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DEPARTAMENTO DE DIREITO, ECONOMIA E CONTABILIDADE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

1ª AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA JURÍDICA

27/09/2022

Data de Entrega: 03/10/2022

NOME DO ALUNO: Felipe Franco Santos

CURSO: Direito

DATA: 05/10/2022

QUESTÕES

1) Fale da psicologia enquanto uma ciência. Baseado na definição de


subjetividade como objeto de estudo da Psicologia Cientifica,
justifique a cientificidade da Psicologia enquanto área de
conhecimento empírico.
R: A Psicologia é uma área dos conhecimentos científicos recente que ainda encontra-
se num processo de formação e de delimitação de seu objeto de estudo em relação às
outras áreas das ciências humanas e em relação às suas divisões internas. Apesar
disso, a Psicologia reforça seu caráter científico na medida em que já adquiriu método
e rigor na linguagem que utiliza para transmissão de seus conhecimentos,
diferenciando-se de um mero senso comum, por exemplo. Também são marcantes nos
últimos anos a expansão da comunidade nacional e internacional de pesquisadores
desta área, que permite uma verificação entre pares dos estudos produzidos, assim
como são notáveis os crescimentos da publicação destes. A diversidade dos objetos de
preocupação da Psicologia, portanto, não demonstram-se como um entrave ao caráter
de cientificidade da temática mas apenas revelam a ebulição de teorias e hipóteses
científicas que competem por uma hegemonia teórica. Apesar disso, a categoria das
subjetividades consegue reunir numa unidade temática as diversas palavras
tradicionalmente utilizadas para descrever os objetos da Psicologia e tem sido utilizada
recentemente pela literatura.
2) Descreva a evolução histórica e teórica da Psicologia Jurídica
como importante área de conhecimento do Direito. Exemplifique as
áreas de atuação.
R: A relação entre a Psicologia e as matérias jurídicas inicia-se na França com a
crescente curiosidade que a sociedade e os agentes estatais da época tinham a
deparar-se com crimes que não se adequavam às descrições de transtornos
mentais clássicas mas pareciam ser atitudes que iam de encontro a valores
humanos mais básicos. A Psicologia – nesta época denominada de Psicologia
Criminal – entra em cena então a fim de oferecer uma resposta a nível psíquico
acerca do comportamento destes criminosos. Anos depois, passou a ganhar
uma posição de maior destaque ao contribuir com as acepções, hoje em dia já
superadas, que a criminologia tinha no papel de relacionar o criminoso e a
criminalidade através do comportamento, bem como numa fajuta e que se
mostrou falha tentativa de “prever” e “reabilitar” o “delinquente”, expressões
ultrapassadas e pouco polidas mas utilizadas à épocas. Foi somente no final do
séc. XIX, entretanto, que a Psicologia Jurídica adquire autonomia
epistemológica própria em relação a outras áreas às quais tinha oferecido
suporte até então, momento em que passa a adquirir maior consistência em
seu método e objeto de estudo mais definido, inclusive com a explosão de
diversos manuais e publicações agregadoras acerca da temática pelo mundo,
dentre as quais destaca-se o manual de Mira Y Lopez de 2008. Finalmente, a
Psicologia Jurídica contemporânea adquire sua fase de maior maturidade com a
crítica e a problematização de diversos conceitos equivocados de sua fase
inicial, buscando relacionar o comportamento criminoso muito mais aos
valores exaltados ou proibidos em uma dada sociedade e ao contexto daquele
que comete estes crimes que a certas tendências psíquicas inatas. Finalmente,
vale destacar que, hodiernamente, a Psicologia tem sido aplicada às práticas
jurídicas nas mais diversas áreas, desde a emissão de laudos de insanidade
mental em processos criminais, até a realização de estudos psicossociais em
crianças e adolescentes na hipótese de abuso ou em ações de guarda. em
síntese, a Psicologia demonstra a sua relevância e sua aplicabilidade na prática
jurídica rotineira em seus mais diversos aspectos: sejam nos estudos em que as
duas áreas se relacionam seja na aplicação dos conhecimentos psíquicos aos
Tribunais

3) Qual a importante da interdisciplinaridade Psicologia e o Direito? E


quais as dificuldades interlocução das duas áreas?
R: Como revelam as frutíferas reflexões da literatura especializada em
psicologia jurídica a importância da interdisciplinariedade entre as áreas do
Direito e da Psicologia demonstra-se a partir da constatação de que o ser
humano, por excelência o objeto comum das duas ciências, não pertence tão
somente ao mundo do dever no Direito nem tão somente ao mundo do ser na
Psicologia. Ao contrário, a humanidade encontra-se inevitavelmente envolta na
pertinência das reflexões próprias dos fenômenos jurídicos quanto dos
fenômenos psicológicos. Nesse sentido, o processo de interdisciplinariedade
entre as duas áreas é essencial na medida em que permite o enriquecimento
mútuo de ambas as epistemologias através do desvelamento dos mistérios de
uma, pela outra, como, por exemplo, na aplicação de laudos periciais na
constatação de quadros de insanidade mental no Direito Penal. A dificuldade
de interlocução entre ambas retorna ao apontamento inicial desta resposta, ou
seja, a dificuldade da união das constatações científicas de uma ciência mais
objetiva e empírica como a Psicologia e outra mais dada às teorias e ao mundo
das normas e das abstrações, como o Direito. A união destas seria, na opinião
de alguns, um desafio, mas como demonstrou-se neste texto este desafio só faz
agregar a ambas as ciências.

4) É indiscutível que tanto as normas morais como as normas


jurídicas possuem um conteúdo psíquico, quer dizer, emocional.
Explique qual a interfase da normatividade e a Psicologia.
R: Conforme esclarece a literatura especializada em Psicologia Jurídica
as normas abstratas e racionais do Direito não encontram-se isentas dos
processos psicoemocionais que concernem a Psicologia. Como
enunciadoras de comportamentos proibitivos ou incentivados dirigidos
ao ser humano na gênese do conteúdo das normas jurídicas encontra-
se, justamente, a reação emocional (de aversão ou de atração) que
conduziu aquela normatização. Por assim dizer, diante de reações
emocionais aos fatos sociais conduz-se a um processo de formação dos
dever-ser destes fatos, as normas. Encontra-se aí a interfase entre
normatividade e Psicologia.

5) Qual será o papel das emoções no processo de tomada de decisão racional


e no processo de tomada de decisão judicial? A possibilidade de se colocar
comprometidamente esta pergunta implica no enfrentamento crítico da posição
tradicional, ancorada na tradição filosófica ocidental, que assume uma
dualidade estrutural entre as emoções e a razão. As emoções, sustentam,
devem ser dominadas ou, preferencialmente, estirpadas do debate racional? A
decisão racional é também uma decisão não-emotiva e, portanto, um bom
julgador, para além de ser uma pessoa intelectualmente dotada de
conhecimentos sólidos sobre as leis e sobre as coisas do mundo, deve ser
capaz de suprimir suas emoções. No entanto, será possível decidir um caso
com justiça sem a convocação das emoções? Baseado nos
questionamentos e afirmações citadas acima explique o papel das
emoções no Direito levanto em consideração o realismo jurídico.

R: Segundo o realismo jurídico, o processo de tomada das decisões jurídicas racionais pelos
juízes e tribunais seria, anteriormente, revestido de uma fase preparatória que acomete os
operadores deste sistema e momento no qual estes ativam uma série de fatores inconscientes
e irracionais que movem a decisão posterior. Nesse sentido, portanto, apesar de convalidadas
finalmente em decisões cristalizadas que teriam por fundamento a Lei o processo de
decisionismo do magistrado em seu gabinete seria eivado de uma gama de outros fatores de
forte conteúdo emocional que movem o profissional em suas decisões, muitos destes
inconscientes ao próprio sujeito, mas todos eles ao final ocultados diante da necessidade de
uma justificação racional pela norma.

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