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CURSO: LETRAS - PORTUGUÊS ESPANHOL E SUAS LITERATURAS

MATÉRIA: LCB - LITERATURA E CULTURA BRASILEIRA


PROFESSOR: MARCELO BUENO DE PAULA

COMPARAÇÃO ENTRE AS OBRAS “AUTO DA COMPADECIDA” E “AUTO DA


BARCA DO INFERNO”

KAREN MICAELY SILVA DEBOLETTO

CAMPO GRANDE - MS
DEZEMBRO, 2023
INTRODUÇÃO

As obras “Auto da Compadecida” feita por Ariano Suassuna e “Auto da barca


do Inferno” feita por Gil Vicente, duas criações aqui apresentadas e analisadas, são
exibidas como um ato teatral que, neste caso, os personagens e o contexto em que
estão apresentadas são alegóricas, ou seja, é a expressão figurada de um
pensamento, ou sentimento, e simbolizam as virtudes, os pecados, anjos e
demônios, que é o que essas duas obras são ricas, o uso do religioso e a
moralidade.
Ambas, tendo uma diferença de época gritante de pelo menos quase 440
anos, fizeram muito sucesso na literatura brasileira e portuguesa, sendo, portanto,
de épocas, contexto histórico, estilo literário e abordagem temática diferentes. Cada
uma delas, tendo de certa forma, sido apresentada a explorar questões sociais e
morais, contribui-se assim, para a riqueza da literatura portuguesa.
Sendo elas feitas por autores diferentes, aborda-se ainda, entre cada uma
delas, ser realizada uma análise comparativa entre as semelhanças e diferenças
com esses dois livros.

DESENVOLVIMENTO

Logo de início, nota-se a presença do catolicismo nas duas obras. O uso de


anjos e demônios, paraíso e inferno. Porém, na obra de Gil Vicente, o anjo e o
demônio não utilizam de sua “influência” para determinar para onde os personagens
têm de a ir, ou o que acham melhor para eles, pagar com os seus pecados, com
suas escolhas de vida, e o que acham a respeito de suas atitudes na terra enquanto
viviam. Portanto, cada personagem apresentado tem suas características e o seu
fardo a ser carregado, nesse caso, o anjo e o demônio se baseiam nessas
particularidades e individualidades e, por isso, concluem-se e baseiam-se em qual é
o destino de cada pecador, de acordo com o que cada um é apresentado na obra,
por exemplo o personagem Sapateiro chega ao lago cheio de tralhas penduradas
em seu pescoço, deixando claro que cada coisa que ele carrega representa algo:
seu pecado, a imoralidade, roubo e enganação. Na qual, todos sabem indiretamente
ou diretamente qual seria o destino final de sua alma.
Nesse caso, os próprios personagens do auto sabiam para onde ir, pois não
havia nada que os faria agora retomar ao seu antigo eu e fazer parecer uma “boa ou
melhor pessoa”, e com o direito de irem ao paraíso por merecerem tal feito. Por
isso, o contraste bem claro entre o bem e o mal é destacado, não para julgar os
pecadores de suas escolhas, mas sim para demonstrar, explorar a moralidade, as
escolhas humanas, o comportamento que as pessoas tinham e, obviamente, a
consequência de seus atos. Deixando claro que a sátira envolvida e o humor
deixam tudo mais divertido, tentando, de certa forma, suavizar a abordagem crítica
social séria e objetiva aos vícios, as hipocrisias e também as injustiças da sociedade
da época.
Diferentemente, na obra de Ariano Suassuna o “Auto da Compadecida” é
também uma obra na qual há a presença do catolicismo, porém, ela é abordada de
maneira diferente, neste caso, há a personagem de Nossa Senhora a qual tem
compaixão, misericórdia e oferece o seu perdão, independente de qual seja o
pecado, aos personagens que a clamam que os salvem da mão do Encourado,
assim nomeado na obra.
João Grilo, um dos personagens da obra de Ariano Suassuna, roga e pede
para que a Virgem Maria perdõe-o de seus pecados, mostrando-a que só os fazia
para poder sobreviver, podendo assim, manter um contato direto com a divindade,
não só com ela mas também com Jesus Cristo, o Messias, e também com o
Encourado, fazendo essa utilização do celestial, do terreno e do infernal em um
mesmo ambiente, coisa que na obra de Gil Vicente não se era possível, apesar de
ter um ambiente como uma espécie de limbo ou além, os personagens não tinham a
possibilidade de se explicar ou de se defender ao ponto de mudarem o seu destino
depois da morte, em contradição dos personagens de Ariano.
Ainda na obra “Auto da Compadecida”, também é abordada a ideia de explorar
a imoralidade, a justiça, a hipocrisia, a religião, as relações sociais e suas
corrupções. Portanto, é transmitida de maneira mais leve, irônica e humorística, a
fim de suavizar a crítica que também estava embasada na obra. Contando que de
fato, a obra de Ariano se baseia na realidade e condição em que o povo nordestino
vivia, suas complicações diárias e precárias e assim o motivo de porquê depois da
morte eles teriam alguma chance de salvação.
Por fim, levando em consideração à época em que cada uma das obras foram
escritas e publicadas, a obra de Gil Vicente “Auto da barca do Inferno”, foi descrita
em um momento, na qual, o catolicismo era dominante neste século, nesse caso, o
que era apresentado nessa obra era parte de uma conscientização à população do
povo português, para de algum modo tomarem cuidado e vigiarem suas atitudes,
seus comportamentos, o que faziam às escondidas, para que depois o
arrependimento não chegasse tarde demais, depois da morte, e consequentemente
não se tinha mais nada a ser feito, como dizia o final da obra, morrer para Jesus
Cristo era o melhor que se poderia acontecer, melhor do que morrer em pecado.
De outro modo, o “Auto da Compadecida”, achava-se em uma época, na qual
estava passando por várias mudanças sociais, políticas, econômicas e uma
variação na sua cultura teatral, o cinema novo, onde abordava temas da sociedade
da vida real, como ao que situa-se um olhar crítico sobre as questões sociais,
políticas e morais. Uma oportunidade e uma brecha para que Ariano Suassuna
pudesse abordar temas tão polêmicos e sensíveis, de uma maneira sutil e
humorística.

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