
com a participação ativa do grupo; –– definir os pontos que deverão ser
• favorecer o desenvolvimento de habilidades explorados;
sociais; –– definir se será realizada individualmente
• chegar a conclusões, decisões ou produtos ou em grupo.
do trabalho em grupo;
• capacitar para o trabalho em equipe. • Desenvolvimento da pesquisa:
–– explicar a técnica da pesquisa;
8. Pesquisa –– apresentar o tema ou campo da pesquisa,
relatando-o com os detalhes necessários;
–– se for pesquisa simples, indicar as fontes
No Dicionário de pesquisa;
Aurélio , pesquisa é
50 –– se for pesquisa de caráter científico:
definida como: –– levantar hipóteses de trabalho, para
facilitar a preparação de um estudo
Indagação ou lógico;
busca minuciosa –– incentivar a participação e a coleta de
para averiguação da dados relativos à questão investigada;
–– levar à análise e à interpretação de dados;
realidade; investigação.
orientar sobre o relatório de estudo da pesquisa.
Investigação e estudo, minudentes e
• Finalidades da pesquisa:
sistemáticos, com a finalidade de descobrir
ou estabelecer fatos ou princípios relativos a
–– desenvolver o hábito de pesquisa em
um campo qualquer do conhecimento. livros, jornais, revistas científicas e
internet;
–– estimular a investigação;
A pesquisa pode ter caráter simples ou –– promover a reflexão;
científico: –– desenvolver a atitude analítica;
–– desenvolver a capacidade de síntese e de
• Simples – Os alunos/participantes pesquisam busca de soluções.
sobre um tema em diferentes fontes. Exemplo:
doenças infectocontagiosas mais comuns nos A pesquisa científica, sistematizada, é um
bovinos. bom procedimento para o desenvolvimento de
competências, pois o aluno, sob a orientação do
• Científico – Os alunos/participantes estudam instrutor:
uma situação, coletando dados e informações
que permitam encontrar respostas. A • desenvolve raciocínios mais elaborados;
pesquisa científica é considerada uma • aprende a delimitar o seu campo de
situação privilegiada que reúne pensamento investigação;
e ação de uma pessoa ou grupo na busca de • levanta hipóteses;
identificação de aspectos da realidade que • estabelece relações;
servirão para propostas de solução. • busca a informação em diferentes fontes;
Exemplo: “Pesquisar as causas da incidência • organiza e analisa dados coletados;
da brucelose na região, nos últimos cinco • seleciona o método de análise;
anos”. • faz síntese;
• avalia informações; e
• Planejamento da pesquisa: • apresenta resultados por meio de relatórios
–– definir o caráter da pesquisa – se simples escritos e estruturados.
ou científica;
________________________________________________________________________
50
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 91

O MÉTODO CIENTÍFICO

Uma pesquisa simples pode ser proposta Suas características básicas são o desenvolvimento
em qualquer tipo de curso ou programa; já dentro de um período limitado de tempo, com início
uma pesquisa científica, que requer a coleta e término previamente estabelecidos, e objetivos
de informações sobre determinado assunto, o claramente definidos. A finalidade é gerar um produto
confronto entre os dados, a busca de evidências e ou serviço. Esses objetivos podem incluir, por exemplo,
o conhecimento teórico acumulado a respeito do a construção de um curral, o desenvolvimento de um
assunto em estudo, é mais indicada para cursos de protótipo de ferramenta, a realização de um evento. O
níveis mais elevados ou, pelo menos, de mais longa projeto só pode ser considerado terminado quando o seu
duração. produto ou serviço estiver completamente concluído.

9. Projeto Observa-se, ainda, que um projeto envolve


um conjunto determinado de recursos humanos,
financeiros e materiais, que devem ser otimizados
Projeto é a para se atingir os objetivos dentro do prazo estipulado.
explicitação de um
conjunto de ações a • Planejamento do projeto:
realizar – um plano, –– definir o tipo do projeto – um plano, um
um esboço ou design protótipo, a construção de algo;
–, com flexibilidade –– formular os objetivos a serem alcançados;
e abertura ao –– selecionar o tema do projeto;
imprevisível. Pode –– definir os itens que irão compor o projeto;
envolver variáveis e conteúdos inicialmente –– prever e disponibilizar os recursos físicos
não identificáveis e emergentes no e materiais necessários;
processo. –– definir se será realizado individualmente
ou em grupo.

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92 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

PROJETO DE VIDA

Já ouviu falar em projeto de vida? É um conceito atual da educação, que, inclusive, pode
ser encontrado na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Ele envolve a mobilização de
muitas competências formais e socioemocionais diferentes e, por isso, tem a ver com a
formação integral e com o desenvolvimento humano. As habilidades de sonhar, planejar,
reconhecer e exercitar os próprios recursos e potenciais, esforçar-se, motivar-se e ser
resiliente: tudo isso compreende um projeto de vida consistente.

Assim como o plantio requer planejamento (onde plantar, em que tipo de solo, em
que época, quanto tempo passará até a colheita e quais insumos são necessários para um
desenvolvimento pleno), o mesmo requer a vida para que se possa usufruir ao máximo o
que ela tem a oferecer. Afinal, só podemos colher o que foi planejado e plantado.

Você pode convidar os alunos a preencher este diagrama em forma de flor a seguir.
Encontrar respostas que satisfaçam simultaneamente estas quatro perguntas pode
ajudar muito no planejamento do plantio de uma vida plena!

A) Satisfação, B) Alegria e plenitude,


mas sentimento mas sem
de inutilidade prosperidade

C) Confortável, D) Entusiasmo e
mas sentimento complacência, mas
de vazio senso de incerteza

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 93

• Desenvolvimento do projeto: Avaliação


–– explicar a técnica do projeto;
–– apresentar o tema do projeto, relatando-o A avaliação deve ser concebida em estreita sintonia
com os detalhes necessários; com o que foi desenvolvido – objetivos estabelecidos,
–– levantar hipóteses de trabalho, para conteúdo, técnicas e recursos instrumentais utilizados
facilitar o desenvolvimento de forma –, de forma que esteja diretamente relacionada aos
lógica; critérios de avaliação previstos nos objetivos específicos.
–– informar sobre fontes de pesquisa e
recursos para o desenvolvimento do
projeto; Avaliar a aprendizagem nada mais é do
–– fornecer dados para o desenvolvimento, que a análise feita pelo instrutor sobre os
podendo apresentar projetos prontos resultadosdodesempenhodosparticipantes
como exemplos; em relação a conhecimentos, habilidades
–– incentivar a participação; e atitudes, mediante comparação entre o
–– avaliar, em conjunto com os participantes, perfil de entrada e os avanços conseguidos
o resultado do projeto. ao longo e ao final do curso ou programa.

• Finalidades do projeto:
–– desenvolver a capacidade de Cabe a você, instrutor, favorecer a atitude de
planejamentoem situação autoavaliação dos participantes, que propicia a eles
contextualizada com o curso ou condições de mais autonomia, iniciativa e análise
programa; crítica em relação ao próprio aprendizado. Essa
–– estimular a reflexão e a previsão de autoavaliação pode ser realizada após uma atividade
consequências; ou ao término de um conjunto delas, e não há
–– desenvolver habilidades de design, de necessidade de se atribuir nota ou conceito a ela. O
criação de protótipo, de construção ou importante é que o participante reflita sobre o seu
de realização de plano para um evento; desempenho e verbalize isso de forma oral ou escrita,
–– desenvolver atitude analítica; abrindo espaço para um diálogo com o instrutor
–– desenvolver as capacidades de análise, de sobre suas percepções, dificuldades e autoestima.
síntese e de avaliação.
Para que esse diálogo ocorra da forma mais
Um projeto pode ser simples ou complexo, espontâneaeproveitosapossível,éimportanteconsiderar
conforme a proposta do instrutor, e pode ser o contexto em que os convites para autoavaliação dos
aplicado tanto na FPR quanto na PS. É uma técnica alunos serão feitos. Muitos deles podem se sentir mais
rica, pois leva o aluno a mobilizar competências à vontade para fazer a autoavaliação de seu próprio
para a sua consecução, mas precisa ser bem desempenho de modo mais reservado ou privado, sem
planejada. serem expostos ao grupo. Sabemos que as avaliações
têm potencial para causar muito desconforto social
Como já dito anteriormente, pode-se e emoções desagradáveis, como medo, culpa e
combinar mais de uma técnica para atingir vergonha, o que afeta negativamente a autoestima
determinados objetivos. Com as técnicas que e a aprendizagem. Tome os cuidados necessários
foram apresentadas e que, vale ressaltar, não para resguardar seus alunos nesses momentos,
se esgotam, pode-se citar como exemplo de propiciando que as avaliações cumpram papéis
combinação a proposta de um estudo de caso pedagógicos construtivos e positivos.
ou de uma situação-problema que pode ser
desenvolvido por meio de trabalho em grupo. O processo de avaliação do ensino e da aprendizagem
Outra combinação possível é o desenvolvimento tem duas vias: a análise do trabalho desenvolvido pelo
de um projeto que exige a realização de uma participante e a do trabalho executado pelo instrutor. Isso
pesquisa ou de um projeto formulado com base porque a avaliação da aprendizagem está diretamente
em uma situação-problema. Para isso, você vinculada à avaliação do próprio trabalho docente. Ao
precisa estar preparado e disposto a planejar avaliar o que o participante aprendeu, o instrutor avalia,
fazendo uso da reflexão e da criatividade. também, a sua eficácia no ato de ensinar.

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94 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

A seguir, apresentamos um quadro que sintetiza informações sobre quem e o que avaliar.

QUEM AVALIAR? O QUE AVALIAR?

• Os resultados de sua aprendizagem em


relação aos objetivos.
• A participação e interação com o grupo da
ação/atividade.
• O participante
• Iniciativa, criatividade, cooperação com o
trabalho em equipe.
• As melhorias obtidas com relação ao seu
perfil de entrada.

• A competência para definir o efeito-


impacto desejado pelo processo
educativo.
• A competência técnica ou domínio dos
conteúdos e práticas, objetos do ensino-
aprendizagem.
• A competência metodológica para:
- aplicar técnicas instrucionais apropriadas
• A atividade docente do instrutor
aos objetivos e conteúdos;
(autoavaliação)
- orientar a ação e a busca de resultados;
- facilitar a participação e a interação no
espaço da formação;
- estimular a criatividade e o
desenvolvimento
de outras atitudes dos participantes.
• A capacidade de levar os participantes ao
alcance dos objetivos.

• Pode ser a síntese das avaliações feitas


• Certificar ou atribuir notas ou conceitos durante o curso/ programa, de caráter mais
ao participante. formal e, portanto, com registros sobre:
• Julgar o mérito ou valor de um programa - observação da participação
ou da aprendizagem do participante. e do desempenho;
- prova prática e teórica;
- exercício aplicado.

O processo de avaliação pode ser dividido nas As informações obtidas sobre cada participante
três funções básicas a seguir. permitem ao instrutor executar a ação/atividade
com mais confiança, adequando conteúdos e
Avaliação diagnóstica – Realizada no início da fomentando a participação de todos. A avaliação
ação/atividade, verificando o nível de conhecimento e diagnóstica pode ser realizada também durante
outras características dos participantes, com a intenção o processo de ensino e aprendizagem, antes do
de identificar o perfil de entrada deles e providenciar início de um assunto novo, para verificar o que os
ajustes no plano instrucional, caso necessário. participantes já sabem sobre ele.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 95

Avaliação formativa – Efetuada durante a atividades desenvolvidos e detectar fragilidades no


realização da ação/atividade com a intenção de avaliar programa para efetuar as devidas modificações.
os resultados parciais obtidos pelos participantes no
decorrer dos processos de ensino e aprendizagem. Podem ser utilizadas duas formas de avaliação
do rendimento do participante: avaliação baseada
Ela proporciona informação sobre os avanços, em normas e avaliação baseada em critérios.
sucessos, dificuldades e obstáculos encontrados no
processo formativo, possibilitando ações corretivas, A avaliação baseada em normas relaciona
se necessário. Tem especial importância, devendo o desempenho de um aluno com o de alunos do
ser contínua e processual. mesmo grupo, buscando classificá-los. É mais
utilizada em processos de seleção.
Avaliação somativa – É a verificação do
desempenho final do participante, possibilitando A avaliação baseada em critérios relaciona o
averiguar se o objetivo geral proposto para o curso ou desempenho do aluno com um padrão estabelecido.
programa foi alcançado. Tem como base os objetivos O que se busca é o alcance dos objetivos, que devem
específicos (parciais), deduzindo-se que, se estes estar bem formulados.
forem alcançados, o objetivo geral também o será.
Para um processo de avaliação do rendimento
É pela avaliação somativa que você, instrutor, escolar, inclusive no enfoque da formação por
conclui se foi satisfatória a aprendizagem em competências, a abordagem mais adequada é a
termos de conhecimentos, habilidades e atitudes baseada em critérios. Sua vantagem reside no
desenvolvidos. Essa decisão baseia-se na comparação fato de que ela não compara o aluno com o outro,
entre os perfis de entrada e de saída do participante. mas sim o seu desempenho com o desempenho
desejado. Em uma avaliação baseada em critérios,
A avaliação somativa permite também validar a sua tem-se como base parâmetros de desempenho de
atuação como instrutor no processo de ensino e avaliar cada aluno, e não com referência ao desempenho
sua capacidade técnico-pedagógica, incorporando do grupo. Com isso, motiva-se os participantes,
melhorias e atualização metodológica. Pode, ainda, estimulando-os à recuperação, no momento em
estimar a eficácia no alcance dos objetivos da ação/ que se verificam defasagens quanto ao alcance de
atividade, comprovar a adequação dos conteúdos e determinados objetivos.

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96 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

O quadro a seguir apresenta os pontos característicos de cada uma das funções da avaliação e sugere
algumas fontes de coleta de informações.

FUNÇÕES OBJETIVOS FONTES DE COLETA

• Determinar a presença
ou a ausência de pré-
requisitos.
• Identificar interesses,
possibilidades,
• Observação
Diagnóstica potencialidades e
• Questionamento oral
(finalidades de informação outros problemas
• Exercício aplicado
e de orientação) específicos, tendo em
vista a adequação do
ensino.
• Identificar dificuldades
de aprendizagem e suas
possíveis causas.

• Fornecer informação
ao participante e ao
instrutor durante o
desenvolvimento de um
programa.
• Observação da
• Localizar acertos e
participação e do
Formativa erros do participante
desempenho
(finalidades de informação nas diversas
• Exercício aplicado
e de orientação) sequências, de modo
• Prova prática e teórica
a incentivar ou corrigir
• Autoavaliação
a aprendizagem
(recuperação).
• Corrigir deficiências
de programas e de
materiais.

• Pode ser a síntese das


• Certificar ou atribuir
avaliações feitas durante o
notas ou conceitos ao
curso/ programa, de caráter
participante.
mais formal e, portanto,
Somativa • Julgar o mérito ou valor
com registros sobre:
(finalidade administrativa) de um programa ou
- observação da participação
da aprendizagem do
e do desempenho;
participante.
- prova prática e teórica;
- exercício aplicado.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 97

Procedimentos de avaliação o questionamento oral ou questionários


escritos, relatórios e seminários, entre
outros, considerando a adequação à
E como proceder à avaliação formativa? realidade dos participantes.

A avaliação –– Avaliação do domínio afetivo


formativa pode ser Apesar das dificuldades de avaliar as
desenvolvida por meio mudanças de atitudes dos participantes
de procedimentos e o desenvolvimento de valores,
como exercícios essa avaliação pode ser realizada se
aplicados, atividades identificarmos desempenhos passíveis de
e/ou provas práticas, serem observados
questionário oral
ou escrito, observação da participação e Podem ser usados como procedimentos a
do desempenho e autoavaliação, entre observação de desempenho, a observação
outros, realizados no dia a dia ou em da participação e o questionamento oral,
momentos previamente agendados. Quando estabelecendo paralelos e comparações
previamente agendados, adquirem um entre as atitudes e opiniões apresentadas
caráter mais formal e, em geral, são utilizados pelos participantes ao longo do processo
com a finalidade de atribuição de nota ou de ensino e aprendizagem.
conceito. Portanto, devem ser informados
previamente ao participante, para que não –– Avaliação do domínio psicomotor
representem surpresa. A opção por quais e (habilidades e destrezas manuais, saber
quantos procedimentos utilizar deve levar em realizar procedimentos com as mãos)
conta a natureza da programação, o tipo e o Para realizar a avaliação desse domínio,
tempo de duração do curso ou programa. é importante utilizar procedimentos
condizentes com a situação a ser avaliada
e sua complexidade. Os principais são a
No caso específico da PS, a avaliação pode se observação de desempenho durante uma
dar somente na forma de avaliação de reação, atividade prática e a análise do resultado
especialmente se a atividade for um seminário, ou do produto dessa atividade.
encontro ou palestra. A avaliação de reação
caracteriza a percepção dos participantes sobre o b) Deve possibilitar a articulação entre
que foi realizado e revela se as pessoas se sentem conhecimentos (domínio cognitivo), habilidades
satisfeitas, se acham que valeu a pena, se acham (domínio psicomotor) e atitudes (domínio
que o facilitador foi didático, se consideram que o afetivo), levando os participantes a mobilizá-los
local e os recursos foram apropriados etc. durante a realização da atividade ou prova.

Os dois pontos a seguir são fundamentais para –– Exemplo: em um exercício ou prova


a avaliação. prática relativo à capacidade de fazer
a ordenha mecânica, o participante
a) Deve ser realizada de forma integral, deverá demonstrar:
contemplando todos os domínios da –– habilidade na realização da atividade,
aprendizagem. pelo próprio desempenho;
–– atitudes adequadas ao desempenho
–– Avaliação do domínio cognitivo dessa atividade, como o respeito
(raciocínio lógico, análise, tomada ao animal, o uso de EPI etc.;
de decisões, reter e utilizar domínio dos conhecimentos teóricos
corretamente informações etc.) implícitos nessa atividade, que, se
Para avaliar o conhecimento ou as necessário, podem ser confirmados
capacidades intelectuais dos participantes, posteriormente, por meio de
é possível recorrer a procedimentos como questionário oral ou escrito.

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98 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

O exemplo apresentado propicia, também, a O procedimento de avaliação por meio da


articulação entre prática e teoria e a mobilização de observação da participação e/ou da observação
conhecimentos, habilidades e atitudes, que favorece de desempenho, com a finalidade de avaliação,
o desenvolvimento de competências profissionais. deve ser criterioso e registrado por meio de lista
Sempre que possível, essa articulação deve ser de verificação (checklist). Apresentamos a seguir
utilizada pelos instrutores, desde que tenha sido um rol de itens que podem ser utilizados pelo
desenvolvida durante o processo de ensino, em instrutor na lista de verificação com a finalidade
situações similares. de avaliação.

COMPORTAMENTOS OBSERVÁVEIS NA AVALIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO

1 - PONTUALIDADE

Cumprimento dos horários de entrada e saída do curso ou programa.

2 - ASSIDUIDADE

Percentual de comparecimento em relação à carga horária do curso ou programa.

3 - INICIATIVA

Capacidade de propor alternativas para solução de problemas.

Capacidade de resolver adequadamente as dificuldades sem ajuda do instrutor.

4 - SOCIABILIDADE

Saber trabalhar em grupo.

Aceitar críticas e saber criticar construtivamente.

Saber ouvir e falar em momento adequado.

Valorizar e respeitar os colegas do grupo, os demais grupos da turma e o instrutor.

Interagir com os colegas e instrutores.

5 - PARTICIPAÇÃO NAS DINÂMICAS

Participar das dinâmicas propostas com equilíbrio emocional.

Fazer comentários coerentes ao objetivo da dinâmica.

6 - RESPEITO AOS PRAZOS ESTABELECIDOS NO CUMPRIMENTO DAS ATIVIDADES

Executar as atividades dentro dos limites de tempo estabelecidos.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 99

COMPORTAMENTOS OBSERVÁVEIS NA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

1 - APLICAÇÃO DE CONHECIMENTOS TECNOLÓGICOS

Transferir os conhecimentos tecnológicos para a prática, executando as operações conforme os padrões


tecnicamente recomendados.

2 - HABILIDADE MANIPULATIVA

Executar operações demonstrando habilidade no manejo de máquinas, equipamentos, instrumentos e


ferramentas,bem como na utilização dos materiais.

Desenvolver as atividades individualmente ou em grupo, dependendo da proposta do instrutor, seguindo


os padrões tecnicamente recomendados.

3 - DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

Saber transpor a teoria para a prática.

Fazer uso dos conhecimentos na solução de problemas, observando as implicações ambientais, sociais e
econômicas.

Analisar a importância da tarefa e o reflexo no todo da atividade.

Analisar situações de risco e prever consequências.

Respeitar o meio ambiente.

4 - RESPEITO ÀS NORMAS DE HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO

Manter limpos: máquinas, equipamentos, instrumentos, ferramentas e local de trabalho.

Utilizar corretamente os EPIs.

Observar as regras de segurança pessoal e dos animais.

Observar a higiene pessoal.

5 - RITMO DE TRABALHO

Manter ritmo adequado ao desenvolvimento das atividades, considerando o tempo previsto pelo instrutor.

Os itens sugeridos para a observação de desempenho podem e devem ser adequados à natureza da
programação e ao tipo de curso a ser ministrado, uma vez que a gama de cursos e programas oferecidos
pelo SENAR é grande, abrangendo diferentes áreas profissionais, que congregam diversas linhas de ação.

Complementando as sugestões para registro de avaliação, apresentam-se mais dois exemplos de fichas
de registro. Uma destina-se à avaliação do alcance dos objetivos específicos pelos alunos/ participantes,
lembrando que o alcance desses objetivos conduz ao alcance do objetivo geral. Ela se encontra no ANEXO IV.
Observa-se que a lista de verificação relativa à observação de desempenho subsidia o preenchimento dessa
lista, que é mais abrangente. A outra é adequada para o aluno/participante registrar a autoavaliação, também
com base nos objetivos específicos. Encontra-se no ANEXO V e não precisa ser computada para nota.

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100 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Recursos Instrucionais

Conceituação e importância Exemplos:


• recursos naturais (plantas, animais, terra,
Todos os materiais utilizados para facilitar os água, frutas etc.);
processos de ensino e aprendizagem são recursos • máquinas, equipamentos e implementos
instrucionais. Eles estimulam os órgãos dos (tratores, motoniveladoras, arados,
sentidos e auxiliam no aprendizado. Por meio pulverizadores, máquinas de costura etc.);
• ferramentas e utensílios (enxadas, alicates,
de sua manipulação, contato ou visualização
canivetes, baldes, agulhas etc.);
acontecerá a aquisição de conhecimentos,
• insumos (defensivos, tecidos, vacinas,
habilidades e atitudes relacionados aos objetivos e
medicamentos etc.).
aos conteúdos da ação/atividade.
b) Recursos instrucionais auxiliares –
Lembra-se da imagem sobre os níveis de
considerados reforço da aprendizagem dos
memória da página 33?
participantes da ação/atividade.
Exemplos:
• cartazes;
Classificação dos Recursos Instrucionais • vídeos;
• cartilhas;
a) Recursos instrucionais essenciais – • podcast;
considerados indispensáveis e insubstituíveis, • álbuns seriados;
utilizados durante a execução das ações/ • quadros de giz;
atividades. • quadros magnéticos etc.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 101

Você conhece a Estante Virtual do SENAR? Lá você vai encontrar


todas as Cartilhas da Coleção Senar e muitos vídeos educativos que
você pode utilizar como recursos instrucionais.
Acesse a Coleção em:
https://www.cnabrasil.org.br/senar/colecao-senar

Os recursos instrucionais devem ser utilizados Disponibilidade dos Recursos Instrucionais


pelo instrutor de forma planejada. São chamados
meios porque dão suporte à aprendizagem, não Os recursos instrucionais devem ser elaborados
possuem fins em si mesmos. A sua criatividade e/ou produzidos em tempo hábil e em quantidade
e percepção, instrutor, quanto às características suficiente para o número de participantes. Ao
e efetividade de cada recurso são elementos relacionar esses recursos, você deve informar
fundamentais para a eficácia do processo de ensino- a quantidade necessária à realização da ação/
aprendizagem. atividade. Dessa forma, a Administração Regional e
o mobilizador terão condições de providenciá-los na
Adequação dos Recursos Instrucionais quantidade e na qualidade adequadas.

Os recursos instrucionais devem ser adequados Considerações quanto à utilização dos


aos objetivos, ao conteúdo, às técnicas instrucionais Recursos Instrucionais
e à realidade dos participantes.
Você deve estar atento a alguns cuidados
Ao selecionar cada recurso instrucional, você importantes ao utilizá-los, como:
deve observar se ele:
• testar os recursos previamente;
• é adequado às características e à quantidade • apresentá-los e utilizá-los no momento
de participantes; oportuno;
• é apropriado ao local da ação/atividade; • controlar o tempo necessário para sua
• é diversificado, contemplando, sempre que utilização;
cabível, os diferentes órgãos dos sentidos: • estudar todas as fontes que expliquem as
visão, audição, olfato, tato e paladar; maneiras eficientes e eficazes de sua utilização.
• desperta atenção e interesse dos
participantes; A utilização de vários recursos instrucionais
• contribui para a compreensão do assunto; não garante, necessariamente, a efetividade da
• facilita o entendimento dos assuntos mais aprendizagem, pois a forma pela qual se usa o
complexos; recurso pode levar à passividade do educando,
• fornece informações complementares. tornando-o mero espectador do processo.

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102 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Carga Horária importantes de uma ação educativa, pois permite


que o instrutor:
A carga horária é o último componente do plano
instrucional a ser determinado, pois ela é planejada em • conheça os participantes, e estes quebrem o gelo
função dos objetivos a serem alcançados, do conteúdo e tomem conhecimento de todos os processos
a ser desenvolvido, das técnicas instrucionais a serem que acontecerão durante a programação;
aplicadas, dos recursos instrucionais a serem utilizados • estabeleça o primeiro contato de diálogo
e dos procedimentos adotados para a avaliação da com os participantes, buscando estimulá-los
aprendizagem dos participantes. a falar sobre si mesmos, suas experiências,
sua rotina, seus costumes, propiciando um
Os pontos a serem considerados na determinação clima cordial e a avaliação diagnóstica;
da carga horária são: • promova a descontração e adquira maior
segurança para desenvolver o curso ou
• tempo necessário para o eixo mobilizador; programa;
• complexidade do conteúdo; • divulgue a missão, os objetivos e programas
• quantidade de recursos instrucionais com do SENAR;
relação ao número de participantes; • deixe clara a informação do processo de
• técnicas instrucionais a serem utilizadas avaliação.
(tempo de aplicação da técnica);
• ritmo de aprendizagem dos participantes O tempo para o eixo mobilizador deverá ser
(diferenças individuais); estimado apenas em relação ao primeiro objetivo
• quantidade de participantes; específico. É de suma importância que o instrutor
• avaliação da aprendizagem; exponha:
• experiência do instrutor; entre outros
fatores. –– apresentação pessoal (instrutor e
participantes);
Para que a carga horária seja estimada de forma –– apresentação do SENAR;
mais próxima possível da realidade, propõe-se a –– explicação sobre os objetivos do curso/
seguinte fórmula, que deve ser aplicada para cada treinamento;
objetivo específico: –– levantamento de expectativas;
–– acordos de horário, normas de frequência e
de convivência;
CH = [EM + T + P(Q) + A] + I –– explicação clara sobre os processos de
avaliação e certificação.

CH = carga horária T = tempo utilizado pelo instrutor para


EM = eixo mobilizador desenvolvimento do conteúdo e utilização
T = tempo utilizado pelo instrutor para o das técnicas
desenvolvimento do conteúdo e a utilização
das técnicas No caso das demonstrações, é conveniente que
P = tempo estimado para a atividade prática o instrutor as exercite previamente para determinar
pelo participante, após a demonstração o seu tempo e estimar o tempo médio a ser gasto
Q = quantidade de participantes por participante.
A = avaliação da aprendizagem
I = tempo estimado para imprevistos P = tempo estimado para a atividade prática
pelo participante, após a demonstração

EM = eixo mobilizador Na técnica da demonstração, ao calcular o tempo


estimado para a atividade prática pelo participante,
É um tempo reservado no começo do treinamento o instrutor deve considerar o tempo de que cada
para “mobilizar” a atenção e o compromisso dos participante necessitará para realização da atividade
participantes. Representa um dos momentos mais prática (P) e a quantidade de participantes (Q).

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL - SENAR


SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 103

Ao propor uma atividade prática, você deve esta será realizada durante a ação da atividade. Ou
considerar que o tempo para a execução pelos seja, enquanto observa o participante realizando a
participantes será maior do que o tempo de que atividade, o instrutor automaticamente já realiza a
você precisou para realizá-la. Caso proponha uma avaliação da aprendizagem.
atividade prática que apenas três participantes irão
realizar, por exemplo, deve ser considerado o valor 3 Na exposição dinamizada, por outro lado,
para a quantidade de participantes (Q). você deve considerar o tempo em que realizará
o questionamento oral e o tempo de resposta do
Caso a atividade prática possa ser realizada por participante.
todos os participantes ao mesmo tempo, você deve
considerar 1 o valor para quantidade de participantes I = tempo estimado para imprevistos
(Q). Ou seja, você realizará a técnica da demonstração
e, em seguida, solicitará a todos os participantes que Para o cálculo de I, são considerados fatores que
realizem a atividade prática simultaneamente. influem na estimativa de tempo: os imprevistos
ligados à mobilização, à complexidade do conteúdo,
A = avaliação da aprendizagem à experiência do instrutor, ao apoio logístico e a
fatores climáticos, entre outros.
Trata-se de um processo contínuo que requer
especial atenção do instrutor. Ao utilizar a técnica Com base nesses dados, e sabendo que as ações/
da demonstração, você deve ater-se a todo o atividades devem atender a diferentes realidades, a
processo de prática do participante; assim, deve carga horária pode variar para cada situação ou para
ser considerado o valor 0 para a avaliação, já que cada turma.

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL - SENAR


104 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Formação Profissional
Rural - Modelo Híbrido
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL - SENAR
SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 105

Na tradição pedagógica brasileira, há uma especialmente, de autoria. Aprendizagem depende


noção de que aprender coincide com ter aula. Isso fundamentalmente de elaboração própria, no
está implícito na própria Lei de Diretrizes e Bases âmbito tanto individual quanto coletivo.
da Educação Brasileira, de 1996, ao estabelecer
duzentos dias letivos como o mínimo a ser cumprido A seguir, discutimos as possibilidades
pelo calendário escolar. A ampliação do tempo de educacionais disponíveis no modelo híbrido
presença em sala de aula explicita a confusão que considerando as competências requeridas para o
ainda existe entre aula e aprendizagem. Há uma exercício laboral e as possibilidades institucionais
crença não apenas por parte dos educadores, mas para essa formação.
da sociedade em geral, de que, quanto mais aulas se
tem, mais se aprende. 1. O que é educação híbrida

Ao contrário, quando recorremos aos indicadores O Ensino Híbrido tem como foco a personalização,
educacionais, notamos que o aumento de dias letivos considerando que os recursos digitais são meios para
não significou melhoria nos níveis de aprendizagem que o participante aprenda, em seu ritmo e tempo,
– houve uma diminuição na década de 2000. Não se a fim de que possa ter um papel protagonista e que,
pode atribuir a queda de rendimento ao número de portanto, esteja no centro do processo. Para isso,
dias letivos, mas a sua ampliação não foi capaz de as experiências desenhadas para o on-line, além
elevar o nível de aprendizagem. de oferecerem possibilidades de interação com os
conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades,
Embora essa verificação esteja relacionada também oferecem evidências de aprendizagem.
ao contexto da aprendizagem escolar, a reflexão
aplica-se a outras realidades educacionais. Aulas A partir dessas evidências, nos momentos em que
– aqui tratadas como exposição do instrutor com os participantes estão face a face com o instrutor,
o aluno assistindo passivamente – não produzem presencialmente, em uma sala de aula física, é possível
aprendizagem. A aula expositiva pode servir que o professor utilize as evidências coletadas para
como ferramenta útil em determinadas etapas do potencializar a aprendizagem de sua turma.
processo, mas por si só é insuficiente para que o
aluno aprenda bem. Tal como afirma Demo (2010), Para atingir essa proposta, há alguns modelos
“aprender não advém necessariamente de ensinar, defendidos por autores que publicaram pesquisas
porque é dinâmica de dentro para fora, tendo o sobre Ensino Híbrido (BACICH, TANZI NETO,
aprendiz na condição de sujeito, não de ouvinte”51. TREVISANI, 2015; HORN e STAKER, 2015; GARRISON
e VAUGHAN, 2008) e esses modelos podem ser
Se a aula expositiva, com a qual estamos analisados na imagem a seguir.
acostumados e que temos mais facilidade em
realizar, não garante a aprendizagem, o que devemos
fazer? Qual é o ambiente mais adequado para se “Híbrido significa misturado,
fazer aprender bem? Quais estratégias adotar? mesclado, blended. A educação sempre
foi misturada, híbrida, sempre combinou
Precisamos admitir que aprender é um vários espaços, tempos, atividades,
movimento que acontece de dentro para metodologias, públicos. Esse processo,
fora, e não ao contrário. Como já enfatizado, a agora, com a mobilidade e a conectividade,
aprendizagem não resulta somente de transmissão é muito mais perceptível, amplo e
de conhecimento, mas de participação. Um ambiente profundo: é um ecossistema mais aberto
ideal de aprendizagem pressupõe atividades em que e criativo. Podemos ensinar e aprender de
o aprendiz se sinta motivado e envolvido. É preciso inúmeras formas, em todos os momentos,
fazê-lo protagonista do processo, fomentando o em múltiplos espaços52”.
seu potencial de reconstrução, interpretação e,

________________________________________________________________________
51
DEMO, Pedro. Estudar, metodologia para quem quer aprender. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 18.
52
MORAN, José. Educação híbrida: um conceito chave para a educação, hoje, 2015. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-
content/uploads/2021/01/educação_híbrida.pdf Acesso em: 30 jun. 2021.

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106 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Moran (2015), no primeiro capítulo do livro discente e incentivar a cooperação mútua,


Ensino Híbrido: personalização e tecnologia seja aluno/aluno ou aluno/professor, em um
na educação, diz que: “híbrido é um conceito cenário em que todos, alunos e professores,
rico, apropriado e complicado. Tudo pode ser aprendam e ensinem.”
misturado, combinado, e podemos, com os
mesmos ingredientes, preparar diversos ‘pratos’, Sala de aula invertida e blended
com sabores muito diferentes”.
Nas salas de aulas convencionais, as tecnologias
Nesse sentido, Tori (2009) afirma que blended digitais de informação e comunicação não
learning é um conceito que pode ser aplicado em promoveram grandes mudanças na educação
diversos níveis na organização educacional: em relação a sua aplicação. Já a educação na
modalidade do ensino a distância – EaD possuía,
1. Nível da atividade: uma atividade de na década de 1980, como meio de comunicação o
aprendizagem mistura elementos material impresso, que para chegar até o aluno era
presenciais e virtuais, por exemplo, uma aula enviado pelo correio, e eles faziam uso conforme a
em laboratório utilizando realidade virtual. sua disponibilidade.

2. Nível da disciplina: em uma disciplina, é As tecnologias de informação e comunicação


utilizada a mescla de atividades presenciais deram início à educação por meio da radiodifusão e
e virtuais. da televisão, dando sequência com os computadores
e a internet (e-learning), chegando ao formato que
3. Nível de curso: é a combinação de disciplinas conhecemos atualmente de educação a distância.
não presenciais com presenciais. Para Valente (2014, p. 84), a “outra modalidade
de e-learning é quando parte das atividades são
4. Nível institucional: é um modelo realizadas totalmente a distância e parte é realizada
institucional em que há o comprometimento em sala de aula, caracterizando o que tem sido
e o esforço para que o aluno se beneficie da denominado de ensino híbrido, misturado ou
melhor forma possível da combinação de Blended learning”.
presencial e virtual em todos os níveis. Tori
reforça que “uma instituição que ofereça Valente (2014) define quatro modelos para o
cursos presenciais e cursos a distância não blended learning: flex, blended misturado, virtual
necessariamente atingiu este nível”.53 enriquecido e rodízio . O modelo flex se destaca
pelo foco no processo de ensino e aprendizagem, no
Por fim, o autor afirma: conteúdo e nas instruções que são disponibilizadas
para que o trabalho no ambiente virtual de
“O blended learning possui, portanto, aprendizagem aconteça. A flexibilidade é adaptável
grande potencial para melhorar a qualidade e se refere ao suporte presencial que é oferecido
e a eficiência da aprendizagem. No entanto, pelos educadores.
qualquer que seja o nível de blended learning
que se adote, é essencial um planejamento O blended misturado é quando o aluno escolhe
sério e um design instrucional bem- por realizar algumas disciplinas totalmente on-line
feito, considerando sempre os objetivos para ter acesso ao conhecimento, complementando
educacionais, os aspectos pedagógicos e as disciplinas presenciais. Pode ser o caso de
cognitivos, o perfil do aluno e a avaliação disciplinas não obrigatórias que são ofertadas on-
constante. O modo de interação deve priorizar line, mas que são do interesse do aluno (VALENTE,
a autonomia tanto do docente quanto do 2014).
________________________________________________________________________
53
TORI, R. Cursos híbridos ou blended learning. In: LITTO, Frederic Michael; FORMIGA, Manuel M. Maciel (orgs.). Educação a distância:
o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. p. 121-128.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 107

O modelo de ensino blended learning, ou ensino modalidades de aprendizagem. Esse modelo está
híbrido, vem sendo aplicado em algumas instituições dividido em quatro subgrupos:
de ensino e pode, também, apresentar as atividades
divididas em síncronas e assíncronas, conforme –– Rodízio entre estações;
Filipe e Orvalho (2004, p. 219): –– Rodízio entre laboratórios;
–– Rodízio individual;
–– Sala de aula invertida.
Síncrono físico:
• Aulas face a face; 2. Modelos de ensino híbrido
• Conferência em grande grupo;
• Resolução de problemas em pequenos Na educação híbrida os espaços de aprendizagem
grupos; extrapolam o convencional, e alguns modelos
• Percursos no terreno (visitas e trabalhos podem ser utilizados. São eles:
exteriores);
• Seminários e workshops com especialistas Modelos sustentados: são aqueles que
convidados. conservam as características do ensino
tradicional e a maioria das aulas é assistida
Síncrono on-line: presencialmente, mas com a utilização de
• Encontros virtuais: chat, videoconferência equipamentos que permitem realizar atividades
e acessos remotos; on-line tanto fora quanto dentro da sala de aula.
• Seminários na web com peritos
convidados; • Sala de aula invertida: consiste no envio
• Mensagens instantâneas (tipo MSN, ICQ, prévio do material da aula para os participantes,
SMS e MMS). podendo esse material ser um vídeo ou outro
formato de conteúdo que explique o tema
Assíncrono: que será abordado em sala. Há uma inversão
• Documentos impressos (guias e textos do que acontece, portanto, em sala e em
de apoio); casa: os alunos consomem a explicação do
• Documentos em formato digital (vídeos conteúdo sozinhos e usam o espaço coletivo
educativos); do curso e a presença do instrutor para fazer
• Páginas na web (pesquisa dirigida e livre); a resolução de atividades e aplicações práticas
• Management Learning System (LMS): do conhecimento, além de tirar dúvidas .
Conteúdos, questionários,
• pesquisas; • Laboratório rotacional: neste modelo os
• Simulações, webseminars, avaliação e participantes são divididos em dois grupos,
ferramentas de comunicação um que trabalha no laboratório com uma
• (e-mail • interno e listas de conversação); lista de atividades para realizar com apoio da
• E-mail externo (ESECWeb). tecnologia digital e o outro trabalha na sala
de aula com o instrutor. Enquanto o primeiro
Fonte: adaptado de Filipe e Orvalho (2004, p. 2019 ). grupo atua de forma autônoma, o professor
pode fazer as intervenções mais diretas com
a segunda metade da turma, trabalhando
O modelo virtual enriquecido acontece conceitos e solucionando dúvidas dos
quando o aluno realiza as atividades on-line, mas estudantes.
que mescla ou eventualmente realiza atividades
presenciais. Neste modelo, a maior parte do ensino • Rotação por estações: o modelo consiste
se dá de forma on-line e uma pequena parte de em organizar a sala por grupos (estações de
forma presencial, conhecido também como aprendizagem) para desenvolver atividades
semipresencial. com objetivos de aprendizagens diferentes,
mas complementares. Os alunos se revezam
No modelo de rodízio há possibilidade de o nas estações de aprendizagem, enquanto o
aluno realizar as atividades por meio de diversas professor atua como um mediador e intervém

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108 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

nos grupos que mais precisam de auxílio – o e combinar, por exemplo, com os itinerários
que personaliza o ensino e dá autonomia e formativos escolhidos pelos estudantes.
protagonismo para os alunos construírem Nesse modelo, pelo menos uma disciplina
suas aprendizagens. No modelo de rotação é ofertada on-line, além das tradicionais, e
por estações, cada um dos alunos (ou grupo pode ser realizada no momento e local mais
deles) trabalha em diferentes estações. Após adequados para o estudante.
um tempo, há uma troca entre os alunos
e cada um deles deve passar, durante o • Virtual enriquecido: o aluno tem todas
processo inteiro, por todas as estações. No as disciplinas ofertadas on-line e vai para a
modelo híbrido, o ideal seria que pelo menos escola uma ou duas vezes por semana para
uma dessas estações fosse on-line, como, realizar projetos, debates e discutir o que foi
por exemplo, o uso de simuladores. estudado on-line. Além disso, o presencial é
utilizado como acompanhamento de como
Modelos disruptivos: são aqueles que se estão caminhando as aprendizagens.
desenvolvem com ruptura em relação ao ensino
tradicional. São eles: É importante que a instituição, juntamente com
os demais atores envolvidos, escolha um modelo
• Rotação individual: os percursos são de ensino que ajude o estudante a desenvolver o
voltados para as necessidades individuais protagonismo e a autonomia com relação ao próprio
dos estudantes. É um modelo em que aprendizado, construindo conceitos e trilhando
a personalização do ensino realmente caminhos de aprendizagem mais independentes
acontece. O professor precisa estar atento rumo à construção do conhecimento.
às necessidades dos estudantes, planejando
roteiros mais individualizados, para que as 3. O modelo híbrido nas ações do SENAR é
possíveis dificuldades sejam sanadas. Cabe possível?
ao professor propor as melhores situações
de aprendizagem. Isso não significa que O SENAR, através da Administração Central,
seja necessário propor um roteiro para realiza e oferta educação não formal a distância
cada aluno, mas sim que serão produzidas desde 2010, nos cursos de formação inicial e
diferentes atividades, algumas para alunos continuada (FIC), totalmente on-line, com o uso
com perfis e necessidades mais parecidas. O de um ambiente virtual de aprendizagem e com
professor buscará os melhores recursos, on- agentes denominados tutores e monitores para
line, por exemplo, para propor situações de apoiar a ação educacional. Isso nos permite dizer
aprendizagem para alguns alunos ou grupo. que desde então atuamos com e-learning, ou seja, o
meio utilizado para disponibilizar conteúdos e gerar
• Flex: o aluno tem alguns roteiros que são conhecimento e competências depende da internet.
entregues via plataforma digital, na qual
realiza as atividades propostas em parte do A partir daí, houve uma evolução para a oferta na
tempo, com o professor/tutor por perto, e em educação formal pelo SENAR Administração Central,
outros momentos pode trabalhar em projetos em 2014, em algumas Administrações Regionais.
com outros alunos ou sozinho, intercalando Essa oferta considerou, no seu planejamento, o
ações individuais e coletivas on-line. contexto do público rural em aspectos como longas
distâncias, dificuldade de acesso à internet de banda
• À la carte: é um modelo mais utilizado quando larga e a computador, por exemplo. Essas questões
o ensino personalizado é mais difundido, influenciam o desempenho do aluno e foram
como nos Estados Unidos, por exemplo. levantadas para a apresentação de um modelo de
Nesse modelo, o estudante é responsável educação a distância que mesclasse tecnologias e
pela organização do seu estudo a partir de modalidades de ensino54. A metodologia aderente a
objetivos gerais de aprendizagem a atingir. esse contexto foi o b-learning ou blended learning –
As disciplinas e conteúdos podem ser eletivos aprendizagem híbrida, em uma tradução livre.
________________________________________________________________________
54
SENAR. Projeto Pedagógico de Curso, Técnico em Agronegócio a Distância. Brasília, 2014.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 109

serve para complementar o outro, melhorando ainda


Você conhece o portfólio interativo de mais a capacidade de construção do conhecimento.
Cursos a Distância do SENAR?
https://www.cnabrasil.org.br/assets/ 5. Avaliação e a tecnologia no ensino híbrido
images/Portofolio_EaD.pdf
Avaliação: No modelo híbrido, não basta enxergar
a avaliação somente como momento de seleção entre
os alunos habilitados ou não habilitados a continuar
adiante. A avaliação precisa verificar o processo de
aprendizagem e retornar o resultado ao aluno.

A avaliação deve ter como foco a aprendizagem,


priorizando como o aluno aprende e não somente
o que ele aprende. É preciso avaliar não somente
o conteúdo, mas as atitudes e habilidades que os
No contexto do SENAR é necessário alunos estão desenvolvendo. Às vezes, o participante
entendermos que as ofertas formativas também não conseguirá assimilar os termos técnicos ou
precisam acompanhar os novos tempos; contudo, conceitos de determinada atividade durante as aulas,
a formação híbrida não pode ser desconectada porém saberá executá-la com perfeição, fato esse
do contexto do ambiente de aprendizagem e nem que precisa ser considerado na avaliação.
um remendo de atividades incoerentes com a
intencionalidade da formação, ou seja, mais uma Tecnologias utilizadas: Ambiente virtual de
vez é necessário que a instituição conheça os aprendizagem, simuladores, laboratórios etc.
itinerários formativos, e “desenhe” as possibilidades
pedagógicas presenciais e a distância, sempre 6. Certificação
pensando no máximo aproveitamento do nosso
público- alvo, logicidade do conteúdo, tecnologias A certificação deverá ser emitida conforme a
disponíveis e instrutores habilidosos em checar os natureza da programação já estabelecida pelo SENAR
conhecimentos construídos pelo participantes e e seguir a ponderação das atividades remotas e das
propor atividades a distância. presenciais, devendo ser planejadas em cada caso.

4. Planejamento das atividades e do espaço de Ensaios de modelos híbridos


aprendizagem
Para exemplificarmos a possibilidade de ensino
Considerando as definições sobre a educação híbrido nas ofertas formativas, vamos a um exemplo
híbrida, o planejamento das atividades deve baseado no treinamento de Mecanização Agrícola
contemplar o conteúdo a ser aprendido no presencial com foco na Agricultura de Precisão, nos itinerários
e o conteúdo a ser aprendido remotamente também formativos da qualificação profissional básica em
de forma participativa, e o instrutor conecta essas Bovinocultura de Leite e Horticultura Orgânica e
duas aprendizagens. que podem ser conexos às ofertas da plataforma de
educação a distância do SENAR:
O diferencial para que o modelo híbrido obtenha
sucesso é um planejamento adequado desenvolvido
pelo instrutor e pela Administração Regional, que Importante! Considerando que a
tenha intencionalidade pedagógica e que faça oferta será híbrida, é importante
sentido para o que deseja ensinar, considerando a primeiramente que a Administração
realidade do público participante. Regional organize o cronograma das
aulas síncronas e assíncronas e que,
O modelo on-line dá autonomia e flexibilidade ao se a opção for por usar os cursos
estudante, além de permitir que ele aprenda sozinho disponíveis na plataforma de EAD
e explore suas capacidades fora de sala de aula. O do SENAR, acordem primeiramente
meio presencial, por outro lado, permite uma troca com a Administração Central, no
de experiências mais pessoal e uma comunicação em Núcleo de Educação a Distância.
tempo real. Cada modelo, seja on-line, seja presencial,

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110 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Se a opção for somente presencial

Treinamento aperfeiçoamento para Operadores de Tratores Agrícolas de acordo com os princípios de


agricultura de precisão.

Objetivo: Operar máquinas agrícolas de acordo com as práticas da agricultura de precisão.

Módulo 1 [Obrigatório] - Agricultura de precisão para todos 16 horas

Módulo 2 [Obrigatório] - Sistemas de orientação 16 horas

Módulo 3 [Obrigatório] - Piloto automático 16 horas

Módulo 4 - Operação e manutenção de semeadoras 16 horas

Módulo 5 - Operação e manutenção do distribuidor 16 horas

Módulo 6 - Pulverizador autopropelido 24 horas

Módulo 7 - Monitor de colheita 16 horas

TOTAL 120 horas

E se formos desenvolver essa mesma oferta de forma híbrida?

• Webinar sobre agricultura de precisão:

O webinar terá como objetivo a apresentação geral da proposta do treinamento para Operadores de
Máquinas agrícolas de acordo com os princípios de agricultura de precisão, esclarecendo sobre o cumprimento
dos módulos obrigatórios a distância e dos módulos obrigatórios presenciais, além do esclarecimento sobre
a avaliação de conhecimentos e regras para a certificação.

Módulo 1 [Obrigatório] Módulo 2 [Obrigatório]

Se considerarmos que os participantes já são PRESENCIAL Módulo 3 [Obrigatório]


operadores de tratores (uma vez que a oferta é de Revisão do conteúdo dos módulos 1 e 2
aperfeiçoamento), os dois módulos a distância já Piloto automático
proporcionam uma oportunidade de otimização da
oferta presencial, uma vez que o participante chegará
com conhecimentos prévios de forma mais sedimentada.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 111

EaD Módulo 4
Agricultura de Precisão na Semeadura (Pré-requisito
para o presencial)

PRESENCIAL Módulo 4
Operação e manutenção de semeadoras
16 horas
[PRÁTICA E AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTO E
TEORIA COMPLEMENTAR]

EAD Módulo 5
Operação e manutenção do distribuidor

PRESENCIAL Módulo 5
Operação e manutenção do distribuidor
16 horas
[PRÁTICA E AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTO E
TEORIA COMPLEMENTAR]

PRESENCIAL Módulo 6
Pulverizador autopropelido
24 horas
Complementar EaD

PRESENCIAL Módulo 7
Monitor de colheita
16 horas

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112 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

espaço de armazenamento. Uma das vantagens


é o acesso ao conteúdo no modo off-line depois
de baixado no dispositivo móvel com internet.

A interatividade do conteúdo é outro diferencial.


Existe a possibilidade de marcar as páginas e
identificar conteúdos como favoritos, caso o leitor
tenha interesse em aprofundar o conhecimento
sobre alguns temas.

Acessibilidade – Os recursos são acessíveis


para facilitar o acesso de todos os públicos. O
aplicativo possui o mecanismo de busca por
voz. Para isso, basta indicar a palavra-chave e o
app vai apresentar as cartilhas com o conteúdo
informado no comando de voz.

Além disso, existe a ferramenta de leitura


O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural automatizada, em que um robô faz a leitura do
(SENAR) lançou o aplicativo “Estante Virtual conteúdo da cartilha.
Coleção Senar”, que dá acesso ao conteúdo
de mais de 170 cartilhas virtuais utilizadas nos Conteúdo – As cartilhas do SENAR disponíveis
treinamentos de produtores e trabalhadores no app abordam temas da agroindústria, apicultura,
rurais para a melhoria da produção agropecuária. aquicultura, avicultura, bovinocultura, cafeicultura,
produção vegetal, equideocultura, fruticultura,
O aplicativo já pode ser baixado no celular gestão e empreendedorismo; grãos, fibras e
ou tablet nas lojas da Apple e da Play Store. A oleaginosas, horticultura, ovinocaprinocultura,
ferramenta é de uso gratuito e demanda pouco piscicultura, silvicultura, entre outros.

VIDEOAULAS DISPONÍVEIS

Manutenção preventiva e cuidado diário com o trator agrícola


Aprenda a sequência de acoplamento para implemento de três pontos
Aprenda sobre a distribuição de peso no trator - traseira/dianteira
Atente para a calibração dos pneus
Conheça a lastragem líquida
Conheça a lastragem sólida
Conheça a utilização da embreagem
Conheça a utilização da Tomada De Potência (TDP)
Conheça as alavancas do câmbio
Conheça as formas para aumentar a aderência entre o rodado e o solo
Conheça as regulagens no trator para implementos de arrasto
Conheça as regulagens no trator para implementos montados nos três pontos
Conheça as variações da medida da bitola
Conheça os EPIs utilizados na operação do trator
Conheça os medidores do painel
Conheça os procedimentos para o enchimento do pneu do trator
Conheça os sistemas de regulagem da bitola
Determine o índice de patinagem do trator
Identifique os indicadores do painel
Verifique os itens de manutenção diária

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 113

CARTILHAS DISPONÍVEIS NA ESTANTE VIRTUAL

https://www.cnabrasil.org.br/
senar/colecao-senar

Itinerário formativo da Bovinocultura de Leite

Itinerário formativo

Formação por competência - Bovinocultura de Leite

Competência Geral: Realizar os trabalhos relativos à bovinocultura de leite, aplicando as técnicas de


produção, respeitando a legislação vigente e o bem-estar animal, monitorando os resultados, melhorando os
processos com responsabilidade e comprometimento profissional, buscando a geração de renda.

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114 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

Percebemos nesse exemplo que para o Itinerário Formativo para a Qualificação básica na bovinocultura
de leite que a carga horária total é de 640 h. Com certeza é uma formação robusta, mas que pode impactar
a frequência e a continuidade dos participantes em todos os módulos. Se porém oferecermos os mesmos
conteúdos de forma mais dinâmica na modalidade híbrida aumentam-se as chances de formação continuada
e consolidação da teoria e prática. Vamos ao exemplo didático usando como referência as ofertas do EaD do
SENAR para a cadeia da bovinocultura de leite:

CARTILHAS

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 115

Exemplo de oferta híbrida para o Módulo inseminador de bovinos:

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116 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

VIDEOAULAS DISPONÍVEIS

Bovinocultura de Leite – Cura do umbigo


Bovinocultura de Leite – Cuidados na ordenha de vacas leiteiras
Casqueamento – Cuidados com o casco
Casqueamento – Como fazer
Casqueamento – Medição dos ângulos dos cascos
Medidas Preventivas – Como evitar acidentes em casa
Manejo de pastagem – Amostragem de solos
Manejo de pastagem – Quais os ganhos do manejo correto de pastos?
Manejo de pastagem – Como é feito um bom manejo de pastagem?
Manejo de pastagem – Preparo do solo
Manejo de pastagem – Como realizar a amostragem de solo
Manejo de pastagem – Principais métodos de pastejo
Manejo de pastagem – Régua de manejo
Manejo de pastagem – Planejamento do uso de pastos

O diferencial para o modelo híbrido de Mind Meister – Criando mapas mentais


sucesso é que o instrutor tenha um planejamento
adequado, que tenha intencionalidade pedagógica Os mapas mentais são interessantes recursos
e que faça sentido para o que ele quer ensinar, para organização e síntese de informações. Após
considerando a realidade do público participante. uma pesquisa de conteúdo, pode ser solicitado
aos alunos que elaborem um mapa do que
coletaram. Outra possibilidade é que, a cada
VOCÊ SABIA? etapa do curso, os alunos sintetizem os conceitos
e temas aprendidos, criando associações e
O desenvolvimento das novas tecnologias conexões entre eles.
da informação e comunicação já está a favor
da educação: ferramentas, plataformas, Uma interessante ferramenta gratuita
softwares e outros recursos têm servido a para a elaboração de mapas mentais é o Mind
diversas experiências pedagógicas inovadoras Meister. Além de textos e símbolos, a ferramenta
e favorecido diretamente a aprendizagem dos também permite a inserção de imagens e
alunos. Sabemos que as novas tecnologias vídeos, potencializando a ilustração das ideias
sozinhas não dispõem de qualquer capacidade e conceitos apresentados. Outra vantagem é a
de inovação. Mas, quando bem usadas pelo possibilidade de compartilhamento dos mapas,
instrutor, tornam-se importantes auxílios na podendo ser elaborados em grupos com a
construção do conhecimento. supervisão do instrutor simultaneamente à sua
produção.

Nesta parte apresentaremos algumas ferramentas Além deste, há outros aplicativos para a
gratuitas e disponíveis que podem ser úteis em elaboração de mapas mentais, como o mind node,
diferentes momentos da aprendizagem, a depender free mind, xmind, free plane e coggle.
dos objetivos estabelecidos pelo instrutor.

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 117

Google para Educação Evernote – Organizando o conhecimento

Há diversas ferramentas do Google que O Evernote é um excelente aplicativo para


podem ser utilizadas pedagogicamente. A registro e organização de informações. Com ele, os
primeira a ser destacada é o Google Classroom. alunos podem tomar nota das atividades realizadas,
Com essa ferramenta, o instrutor pode criar criar cadernos, agendas, fazer anotações, inserir
turmas, personalizá-las, constituir um canal de fotos, áudios e outros arquivos. A vantagem é que
comunicação permanente com seus alunos e tudo pode ser sincronizado com a base on-line, de
dirigir tarefas para serem realizadas. Na criação forma que, posteriormente seja acessado de qualquer
das tarefas, é possível fazer sua descrição, dispositivo ou computador com o login do usuário.
definir prazos de entrega e inserir arquivos.
Para cada turma criada, é aberta uma pasta no Wikispaces – Definindo conceitos
Google Drive na qual serão armazenadas todas
as informações. As wikis revolucionaram a busca pelo
conhecimento no mundo virtual. Não apenas
O Google Forms é outra ferramenta útil. Com porque oferecem bases expressivas de palavras, mas
ela, o instrutor pode elaborar formulários a serem por serem dotadas daquilo que podemos chamar de
utilizados como instrumentos de avaliação. Mas não “autoridade do argumento”. Ou seja, a definição
apenas isso. Os próprios alunos podem construir válida e adotada não guarda relação com o lugar ou
seus formulários com diversas modalidades de a posição do autor no universo acadêmico, mas sim
preenchimento para realizar questionários de com a sua capacidade de fundamentar o conceito.
pesquisa e produzir dados sobre uma determinada
realidade. Não há limite para o número de respostas A construção de wikis configura uma excelente
possíveis. estratégia para incentivar a produção de
conhecimento entre os alunos. É possível elaborar
Os formulários podem ser compartilhados em wikis temáticas conforme o perfil do curso oferecido.
sua construção ou aplicação. Ao final, as respostas Por exemplo, sobre formas de compostagem,
podem ser traduzidas em gráficos e tabelas. O solicitando que cada estudante ou grupo defina um
Google Forms pode ser operado por tablets ou tipo diferente da técnica que seja compartilhado
celulares. entre todos posteriormente.

Mind Meister Google para Educação Evernote


https://www.mindmeister. https://www.google.com/ https://evernote.com/
com/pt forms/about/ intl/pt-br

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118 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

ANEXOS
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL - SENAR
SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 119

ANEXO I – SUGESTÃO DE VERBOS PARA A ELABORAÇÃO DE OBJETIVOS

DOMÍNIO COGNITIVO

Conhecimento Compreensão Aplicação Análise Síntese Avaliação

Apontar Apresentar Computar Analisar Combinar Avaliar

Citar Comunicar Ilustrar Calcular Compor Argumentar

Contar Considerar Delinear Classificar Converter Criar/gerar

Copiar Exemplificar Empregar Comparar Determinar Concluir

Definir Explicar Esboçar Contrastar Elaborar Criticar

Descrever Expressar Especificar Destacar Esquematizar Estimar/prover

Indicar Identificar Estruturar Detectar Formular Inspecionar

Informar Incluir Mostrar Diferenciar Generalizar Julgar

Listar Inferir Ordenar Discriminar Modificar Justificar

Nomear Interpretar Organizar Discutir Propor Planejar

Numerar Localizar Rascunhar Debater Reordenar Reescrever

Pontuar Parafrasear Relacionar Defender Resumir Reelaborar

Recitar Reconhecer Renomear Designar Sintetizar Reestruturar

Registrar Recontar Reproduzir Questionar Solucionar Revisar

Relatar Relembrar Sistematizar Reafirmar Tabular Selecionar

Repetir Traduzir Utilizar Provar/testar Sugerir Validar

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120 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

ANEXO II – SUGESTÃO DE VERBOS PARA A ELABORAÇÃO DE OBJETIVOS

DOMÍNIO PSICOMOTOR

Abastecer Compor Desterroar Fazer Manipular Reagrupar Sobrepor

Abrir Conduzir Dispor Fechar Marcar Recolocar Substituir

Acondicionar Conectar Dissolver Firmar Medir Reconstruir Sustentar

Adaptar Confeccionar Dividir Fixar Modificar Recontar Tecer

Adicionar Consertar Dobrar Flambar Moer Recortar Testar

Afiar Construir Duplicar Franzir Montar Reduzir Tirar

Afrouxar Contornar Embalar Furar Mostrar Regar Tocar

Agrupar Controlar Empacotar Girar Mover Regular Torcer

Ajustar Converter Empurrar Graduar Numerar Remover Traçar

Alterar Copiar Encaixar Guiar Operar Reordenar Transferir

Amarrar Cortar Encher Identificar Organizar Reorganizar Transplantar

Aplicar Coser Encurtar Ilustrar Passar Reparar Transportar

Apontar Cultivar Engraxar Incorporar Pegar Repartir Tratar

Aproximar Decapitar Enrolar Inserir Pendurar Retirar Trazer

Armar Delimitar Escolher Intercalar Pesar Reunir Uniformizar

Atar Demonstrar Esmagar Introduzir Plantar Revestir Untar

Ativar Derrubar Espalhar Inverter Praticar Revisar Usar

Avançar Desatar Estacar Irrigar Pregar Revolver Ver

Bater Descascar Estender Isolar Prender Riscar Vestir

Carregar Descobrir Esticar Lançar Preparar Secar

Cobrir Desconectar Estruturar Levantar Pressionar Seccionar

Colar Desdobrar Esvaziar Levar Proteger Segurar

Coletar Desenhar Executar Limitar Provar Selecionar

Colocar Desinfetar Expandir Limpar Puxar Semear

Combinar Deslizar Extrair Localizar Rasgar Separar

Completar Desmontar Fabricar Lubrificar Raspar Servir

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ANEXO III – SUGESTÃO DE VERBOS PARA A ELABORAÇÃO DE OBJETIVOS

DOMÍNIO AFETIVO

Acumular Contribuir Generalizar Mudar Revisar

Adaptar Convidar Identificar Nomear Seguir

Administrar Coordenar Influenciar Organizar Selecionar

Afirmar Defender Iniciar Participar Sensibilizar

Agir Descrever Integrar Partilhar Solucionar

Apontar Desempenhar Juntar-se Perguntar Subscrever

Aprovar Determinar Justificar Praticar Trabalhar

Assistir Discutir Liderar Propor Usar

Completar Dispor Manifestar Reorganizar Valorizar

Conformar Escolher Mediar Respeitar Verificar

Considerar Estudar Monitorar Responder

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122 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

ANEXO IV – FICHA DE AVALIAÇÃO PARA REGISTRO DO INSTRUTOR

FICHA DE AVALIAÇÃO PARA REGISTRO DO INSTRUTOR


CURSO OU PROGRAMA

OBJETIVO GERAL

INSTRUTOR DATA

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
No NOME DO ALUNO / PARTICIPANTE RESULTADO
01 02 03 04 05 06 07 08

1-

2-

3-

4-

5-

6-

7-

8-

9-

10-

11-

12-

13-

14-

15-

16-

17-

18-

19-

20-

OBSERVAÇÕES ESCALA

01 Pouco Domínio

02 Domínio Parcial

03 Domínio Total

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SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL 123

ANEXO V – FICHA DE AUTOAVALIAÇÃO DO ALUNO

FICHA DE AUTOAVALIAÇÃO DO ALUNO


ALUNO/PARTICIPANTE TURMA

CURSO/PROGRAMA DATA

OBJETIVO GERAL

NÍVEIS
No OBJETIVOS ESPECÍFICOS
01 02 03

1-

2-

3-

4-

5-

6-

7-

8-

9-

10-

11-

12-

OBSERVAÇÕES
ESCALA

01 Pouco Domínio

02 Domínio Parcial

03 Domínio Total

Faça uma autoavaliação


e atribua uma nota para
você de “0” a “100” neste
período de avaliação.

NOTA:_______________

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124 SÉRIE METODOLÓGICA // METODOLOGIA DE ENSINO DO SENAR - FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL

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