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FTT1004 - Ecologia Agrícola

UNIDADE 6 - FATORES ECOLÓGICOS QUE AFETAM O


CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DOS VEGETAIS E A
PRODUTIVIDADE DAS CULTURAS AGRÍCOLAS

TEMPERATURA DO AR

Profª. Lilian Uhlmann


Profª. Isabel Lago
Variação da Temperatura do Ar

 Basicamente definida pelos fatores determinantes do clima, como


latitude, altitude, continentalidade, correntes oceânicas, massas de ar,
etc.
PAPEL DA TEMPERATURA DO AR NA PLANTA:

 A taxa das reações metabólicas é regulada basicamente


pela temperatura do ar.

- Afeta TODOS os processos fisiológicos da planta

CRESCIMENTO e DESENVOLVIMENTO
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TEMPERATURA E PRODUTIVIDADE VEGETAL:

 A tolerância aos níveis de temperatura é variável entre


espécies e variedades.

 Plantas de clima tropical são sensíveis a baixa


temperatura, enquanto plantas de clima temperado
necessitam, no período de repouso, de temperaturas
baixas para produzirem bem.

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TEMPERATURA E PRODUTIVIDADE VEGETAL:

Temperatura e dormência de plantas de clima temperado

 Espécies frutíferas de clima temperado de folhas caducas


apresentam um período de repouso invernal.

 Esse repouso é condicionado pelas condições climáticas, que atuam


sobre os reguladores de crescimento. A temperatura do ar é o fator
reconhecidamente importante nesse balanço hormonal que
condiciona a fase de repouso ou dormência.

 A quantidade de frio requerida para o término do repouso é conhecida


como Número de Horas de Frio (NHF).

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TEMPERATURA E PRODUTIVIDADE VEGETAL:

Temperatura do ar e desenvolvimento de plantas

 Constante térmica: a quantidade de energia que uma espécie


vegetal necessita para atingir um certo grau de maturidade.

 Cada espécie vegetal ou variedade possui suas temperaturas


basais, as quais podem variar ainda em função da idade ou fase
fenológica da planta, sendo tanto as temperaturas diurnas como as
noturnas consideradas igualmente importantes no desenvolvimento
vegetal.

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TEMPERATURA E PRODUTIVIDADE VEGETAL:

Temperatura e outros processos nos vegetais

 Germinação: a temperatura do solo influencia no tempo de


germinação, pois afeta a velocidade das reações bioquímicas.

 A temperatura ótima para esse processo é variável, mas situa-se por


volta dos 30°C para tomate, soja e cana-de-açúcar.

7
35

Temperatura do solo (ºC)


Importância da temperatura
30
no estabelecimento
25

20

15

10

Data

Zanon 2016
8
Efeitos de temperatura baixa
Fase de germinação
Temperatura
normal (28°C)

Temperatura
baixa (13°C)

Diminuição da porcentagem e velocidade


de emergência Fonte: PROJETO 10
9
10
TEMPERATURA E PRODUTIVIDADE VEGETAL:
Temperatura e outros processos nos vegetais

 Florescimento: Do ponto-de-vista da produção, o florescimento da


cana-de-açúcar é indesejável pois transforma açúcares do colmo em
inflorescência.

 Condições para o florescimento da cana:


 Fotoperíodo entre 12 e 12,5 horas (em São Paulo, este
fotoperíodo ocorre entre 25/02 e 20/03).
 A indução ao florescimento só ocorre, nessa condição de
fotoperíodo, se a temperatura do ar for menor que 31°C ou
maior que 18°C e há necessidade de que essa condição ocorra
durante um número mínimo de dias.

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TEMPERATURA E PRODUTIVIDADE VEGETAL:
Temperatura e outros processos nos vegetais

 Produção de tubérculos: A temperatura do ar é fundamental à


indução para formação de tubérculos na cultura da batata inglesa.

 A cultura somente inicia sua produção de tubérculos quando a


temperatura noturna (mínima) for inferior a 15°C.

(HELDWEIN et al., 2009)


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O que deve-se conhecer para estudar os efeitos
da “Temperatura do Ar” sobre as “Plantas
Cultivadas” ?
a) O regime de temperatura do ar da região em estudo:
b) A exigência térmica do vegetal

Mínima Ótima Máxima


Tb Tot TB

Temperaturas cardinais: Tb, Tot e TB


b) A exigência térmica do vegetal

Temperatura ótima

Taxa de desenvolvimento Taxa de desenv.


máxima

10 26 30 34 40

Temperatura do ar (oC)

Tb TB

Tb, Tot e TB: Variam entre espécies?


Variam entre fases de desenvolvimento?
b) A exigência térmica do vegetal: base da relação temperatura x
desenvolvimento vegetal

Tb, Tot e TB: Variam entre espécies?


Variam entre fases de desenvolvimento?
Fonte: Bergamaschi; Bergonci (2017)
Temperatura cardinais de algumas culturas
Cultura Fase T base T ótima T máxima
Arroz EM-R1 11 (a) 30 (b) 40 (b)
R1-R4 15 (c) 25 (d) 35 (e)
R4-R9 15 (c) 23 (e) 35 (e)

Milho EM - MAT 8-10 28 36-40

Soja EM - MAT 8-10 30-31 40

Trigo Vegetativa 0-5 22-24 35


Reprodutiva 8 29 40

(a) Infeld et al., 1998; (b) Gao et al., 1992; (c)Buriol et al., 1991; Steinmetz, 2004; (d) Pedro Jr. et al., 1995; ), (e) Steinmetz, 2004;
Venkataraman et al., 2007; Setiyono et al., 2007; Monteriro, 2009.
18
SOSBAI, 2016
• Aplicação prática da variabilidade espacial da temperatura mínima para o
estado do RS e risco de danos para a cultura do arroz.

Fonte: Facebook/Simularroz.19
Estresse por temperaturas baixas
e altas
• Exemplo: Faixa crítica de temperatura mínima para

indução de esterilidade de espiguetas em arroz

Genótipos tolerantes a frio = 15°C a 17 °C

Genótipos sensíveis a frio = 17°C a 19 °C


25 Temperatura Mínima

20
Temperatura (ºC)

15

10
SVP
5 Cachoeirinha
Santa Maria
Uruguaiana
0

Mês

Zanon, 201621
Santa Vitória do Palmar – BioArroz 2015/2016

IRGA 421 Puitá INTA CL IRGA 424 RI Epagri 108

15

12
Produtividade (Mg ha -1)

0
01/09 01/09 01/10 14/10 04/11 16/11 01/12 16/12
Data de semeadura

Zanon e Wolter,
22 2016
Exemplo: Efeitos de temperaturas altas (maior que
35ºC) na fase reprodutiva do arroz

-Redução ou impedimento da liberação de


grãos de pólen e elongação do tubo polínico;

- Diminuição da fertilidade de espiguetas.

Dornelles, 2016 23
Temperatura máxima

40

35

30
Temperatura C

25

20

15 SVP
10 Cachoeirinha
Santa Maria
5
Uruguaiana
0
16/8 15/9 15/10 14/11 14/12 13/1 12/2 14/3 13/4 13/5
Mês
Zanon,
24 2016
Temperatura máxima
40

35

30
Temperatura C

25

20

15 SVP
Cachoeirinha
10
Santa Maria
5 Uruguaiana
Uruguaiana 13/14
0
16/8 15/9 15/10 14/11 14/12 13/1 12/2 14/3 13/4 13/5
Mês
25
Determinação da temperatura base
(Exemplo de 1 método)

 Método do desenvolvimento relativo (DR):

DR = b.Tmed + a

DR = 100/n

Tb = - a/b

Tmed: temperatura média do ar (ºC) do período,


n: duração do período em dias,
a e b: coeficientes linear e angular da regressão linear simples obtidos
na relação entre DR e Tmed.
Desenvolvimento Relativo
Ciclo (dias)

DR = 100/Ciclo

(DR)
DR = a + b*Tmed

0
10 20 30 40 10 20 30 40

Temperatura do ar (oC) Temperatura do ar (oC)


Tb
Quando DR = 0  Tmed = Tb  Assim, Tb pode ser calculada por: Tb = - a/b

Exemplo: y = 0,1275x - 1,1342


1,5
Época Ciclo / N° de Temp. R2 = 0,9289
Sem. Subper. dias Média DR
1,0
1 Todo 136 14,61 0,74 DR
2 Todo 126 15,01 0,79 0,5
3 Todo 127 15,74 0,79

4 Todo 86 17,10 1,16 0,0


5 Todo 90 18,05 1,11
0,0 10,0 20,0 30,0
6 Todo 79 18,67 1,27

7 Todo 77 19,24 1,30


Temperatura média ºC
a b

c d

1 Figura 2 – Temperatura basal inferior, para as fases de desenvolvimento EME-MAT (a),

2 EME-IFLO (b), EME-FFLO (c) e IFLO-FFLO (d), obtida pelo método de

3 desenvolvimento relativo para a cultura do Crambe.


Crambe

http://www.conhecer.org.br/enciclop/2012a/agrarias/crambe.pdf
Soma térmica
A taxa de desenvolvimento de uma espécie / variedade vegetal está
relacionada com a temperatura do meio.

Temperatura ótima
Taxa de desenvolvimento

Taxa de desenv.
máxima

Consequência:
a duração das fases ou
sub-períodos fenológicos e,
consequentemente, o ciclo

10 26 30 34 40
das culturas tem variação
Temperatura do ar (oC) inversamente proporcional
Tb TB
a temperatura.
Quem foi o primeiro a relacionar temperatura x
desenvolvimento?

 Reaumur, na França, por volta de 1735.

 Observou que o ciclo de uma mesma cultura/variedade


variava entre localidades e também entre diferentes
anos.

 O somatório das temperaturas do ar durante os


diferentes ciclos, era praticamente constantes.

Constante Térmica da Cultura: a quantidade de


energia que uma espécie vegetal necessita para atingir
um certo grau de maturidade.
Por que é mais correto usar a soma térmica para representar o
“tempo” em plantas?

 A fenologia das plantas responde mais ao tempo térmico do que


ao tempo cronológico. Fontana e Zanon, 2016
Soma térmica
Equação básica da Soma térmica

ST = ∑n [(Tm – Tb) . 1 dia]


• se Tmed<Tb então Tmed=Tb

Tm = temperatura média diária do ar (°C)


Tb = temperatura base (°C)
n = número de dias de observação
ST = soma térmica (°C dia)
Como podemos calcular a ST?

Método 1:

• GD= (Tmed-Tb).1dia

• se Tmed<Tb então Tmed=Tb

Método 2:

• GD=(Tmed-Tb).1dia

• se Tmed<Tb então Tmed = Tb e


• se Tmed>Tot então Tmed = Tot
Como podemos calcular a ST?

Método 3:

• GD=(Tmed-Tb).1dia

• quando Tb≤Tmed≤Tot e

• GD={(Tot-Tb).[(Tmax-Tmed)/(Tmax-Tot)]}. 1 dia,

• quando Tot<Tmed≤Tmax,
• se Tmed>Tmax então Tmed=Tmax
Aplicações práticas do Sistema Graus-dia

 Planejamento de Colheita: sabendo-se a data de semeadura,


poda ou florescimento da cultura, determina-se a data provável de
colheita.

 Planejamento de Semeadura/Poda: sabendo-se a data que se


deseja realizar a colheita, determina-se a data recomendável de
semeadura ou poda.

 Escolha da melhor variedade para a região: sabendo-se que a


duração ideal da fase semeadura-florescimento masculino do milho é
de cerca de 60 dias, pode-se determinar qual o melhor híbrido a ser
semeado na região para dada época de semeadura.
Exemplo simplificado de aplicações práticas do sistema dos
Graus-dia
 Planejamento de Colheita: sabendo-se a data de semeadura, poda ou florescimento da
cultura, determina-se a data provável de colheita.
Local: Jundiaí, SP
Cultura: Uva Niagara rosada (CT = 1550oC dia e Tb = 10oC) - Poda: 15/07

Mês Dias Tmed GDi GD mês GD ciclo


Jul 16 17,1 7,1 113,6 113,6
Ago 31 18,6 8,6 266,6 380,2
Set 30 19,7 9,7 291,0 671,2
Out 31 21,3 11,3 350,3 1021,5
Nov 30 22,4 12,4 372,0 1393,5
Dez 13 23,0 13,0 169,0 1562,5

1550 -1393,5 = 156,5/13 = 12,04 ou 13 dias

A colheita se dará em 13/12


Exemplo simplificado de aplicações práticas do sistema dos
Graus-dia
 Planejamento de Semeadura: sabendo-se a data que se deseja realizar a colheita, determina-
se a data recomendável de semeadura.
Local: Pelotas, RS
Cultura: Milho CT = 1400 °C dia Tb = 10°C Colheita: 10/02

Mês Dias Tmed GDi GD mês GD ciclo

FEV 23,0

JAN 23,2

DEZ 22,0

NOV 19,6

OUT 17,5

SET 14,9

A semeadura deverá ser feita em ______


Exemplo simplificado de aplicações práticas do sistema dos
Graus-dia
 Planejamento de Semeadura: sabendo-se a data que se deseja realizar a colheita, determina-
se a data recomendável de semeadura.
Local: Pelotas, RS
Cultura: Milho CT = 1400 °C dia Tb = 10°C Colheita: 10/02

Mês Dias Tmed GDi GD mês GD ciclo

FEV 10 23,0 13,0 130,0 130,0

JAN 31 23,2 13,2 409,2 539,2

DEZ 31 22,0 12,0 372,0 911,2

NOV 30 19,6 9,6 288,0 1199,2

OUT 27 17,5 7,5 202,5 1401,7

SET 14,9 4,9

1400 – 1199,2 = 200,8/7,5 = 26,8 ou 27 dias 31-27 = 4

A semeadura deverá ser feita em 04/10


Aplicações práticas do sistema dos Graus-dia

http://planejarroz.cpact.embrapa.br/index.php
Aplicações práticas do sistema dos Graus-dia

- Modelo de crescimento acoplado ao de desenvolvimento para


estimar produtividade.

http://planejarroz.cpact.embrapa.br/index.php
Modelo não-linear para simular o desenvolvimento

• Descrição do modelo de fenologia proposto para gladíolo


denominado PhenoGlad

• O ciclo de desenvolvimento foi dividido em três fases e duas sub-fases, de


acordo com a escala fenológica da cultura:

PL EM R1 R2 R5
VEGETATIVA FLORESCIMENTO
BROTAÇÃO

ESPIGAMENTO

Fonte das imagens: Schwab et al. (2015a).


Modelo não-linear para simular o desenvolvimento
0, T<Tb
f(T) = [2(T-Tb)(Tót-Tb)-(T-Tb)2]/(Tót-Tb)2 Tb≤ T ≤Tót
TB
0, T>TB

Função de resposta à temperature f(T) usada no modelo


PhenoGlad para similar as fases de desenvolvimento do gladíolo:
fase de brotação (Tb = 5°C, Topt = 25°C and TB = 35°C), fase
vegetativa (Tb = 2°C, Topt = 27°C and TB = 45°C), e fase
reprodutiva (Tb = 6°C, Topt = 25°C and TB = 42°C).

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