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DEFICIÊNCIA AUDITIVA E EQUILÍBRIO: A INTERVENÇÃO POR MEIO DA

DANÇA

ROCHA V.M1, MONTEZUMA L.A.M.1, BUSTO M.R2, FUJISAWA S.D3.

1
Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR.

2
Departamento de Ciência do Esporte da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR.

3
Departamento de Fisioterapia da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR.

Contato: Mariana Verri Rocha (mverrirocha@hotmail.com)

Rua João Wyclif, 447, apto1403, Gleba Palhano, Londrina-PR.

Telefone: (43) 3337-8952

RESUMO: Objetivo: Comparar o equilíbrio e comportamento de adolescentes surdas, antes


e depois da intervenção por meio da dança. Metodologia: Trata-se de um estudo experimental
intra-sujeito, delineamento AB. A amostra foi composta por seis estudantes com diagnóstico
de surdez congênita (4) e adquirida (2), com idade entre 13 e 18 anos do gênero feminino,
com comprometimento bilateral. Foi aplicada a Escala de Equilíbrio de Berg (BBS) antes e
após a intervenção por meio da dança e as aulas descritas em diário de campo. A atividade foi
realizada duas vezes por semana com duração de uma hora, totalizando 12 intervenções.
Resultados: Houve melhora na pontuação do BBS de três participantes (50%), o restante da
amostra inicialmente já tinha obtido a pontuação máxima do teste e, mantiveram sua
pontuação. Observou-se ainda maior interação entre os sujeitos, além de melhora no
comportamento, padrão postural e qualidade do movimento. Conclusão: Com base nesses
resultados, apesar da amostra reduzida, verificou-se melhora na manutenção do equilíbrio, na
postura, no comportamento e, principalmente, na interação entre as estudantes e com as
professoras, sugerindo a dança como potencial para melhora nessas variáveis após
treinamento.

Palavras-chave: Equilíbrio postural, surdez, perda auditiva, dança, terapia através da dança.
1 INTRODUÇÃO

A surdez é considerada audição inoperante para as finalidades normais da vida e pode


ser classificada em dois tipos: surdez congênita e adquirida (HUNGRIA, 1991). Alterações
auditivas podem levar a déficits no equilíbrio, por conseqüência da falha no aparelho
vestibular (SANVITO, 1972). Pode-se então estabelecer uma incapacidade no controle
postural, na locomoção e na marcha (AZEVEDO, 2009).
O equilíbrio é a manutenção do centro de gravidade dentro da área de superfície de
apoio ou a capacidade de um corpo manter-se estático frente à perturbação específica; é
mantido pela integridade do aparelho vestibular, órgãos do sentido (visão), sistema músculo
esquelético (tendões, articulações, músculos) e centros nervosos (KIMITAKA, 2008).
O aparelho vestibular não é o único a proporcionar equilíbrio, compreende-se que o
indivíduo pode apresentar um sistema chamado mecanismo de compensação em que os
distúrbios relacionados à surdez influenciando o equilíbrio, podem ser compensados pelos
outros sistemas do corpo, quando estes são bem explorados (HUNGRIA, 1991). Isso pode ser
conseguido por meio de programas de exercícios que envolvam equilíbrio corporal, em que os
surdos desenvolvam estratégias posturais (SANVITO, 1972).
A atividade física pode ajudar na manutenção do equilíbrio, especificamente, a dança
em que se compõe de uma coreografia, exercícios de flexibilidade, equilíbrio e habilidade
cognitiva (PETO, 2000; ALPERT, 2009). Alguns estudos também referem o poder da dança
no desenvolvimento comportamental e emocional do indivíduo, lapidando sua personalidade
em aspectos como: compromisso, comunicação, respeito, cooperação, livre expressão, entre
outros, já que ao ser vivenciada, é vista como meio de envolvimento e compreensão do
mundo interior e exterior do indivíduo, tornando-o mais espontâneo, capaz de expressar seus
desejos e vivenciar suas experiências de modo mais natural (SCARPATO, 2001). Além disso,
a dança ao trabalhar os aspectos físicos do corpo (força, coordenação, ritmo, resistência)
proporciona desenvolvimento corporal amplo, relaxamento e alivio de tensões (CAVASIN,
2003).
O presente estudo visa comparar o equilíbrio e comportamento (atenção, participação,
compreensão e interação) de adolescentes surdas antes e depois da intervenção por meio da
dança.
3 METODOLOGIA

Estudo experimental intra-sujeito, delineamento AB, devido à avaliação dos sujeitos


antes e depois da intervenção, por meio da observação sistemática e individual. Na primeira
fase “A” são coletados os primeiros dados do delineamento experimental, a intervenção ou
fase “B” é iniciada, é nesta fase que os dados da intervenção são coletados fornecendo
informações sobre o efeito desta nos sujeitos (MARQUEZINE, 2003).

O presente estudo foi realizado no Instituto Londrinense de Educação de Surdos


(ILES). A amostra foi composta por seis adolescentes voluntárias que apresentavam afinidade
pela dança. Os critérios de inclusão foram adolescentes com surdez congênita e adquirida do
tipo (unilateral ou bilateral), com idade entre treze e dezoito anos, de ambos os gêneros. Os
critérios de exclusão foram adolescentes abaixo de treze anos e acima de dezoito anos,
portadores de doenças associadas e alterações cognitivas.

A intervenção foi constituída de três etapas - Pré-teste: avaliação do teste de equilíbrio


por meio da escala de Berg Balance Scale (BBS); Intervenção (aulas de dança): composta por
exercícios de aquecimento que preparam o corpo para a atividade física, alongamentos dos
principais grupos musculares, fortalecimento muscular, ensinamento de passos de dança e
coreografia com as seqüências de passos aprendidos durante as aulas, seguindo os ritmos das
músicas escolhidas; Pós-teste: reavaliação do equilíbrio por meio da escala de Berg Balance
Scale (BBS).

O Berg Balance Scale (BBS) ou escala de equilíbrio de Berg foi proposto por Berg et
al. (1989), para a avaliação de possíveis alterações de equilíbrio. O BBS foi traduzido e
adaptado transculturalmente no Brasil por Miyamoto et al. (2004). O teste tem duração de
aproximadamente 20 minutos, apresenta 14 itens contendo tarefas normais do cotidiano, com
score total máximo de 56 e, cada item possui uma escala ordinal de cinco alternativas
variando de 0 (não pode executar) a 4 (execução normal), pontuado de acordo com o grau de
dificuldade. As contagens totais podem variar de 0 (equilíbrio severamente prejudicado) a 56
(excelente equilíbrio) (FIGUEIREDO, 2007).

Após cada dia de intervenção foi realizado um diário de campo, que incluía as
mudanças, avanços e comportamentos observados pelos pesquisadores das crianças
envolvidas no trabalho. O diário permite construir detalhes que no seu somatório irão reunir
os diferentes momentos da pesquisa (MINAYO, 1994).

O estudo foi realizado durante o período de quatro meses do ano de 2010, duas aulas
semanais com uma hora de duração.
4 RESULTADOS
Na pesquisa com o teste BBS a pontuação em score aumentou para três participantes
(50%) que não apresentaram pontuação máxima na primeira aplicação (53/56; 54/56; 53/56).
Já os demais sujeitos permaneceram sem alteração para o restante da amostra, pois já
apresentavam pontuação máxima (56).

Com relação aos comportamentos observados pôde-se verificar melhora na atenção,


interação entre as alunas e professoras, compreensão e participação durante as aulas, além da
melhora na qualidade e habilidade dos movimentos e controle postural. Em todos os sujeitos
foram observados a melhora no controle da postura estática em itens do BBS que solicitavam
apoio unipodal, diminuição da base de apoio e sensibilização da postura estática. Os
resultados descritivos demonstraram a diminuição de oscilação e menor elicitação das
estratégias de compensação para a manutenção do equilíbrio estático durante a realização dos
itens do BBS, visto que os sujeitos permaneciam mais estáveis.

5 DISCUSSÃO

Os resultados observados neste trabalho indicaram melhora, porém não significativa


nos scores do BBS, isso pode ter ocorrido pelo fato das participantes não apresentarem grau
acentuado de desequilíbrio e já pontuarem scores altos. Outro fato é que demonstra que
indivíduos com surdez na adolescência já apresentam estabilidade na realização das tarefas do
cotidiano, uma vez que o BBS avalia o equilíbrio funcional.

Vale ressaltar que, a qualidade dos movimentos durante a aplicação do teste, a


estabilidade e a postura apresentaram melhora, o que não é quantificado no BBS, confirmando
assim estudos anteriores que destacam que bailarinos apresentam um controle postural e
estabilidade maior quando comparados a indivíduos normais.

6 CONCLUSÃO

Os resultados revelaram que apesar da dança não trazer resultados significativos no


teste BBS, esta pode atribuir melhora na manutenção do equilíbrio, na postura, no
comportamento entre as participantes e, principalmente, na interação entre estas e entre as
professoras sugerindo a dança como potencial para melhora nessas variáveis após
treinamento. A realização de outros estudos é recomendada, com amostras maiores e mais
abrangentes e tempo de intervenção prolongado.

6 REFERÊNCIAS
1. ALPERT, T. Patricia; MILLER, K. Sally; WALLMANN, Harvey; HAVEY, Richard;
CHEVALIA, Theresa; KODANDAPARI, Keshavan. The effect of modified jazz dance
on balance, cognition, and mood in older adults. Journal of the American Academy of
Nurse Practitioners. Vol.21, 108–115, 2009.

2. AZEVEDO, G. Marcello; SAMELLI, G. Alessandra. Estudo comparativo do equilíbrio de


crianças surdas e ouvintes. Rev. CEFAC, v.11, Supl1, 85-91, 2009.

3. CAVASIN, Cátia Regina. A dança na aprendizagem. Revista da pós. n.3, p.1-8 ago./dez.
2003 Disponível em: <http://www.icpg.com.br/artigos/rev03-01.pdf>.

4. FIGUEIREDO, B.O.M. Karyna; LIMA, C. Kênio; GUERRA, O. Ricardo. Instrumentos


de avaliação do equilíbrio corporal em idosos. Revista Brasileira de Cineantropometria &
Desempenho Humano. Vol.9(4), 408-413, 2007.

5. HUNGRIA, Helio. Otorrinolaringologia. 6 Ed. Guanabara koogan S.A, Rio de janeiro,


1991.

6. KIMITAKA, Kaga; YUKIKO, Shinjo; YULIAN, Jin; HIDEKI, Takegoshi. Vestibular


failure in children with congenital deafness. International Journal of Audiology, Vol.47, n.
9. Japão 2008.

7. MARQUEZINE, C. Maria; ALMEIDA, A. Maria; OMOTE, Sadao. Colóquios sobre


pesquisa em Educação Especial. Ed. Eduel, Londrina, 2003.

8. MINAYO, S.C. Maria; DESLANDES, F. Suely; NETO, C. Otávio; GOMES, Romeu.


Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Ed. Vozes. Ex.2, Petrópoles, RJ, 1994.

9. MIYAMOTO, S.T; LOMBARDI, I. Junior; BERG, K.O; RAMOS, L.R; NATOUR, J.


Brazilian version of the Berg Balance Scale. Brazilian Journal of Medical and Biological
Research, vol. 37, 1411-1421, São Paulo 2004.

10. PETO, Ana Carla. Terapia através da dança com laringectomizados: relato de
experiência. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 8, n. 6, 35-39, Riberão Preto,
2000.

11. SANVITO, L. Wilson. Propedêutica Neurológica Básica. Ed. Indústria gráfica Saraiva,
São Paulo, 1972.

12. SCARPATO, T. Marta. Dança educativa: Um fato em escolas de São Paulo. Cadernos
Cedes, ano XXI, n. 53, abril 2001.

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