O filme japonês “A voz do silêncio” de 2016 trata sobre a história de um
garoto chamado Shoya Ishida na época de sua adolescência. Ishida conhece, ainda no fundamental, uma garota chamada Shouko Nishimiya, a qual é surda. Tal garota sofre bullying por Ishida e pelos seus outros colegas de classe pelo fato de ser surda e ter uma comunicação difícil na visão de outros alunos, embora no início alguns tenham tentado se socializar com ela por meio de um caderno. Nesta análise, terei uma visão mais específica voltada para a aluna surda em questão e suas vivências ao longo do filme.
De início, é possível perceber que o interesse dos alunos aumentou ao
saber que a aluna nova era surda. Muitos tentaram uma comunicação com ela pelo seu caderno para saber mais sobre sua vida. Alguns, por sua vez, evitaram falar com ela talvez por medo de não saberem se comunicar sem ser pelo caderno. Tais atitudes podem ser percebidas na vida real, onde os surdos são tratados, muitas vezes, como estranhos que não podemos nos comunicar, de tal forma que apenas a fala seja possível na comunicação, o que não é verdade. Também pode-se notar o desinteresse de alguns alunos em aprender a Língua dos Sinais para poder se comunicar com Shouko, preferindo apenas seu caderno para isto.
É interessante mencionar, também, sobre o fato da personagem Shouko
ter se sentido mal em certa parte do filme por não ter sido entendida em sua tentativa de oralização. No livro “LIBRAS?: Que língua é essa?” (GESSER, 1971) a autora ressalta que a obrigação de ser oralizado traz uma ideia de correção e opressão aos surdos, fazendo com que eles possivelmente neguem sua língua. Nesse caso em questão, Shouko, ao sofrer bullying, tenta oralizar na esperança de ser entendida sem precisar usar sua língua de sinais, o que não ocorre bem e ela se sente mal por isso. Outro fato interessante a ser mencionado é a questão de ignorar os surdos nas conversas. Por diversas vezes é possível perceber como a personagem surda é ignorada das conversas e, quando pergunta o que estão falando, dizem que não é nada de importante. Isso ressalta a falta de importância que as pessoas têm com a participação dos surdos nas comunicações do dia a dia e favorece o isolamento deles ao se sentirem abandonados e sem parte da socialização.
Em suma, o filme é muito bom, retratando bem a realidade que os
surdos sofrem ainda hoje. Mesmo sendo uma animação fictícia, acredito que foi possível mostrar diferentes situações que os surdos passam em suas vidas, desde sua comunicação até seus sentimentos. A história do filme também foi muito emocionante ao mostrar assuntos fortes como o suicídio e o bullying. Portanto, concluo que o filme soube mostrar tais questões de maneira excelente, sendo possível usá-lo como exemplo da vida de uma pessoa surda e suas possíveis vivências.
REFERÊNCIAS
A voz do silêncio. Direção: Naoko Yamada. Produção de Kyoto Animation, Pony
Canyon, Kodansha e Shochiku. Japão: Shochinku, 2016. 1 filme. (129 min). Título original: Koe no Katachi.
GESSER, Audrei. LIBRAS?: Que língua é essa?: crenças e preconceitos
em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.