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TEMPERATURA

A variação da temperatura do ar é definida pelos fatores que determinam o clima de cada


região, os quais são: latitude, altitude, continentalidade, maritimidade, correntes oceânicas,
massas de ar, entre outras. No Brasil, O clima é diversificado em decorrência destes fatores e
consequentemente existe uma maior variação da temperatura do ar, sendo que as maiores
temperaturas ocorrem na região nordeste do Brasil (Piauí, Bahia) nos meses de dezembro,
janeiro e fevereiro e as menores temperaturas na região sudeste do Brasil (Santa Catarina, Rio
Grande do Sul) nos meses de junho, julho e agosto (INMET, 2016). Na agricultura, as
condições meteorológicas afetam o crescimento, o desenvolvimento e a produtividade das
plantas, que durante o ciclo de desenvolvimento respondem diretamente ao clima, cujos
efeitos podem variar desde os mais benéfico até os mais maléfico no desenvolvimento da
planta .

A temperatura do ar e do solo afetam o crescimento e desenvolvimento das plantas. A


temperatura do solo influencia, principalmente, na velocidade e porcentagem de plântulas
emergidas, no arroz irrigado, por exemplo, a temperatura ótima de germinação está na faixa
de 20 à 35oC, sendo que temperatura menor e/ou igual a 10 oC paraliza a germinação
ocorrendo o apodrecimento da semente (Figura 1).

Fonte: Projeto 10

Figura 1. Efeito da porcentagem de germinação de sementes de arroz irrigado quando


submetida a temperatura do solo ótima (topo da figura) e sub ótima (base da figura) no Rio
Grande do Sul, RS, Brasil.

Todas as plantas apresentam temperaturas cardinais que variam de acordo com o estágio de
desenvolvimento e regulam o crescimento e desenvolvimento (Figura 2), as quais são:

Tb = Temperatura mínima ou basal inferior. Temperaturas abaixo da qual não há crescimento


e desenvolvimento;
To = Temperatura ótima. Temperatura na qual a planta expressa seu máximo crescimento e
desenvolvimento;

TB = Temperatura máxima ou basal superior. Temperaturas acima da qual o crescimento e


desenvolvimento ocorrem de forma lenta e/ou é limitado.

Figura 2. Temperaturas cardinais das culturas agrícolas. Tb = Temperatura mínima ou basal


inferior; To = Temperatura ótima; TB = Temperatura máxima ou basal superior.

Em ambiente subtropical, as culturas agrícolas exigem altas temperaturas nos meses de


dezembro, janeiro e fevereiro como o arroz irrigado, soja e milho, principalmente, que sofrem
perda de produtividade quando submetidos à temperaturas extremas (baixas ou altas). Por
outro lado, o centeio, trigo, canola tem necessidade de baixa temperatura no inverno. Na
Tabela 1, é possivel observar as temperaturas cardinais das principais culturas agrícolas
semeadas no Rio Grande do Sul.

Tabela 1. Temperaturas exigidas nos diferentes estágios de desenvolvimento pelas principais


culturas agrícolas semeadas no estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

Cultura Fase T T T
b o m

(a) (b) (b)


EM-R1
11 30 40

(c) (d) (e)


R1-R4
Arroz Irrigado 15 25 35

(c) (e) (e)


R4-R9
15 23 35

Milho EM - MAT 8-10 28 36-40


Soja EM – MAT 8-10 30-31 40

Vegetativa 0-5 22-24 35


Trigo
Reprodutiva 8 29 40

(a) Infeld et al., 1998; (b) Gao et al., 1992; (c)Buriol et al., 1991; Steinmetz, 2004; (d) Pedro
Jr. et al., 1995; ), (e) Steinmetz, 2004; Venkataraman et al., 2007; Setiyono et al., 2007;
Monteriro, 2009.

Determinação da temperatura base ou temperatura basal inferior

Existem diferentes métodos de determinação da temperatura base ou basal inferior, dos quais
os mais utilizados são:

Método do menor desvio-padrão: Atribuiu-se que as temperaturas basais inferiores devam


variar em escala unitária (de 0ºC à 13ºC). Posteriormente determina-se o desvio-padrão (Sdd)
em graus-dias para cada temperatura, considerando como temperatura basal inferior a de
menor desvio-padrão em dias (Sd), conforme a equação a seguir:

Sd = Sdd/(Xt-Tb) (1)

em que Xt a temperatura média do ar (ºC) para todas as épocas de semeadura e Tb a


temperatura basal inferior escolhida.

Método do desenvolvimento relativo (DR): O método consiste em calcular o DR, conforme


as equações a seguir:.

DR = b.Tmed + a (2)

DR = 100/n (3)

Tb = - a/b (4)

em que Tmed é a temperatura média do ar (ºC) do período, n são os dias do ciclo da cultura,
100 representa um valor arbitrário de ponderação, a e b são os coeficientes linear e angular da
regressão linear simples obtidos na relação entre DR e Tmed. Quando o DR for igual a zero,
Tmed será igual a Tb, assim Tb pode ser calculada pela equação 4.

Soma térmica

A taxa das reações metabólicas é regulada basicamente pela temperatura do ar, afetando,
desse modo, tanto o crescimento como o desenvolvimento das plantas, como consequência
ocorre a duração das fases ou sub-períodos fenológicos e, consequentemente, o ciclo das
culturas tem variação inversamente proporcional a temperatura. Um dos primeiros estudos
relacionando temperatura e desenvolvimento vegetal foi realizado na França, por volta de
1735. Foi observado que o ciclo de uma mesma cultura variava entre localidades e também
entre diferentes anos. Ao fazer o somatório das temperaturas do ar durante os diferentes
ciclos, foi observado que esses valores eram praticamente constantes, definindo isso como
Constante Térmica da Cultura. Dessa forma, a temperatura é o relógio da planta, sendo a
soma térmica, cuja unidade é o grau dia (Gilmore Junior & Rogers, 1958) a maneira clássica
de se fazer a determinação dos estágios fenológicos. O calculo da soma térmica é definido
como a soma diária de unidades térmicas acima de uma temperatura base inferior, abaixo da
qual a planta não se desenvolve ou seu desenvolvimento é tão lento que pode ser desprezado
(McMaster & Wilhelm, 1997) (Figura 3).

EM -R1 R1-R4 R4-R9

01/10/15
IRGA 424 RI
Cultivar

09/11/15

03/12/15

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Soma térmica acumulada após a emergência (ºC dias)
Fonte: Zanon, 2016.

Figura 3. Soma térmica calculada para a cultura do arroz irrigado, onde foi realizada a
semeadura de uma cultivar de ciclo médio (IRGA 424 RI) em três datas de semeadura
(01/10/2015; 09/11/2015 e 03/12/2015) em Cachoeirinha, RS, Brasil.

Existem vários métodos de cálculo da soma térmica, e eles podem ser agrupados em duas
categorias. Uma está relacionada ao uso ou não das três temperaturas cardinais (Tb,
temperatura basal inferior; To, temperatura ótima; e TB, temperatura basal superior): na
equação mais simples da soma térmica, subtrai-se a temperatura média diária do ar da Tb
(Gilmore Junior & Rogers, 1958):

ST = ∑n [(Tmed – Tb) 1 dia] (5)

se Tmed<Tb então Tmed=Tb

em que Tmed é a temperatura média diária do ar (°C), Tb = temperatura base (°C), n =


número de dias de observação; ST = soma térmica (°C dia)

Aplicações práticas do sistema dos Graus-dia

Modelos matemáticos dinâmico baseado em processos (process – based model) que simulam
diversos processos ecofisiológicos da cultura no passo de tempo de um dia, estão sendo
bastante usados ajudando na tomada de decisão para o planejamento do agricultor na
execusão de práticas de manejo. Na cultura do arroz irrigado, existem dois modelos
desenvolvidos para as condições climáticas do Rio Grande do Sul: GD Arroz desenvolvido
pela EMBRAPA, que simula a fenologia das cultivares de arroz (Figura 4) e o modelo
SimulArroz desenvolvido pelo Grupo de Agrometeorologia da Universidade Federal de Santa
Maria, para simular o crescimento, desenvolvimento e a produtividade de arroz no sistema
por inundação (flooded rice) no estado do Rio Grande do Sul, Brasil (Figua 5).

Figura 4. Modelo GD Arroz, desenvolvido pela EMBRAPA, faz a simulação dos estágios
fenológicos na cultura do arroz irrigado no RS. http://agromet.cpact.embrapa.br/

Figura 5. SimulArroz desenvolvido pelo Grupo de Agrometeorologia da Universidade


Federal de Santa Maria, para simular o crescimento, desenvolvimento e a produtividade de
arroz no sistema por inundação no RS. http://coral.ufsm.br/simularroz/
Ação positiva do frio sobre as plantas

As plantas necessitam de diferentes valores de temperaturas para cada um dos seus períodos
fenológicos, tais como, a dormência, brotação, frutificação, vegetação e maturação das frutas.
As plantas de clima temperado (caracterizam-se pela queda das folhas no final do ciclo e a
conseqüente entrada em dormência) necessitam de um perído de baixas temperaturas no
inverno para que haja uma superação da dormência (temperaturas inferiores ou igual a 7,2
o
C). Atualmente sabe-se que temperaturas de até 11 oC também são efetivas e que o mais
importante são os frios contínuos durante o repouso vegetativo. A regularidade e a
intensidade das baixas temperaturas são fundamentais, pois oscilações durante o período de
dormência (temperatura igual ou maior que 21oC) podem fazer com que a planta permaneça
por um maior período em dormência ou que ocorra brotação e floração desuniformes,
podendo grande parte das gemas permanecerem dormentes. Na Tabela 2, são apresentadas as
necessidades de frio hibernal para a saída da dormência de diferentes espécies frutíferas
(Nachtigal; Fachinello & Kersten, 2012).

Esta inatividade fisiológica permite a sobrevivência em condições de baixas temperaturas.


Durante este período, a planta não demonstra crescimento visual, porém as atividades
metabólicas continuam, embora com intensidade reduzida, o que lhe permite resistir às baixas
temperaturas. Estudos mostram que o fitohormônio Acido abscísico (ABA), pode ser o
responsável pela inibição do crescimento (caules e folhas) e ao contrário, durante a fase de
saída de dormência, ocorre a ativação da giberelina que ocasionará um aumento nas
concentrações desse fitohormônio enquanto que, ocorrerá uma diminuição nos teores de
ABA. Assim, o controle da dormência é influenciado pelo equilíbrio entre estes
fitohomônios, suspendendo ou estimulando o crescimento (Araújo & Fortes,1974).

Tabela 2. Necessidades de frio no inverno para superação da dormência das diferentes


espécies. As variações correspodem à variabilidade existente entre as cultivares.

Espécie No de horas de frio a 7,2oC


Pessegueiro 100 a 1250
Marmeleiro 90 a 500
Cerejeira 500 a 1700
Ameixeira Européia 800 a 1500
Ameixeira Japonesa 100 a 1500
Figueira 90 a 350
Macieira 200 a 1700
Pereira 200 a 1400
Videira 90 a 400
Fonte: Escobar (1988)
Já em locais onde o número de horas de frio no inverno não é suficiente, pode-se compensa-
lo aplicando óleo mineral, cianamida hidrogenada, dinitro-ortho-cresol, dinitro-ortho-butil-
fenol, dinitro-butil-fenol, calciocianamida, nitrato de potássio, thiouréia, pentaclorofenolato
de sódio, TCMTB ((2- tiociometiltio) benzotiazol 30%), thidiazuron, ácidogiberélico ou
utilizando cultivares que necessitem de menor quantidade de horas de frio para sair da
dormência (Araújo & Fortes,1974; Petri, 1988; Araújo et al., 1991; North, 1993).

Vernalização

É o processo pelo qual as plantas são induzidas a florescer através da exposição a


temperaturas baixas não congelantes. A resposta a vernalização é determinada por dois
fatores: a temperatura durante a vernalização e a duração deste período. Quanto a
temperatura, a vernalização tem três temperaturas cardinais que varia de acordo com a
cultura. A duração da vernalização pode ser em dias efetivos de vernalização (DEV) que é
obtido quando as plantas são submetidas à temperatura ótima vernalizante durante um
período de 24 horas (Streck et al., 2002). São exemplo de culturas que necessitam de
vernalização o trigo, gladiolo, alho, entre outras.

O trigo, em geral, necessita de 40 a 50 DEV para satisfazer completamente as necessidades


de frio sendo suas temperaturas cardinais -1,3, 4,9 e 15,7oC (minima, ótima e máxima),
porém não são todas as cultivares que precisam ser vernalizadas. Em Santa Maria, RS,
Alberto et al. (2009) identificaram cultivares fortemente sensiveis à vernalização (BRS
Tarumã), outras não sensíveis (BRS Louro), enquanto outras com sensibilidade intermediária
à vernalização (BRS 177, CEP 51, CEP 52 e Nova Era), assim, como no Brasil, inclusive nas
regiões produtoras de trigo como no Planalto do Rio Grande do Sul, o total de dias com
temperaturas vernalizantes durante o ano não é tão alto como nas regiões temperadas, trigos
com alta exigência em frio alongam seu ciclo.

Referências:

ARAÚJO, M.M.; FORTES, G.R de L.; SANTOS FILHO, B.G. Thiadizuron, uma alternativa
para superar a dormência de gemas de macieira (Malus domestica B.). Revista Brasileira de
Fruticultura, Cruz das Almas, BA, v.13, n.3, p.249-253, 1991.

ARAÚJO, M.M.; FORTES, G.R de L.; Recent advances in breaking the dormancy of
deciduous fruit tree. In: Internacional Horticultural Congress, 19. p.69-78. Warszawa. 1974.

Nachtigal, J. C., Fachinello, J. C., Kersten, E. Local para o cultivo de frutíferas. Fruticultura
fundamentos e práticas. EMBRAPA. 2012.

NORTH, M. Effect of aplication date on the rest-breaking action of cyanamide on Golden


delicious aplles. Deciduous Fruit Grower, Cape Town, v.43, p.470-472, 1993.

Streck, N.A. A generalized vernalization response function for lily (Lilium spp.). Revista
Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 10, n. 2, p. 221-228, 2002.
Alberto, C.M., Streck, N.A., Walter, L.C., Rosa, H.T., Brackmann, A., Oliveira, F.B., Zanon,
A.J., Fagundes, L.C. Resposta à vernalização de cultivares brasileiras de trigo. Bragantia.
vol.68, no.2, Campinas, 2009.

INMET - Instituto Nacional de Meteorologia. NORMAIS CLIMATOLÓGICAS DO


BRASIL 1961-1990. 2016. http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/normaisClimatologicas

McMASTER, G. S.; WILHELM, W. W. Growing degree-days: one equation, two


interpretations. Agricultural and Forest Meteorology, v.87, n.4, p.291-300, 1997.

GILMORE JUNIOR., E.C.; ROGERS, J.S. Heat units as a method of measuring maturity in
corn. Agronomy Journal, v.50, n.10, p.611-615, 1958.

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