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PSICOLOGIA

JURÍDICA
Esp. Valesca Luzia de Oliveira Passafaro

INICIAR

introdução
Introdução
Caro(a) aluno(a), nesta unidade iremos apresentar um breve histórico a respeito da matéria de
Psicologia, traçando um paralelo com Psicologia Jurídica e Psiquiatria. Portanto, não somente
estudaremos a parte histórica como também observaremos como é relevante o papel de tais
profissionais para a sociedade. Assim, entenderemos seus pontos em comum e suas divergências,
chegando, enfim, ao estudo da Psicologia Jurídica propriamente dita.

Deixaremos, dessa forma, evidenciada a interface entre Direito e Psicologia, e para tanto usaremos
autores que são referência em tais matérias. Demonstraremos também a importância de se
contemplar a chamada interdisciplinaridade, apontando a relevância dos estudos nas mais variadas
frentes para o Direito e, como consequência, para a sociedade.
Seguindo esse viés, faremos um aparato de como tais matérias são atuantes no que concerne à
justiça, entendendo como esta age.

Bons estudos!
Introdução à Psicologia Jurídica

Como forma de iniciar os debates acerca do tema, devemos compreender dois pilares de suma
relevância para a Psicologia e para a Filosofia do Direito, que são o “ser” e o “dever ser”.

O “ser” está conectado à subjetividade humana, com todo o aparato filosófico e social que rege o
mundo e seus acontecimentos. Em contrapartida, o “dever ser” está interligado com toda a
normatização, a qual que traz a legalidade para o Direito.

Podemos, então, compreender que o Direito e a Psicologia estão intimamente conectados e


caminham na medida de suas conexões, lado a lado. É equivocada a ideia de que o Direito, assim
como todas as suas normas, constrói-se sozinho, uma vez que se faz necessário um aparato de
estudos sociais para se chegar a uma norma, e, posteriormente, assegurar a eficácia dessa norma
no campo do “deve ser”.

Portanto, para o aplicador do Direito, é imprescindível que se encontre o lapso temporal no qual as
matérias Psicologia e Psiquiatria se encontram, para que se compreenda que ambas estão
enraizadas no Direito.

Dentro da Psicologia existem diversas abordagens. Para o Direito, a abordagem de maior relevância,
por assim dizer, é da Psicanálise, a qual nos traz uma forma de compreender a aplicação da
Psicologia dentro do Direito. Para tal abordagem, o homem não nasce inserido nas normas sociais,
muito menos nos costumes socialmente aceitos. Porém, ele pode se tornar um seguidor de tais
normas.

Segundo Freud, maior nome em síntese da Psicanálise, o homem passa necessariamente por
algumas fases, nas quais vai criando uma concepção do que é a sociedade e de como caminha seu
funcionamento, como se ali o ser humano começasse a ter uma acepção das normas sociais e as
internalizasse.

De acordo com Pinheiro (2016), tais fases são:

oral;
anal;
fálica; e
genital.

Passando por todas essas fases, podemos compreender, em suma, o funcionamento básico da
sociedade, e assim enraizar seus costumes.
Dessa forma, demonstra-se a importância dos estudos em Psicologia tanto para o campo do “dever
ser” quanto para o desenvolvimento jurídico e social.
atividade
atividade
De acordo com Pinheiro (2016), pode-se afirmar que a Psicologia, assim como a Sociologia, a História, a
Economia e a Política, faz parte do mundo do “ser”, enquanto o Direito está inserido no universo do
chamado “dever ser”.

PINHEIRO, C. Psicologia Jurídica . 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (Adaptado).

Partindo dessa concepção e consultando a literatura indicada, assinale, a seguir, a alternativa correta:

a) O mundo do “ser” engloba toda a subjetividade humana, enquanto o “dever ser” tem a ver com as
normas em si, o mundo concreto.
b) O “ser” é como deveria ser, e o “deve ser” é como é.
c) O “ser”, conforme a filosofia do Direito, está conectado à normativa legal, buscando trazer uma
realidade fática ao operador do Direito.
d) O “dever ser” está inserido dentro dos tribunais, como um modelo punitivo aplicado aos crimes
bárbaros, servindo de referência para operadores do Direito.
e) O “ser” e o “dever ser” nada mais são do que modelos de aplicação de novas maneiras de
sancionar os indivíduos em sociedade.

Feedback: A alternativa correta é a letra A , na qual se afirma que o


“ser” engloba toda a subjetividade humana, como forma de
compreender o funcionamento da sociedade e do ser humano; e que
o “dever ser” está ligado às normas em si, sendo necessário que o ser
humano seja apto para internalizar tais normas. A alternativa B está
incorreta, pois sabemos que o “ser” está ligado à subjetividade
humana como ela é, enquanto o “dever ser” associa-se às normativas
legais. A alternativa C se faz incorreta por essa mesma ótica, pois o
“dever ser” está mais ligado à realidade fática. As alternativas D e E
estão incorretas, pois o “ser” e o “deve-ser” nada têm a ver com
modelos punitivos.
A Interface da Psicologia com o
Direito: a Psicologia à Luz do
Direito e da Lei

A Psicologia tem uma longa trajetória histórica. Desde seus primórdios, muitos filósofos e
pensadores passearam e pegaram carona nas teorias apresentadas, além de contribuírem, de certa
forma, para o seu desenvolvimento.

A psique humana sempre foi um grande mistério e alvo de inúmeros estudos e teorias. Partindo
desse viés, é certo que, diante dessa longa trajetória, a Psicologia em si seja nova quando se trata de
matéria autônoma. Apesar de sua vasta história e de suas conexões com a Filosofia e seus
pensadores, a Psicologia nem sempre foi uma matéria autônoma; consequentemente, sua
capacidade de compreender o homem nem sempre é reconhecida.

Interface da Psicologia com o Direito


Diante do exposto, podemos afirmar que o homem é um animal sociável. Nascemos e crescemos
para viver em sociedade; porém, para regular essa convivência, vieram as chamadas normas,
tomando como ponto de partida os usos e os costumes de um determinado povo. Toda convivência
vem eivada de dilemas e discórdias, e podemos afirmar que disso surgiu uma necessidade de
regulamentação. Porém, apenas no século XIX, mesmo com toda a sua trajetória histórica, a
Psicologia foi tomada como ciência.

Com o passar dos anos, após a Idade Moderna, a Psicologia foi reconhecida como ciência. Dessa
forma, ganharam conhecimento os estudos acerca dos insanos, ou chamados “loucos”, nessa
determinada era, na qual a Psicologia Jurídica passou a ganhar forma com muitas atribuições a ela
destinadas e várias outras sendo inseridas ao longo da história.

A palavra “psicologia” vem de duas vertentes possíveis: advindas do grego psique, que significa
“alma”, “espírito”, podendo abranger toda a subjetividade humana; e de logos, que vem da razão, da
criação, do estudo. Unindo essas duas premissas, temos que a Psicologia é o estudo da mente; desta
forma, é a ciência que estuda a mente humana, bem como os fenômenos dela derivados ou aqueles
que, junto a ela, vêm conectados.

Partindo dessa premissa, ao chegarmos à definição de que a Psicologia estuda a mente humana,
obviamente chegaremos à conclusão de que, dentro desse conceito, estão abrangidas diversas
linhas de pensamento. A partir daí, entendemos que a mente humana é eivada de uma
subjetividade sem tamanho, o que abre um leque gigantesco para diversos estudos voltados à área.
Sendo assim, tais estudos vêm de uma gama de linhas teóricas, as quais podem contemplar as
ciências biológicas e, dessa forma, suas consequências para o comportamento humano, como
aquelas ligadas ao interior da mente humana, que são chamadas de psicodinâmicas, contemplando,
então, o interior de cada indivíduo, como o seu funcionamento.

Quando tratamos das abordagens ditas biológicas, destaca-se a Psicologia do Desenvolvimento. Tal
abordagem estuda o desenvolvimento dito físico do ser humano, assim como o próprio
desenvolvimento mental, desde o nascimento de uma pessoa, passando por toda sua infância e
adolescência, até sua vida adulta e velhice.

Já na chamada Psicologia Fisiológica, destacam-se os estudos ligados ao comportamento dos


pensamentos e da emoção humana. Como desdobramento de tal abordagem, temos também a
Neuropsicologia, a qual estuda o cérebro humano e o sistema nervoso, bem como suas relações
com a Psicobiologia, ou seja, a Neuropsicologia tem como foco toda a parte hormonal do corpo,
além de toda sua bioquímica.

Esses estudos estão ligados ao fato de como as drogas afetam o organismo, drogas essas que
podemos exemplificar como antidepressivos, maconha, cocaína e afins, vertente de extrema
importância para dirimir os impactos causados por tal problemática, pois se tem conhecimento de
que o Brasil vive um grave problema de saúde pública, ligado fundamentalmente à dependência
química e seus desdobramentos, que vão muito além do corpo humano, afetando também a
sociedade como um todo.

Ainda dentro dessa linha de pensamento, podemos destacar a Psicologia Experimental. Tal
abordagem implica no estudo de processos biológicos básicos, como a aprendizagem, a memória, as
sensações, as percepções, as cognições, as motivações e as emoções.

Após uma breve explanação sobre as principais abordagens estudadas, temos que a que tem maior
representatividade para os estudos da Psicologia Jurídica é a Psicanálise. Criada pelo emblemático
pensador Sigmund Freud, a Psicanálise é pautada no estudo do inconsciente, que seria, em síntese,
o grupo de processos mentais que não são conscientemente pensados, ao mesmo tempo em que é
um método de psicoterapia e também um conjunto de elementos interligados de pensamento.

A Psicologia tem uma longa história, além de uma importância imensurável para o desenvolvimento
humano e social; porém, não tem a mesma trajetória quando se trata de matéria autônoma. Para
entendermos seu paralelo com o Direito, assim como sua relevância nos estudos jurídicos, devemos
nos reportar à sua origem, sua fase chamada de pré-científica, até chegarmos à sua construção
como ciência. Dessa forma, faz-se imprescindível entender a influência que a Psicologia sofreu da
Medicina, até compreendermos seu papel dentro do Direito, que, até então, é nosso alvo de estudo.

Começando essa análise histórica, para compreendermos como as teorias estudadas pela Psicologia
chegaram ao Ocidente, destacamos que tais raízes podem ser encontradas nos grandes filósofos da
Grécia antiga. Encontramos, então, dentro dessa filosofia, um grande amparo e a influência de
autores como Sócrates, Platão e Aristóteles.Tais autores não tiveram uma enorme influência apenas
para a Psicologia Jurídica, mas também para o Direito como um todo, sendo de importância
imensurável para os estudos como compreender a sociedade.

Esses pensadores fizeram questionamentos que foram fundamentais para a construção dos estudos
em determinadas matérias. Para a Psicologia, eles contribuíram quando fizeram alguns
questionamentos, como:

O que seria a instância consciente da mente humana?


O ser humano é um animal racional ou irracional?
O que seria o livre-arbítrio?
Qual a influência do livre-arbítrio no modo de pensar e nas suas escolhas?

Essas perguntas e tantas outras levaram as pessoas a pensarem por perspectivas diferentes das que
eram vistas na época e a questionarem tais perspectivas. Até hoje, esses questionamentos são
relevantes para algumas perspectivas teóricas a respeito do tema, além de serem pesquisados por
profissionais do mundo inteiro.

Além dos pensadores citados anteriormente, a Psicologia recebeu uma forte influência de grandes
nomes da Medicina da época, como Hipócrates, considerado pai da Medicina. Hipócrates tinha
enorme curiosidade e uma vasta linha de estudo a respeito da Fisiologia. Tal matéria, em síntese,
estuda todo o funcionamento do organismo vivo, Hipócrates fez diversas descobertas a respeito de
como o cérebro tinha importante papel no funcionamento de vários órgãos. Esses estudos abriram
caminho para o que vemos hoje, quando se trata de perspectiva biológica na Psicologia.

A Psicologia surgiu como ciência a partir dos estudos em laboratórios, em meio a várias
experimentações com o funcionamento anormal do cérebro. Tal perspectiva já assumiu uma grande
importância para a Psicologia, logo que esta foi considerada uma ciência.

Até meados do século XIX, não havia qualquer atendimento para as pessoas chamadas “anormais”.
Para os doentes, que não tinham um funcionamento adequado do cérebro, essa fase foi chamada
de pré-científica. Tal fato era considerado um enorme problema social que a humanidade
enfrentava, no qual tais pessoas moravam nas ruas e eram presas como criminosos. Não havia
qualquer tratamento humano, uma vez que esses sujeitos viviam, e ainda vivem, à margem da
sociedade e eram vistos como “loucos” pelas pessoas que tinham um entendimento muito
superficial a respeito da problemática.

Algumas dessas pessoas ditas “anormais” eram colocadas em barcos e literalmente “largadas” nos
oceanos para ali morrerem. Além disso, alguns médicos da época acreditavam que, com uma
operação em suas cabeças, conseguiriam arrancar a loucura e ali devolver a sanidade. Até hoje,
existem movimentos incessantes de luta, por parte da Psicologia, da Assistência Social e do Próprio
Direito, para que as pessoas que sofrem com tais transtornos tenham um tratamento humanizado.

No final do século XIX, começaram a ser aplicadas metodologias científicas às questões trazidas
pelos filósofos. Desde então, a Psicologia começou a figurar como matéria autônoma, separando-se
da Filosofia. Dessa forma, a Psicologia nasceu no século XIX, mais especificamente no ano de 1879,
ano em que foi fundado o primeiro laboratório de Psicologia da Universidade de Leipzig, na
Alemanha.

Após essa fase em que a Psicologia passou a ser tratada como matéria autônoma, ocorre no início
do século XX, no ano de 1900, a publicação de um livro chamado “Interpretação dos sonhos”, do
neurologista Sigmund Freud, o qual revolucionou os estudos que até então eram feitos e foi além do
que era conhecido, com a criação da chamada Psicanálise, abordagem essa de enorme relevância
para os estudos Psicologia.

Tal abordagem foi criada por meio da experiência que Freud obteve em seus estudos e experiência
clínica, atendendo pacientes que sofriam de um surto chamado, na época, de histeria. Freud
defendia que os seres humanos não são tão racionais assim, e que o chamado livre-arbítrio, que até
então era um princípio de relevância ímpar para os estudiosos em Psicologia, era uma ilusão.

Para Freud, somos todos guiados por pulsões inconscientes que não estão na dimensão racional da
nossa mente. Para os estudiosos da área, a grande contribuição de Freud foi o estabelecimento de
um conceito e um entendimento para o que é inconsciente, com a compreensão de como tal
inconsciente age guiando nossas decisões.
Até então, alguns pensadores já haviam mencionados o chamado inconsciente; porém, para tais
pensadores, o inconsciente é como se fosse um depósito no qual eram guardadas as lembranças e,
dependendo do momento, elas seriam relembradas. Freud foi além dessa perspectiva, mostrando
que o inconsciente possui uma gama de impulsos sexuais, de medos e de desejos ali reprimidos.
Embora tais impulsos estejam, de certa forma, ali “guardados”, eles exercem uma força para
voltarem à tona; dessa forma, tais impulsos voltam de maneira distorcida, disfarçados ou alterados.

Partindo dessa perspectiva, foi criada a técnica chamada de “livre associação”, na qual o paciente
deita sobre um divã e conta tudo o que vem à sua mente, além de relembrar sonhos e, de uma
forma livre, conversar sobre os seus pensamentos.

A teoria de Freud foi duramente rechaçada por outros pensadores, principalmente pelo viés da
sexualidade, uma vez que a moralidade da época não compreendia o significado da palavra e, assim,
não conseguia se desprender das correntes dos padrões sociais impostos.

Assim, podemos adentrar, de certa forma, na chamada Psicologia Jurídica, a qual, partindo de um
conceito básico, podemos dizer que pode ser definida como um comportamento de um grupo social
ou de pessoas desse grupo, em um ambiente que é juridicamente regulamentado, ou seja, um
ambiente no qual existem normas a serem seguidas, e onde o “deve ser” já foi internalizado o ou
deve ser internalizado por quem ali convive. Dessa forma, ocorreu a evolução de como essa
regulamentação jurídica se deu, de acordo com o interesse das pessoas que convivem em
determinado ambiente e de acordo com o que pensam os grupos sociais.

Porém, acredita-se que essa definição seja um tanto que incompleta, ou até mesmo ultrapassada, se
partirmos do pressuposto de uma Psicologia do Direito no Direito e para o Direto. Tal Psicologia tem
como enfoque entender e explicar a essencialidade do fenômeno jurídico, ou seja, a fundamentação
que a Psicologia tem para o Direito, uma vez que este regula a vida em sociedade e,
consequentemente, a sociedade tem muitas ênfases psicológicas.

A partir desse pressuposto, temos que a Psicologia no Direito possui, por vertente, a estruturação
das normas, enquanto estímulos e reguladores das condutas humanas em certo contexto. Dessa
forma, quando mencionamos tal matéria para o Direito, chegamos à conclusão de que a Psicologia é
uma ciência que vem como forma de auxiliar o Direito, ao lado da Medicina Legal, da Antropologia,
da Sociologia e de áreas afins.

Nesse sentido, uma definição, para ser exata, contempla todas as facetas que a Psicologia possui, de
auxílio ao Direito, bem como outras matérias; dessa forma, poderia ser: o ramo da Psicologia traz
conteúdos e pensamentos que podem vir a contribuir para a criação de normas regulamentadoras,
socialmente eficazes e adequadas, promovendo a efetivação de determinadas normas como meio
de colaborar com o arranjo sistêmico de sua aplicação.

Em um contexto mundial, a Psicologia Forense é mais utilizada que, propriamente, a Psicologia


Jurídica, ou Psicologia do Direito; porém, entende-se que a Psicologia do Direito é mais abrangente e
usual. É como se essa Psicologia fosse além das portas do fórum, tendo um papel relevante para
toda a sociedade.

Para entendermos como se desenvolveu a Psicologia Jurídica, temos que fazer um aparato de sua
evolução ao longo dos anos. Sua origem está atrelada à Medicina, mais precisamente à Psiquiatria
(para alguns, Psiquiatria Forense). Dessa forma, Hipócrates criou a primeira classificação de doenças
nosológicas, ou seja, a classificação, na Medicina, das chamadas doenças mentais. Ele, no entanto,
detalhou o quadro clínico chamado de melancolia, entendida hoje em dia como depressão.

Na Idade Média, com o apogeu do Cristianismo, o entendimento acerca das chamadas doenças
mentais retrocedeu, e elas voltaram a ser atreladas a acontecimentos sobrenaturais, como se
ocorresse de uma espécie de ordem divina. Como exemplo, temos as chamadas “bruxas” e os
“loucos incontroláveis”. A contenção e o tratamento, dessas doenças eram feitos, normalmente, pela
Igreja, sob o argumento de que esta estava realizando uma manutenção da ordem pública.

Após o exposto, podemos avançar até chegarmos aos debates acerca da Psiquiatria, que nasceu em
meados de 1793, com o médico francês Philippe Pinel. A Psiquiatria foi uma inspiração,
principalmente, para a Psicologia Clínica e também para a Psicopatologia, pelo fato de poderem lidar
com os mesmos objetos (resumidamente, as doenças mentais). Muitos dos pensamentos
desenvolvidos se deram por princípios próprios da Psiquiatria, e isso aconteceu pelo fato de que a
Psiquiatria nasceu muito antes da Psicologia.

Na interpelação psiquiátrica dos acontecimentos mentais, temos a contribuição de Francis Galton,


que, ao defender a conceituação fenológica, afirmava que o caráter e as funções intelectuais
estavam relacionados ao tamanho do crânio do indivíduo. Dessa forma, para essa linha de
raciocínio, o tamanho do crânio (grande, pequeno ou deformado) estaria relacionado aos
comportamentos socialmente inadequados.

Nesse contexto, existiu também a Antropologia Criminal, do médico italiano Lombroso, que foi
muito conhecido por afirmar que condutas socialmente inadequadas estavam intimamente ligadas à
hereditariedade, ou seja, passavam de pais para filhos, como a questão de que você se tornaria um
criminoso ou não, além do fato de se identificar um criminoso por suas características físicas.

Já o médico psiquiatra francês Esquirol, na investida de tentar compreender o porquê de as pessoas


terem comportamentos anormais (como a loucura, a perversão, a maldade, dentre outros), criou a
chamada concepção “médico-moral”.

A partir de então, a loucura propriamente dita estaria ligada a uma questão racial. Dessa forma, a
causa de certos comportamentos seria a degenerescência, e tais portadores dessas
degenerescências eram chamados de loucos morais.
atividade
atividade
De acordo com Pinheiro (2016), a Psicanálise foi criada por Sigmund Freud, e sua obra é de suma relevância
para os estudos em questão, pois revolucionou a maneira de ver o inconsciente, além de conceituá-lo.

PINHEIRO, C. Psicologia Jurídica . 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (Adaptado).

Com base no exposto, assinale, a seguir, a alternativa correta:

a) O estudo proposto por Freud foi de suma relevância, pois mostrou que o inconsciente apenas
guarda memórias que podem ser relembradas a qualquer momento.
b) Para Freud, o inconsciente não tinha tanta relevância quando era confrontado com a parte
biológica do ser humano.
c) Para Freud, o homem não nasce inserido nas normas sociais, muito menos nos costumes
socialmente aceitos; porém, ele pode se tornar um seguidor de tais normas.
d) Para Freud, o tratamento dos chamados “loucos” se baseava em eletrochoque, dentre outras
práticas voltadas à Medicina.
e) Para Freud, o fortalecimento dos manicômios judiciais era uma ferramenta ímpar para o
tratamento dos chamados “loucos”.

Feedback: A alternativa correta é a letra C , pois para Freud, o ser


humano não nasce com todas as normas internalizadas, uma vez que
passa pelas cinco fases: oral, anal, fálica, latência e genital. Com essas
fases, o ser humano se torna alguém que assimila as imposições
sociais. Dessa forma, a alternativa A está incorreta, pois Freud elevou
os estudos acerca do inconsciente, mostrando que este muito além
de guardar memórias. Já a alternativa B se faz incorreta porque o
estudo do inconsciente foi a base das pesquisas de Freud, ou seja, de
suma importância. A alternativa D está incorreta, pois o eletrochoque
foi rechaçado pela Psicanálise, bem como os tratamentos trazidos na
alternativa E, os quais recebem severas críticas até hoje.
A Interface entre Psicologia e
Justiça: Conceituação e Formas de
Atuação do Psicólogo na Justiça

Como visto anteriormente, teorias como a Antropologia Criminal ou a médico-moral queriam


demonstrar que comportamentos criminosos estariam estreitamente ligados à genética ou até
mesmo a doenças mentais. De certa forma, era mais cômodo condenar doentes do que tratá-los.

Partindo desse viés, podemos identificar que a Psiquiatria e o Direito estão conectados como uma
forma de compreender o indivíduo quanto à sua autonomia e sua subjetividade individual. Nesse
sentido, é importante analisar, caso a caso, a capacidade desse ser de entender e, ao mesmo tempo,
de ser entendido.

Pode-se dizer então que a Psicologia e a Psiquiatria são áreas que tratam, sob perspectivas e
fundamentos diversos, fenômenos de uma mesma espécie, sendo, portanto, inquestionável
entender que, apesar das lacunas que separam essas duas áreas, os temas se relacionam, do ponto
de vista de seus objetos de estudos.

As doenças mentais são a principal linha de pesquisa da Psiquiatria, e englobam uma parte
significativa da Psicologia. Quando essas doenças interferem na acepção de normas e no convívio
sadio em sociedade, podemos entender que o estudo do Direito se faz importante, tudo sob um
aspecto científico, no qual se busca o próprio desenvolvimento social, e não apenas individual.

No século XIX, a Psiquiatria propriamente dita tinha um condão de abordar as questões sociais,
como os comportamentos anormais de certas pessoas, para que, assim, fosse possível exercer, de
certo modo, um controle social. Boa parte dos estudiosos pondera que o conteúdo da Psiquiatria
tinha como fundamento o controle social, o qual vinha estabelecer certa normalidade no que diz
respeito a espaços urbanos propriamente ditos. Partindo desse pressuposto, a matéria tinha como
prerrogativa identificar os chamados “elementos desordeiros” para estabelecer um controle social
sobre eles.

Daí surgiu a necessidade de, por exemplo, se combater o alcoolismo, o vício em jogos, a prostituição
e o crime com a utilização dos recursos e dos conhecimentos sobre Psiquiatria. Dessa forma,
buscou-se uma conexão entre atos criminosos e doenças mentais. Em paralelo a isso, o Direito vinha
com uma ideia de que enquadraria o crime sob uma perspectiva individual, e não meramente social.

Consequentemente, insere-se a Psicologia Jurídica como instrumento de individualização ou aferição


da influência da subjetividade. Na prática dos atos criminosos e de seus impulsos, leva-se em conta
o aspecto da subjetividade humana, que aqui se submete ao mundo de ideias, significados e
emoções, não somente focando no ato cometido.
A Psicologia Jurídica como Especialidade Reconhecida
da Psicologia
A Psicologia, no entanto, se ocupou de estudar sobre certos comportamentos; para tanto, tratou de
investigar o surgimento de doenças assim, como sua abrangência, e passou a tentar compreender
também objetos mentais ditos como normais, que são constitutivos de todos os seres humanos.

Dessa forma, os estudiosos afirmam que a Psicologia traçou um paralelo entre os questionamentos
dos antigos filósofos com os aspectos biológicos de todos os cidadãos. Portanto, a Psicologia Jurídica
traçou uma divisão entre as perspectivas biológicas e as perspectivas sociais, que são objeto de
estudo da Psicologia Jurídica.

Assim, por toda sua contribuição social e técnica, foi editada a Resolução nº 75, de 12 de maio de
2009, que vincula os concursos públicos para juízes federais e os obrigam a ter a matéria de
Psicologia Jurídica em seu conteúdo programático, bem como os temas relativos aos processos
psicológicos e à obtenção da verdade, além do comportamento das partes e da testemunha (BRASIL,
2009).

Portanto, a Psicologia Jurídica é uma especialidade reconhecida dentro da própria Psicologia,


justamente por abrir um paralelo de estudos entre Psicologia e Psicologia Jurídica. Porém, mostrar
as diferenças entre uma Psicologia que discute o biológico de cada cidadão e outra que, além de
levar em conta todos os aspectos biológicos, possibilita um debate social, tira o caráter meramente
punitivo, trazendo uma abrangência na qual se permite debater o social.
atividade
atividade
De acordo com Pinheiro (2016), a Psicologia e a Psiquiatria são áreas que tratam dos enfoques e
fundamentos diversos, fenômenos de uma mesma natureza.

PINHEIRO, C. Psicologia Jurídica . 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (Adaptado).

Com base no exposto, assinale, a seguir, a alternativa correta:

a) De acordo com o que foi estudado, não existe distinção entre Psiquiatria e Psicologia, sendo o
objeto de estudo de ambas praticamente o mesmo.
b) Existem algumas divergências entre Psicologia e Psiquiatria; porém, ambas podem ser exercidas
por um profissional da área de Psicologia.
c) Existem interseções entre as duas disciplinas, do ponto de vista do objeto de estudo: as doenças
mentais são o principal foco de estudo da Psiquiatria e um dos núcleos de estudo da Psicologia.
d) Tais distinções não são relevantes, pois a Psicologia ainda serve como um acessório à Psiquiatria,
assim como ao Direito.
e) Tais distinções não são importantes, pois ambas estudam a psique humana.

Feedback: A alternativa correta é a letra C , pois já que existem


interseções entre as duas disciplinas; porém, apesar de as doenças
mentais serem o enfoque da Psiquiatria, a Psicologia estuda, como
parte de um núcleo, determinadas doenças, o que trouxe uma
enorme contribuição para o Direito. A alternativa A se faz incorreta,
pois existem interseções entre ambos os temas. A alternativa B
afirma que as duas áreas podem ser exercidas por profissionais de
Psicologia, o que torna a questão incorreta, pois a Psiquiatria é um
ramo da Medicina. A alternativa D vai contra a posição de respeito
que a Psicologia conquistou, sendo esta independente e científica,
não servindo de acessório a nenhuma outra, o que torna a alternativa
incorreta. Para finalizar, a alternativa E afirma que as distinções não
são importantes, o que torna a frase incorreta, pois ambas as áreas
estudam ideações diferentes da psique humana.
A Psicologia e o Direito

Para que possamos compreender o paralelo entre a Psicologia e o Direito, mais uma vez, temos que
reportar a sua linha histórica. Dessa forma, duas obras foram de suma importância para que a
profissão de psicólogo jurídico ganhasse força em nosso país: “As raças humanas” e “A
responsabilidade penal no Brasil”, da autora Nina Rodrigues.

Consequentemente, surgiram os manicômios judiciários no Brasil, nos quais eram presos os


doentes mentais criminosos, onde a desumanidade era tamanha e contra os próprios princípios das
profissões de psicólogo e psiquiatra.

A Atuação da Psicologia na Justiça


Em 1945, surgiu a primeira obra relacionada à união da Psicologia com a Justiça, intitulada “O
Processo Psicológico e a Verdade Jurídica”, de autoria de Altavilla. Somente nove anos depois, a
Psicologia Forense foi inserida na Psicanálise, como prática forense, vindo com o objetivo de apontar
os fatores inconscientes que, consequentemente, levariam uma pessoa a delinquir. Seguindo o
diagnóstico de problemas mentais, partindo de várias linhas de raciocínio, a Psicologia alcançou um
contexto mais definido dentro do mundo jurídico, assim como a importância na atuação que o tema
merecia.

reflita
reflita
No contexto atual, a Psicologia exerce um papel de destaque quando se trata da
participação do profissional, não mais um papel de mero auxiliar, e também como
uma operadora do Direito propriamente dito.

Além da responsabilidade de avaliações psicológicas, o profissional tem como papel acompanhar


vítimas de abusos, de traumas e até mesmo conduzir um depoimento, colher provas etc.
A Importância da Psicologia para a Área Jurídica
Destaca-se que a interdisciplinaridade vem ganhando muita força no contexto atual, e não seria para
menos. É certo de que os estudos científicos têm o potencial de elevar o patamar social, ou seja,
ajudar no desenvolvimento social; e é óbvio que, se as mais variadas áreas do conhecimento
andarem de mãos dadas, chegaremos ao fim com maior maestria, não só em relação ao Direito, mas
a todas as áreas relacionadas com o desenvolvimento humano, o que dará uma resposta eficaz ao
cidadão.

saiba mais
Saiba mais
Cabe salientar a importância da interdisciplinaridade para o
Direito, de modo que, ao operador de direito, é
imprescindível ter conhecimentos básicos de Psicologia e
Psicanálise, a respeito do comportamento humanos. Nesse
sentido, para aprofundar seus conhecimentos sobre
conceitos básicos da Psicanálise, acesse o conteúdo
indicado a seguir:

ACESSAR
atividade
atividade
De acordo com Pinheiro (2016), na atualidade, o papel do psicólogo vem crescendo, alcançando maior
importância e reconhecimento no contexto jurídico brasileiro. Com base na afirmação, assinale a afirmativa
correta e completa.

PINHEIRO, C. Psicologia Jurídica . 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (Adaptado).

Com base na afirmação, assinale, a seguir, a afirmativa correta e completa:

a) O papel do psicólogo é de suma relevância, quando se trata de auxiliar em laudos e elaborar


pareceres técnicos, deixando a seara do Direito para o jurista.
b) O papel da Psicologia cresceu de tal maneira que, logo após o Direito, vem a Psicologia, em grau
de relevância.
c) O papel do psicólogo é o de decidir acerca dos fatos que envolvem doenças mentais, pois o juiz
não exerce competência para tanto.
d) A Psicologia alcançou papel de destaque, de forma que não tem um papel principal na atuação
dos juristas, pois não se resume mais a laudos e é fundamental para elevar a sociedade, não só o
âmbito jurídico.
e) A Psicologia alcançou papel de destaque, tendo em vista que seu objetivo consiste apenas em
fazer laudos, de modo que tal contribuição a elevou a ciência.

Feedback: A alternativa correta é a letra D , pois por abranger a


ideia de que a Psicologia não é mais acessória do Direito, pois as duas
áreas estão em patamares igualitários, como forma de privilegiar a
sociedade como um todo. Dessa forma, a alternativa A afirma que o
papel do psicólogo consiste em, apenas, elaborar laudos e pareceres
técnicos; porém, seu papel para o Direito vai além de tais afirmações.
A alternativa B afirma que as áreas de Psicologia e Direito exercem
um grau de relevância, o que a torna incorreta. A alternativa C está
incorreta, pois o papel do psicólogo não tem o condão de decisão, e
sim de auxílio ao juiz. Por fim, a alternativa E está incorreta, pois
afirma que a Psicologia se restringe à elaboração de laudos e
pareceres.
indicações
Material Complementar

LIVRO

Sigmund Freud: Obras Completas


Editora : Buenos Aires
Autor : Sigmund Freud
Ano : 1856-1939.
ISBN : 9788531210433
Comentário : Obra que não tem uma leitura tão fácil; porém, se bem
assimilada, conduzirá o leitor a compreender o funcionamento da nova
Psicologia, além de construir uma postura humana necessária para os
operadores da justiça.
LIVRO

Notas do Subsolo
Editora : LeM pocket
Autor : Dostoievski
Ano : 1821 a 1881
ISBN : 13:978.85.254.1717-6
Comentário : Leitura rápida, por ser uma versão de bolso, e rica,
levando o leitor a questionar princípios e vaidades do mundo ocidental.

FILME

Meu Nome não é Johnny


Ano : 2008
Comentário : Além de ser um filme brasileiro, valorizando o cenário
nacional, este filme expõe a realidade dos manicômios judiciais no
Brasil. Com ele, podemos ter várias reflexões jurídicas e pessoais.

TRAILER
FILME

Nise - O Coração da Loucura


Ano : 2016
Comentário : O filme retrata, de maneira direta, o tratamento
desumano de quem sofre distúrbios mentais nos manicômios, relatando
a luta de uma profissional que supera preconceito e a luta contra o
machismo, levando o humanismo como forma de reabilitação de
doentes, além de ser uma magnífica obra do cinema nacional que
merece ser valorizada.

TRAILER
conclusão
Conclusão
Caro(a) aluno(a), nesta unidade traçamos um paralelo de toda a evolução da Psicologia, até
chegarmos ao ponto no qual ela foi reconhecida como ciência; dessa forma, demonstramos as mais
variadas abordagens que a matéria tem e entendemos como é vasto o estudo a respeito do tema.
Seguindo esse viés, percebemos a influência da Medicina Legal, da Filosofia e de outras matérias, na
contribuição para que fosse construída a matéria Psicologia Jurídica. Percebemos a importância de
termos uma visão humanizada quando se trata de tais matérias, e isso se reflete nos livros e filmes
indicados, os quais mostram o tratamento desumano que os considerados “loucos” recebem dos
representantes estatais.

Dessa forma, você pôde compreender como criar uma visão humana durante a graduação se faz
essencial para o crescimento pessoal de cada um, para que possamos alcançar um desenvolvimento
social e científico.

No mais, vimos sobre a valorização da interdisciplinaridade como forma de efetivação das políticas
públicas, levando a uma resposta adequada às demandas sociais, e sobre uma proteção estatal no
que diz respeito às pessoas doentes. Assim, mostramos o quanto é importante que os mais variados
ramos estejam juntos ao Direito, para que este possa atingir sua finalidade da melhor maneira
possível.

Portanto, nesta unidade você estudou os conceitos básicos acerca da Psicologia Jurídica. Todavia,
tais conhecimentos ainda podem ser aprofundados, de modo a entender como tal profissional agirá
na prática e a importância do seu papel para a sociedade como um todo. Então, não deixe de
acompanhar a sequência dos estudos das próximas unidades com muita empolgação.

Até breve!

referências
Referências Bibliográficas
BRASIL. Resolução nº 75, de 12 de maio de 2009. Dispõe sobre os concursos públicos para ingresso
na carreira da magistratura em todos os ramos do Poder Judiciário nacional. Conselho Nacional de
Justiça . Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=2763 >. Acesso em: 12
abr. 2019.

PINHEIRO, C. Psicologia Jurídica . 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.


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