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PRÉ-CÁLCULO

Conjuntos numéricos
Fabio Santiago

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Definir conjuntos numéricos e suas operações.


> Identificar as formas de representação de subconjuntos reais.
> Reconhecer operações com números reais.

Introdução
Neste capítulo, você aprenderá sobre a teoria dos conjuntos, bem como sobre
as operações que estão definidas entre eles. O estudo dos conjuntos numéricos
inicia-se pelo conjunto dos números naturais, prosseguindo até o conjunto
dos números reais, o qual é de suma importância para a matemática e para
inúmeras outras ciências por incorporar todas as operações fundamentais da
matemática.
Em um primeiro momento, são apresentados os diferentes conjuntos nu-
méricos, bem como as operações binárias que estão definidas em cada um
deles. Em um segundo momento, você identificará as diferentes formas de
representação de um subconjunto dos números reais: intervalar, geometria,
intervalos finitos e infinitos, que compreendem uma poderosa ferramenta
utilizada para solucionar diferentes problemas da matemática. Por fim,
as operações com o conjunto dos números reais serão estudadas com o auxílio
de ferramentas matemáticas que serão úteis ao longo de toda a sua trajetória,
seja em uma carreira totalmente ligada à área de exatas ou não.

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2 Conjuntos numéricos

Conjuntos numéricos e suas operações


De modo intuitivo, o conceito de conjunto remete à ideia de coleção, agrupa-
mento, classe de objetos ou entes que compartilham de uma mesma carac-
terística. Nesse sentido, temos o conjunto das vogais, dos meses de um ano,
das cartas de um baralho de um mesmo naipe, entre tantas outras coleções ou
agrupamentos. No entanto, apesar dos inúmeros exemplos, matematicamente,
pouco nos é informado sobre a natureza de um conjunto e das operações que
atuam sobre ele. Nesse caso, faz-se necessário enunciar de modo formal um
conjunto e seus elementos.

Como observam Iezzi e Murakami (2013), na teoria dos conjuntos,


são consideradas três noções primitivas, ou seja, são aceitas sem
definição, a saber: conjunto, elemento e pertinência entre elemento e conjunto.
É comum indicar um conjunto por uma letra maiúscula, como A, B, C; por sua vez,
um elemento pertencente a determinado conjunto também pode ser indicado
por uma letra minúscula, ou seja, a, b, c.

Considere A um conjunto; além disso, considere o elemento a; caso esse


elemento pertença ao conjunto A, denota-se por x ∈ A, leia-se x é elemento de A,
ou x pertence ao conjunto A. Do contrário, caso x não seja elemento de A, denota-
-se por x ∉ A, leia-se: x não pertence ao conjunto A, ou x não é elemento de A.
A forma mais simples de representar um conjunto, como demonstram Iezzi
e Murakami (2019), é por meio dos pontos interiores a uma linha fechada e
não entrelaçada, como é mostrado na Figura 1.

Figura 1. Conjunto A, seus elementos e os elementos não pertencentes a esse conjunto.

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A partir da imagem anterior e dos conceitos já estudados, é possível afir-


mar que o conjunto A contém os elementos d, e, f, g, h, ou seja, d ∈ A, e ∈ A,
f ∈ A, g ∈ A, h ∈ A, ou ainda de outra forma, A = {d, e, f, g, h}. Por outro lado,
os elementos k, l, m não pertencem ao conjunto A; dessa forma, são repre-
sentados por l ∉ A, m ∉ A, k ∉ A.
Agora que vimos as três primitivas básicas sobre os conjuntos, é possível
avançar com os estudos na direção das operações entre conjuntos. Cabe
observar que, até agora, trabalhamos apenas com elementos e conjunto.
Essencialmente, são três as operações entre conjuntos, a saber: união inter-
cessão, diferença e complementar.
A primeira operação entre conjuntos que será apresentada é a união entre
conjuntos, também conhecida como reunião entre os conjuntos. Nesse sentido,
considere o conjunto A = {a, b, c, d} e o conjunto B = {e, f, g, h}.

A união do conjunto A com o conjunto B consiste no conjunto formado


pelos elementos pertencentes ao conjunto A ou ao conjunto B, sendo
matematicamente denotado por:

A ∪ B = {x|x ∈ A ou x ∈ B}

Nos casos em que A = {a, b, c, d} e B = {e, f, g, h}, a união de A com B, ou seja,


A ∪ B é dada por: A ∪ B = {a, b, c, d, e, f, g, h}.

A partir da formalização do conceito de união entre conjuntos, considere


os exemplos a seguir.

Exemplo 1:

Seja A = {a, b, c, d} e B = {a, b, c}, então, A ∪ B = {a, b, c, d} ∪ {a, b, c} = {a, b, c, d}

Exemplo 2:

Seja A = {a, b} e B = {c, d, e, f, g}, então, A ∪ B = {a, b} ∪ {c, d, e, f, g} = {a, b, c, d,


e, f, g}

Exemplo 3:

Seja A = ∅ o conjunto vazio e B = {c, d, e, f, g}, então, A ∪ B = ∅} ∪ {c, d, e, f, g}


= {c, d, e, f, g}

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Outra forma de representar a operação de união entre conjuntos A e B é por


meio da área hachurada do diagrama de Venn, como é mostrado pela Figura 2.

Figura 2. União dos conjuntos A = {d, e, f, g, h} e B = {d, l, m, h, k}.

A operação de união entre conjuntos satisfaz um conjunto de propriedades,


as quais serão apresentadas a seguir, considerando-se os conjuntos A, B e C.

1. A ∪ A = A (idempotente)
2. A ∪ ∅ = A (elemento neutro)
3. A ∪ B = B ∪ A (comutativa)
4. (A ∪ B) ∪ C = A ∪ (B ∪ C) (associativa)

Estudados os conceitos fundamentais sobre a operação de união entre


conjuntos, prosseguimos com o estudo da operação de interseção. Assim,
considere os conjuntos A = {a, b, c, d, e} e B = {a, b, k, l, m}.
A interseção do conjunto A com o conjunto B consiste no conjunto formado
pelos elementos pertencentes, de modo simultâneo, ao conjunto A e ao
conjunto B, sendo matematicamente denotado por:

A ∩ B = {x|x ∈ A e x ∈ B}

No caso em que A = {a, b, c, d, e} e B = {a, b, k, l, m}, a interseção de A com B,


ou seja, A ∩ B, é dada por: A ∩ B = {a, b}.

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Como observam Iezzi e Murakami (2013), se o elemento x pertence à


interseção dos conjuntos A e B, ou seja, x ∈ A ∩ B, isso significa que
x pertence a A e também x pertence a B. O conectivo colocado entre as duas
condições significa que elas devem ser satisfeitas ao mesmo tempo.

A fim de consolidar os conceitos vistos até esse ponto sobre a interseção


de conjuntos, considere os seguintes exemplos.

Exemplo 1:

Seja A = {a, b} e B = {b, c, d}, então, A ∩ B = {a, b} ∪ {b, c, d} = {b}

Exemplo 2:

Seja A = {a, b} e B = {a, b, c, d}, então, A ∩ B = {a, b} ∪ {a, b, c, d} = {a, b}

Exemplo 3:

Seja A = {a, b} e B = {c, d}, então, A ∩ B = {a, b} ∪ {c, d} = ∅


A operação de interseção entre os conjuntos A e B também pode ser
representada por meio da área hachurada do diagrama de Venn, como é
mostrado pela Figura 3.

Figura 3. Interseção dos conjuntos A = {d, e, f, g, h} e B = {d, h, l, m, k}.

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Considerando os conjuntos A, B e C, e seja U o conjunto universo, que


consiste naquele que contém todos os elementos de um dado assunto, valem
as seguintes propriedades, de acordo com Iezzi e Murakami (2013):

1. A ∩ A = A (idempotente)
2. A ∩ U = A (elemento neutro)
3. A ∩ B = B ∩ A (comutativa)
4. (A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C) (associativa)

Os autores citados observam ainda que as operações de união e interseção


entre conjuntos se inter-relacionam e satisfazem as propriedades a seguir.
Sejam A, B e C conjuntos, considere as operações de união (∪) e interseção
(∩). Então, são válidas as seguintes operações.

1. A ∪ (A ∩ B) = A
2. A ∩ (A ∪ B) = A
3. A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C)
4. A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C)

Além das operações entre conjuntos vistas até aqui, tem-se ainda a ope-
ração de diferença entre os conjuntos e de complementar, as quais serão
vistas nessa ordem.
A fim de compreender a diferença entre conjuntos, considere, inicialmente,
o conjunto A e o conjunto B quaisquer. A diferença entre o conjunto A e o
conjunto B consiste em todos os elementos do conjunto A que não pertencem
a B, sendo matematicamente denotada por:

A – B = {x|x ∈ A ou x ∉ B}

No caso em que A = {a, b, c, d} e B = {a, b, f, e}, a diferença de A e B, ou seja,


A – B, é dada por: A – B = {c, d}.
Os exemplos a seguir auxiliarão você a consolidar esse conceito.

Exemplo 1:

Seja A = {a, b} e B = {b, c, d}, então, A – B = {a, b} – {b, c, d} = {a}

Exemplo 2:

Seja A = {a, b, c} e B = {b, d}, então, A – B = {a, b, c} – {b, d} = {a, c}

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Exemplo 3:

Seja A = {a, b, c} e B = {a, b, c}, então, A – B = {a, b, c} – {a, b, c} = ∅


A Figura 4 ilustra o conceito de diferença entre o conjunto A e o conjunto B.

Figura 4. A diferença entre os conjuntos A = {d, e, f, g, h} e B = {d, h, l, m, k}.

Por fim, a última operação entre conjuntos estudada neste tópico será a
operação de complementaridade. Considere dois conjuntos A e B. O comple-
mentar do conjunto B, contido no conjunto A, consiste no conjunto formado
pelos elementos pertencentes A e que não pertencem a B. Nesse caso, é
importante observar que o conjunto B está contido em A. Matematicamente,
essa operação é denotada por:

C AB = A – B

No caso em que A = {a, b, c, d, e} e B = {a, b, c}, o complementar de B em


relação a A é dado por C AB = A – B = {d, e}.
A seguir, a fim de consolidar esses conceitos, seguem alguns exemplos.

Exemplo 1:

Seja A = {a, b, c, d, e, f} e B = {a, b}, então, C AB = A – B = {c, d, e, f}

Exemplo 2:

Seja A = {a, b, c, d, e, f} e B = {c}, então, C AB = A – B = {a, b, d, e, f}


A Figura 5 demonstra uma operação de complementariedade do conjunto
A ao conjunto B.

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A
B
a c

d
e

Figura 5. Complementar do conjunto B em relação ao conjunto A.

Identificadas cada uma das operações, serão apresentados os conjuntos


numéricos e a reação entre eles por meio do diagrama de Venn (Figura 6).
Em outro momento, serão definidas as operações entre eles.

Figura 6. Conjuntos numéricos ℕ (naturais), ℤ (inteiros), ℚ (racionais), 𝕀 (irracionais) e ℝ (reais).

Para finalizar, considere o exemplo a seguir que versa sobre interseção


de conjuntos.

Exemplo 1:

Considere os conjuntos A, B, C, além disso, assuma as seguintes proposições:

„ os conjuntos A, B e C têm simultaneamente em comum apenas 5


elementos;

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„ os números de elementos comuns apenas a A e B são 2;


„ os números de elementos comuns apenas a A e C são 3;
„ os números de elementos comuns apenas a B e C são 2;
„ o número total de elementos de B é 11;
„ o número total de elementos de A é 12;
„ o número total de elementos de C é 15.

Represente cada um dos conjuntos por meio do diagrama de Venn.


Inicialmente, considerando a primeira afirmação, tem-se:

Considerando, agora, as afirmações:

„ os números de elementos comuns apenas a A e B são 2;


„ os números de elementos comuns apenas a A e C são 3;
„ os números de elementos comuns apenas a B e C são 3.

Tem-se:

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Por fim, considerando as três últimas afirmações, tem-se:

„ o número total de elementos de B é 11;


„ o número total de elementos de A é 12;
„ o número total de elementos de C é 15.

Representação de subconjunto dos números reais ℝ


O conjunto dos números reais, matematicamente denotado por ℝ, é o mais
importante conjunto numérico da matemática, pois munido das operações
binárias de soma (+) e produto (*), obtém-se o corpo dos números reais.
A fim de compreender quais são os elementos que compõem esse conjunto,
faz-se necessário identificar outros dois conjuntos, a saber: o conjunto dos
números racionais ℚ e o conjunto dos números irracionais 𝕀, os quais serão
explanados a seguir.
O conjunto dos números racionais ℚ é definido em função do conjunto
dos números inteiros, assim, dado m ∈ ℤ e n ∈ ℤ*, onde ℤ* denota os intei-
ros não nulos, então, um elemento dos conjuntos dos racionais é dado por
q = m/n, formalmente, tem-se: ℚ = {q|q = m/n com m ∈ ℤ e n ∈ ℤ*}.
Como observa Galvão (2017), o conceito de fração para os gregos não era
exatamente um número, mas uma relação entre segmentos. Assim, dado um
segmento unitário u, a medida de outro segmento AB consistia no número de
vezes, dado em função do conjunto dos números naturais ℕ, que o segmento
u cabe em AB.
Não sendo possível encontrar um valor inteiro para o número de vezes
que u cabe em AB, obtinha-se uma fração m/n que é a razão entre os com-
primentos de AB e u. No entanto, essa linha de raciocínio não era extensível

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ao tentar medir o comprimento da diagonal de um quadrado, pois, como é


mostrado na Figura 7, o valor da diagonal ficava em função de ℓ .

Figura 7. Diagonal de um quadrado determinada pelo teorema de Pitágoras.

Ao assumir que é racional, é possível encontrar dois números inteiros


e positivos p e q tais que = , sendo a fração uma fração irredutível, ou
seja p e q primos entre si. Elevando ambos os lados da igualdade = ao
quadrado e com algumas manipulações algébricas, tem-se:

Assim, a partir da última igualdade, conclui-se que p2, portanto, p também


é par, nesse sentido, é possível escrever p como p = 2r com p ∈ ℕ, assim,
tem-se que:

p2 = 2q2 ⇒ (2r)2 = 2q2 ⇔ 4r2 = 2q2 ⇒ q2 = 2r2

A partir da última expressão, conclui-se que q também é par, nesse sentido,


sendo p e q, implica que a fração não é irredutível. Portanto, o absurdo a
que se chega deve-se ao fato de deduzir-se que fosse racional, o que nos
leva a desconsiderar e concluir que é racional.

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Portanto, todos os números que não podem ser representados na forma


de m/n com m ∈ ℤ e n ∈ ℤ* são denominados irracionais, sendo que esse
conjunto é matematicamente denotado por 𝕀. Assim, ao realizarmos a união
do conjunto dos números 𝕀 com os números racionais ℚ, é obtido o conjunto
dos números reais ℝ.
Apesar de parecerem simplistas os conceitos de construção dos números
reais, eles envolvem importantes resultados de análise numérica. A seguir,
tem-se uma pequena amostra da profundidade teórica desses resultados.

Como apresenta Lima (1977, p. 73–74), “[...] o conjunto ℚ dos números


racionais é denso em ℝ. Também o conjunto ℚ – ℝ, dos números
irracionais, é denso na reta. Com efeito, todo intervalo aberto contém nú-
meros racionais e irracionais.” Além disso, como observa Caraça (1989, p. 56):
“[…] um conjunto é denso se entre dois dos seus elementos quaisquer existir
uma infinidade de elementos do mesmo conjunto.”

Devido à densidade da reta real, como apresentado por Lima (1977) e Caraça
(1989), deve-se usar uma adequada representação para um subconjunto dos
números reais. A seguir, serão exemplificadas as seguintes formas:

„ intervalar;
„ gráfica;
„ conjunto.

Exemplo 1:

Considere que você deseja representar o subconjunto de ℝ, onde se tem


todos os valores de x contidos entre –4 com intervalo aberto nesse ponto, e
7 sendo fechado nesse extremo.

„ Notação intervalar: (–4, 7] ⊂ ℝ


„ Notação conjunto: {x ∈ ℝ|–4 < x ≤ 7}
„ Gráfico:
–4 7

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Exemplo 2:

Considere que você deseja representar o subconjunto de ℝ, onde se tem


todos os valores de x contidos entre 1 com intervalo fechado nesse ponto, e
4 sendo aberto nesse extremo.

„ Notação intervalar: [1, 4) ⊂ ℝ


„ Notação conjunto: {x ∈ ℝ|1 ≤ x < 4}
„ Gráfico: 1 4

Exemplo 3:

Considere que você deseja representar o subconjunto de ℝ, onde se tem


todos os valores de x contidos entre –∞ com intervalo aberto nesse ponto,
e 5 sendo aberto nesse extremo.

„ Notação intervalar: (–∞, 5) ⊂ ℝ


„ Notação conjunto: {x ∈ ℝ|–∞ < x < 5}
„ Gráfico:
–∞ 5

Exemplo 4:

As notações aqui apresentadas também podem ser empregadas para a repre-


sentação de intervalos disjuntos. Nesse sentido, considere o seguinte conjunto
A = {x ∈ x|–2 ≤ x < 8}, a representação do complementar de Ac, é dada por:

„ Notação intervalar: (–∞, –2) ∪ [8, +∞)


„ Notação conjunto: {x ∈ ℝ|x < –2 ou x ≥ 8}
„ Gráfico:
–2 8

O Quadro 1 traz as principais formas de se representar um subconjunto de ℝ.

Quadro 1. Subconjuntos de ℝ e suas representações

Tipo de intervalo Representação Observação

Intervalo fechado [a; b] = {x ∈ ℝ|a ≤ x ≤ b} Os limitantes a, b estão


incluídos no subconjunto

Intervalo aberto (a; b) = {x ∈ ℝ|a < x < b} Os limitantes a, b não estão


incluídos no subconjunto
(Continua)

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(Continuação)

Tipo de intervalo Representação Observação

Intervalo fechado [a; b) = {x ∈ ℝ|a ≤ x < b} O limitante a está incluído no


à esquerda subconjunto

Intervalo fechado (a; b] = {x ∈ ℝ|a < x ≤ b} O limitante b está incluído no


à direita subconjunto

Intervalo [a; ∞) = {x ∈ ℝ|x ≥ a} Todos os valores maiores ou


semifechado iguais a a

Intervalo (–∞; a] = {x ∈ ℝ|x ≤ a} Todos os valores menores ou


semifechado iguais a a

Intervalo (a; ∞) = {x ∈ ℝ|x > a} Todos os valores maiores do


semifechado que a

Intervalo (a; ∞) = {x ∈ ℝ|x < a} Todos os valores menores do


semifechado que a

É comum entre os estudantes a representação de forma incorreta


de um subconjunto dos números reais. Nesse sentido, evite o tipo
de representação mostrado a seguir.

(2, 5] = {3, 4, 5} = [3, 5]

Observe que as duas últimas igualdades são incorretas para representarem


o intervalo (2, 5] ⊂ ℝ.

Números reais e suas operações


Os números reais (ℝ) representam o conjunto de maior importância para a
matemática devido às suas inúmeras propriedades, entre elas, a de ser um
conjunto numérico denso. No entanto, de nada adianta se ter um conjunto
cujo número de elementos é enumerável se esses elementos não puderem ser
operacionalizados. Nesse ponto, o conjunto dos números reais mostra todo
o seu potencial, pois esse conjunto, quando munido das operações de soma
e produto, satisfaz a definição de um corpo algébrico. Para o conjunto dos
números reais, são válidas as operações/propriedades constantes no Quadro 2.

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Quadro 2. Propriedades do corpo dos reais

Propriedade Descrição

(A1) Fechamento sob adição Se a e b pertencem a ℝ, então, a + b


pertence a ℝ

(A2) Associatividade da Para todo a, b, c em ℝ, então, é válida a


adição igualdade a + (b + c) = (a + b) + c

(A3) Identidade aditiva Existe um unido 0 ∈ ℝ, tal que, a + 0 = 0 + a


= a para todo a ∈ ℝ

(A4) Inverso aditivo Para cada a ∈ 𝕊, existe um elemento a ∈ ℝ,


tal que, a + (–a) = (–a) + a = 0

(A5) Comutatividade da Para todo a, b ∈ ℝb, tem-se a + b = b + a


adição

(M1) Fechamento da Para todo a, b ∈ ℝ, tem-se a * b ∈ ℝ


multiplicação

(M2) Associatividade da Para todo a, b, c ∈ ℝ, tem-se (a * b) * c = a *


multiplicação (b * c) ∈ ℝ

(M3) Comutatividade da Para todo a, b ∈ ℝ, tem-se (a * b) = (a * b)


multiplicação ∈𝕊

(M4) Identidade da Existe um elemento 1 em ℝ, tal que, para


multiplicação todo a ∈ ℝ, tem-se a * 1 = 1 * a = a

(M5) Sem divisores por zero Para todo a, b ∈ ℝ, se a * b = 0, então, a = 0


ou b = 0

(M6) Inverso multiplicativo Para todo a ≠ 0 ∈ ℝ, existe um elemento


a-1 ∈ ℝ, tal que, a * a–1 = a–1 * a = 1

MD Distributividade Para todo a, b, c ∈ ℝ, é válida a igualdade


a(b + c) = a * b + a * c = b * c + c * a = (b + c) * a

A partir das propriedades anteriores, obtém-se as regras de potenciação


e radicação, as quais são ferramentas fundamentais para a matemática.

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Propriedades de potenciação. Dados m, n ∈ ℕ e a, b ∈ ℝ, tem-se:

A potenciação tem alguns casos especiais, os quais são apresentados


a seguir.
a1 = a
1n = 1
0n = 0
a0 = 1

Além das propriedades de potenciação, tem-se também as propriedades


das radiciações que constituem uma importante ferramenta matemática.
A seguir, são apresentadas essas propriedades.

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Conjuntos numéricos 17

No que se refere às regras de radiciação, tem-se: dado a, b ∈ ℝ+, m


∈ ℤ, n, p ∈ ℕ*.

A seguir, você aprenderá a operacionalizar essas propriedades com uma


série de exemplos.

Exemplo 1:

Considerando que a expressão a seguir esteja bem definida, simplifique-a:

Exemplo 2:

Considerando que a expressão a seguir esteja bem definida, simplifique-a:

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18 Conjuntos numéricos

Exemplo 3:

Considerando que a expressão a seguir esteja bem definida, simplifique-a:

Exemplo 4:

Considerando que a expressão a seguir esteja bem definida, simplifique-a:

Referências
CARAÇA, B. J. Conceitos fundamentais da matemática. Lisboa: Tip. Matemática, 1989.
GALVÃO, C. Conjuntos numéricos. Jandaia do Sul: UFPR, 2017. Notas de aula das disci-
plinas Pré-Cálculo e Matemática I, do curso de Computação, da Universidade Federal
do Paraná. Disponível em: https://docs.ufpr.br/~cegalvao/ensino/2017_1/JLC048/Con-
juntos_Numericos.pdf. Acesso em: 6 nov. 2020.
IEZZI, G.; MURAKAMI, C. Conjunto-elemento-persistência. In: IEZZI, G.; MURAKAMI, C.
Fundamentos de matemática elementar: volume 1: conjuntos e funções. 7. ed. São
Paulo: Atual, 2013. p. 18-19. Disponível em: https://www.doraci.com.br/downloads/
matematica/fund-mat-elem_01.pdf. Acesso em: 6 nov. 2020.
LIMA, E. L. Análise real. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e Aplicada, 1977. v. 1

Leituras recomendadas
BISPO, C. A. F.; CASTANHEIRA, L. B.; SOUZA FILHO, O. M. Introdução à lógica matemática.
São Paulo: Cengage Learning, 2011.
CONJUNTOS NUMÉRICOS e a Reta Numérica – Professora Angela. [S. l.: s. n.]. 2017. 1 vídeo
(21 min). Publicado pelo canal Professora Angela Matemática. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=VdWrKjdUu98&ab_channel=ProfessoraAngelaMatem%C
3%A1tica. Acesso em: 6 nov. 2020.
NÚMEROS NATURAIS, inteiros, racionais, irracionais e reais. [S. l.: s. n.]. 2020. 1 vídeo
(9 min). Publicado pelo canal Professora Angela Matemática. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=1nXjvLXDH4k&ab_channel=ProfessoraAngelaMatem%C3
%A1tica. Acesso em: 6 nov. 2020.
O CONJUNTOS DOS NÚMEROS INTEIROS (Z). [S. l.: s. n.]. 2016. 1 vídeo (8 min). Publicado
pelo canal Professora Angela Matemática. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=fmiw3ksXOmk&ab_channel=ProfessoraAngelaMatem%C3%A1tica. Acesso
em: 6 nov. 2020.

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Conjuntos numéricos 19

O CONJUNTO DOS NÚMEROS RACIONAIS. [S. l.: s. n.]. 2016. 1 vídeo (5 min). Publicado
pelo canal Professora Angela Matemática. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=1JT_0FyzPzA&ab_channel=ProfessoraAngelaMatem%C3%A1tica. Acesso em:
6 nov. 2020.
RETA REAL – Aula 6 – Curso de Conjuntos – Professora Angela. [S. l.: s. n.]. 2020. 1 vídeo
(12 min). Publicado pelo canal Professora Angela Matemática. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=wwqH-srELA4&ab_channel=ProfessoraAngelaMatem%C
3%A1tica. Acesso em: 6 nov. 2020.

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FUNDAMENTOS
DE MATEMÁTICA

Luciana Maria Margoti Araujo


Operações com números
reais e intervalos numéricos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Reconhecer o conjunto dos números reais.


„ Identificar as propriedades e operações com números reais.
„ Associar os três tipos de intervalos numéricos.

Introdução
Neste capítulo, você aprenderá sobre o conjunto dos números reais
e verificará que ele é uma reunião de vários subconjuntos numéricos.
Dessa maneira, é possível utilizar as notações da teoria de conjuntos
para relacionar o conjunto dos números reais com os demais conjuntos.
Dentro dos números reais, podemos estabelecer relações de igual-
dade ou desigualdade entre seus elementos, facilitando o entendimento
da representação no eixo real. Os conjuntos numéricos podem ser re-
presentados em notação de conjuntos utilizando chaves e colchetes, ou
sobre a reta ordenada, em que os números ficam dispostos em ordem
crescente.

Conjunto dos números reais


O conjunto dos números reais (R) é formado por todos os números racionais
e irracionais. Por sua vez, os conjuntos dos números racionais e irracionais
abrangem outros conjuntos que podem ser verificados a seguir.
O conjunto dos números naturais é aquele formado pelos números 0, 1, 2, ...

ℕ = {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...}
2 Operações com números reais e intervalos numéricos

Na sequência, observe o conjunto dos números inteiros, representado por


Z, formado por números inteiros, positivos e negativos.

ℤ = {..., –4, –3, –2, –1, 0, 1, 2, 3, 4, ...}

O conjunto dos números racionais (ℚ) é composto por números que tam-
bém podem assumir valores positivos e negativos. Porém, nesse conjunto, as
frações numéricas são incorporadas. Esses números podem estar representados
na forma de fração ou decimal. No conjunto dos números racionais, estão
também presentes as dízimas periódicas simples e compostas, sendo esses
originados de uma fração possível de ser reescrita na forma a/b, em que a e
b são números inteiros, e b ≠ 0.
15
ℚ = {..., –2, ..., –1,25, ..., –1, ... –0,33, ... 0, ...1, ... , ..., 2, ...}
13

Por fim, vem o conjunto dos números irracionais (𝕀), que são os decimais
que não podem ser representados em forma de uma fração. Por exemplo, o
número π, √p , sendo p um número positivo, sem raiz quadrada exata, etc.

 = {..., –√2, ..., √2, ... , ...}

Podemos dizer que todos esses conjuntos descritos são subconjuntos do


conjunto dos números reais. A relação desses subconjuntos, entre si, está
demonstrada na Figura 1. Todos eles estão contidos em R:

ℝ=𝕀∪ℚ

ℤ ℚ


Figura 1. Representação dos conjuntos dos números racionais e irracionais.


Operações com números reais e intervalos numéricos 3

Para o conjunto dos números reais, também são válidas todas as notações
da teoria de conjuntos. Você pode verificar, de acordo com a Figura 1, que o
conjunto Q está contido no conjunto R, ou simplesmente:

ℚ⊂ℝ

ou, ainda, que o conjunto dos números irracionais, I, unido ao conjunto


dos números racionais, Q, resulta no conjunto dos números reais:

𝕀 ∪ ℚ = ℝ

Essas mesmas relações da teoria de conjuntos podem ser utilizadas com


os elementos que compõem o conjunto dos números reais, R.

Considerando as opções a seguir, quais são verdadeiras?

a) ℕ⊂𝕀
b) ℝ ∪ ℚ=ℝ
c) (–7) ∉ ℝ
d) ℝ ∩ 𝕀 = 𝕀

As alternativas (b) e (d) estão corretas. Em (b), a união entre o conjunto dos números
reais com o conjunto dos números racionais é o próprio conjunto dos números reais.
Já em (d), a interseção, ou o que há de comum, entre o conjunto dos números reais
e o conjunto dos números irracionais é o próprio conjunto dos números irracionais.
Do exercício anterior, reescreva as relações que você julgou como falsas de forma
a torná-las verdadeiras.
Transformando as opções (a) e (c) em afirmações verdadeiras:

„ ℕ⊂ℚ
„ (–7) ∈ ℝ

Propriedades e operações com números reais


a) Propriedades dos números reais
4 Operações com números reais e intervalos numéricos

   Ao realizar operações matemáticas com os números reais, as proprieda-


des básicas utilizadas com qualquer outro conjunto numérico também
se aplicam. Na sequência, você relembrará e exercitará um pouco cada
uma dessas propriedades e verá alguns exemplos.

Não existe divisão de um número real por zero:

a
0 = ∄, ∀ a ∈ ℝ
–4
=∄
0

Zero dividido por qualquer número real será sempre zero:

0
= 0, ∀ a ∈ ℝ
a

0 0
=0 ; =0
7 –10

Qualquer número real, diferente de zero e elevado a zero, valerá 1:

a0 = 1, ∀ a ∈ ℝ

50 = 1 ; (–9)0 = 1

Existe raiz de índice par somente para os números reais positivos:

n
√b, ∀ b ∈ ℝ+

n sendo um número par:


4 4
√16 = 2 ; √–16 = ∄ em ℝ
2
√–81 = ∄ em ℝ
Operações com números reais e intervalos numéricos 5

Qualquer número real, positivo ou negativo, elevado a um expoente


par, sempre resultará em um número real positivo:

(a)n > 0, ∀ a ∈ ℝ, sendo n um número par”?

(5)4 = 625 ; (–9)2 = 81

No conjunto dos números reais, uma multiplicação de potências de


mesma base apresentará como resultado na conservação da base, com
a soma dos expoentes:

am × an = am+n

(–3)5 × (–3)3 = (–3)5+3 = (–3)8 = 6.561

No conjunto dos números reais, uma divisão de potências de mesma base


apresentará como resultado na conservação da base, com a subtração
dos expoentes:

27 ÷ 24 = 27–4 = 23 = 8

Sempre que um número real estiver representado com uma potência


de potência, conserve a base e multiplique os expoentes:

(am)n = am×n

[(–17)3]3 = (–17)3×3 = (–17)9 = –118.587.876.497

Potência de sinal negativo inverte o número que está sob a potência,


caso mude o sinal:

( ab ) = ( ba ) , A a, b ≠ 0
–m

( –39 ) = ( –39 )
–2 2
= (–3)2 = 9
6 Operações com números reais e intervalos numéricos

É possível transformar uma operação de radiciação em uma de poten-


ciação, da seguinte maneira:

m
√an = an/m
4
√(–6)2 = |–6|2/4 ≈ 2,4495

É preciso estar atento, pois se o índice for par e o resultado da potência


que está no radicando for negativo, essa propriedade não pode ser aplicada.
Por exemplo:
6
( ― 5)3 ∉

Existe raiz de índice ímpar, cujo radicando é um número real negativo:

5
√–7.776 = –6

b) Operações com números reais


   Para realizar as operações matemáticas, inclusive no uso das proprieda-
des que você acabou de verificar, algumas regras devem ser seguidas.
Acompanhe, a seguir, como operar em relação aos sinais (positivo e
negativo) dos números reais.

Nas operações de adição e subtração, quando os sinais que acompa-


nham os números que estão sob a operação forem iguais, o resultado
permanecerá com o mesmo sinal:

+4 +7 = +11
–9 –2 = –11
Operações com números reais e intervalos numéricos 7

Nas operações de adição e subtração, quando os sinais que acompanham


os números que estão sob a operação forem diferentes, o resultado
apresentará o mesmo sinal do número com maior módulo:

+7 –2 = +5
–11 + 4 = –7
–2,35 + 8 = +5,65

Nas operações de multiplicação e divisão, quando os sinais que acom-


panham os números que estão sob a operação forem iguais, o resultado
apresentará sinal positivo (+):

(–7) × (–3,7) = +25,9

(+6,3) × (+9) = +56,7

(–50) ÷ (–2,5) = 20

(+50) ÷ (+5) = +10

Nas operações de multiplicação e divisão, quando os sinais que acompa-


nham os números que estão sob a operação forem diferentes, o resultado
apresentará sinal negativo (–):

(–7) × (+3,7) = –25,9

(–6,3) × (+9) = –56,7

(+50) ÷ (–2,5) = –20

(+50) ÷ (–5) = –10


8 Operações com números reais e intervalos numéricos

Em operações com números reais (R), a prioridade continua sendo da expressão que
está entre parênteses; após, a que está entre colchetes; por fim, aquela expressão que
se encontra dentro das chaves. Segue, também, a ordem prioritária de operações, que
é primeiro a multiplicação e divisão e, depois, a adição e subtração.

Tipos de intervalos numéricos


Assim como em qualquer outro conjunto, os números reais (R) podem ser
representados sobre uma reta orientada. Esta reta tem como origem o ponto 0
(zero) e orientação para a direita, indicando o sentido crescente da sequência
numérica, conforme mostrado na Figura 2.

0
Figura 2. Reta numérica, com a representação da origem e orientação.

Sobre essa reta, a representação numérica será realizada unidade à unidade,


pelo conjunto dos inteiros (Z), a fim de facilitar a representação numérica. A
partir do ponto de origem, para o lado direito, serão colocados os números
positivos e, para o esquerdo, os negativos, como mostrado na Figura 3.

–5 –4 –3 –2 –1 0 +1 +2 +3 +4 +5
Figura 3. Eixo real.
Fonte: Adami, Dornelles Filho e Lorandil (2015, p. 3).
Operações com números reais e intervalos numéricos 9

Ainda sobre essa reta, caso seja necessário, é possível representar os demais
números racionais e irracionais, complementando o conjunto dos números
reais (R), conforme a Figura 4.

–5 –π –1,5 0 2/3 √5 3
l
–5 –4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4
Figura 4. Eixo real.
Fonte: Safier (2012, p. 3).

Sendo necessário referir-se aos números reais positivos, excluindo-se o


zero, a notação R+* deverá ser utilizada. De maneira análoga, os números
reais negativos, excluindo-se o zero, podem ser representados pela notação
R-*. Definimos, assim, os conjuntos:

R+* = {1, 2, 3, 4, 5, 6, ...}

R–* = {..., –5, –4, –3, –2, –1}

Desse modo, para qualquer a pertencente a R+*, dizemos que a é maior que zero:

a > 0, ∀ a ∈ ℝ+*

Também de forma semelhante:

a < 0, ∀ a ∈ ℝ –*

A partir daí, você já consegue definir o conjunto dos números reais maiores
que zero (positivos) sobre a reta real.
10 Operações com números reais e intervalos numéricos

–5 –4 –3 –2 –1 0 +1 +2 +3 +4 +5
Figura 5. Números reais positivos.
Fonte: Adaptada de Adami, Dornelles Filho e Lorandil (2015).

Na Figura 5, um círculo aberto sobre o zero indica que o mesmo não está
dentro do intervalo numérico representado. O mesmo pode ser observado
na Figura 6, a seguir, com a representação dos números reais negativos, ou
menores que zero.

–5 –4 –3 –2 –1 0 +1 +2 +3 +4 +5
Figura 6. Números reais negativos.
Fonte: Adaptada de Adami, Dornelles Filho e Lorandil (2015).

O intervalo da Figura 5 pode ser, ainda, representado como:

]0, ∞[

em que o colchete aberto, ou os parênteses, indica que o número que vem


após não pertence ao intervalo. Já o intervalo da Figura 6, em que o número
que precede o colchete não pertencerá ao intervalo, pode ser expresso por:

]–∞, 0[

ou:

(–∞, 0)

Sempre que for necessário representar conjuntos numéricos em uma reta,


caso o primeiro número da sequência a ser representada pertença ao conjunto
desejado, o círculo deverá ser preenchido, o que também deverá ocorrer com
o último número da sequência a ser representada. Como exemplo, verifique
que, na Figura 7, está representado o intervalo entre o número 2, inclusive,
até o número 4, que também pertencerá ao conjunto da expressão:
Operações com números reais e intervalos numéricos 11

[2 ,4]

ou:

{x ∈ ℝ│2 ≤ x ≤ 4}

–5 –4 –3 –2 –1 0 +1 +2 +3 +4 +5
Figura 7. Intervalo [2,4] representado no eixo real.
Fonte: Adaptada de Adami, Dornelles Filho e Lorandil (2015).

Verifique, agora, este outro intervalo:

]–3, 2]
O colchete aberto em –3 indica que esse número não pertence ao intervalo
que iremos representaremos. Por outro lado, o número 2 ainda está dentro
desse conjunto. Assim, queremos representar na reta real o conjunto de todos
os x, maiores que –3 e menores ou iguais a 2 (Figura 8), ou pela expressão:

{x ∈ ℝ│–3 < x ≤ 2}

–5 –4 –3 –2 –1 0 +1 +2 +3 +4 +5
Figura 8. Intervalo ]-3,2] representado no eixo real.
Fonte: Adaptada de Adami, Dornelles Filho e Lorandil (2015).

Quando nenhum dos dois extremos do intervalo que queremos representar


pertencer ao conjunto, os dois colchetes ficarão abertos, e, consequentemente,
na reta, os círculos sobre os números também. Veja o exemplo a seguir:

]–1, +3[
12 Operações com números reais e intervalos numéricos

Temos um intervalo entre -1 e +3, em que esses dois números não pertencem
ao intervalo:

{x ∈ ℝ│–1 < x < +3}

ou na reta representada na Figura 9, a seguir.

–5 –4 –3 –2 –1 0 +1 +2 +3 +4 +5
Figura 9. Intervalo ]-1,+3[ representado no eixo real.
Fonte: Adaptada de Adami, Dornelles Filho e Lorandil (2015).

Sejam três números, a, b e c. Estando a à direita de b na reta real, temos


a garantia que a é maior que b; e estando c à esquerda de b, temos a garantia
que c é menor que b, o que pode ser representado pelas expressões a seguir,
respectivamente:
a > b;

c<b

Ainda sobre os números a, b e c, podemos escrever as relações entre eles


em uma única expressão:

c<b<a

em que você lerá que b é menor que a e maior que c.


Assim, você também pode verificar que c é menor que a:

c<a
Operações com números reais e intervalos numéricos 13

Com exemplo numérico, seguindo a mesma ordem apresentada nas relações


acima, sejam os números –7, –3 e 2:

2 > –3

–7 < –3

– 7< –3 < 2

e ainda:

–7 < 2

Além dos operadores "maior que" (>) e "menor que" (<), podemos utilizar o operador
diferente (≠). Por exemplo, os números 3 e 7 são diferentes, ou 3≠7.

ADAMI, A. M.; DORNELLES FILHO, A. A.; LORANDIL, M. M. Pré-cálculo. Porto Alegre:


Bookman, 2015.
SAFIER, F. Pré-cálculo. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. (Coleção Schaum).

Leituras recomendadas
CHAMBERS, P. Ensinando matemática para adolescente. Porto Alegre: Penso, 2015.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I.; MILANI, E. Cadernos de mathema – ensino fundamental: jogos
de matemática de 6º ao 9º ano. Porto Alegre: Artmed, 2006. v. 2.
SMOLE, K. S.; MUNIZ, C. A. A matemática em sala de aula. Porto Alegre: Penso, 2013.
FUNDAMENTOS
DE MATEMÁTICA

Mariana Sacrini Ayres Ferraz


Rute Henrique da Silva Ferreira
Conjuntos numéricos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir o que são conjuntos numéricos em matemática.


„„ Representar conjuntos por meio dos diagramas de Venn.
„„ Realizar operações com conjuntos.

Introdução
Os conjuntos são bastante importantes em matemática. Talvez os mais
famosos sejam os conjuntos numéricos, como os reais, os inteiros e os
naturais. Embora eles tenham muitas aplicações puramente matemáticas,
muitas áreas se beneficiam de suas teorias, como quando temos que di-
vidir grupos que tenham características similares ou não, ou parcialmente
similares, e problemas de reconhecimento de padrões.
Neste capítulo, você aprenderá a definição de conjuntos, como
representá-los e suas propriedades.

1. Conjuntos numéricos
Um conjunto pode ser definido como uma coleção de entidades, as quais são
seus elementos. Ou seja, é uma coleção de elementos que estão relacionados
segundo alguma regra. Por exemplo, os elementos poderiam ser números,
frutas, pessoas, carros, etc. Já a regra à qual os elementos obedecem deve
ser bem-definida — por exemplo, poderíamos ter um conjunto de palavras
pertencentes à língua portuguesa.
Geralmente, são utilizadas letras maiúsculas para se especificar os conjun-
tos, como A, B, W, …, e letras minúsculas para os elementos de um conjunto,
como a, b, c ,z,... Por exemplo:

g, h ∈ A,
2 Conjuntos numéricos

que significa que os elementos g e h pertencem ao conjunto A. O símbolo ∈ pode


ser interpretado como “é um elemento de”. Para a negativa dessa afirmação,
usa-se ∉, o que significa “não é um elemento de”.

Notação
Para se descrever os elementos de um conjunto, geralmente são utilizadas
chaves {} e vírgulas para separar os elementos. Por exemplo:

{–2, –1, 0, 1, 2, 3, 4, 5}.

Para conjuntos com número de elementos muito grandes, a notação


acima não seria a mais indicada, pois geraria imensas listas. Assim, uma
maneira de se descrever os conjuntos é utilizar uma letra, como x. Por
exemplo:

B = {x│x é um inteiro e |x| < 6},

o qual lemos como “B é um conjunto dos elementos x, tal que x é um inteiro


e tem módulo menor que 6. Equivalentemente, podemos escrever:
B = {x│x ∈ Z, |x| < 6}.

Aqui, o símbolo | significa “tal que”, Z representa o conjunto dos inteiros,


e a vírgula é interpretada como “e”.

Veja os três conjuntos a seguir:

A = {x|x2 – 3x + 2 = 0},
B = {1, 2},
C = {2, 1, 2, 2, 1}.

Eles são iguais?


A resposta é sim. Para conjuntos, não importa a ordem de seus elementos, nem se
eles são repetidos. Dessa maneira, no caso dos três conjuntos mostrados aqui, eles
são considerados iguais, ou seja, A = B = C.
Conjuntos numéricos 3

1.1 Subconjuntos
Suponha que tenhamos dois conjuntos, A e B. Se a ∈ A, implica que a ∈ B.
Podemos dizer que A é um subconjunto de B e, alternativamente, que A está
contido ou é igual a B, A ⊆ B, ou que B contém ou é igual a A, B ⊇ A. Por
exemplo, se P = {2, 4, 6} e S = {"inteiros pares"}, então, temos que P ⊆ S.
Se dois conjuntos são iguais, cada conjunto está contido no outro, Assim,
A = B "se, e somente se” A ⊆ B e B ⊆ A.
Para os subconjuntos, temos o seguinte teorema: sejam A, B e C conjuntos
quaisquer, então:

1. A ⊆ A;
2. Se A ⊆ B e B ⊆ A, então A - B;
3. Se A ⊆ B e B ⊆ C, então A ⊆ C.

Nota: para o símbolo ⊆ lê-se “subconjunto contido ou igual à”, ou ainda o símbolo
⊇ , com a leitura de “subconjunto contém ou igual à”. Outro símbolo muito utilizado,
é o ⊂ que lê-se “subconjunto contido em”, ou ainda ⊃ , com a seguinte leitura
“subconjunto contém”.

Neste momento é importante deixar claro dois tipos de relações, a de


pertinência e a de inclusão.

Para a relação de pertinência utiliza-se os símbolos de ∈,∉ , onde lemos


pertence e não pertence respectivamente, e com isso queremos dizer que
aquele elemento faz parte ou não de um determinado conjunto. Esses
símbolos só podem ser usados entre um elemento e um conjunto, ou seja,
não pode ser usado entre dois conjuntos. Como exemplo, temos o conjunto
A={2,6,1,8,4,9}, podemos escrever por exemplo que 2∈A, ou que 8∈A, ou
ainda que -1∉A e assim por diante.

Já para a relação de inclusão, utilizamos os símbolos de ⊂,⊃ , que lemos


contido e contém respectivamente. Essa relação quer representar que um
conjunto “está dentro de outro”, ou ainda que um conjunto é subconjunto de
outro. Esses símbolos só podem ser usados entre dois conjuntos ou
subconjuntos, como por exemplo, conhecendo o conjunto
A={-3,-1,0,6,9,11} e o conjunto B={-3,0,11}, podemos escrever que B⊂A
ou ainda que A⊃B. Aqui é importante lembrar que para um conjunto estar
contido em outro, todos os elementos devem estar.
Conjuntos numéricos 4

1.2 Conjuntos numéricos especiais


Alguns conjuntos são muito usados e, assim, acabaram recebendo tratamento
especial. Veja a seguir.

„ N: conjunto dos números naturais, ou inteiros positivos, com o zero


— N = {0, 1, 2, 3, 4, …}.
„ Z: conjunto dos números inteiros, ou seja, todos os números inteiros
positivos, negativos e o zero — Z ={…, –3, –2, –1, 0, 1, 2, 3, …}.
„ Q: conjunto dos números racionais, números reais com dígitos decimais
finitos. Números que podem ser escritos em forma de fração de números
inteiros, resultando assim em decimais com dígitos finitos – 𝑄 = ,
p, q ϵ Z e q ≠ 0 .
„ I: Conjunto dos números irracionais, números que não podem ser
escritos em forma de fração de números inteiros, resultando assim
em decimais com dígitos infinitos — por exemplo, raízes não exatas
, o número 𝜋 e o número de Euler 𝑒.
„ R: conjunto dos números reais, o qual inclui os racionais e os irracio-
nais — R = Q ∪ I.
„ C: conjunto dos números complexos, pares (a, b) de números reais, ou
seja, números da forma z = a + bi, onde a e b são números reais e i2 = –1.
5 Conjuntos numéricos

Em teoria de conjuntos, a notação * é utilizada quando desejamos excluir o número


zero do conjunto. Por exemplo:
„„ N* = {1, 2, 3, 4, ...};
„„ Z* = {..., –3, –2, –1, 1, 2, 3, ...}.

A partir dessa descrição, podemos pensar N como uma parte de Z, Z como


uma parte de Q e Q como uma parte de R. Em Q, equações do tipo x2 – 3 = 0
ou o cálculo da área do círculo, por exemplo, não podem ser resolvidas. Temos
então um novo conjunto, os irracionais e esse conjunto I pode ser entendido
como uma parte de R.
No entanto, alguns problemas não podem ser resolvidos apenas em R, o que
motivou o desenvolvimento dos números complexos. Por exemplo, a equação
x2 + 1 = 0 não tem solução em R, mas, em C, veremos que ela tem solução.
Na teoria de conjuntos um número complexo é um par ordenado de nú-
meros reais (a, b) em que estão definidas igualdade, adição e multiplicação
(DANTE, 2002):

(a, b) = (c, d) ↔ a = c e b = d
(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)
(a, b) ∙ (c, d) = (ac – bd, ad + bc)

Os números reais pertencem a C e são aqueles pares em que temos b = 0,


ou seja, o número real 5 pode ser escrito como o par (5, 0). Também é dado
um nome especial para o par (0, 1), unidade imaginária. Ele é indicado por i,
e, usando a definição de multiplicação de complexos, temos:

(a,b) ∙ (c,d) = (ac - bd, ad + bc)

i2 = (0,1) ∙ (0,1) = (0 ∙ 0 ‒ 1 ∙ 1, 0 ∙ 1 + 1 ∙ 0) = ( ‒ 1, 0) = ‒ 1

Essa definição nos permite calcular, em C, raízes quadradas de números


negativos. Por exemplo:
Conjuntos numéricos 6

Os números complexos podem ser representados na forma algébrica ou na


forma trigonométrica. Veja a seguir algumas definições e exemplos envolvendo
números complexos.

Forma algébrica de um número complexo: z = a + bi

(‒2, 3) = ‒2 + 3i
(0, ‒1) = 0 ‒ 1i = –i

Conjugado de um número complexo: z = a – bi

z = 2 + 3i → z = 2 – 3i
z = 5 – 2i → z = 5 + 2i

Interpretação geométrica de um número complexo

Como cada número complexo está associado a um par (𝑎,𝑏), que por sua vez
está associado a um único ponto no plano, podemos representá-los como um
ponto P no sistema de coordenadas cartesianas. O ângulo θ formado pelo
segmento Oz e o eixo x é chamado de argumento, e ρ é o módulo de z, que
definimos na Figura 1.

Figura 1. Gráfico do módulo de z.


Fonte: Adaptada de Dante (2002).
7 Conjuntos numéricos

Módulo de um número complexo

O módulo de um número complexo é a distância da origem do sistema de


coordenadas até o ponto z. Aplicando o teorema de Pitágoras, .
Vejamos um exemplo:

Forma trigonométrica de um número complexo

A partir da representação geométrica de um número complexo, considerando-


-se seu módulo, o ângulo formado pelo segmento Oz e o eixo x e as noções
de seno e cosseno, temos:

z = a = bi → |z| (cos θ + isen θ)

Vejamos um exemplo:

Resolução de equações com raiz complexa

x2 ­– 2x + 10 = 0
∆ = b2 – 4ac = 4 – 4 ∙ 1 ∙ 10 = –36 → não possui raiz real

Usando números complexos, temos:

Assim, as raízes da equação são 1 + 3i e 1­ – 3i.


Conjuntos numéricos 8

A equação x2 + 1 = 0, mencionada anteriormente no capítulo, pode ser


resolvida da seguinte forma:

Sua solução, então, é:

x = ±i

1.3 Conjunto universo e conjunto vazio


O conjunto universo normalmente é denotado pela letra U. Ele seria composto
por todos os elementos e conjuntos em um dado contexto. Já o conjunto vazio
não contém qualquer elemento e é representado por chaves vazias {}, ou pelo
símbolo ∅. Por exemplo:

Se U = Z, então {x│x2 = 10} = ∅.

1.4 Conjuntos disjuntos


Conjuntos disjuntos são aqueles que não têm elementos em comum. Por
exemplo, suponha os três conjuntos a seguir:

A = {1, 4, 5},
B = {5, 6, 8, 10} e
C = {10, 14}.

Os conjuntos A e C são considerados disjuntos, mas A e B não, pois eles


têm elementos em comum. Os conjuntos B e C também não são disjuntos.

Podemos afirmar que


N⊂Z⊂Q⊂Z

Sim podemos, pois neste caso estamos afirmando que o conjunto dos naturais
está contido no conjunto dos inteiros, que por sua vez está contido dentro do
conjunto dos racionais e por fim, o conjunto dos racionais está contido no
conjunto dos inteiros. A seguir quando aprendermos o conceito diagrama de
Venn e observarmos a Figura 3, este conceito fica bem claro.
9 Conjuntos numéricos

2. Diagramas de Venn
Uma maneira de representar conjuntos é usando os diagramas de Venn. Nesses
diagramas, os conjuntos são representados por áreas delimitadas no
espaço, geralmente círculos e elipses. Assim, o conjunto universo U é
representado por um retângulo, em que estão os outros conjuntos. A Figura
2 mostra três exemplos de diagramas de Venn. Em (a), há um exemplo em
que o conjunto A está contido no conjunto B; em (b), os conjuntos A e B são
disjuntos; em (c), os conjuntos A e B sobrepõem-se parcialmente.

Figura 2. Exemplos de diagramas de Venn.


Fonte: Adaptada de Lipschutz e Lipson (2013).

Os diagramas de Venn também servem para ilustrar os conjuntos numéricos


descritos na seção anterior, como mostra a Figura 3.

R=Q∪I

N I
Números
Números Naturais
Irracionais
Z
Números Inteiros
Q
Números Racionais

C
Números Complexos

Figura 3. Representação dos conjuntos numéricos.


Conjuntos numéricos 10

A figura a seguir representa um diagrama de Venn de dois conjuntos A e B.

O conjunto universo U foi dividido em quatro regiões chamadas de i, ii, iii e iv. O
que pode ser dito sobre os conjuntos A e B:
a) se a região ii for vazia?
b) se a região iii for vazia?
Se a região ii for vazia, então A não contém elementos que não estão em B. Assim,
A é um subconjunto de B, e o diagrama deveria ser redesenhado como na Figura 2a.
Agora, se a região iii for vazia, então A e B não têm elementos em comum, sendo
disjuntos. Assim, o diagrama deveria ser redesenhado como na Figura 2b.

Para desenhar um diagrama de Venn, pode-se usar uma técnica que contém
dois passos, descrita a seguir. Primeiramente, supomos os seguintes conjuntos:

U = {1, 2, 3, …, 12}
A = {2, 3, 7, 8, 9}
B = {2,8}
C = {4, 6, 7, 10}

Para desenhar o diagrama desses conjuntos, você deve seguir os passos:

a) desenhe um diagrama genérico com os conjuntos.


b) insira os elementos em suas devidas regiões.
c) redesenhe o diagrama, eliminando regiões vazias.
11 Conjuntos numéricos

Assim, o primeiro passo geraria um diagrama como mostrado na Figura 4a.


A partir daí, preencheremos as regiões com os elementos dos conjuntos. Analise
elemento a elemento, checando se ele pertence a mais de um conjunto. Assim,
o resultado ficaria como o mostrado na Figura 4b.

Figura 4. Passos para desenhar um diagrama de Venn. (a) Diagrama genérico. (b) Diagrama
genérico preenchido. (c) Diagrama redesenhado, eliminando os espaços vazios.

3. Operações com conjuntos


Algumas operações podem ser feitas com conjuntos, como união, interseção
e complementar.
A união de dois conjuntos A e B representa um conjunto com todos os
elementos de A ou B, ou seja:

A ∪ B = {x|x ∈ A ou x ∈ B}

A Figura 5a mostra um diagrama de Venn, em que o conjunto A ∪ B (lê-


se: A união com B) está sombreado.
Conjuntos numéricos 12

A interseção de dois conjuntos A e B representa um conjunto que pertence


a ambos, A e B, ou seja:

A ∩ B = {x|x ∈ A e x ∈ B}

A Figura 5b mostra um diagrama de Venn, em que o conjunto A ∩ B (lê-


se: A interseção com B) está sombreado.

Figura 5. Diagramas de Venn representando as operações de união e interseção entre


conjuntos.
Fonte: Adaptada de Lipschutz e Lipson (2013).

Suponha os conjuntos:

A = {1, 2, 3},
B = {3, 4, 5} e
C = {6, 7}.

Temos que:

A ∪ B = {1, 2, 3, 4, 5}
A ∩ B = {3}
B ∪ C = {3, 4, 5, 6, 7}
B∩C=∅
A ∪ C = {1, 2, 3, 6, 7}
A∩C=∅
13 Conjuntos numéricos

O complementar de um conjunto A é o conjunto de elementos que


pertencem a U, mas que não pertencem a A, ou seja, A^C (lê-se: A
complementar):
AC = {x|x ∈ U, x ∉ A}
A Figura 6 mostra um diagrama de Venn do complementar de um
conjunto A.
Também temos a diferença entre conjuntos, A-B, lemos A menos B ou
A diferença B. É o conjunto de elementos que pertencem a A, mas não
pertencem a B, ou seja:

Conseguimos verificar a representação desta operação na Figura 6b por


meio do diagrama de Venn.

Ainda sobre a operação diferença, temos a diferença simétrica ⊕ de dois


conjuntos A e B. São elementos que pertencem a um ou a outro conjunto,
mas não a ambos, podendo ser escrito como:

A ⊕ B = {(A ∪ B) - (A ∩ B)}

ou ainda podemos escrever como:

A ⊕ B = {(A - B) ∪ (B - A)}

A Figura 6c representa A ⊕ B por meio de um diagrama de Venn.

Figura 6. Diagramas de Venn representando complementar, complementar relativo e


diferença simétrica.
Fonte: Lipschutz e Lipson (2013, p. 6).
Conjuntos numéricos 14

Dados os conjuntos A={x∈Z /-4<x≤10}, B={2,5,6,8,9} e C={x∈Z /-4≤x≤5}, realize o


que se pede:

a) A∪B
b) B - A
c) C∪A
d) A - (C∪B)
e) (A-B)∩C

Vamos resolver cada um desses casos, mas antes vamos deixar claro que o
conjunto A={-3,-2,-1,0,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10}, o conjunto B={2,5,6,8,9} e por fim, o
conjunto C={-4,-3,-,2,-1,0,1,2,3,4,5} assim:

a) A∪B na união dos conjuntos A e B, adicionamos todos os elementos do


conjuntos, formando assim um único conjunto com todos os elementos de
ambos. A∪B=A={-3,-2,-1,0,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10}. Como o conjunto B está contido
em A, a união acaba sendo o próprio conjunto A.
b) B-A, nesta operação vamos retirar todos os elementos de A que estão em B,
assim: B-A=∅
c) C∪A={-4,-3,-2,-1,0,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10}
d) A-(C∪B), neste caso vamos resolver o parêntese primeiro A-{2,5} agora
retirando estes dois valores do A, temos: A-(C∪B)={-3,-2,-1,0,1,3,4,6,7,8,9,10}
e) (A-B)∩C={-3,-2,-1,0,1,3,4,7,10}∩C agora fazendo a interseção com C: (A-
B)∩C={-3,-2,-1,0,1,3,4}

Em um restaurante que serve prato feito você tem as seguintes opções de carne:
• Carne de gado;
• Peixe;
• Peixe e carne de gado.
Em determinado dia, ao fazer o fechamento das refeições do almoço, verificou-se
que foram servidos 54 pratos feitos todos com carne. Sendo que haviam 23
pedidos de pratos com peixe e 38 com carne de gado, quantos pedidos tinham
as duas opções junto?
Para facilitar a solução podemos pensar no diagrama de Venn
15 Conjuntos numéricos

Lembrando que para começar a preencher o diagrama de Venn, começamos pelas


interseções, neste caso temos apenas uma e não sabemos, por isso, colocamos x.
Para saber os pratos apenas de peixe, fazemos 23-x, ou seja, o total de pratos com
peixe menos os pratos que tem peixe e também carne de gado. Para sabermos
quantos pratos foram servidos apenas com carne de gado fazemos o mesmo.
Sabendo que o total devem ser 54 pratos, temos a seguinte soma:

23 - x + x + 38 - x = 54
23 + 38 - x = 54
61- x = 54
61- 54 = x
7=x

Com isso, concluímos que 7 pratos foram servidos com peixe e carne de gado.
Com isso, também seria possível concluir que pratos apenas com peixe são 23 – 7
= 16 e pratos apenas com carne de gado são 38 – 7 = 31 refeições.

DANTE, L. R. Matemática: contexto e aplicações. São Paulo: Ática, 2002.


LIPSCHUTZ, S.; LIPSON, M. Matemática discreta. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
(Coleção Schaum).
CÁLCULO: LIMITES
DE FUNÇÕES DE
UMA VARIÁVEL E
DERIVADAS

Cristiane da Silva
Números reais, funções e
gráficos (linear, quadrática
e trigonométrica)
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever o conjunto dos números reais.


„„ Definir o conceito de função.
„„ Representar graficamente uma função.

Introdução
Neste capítulo, você recordará os conhecimentos adquiridos sobre o
conjunto dos números reais, suas representações por meio de exem-
plos numéricos e ilustrações, bem como receberá dicas de leitura para
aprofundar seus estudos. Ainda que algumas vezes não percebamos, os
conjuntos numéricos estão presentes em nossa vida diária: o conjunto
dos números inteiros, por exemplo, com seus valores negativos que
podem representar as temperaturas negativas que experimentamos
no inverno, ou ainda os saldos bancários negativos. O conjunto dos
números racionais, que contém as frações, costuma ter aplicação em
receitas culinárias, em estudos envolvendo proporções, etc. E o conjunto
dos números reais, que contém os naturais, os inteiros, os racionais e os
irracionais, é bastante abrangente e pode contemplar diversos exemplos,
além dos já mencionados.
Outro aspecto interessante é que as funções podem ser percebidas
em situações bem-próximas a nós, como na conta de energia elétrica
que recebemos mensalmente para pagar. O valor pago depende da
quantidade de kW/h consumida em um mês. Ou seja, nesse exemplo, há
uma relação entre duas variáveis. Podemos, ainda, pensar na cobrança que
os estacionamentos de veículos fazem: em geral, cobra-se um valor fixo e
um variável que dependerá de quanto tempo o veículo permanecerá no
2 Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica)

estacionamento. Também se pode pensar em uma construção: o preço


que se pagará pela obra depende de várias variáveis, como do custo
de mão de obra, da quantidade de material necessário para a obra, do
tamanho da obra, entre outros.
Você encontrará também representações gráficas que elucidam dife-
rentes funções e direcionam a atenção para alguns pontos importantes,
como o que poderia descaracterizar uma função, ou seja, fazer com que
determinada expressão matemática não represente uma função.

Conjunto dos números reais


Um número real pode ser representado como um decimal (ou expansão decimal)
finito, periódico ou infinito não periódico. Para ficar mais claro, observe os
exemplos a seguir:

π = 3,141592653589793…

Nesses exemplos, é representado por um decimal finito; já é represen-


tado por um decimal periódico, também conhecido como dízima periódica.
A barra sobre 142857 destaca que essa sequência se repete indefinidamente.
No caso do π, temos uma expansão decimal infinita, mas não periódica (RO-
GAWSKI, 2008).
Denota-se o conjunto dos números reais por R, em negrito. Utiliza-se o
símbolo ∈ para indicar que “pertence a”, com em:

a ∈ R é lido como “a pertence a R”

Vejamos agora alguns conjuntos que estão contidos no conjunto dos nú-
meros reais: elemento “pertence” a um conjunto. Subconjunto “está contido”
em um conjunto.
Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica) 3

O conjunto dos números inteiros, denotado pela letra Z, é composto por


números negativos e positivos. Assim, Z = {…, –2, –1, 0, 1, 2, …}. Um número
natural é um número inteiro não negativo. O conjunto dos números racionais
é composto por aqueles números que podem representar um quociente , em
que p e q são inteiros com q ≠ 0, ou seja, as frações podem representa-los.
Esse conjunto é denotado pela letra Q. Cabe destacar que os números como π
e não são racionais, e sim denominados irracionais (ROGAWSKI, 2008).

Segundo Rogawski (2008), podemos dizer que um número é ou não racional a partir
de sua expansão decimal. Ou seja, números racionais têm expansões decimais finitas
ou periódicas, e números irracionais têm expansão infinitas que não são periódicas.

A reta numérica nos permite visualizar os números reais como pontos sobre
ela. A Figura 1, a seguir, mostra o conjunto dos números reais representado
como uma reta.

Figura 1. Representação dos números reais na reta


numérica.
Fonte: Rogawski (2018, p. 1).

O valor absoluto de um número real, conforme representação na Figura 2,


pode ser observado quando olhamos para o módulo desse número. Ou seja:
4 Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica)

Figura 2. Valor absoluto |a|.


Fonte: Rogawski (2018, p. 1).

Vejamos alguns exemplos numéricos do valor absoluto de um número real:

|3, 1| = 3, 1
|–10| = 10
|4| = |–4| = 4
|5 ∙ 3| = |5| ∙ |3| = 15

Observe que a distância entre dois números reais a e b é |b – a|, ou seja, é


o comprimento do segmento de reta que liga a a b, como mostra a Figura 3
(ROGAWSKI, 2008).

Figura 3. Distância entre a e b é |b – a|.


Fonte: Rogawski (2018, p. 2).

Rogawski (2008) destaca que, dados os números reais a < b, teremos quatro
intervalos com extremidades a e b. O intervalo fechado [a, b] é o conjunto de
todos os números reais x, tais que a ≤ x ≤ b. Note que a e b fazem parte e estão
contidos no intervalo. Algebricamente, podemos representar da seguinte forma:

[a, b] = {x ∈ R: a ≤ x ≤ b}
Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica) 5

Os intervalos aberto e semiabertos podem ser representados pelos seguintes conjuntos


da Figura 4:

Figura 4. Quatro intervalos com extremidades a e b.


Fonte: Rogawski (2018, p. 2).

O intervalo infinito (–∞, ∞) é toda reta real R. Um intervalo semi-infinito pode ser
aberto ou fechado e contém sua extremidade finita, conforme Figura 5:

Figura 5. Intervalos semi-infinitos fechados.


Fonte: Rogawski (2018, p. 2).

Função
Em nosso cotidiano, as funções estão presentes nas mais variadas situações.
No entanto, nem sempre nos damos conta disso. De acordo com Hoffmann et
al. (2018), a palavra função é utilizada para designar a ação de exercer uma
influência, ou seja, certa grandeza ou característica depende de outra. Sendo
assim, função pode ser definida como “uma regra que associa a cada objeto
de um conjunto A e apenas um objeto de um conjunto B. O conjunto A é
chamado de domínio da função, e o conjunto B é chamado de contradomínio”
(HOFFMANN et al., 2018, p. 2).
6 Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica)

Pode-se pensar em uma função como um mapeamento de números em um domínio A


para números em um contradomínio B, como mostra a Figura 6a; ou em uma máquina
que transforma um número do conjunto A em um número do conjunto B, usando um
processo especificado pela regra funcional, como mostra a Figura 6b.

B Entrada f Saída
A Máquina f(x)
x

(a) Função como um mapeamento (b) Função como uma máquina

Figura 6. Interpretações da função f.


Fonte: Hoffmann et al. (2018, p. 2).

Lembre-se de que existe um, e apenas um, número no contradomínio (conjunto de


saída) associado a cada número do domínio (conjunto de entrada).

Hoffmann et al. (2018) destacam que, às vezes, é conveniente representar


uma relação funcional como uma equação do tipo y = f(x). Nesse contexto, x
e y são chamados de variáveis. Em particular, como o valor numérico de y é
determinado pelo valor de x, y é chamado de variável dependente, e x de variável
independente. Não havendo condições adicionais, supomos que o domínio de
uma função f é o conjunto de todos os números x para os quais f(x) existe.
Além disso, para determinar o domínio de uma função, é necessário excluir,
por exemplo, os números x que resultam em uma divisão por zero ou uma
raiz quadrada de um número negativo. Vejamos, a seguir, alguns exemplos.

Exemplo 1

Vamos determinar os domínios das seguintes funções:


Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica) 7

Como a divisão por qualquer número diferente de zero é possível, o domínio


de f(x) é o conjunto de todos os números x ≠ 4.

Como o denominador x2 + 3 de f(x) é um número positivo para qualquer


valor de x, não precisamos nos preocupar com a divisão por zero. Entretanto,
os números x, tais que 2 – x < 0, devem ser excluídos do domínio porque a raiz
quadrada de um número negativo não é um número real. Assim, o domínio de
f(x) é o conjunto de números x, tais que 2 – x ≥ 0, ou seja, x ≤ 2.

Exemplo 2

Se A = {1, 2, 3, 4, 5}, B = Z (o conjunto dos números inteiros) e f de A em B


for a função que associa a cada elemento de A o seu dobro, então:

„„ a lei de formação de f pode ser escrita como y = 2x ou f(x) = 2x;


„„ a imagem do elemento 1 é 2, isto é, f(1) = 2 ∙ (1) = 2;
„„ a imagem do 2 é o 4, isto é, f(2) = 2 ∙ 2 = 4;
„„ o domínio de f é o conjunto A, isto é, D( f ) = {1, 2, 3, 4, 5};
„„ a imagem de f é o conjunto Im( f )={2, 4, 6, 8, 10}.

Observação: note que, apesar de o contradomínio ser o conjunto Z dos números


inteiros, nem todo elemento do contradomínio pertence ao conjunto imagem,
uma vez que, por exemplo, 3 e –2 não são o dobro de nenhum elemento de A
(BRAGA, 2012).

Exemplo 3

Ambientalistas estimam que, em certa cidade, a concentração média diária


de monóxido de carbono no ar será c(p) = 0,5p + 1 partes por milhão quando
a cidade tiver uma população de p mil habitantes. Um estudo demográfico
indica que a população da cidade dentro de t anos será p(t) = 10 + 0,1t2 mil
habitantes (HOFFMANN et al., 2018).
8 Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica)

a) Determine a concentração média de monóxido de carbono no ar


em função do tempo.
Como a concentração de monóxido de carbono está relacionada com
a variável p por meio da equação c(p) = 0,5p + 1, e a variável p está
relacionada com a variável t pela equação p(t) = 10 + 0,1t2, a função
composta

c(p(t)) = c(10 + 0,1t2) = 0,5(10 + 0,1t2) + 1 = 6 + 0,05t2

expressa a concentração de monóxido de carbono no ar em função da


variável .
b) Daqui a quanto tempo a concentração de monóxido de carbono
atingirá o valor de 6,8 partes por milhão?
Fazendo c(p(t)) igual a 6,8 e explicando t, obtemos:

6 + 0,05 t2 = 6,8

Subtraindo 6 de ambos os membros:

0,05t2 = 0,8

Dividindo ambos os membros por 0,05:

Extraindo a raiz quadrada de ambos os membros:

Desprezando a raiz negativa, pois não pertence ao domínio de nossa


função, uma vez que a variável independente t representa o tempo.
Assim, a concentração de monóxido de carbono chegará a 6,8 partes
por milhão daqui a quatro anos.
Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica) 9

Gráficos de funções
Nesta seção, você estudará a representação gráfica de algumas funções. De
acordo com Braga (2012), os gráficos são uma excelente forma de visualizar-
mos funções em que as entradas e saídas são números reais. Além disso, o
autor destaca que é possível aplicar o teste da reta vertical para verificar se
um gráfico representa uma função, já que qualquer reta vertical no plano só
poderá interceptar o gráfico de uma função, no máximo, em um único ponto,
não podendo cortar o gráfico duas vezes. Se assim fosse, teríamos dois pontos
diferentes (x, y1) e (x, y2) pertencentes a f, em que y1 ≠ y2, contradizendo a
definição de função. Observe, a seguir, alguns exemplos:

Exemplo 4

Veja, na Figura 7, a construção do gráfico de (BRAGA, 2012).

Figura 7. Gráfico da função .


Fonte: Braga (2012, p. 8).
10 Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica)

Exemplo 5

Veja, na Figura 8, a construção do gráfico de f(x) = x2 – x – 2 (BRAGA, 2012).

Figura 8. Gráfico da função f(x) = x2 – x – 2.


Fonte: Braga (2012, p. 8).

Exemplo 6

O círculo x2 + y2 = 9, de raio 3, não pode ser o gráfico de uma função, pois


existem retas verticais que contêm mais do que um ponto do círculo. Veja, na
Figura 9, que os pontos (0, 3) e (0, –3) pertencem ao círculo, e 3 ≠ –3, o que
está em desacordo com a definição de função (BRAGA, 2012).
Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica) 11

Figura 9. Gráfico de x2 + y2 = 9.
Fonte: Braga (2012, p. 9).

Exemplo 7

Seja uma função f: R → R definida por (FLEMMING; GONÇALVES, 2006):

O gráfico de f pode ser visto na Figura 10.

Figura 10. Gráfico da função f(x).


Fonte: Flemming e Gonçalves (2006, p. 15).
12 Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica)

Exemplo 8

Seja f(x) = |x|. Quando x ≥ 0, sabemos que f(x) = x. Quando x < 0, f(x) = –x. O
gráfico de |x| pode ser visto na Figura 11 (FLEMMING; GONÇALVES, 2006).

Figura 11. Gráfico da função f(x) = |x|.


Fonte: Flemming e Gonçalves (2006, p. 16).

Exemplo 9

Seja . Então, D( f ) = R – {0}, conforme gráfico da Figura 12 (FLEM-


MING; GONÇALVES, 2006).

Figura 12. Gráfico da função .


Fonte: Flemming e Gonçalves (2006, p. 16).
Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica) 13

Rogawski (2008) apresenta as classes básicas de funções que são bem-


-conhecidas e importantes, como: polinômios, funções racionais, funções
algébricas, funções exponenciais e funções trigonométricas ­– – que são funções
construídas a partir de senx e cosx, mas não são o foco desta seção. Vejamos,
a seguir, cada uma das principais.

Polinômios
Para qualquer número real m, a função f(x) = xm é denominada função potência
de expoente m. Um polinômio é a soma de múltiplas funções potência de
expoentes naturais em que o domínio são os reais (Figura 13):

f(x) = x5 – 5x3 + 4x

Figura 13. Polinômio f(x) = x5 – 5x3 + 4x.


Fonte: Rogawski (2018, p. 20).
14 Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica)

Racionais
Conforme Rogawski (2008), uma função racional é o quociente de dois po-
linômios (Figura 14):

Onde P(x) e Q(x) são polinômios. O domínio de uma função racional é o


conjunto de números x, tais que Q(x) ≠ 0. Por exemplo:

D( f ) = {x ∈ R:x ≠ –2 e x ≠ 1}

Figura 14. Função racional .


Fonte: Rogawski (2018, p. 20).
Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica) 15

Algébricas
De acordo com Rogawski (2008), uma função algébrica envolve soma, produto
e quociente de raízes de polinômios e funções racionais (Figura 15):

Um número x pertence ao domínio de f se cada expressão da fórmula de f


estiver definida e o resultado não envolver divisão por zero.

D( f ) = {x ∈ R: –1,81753 ≤ x ≤ 1,81735}
Im( f ) = {f ∈ R: 0 ≤ f ≤ 1,80278}

Figura 15. Função algébrica .


Fonte: Rogawski (2018, p. 20).

Exponenciais
Rogawski (2008) define função exponencial como a função f(x) = bx, onde
b > 0, em que b é a base:
16 Números reais, funções e gráficos (linear, quadrática e trigonométrica)

A função f(x) = bx é crescente se b > 1 e decrescente se b < 1, como mostra


a Figura 16. A inversa de f(x) = bx é a função logaritmo y = logbx.

Figura 16. Funções exponenciais.


Fonte: Rogawski (2008, p. 22).

BRAGA, R. O. Cálculo I: estudo da derivada. São Leopoldo: Unisinos, 2012. 190 p.


FLEMMING, D. M.; GONÇALVES, M. B. Cálculo A: funções, limite, derivação, integração.
6. ed. São Paulo: Pearson, 2006. 464 p.
HOFFMANN, L. D. et al. Cálculo: um curso moderno e suas aplicações. 11. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2015. 680 p.
ROGAWSKI, J. Cálculo. Porto Alegre: Bookman, 2008. 2 v. 1248 p.
ANÁLISE REAL
Propriedades
algébricas dos
números reais
Fabrício Nascimento Silva

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever conjuntos finitos, infinitos, enumeráveis e não enumeráveis.


>> Distinguir grandezas comensuráveis e incomensuráveis.
>> Explicar o ínfimo e o supremo de um conjunto.

Introdução
Quando podemos contar os números pertencentes a um conjunto, ou seja, eles
podem ser colocados na forma de lista, temos o chamado conjunto enumerável.
Já o conjunto não enumerável é aquele cujos números não aceitam ser colocados
em lista.
Conjuntos numéricos infinitos são os conjuntos que têm uma quantidade de
números tão grande que não se pode definir qual seu fim, ou seja, não se pode
definir qual é o último elemento desse conjunto; no entanto, esses conjuntos
infinitos podem ser colocados na forma de lista, sendo, então, chamados de
conjuntos infinitos enumeráveis.
É importante destacar desde o início que, ao aprendermos sobre os conceitos
de números enumeráveis e não enumeráveis, vamos delimitar que os racionais
seriam um exemplo do primeiro; e os reais, um exemplo do segundo.
Neste capítulo, você vai estudar sobre conjuntos, seus conceitos, suas defini-
ções e suas aplicações em áreas diversas.
2 Propriedades algébricas dos números reais

Conjuntos e operações
Pode-se definir um conjunto como qualquer agrupamento (reunião) de obje-
tos, ilustrados ou definidos pela enumeração ou por uma característica que
apresentem. Cada um desses objetos é considerado elemento do conjunto e
é bem definido, diferente dos demais, atendendo às condições do conjunto.
Por exemplo, podemos enumerar o conjunto dos estados do Brasil, o
conjunto dos móveis em uma sala de aula, ou o conjunto das consoantes do
alfabeto. Normalmente, nomeamos um conjunto com uma letra maiúscula
qualquer e seus elementos com letras minúsculas quaisquer separadas por
vírgulas e colocadas entre chaves.
Como exemplo de nomenclaturas, podemos citar o conjunto dos estados
do Brasil, como E = {Goiás, Brasília, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais, ...}, lê-se: conjunto E cujos elementos são os estados do Brasil.
Dizemos que esses elementos fazem parte desse conjunto e pertencem ao
conjunto que determinam. Disso tiramos que Goiás pertence ao conjunto dos
estados do Brasil, assim como a letra B pertence ao conjunto das consoantes
do alfabeto, mas uma cama não pertence ao conjunto dos móveis de uma
sala de aula, o que escrevemos da seguinte forma:
Goiás ∈ E (lê-se: Goiás pertence ao conjunto E). Se a cama não for elemento
do conjunto C das consoantes do alfabeto, escrevemos: a cama ∉ C (lê-se: a
elemento cama não pertence ao conjunto C).
Segundo Ávila (2006), um conjunto pode ser determinado de três maneiras
distintas: por enumeração, por extensão ou por compreensão.
A enumeração é quando conhecemos e conseguimos falar todos os ele-
mentos de um determinado conjunto, por exemplo, podemos falar o conjunto
das letras vogais V = {a, e, i, o, u}.
A extensão é quando não é possível falar ou enumerar todos os elementos
de um conjunto, mas podemos falar ou enumerar alguns, ou seja, uma parte
deles, usando reticências para demostrar os outros, e falamos, ou não, o último
elemento para simbolizar o final desse conjunto. Por exemplo, o conjunto
das letras consoantes C = {b, c, d, f,..., z}.
A compreensão é quando falamos ou utilizamos uma característica que
todos os elementos desse conjunto possuem — e somente eles possuem tal
característica. Esse tipo de definição tem uma forma própria de se descrever.
Se o conjunto B dos elementos x tem uma característica C, vamos defini-lo
da seguinte forma: B = {x / x é C}, e falamos da seguinte forma: o conjunto B
é definido pelos elementos “x” tal que “x” atende à característica “C”. Assim,
Propriedades algébricas dos números reais 3

se conseguirmos escrever e caracterizar o conjunto dos números naturais,


descrevemos ele por N = {x / x é natural}.
Podemos, ainda, definir como sendo um subconjunto o conjunto que
está dentro de outro conjunto, ou seja, está contido nele. Como exemplo
dessa definição podemos falar o conjunto C = {b, c, d}, que é um subconjunto
do conjunto das consoantes, e podemos assim verificar que existem várias
maneiras de se formar outros subconjuntos a partir do conjunto original.
Ainda segundo Ávila (2006), o conjunto A é dito um subconjunto de B ou
dizemos que A é uma parcela de B, ou, ainda, que A está dentro de B, ou
seja, A está contido em B, e escrevemos A ⊂ B se a seguinte condição está
satisfeita: todo elemento de A pertence a B; podemos, ainda, enunciar que
B contém A e escrevemos B ⊃ A.
Outro conjunto que é muito importante de estudarmos e definirmos é o
conjunto vazio, denotado por ∅, que é um conjunto que não possui nenhum
elemento, ou seja, não existe x tal que x ∈ ∅.

Conjuntos naturais e inteiros


O conjunto N = {1, 2, 3, . . . } é usado para contagens e tem sua utilização e
definição sendo usadas durante várias passagens da história, pois desde os
primórdios da humanidade já se tem conhecimento do uso de números na
contagem; como exemplos, citamos os povos maias, incas, egípcios, gregos,
dentre outros. Esse conjunto é considerado algo tão natural, que N é cha-
mado de conjunto dos números naturais, e com certeza é o primeiro conjunto
numérico que aparece no decorrer da história de qualquer civilização ou em
qualquer escrito ou achado sobre os fundamentos da matemática de que se
tem conhecimento.
O conjunto Z = {. . . , −2, −1, 0, 1, 2, . . . }, conhecido popularmente como o
conjunto dos números inteiros, se forma da necessidade de lidar com números
negativos ou menores do que o valor base neutro, que seria o número zero.
Em geral dizemos que o conjunto dos inteiros nada mais é do que a imagem
ou espelho do conjunto dos números naturais no lado negativo.

Conjuntos racionais
De maneira simples e sem alardes, podemos definir os racionais como a união
entre os números inteiros e os números advindos de frações com divisões
não exatas, a qual resulta em números decimais ou em dízimas periódicas.
4 Propriedades algébricas dos números reais

Ávila (2006) define o conjunto dos racionais da seguinte forma: a partir do


momento que trabalhar com números inteiros já não basta para resolvermos
os desafios e problemas encontrados, estamos, então, diante de um novo
conjunto numérico, o conjunto dos números racionais, que compreende o
conjunto dos números inteiros e mais o conjunto formado pelos números
fracionários.
Com a criação desses números, nos parece que é sempre possível exprimir
a medida de um segmento tomando outro como unidade. Além disso, a divisão
de números inteiros m e n pode agora sempre exprimir-se simbolicamente
pelo número racional m:n.
Assim, o conjunto dos números racionais constitui uma generalização do
conjunto dos números inteiros (note que obtemos os números inteiros dos
racionais fazendo n = 1).
O conjunto dos racionais seria, assim, um conjunto em que poderíamos
contar a quantidade de seus elementos, pois seria muito parecido com a
contagem dos elementos do conjunto dos inteiros, sendo, assim, um conjunto
enumerável.
Das propriedades do sistema dos números reais, a maior característica é
a de ser completo. Intuitivamente, ela diz que o conjunto dos números reais
não tem buracos.

Cardinalidade
De maneira bem simplificada, dizemos que a cardinalidade de um conjunto
nada mais é do que o número de elementos que pertencem a esse conjunto.
Podemos usar como um exemplo de aplicação dizer que a cardinalidade do
conjunto formado pelos números naturais e menores que cinco é o valor 5,
pois o conjunto seria formado pelos números 0, 1, 2, 3 e 4, ou seja, tem cinco
elementos.
Segundo Anton, Bivens e Davis (2014), dois conjuntos A e B têm a mesma
cardinalidade, se e somente se, existir uma bijeção (uma função ƒ:A→B bi-
jetora é aquela ao mesmo tempo sobrejetora e injetora) entre A e B. Como
exemplo, dizemos que se A e B são conjuntos finitos (com um número finito
de elementos), então A e B têm a mesma cardinalidade se, e somente se, eles
tiverem o mesmo número de elementos.
Propriedades algébricas dos números reais 5

Conjuntos finitos, infinitos, enumeráveis e não


enumeráveis
Os objetos, coisas ou algarismos são os elementos do conjunto; como exemplo
de elementos que formam um conjunto temos as cores (azul, verde, amarelo,
vermelho, marrom, etc...) — que podemos mostrar e delimitar como sendo
o conjunto das cores.
Segundo Lima (2017), a notação In= {k ∈ ; k ≤ n} pode ser utilizada para
representar o conjunto finito dos números naturais menores que n. Temos
a partir daí que, dentro dos números naturais, existem n conjuntos K que
sempre têm um elemento k pertencente aos naturais; para tanto, dizemos
que esse conjunto formado por n elementos k é feito de subconjuntos do
conjunto dos naturais que são finitos. Por isso, o conjunto dos naturais seria
a união de todos esses subconjuntos, mostrando para nós que o conjunto
dos naturais é também um conjunto finito.
Um conjunto X diz-se finito quando é o conjunto vazio, ou então quando existe
n ∈ e uma bijeção f: In → X. Escreve-se
temos então Essa bijeção é dita uma contagem dos
elementos de X, e o número n chama-se o número de elementos ou cardina-
lidade do conjunto X.
Segundo Lima (2017), seja A um conjunto não vazio. Se existe n ∈ N e uma
função injetiva g: A → {1, . . . , n}, diremos que A é finito, caso contrário, A é
infinito. O menor número n que verifica essa propriedade é dito número de
elementos de A. Escrevemos #A = n. Diremos também que o conjunto vazio é
finito e que seu número de elementos é 0. O mesmo autor diz, ainda, que um
conjunto é infinito quando este não é finito. Assim, X é infinito quando não
é vazio nem existe, seja qual for n ∈ ℕ, uma bijeção f: In → X. Por exemplo, o
conjunto ℕ dos números naturais é infinito.
Para representar um conjunto, colocamos seus elementos entre chaves e
sempre o nomeamos por uma letra maiúscula; por exemplo, o conjunto X, o
conjunto Y, o conjunto F e, no caso do conjunto das cores, podemos escrever
assim: conjunto CORES = {azul, verde, vermelho, amarelo, marrom, etc...}.
É importante, ainda, salientar que em linguagem matemática os conjuntos
são utilizados de forma abundante em relação aos números e se dividem nos
conjuntos dos naturais, inteiros, racionais, irracionais, reais e complexos.
Ainda segundo Lima (2017), um conjunto X é dito enumerável quando é
finito ou quando existe uma bijeção f: ℕ → X. Nesse caso, f chama-se uma
enumeração dos elementos de X.
6 Propriedades algébricas dos números reais

Ainda segundo o mesmo autor, dizemos que um conjunto A é enumerável se


ele é vazio ou se existe uma função injetiva f : A → N. Caso contrário, dizemos
que A é não enumerável.
É importante, ainda, falarmos sobre os conjuntos não enumeráveis; para
tanto, é quase impossível dissociar seu estudo do estudo do famoso cientista
e matemático George Cantor.
Foi com os estudos de Cantor que passamos a saber da existência de
conjuntos não enumeráveis, e, mais especificamente, que tomando qualquer
conjunto X, existe sempre um conjunto cujo número cardinal é maior do que
o de X.
Podemos usar como exemplo desse tipo de conjunto o conjunto dos nú-
meros reais. Para conseguirmos diferenciar um conjunto como sendo finito,
infinito enumerável e infinito não enumerável, usamos o número de elementos
do conjunto da seguinte forma escrita a seguir.
No teorema de Cantor, um conjunto finito seria aquele cujos elementos
têm o mesmo número (cardinal) e podem ser postos em correspondência
biunívoca (LIMA, 2017). De maneira semelhante, Cantor se propôs a construir
conjuntos infinitos conforme a sua " potência" e chegou à conclusão de que
conjuntos infinitos não são todos iguais, pois há conjuntos infinitos que
poderiam ser organizados em forma de lista ou escala; e outros, não. Isso
definiria de forma breve o que seriam, então, conjuntos infinitos enumeráveis
e conjuntos infinitos não enumeráveis.
O conjunto dos reais seria, assim, um exemplo caro de um conjunto não
enumerável, já que vimos a definição de um conjunto X e dito não enumerável,
quando não é possível obter uma bijeção de ˜ X com o conjunto dos números
naturais, e aqui vimos que os reais não fazem essa bijeção.
É importante salientar que a noção de conjunto enumerável está dire-
tamente ligada ao conjunto N dos números naturais, pois traz a ideia de
contagem de seus elementos. Por isso usamos muito a ideia aqui já discutida
de cardinalidade; se quisermos saber mais a respeito de N, teremos que
tomar conhecimento da teoria dos números naturais a partir dos axiomas
de Peano, que não é o foco desse material e ficará para o estudo de um
segundo momento.
O conjunto dos números racionais é enumerável. Como visto na construção
do conjunto dos números racionais, cada número racional é representado de
maneira única como p/q, com p ∈ Z e q ∈ N na forma irredutível. Temos que o
conjunto Q+ (elementos positivos) é equipotente ao conjunto Q− (elementos
negativos), sendo que Q = Q+ ∪ {0} ∪ Q−.
Propriedades algébricas dos números reais 7

Logo, para mostrarmos que o conjunto Q é enumerável, é suficiente mos-


trar que Q+ é enumerável. Agora consideremos a seguinte função claramente
bijetora f : Q+ → N × N, dada por f(p/q) = (p, q). Temos então que Q+ é equipo-
tente a f(Q+) ⊂ N × N. Como o conjunto Q+ é um superconjunto de N, que é um
conjunto infinito, então ele é infinito e f(Q+) é um subconjunto infinito de N
× N, que é um conjunto enumerável, como provado anteriormente. Portanto,
f(Q+) é enumerável e como f(Q+) é equipotente a Q+, então Q+ é enumerável
e, consequentemente, Q também é enumerável.
O conjunto dos números reais R é não enumerável. Vamos supor, por
absurdo, que o conjunto dos números reais seja enumerável. Então, pelo
teorema que fala que todo subconjunto infinito de R é também enumerável,
mas o intervalo ]0, 1[ ⊂ R é não enumerável, temos que, portanto, o conjunto
dos números reais é não enumerável.
O conjunto dos números irracionais é não enumerável. De fato, temos que
R = Q ∪ (R − Q). Temos que Q é enumerável, como vimos anteriormente. Se
R−Q também fosse enumerável, teríamos que R também seria enumerável,
pois reunião de conjuntos enumeráveis é enumerável. Mas, pelo parágrafo
anterior, R é não enumerável. Portanto, o conjunto dos números irracionais
é não enumerável.
Os conjuntos numéricos são a base da matemática fundamentais para a
entendermos.

Grandezas comensuráveis e
incomensuráveis
Podemos diferenciar as grandezas comensuráveis e incomensuráveis usando
a linguagem coloquial de várias pessoas em seu dia a dia, como por exemplo:
O carinho que sinto por você é incomensurável.
Essa expressão quer dizer que o carinho não pode ser medido; sendo
assim, uma grandeza incomensurável seria uma grandeza que não se pode
medir e a grandeza comensurável seria aquela que pode ser medida e que
tem a mesma unidade de medida de referência.
Podemos citar como exemplos de grandeza comensurável o perímetro de
um retângulo e a medida da diagonal desse mesmo retângulo.
Segundo Lima (2017), a existência de segmentos incomensuráveis implica
a insuficiência dos sistemas numéricos até então conhecidos — os números
naturais e os números racionais; esses números já não bastavam para efetuar
8 Propriedades algébricas dos números reais

medidas dos objetos geométricos mais simples, como o quadrado e o círculo,


e não se tinham valores precisos e verdadeiros.
Para resolver os problemas encontrados nesses tipos de cálculo, chegou-
-se a solução que se propôs, na época, e que demorou décadas e talvez até
séculos para ser completamente elucidada — aumentar os conceitos de
números existentes até então. A partir daí, surgem os chamados números
irracionais, que foram usados como valor fixo de unidade de comprimento
adotada e creditada a qualquer segmento de reta que poderia ser medido
com valores numéricos; isso incluía valores antes não medidos de forma exata
como a diagonal de um retângulo.
Um número comensurável seria, então, a medida de um segmento unitário
que correspondesse à unidade escolhida, e sua medida seria um número
racional. Já as medidas dos segmentos em que a unidade escolhida não
pudesse ser medida teriam como medida um número irracional, o qual de-
finimos como sendo a razão entre dois números inteiros em que a resposta
não seja um número racional.
Segundo Ávila (2006), as frações não eram números, já que elas apare-
ciam como relações entre grandezas da mesma espécie. Agora que haviam
sido descobertas grandezas incomensuráveis, estava claro que os números
(naturais) eram insuficientes até mesmo para definir a razão entre duas
grandezas, o que se constituía em um sério entrave à filosofia pitagórica.
A crise desencadeada com a descoberta dos incomensuráveis, de imediato
tornou impossível falar sobre razão entre duas grandezas quando essas
fossem incomensuráveis.
As aplicações desses dois conceitos são muito importantes ao estudarmos
a análise de dados, pois uma grandeza incomensurável é bem mais complexa
de se estudar e analisar do que uma que seja comensurável.
Segundo outra doutrina pitagórica, “tudo é número”, ou seja, tudo podia
ser explicado por meio dos números (inteiros) e suas razões (números ra-
cionais). Acreditava-se, também, que dados dois segmentos quaisquer, eles
eram sempre comensuráveis, isto é, que existia um terceiro segmento, menor
que os dois primeiros, tal que cada um deles era múltiplo inteiro do menor.
Em termos modernos, se a e b são os comprimentos dos dois segmentos,
então existe um segmento de comprimento c e dois inteiros m e n tais que
a = mc e b = nc. Daí conclui-se que a/b = m/n. Muitas das demonstrações da
época eram baseadas nesse fato. Vejamos o que, junto com o teorema de
Pitágoras, isso acarreta.
Consideremos um quadrado de lado 1 e seja d o comprimento de sua
diagonal. Pelo teorema de Pitágoras, d2 = 12 + 12 = 2. Pela comensurabilidade
Propriedades algébricas dos números reais 9

entre a diagonal e o lado, existem inteiros m e n tais que d/1 = m/n. Podemos
supor, sem perda de generalidade, que m e n não têm divisor comum maior
que 1. Assim, 2 = d2 = m2/n2. Segue que m2 = 2n2 e, portanto, m2 é par, o que
implica que m também é. Logo, existe um inteiro p tal que m = 2p. Temos
então 2n2 = m2 = 4p2 e, portanto, n2 = 2p2. Daí concluímos que n2 é par e, logo,
n também é. Provamos que tanto m quanto n são pares, contradizendo o fato
de que eles não possuem divisor comum maior que 1. Isso mostra que 1 e d
são incomensuráveis.
A comensurabilidade entre dois segmentos quaisquer é equivalente ao fato
de que todo número é racional! A incomensurabilidade entre 1 e d significa
que não é racional. Isto mostrou aos pitagóricos que, ao contrário do
que eles preconizavam, os números (inteiros) e suas razões não eram capazes
de explicar tudo. Acredita-se que esse resultado foi descoberto e revelado
por Hippasus de Metapontum que, por esse motivo, foi expulso da confraria
(pior, segundo a lenda, ele foi jogado ao mar).

Ínfimos e supremos de um conjunto


Podemos definir o conceito de ínfimo de um conjunto como sendo o maior
valor dos valores minorantes de um conjunto, ou seja, dos valores da cota
inferior ou menores, o ínfimo é o maior deles.
Segundo De Maio (2007), seja X ⊆ R limitado superiormente e não vazio,
b ∈ R chama-se o supremo de X quando é a menor das cotas superiores de X .
Notação: b = supX . Seja X ⊆ R limitado inferiormente e não vazio, b ∈ R chama-
-se o ínfimo de X quando é a maior das cotas inferiores. Notação: b = supX .
A principal finalidade de estudarmos sobre esses dois conceitos é ante-
cipar a ideia de limitantes superiores e inferiores de um conjunto e saber a
importância de se calcular o limite de uma função e achar os valores referentes
a esses limites em um determinado conjunto.
Segundo Neri e Cabral (2006), aqui assume-se como construído o corpo
ordenado (R, +, ·, ≤) dos números reais. E, a partir disso, definimos o supremo
(simbolizado por sup) e o ínfimo (simbolizado por inf) de subconjuntos não
vazios de R. Para isso, primeiro introduzimos os conceitos de cota superior
e cota inferior.
Segundo Neri e Cabral (2006), seja A ⊂ R, não vazio. Dizemos que:

„„ r é cota superior de A se a ≤ r para todo a ∈ A;


„„ r é cota inferior de A se r ≤ a para todo a ∈ A.
10 Propriedades algébricas dos números reais

Ainda segundo o mesmo autor, é importante termos em mente as seguintes


definições:

1. Seja A ⊂ R, não vazio. Se existir s ∈ R que seja a menor cota superior


de A, isto é,
a) a ≤ s para todo a ∈ A (s é cota superior);
b) se r é cota superior de A, então s ≤ r (s é a menor cota superior); então
dizemos que s é supremo (finito) de A, e escrevemos sup A = s. Quando
A é ilimitado superiormente (não existe cota superior para A), dizemos
que o supremo de A é mais infinito e escrevemos sup A = +∞.
3. Seja A ⊂ R, não vazio. Se existir i ∈ R que seja a maior cota inferior de
A, isto é,
a) i ≤ a para todo a ∈ A (s é cota inferior);
b) se r é cota inferior de A, então r ≤ i (s é a maior cota inferior); então
dizemos que i é ínfimo (finito) de A, e escrevemos inf A = i. Quando A é
ilimitado inferiormente (não existe cota inferior para A), dizemos que
o ínfimo de A é menos infinito e escrevemos inf A = −∞.

É importante, ainda, saber que todo conjunto não vazio de números reais
limitado superiormente possui um supremo e, para seu cálculo, usamos o
limite à direita da função em estudo; também devemos saber que todo con-
junto não vazio de números reais limitado inferiormente possui um ínfimo
que é calculado pelo limite à esquerda da função em estudo.

O ínfimo é sempre menor ou igual ao supremo e eles podem chegar


a ser iguais se pensarmos em um conjunto unitário ou nulo.

Outra informação importante é que haverá conjuntos em que não existe o


ínfimo e existe o supremo, assim como conjuntos em que não existe o supremo,
mas existe o ínfimo. Como exemplo disso podemos usar um conjunto definido
por x pertencente aos reais em que x é maior ou igual a zero e menor que
1 — temos aí um conjunto em que o ínfimo é zero e o supremo não existirá,
pois não existirão valores maiores ou iguais a um.
Nos estudos matemáticos, chegamos a definições que são muito difundi-
das e confundidas entre si. Algumas destas são os conceitos de majorante/
cota superior, minorante/cota inferior, máximo, mínimo, supremo e ínfimo.
Deixamos aqui bem claro que, apesar de estarem relacionados e de estarem
Propriedades algébricas dos números reais 11

ligados, esses conceitos são bem diferentes e é importante que sejam estu-
dados e aplicados de maneira correta e clara.

„„ Chamamos de cota superior, limite superior ou majorante os valores


assumidos dentro de um conjunto, de forma que nenhum outro valor
qualquer desse conjunto seja maior que esse valor, ou seja, esse será
o maior valor encontrado ou assumido dentre os elementos desse
conjunto.
„„ Chamamos de conta inferior, limite inferior ou minorante os valores
assumidos dentro de um conjunto de forma que nenhum outro valor
qualquer desse conjunto seja menor que esse valor, ou seja, esse será o
menor valor encontrado ou assumido dentre os elementos do conjunto.
„„ Chamamos de ínfimo de um conjunto o maior valor assumido dentro
dos valores minorantes desse conjunto e dizemos que esse conjunto
é limitado inferiormente. O ínfimo é, então, o maior valor dentre os
menores valores dos elementos desse conjunto.
„„ Chamamos de supremo de um conjunto o menor valor assumido dentro
dos valores majorantes desse conjunto e dizemos que esse conjunto
é limitado superiormente. O supremo é, então, o menor valor dentre
os maiores valores dos elementos desse conjunto.

Esses conceitos adquirem relevância desde o início dos estudos dos nú-
meros reais e estão ligados diretamente à ideia de limite usada nos conceitos
dos fundamentos do cálculo e que são a base de estudos básicos e avançados
da derivada e da integral; sem o entendimento do limite, realmente seria
impossível compreender esses novos conceitos, que são base a todas as
áreas das ciências exatas e da natureza.
Antes de finalizarmos essa seção, é importante colocar aqui o axioma
do supremo:
Se A ⊆ R é um subconjunto não vazio e limitado superiormente, então ∃
S ∈ R t.q. S = sup A.
A razão de se mencionar que A ≠ ∅ no axioma do supremo é que o con-
junto vazio é limitado superiormente, mas qualquer número real é uma cota
superior para ele, não existindo então a menor de todas.
Dizemos que um corpo ordenado K satisfaz o axioma do supremo se para
cada subconjunto C ⊂ K não vazio e limitado superiormente existe sup C em K.
Tomamos, ainda, como base o teorema que diz: existe um corpo ordenado
que tem a propriedade do supremo. Além disso, esse corpo contém Q como
subcorpo.
12 Propriedades algébricas dos números reais

Há duas demonstrações, ambas bastante longas e trabalhosas, para esse


teorema. Cada uma das demonstrações consiste em construir, a partir de Q,
um conjunto R que satisfaz todos os axiomas de corpo ordenado e o axioma
do supremo. O conjunto construído contém Q não apenas como subconjunto,
mas como subcorpo, isto é, as operações de adição e multiplicação definidas
em R, quando aplicadas a elementos de Q, coincidem com as operações
usuais de Q.
É possível provar também que o conjunto dos racionais positivos é com-
posto por elementos positivos de R.
É também possível demonstrar que R é o único corpo ordenado que satisfaz
a propriedade do supremo, a menos que ele não satisfaça a condição do iso-
morfismo. Intuitivamente, o axioma do supremo é o que garante que R pode
ser identificado com os pontos da reta orientada sem deixar buraquinhos.
Por esse motivo, é possível caracterizar o conjunto dos números reais
como sendo o único “corpo ordenado completo”.
A primeira apresentação rigorosa do conceito de número real foi feita
pelo matemático alemão Julius Wilhelm Richard Dedekind (1831–1916). Há
outra maneira de construir o conjunto R: por meio de sequências de Cauchy.
Os elementos de R são chamados de números reais. Dizemos que um
número real é irracional se não for racional, isto é, se for um elemento do
conjunto R − Q. Podemos agora afirmar que é o axioma do supremo que distin-
gue Q de R, já que provamos que Q não satisfaz esse axioma, mas R satisfaz.

Determine, caso existam, o supremo e o ínfimo do conjunto a seguir:

Observamos que se e somente se −5 < x ≤ , o que nos permite ver


que −5 é o ínfimo de B e é o seu supremo. Note que, neste exemplo, o ínfimo
não pertence ao conjunto B, enquanto o supremo pertence a B.

Para finalizar, é importante dizermos que o estudo dos ínfimos e supremos


é muito interessante quando temos o pensamento mais a frente, que seria
estudar sobre limites de uma função e os valores dos limites à esquerda e à
direita de uma função qualquer.
Propriedades algébricas dos números reais 13

Referências
ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. L. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. 1 v.
ÁVILA, G. Análise matemática para licenciatura. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2006.
DE MAIO, W. (coord.). Fundamentos de matemática: cálculo e análise. Rio de Janeiro:
LTC, 2007.
LIMA, E. L. Análise real. 12. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2017. v 1.
NERI, C.; CABRAL, M. Curso de análise real. Rio de Janeiro: Autores, 2006.

Leituras recomendadas
AYRES JR., F.; MENDELSON, E. Cálculo. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. (E-book).
HUGHES-HALLETT, D. et al. Cálculo: a uma e a várias variáveis. 5. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2011. v. 1.
LIMA, E. L. Curso de análise. 14. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2017. v. 1.
LIPSCHUTZ, S.; LIPSON, M. Matemática discreta. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
(Coleção Schaum).
ANÁLISE REAL
Continuidade
de funções
Cristiane da Silva

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir função contínua utilizando a ideia de limites.


>> Reconhecer funções contínuas em conjuntos conexos e em conjuntos com-
pactos.
>> Identificar os tipos de descontinuidade de uma função.

Introdução
Informalmente, quando pensamos em função contínua, podemos associá-la
àquela cujo gráfico pode ser desenhado sem tirar o lápis do papel, ou seja, de
maneira interrupta (sem quebras ou saltos). No entanto, é importante evidenciar
que o estudo da continuidade de uma função está vinculado ao estudo de limite.
Isso implica, formalmente, que uma função f(x) será contínua em x = a quando
algumas condições forem satisfeitas. Podemos reconhecer as funções contínuas
em conjuntos conexos, aqueles em que não há qualquer maneira de dividir seus
elementos em dois conjuntos dicotômicos e bem separados, e em conjuntos
compactos, aqueles em que “[...] para um dado espaço métrico (K, dK) e para toda
f:K → contínua existir um x* ∈ K tal que f(x*) = infx∈Kf(x). Se K X, dizemos que
K é compacto se K é compacto com a métrica induzida por X” (OLIVEIRA, 2014).
Neste capítulo, vamos definir função contínua de forma mais intuitiva e pela
ideia de limites. Também ensinaremos o leitor a reconhecer funções contínuas
em conjuntos conexos e compactos e, por fim, explicaremos os três tipos básicos
de descontinuidade de uma função.
2 Continuidade de funções

Função contínua
Para compreendermos o significado de função contínua, vamos pensar em
uma bola que é arremessada. Ela seguirá uma trajetória como uma curva
sem interrupções, ou seja, uma trajetória contínua, como vemos na Figura 1.

Figura 1. Lançamento de uma bola.

Podemos definir uma função contínua por seu gráfico ou sua definição.
O gráfico é um recurso visual que auxilia no entendimento da definição. No
caso da função contínua, é como se você utilizasse um lápis para desenhar
uma curva sem tirá-lo do papel (Figura 2).

Figura 2. Função contínua.

Perceba que não há qualquer quebra, qualquer salto. A Figura 2 apresenta


uma linha contínua, sem descontinuidade. Isso posto, precisamos enten-
der quais propriedades de uma função podem causar quebras ou buracos.
Acompanhe a Figura 3.
Continuidade de funções 3

Figura 3. Funções descontínuas.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 110).

Anton, Bivens e Davis (2014) explicam que uma função terá uma quebra
ou buraco em um ponto x = c, como mostra a Figura 3, nos seguintes casos:

1. a função f não está definida em c, como mostra a Figura 3a;


2. o limite de f(x) não existe quando x tende a c, como mostram as Figuras
3b e c;
3. o valor da função e o valor do limite em c são diferentes, como mostra
a Figura 3d.

Isso nos leva à definição de continuidade (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014):

Dizemos que uma função f é contínua em x = c se as seguintes condições


forem satisfeitas: 1) f(c) estiver definida; 2) existir; 3)

Quando uma das condições da definição falha, existe uma descontinui-


dade. Na Figura 3, observamos que f(x) tem uma descontinuidade em x = c.
Na Figura 3a, ocorre a violação da primeira condição da definição, quando
a função não está definida em c. Na Figura 3b, os limites laterais da função
quando x tende a c não são iguais, então não existe o que viola a
segunda condição da definição. Chamamos esse caso de descontinuidade
de salto em c. Na Figura 3c, os limites laterais são infinitos, então não existe
e, aqui, dizemos que a função tem uma descontinuidade infinita em
c. Na Figura 3d, a função está definida em c e o existe; porém, esses
dois valores são diferentes, o que viola a terceira condição da definição. Na
última situação, dizemos que a função tem uma descontinuidade removível
em c (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014).
Outra definição importante diz que uma função f é contínua à di-
reita em um número a se e contínua à esquerda em a se
Além disso, a função será contínua em um intervalo se for
4 Continuidade de funções

contínua em todos os números do intervalo (STEWART, 2016). Vejamos um


exemplo de Stewart (2016).

Mostre que a função é contínua no intervalo


[–1,1].
Solução:
Se –1 < a < 1, então, usando as propriedades dos limites:

Por definição, f é contínua em a se –1 < a < 1. Cálculos análogos mostram que:

Logo, f é contínua à direita em –1 e contínua à esquerda em 1. Consequen-


temente, f é contínua em [–1,1]. Confira o gráfico da função e veja que ele é a
metade inferior do círculo:

Figura 4. Gráfico da metade inferior do círculo x² + (y – 1)² = 1.


Fonte: Stewart (2016, p. 101).
Continuidade de funções 5

Para facilitar o trabalho, especialmente quando estivermos tratando de


funções contínuas complicadas, convém utilizar o seguinte teorema, que
possibilita trabalhar com funções mais simples:

Se f e g forem contínuas em a e c for uma constante, então


as seguintes funções também são contínuas em a:
1) f + g;
2) f – g;
3) cf;
4) fg;
5) f/g, se g(a) ≠ 0.

Saber quais funções são contínuas nos permite calcular mais rapidamente
alguns limites.

Existem funções que são sempre contínuas em seus domínios. Isso


significa que você não precisa realizar uma análise para esses casos,
basta conhecê-las. Veja-as a seguir (STEWART, 2016).
„„ Polinômios.
„„ Funções raízes, para x ≥ 0 em raízes pares
„„ Funções seno e cosseno.
„„ Funções trigonométricas inversas, como arcsen, arctag, etc.
„„ Funções exponenciais.
„„ Funções logarítmicas, para todo x > 0.
„„ Funções racionais.

Para Stewart (2016), outra possibilidade de combinar as funções contínuas


f e g para obter novas funções contínuas é a função composta f ° g, que vem
do seguinte teorema:

Seja f é contínua em b e então

Dito de outra forma,

Confira um exemplo de Stewart (2016).


6 Continuidade de funções

Calcule

Solução:
Uma vez que arcsen é uma função contínua:

Nesta seção, vimos a definição de continuidade de uma forma mais in-


tuitiva e, depois, no contexto das funções. Ensinamos que podemos analisar
a continuidade de uma função por meio do recurso gráfico e por meio da
definição. Além disso, estabelecemos sua relação com limite e conhecemos
teoremas que nos permitem trabalhar com funções contínuas mais simples.

Funções contínuas em conjuntos conexos e


compactos
Nesta seção, estudaremos funções contínuas em conjuntos conexos e com-
pactos. Neri e Cabral (2011) afirmam que A é um conjunto conexo se A é
um dos intervalos da seguinte definição:

Sejam a, b ∈ com a ≤ b, um intervalo é um subconjunto


de ℝ de qualquer uma das formas abaixo:
1)
2)
3)
4)
5)
6)
7)
8)
9)
Continuidade de funções 7

Quando a = b, temos [a,a] = {a} e [a,a) = (a,a) = (a,a] = ∅. Logo, o conjunto


vazio e os conjuntos unitários são intervalos. Esses dois tipos de intervalos são
ditos degenerados, enquanto outros são ditos não degenerados. O intervalo
∅ e os intervalos dos tipos (3), (6), (8) e (9) são ditos abertos. O intervalo ∅ e
os intervalos dos tipos (1), (5), (7), (9) são ditos fechados” (NERI; CABRAL, 2011).
Note que, de acordo com essa definição, o conjunto dos reais e o conjunto
vazio são os únicos intervalos que possuem a propriedade de ser abertos e
fechados ao mesmo tempo. Também podemos observar que existem intervalos
que não são abertos nem fechados.
Dito isso, Neri e Cabral (2011) destacam que uma função contínua leva
conexo em conexo, mas, para apresentar o teorema que trata dessa questão,
precisamos do teorema do valor intermediário:

Se f ∈ C([a,b]) e f(a) < k < f(b), então existe c ∈ (a,b) tal que
f(c) = k. A mesma conclusão vale quando f(a) > k > f(b).

Assim, podemos seguir para o próximo teorema, que diz que a imagem
de conexo é conexo:

Seja I ℝ um conexo e f: I → contínua, então f(I) é um conexo.

Stewart (2016) explica que o teorema do valor intermediário afirma que


uma função contínua assume todos os valores intermediários entre os valores
da função f(a) e f(b). Observe a Figura 5 e verifique que o valor de k pode ser
assumido uma vez (Figura 5a) ou mais (Figura 5b).

Figura 5. Representação gráfica do teorema do valor intermediário.


Fonte: Adaptada de Stewart (2016).
8 Continuidade de funções

Stewart (2016) destaca que o teorema do valor intermediário será verda-


deiro para aquelas funções contínuas cujo gráfico não apresente saltos ou
quebras. No entanto, quando as funções forem descontínuas, o teorema se
torna falso.
Quanto às funções contínuas em compactos, vale lembrar que, por de-
finição, um subconjunto não vazio de ℝ é compacto se, e somente se, ele é
fechado e limitado. Dito isso, podemos dizer que a imagem de compacto é
compacto, como afirmam Neri e Cabral (2011) no seguinte teorema:

Seja K um compacto e f: K → contínua, então f(K) é um compacto.

Antes de apresentar o corolário de Weierstrass, Neri e Cabral (2011) reto-


mam a definição de pontos de máximo, mínimo e extremo global:

Sejam f: A → eB A. Se f(x0) ≥ f(x) para todo x ∈ B, então dizemos


que x0 é um ponto de máximo de f em B. Neste caso, f(x0) é o valor máximo
de f em B. Se f(x0) ≤ f(x) para todo x ∈ B, então x0 é dito ponto de mínimo
de f em B e f(x0) é o valor mínimo de f em B. Se x0 é ponto de máximo ou de
mínimo em B, então x0 é chamado de extremo em B. Em particular, quando
B = A, trata-se de máximo global ou mínimo global ou extremo global de f.

Com essa definição, podemos seguir com o corolário de Weierstrass,


que diz:

Se f: [a,b] → é contínua, então f tem pontos de máximo e de mínimo em [a,b].

Outra definição importante trata da função uniformemente contínua:

Seja f: A → , diz-se que f é uniformemente contínua se


tal que implica que

De onde segue que uma função contínua em compacto é uniformemente


contínua. Acompanhe o teorema:

Seja K um compacto e f: K → contínua, então f é


uniformemente contínua em K (NERI; CABRAL, 2011).
Continuidade de funções 9

Adicionalmente, Neri e Cabral (2011) trazem a definição de função Lipschitz


contínua, importante em aplicações de análise, como nas equações diferen-
ciais. A definição diz o seguinte:

Uma função f: A → é dita Lipschitz contínua se existe K > 0 tal


que para todo x, y ∈ A. Além disso, se f é
Lipschitz contínua em A, então f é uniformemente contínua em A.

Abordaremos, agora, os pontos fixos para funções contínuas. Para tanto,


vamos recorrer à definição que diz:
Seja f: A → , dizemos que x é ponto fixo de f se f(x) = x. Para compre-
ender melhor, vejamos um exemplo.

A função f(x) = x² – x – 2 pode ser reescrita como:

onde g(x) = x²– 2. Essa função tem, como ponto fixo, o valor x = 2, pois:

Esse é exatamente o valor da raiz de f(x), pois:

Ou seja, no ponto x que corresponde à raiz de f(x), ao substituirmos o valor


de x na função g(x), teremos, como resultado, o próprio valor de x. Portanto, a
raiz de f(x) será o ponto fixo de g(x), ou seja, o valor que, ao ser substituído em
g(x), retorna o próprio valor de x.

Vejamos mais alguns teoremas e definições importantes reportados por


Neri e Cabral (2011).
10 Continuidade de funções

Teorema do ponto fixo de Brouwer:


Se f: [0,1] → [0,1] é contínua, então f tem um ponto fixo.

Definição: Seja f: A → , dizemos que f é uma contração se existe α ∈ (0,1)


tal que para todo x,y ∈ A.

Teorema do ponto fixo de Banach:

Sejam f: A → contração e X A fechado, não vazio e tal que f(X) X, então


existe um único a ∈ X que é ponto fixo de f. Mais precisamente, dado x0 ∈ X, a
sequência (xn) n∈ℕ, definida recursivamente por converge
para a.
Esse teorema também é conhecido como “método das aproximações suces-
sivas de Picard” ou “lema da contração”.

Nesta seção, vimos como reconhecer funções contínuas em conjuntos


conexos e em conjuntos compactos. Também conhecemos os pontos fixos
para funções contínuas. Direcionamos a atenção para vários teoremas e
definições importantes a respeito das funções contínuas.

Tipos de descontinuidade
Conforme discutimos nas seções anteriores, quando uma função é contínua,
espera-se que ela esteja definida para todos os valores de seu domínio.
Quando isso não ocorre, há uma descontinuidade, que pode ser classificada
em três tipos básicos:

1. removível;
2. de salto (ou de primeira espécie);
3. infinita (ou de segunda espécie).

Ávila (2006, p. 155) apresenta a definição:

Sendo a um ponto de acumulação do domínio D de uma função f, dizemos


que f é descontínua em x = a, ou f não tem limite com x → a, ou esse limite
existe e é diferente de f(a), ou f não está definida em x = a. Analogamente,
definimos descontinuidade à direita e descontinuidade à esquerda.

Essa definição permite admitir que um ponto pode ser descontinuidade


de uma função mesmo que não pertença ao domínio desta. Isso porque se
Continuidade de funções 11

considera o que acontece nas proximidades dos pontos de acumulação do


domínio da função, ainda que eles não pertençam ao domínio (ÁVILA, 2006).
Vejamos um exemplo envolvendo descontinuidade removível de uma função.

Uma função tem uma descontinuidade removível em x = a se o limite


de f(x) existe em a, mas se f(a) é indefinida ou se o
valor de f(a) difere do limite. Se nos for solicitado, por exemplo, para encontrar
os valores de x, no caso de existirem, nos quais não é contínua, e
determinar se cada um desses valores é uma descontinuidade removível, fazemos
o seguinte. Primeiramente, reescrevemos a função:

que representa uma reta. Lembrando que a função não está definida em x = 2,
pois torna o denominador nulo. Nos outros pontos, a função é contínua e possui
limite em todo o domínio, mas também temos o ponto de descontinuidade em
x = 2, que é removível. Observe a Figura 6.

Figura 6. Representação da função f(x).


Fonte: Adaptada de Descontinuidade removível de uma função (2017).

Portanto, ao completar a definição da função com o ponto f(x) = 4 para x =


2, tem-se uma função contínua.

Em outras palavras, a descontinuidade removível que pode ser removida a


partir do momento que se redefine uma nova função cujo ponto em questão
seja igual ao limite da função nesse mesmo ponto.
A descontinuidade de primeira espécie, ou do tipo salto, ocorre quando
a função possui, no ponto considerado, limites à direita e à esquerda, mas
esses limites são diferentes. Ou seja, existem limites laterais em determinado
12 Continuidade de funções

ponto, mas eles não coincidem, havendo saltos no valor da função. Nesse
caso, a descontinuidade é mais evidente do que a removível. Vejamos um
exemplo envolvendo descontinuidade de salto de uma função.

Vamos calcular o quando:

Nesse caso, temos que, embora a função seja definida no ponto 2, não existe
pois e Observe a Figura 7.

Figura 7. Representação da função f(x).


Fonte: Adaptada de Santos e Bianchini, ([2020]).

Note que, nesse caso, como os limites laterais existem, são finitos, mas
diferentes, não importa qual seja o valor de f(2): a função sempre apresentará
uma descontinuidade nesse ponto. Por esse motivo, dizemos que a função f
apresenta, nesse ponto, uma descontinuidade essencial de salto.

Por fim, a descontinuidade de segunda espécie, ou do tipo infinita, ocorre


quando a função tende a ±∞ no ponto considerado ou quando não tem li-
mite nesse ponto (ÁVILA, 2006). Isso significa que algum dos limites laterais
inexiste ou tende ao infinito no ponto x = a, no qual estamos analisando a
continuidade. Isso ocorre, por exemplo, na função trigonométrica tangente
de x. Acompanhe o exemplo.
Continuidade de funções 13

Vamos analisar o limtg(x) nas seguintes situações:

Nesse caso, temos que Além disso, e

Observe a Figura 8.

Figura 8. Representação da função.

Note que a função tangente de x cresce ilimitadamente quando pela


esquerda e que a função tangente de x decresce ilimitadamente quando
pela direita. Isso implica uma descontinuidade infinita.

Nesta seção, identificamos os tipos básicos de descontinuidade de uma


função: removível, de salto (ou de primeira espécie) e infinita (ou de segunda
espécie). Além disso, vimos exemplos e representações gráficas. De modo
geral, este capítulo contribuiu para definir função contínua a partir da ideia
de limites e para reconhecer essas funções em conjuntos conexos e em
conjuntos compactos.
14 Continuidade de funções

Referências
ANTON, H.; BIVENS, I. C.; DAVIS, S. L. Cálculo: volume 1. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.
ÁVILA, G. Análise matemática para licenciatura. 3. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2006.
DESCONTINUIDADE REMOVÍVEL DE UMA FUNÇÃO. Dicas de Cálculo, 2017. Disponível em:
https://www.dicasdecalculo.com.br/descontinuidade-removivel-de-uma-funcao/.
Acesso em: 14 abr. 2021.
NERI, C.; CABRAL, M. Curso de análise real. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: https://www.labma.ufrj.
br/~mcabral/livros/livro-analise/curso-analise-real-a4.pdf. Acesso em: 14 abr. 2021.
OLIVEIRA, R. I. Topologia e espaços métricos. Rio de Janeiro: IMPA, 2014. Disponível em:
http://w3.impa.br/~rimfo/reta_v14/topologia.pdf. Acesso em: 14 abr. 2021.
SANTOS, A. R.; BIANCHINI, W. Continuidade. In: SANTOS, A. R.; BIANCHINI, W. Aprendendo
cálculo com o Maple: cálculo I. Rio de Janeiro: UFRJ, [2020]. Cap. 8. Disponível em: http://
www.im.ufrj.br/waldecir/calculo1/calculo1html/cap1_8.html. Acesso em: 14 abr. 2021.
STEWART, J. Cálculo: volume I. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

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___________________________________________________________

R721c Rogawski, Jon.


Cálculo [recurso eletrônico] / Jon Rogawski ; tradução Claus Ivo Doering.
– Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2008.
v. 1

Editado também como livro impresso em 2009.


ISBN 978-85-7780-389-7

1. Cálculo. 2. Matemática. I. Título.

CDU 51-3
___________________________________________________________
Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/Prov-021/08
CAPÍTULO 2 Limites 63

2.4 Limites e continuidade


y
Na linguagem corrente, a palavra “contínua” significa não ter quebras ou interrupções. No
Cálculo, a continuidade é usada para descrever as funções cujos gráficos não tem quebras.
y = f(x) Se imaginarmos o gráfico de uma função f como um arame metálico sinuoso, então f é
contínua se seu gráfico consiste num único pedaço de arame como na Figura 1. Uma que-
f(c) bra no arame como na Figura 2 é denominada uma descontinuidade.
Agora observe que a função g(x) na Figura 2 tem uma descontinuidade em x = c e
que não existe (os limites laterais não são iguais). Contrastando com isso, na Fi-
x
c gura 1, existe e é igual ao valor funcional f (c). Isso sugere a definição seguinte
FIGURA 1 f (x) é contínua em x = c. de continuidade em termos de limites:
64 CÁLCULO

y
DEFINIÇÃO Continuidade num ponto Suponha que f (x) esteja definida num intervalo
aberto contendo x = c. Então f é contínua em x = c se

y = g(x)
g(c)

Se o limite não existir, ou se existir mas for diferente de f (c), dizemos que f tem uma
x descontinuidade (ou que é descontínua) em x = c.
c
FIGURA 2 g(x) tem uma descontinuidade
Uma função f (x) pode ser contínua em alguns pontos e descontínua em outros. Se f
em x = c.
(x) for contínua em todos os pontos do intervalo I, então dizemos que f (x) é contínua em
I. Aqui, se I for um intervalo [a, b] ou [a, b) que inclua a como extremidade esquerda,
exigimos que . Analogamente, exigimos que se
I incluir b como extremidade direita. Se f (x) for contínua em todos os pontos de seu
y domínio, dizemos simplesmente que f (x) é contínua.

k ■ EXEMPLO 1 Mostre que as funções seguintes são contínuas:


(a) f (x) = k (k qualquer constante) (b) g(x) = x
Solução
x (a) Como f (x) = k para qualquer x,
c
FIGURA 3 O gráfico de f (x) = k.

O limite existe e é igual ao valor da função, portanto f (x) é contínua em x = c para todo
y c (Figura 3).
(b) Como g(x) = x para qualquer x,

Novamente, o limite existe e é igual ao valor da função, portanto g(x) é contínua em c para
x todo c (Figura 4). ■
c

FIGURA 4 O gráfico de g(x) = x. Exemplos de descontinuidades


Para entender melhor a continuidade, vejamos algumas maneiras pelas quais uma função
pode deixar de ser contínua. Lembre que a continuidade num ponto requer mais do que
a simples existência de um limite. Para f (x) ser contínua em x = c, devem ser atendidas
três condições:
1. existe , 2. existe f (c) e 3. são iguais.

Uma descontinuidade ocorre quando uma dessas condições não valer.


Se a primeira condição valer mas falharem a segunda e a terceira, dizemos que f tem
uma descontinuidade removível em x = c. A função na Figura 5(A) tem uma desconti-
nuidade removível em c = 2 porque
CAPÍTULO 2 Limites 65

y y
10 10

5 5

FIGURA 5 Uma descontinuidade x x


2 2
removível: a descontinuidade pode ser
removida redefinindo f (2). (A) (B)

As descontinuidades removíveis são “leves” no seguinte sentido: redefinindo f (c), pode-


mos tornar f contínua em x = c. Na Figura 5(B), redefinimos o valor f (2) por f (2) = 5, o
que torna f contínua em x = 2.
Um tipo de descontinuidade que é mais “pesada” é a descontinuidade de salto, que
ocorre quando existirem ambos limites laterais e mas não forem
iguais. A Figura 6 mostra duas funções com descontinuidades de salto em c = 2. Ao con-
trário do caso removível, não podemos tornar f (x) contínua redefinindo f (c).

y y

x x
2 2

FIGURA 6 Descontinuidades de salto. (A) (B)

Por causa das descontinuidades de salto, convém definir a continuidade lateral.

DEFINIÇÃO Continuidade lateral Dizemos que uma função f (x) é:


• contínua à esquerda em x = c se
• contínua à direita em x = c se

Na Figura 6, a função em (A) é contínua à esquerda mas a função em (B) não é con-
tínua nem à esquerda nem a direita. O exemplo seguinte explora a continuidade lateral
usando uma função definida por partes, ou seja, uma função definida por fórmulas dife-
rentes em intervalos diferentes.

■ EXEMPLO 2 Função definida por partes Discuta a continuidade da função F(x) defi-
nida por

Solução As funções f (x) = x e g(x) = 3 são contínuas, portanto F também é contínua,


exceto, possivelmente, nos pontos de transição x = 1 e x = 3, onde a fórmula para F(x)
66 CÁLCULO

y muda (Figura 7). Observamos que F(x) tem uma descontinuidade de salto em x = 1, já
5 que os limites laterais existem mas não coincidem:
4

2 Além disso, o limite pela direita é igual ao valor funcional F(1) = 3, portanto F(x) é con-
1 tínua à direita em x = 1. Em x = 3,
x
1 2 3 4 5
FIGURA 7 A função F(x) definida por
partes do Exemplo 2.
Ambos limites laterais existem e são iguais a F(3), portanto F(x) é contínua em x = 3. ■

Dizemos que f (x) tem uma descontinuidade infinita em x = c se um ou ambos


limites laterais for infinito (mesmo se a própria f (x) não estiver definida em x = c). A
Figura 8 ilustra três tipos de descontinuidades infinitas que ocorrem em x = 2. Observe
que x = 2 não pertence ao domínio das funções nos casos (A) e (B).

y y y

x x x
2 2 2

FIGURA 8 Funções com uma


descontinuidade infinita em x = 2. (A) (B) (C)

Deveríamos mencionar que algumas funções podem ter tipos mais “graves” de des-

y continuidades do que os já discutidos. Por exemplo, oscila uma infinidade


1 de vezes entre +1 e −1 quando x → 0 (Figura 9). Nenhum dos dois limites laterais existe
em x = 0, de modo que essa descontinuidade não é de salto. Ver Exercícios 82 e 83 para
exemplos ainda mais estranhos. Embora sejam interessantes do ponto de vista teórico, na
x prática essas descontinuidades raramente aparecem.
−3 −2 2 3

Construindo funções contínuas


−1
Tendo estudado alguns exemplos de descontinuidades, voltamos a enfocar as funções
contínuas. Como podemos mostrar que uma dada função é contínua? Uma maneira é usar
FIGURA 9 O gráfico de .
as leis de continuidade que afirmam, em outras palavras, que uma função é contínua se
A descontinuidade em x = 0 é mais for construída a partir de funções que já sabemos serem contínuas.
“grave”. Não é uma descontinuidade
de salto nem removível nem infinita.
TEOREMA 1 Leis de continuidade Suponha que f (x) e g(x) sejam contínuas num ponto
x = c. Então as funções a seguir também são contínuas em x = c:
(i) e (iii)
(ii) , para qualquer constante k (iv) se

Demonstração Essas leis seguem diretamente das correspondentes leis de limites


(Teorema 1, na Seção 2.3). Ilustramos isso demonstrando detalhadamente a primeira
parte de (i). As demais leis podem ser demonstradas de maneira análoga. Por definição,
CAPÍTULO 2 Limites 67

devemos mostrar que . Como f (x) e g(x) são ambas


contínuas em x = c, temos

A lei da soma de limites produz o resultado desejado:


Na Seção 2.3 observamos que as leis de limites para somas e produtos eram vá-
lidas para as somas e produtos de um número qualquer de funções. O mesmo vale
para a continuidade, a saber, se forem contínuas, então também são
contínuas as funções

Agora utilizamos as leis de continuidade para estudar a continuidade de algumas


classes básicas de funções.

TEOREMA 2 Continuidade de funções polinomiais e racionais Sejam P(x) e Q(x) polinô-


mios. Então:
Quando uma função f (x) está definida
e é contínua em todos valores de x, • P(x) é contínua na reta real.
dizemos que f (x) é contínua na reta real.
• é contínua em todos valores c nos quais .

LEMBRETE Uma “função racional” Demonstração Utilizamos as leis de continuidade junto com o resultado do Exemplo 1,
é um quociente de polinômios . de acordo com o qual as funções constantes e a função f (x) = x são contínuas. Para
qualquer número natural m ≥ 1, a função potência pode ser escrita como um produto
(de m fatores). Como cada fator é contínuo, a própria é contínua.
Agora considere um polinômio

onde são constantes. Cada termo é contínuo, portanto P(x) é contínua


por ser a soma de funções contínuas. Finalmente, se Q(x) é um polinômio então, pela lei
de continuidade (iv), a função é contínua em x = c sempre que . ■

Esse resultado mostra, por exemplo, que é contínua para todo x


e que é contínua para . Além disso, se n for um número natural, então
é contínua para , pois é uma função racional.
A maioria das funções básicas é contínua em seu domínio. Em particular, o seno, o
cosseno, a exponencial e a raiz enésima são contínuas, como enunciamos formalmente
no teorema seguinte. Isso não deveria ser uma surpresa porque os gráficos dessas funções
não têm quebras visíveis (ver Figura 10). Contudo, as provas formais da continuidade são
um tanto técnicas e por isso serão omitidas.

LEMBRETE O domínio de
é a reta real se n for ímpar e a semi-
TEOREMA 3 Continuidade de algumas funções básicas
reta [0, ∞) se n for par.
• y = sen x e y = cos x são contínuas na reta real.
• Para b > 0, é contínua na reta real.
• Se n é um número natural, então é contínua em seu domínio.
68 CÁLCULO

y
y y y

2
8
y = x 1/2
2 y = 2x
1 y = sen x
y = x 1/3

x x x x
π 4 −8 8 −3 3
2

−2

(A) (B) (C) (D)


FIGURA 10 Como os gráficos sugerem, essas funções são contínuas em seus domínios.

Em virtude da continuidade de sen x e cos x, a lei de continuidade (iv) do quociente


implica que as outras funções trigonométricas padrão são contínuas em seus domínios, ou
seja, em todos valores de x nos quais seus denominadores não são nulos:

Essas funções têm descontinuidades infinitas nos pontos em que seus denominadores se
anulam. Por exemplo, tg x tem descontinuidades infinitas nos pontos (Figura 11)

x
π π 3π

2 2 2

Muitas funções que nos interessam são funções compostas, de modo que é importante
saber que a composta de funções contínuas é de novo contínua. O teorema seguinte está
FIGURA 11 O gráfico de y = tg x. provado no Apêndice D.

TEOREMA 4 Continuidade de funções compostas Seja F(x) = f (g(x)) uma função com-
posta. Se g for contínua em x = c e f for contínua em x = g(c), então F(x) é contínua
em x = c.

Por exemplo, é contínua porque é a composição das funções


contínuas e . A função é a composta de
f (x) = cos x e , portanto é contínua para todo .

Substituição: calculando limites usando continuidade


É fácil calcular um limite quando a função em questão é sabidamente contínua. Nesse
caso, por definição, o limite é igual ao valor da função:

Dizemos que esse é o método de substituição porque o limite é calculado substituin-


do x = c.

■ EXEMPLO 3 Calcule (a) e (b) .


CAPÍTULO 2 Limites 69

Solução (a) Como f (x) = sen x é contínua, podemos calcular o limite por substituição:

(b) A função é contínua em x = −1 porque o numerador e o denomina-

dor são ambos contínuos em x = −1 e o denominador não se anula em x = −1.


Portanto, podemos calcular o limite por substituição:

y ■ EXEMPLO 4 Hipóteses importam Podemos usar substituição para calcular ,


onde [x] é a função maior inteiro?
3
2 Solução Seja f (x) = [x] (Figura 12). Embora f (2) = 2, não podemos concluir que
1 seja igual a 2. De fato, f (x) não é contínua em x = 2, pois os limites laterais não são
x iguais:
−2 1 2 3

−3 Portanto, não existe e não podemos usar a substituição. ■

FIGURA 12 O gráfico de f (x) = [x].


ENTENDIMENTO CONCEITUAL Modelagem do mundo real por meio de funções contínuas Fre-
qüentemente usamos funções contínuas para representar quantidades físicas tais como
a velocidade, a temperatura ou a voltagem. Isso reflete nossa experiência cotidiana de
que as variações do mundo físico tendem a ocorrer continuamente, ao invés de por
meio de transições abruptas. Contudo, os modelos matemáticos são no máximo uma
aproximação da realidade e é importante ter consciência de suas limitações.
Por exemplo, na Figura 13, a temperatura atmosférica está representada como uma
função contínua da altitude. Isso se justifica para objetos de grande escala como a
atmosfera terrestre porque a leitura num termômetro parece variar continuamente à
medida que varia a altitude. Contudo, a temperatura é uma medida da energia cinética
média das moléculas e, assim, num nível microscópico, não tem sentido tratar a tempe-
ratura como uma quantidade que varie continuamente de um ponto a outro.
Estratosfera

Termosfera
Troposfera

200 6.000
Mesosfera
Temperatura (˚C)

100
Milhões

4.000

0
2.000

−100
0
10 50 100 150 1700 1750 1800 1850 1900 1950 2000
Altitude (km) População mundial 1750–2000

FIGURA 13 A temperatura atmosférica e a população mundial são representadas por gráficos contínuos.
70 CÁLCULO

A população é uma outra quantidade que muitas vezes é tratada como uma
função contínua do tempo. O tamanho P(t) de uma população no instante t é um
número natural que varia por ±1 quando um individuo nasce ou morre, portanto,
falando estritamente, P(t) não é contínua. Se a população for grande, o efeito de um
nascimento ou morte individual é pequeno e é razoável tratar P(t) como uma função
contínua do tempo.

2.4 RESUMO
• Por definição, f (x) é contínua em x = c se .
• Se esse limite não existe, ou existe mas não é igual a f (c), então f é descontínua em
x = c.
• Se f (x) é contínua em todos os pontos de seu domínio, dizemos simplesmente que f é
contínua.
• f (x) é contínua pela direita em x = c se e contínua pela esquerda em
x = c se .
• Existem três tipos comuns de descontinuidades: a descontinuidade removível [
existe mas não é igual a f (c)], descontinuidade de salto (ambos limites laterais existem
mas não são iguais) e descontinuidades infinitas (o limite é infinito quando x tende a c
por um ou ambos lados).
• As leis de continuidade afirmam que somas, produtos, múltiplos e compostas de fun-
ções contínuas são, de novo, contínuas. O mesmo vale para o quociente nos pontos
em que .
• Polinômios e funções racionais, trigonométricas e exponenciais são contínuas, exceto
nos pontos que envolvem divisão por zero.
• Método de substituição: se for sabido que f (x) é contínua em x = c, então o valor do
limite é f (c).
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
CÁLCULO: LIMITES
DE FUNÇÕES DE
UMA VARIÁVEL E
DERIVADAS

Cristiane da Silva
Continuidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir continuidade de uma função por limites.


„„ Resolver situações matemáticas que envolvem funções contínuas e
descontínuas.
„„ Justificar a continuidade de uma função.

Introdução
A definição de continuidade por limites será subsequente à compreensão
de funções descontínuas – aquelas em que há uma interrupção, repre-
sentada, em alguns casos, por uma bolinha aberta na curva do gráfico.
Veremos que uma função pode ser contínua em alguns pontos e descon-
tínua em outros. Além disso, observaremos a aplicação de continuidade
e descontinuidade em exemplos práticos.
Ao longo do capítulo, serão apresentadas interpretações gráficas e
exemplos de resolução de situações matemáticas por meio de limites.
Assim, para justificar a continuidade de uma função, como das funções
polinomiais, das funções racionais, de composições de funções, de fun-
ções trigonométricas e inversas, conheceremos algumas propriedades
de continuidade discutidas por meio de teoremas e exemplificações.
2 Continuidade

Continuidade de uma função por limites


Nesta seção, você verá o que caracteriza uma função como contínua, sendo as
representações gráficas os elementos que contribuirão para esse entendimento.
A palavra “contínua” supõe não ter quebras ou interrupções. Graficamente,
podemos ilustrar uma função em uma curva inteira como contínua, conforme
mostrado na Figura 1, a seguir.

Figura 1. Curva inteira contínua: f(x) é contínua em x = c.


Fonte: Rogawski (2008, p. 63–64).

Por outro lado, uma quebra nessa curva é denominada uma descontinuidade,
como mostra a Figura 2.
Continuidade 3

Figura 2. g(x) tem uma descontinuidade em x = c.


Fonte: Rogawski (2008, p. 63–64).

Rogawski (2008, p. 64) define continuidade em um ponto da seguinte


forma: “[...] suponha que f(x) esteja definida num intervalo aberto contendo
x = c. Então, f é contínua em x = c se . Se o limite não existir,
ou se existir, mas for diferente de f(c), dizemos que tem uma descontinuidade
(ou que é descontínua) em x = c”.
É importante destacar que uma função pode ser contínua em alguns pontos
e descontínua em outros. A seguir, veremos exemplos de uma função contínua
em todos os pontos de um intervalo e todos os pontos do seu domínio.

Se f(x) for contínua em todos os pontos do intervalo I, então dizemos que f(x) é contínua
em I. Supondo I um intervalo [a, b] ou [a, b) que inclua a como extremidade esquerda,
exigimos que . Analogamente, postulamos que se
I incluir b como extremidade direita. Se f(x) for contínua em todos os pontos do seu
domínio, dizemos apenas que f(x) é contínua.

Exemplo:
Mostre que as seguintes funções são contínuas.
4 Continuidade

a) f(x) = k sendo k qualquer constante.


Como f(x) = k para qualquer
O limite existe e é igual ao valor da função, portanto f(x) é contínua em x = c para
todo c. Observe a Figura 3.

Figura 3. Gráfico de f(x) = k.


Fonte: Rogawski (2008, p. 64).

b) g(x) = x para qualquer x.

O limite existe e é igual ao valor da função, portanto g(x) é contínua em c para todo
c. Observe a Figura 4.

Figura 4. Gráfico de g(x) = x.


Fonte: Rogawski (2008, p. 64)
Continuidade 5

Além de conhecer a definição de continuidade, é interessante saber que


existem aplicações práticas. As descontinuidades, por exemplo, podem sinalizar
a ocorrência de fenômenos físicos.

A Figura 5a traz um gráfico da voltagem versus o tempo para um cabo subterrâneo que
é acidentalmente cortado por uma equipe de trabalho no instante t = t0. A voltagem
caiu para zero quando a linha foi cortada. A Figura 5b mostra o gráfico de unidades
em estoque versus tempo para uma companhia que reabastece o estoque com y1
unidades quando o estoque cai para y0 unidades. As descontinuidades ocorrem nos
momentos em que acontece o reabastecimento.

Figura 5. Exemplo de interrupção de cabo subterrâneo.

Uma conexão malfeita num cabo de transmissão pode causar uma descontinuidade
no sinal elétrico transmitido.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 111).

Anton, Bivens e Davis (2014) definem continuidade em um intervalo por


meio da explicação de que, se uma função for contínua em cada ponto de um
intervalo aberto (a, b), dizemos que ela é contínua em (a, b). O mesmo ocorre
para intervalos abertos infinitos (a, +∞), (–∞, b) e (–∞,+∞). Sendo que, quando
a função for contínua em (–∞, +∞), dizemos que ela é contínua em toda parte.
Além disso, Anton, Bivens e Davis (2014) argumentam que uma função
será contínua em uma extremidade de um intervalo se o valor ali for igual ao
limite lateral adequado naquele ponto.
6 Continuidade

Figura 6. Função y = f(x)

Observe que a função da Figura 6 é contínua na extremidade direita do intervalo


[a, b] porque:

Mas não é contínua na extremidade esquerda porque:

Em geral, dizemos que uma função é contínua à esquerda no ponto c se:

E é contínua à direita no ponto c se:

Fonte: Anton, Bivens, Davis (2014, p. 112).

Dessa forma, uma função f é dita contínua em um intervalo fechado [a, b]


se as seguintes condições são satisfeitas:

„„ f é contínua em (a, b);


„„ f é contínua à direita em a;
„„ f é contínua à esquerda em b.
Continuidade 7

Funções contínuas e descontínuas


Nesta seção, acompanharemos exemplos de resolução de funções contínuas
e descontínuas. Abordaremos interpretações gráficas, bem como funções
definidas por partes na resolução de situações matemáticas.

Exemplo 1

O que pode ser dito sobre a continuidade da função ?

Solução: como o domínio natural dessa função é o intervalo fechado [–3, 3],
precisamos investigar a continuidade de f no intervalo aberto (–3, 3) e nas
duas extremidades. Se c for um ponto qualquer do intervalo (–3, 3), então
(ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014):

provando que f é contínua em cada ponto do intervalo (–3, 3). A função f


é também contínua nas extremidades, uma vez que:

Logo, f é contínua no intervalo fechado [–3, 3]. Observe a Figura 7.


8 Continuidade

Figura 7. .
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 112).

Exemplo 2

Mostre que o polinômio p(x) =3x3 – x + 5 é contínuo no ponto x = 1 (HOFF-


MANN et al., 2018).

Solução: precisamos verificar se os três critérios de continuidade são satisfeitos.


É evidente que p(1) é definida, já que p(1) = 7. Além disso, existe e
. Assim:

como necessário para que p(x) seja contínua em x = 1.

Exemplo 3

Discuta a continuidade das seguintes funções (HOFFMANN et al., 2018):

a)

b)

c)
Continuidade 9

Solução:

a) Essa é uma função racional, portanto é contínua em todos os pontos


em que está definida, ou seja, em todos os pontos nos quais o deno-
minador é diferente de zero. é definida em todos os pontos,
exceto x = 0, portanto é contínua para qualquer valor de x ≠ 0, como
mostra a Figura 8.

Figura 8. Contínua para x ≠ 0.


Fonte: Hoffmann et al. (2018, p. 71–72).

b) Essa é uma função racional, portanto é contínua em todos os pontos em


que está definida, ou seja, em todos os pontos nos quais o denominador
é diferente de zero. Como x = –1 é o único valor de x para o qual g(x)
não é definida, g(x) é contínua para qualquer valor de x ≠ –1, como
mostra a Figura 9.
10 Continuidade

Figura 9. Contínua para x ≠ –1.


Fonte: Hoffmann et al. (2018, p. 71–72).

c) Essa função é definida em duas partes. Começamos verificando a conti-


nuidade em x = 1, sendo o valor de x comum às duas partes. Verificamos
que não existe, já que h(x) tende a 2 pela esquerda e a 1 pela
direita. Assim, h(x) não é contínua em x = 1, como mostra a Figura 10.
Como os polinômios x + 1 e 2 – x são contínuos para qualquer valor
de x, h(x) é contínua para qualquer valor de x ≠ 1.

Figura 10. Contínua para x ≠ 1.


Fonte: Hoffmann et al. (2018, p. 71–72).
Continuidade 11

Os exemplos desta seção tiveram como propósito analisar a continuidade


de algumas funções e resolver, por meio de limites, situações matemáticas
envolvendo continuidade.

Continuidade de uma função


Nesta seção você estudará a continuidade dos polinômios, das funções ra-
cionais, de composições de funções, de funções trigonométricas e inversas.
Algumas propriedades de continuidade das funções trigonométricas e inversas
serão discutidas.
Anton, Bivens e Davis (2014) abordam um procedimento para mostrar que
uma função é contínua em toda parte a partir da verificação da continuidade
em um ponto arbitrário. Se considerarmos p(x) um polinômio e a um número
real qualquer, então . Isso mostra que os polinômios são con-
tínuos em toda parte. Cabe destacar que as funções racionais são quocientes
de polinômios, e, portanto, as funções racionais são contínuas nos pontos em
que o denominador não se anula, e que nesses zeros há descontinuidades.
Ainda segundo os autores, outra análise importante dá-se por meio do
entendimento do cálculo do limite da composição de funções. Pode-se afirmar
que um símbolo de limite pode passar pelo sinal de função desde que o limite da
expressão dentro desse sinal exista e que a função seja contínua. Podemos eluci-
dar essa explicação pelo teorema a seguir: “[...] se e a função f for
contínua em L, então , ou seja, .
Essa igualdade permanece válida se todos os forem trocados por um dos
limites , , , ” (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014, p. 114).

Considera-se, também, o caso especial do teorema em que f(x) = |x|. Como


|x| é contínua em toda parte, temos que sempre que
existir .
12 Continuidade

Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 114).

Agora, veremos a continuidade da composição de funções em um ponto


específico e em toda parte, de acordo com o teorema.

„„ Se a função g for contínua em um ponto c, e a função f for contínua no ponto g(c),


então a composição f ∘ g será contínua em c.
„„ Se a função g for contínua em toda parte, e a função f for contínua em toda parte,
então a composição f ∘ g será contínua em toda parte.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 115).

Observe que, para provar que a composição f ∘ g é contínua em c, é preciso


mostrar que os valores de f ∘ g e de seu limite são os iguais em x = c.
Continuidade 13

Vimos que |x| é contínua em toda parte, assim, se g(x) for contínua no
ponto c, a função |g(x)| deverá ser contínua no ponto c. Sendo assim, podemos
dizer que o valor absoluto de uma função contínua é uma função contínua
(ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014).

O polinômio g(x) = 4 – x2 é contínuo em toda parte, assim, podemos concluir que a


função |4 – x2| também é contínua em toda parte, como mostra a Figura 11.

Figura 11. Função y = |4 – x2|.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 115).

Veremos que as funções sen x e cos x são contínuas. Para tanto, vamos
considerar c um ângulo fixo e x um ângulo variável, medidos em radianos.
Como mostra a Figura 12, quando o ângulo x tende ao ângulo c, o ponto P(cos x,
sem x) move-se no círculo unitário em direção ao ponto Q(cos c, sen c), e as
coordenadas de P tendem às correspondentes coordenadas de Q (ANTON;
BIVENS; DAVIS, 2014).

e
14 Continuidade

Figura 12. Quando x tende a c, o ponto P tende ao ponto


Q.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 121).

Anton, Bivens e Davis (2014) mostram, portanto, que: sen x e cos x são
contínuos em um ponto arbitrário c, e essas funções são contínuas em toda
parte. Além disso, as seis funções trigonométricas básicas são contínuas em
seus domínios, como pode ser visto no teorema a seguir: se c for qualquer
número no domínio natural da função trigonométrica enunciada, então:
Continuidade 15

Em quais pontos a função é contínua?

Solução: o quociente será uma função contínua em todos os pontos em que o


numerador e o denominador forem ambos funções contínuas, e o denominador
não for zero. Como arc tg x é contínua em toda parte, e ln x é contínua com x > 0, o
numerador é contínuo se x > 0. O denominador, sendo um polinômio, é contínuo
em toda parte, de modo que o quociente é contínuo em todos os pontos, tais que
x > 0 e o denominador for não nulo. Assim, f é contínua nos intervalos (0, 2) e (2, +∞).

No que diz respeito à continuidade de funções inversas, cabe lembrar-se


de que os gráficos de uma função injetora f e sua inversa f–1 são uma reflexão
do outro pela reta y = x. Assim, se o gráfico de f não tem quebras ou buracos,
tampouco o gráfico de f–1 terá. Como a imagem de f é o domínio de sua inversa
f–1, permite-se chegar ao seguinte teorema: “[...] se f for uma função injetora
que é contínua em cada ponto de seu domínio, então f–1 será contínua em cada
ponto de seu domínio, ou seja, f–1 será contínua em cada ponto da imagem de
f ” (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014, p. 122).

Prove que arc sen x é contínua no intervalo .


Solução: lembre-se de que arc sen x é a função inversa da função seno restrita, cujo
domínio é o intervalo e cuja imagem é o intervalo [-1, 1]. Como sen x é contínua

no intervalo , isso implica que arc sen x é contínua no intervalo [–1, 1].
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014).
16 Continuidade

ANTON, H.; BRIVES, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.
HOFFMANN, L. D. et al. Cálculo: um curso moderno e suas aplicações. 11. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2018.
ROGAWSKI, J. Cálculo. Porto Alegre: Bookman, 2008. v. 1.
VARIÁVEIS
COMPLEXAS
Limite e
continuidade de
funções complexas
Fabio Santiago

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir limites de funções complexas e seus teoremas.


>> Calcular limites envolvendo o infinito.
>> Identificar funções contínuas.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar alguns dos temas fundamentais das funções de
variáveis complexas: os conceitos de limite e continuidade. Inicialmente, você
vai conhecer a definição de limite, suas propriedades e algumas demonstrações.
Em um segundo momento, você vai ver como operacionalizar o cálculo
de limites envolvendo o infinito. A fim de determinar tais limites, você pode
empregar muitas das estratégias conhecidas para funções de variáveis reais.
Por fim, você vai estudar a continuidade de funções complexas. Você vai
verificar quando uma função de variável complexa é contínua e como o conceito
de continuidade está conectado ao cálculo de limite dessa função.
2 Limite e continuidade de funções complexas

Limite de uma função complexa


As funções definidas em ℂ e as funções definidas em ℝ são semelhantes em
suas propriedades e operações. A semelhança observada entre as funções
reais e complexas também está presente na definição e na operacionalização
do conceito de limites para funções complexas, objeto de estudo desta seção.
Para começar, você deve ter em mente a definição de função complexa,
pois os conceitos de limite e continuidade estão relacionados a regiões de
vizinhança no domínio e na imagem da função. Veja a definição de função
complexa: considerando que D ⊂ ℂ é um subconjunto, uma função f: D → ℂ
é chamada de “função de variáveis complexas” se para z ∈ D a aplicação f
associa um único f(z) = w ∈ ℂ (COELHO, 2000).
Segundo Coelho (2000), as funções de variáveis complexas podem ser
vistas como funções de ℝ 2 em ℝ 2 se z = x + y ∙ i e f(z) = u(z) + v(z) ∙ i = u(x, y) +
v(x, y) ∙ i. Então, tem-se:

f: (x, y) → (u(x, y), v(x, y))

As funções u(x, y) e v(x, y) são as partes reais e imaginárias de f.


Como você pode observar, a definição de uma função complexa se baseia
na aplicação entre conjuntos. A seguir, veja a definição do limite de uma
função complexa, o qual também utiliza os conjuntos imagem e domínio de f.
Considere A um subconjunto aberto de ℂ e f: A → ℂ uma função de variáveis
complexas. Dado z0 ∈ A, diz-se que w ∈ A é o limite de f quando z ∈ A tende a z0
se para todo 𝜖 > 0 existe um 𝛿 > 0 tal que, se 0 < |z – z0| < 𝛿, então |f(z) – w0| < 𝜀.
Escreve-se:

Como observam Brown e Churchill (2015), geometricamente, a existência


do limite de uma função de variáveis complexas consiste no seguinte: dada
qualquer vizinhança |w – w0| < 𝜖 de w0, existe uma vizinhança perfurada
0 < |z – z0| < 𝛿 de z(0) tal que, para cada ponto desta última vizinhança, tem
a imagem de z pela função f(z) = w na vizinhança de w0. Na Figura 1, veja a
interpretação geométrica apresentada pelos autores.
Limite e continuidade de funções complexas 3

Figura 1. Interpretação geométrica da definição de limite.


Fonte: Brown e Churchill (2015, p.58),

Para compreender melhor os conceitos que você estudou até aqui,


veja alguns exemplos. Considerando a definição de limite, determine
os valores de 𝜖 e 𝛿 de modo que:

A fim de satisfazer a definição de limite, basta tomar 𝛿 = 𝜖. Assim, sempre


que |z – z0| < 𝛿, tem-se:

Agora, considerando a definição de limite, determine os valores de 𝜖 e 𝛿 de


modo que:

A fim de satisfazer a definição de limite, basta tomar 𝛿 = 𝜖. Assim, sempre


que |z – z0| < 𝛿, tem-se:
4 Limite e continuidade de funções complexas

Veja este teorema: se f(z) = u(x, y) + v(x, y)i, z = x + y ∙ i e z0 = x0 + y0 ∙ i, então


o limite de f existe em z0 e é igual a u0 + v0 ∙ i se e somente se os limites de
u e v existirem em (x0, y0) e forem iguais a u0 e v0, respectivamente. Ou seja:

Agora você vai ver a demonstração. Os passos desenvolvidos aqui são


similares aos de Zani ([2011]). Assim, suponha que os seguintes limites existam:

Portanto, dado 𝜖 > 0, existem 𝛿1, 𝛿2 > 0, tal que:

„„ |u(x, y) – u0| < 𝜖/2 sempre que ;


„„ |v(x, y) – v0| < 𝜖/2 sempre que .

Considerando 𝛿 = min{𝛿1, 𝛿2}, tem-se:

De forma recíproca, se existe:

então para cada 𝜀 > 0 existe 𝛿 > 0 tal que |f(z) – L| < 𝜖 sempre que:
Limite e continuidade de funções complexas 5

Colocando L = u0 + v0 ∙ i com u0 e v0 ∈ ℝ, tem-se:

e:

sempre que .

Agora veja um exemplo que utiliza a definição de limite e suas regiões


de vizinhança nos conjuntos imagem e domínio. Demonstre pela
definição de limite que:

Você quer mostrar que ∀ > 0, ∃𝛿 > 0, tal que:

0 < |z – 2i| < δ ⟹ |z2 + 3z – (–4 + 6i)| < ϵ

Assim, tem-se:
6 Limite e continuidade de funções complexas

Pode-se admitir que |z| < 3. Assim, tem-se:

8|z – 2i| < ϵ ⇒ |z – 2i| < ϵ/8 = δ

Por outro lado:

|z| = |z – 2i + 2i| ≤ |z – 2i| + |2i| < δ + 2 = 3 ∴ δ = 1

Assim, basta considerar 𝛿 = min{1, 𝜖/8}.

Neste ponto, você vai conhecer as principais propriedades operatórias


dos limites para as funções de variáveis complexas.
Veja esta proposição: considere A ⊂ ℂ um conjunto aberto; além disso,
considere as funções complexas f1: A → ℂ e f2: A → ℂ. Fixe um ponto z0 ∈ A e
considere que:

Então, são válidas as propriedades a seguir.

1. c ∙ f1(z) = c ∙ w1, c ∈ ℂ

2. [f1(z) + f2(z)] = [f1(z)] + [f2(z)] = w1 + w2

3. [f1(z) ∙ f2(z)] = [f1(z)] ∙ [f2(z)] = w1 ∙ w2

4. se w1 ≠ 0

5. Se w1 ≠ 0, então:

A seguir, você vai ver como demonstrar a terceira propriedade. Os passos


aqui apresentados são os mesmos percorridos por Zani ([2011]). As demonstra-
ções das demais propriedades também podem ser encontradas na obra citada.
Então, veja a demonstração de:
Limite e continuidade de funções complexas 7

Se:

considerando a definição de limite, tem-se 𝛿1 > 0 tal que |f1(z) – w1| sempre
que 0 < |z – z0| < 𝛿1. Segue-se que |11(z)| ≤ |f1(z) – w1| < 1 + |l|, sempre que
0 < |z – z0| < 𝛿1. Considerando novamente a definição de limite, existe 𝛿2 > 0
tal que:

sempre que 0 < |z – z0| < 𝛿2. Além disso, existe 𝛿3 > 0 tal que:

sempre que 0 < |z – z0| < 𝛿2. Considere 𝛿 = min{𝛿1, 𝛿2, 𝛿3}. Se 0 < |z – z0| < 𝛿, então:

A partir das propriedades para o cálculo dos limites anteriormente enun-


ciadas, é possível concluir que, dadas funções f e g, tais que os limites
f(z) e g(z) existam, então, para quaisquer 𝛼 e 𝛽, tem-se:
8 Limite e continuidade de funções complexas

Calcule o limite:

Veja a solução:

Cálculo de limites envolvendo o infinito


Na seção anterior, você conheceu a definição formal de limite e suas proprie-
dades operatórias. Além disso, acompanhou o desenvolvimento de alguns
cálculos. Uma característica importante dos limites calculados até aqui é
que eles resultavam em um valor finito sempre que z ⟶ z0 (lê-se: z tendia a
z0). Nesta seção, você vai ver como calcular o limite de funções complexas
quando z ⟶ z0 e f(z) = ∞, quando z ⟶ ∞ e f(z) = L e, por fim, quando
z⟶∞e f(z) = ∞.
A fim de compreender a definição formal de uma função complexa f(z) no
contexto aqui estudado, você precisa ter em mente duas definições prelimi-
nares. A primeira delas se refere ao disco furado, e a segunda, a um ponto de
acumulação em ℂ. Neste texto, as definições são as mesmas de Vieira (2011).
Veja a definição de disco furado: considerando z ∈ ℂ e r ∈ ℝ*, denota-se
por 𝔻* (z, r) o disco furado centrado em z de raio r, ou seja, 𝔻* (z, r) = z ∈ ℂ;
0 < |w – z| < r. Assim, pode-se dizer que o disco furado é o disco que tem seu
centro removido. Agora veja a definição do ponto de acumulação: considerando
A ⊂ ℂ, diz-se que um ponto z ⊂ ℂ é um ponto de acumulação de A se 𝔻* (z, r)
∩ A ≠ ∅ ∀r > 0. Com essas duas definições, você está apto a compreender a
definição de limite no infinito, enunciada a seguir.
Considere a função f: A ⟶ ℂ, sendo A ⊂ ℂ. Além disso, considere z0 ∈ ℂ um
ponto de acumulação de A. Diz-se que o limite de f(z) quando z tende a z0 é
infinito (∞) se para todo K > 0 existe 𝛿 > 0, tal que |f(z)| > K sempre que z ∈ A
e |z – z0| < 𝛿 (VIEIRA, 2011). Matematicamente, tem-se:

∀ > 0, ∃ δ >0; z ∈ A; |z – z(0)| < δ ⟹ |f(z)| > k


Limite e continuidade de funções complexas 9

Denota-se por:

As definições anteriores talvez se mostrem um tanto abstratas em


um primeiro momento. Por isso, é importante que você conheça
alguns casos práticos. Para começar, calcule:

Veja a solução a seguir.


A fim de calcular:

inicialmente considere f(z) = , uma vez que apenas:

Então:

Agora calcule:

Veja a solução a seguir.


A fim de calcular:
10 Limite e continuidade de funções complexas

inicialmente considere f(z) = , uma vez que apenas:

Então:

Limites no infinito
Agora você vai ver como calcular limites em que z ⟶ ∞ e:

sendo L finito. Assim, considere a função f: A ⟶ ℂ, sendo A ilimitada.


O limite de f(z) tende a L quando z tende ao infinito (z ⟶ ∞) se para todo
𝜖 > 0 existir R > 0 tal que |f(z) – L| < 𝜖 sempre que z ∈ A e |z| > R (VIEIRA, 2011).
Matematicamente, tem-se:

∀ϵ > 0, ∃R > 0, z ∈ A e |z| > R ⇒|f(z) – L| < ϵ

E denota-se por:

O exercício a seguir calcula o limite da função f(z) por meio da definição


dada. A ideia é demonstrar que:
Limite e continuidade de funções complexas 11

Inicialmente, considere:

Para a última igualdade, foi pressuposto que |z| > 1/3, o que será adotado
daqui em diante. Observe:

Considere:

Assim, obtém-se o resultado desejado:

Calcule:

Realizando as manipulações algébricas adequadas, tem-se:

Agora calcule:
12 Limite e continuidade de funções complexas

Realizando as manipulações algébricas adequadas, tem-se:

Limites infinitos no infinito


Agora você vai estudar o caso em que, quando z ⟶ ∞, tem-se f(z) = ∞.
Assim, faz-se necessário considerar a definição adequada, dada a seguir.
O limite de f(z) tende ao infinito quando z tende ao infinito (z ⟶ ∞) se
para todo K > 0 existir R > 0 tal que |f(z)| < K sempre que z ∈ A e |z| > R (VIEIRA,
2011). Matematicamente, tem-se:

∀K > 0, ∃R > 0, z ∈ A e |z| > R ⇒ |f(z)| > K

E denota-se por:

Calcule:

Veja a solução:

Calcule:
Limite e continuidade de funções complexas 13

Veja a solução:

Continuidade para funções de variáveis


complexas
Nesta seção, você vai conhecer um dos principais conceitos relativos às fun-
ções de variáveis complexas, o de continuidade. Assim, considere a definição
a seguir, de Coelho (2000).
Considere A ⊂ ℂ um aberto de ℂ. Além disso, considere a função complexa
f: A ⟶ ℂ. Essa função é contínua no ponto z0 ∈ A se f(z) = f(z0). De outra
forma, diz-se que f(z) é contínua em z0 ∈ A se para todo 𝜖 > 0 existe 𝛿 > 0, tal que:

|z – z0| < δ ⇒ |f(z) – f(z0)| < ϵ

Considere a função:

Mostre, por meio da definição, que ela é contínua em ℂ. A seguir, veja a


solução.
Dado 𝜖 > 0, tome 𝛿 = 4𝜖. Se |z – z0| < 𝛿, então tem-se:

Portanto, f(z) é contínua em ℂ.


Agora considere a função:

Mostre, por meio da definição, que a função dada é contínua em ℂ. A seguir,


veja a solução.
14 Limite e continuidade de funções complexas

Dado 𝜖 > 0, tome δ = √π ϵ. Se |z – z0| < 𝛿, então tem-se:

Portanto, f(z) é contínua em ℂ.

Como observa Zani ([2011]), uma condição necessária e suficiente para


que a função complexa f(z) seja contínua é que suas partes real e imaginária
sejam contínuas. Ou seja:

A partir do que foi explanado por Zani ([2011]), tem-se que as partes real e
imaginária das funções exponenciais, seno e cosseno, são contínuas. Assim,
tem-se:

Logo, pode-se concluir que as funções complexas exp(z), sen(z) e cos(z)


são funções contínuas.
A seguir, você vai estudar uma proposição que garante que, se as funções
f1, f2 e g forem contínuas, então o produto, quociente e composição, quando
bem definido, também será contínuo.
Considere A, B ⊂ ℂ abertos. Além disso, considere as funções de variáveis
complexas f1: A ⟶ ℂ, f2: A ⟶ ℂ e g: B ⟶ ℂ, sendo que f1: A ⊂ B. Suponha que
as funções f1 e f2 são ambas contínuas em z0 ∈ A e que a função g é contínua
em f1(z0). Então:

1. as funções c ∙ f1: A ⟶ ℂ, f1 + f2: A ⟶ ℂ e f1 ∙ f2: A ⟶ ℂ são contínuas em z0


onde c é um número complexo arbitrário, porém fixado;
2. se f1(z0) ≠ 0, então existe uma vizinhança de z0 tal que 1/ f1 restrita a
essa vizinhança está definida e é contínua em z0;
3. a função g ∘ f1: A ⟶ ℂ é contínua em z0.

A seguir, veja a demonstração da terceira propriedade. As demais podem


ser facilmente demostradas com o conteúdo exposto até aqui.
Limite e continuidade de funções complexas 15

Considere que g(z) é contínua. Além disso, assume que 𝛾0 = f(z1). Você vai ver
que g ∘ f D ⟶ ℂ também é contínua em z0. Para isso, considere 𝜖 > 0. Sendo a
função g continua em z1, então existe 𝛿1, tal que |g(z) – g(𝛾0)| = |g(z) – g(f(z0))| < 𝜖
sempre que |z – 𝛾0| < 𝛿1.
Por outro lado, existe 𝛿 > 0 tal que |f(z) – 𝛾0| = |f(z) – f(z0)| < 𝛿1 sempre
que |z – 𝛾0| < 𝛿. Combinando as desigualdades, tem-se |g(f(z)) – g(f(z0))| < 𝜖
sempre que |z – 𝛾0| < 𝛿.
Para compreender melhor a terceira propriedade, considere as funções f
e g definidas como mostra a Figura 2, a seguir.

Figura 2. Interpretação geométrica da definição de limite.

A seguir, veja o desenvolvimento analítico em forma de exercício. Considere


as funções g(z) = z e f(z) = z2. É fácil mostrar que cada uma delas é contínua.
Agora você vai ver como mostrar que a função composta f(g(z)) é igual a z2.
Considere que f(z) é contínua. Além disso, assuma que 𝜉0 = g(z1). Você vai
verificar que a composição das funções (f ∘ g)(z): D → ℂ também é contínua
em z1. Considere agora 𝜖 > 0. P. Sendo a função f continua em z1, existe 𝛿1, tal
que |f(z) – f(𝜉0)| = |f(z) – f(g(𝜉0))| < 𝜖 sempre que |z – 𝛾0| < 𝛿1.
Por outro lado, existe 𝛿 > 0, tal que |g(z) – 𝜉0| = |g(z) – g(z1)| < 𝛿 sempre
que |z – 𝛾0| < 𝛿. Combinando as desigualdades, tem-se |f(g(z)) – f(g(z0))| < 𝜖
sempre que |z – 𝛾0| < 𝛿.
No Quadro 1, a seguir, veja as definições fundamentais deste capítulo, ou
seja, as definições de limite, continuidade, limites no infinito e limites infinitos.
16 Limite e continuidade de funções complexas

Quadro 1. Principais definições de limite e continuidade de funções complexas

Definição Descrição

Definição de Considere A ⊂ ℂ um aberto de ℂ. Além disso, considere


continuidade a função complexa f: A ⟶ ℂ. Essa função é contínua no
ponto z0 ∈ A se f(z) = f(z0). De outra forma, diz-se que
f(z) é contínua em z0 ∈ A se para todo 𝜖 > 0 existe 𝛿 > 0,
tal que:

|z – z0| < δ ⇒ |f(z) – f(z0)| < ϵ

Definição de Considere A um subconjunto aberto de ℂ e f: A → ℂ uma


limite função de variáveis complexas. Dado z0 ∈ A, diz-se que
w ∈ A é o limite de f quando z ∈ A tende a z0 se para todo
𝜖 > 0 existe um 𝛿 > 0 tal que, se 0 < |z – z0| < 𝛿, então
|f(z) – w0| < 𝜀

Definição de Considere a função f: A ⟶ ℂ, sendo A ⊂ ℂ. Além disso,


limite infinito considere z0 ∈ ℂ um ponto de acumulação de A. Diz-se
que o limite de f(z) quando z tende a z0 é infinito (∞) se
para todo K > 0 existe 𝛿 > 0, tal que |f(z)| > K sempre que
z ∈ A e |z – z0| < 𝛿.

Definição de O limite de f(z) tende a L quando z tende ao infinito


limite no infinito (z ⟶ ∞) se para todo 𝜖 > 0 existir R > 0 tal que
|f(z) – L| < 𝜖 sempre que z ∈ A e |z| > R.

Definição de O limite de f(z) tende ao infinito quando z tende ao


limite infinito infinito (z ⟶ ∞) se para todo K > 0 existir R > 0 tal que
no infinito |f(z)| < K sempre que z ∈ A e |z| > R.

Referências
BROWN, J. W.; CHURCHILL, R. V. Funções analíticas. In: BROWN, J. W.; CHURCHILL, R. V.
Variáveis complexas: e aplicações. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. p. 37-82.
COELHO, L. Funções complexas. 2000. 69 f. Monografia (Licenciatura em Matemática)
– Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000.
VIEIRA, E. Funções Holomorfas de uma Variável. [S.l.: s.n.], 2011. Disponível em: http://
emis.impa.br/EMIS/journals/em/docs/coloquios/NE-1.09.pdf. Acesso em: 5 dez. 2020.
ZANI, S. L. Funções de uma variável complexa. [S.l.: s.n., 2011]. Disponível em: https://
sites.icmc.usp.br/szani/complexa.pdf. Acesso em: 5 dez. 2020.
Limite e continuidade de funções complexas 17

Leituras recomendadas
MATEMÁTICA: aula 27: números complexos e transformações de plano. Aula da disciplina
Matemática. Curso de Engenharia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Pro-
fessor ministrante: Walter Spinelli. São Paulo: [S. n.], 2014. 1 vídeo (21 min). Publicado pelo
canal UNIVESP. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_7et7XESOXU&ab_
channel=UNIVESP. Acesso em: 5 dez. 2020.
MATEMÁTICA: aula 28: números complexos e transformações de plano. Aula da dis-
ciplina Matemática. Curso de Engenharia da Universidade Virtual do Estado de São
Paulo. Professor ministrante: Walter Spinelli. São Paulo: [S. n.], 2014. 1 vídeo (18 min).
Publicado pelo canal UNIVESP. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=l
GU1qgkOpCU&list=TLPQMjIxMTIwMjCRyBH889_JNA&index=2&ab_channel=UNIVESP.
Acesso em: 5 dez. 2020.
NÚMEROS complexos. Aula da disciplina Matemática MMB001. Curso de Engenharia
- Turma 2016 - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Professor ministrante:
Pedro L. Fagundes São Paulo: [S. n.], 2017. 1 vídeo (23 min). Publicado pelo canal UNIVESP.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZKP8evESWcM&list=RDCMUCBL2t
frwhEhX52Dze_aO3zA&start_radio=1&ab_channel=UNIVESP. Acesso em: 5 dez. 2020.
PEREIRA, G. G. Uma proposta didática para o ensino de funções de variável complexa
no ensino médio usando planilha eletrônica. 2017. 95 f. Monografia (Mestrado profis-
sional) – Instituto de Matemática, Estatística e Física, Universidade Federal do Rio
Grande, Rio Grande, 2017.

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ANÁLISE REAL
Sequências e
séries de funções
Rafaela Rodrigues Oliveira Amaro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever sequências de funções e convergência simples e uniforme.


>> Identificar a continuidade, a integral e a derivada de sequências de funções.
>> Demonstrar uma série de funções e suas propriedades.

Introdução
Intuitivamente, uma sequência numérica pode ser admitida como um conjunto de
números reais organizados em certa ordem e denotado como (x1, x2, x3, …, xn). Uma
sequência corresponde a um tipo especial de função, cujo domínio é o conjunto
dos números naturais, o contradomínio é o conjunto dos números reais e a imagem
é um subconjunto dos números reais. Nesse contexto, a primeira seção deste
capítulo tratará da definição de convergência de uma sequência de função e da
distinção entre convergência simples e uniforme. Em seguida, apresentaremos
os teoremas associados à continuidade, à derivada e à integral de sequências de
funções, conteúdo que muito agrega ao desenvolvimento da matemática e que
será embasado em suas respectivas propriedades e demonstrações.
Por fim, outro conceito a ser trabalhado será o de série de funções, que, de
maneira intuitiva, pode ser entendida como uma soma dos infinitos termos de uma
sequência. A ideia dessa soma se baseia na construção de uma nova sequência,
adicionando um termo de cada vez para, assim, verificar se esta converge ou
não. Portanto, teoremas relacionados a séries de funções serão abordados ao
final do capítulo.
2 Sequências e séries de funções

Conceitos fundamentais
Genericamente, sequências podem ser entendidas como uma coleção de
elementos. No entanto, as sequências de funções correspondem a um conjunto
de funções definidas perante um subconjunto preestabelecido.
Matematicamente, define-se como sequência de números reais uma regra
que a cada número inteiro positivo n associa um número real denotado por an.
De modo semelhante, podemos, a cada inteiro positivo k, associar uma função
real definida em intervalo [a, b], denotada por fn(n). A sucessão de funções:

recebe o nome de sequência de funções se existir uma função F(x) definida


em [a, b] tal que:

Assim, é possível dizer que a sequência de termo geral fn (x) converge


para F(x) no intervalo [a, b]. A função F(x) é chamada de “função-limite da
sequência de funções”.

Convergência simples e uniforme


A definição de convergência de uma sequência de funções afirma que:

Assim, ao fixar x = x0, é possível definir uma sequência de números reais


fn(x0), e cada uma dessas sequências converge para algum valor real F(x0),
sendo possível que, em certo ponto, a sequência de funções tenda a um valor
diferente dos pontos na vizinhança. Cada sequência fn(x0) é independente da
sequência fn(x1), mesmo que os pontos x0 e x1 sejam arbitrariamente próximos.
Essa convergência, em que cada ponto é independente dos demais, é chamada
de convergência pontual ou simples.

Definição 1. Seja fn (x) o termo geral de uma sequência de funções


reais definidas no intervalo [a, b]. Se em cada x0 ∈ [a, b] e para
qualquer Ɛ > 0 existir um N(x0, Ɛ) tal que |n(x0) – F(x0)|< Ɛ|, dizemos
que a sequência de funções converge pontualmente para F(x).
Sequências e séries de funções 3

Nessa concepção, é explicitado N(x0, Ɛ) para deixar evidente que N satisfaz


a definição de limite e possui valores diferentes em pontos diferentes do
intervalo [a, b] mesmo mantendo fixo o valor de Ɛ.
Imagine agora que, para certa sequência de funções e para cada Ɛ, fixo a
função N(x0, Ɛ) possui um máximo no intervalo [a, b]. Nesse caso, sempre
que k é maior que esse máximo, obtém-se:

para todo x0 ∈ [a, b].


É importante ressaltar que, ao contrário da convergência simples, nessa
convergência, os pontos da curva não tendem isoladamente a um ponto, mas
a curva, como um todo, tende à curva da função-limite. Essa convergência é
chamada de convergência uniforme.

Definição 2. Uma sequência de funções com termo geral


fn (x) converge uniformemente para a função-limite F(x) no
intervalo [a, b] se, para todo Ɛ > 0 existir um N tal que
|fn (x0) – F(x0)|< Ɛ e sempre que n > N em todo o intervalo [a, b].

Observe que, se uma sequência de funções converge uniformemente, ela


também converge pontualmente.

Segundo Ávila (2006), um exemplo de uma convergencia uniforme é


a sequência fn (x) = x/n, sendo o domínio do x toda a reta. Note que
fn (x) → 0, uma vez que, para todo Ɛ > 0:

Assim, para cada x fixo, é encontrado um N, que varia de acordo com a


variação de x. Quanto maior for o valor de |x|, maior será o de N, o qual tende
a infinito com |x| → ∞. Por consequência, a convergencia da função para zero
não ocorre uniformemente para diferentes valores de x. Observe, no primeiro
gráfico da Figura 1, que as funções y = x/n são retas e se aproximam do eixo das
abscissas conforme aumenta o índice n. Porém, sempre existem valores de x
para os quais a função |fn (x)| supera qualquer número positivo.
4 Sequências e séries de funções

Figura 1. Gráficos do exemplo.

Note que os gráficos não aproximam o eixo das abscissas de modo uniforme
em x. No entanto, delimitando o domínio as funções fn a um intervalo do tipo
|x| ≤ x, onde c é qualquer número positivo, é possível determinar um índice N
válido para os valores x desse intervalo. Com efeito, |x/n|≤ c/n, de forma que
basta fazer c/n < Ɛ para termos |x/n|< Ɛ. Portanto:

Isso possibilita a afirmação de que a convergência é “uniforme em x” em


todo seu eixo real, visto que é possivel encontrar um N = c/Ɛ válido para todo
x ∈ [–c, c].

Continuidade, integral e derivada de


sequências
Dando sequência a nossos estudos, o foco será a continuidade, a integral e a
derivada de sequências de funções, apresentando outra vertente na análise
desse grupo de funções. Os teoremas enunciados a seguir foram baseados
em Neri e Cabral (2011).

Teorema 1. Se uma sequência de funções contínuas no intervalo [a, b] converge


uniformemente para F(x), então a função-limite F(x) é contínua em [a, b].
Sequências e séries de funções 5

Queremos provar que, em qualquer x0 ∈ [a, b] e para todo Ɛ > 0 existe


algum δ > 0 tal que |F(x) – F(x0)|< Ɛ e sempre que |x – x0| < δ. Como a sequência
fn(x) converge uniformemente para F(x), para todo Ɛ > 0 existe um N tal que:

Note que, em todo x ∈ [a, b], f k (x) é contínua em [a, b]. Logo, para qualquer
x0 ∈ [a, b] e todo Ɛ > 0, existe algum δ > 0 tal que:

Assim, se k > N e |x – x0| < δ, tem -se que:

como se pretendia demonstrar.


É importante destacar que, para o teorema a seguir, relacionado à in-
tegral, sempre será admitida a letra F ou a letra G maiúscula para indicar a
antiderivada de uma sequência de funções.

Teorema 2. Se uma sequência de funções contínuas em um intervalo


[a, b] converge uniformemente nesse intervalo, então:

para qualquer x ∈ [a, b].


Pela convergência uniforme, para todo Ɛ > 0 existe um N tal que:

Para qualquer t ∈ [a, b], sejam:


6 Sequências e séries de funções

Assim, temos que:

Pela desigualdade triangular. Se n > N, então:

Se x ∈ [a, b], então a sequência de termo geral gn(x) converge uniforme-


mente para a antiderivada G(x), ou seja, que implica em:

Ainda conforme Neri e Cabral (2011), o conceito de derivada de uma sequ-


ência de funções se evidencia no teorema a seguir.

Teorema 3. Seja (fn)n∈ ⊂ C 1[a, b]. Se existe x0 ∈ [a, b], tal que
(fn (x0))n∈ converge e se (f’n)n∈ converge uniformemente para g:|a, b| → ℝ,
então (fn)n∈ converge uniformemente para uma primitiva de g.

Dado x ∈ [a, b], pelo teorema fundamental do cálculo, podemos escrever


que:

Como (fn (x0))n∈ é convergente para c e como (f’n)n∈ é uniformemente


convergente para g encontramos que (fn)n∈ converge para:

No entanto, g é contínua, uma vez que é limite uniforme de uma sequência


de funções contínuas. Logo, segue que f é uma primitiva de g.
Sequências e séries de funções 7

Para concluir que (fn)n∈ converge uniformemente para f, admita Ɛ > 0 e


escolha N ∈ ℕ tal que, para n ≥ N, tenhamos:

Obtemos, então:

Neri e Cabral (2011) consideram K um subconjunto compacto não


vazio de R em C(K) = {f:K → ℝ; f é contínua}.

Séries de funções e propriedades


As concepções de convergência simples e uniforme de sequências de fun-
ções, estudadas anteriormente, transferem-se naturalmente para séries,
interpretadas como sequências de reduzidas ou somas parciais. Assim, a
convergência uniforme de uma série de funções, de acordo com Ávila (2006),
pode ser indicada por:

Isso significa que a convergência uniforme de somas parciais ou reduzidas


de ordem n é:

Chamamos a somatória infinita de “série de funções” e a


função Sn (x) de “função soma da série”.
8 Sequências e séries de funções

Nesse contexto, é possível afirmar que uma série de funções con-


verge uniformemente em um domínio D para uma soma f(x) se, dado qualquer
Ɛ > 0, existe N tal que, qualquer que seja x ∈ D:

A seguir, alguns teoremas relacionados a séries de funções serão apresen-


tados conforme Ávila (2006): o critério de Cauchy e o teste M de Weierstrass.

Critério de Cauchy
Uma condição necessária e suficiente para que uma série em que os
termos fn são funções com o mesmo domínio D, convirja uniformemente é
que, dado qualquer Ɛ > 0, exista N tal que:

qualquer que seja p inteiro positivo.


Os teoremas a seguir, que podem ser vistos em Ávila (2006), trazem resul-
tados muito importantes no estudo de séries de funções, pois nos permitem
integrar e derivar esse tipo de séries, desde que as funções sejam contínuas
e as séries convirjam uniformemente.

Teorema 4. Uma série de funções contínuas, que converge


uniformemente em um intervalo, tem, por soma, uma função
contínua e pode ser integrada termo a termo.
Teorema 5. Se uma dada série de funções é tal que a série
de derivadas converge uniformemente em um intervalo
e se a série original converge em um ponto desse intervalo,
então sua soma f é derivável nesse intervalo e a derivação de
f pode ser feita derivando termo a termo a série dada.
Sequências e séries de funções 9

Teste M de Weierstrass
O teorema seguinte, conhecido como teste M de Weierstrass, é um critério
muito útil para verificar se uma dada série de funções converge uniforme-
mente (ÁVILA, 2006).

Teorema 6. Seja fn uma sequência de funções com o mesmo


domínio D, satisfazendo a condição |fn (x)| ≤ Mn para todo x ∈
D, em que é uma série numérica convergente. Então a
série converge absoluta e uniformemente em D.

É notável que a série de funções converge para certa função f(x) e converge
absolutamente devido à dominação |fn(x)| ≤ Mn e pelo fato de ser convergente
à série . A convergência dessa série garante que, dado qualquer Ɛ > 0,
existe N tal que:

Então, para todo x em D:

o que prova a uniformidade da convergência e conclui a demonstração do


Teorema 6.

Outra demonstração do Teorema 6 pode ser feita utilizando o critério


de Cauchy. Assim, dado qualquer Ɛ > 0, existe N tal que, para todo
x ∈ D:

Note que, pelo teste de Weierstrass, é necessário evidenciar que a série


dada seja denominada pela série numérica a partir de um certo índice N, não
necessariamente N = 1.

Neste capítulo, vimos que as sequências de funções representam um


conjunto de funções definidas perante um subconjunto preestabelecido.
10 Sequências e séries de funções

Também vimos a continuidade, a integral e a derivada de sequências de


funções, sempre acompanhadas de suas respectivas propriedades, que as
fundamentam. Para finalizar, descrevemos o critério de Cauchy e o teste M
de Weierstrass como possibilidades de conferência da uniformidade das
séries de funções.

Referências
ÁVILA, G. Análise matemática para licenciatura. São Paulo: Blucher, 2006.
NERI, C.; CABRAL, M. Curso de análise real. 2. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011.
ANÁLISE REAL
Funções e limites
Cristiane da Silva

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever o conceito formal de função.


>> Identificar a definição formal de limite.
>> Reconhecer as propriedades de limites.

Introdução
Um dos conceitos muito estudados pela matemática é o de função, visto que
todos os seus tipos (afim, quadrática, trigonométrica, logarítmica, etc.) têm vasta
aplicação prática. Por exemplo, podemos ter interesse em analisar, considerando
a relação entre espaço e tempo, o desempenho de um atleta da natação que treina
para uma competição e cujo treinador o observa e faz anotações sobre o tempo
(em minutos) e a distância percorrida (em metros). Nesse caso, cada instante
corresponde a uma única distância. Dizemos, então, que a distância percorrida
pelo atleta é uma função do tempo gasto em seu treinamento.
O conhecimento de funções nos permite avançar para o estudo de limite,
cujo objetivo é determinar o comportamento de uma função à medida que ela
se aproxima de alguns valores. Os limites são usados no cálculo diferencial e na
análise matemática para definir derivadas e a continuidade de funções.
Neste capítulo, apresentaremos o conceito formal de função, retomando a
noção de conjuntos e lançando mão de exemplos de aplicação desses concei-
tos. Além disso, você poderá compreender os três tipos de função (sobrejetora,
injetora e bijetora), bem como a relação entre continuidade e limite, que será
definido formalmente a partir de uma análise intuitiva. Por fim, descreveremos
as propriedades e os tipos de limite.
2 Funções e limites

Introdução a funções
Para compreendermos o que é uma função, antes devemos entender o que é
um conjunto, conceito relativamente simples que é fundamental na matemá-
tica. Um conjunto, de acordo com Neri e Cabral (2011, p. 1) “[...] é constituído
de objetos chamados elementos. Usamos a notação (lê-se x pertence
a A) para dizer que x é um elemento do conjunto A. Se x não é um elemento
de A, então escrevemos (lê-se x não pertence a A)”.
Em outras palavras, um conjunto é uma coleção qualquer de objetos,
como, por exemplo:

„„ conjunto dos números primos: A = {2, 3, 5, 7, 11, 13, …};


„„ conjunto das instituições de ensino: B = {públicas, privadas,
comunitárias,…}.

Os conjuntos são representados por letras maiúsculas, ao passo que seus


elementos (itens dentro do conjunto) são dispostos entre chaves, separados
por vírgula ou ponto e vírgula. Quanto aos subconjuntos, diz-se, por exem-
plo, que o conjunto dos números naturais é subconjunto do conjunto dos
números inteiros se e somente se todos os elementos do conjunto são
também elementos do conjunto . Então, pode-se dizer que ℕ está condido
em ℤ (Figura 1). Para expressar simbolicamente essa relação, usam-se (está
contido), (contém) ou (não está contido) (FRIEDRICH; MANZINI, 2015).

Figura 1. Representação de

Os números são uma invenção humana. Na Antiguidade, o crescimento


da população e o consequente aumento da complexidade das sociedades,
cujo comércio foi se tornando cada vez mais intenso, motivaram a criação de
formas para representar as quantidades. Foi então que surgiram os números
naturais, que mais tarde seriam acompanhados pelos demais conjuntos
numéricos: inteiros, racionais, irracionais, reais, complexos, etc. (FRIEDRICH;
MANZINI, 2015).
Funções e limites 3

Em nosso cotidiano, relacionamos diferentes grandezas duas a duas.


Por exemplo, quando fazemos compras, relacionamos o produto com o seu
preço; quando extraímos o extrato de uma conta, relacionamos o saldo com
a data em que o extrato foi gerado; quando analisamos uma conta de energia
elétrica, relacionamos o valor com a quantidade de kWh/hora consumido em
um mês; etc. Essas relações podem ser expressas por diagramas.
Como exemplo, vamos supor que, ao fazer compras na padaria, o preço pago
pelo presunto dependa da quantidade de gramas comprada e que ele tenha
sido modelado por uma função afim do tipo Algumas quantidades
estão representadas no diagrama da Figura 2, em que há os conjuntos A e B,
chamados, respectivamente, “conjunto de partida” e “conjunto de chegada”.

Figura 2. Diagrama.

Poderíamos estar interessados em representar essa relação em um plano


cartesiano. Ou seja, com os pares ordenados (valores de x e de y) marcar o
ponto no gráfico e traçar a curva que expresse essa relação (Figura 3).
4 Funções e limites

12

10

8
Preço

0
0 100 200 300 400 500

Quantidade de gramas

Figura 3. Representação gráfica dos pares ordenados (x, y).

Relações binárias como as que acabamos de mencionar foram descobertas


na Antiguidade. Pitágoras, por exemplo, descobriu as relações aritméticas
das notas musicais, e Galileu Galilei, a relação entre a distância percorrida
por um objeto e o intervalo de tempo. Hoje, nas mais diversas áreas anali-
samos fenômenos em que são estabelecidas relações que evidenciam como
a variação de uma grandeza depende da variação de outra. Por exemplo, o
número de leitos disponíveis em um hospital depende da demanda por leitos,
o gasto de combustível depende da quantidade de quilômetros rodados, os
níveis de poluição dependem da degradação da natureza, etc. (FRIEDRICH;
MANZINI, 2015).
No exemplo do preço pago pelo presunto, deduzimos que existe uma
relação entre o peso x do presunto que será comprado (em gramas) e o valor
y a ser pago (expresso em reais). Mais especificamente, a relação é:

Isso significa que, se quisermos comprar 350 gramas de presunto, pagare-


mos A equação dada descreve como o preço
depende do peso do presunto. Nessa equação, a variável x é denominada
“variável independente”, e y é chamada “variável dependente”, uma vez que
seu valor é obtido a partir de x. A regra que permite obter o valor da variável
Funções e limites 5

dependente a partir da variável independente é denominada função (GOMES,


2018).
Gomes (2018, p. 256) define função da seguinte forma: “Uma função f é uma
relação que associa a cada elemento x de um conjunto D, chamado domínio,
um único elemento ou y de um conjunto C, denominado contradomínio”.
Sabendo disso, vejamos algumas propriedades que caracterizam uma função,
estudando os seus três tipos: sobrejetora, injetora e bijetora.

Função sobrejetora

Uma função será sobrejetora quando o conjunto imagem for igual ao con-
tradomínio. Em outras palavras, ela será sobrejetora quando não sobrarem
elementos no conjunto C sem receber flechas (Figura 4).

Figura 4. Diagrama de uma função sobrejetora.

Função injetora

Uma função será injetora quando elementos distintos do domínio (D) tiverem
imagens (C) distintas, isto é, quando dois elementos não tiverem a mesma
imagem. Sendo assim, não pode haver nenhum elemento do conjunto C que
receba duas flechas (Figura 5).
6 Funções e limites

Figura 5. Diagrama de uma função injetora.

Função bijetora

Uma função será bijetora quando for, ao mesmo tempo, sobrejetora e injetora.
Ou seja, ela será bijetora quando os elementos de C forem flechados uma só
vez (o que a caracterizaria como injetora) e não houver elementos sobrando
em C sem receber flechas, o que a caracterizaria como sobrejetora (Figura 6).

Figura 6. Diagrama de uma função bijetora.

Nesta seção, lançamos mão de exemplos do cotidiano para definir con-


junto e apresentar a sua representação, de modo a facilitar o entendimento
sobre as relações binárias e o conceito de função. A partir disso, você pôde
compreender a definição formal, a notação e os tipos de função: injetora,
sobrejetora e bijetora.

Continuidade e limite
Iniciaremos o estudo de limite com uma noção intuitiva, de modo a tornar
mais evidente o que ele representa. Neri e Cabral (2011) explicam que muitas
das funções encontradas em Análise são contínuas e que a noção de “estar
Funções e limites 7

próximo”, usada cotidianamente, é subjetiva, pois o que é longe para uns é


perto para outros e vice-versa. No entanto, as ideias intuitivas e subjetivas
nos ajudam a tornar mais palpáveis os conceitos abstratos. Na matemática,
porém, as definições e demonstrações envolvem rigor. Então, para evitar
subjetividade no conceito de proximidade, utiliza-se o verbo “tender”. Por
exemplo, à medida que x se aproxima de 2, x + 4 se aproxima de 6, ou, se x
tende a 2, então x + 4 tende a 6. Aqui, temos a ideia de limite. Os conceitos
de proximidade e limite estão relacionados.
Também é preciso lembrar o que significa uma função contínua: aquela
em que, considerando um ponto x = p, com p fazendo parte do domínio da
função, o seu gráfico não deverá apresentar um salto (na vertical) em x = p
(GUIDORIZZI, 2010). Para ficar mais claro, observe a Figura 7.

Figura 7. Compreendendo continuidade.


Fonte: Adaptada de Guidorizzi (2010).

Guidorizzi (2010) destaca que g(x) é descontínua somente no ponto x = 1,


quando ela apresenta um salto (na vertical); nos demais pontos, ela é contí-
nua. Dito isso, em uma função contínua, quando x se aproxima de p, ou tende
a p, o valor da função se aproxima cada vez mais da função naquele ponto.
Simbolicamente, isso pode ser expresso por:
8 Funções e limites

Em palavras, isso pode ser enunciado como “o limite de f(x), quando x tende
a p, é f(p)”. A representação gráfica de limite pode ser observada na Figura 8.

Figura 8. Representação gráfica de limite.


Fonte: Adaptada de Guidorizzi (2010).

Vejamos um exemplo, agora por meio da análise de uma tabela.

Considere a função f(x) = x + 4. Qual será o limite no ponto x = 2?

Pensando no gráfico dessa função, constatamos que se trata de


uma reta. Logo, ele não apresentará salto em nenhum ponto, e, sendo assim,
f(x) será contínua. Observe a Figura 9.

Figura 9. Gráfico de f(x) = x + 4.


Funções e limites 9

Perceba que os valores de x estão se aproximando cada vez mais de x = 2,


tanto pela direita quanto pela esquerda, e que os valores da função estão se
aproximando cada vez mais da função naquele ponto por ambos os lados, ou
seja, f(2) = 6. Isso também pode ser observado no Quadro 1.

Quadro 1. Tabela de f(x) = x + 4

Pela esquerda: x < 2 1 1,5 1,9 1,95 1,99 1,999

f(x) = x + 4 5 5,5 5,9 5,95 5,99 5,999

Pela direita: x > 2 3 2,5 2,1 2,05 2,01 2,001

f(x) = x + 4 7 6,5 6,1 6,05 6,01 6,001

Isso nos permite dizer que, quando a função f(x) tende a 2, tanto pela di-
reita quanto pela esquerda, o seu limite no ponto indicado x = 2 é igual a 6.
Matematicamente:

ou seja:

Compreendidos esses conceitos, vejamos a definição formal de limite


apresentada por Anton, Bivens e Davis (2014, p. 101):

Seja f(x) definida em todo x de algum intervalo aberto que contenha o número a,
com a possível exceção de que f(x) não precisa estar definida em a. Escrevemos
se, dado qualquer número , pudermos encontrar um número
tal que se .

Ou seja, o que dizíamos informalmente “tão próximo quanto de L” se


tratava de uma atribuição de sentido quantitativo ao escolher de maneira
arbitrária um número positivo , e a expressão “suficientemente próximo
de a” é quantificada pelo número positivo na definição formal de limite
(ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014). Vamos usar a definição formal de limite para
provar o que fizemos intuitivamente no exemplo anterior, ou seja, para provar
que
10 Funções e limites

Dado qualquer número positivo , podemos encontrar um número positivo


tal que:

Primeiramente, vamos descobrir um valor de que sustente a afirmação


e, depois, provar que ela é válida para aquele .
Vamos iniciar simplificando a equação apresentada:

Perceba que essa afirmação está assegurada quando


Agora, vamos provar que se é válida
para qualquer escolha de . Essa afirmativa é equivalente a
se que, por sua vez, se verifica com Portanto,
se também se verifica com Isso prova
que

Nesta seção, apresentamos a definição informal de limite, iniciando pelo


estudo de função contínua e descontínua. Em seguida, conhecemos repre-
sentações de funções por meio de gráficos e tabelas, de modo a visualizar
a noção de limite e, por fim, compreender sua definição formal. Na próxima
seção, aprofundaremos esse estudo apresentando as propriedades de limites.

Propriedades e tipos de limite


As propriedades dos limites são muito úteis, pois nos permitem resolver
problemas mais facilmente, sem precisar fazer uso da definição de limite, que
pode ser uma tarefa um tanto complicada. Por isso, a seguir vamos apresentar
caminhos e métodos mais fáceis para encontrar os limites das funções.
Supondo que c seja uma constante e os limites e existam,
então as propriedades são (STEWART, 2016):

1. que pode ser enunciada como


“o limite de uma soma é a soma dos limites”;
2. que pode ser enunciada como
“o limite de uma diferença é a diferença dos limites”;
Funções e limites 11

3. que pode ser enunciada como “o limite de uma


constante multiplicando uma função é a constante multiplicando o
limite dessa função”;
4. que pode ser enunciada como “o
limite de um produto é o produto dos limites”;
5. que pode ser enunciada como “o

limite de um quociente é o quociente dos limites, desde que o limite


do denominador não seja zero”;
6. onde n é um inteiro positivo, que pode ser
enunciada como “o limite de uma função elevada a n é equivalente ao
limite elevado a n dessa função”;
7. que pode ser enunciada como “o limite de uma constante é
a própria constante”.
8. que pode ser enunciada como “o limite de uma função será
equivalente ao valor de que o x se aproxima, que, nesse caso, é a”;
9. onde n é um inteiro positivo;

10. onde n é um inteiro positivo. De modo mais geral, temos

que pode ser enunciada como “o limite da raiz

enésima de uma função é equivalente à raiz enésima do limite dessa


função”.

Vejamos alguns exemplos aplicados a cada uma dessas propriedades.

1) Propriedade da soma:

2) Propriedade da diferença:
12 Funções e limites

3) Propriedade da multiplicação por constante:

4) Propriedade do produto:

5) Propriedade do quociente:

6) Propriedade da potência:

7) Propriedade da constante:

8) Propriedade do limite de x:

9) Propriedade do limite de xn:

10) Propriedade da raiz enésima de uma função:


Funções e limites 13

Além dessas propriedades, é importante conhecermos os tipos de limite


com os quais podemos nos deparar. Os 15 tipos de limite são apresentados
no Quadro 2.

Quadro 2. Os 15 tipos de limite

Fonte: Adaptado de Neri e Cabral (2011).

O Quadro 3 apresenta o significado dos limites iguais a (que


correspondem, cada um deles, a uma coluna do Quadro 2), bem como o
que representam os símbolos que
correspondem às linhas do Quadro 2.

Quadro 3. Significado de alguns limites e símbolos

Significa que, por menor que seja podemos concluir


que desde que x verifique certa condição.

Significa que, por maior que seja podemos concluir


que desde que x verifique certa condição.

Significa que, por maior que seja podemos concluir


que desde que x verifique certa condição.

Significa que a condição sobre x é para


suficientemente pequeno.

Lê-se x tende a x0 pela direita. Significa que a condição


sobre x é para suficientemente pequeno.

Lê-se x tende a x0 pela esquerda. Significa que a condição


sobre x é para suficientemente pequeno.

(Continua)
14 Funções e limites

(Continuação)

Lê-se x tende a mais infinito. Significa que a condição sobre


xé para N suficientemente grande.

Lê-se x tende a menos infinito. Significa que a condição


sobre x é para N suficientemente grande.

Fonte: Adaptado de Neri e Cabral (2011).

Você pode saber mais sobre as propriedades dos limites consultando


o capítulo 7 da obra Curso de Análise Real, de Neri e Cabral (2011).

Nesta seção, você pôde conhecer as propriedades de limites e os 15 tipos


de limite com os quais podemos trabalhar, bem como exemplos envolvendo
tais propriedades. Ademais, neste capítulo, você pôde compreender o conceito
formal de função e a sua representação, assim como a definição formal de
limite.

Referências
ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. v. 1.
FRIEDRICH, M. A.; MANZINI, N. Matemática aplicada: administração e ciências contábeis.
2 ed. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2015.
GOMES, F. M. Pré-cálculo: operações, equações, funções e sequências. São Paulo:
Cengage Learning, 2018.
GUIDORIZZI, H. L. Matemática para administração. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
NERI, C.; CABRAL, M. Curso de análise real. 2. ed. Rio de Janeiro: Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: https://www.labma.ufrj.br/~mcabral/livros/
livro-analise/curso-analise-real-a4.pdf. Acesso em: 11 abr. 2021.
STEWART, J. Cálculo. São Paulo: Cengage Learning, 2016. v. 1.

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CÁLCULO: INTEGRAIS
E FUNÇÕES DE
VÁRIAS VARIÁVEIS

Rejane Izabel Lima Corrêa


Limites e continuidade
em várias variáveis
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Relacionar os conceitos de limites e continuidade ao contexto de


várias variáveis.
„„ Desenvolver os cálculos limites por substituição.
„„ Calcular limites de produtos de funções.

Introdução
Neste capítulo, você estudará a teoria de limites e continuidade para
funções de várias variáveis, estabelecendo formas de descrever esses
conceitos e desenvolver técnicas para calcular limites.
A ideia que envolve o cálculo de limite de várias variáveis é análoga à
do cálculo de limite de funções de uma variável, mas, ao adicionarmos a
uma função mais de uma variável, aumentamos a complexidade do limite
— assim, devemos prestar atenção em algumas diferenças importantes,
dando origem a novas definições.
Concentraremos o estudo de limite e continuidade para função de
duas variáveis, mas o resultado pode ser estendido analogamente para
função de três ou mais variáveis.

Limites e continuidade de funções


de várias variáveis
Dizemos que f se aproxima do limite L quando (x, y) se aproxima de (x0, y0)
se os valores de f (x, y) estão cada vez mais próximos de um número L para
todos os pontos (x, y) próximos de (x0, y0) (ROGAWSKI; ADAMS, 2018).
A Figura 1 ilustra esta definição por meio de um diagrama de setas.
2 Limites e continuidade em várias variáveis

Observe que, se (x0, y0) está no domínio de f, temos que (x, y) pode se
aproximar de (x0, y0) a partir de qualquer direção. Assim, para o limite exis-
tir, o valor obtido deve ser sempre o mesmo, independentemente da direção
escolhida para se aproximar de (x0, y0).

Figura 1. Diagrama de setas ilustrando o comportamento da função quando (x, y) se


aproxima de (x0, y0).

A definição formal para limite de uma função de duas variáveis é: a função


f (x, y) se aproxima do limite L à medida que (x, y) se aproxima de (x0, y0),
quando escrevemos

se, para todo número ϵ > 0, existe δ > 0 tal que, para todo (x, y) no domínio
D de f,

|f(x, y) – L| < ε

sempre que

|(x, y) – (x0, y0)| < δ

A ilustração para a definição acima é exibida na Figura 2, onde z = f (x, y)


representa uma superfície.
Limites e continuidade em várias variáveis 3

Figura 2. |f(x, y) – L| < ε para todo valor de (x, y) no disco de raio δ no plano xy, independente
do caminho.
Fonte: Adaptada de Rogawski e Adams (2018).

A distância entre f (x, y) e L se torna arbitrariamente pequena sempre que


a distância entre (x, y) e (x0, y0) se mostrar suficientemente pequena (mas não
igual a 0).

A definição se aplica tanto para pontos (x0, y0) interiores quanto para pontos de fronteira
do domínio D, ainda que um ponto de fronteira não faça parte do domínio. Os pontos
(x, y) que se aproximam de (x0, y0) estão sempre no domínio D.

Exemplo 1
Vamos mostrar que
4 Limites e continuidade em várias variáveis

De acordo com a definição, temos que f (x, y) = x e L = a. Precisamos


garantir que, para qualquer δ > 0, podemos encontrar ε > 0, tal que

|f(x, y) – L| = |x – a| < ε

Sempre que |(x, y) – (a, b)| < δ.

Como (x, y) se aproxima de (a, b), por definição

Da última desigualdade apresentada, podemos concluir que

(x – a)2 < δ2 ⇒ |x – a| < δ

Fazendo ε = δ, obtemos a desigualdade procurada

|f(x, y) – L| = |x – a| < δ = ε

De maneira análoga ao exercício anterior, conseguimos mostrar que

e também que

para todo número real k.

Que tal treinar o que aprendeu até o momento e demonstrar os dois limites citados?
Utilize o exemplo anterior como roteiro fazendo as alterações necessárias para cada
limite a ser resolvido.
Limites e continuidade em várias variáveis 5

Continuidade
Uma função f de duas variáveis é contínua em (a, b) se

Dizemos, também, que f (x,y) é contínua em D se f é contínua em todos


os pontos (a, b) ∈ D.

Exemplo 2

A função

é descontínua no ponto (0,0), no qual a função não está definida e


não existe.

Funções com três ou mais variáveis


Todos os resultados obtidos até o momento podem ser estendidos para as
funções com três ou mais variáveis.
Dizemos que

Se os valores de f (x, y, z) ficam cada vez mais próximos de L quando


(x, y, z) se aproxima de (x0, y0, z0) ao longo de qualquer caminho no domínio de f.

E a função f (x, y, z) é contínua em (a, b, c) se


6 Limites e continuidade em várias variáveis

De modo geral, temos que se f é definida em um subconjunto D ϵ ℝ n, então

significa que, para todo número real ε > 0, existe um número real δ > 0,
tal que

|f(x) – L| < δ sempre que |x – a| < ε

onde x = (x1, x2, x3,⋯, xn) e a = (a1, a2, a3,⋯, an).

Propriedades dos limites de funções


de duas variáveis
Suponha que existam os limites

tais que

Seja k um número real, então:

1. Propriedade da soma

2. Propriedade da multiplicação por constante


Limites e continuidade em várias variáveis 7

3. Propriedade do produto

4. Propriedade do quociente

5. Propriedade da potência

6. Propriedade da radiciação

Exemplo 3
Calcule

Sabendo que

De acordo com a propriedade do produto, temos que


8 Limites e continuidade em várias variáveis

Cálculo de limite por substituição


Das propriedades de limite, obtemos um resultado útil de que os limites das
funções das funções polinomiais e racionais podem ser calculados avaliando
a função no ponto, isto é, o limite da função f (x, y), quando (x, y) → (x0, y0),
pode ser obtido avaliando o valor de f (x0, y0), substituindo o ponto (x0, y0) na
função. A única atenção que devemos ter reside no fato de que as funções
racionais devem estar definidas em (x0, y0).
Encontre

Para encontrarmos o limite, basta fazermos a substituição na função de x


por 1 e y por –2. Assim:

Exemplo 5
Encontre

Para encontrarmos o limite, basta fazermos a substituição na função de x


por 0 e y por 0. Assim:

Exemplo 6
Encontre
Limites e continuidade em várias variáveis 9

Para encontrarmos o limite, basta fazermos a substituição na função de x


por 4 e y por 0. Assim:

Exemplo 7
Considere as funções f (x, y) = 3x2+4y2 e . Encontre

De acordo com a propriedade do produto, temos que

Para encontrarmos o limite, basta fazermos a substituição na função de x


por –5 e y por 2. Assim:

Exemplo 8
Encontre

Como se aproxima de 0 quando (x, y) tende a (0,0), não podemos


fazer a substituição direta, pois isso anularia o denominador. Para solucio-
narmos o problema da divisão por 0, podemos racionalizar o denominar, ou
seja, multiplicar o numerador e o denominador por :
10 Limites e continuidade em várias variáveis

Assim, encontramos uma função equivalente cujo limite podemos calcular


por substituição:

Exemplo 9
Vamos analisar

Como x2 + y2 se aproxima de 0 quando (x, y) tende a (0,0), não podemos


fazer a substituição direta, pois isso anularia o denominador.
Observe o Quadro 1, que exibe os valores de para pontos
próximos de (0, 0).

Quadro 1. Valores de para x e y variando entre –1 e 1

y
–1 –0,5 –0,3 –0,1 0 0,1 0,3 0,5 1
–1 0,000 0,600 0,835 0,980 1,000 0,980 0,835 0,600 0,000
–0,5 –0,600 0,000 0,471 0,923 1,000 0,923 0,471 0,000 –0,600
–0,3 –0,835 –0,471 0,000 0,800 1,000 0,800 0,000 –0,471 –0,835
–0,1 –0,980 –0,923 –0,800 0,000 1,000 0,000 –0,800 –0,923 –0,980
x
0 –1,000 –1,000 –1,000 –1,000 –1,000 –1,000 –1,000 –1,000
0,1 –0,980 –0,923 –0,800 0,000 1,000 0,000 –0,800 –0,923 –0,980
0,3 –0,835 –0,471 0,000 0,800 1,000 0,800 0,000 –0,471 –0,835
0,5 –0,600 0,000 0,471 0,923 1,000 0,923 0,471 0,000 –0,600
1 0,000 0,600 0,835 0,980 1,000 0,980 0,835 0,600 0,000
Limites e continuidade em várias variáveis 11

Observe que à medida (x, y) se aproxima de (0, 0), a função não se aproxima
de valor algum. Os valores que a função assume variam. Por exemplo:

f(0,1; 0) = 1
f(0,1; 0,1) = 0
f(0; 0,1) = –1

Nesse caso, dizemos que o limite não existe.

Como visto na definição de limite, a função f tem limite L se, à medida


que (x, y) se aproxima de (x0, y0), temos que f fica cada vez mais próximo de
L, independentemente do modo (caminho) como (x, y) tende a (x0, y0).

Exemplo 10
Vamos mostrar que o limite não existe.

Aproximemos de (0, 0) pelo eixo x. Tomando y = 0, temos:

Assim, f(x, y) → 1 quando (x, y) → (0,0) ao longo do eixo x.


Vamos aproximar agora de (0,0) pelo eixo y. Tomando x = 0, temos:

Assim, f(x, y) → –1 quando (x, y) → (0, 0) ao longo do eixo y.


Como f tem dois limites diferentes ao longo de duas retas diferentes, o
limite não existe, comprovando o resultado do exemplo anterior.
12 Limites e continuidade em várias variáveis

Exemplo 11
Determine

Basta fazer a substituição direta do ponto (x, y, z) por (0,0,0) na função


f= :

Os limites são utilizados no cálculo diferencial e em outros ramos da


matemática para definir derivadas e a continuidade de funções. Emprega-
mos o conceito de limite para descrever o comportamento de uma função à
medida que suas variáveis se aproximam de determinado valor, assim como
o comportamento de uma sequência de números reais à medida que o índice
cresce, tendendo para o infinito.

Referência

ROGAWSKI, J.; ADAMS, C. Cálculo, volume 2. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018. 608 p.

Leituras recomendadas
ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo, volume II. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.
688 p.
AYRES JUNIOR, F.; MENDELSON, E. Cálculo: mais de 1000 problemas resolvidos. 5. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2013. 544 p. (Coleção Schaum).
STEWART, J. Cálculo, volume 2. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. 1154 p.
THOMAS, G. B.; WEIR, M. D.; HASS, J. Cálculo, volume 2. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2012.
548 p.
CÁLCULO II

Cristiane da Silva
Sequências e séries infinitas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar sequência e convergência, bem como os demais conceitos


relacionados.
„„ Reconhecer a convergência de uma sequência.
„„ Usar o teorema do confronto.

Introdução
Um ramo importante do cálculo é a teoria das séries infinitas. Elas forne-
cem uma nova perspectiva das funções e de muitos números — como
exemplos, podemos mencionar a série de Gregory-Leibniz e a série
infinita da função exponencial. A primeira revela que o número irracional
π está relacionado com os recíprocos dos inteiros ímpares de maneira
inesperada, enquanto a segunda mostra que a função f(x) = ex pode ser
expressa como um polinômio infinito.
Séries como essas são bastante utilizadas em aplicações, tanto na
parte computacional quanto na análise de funções. Se você pensar no
termo “sequência” em uma linguagem mais informal, verá que significa
uma sucessão de coisas em uma ordem determinada, por exemplo, a
ordem cronológica, a ordem de tamanho ou a lógica.
Neste capítulo, você conhecerá o conceito de sequência e conver-
gência, e verá como reconhecer a convergência de uma sequência.
Para isso, são retomados conceitos envolvendo sequências e séries
que são necessários para o entendimento do assunto em estudo. Você
encontrará neste capítulo diversas ilustrações que procuram elucidar
adequadamente o foco do estudo. Além disso, verá exemplos resolvidos
para facilitar a compreensão, bem como informações importantes para
ampliar o conhecimento.
2 Sequências e séries infinitas

1 Sequências
Rogawski (2009) destaca que as sequências de números podem ser percebidas
em situações diversas. Para compreendê-las, pense em uma situação bem
simples. Imagine, por exemplo, que precisa dividir uma pizza pela metade, que
você mais uma vez divide pela metade, e continua dividindo indefinidamente
pela metade, como mostra a Figura 1. Assim, a fração de pizza deixada em
cada estágio forma a sequência Isso é a sequência de valores de
, para n = 0, 1, 2, ...

Figura 1. Exemplo de sequência.


Fonte: Rogawski (2009, p. 535).

Entende-se uma sequência como uma função f(n) cujo domínio é um sub-
conjunto dos inteiros, onde os valores an = f(n) são denominados termos da
sequência e n é o índice. Informalmente, pensamos na sequência como uma
coleção de valores {an} ou uma lista de termos: a1, a2, a3, a4, ... Quando an
for dado por uma fórmula, costumamos dizer que an é o termo geral (RO-
GAWSKI, 2009).
Sequências e séries infinitas 3

Observe na Figura 2 alguns termos gerais, domínios e a sua respectiva sequência.

Figura 2. Exemplos de termo geral, domínio e sequência.


Fonte: Adaptada de Rogawski (2009, p. 535).

A sequência , conhecida como série de Balmer na física e na química,


desempenha um papel importante na espectroscopia. Os termos dessa sequência
são os comprimentos de onda de absorção do átomo de hidrogênio em nanômetros.

Você verá a seguir um exemplo de sequência em que os termos são definidos


recursivamente. É dado o primeiro termo, e o enésimo termo an é calculado
usando o precedente an–1.

Calcule a2, a3, a4 para a sequência definida recursivamente por a1 = 1, .

Solução:
4 Sequências e séries infinitas


Essa sequência é reconhecida como a sequência de aproximações de √2 ≈ 1,4142136,
produzida pelo método de Newton com valor inicial a1 = 1: quando n tende ao infinito,

an tende a √2 (ROGAWSKI, 2009).
Fonte: Rogawski (2009, p. 536).

As sequências têm um padrão definido, e isso torna fácil gerar termos


adicionais. No entanto, você precisa ter cuidado, pois esses padrões podem
ser ilusórios; por isso, é melhor ter uma regra ou fórmula para gerar os termos.
Uma maneira de fazer isso é procurar uma função que relacione cada termo
da sequência ao número da sua posição.
Pensando na sequência 2, 4, 6, 8, …, temos que cada termo é o dobro do
número da sua posição, ou seja, o enésimo termo da sequência é dado pela
fórmula 2n. Denotamos isso escrevendo a sequência como 2, 4, 6, 8, …, 2n,
…, e dizemos que a função f(n) = 2n é o termo geral dessa sequência. Assim,
se quisermos saber um termo qualquer dela, precisamos apenas substituir o
número de posição na fórmula do termo geral — por exemplo, o 41-ésimo
termo da sequência é 2 · 41 = 82 (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014).

Em cada parte, determine o termo geral da sequência.

a)

b)

c)

d) 1, 3, 5, 7, …

Solução:
a) Na Figura 3, os quatro termos conhecidos foram colocados abaixo do seu número
de posição. Veja que o numerador é igual ao número de posição, e o denominador
é o número de posição mais 1. Isso sugere que o enésimo termo tem o numerador n
e o denominador é n + 1, conforme indicado na figura. Assim, a sequência pode ser
expressa como
Sequências e séries infinitas 5

Figura 3. Representação da sequência


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 597).

b) Na Figura 4, os denominadores dos quatro termos conhecidos foram expressos


como potências de 2 e colocados abaixo do seu número de posição. Veja que o expo-
ente no denominador é igual ao número de posição. Isso sugere que o denominador
do enésimo termo é 2n, conforme indicado na figura. Assim, a sequência pode ser
expressa como

Figura 4. Representação da sequência


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 597).

c) Essa sequência é idêntica à mostrada em (a), exceto pelos sinais alterados. Assim,
o enésimo termo da sequência pode ser obtido multiplicando-se o enésimo termo da
parte (a) por (–1)n+1. Esse fator produz corretamente os sinais alterados, uma vez que os
seus valores sucessivos, começando com n = 1, são 1, –1, 1, –1, … Assim, a sequência
pode ser escrita como

d) Na Figura 5, os denominadores dos quatro termos conhecidos foram colocados


abaixo dos seus números de posição. Veja que cada termo é 1 a menos do que o
dobro do seu número de posição. Isso sugere que o enésimo termo da sequência é
2n – 1, conforme indicado na figura. Assim, a sequência pode ser expressa como 1,
3, 5, 7, …, 2n – 1, …

Figura 5. Representação da sequência 1, 3, 5, 7, …, 2n – 1, …


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 597).
6 Sequências e séries infinitas

Quando o termo geral de uma sequência a1, a2, a3, …, an, … for conhecido, não há
necessidade de escrever os termos iniciais. Nesse caso, é comum escrever somente
o termo geral envolvido por chaves, ou seja, ou . A letra n é chamada
de índice da sequência, e não é essencial usar n como índice; qualquer letra que não
estiver reservada para outros propósitos pode ser usada.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 597–598).

Na próxima seção, você verá como reconhecer a convergência de uma


sequência, a partir de definições, teoremas e exemplos.

2 Convergência de uma sequência


Rogawski (2009, p. 536) define a convergência de uma sequência da seguinte
forma: “Uma sequência {an} converge a um limite L, e escrevemos
ou an → L se, para cada ϵ > 0, existir um número M tal que |an – L| < ϵ, para
todo n > M. Se não existir um limite, dizemos que {an} diverge”. Veja a seguir
um exemplo demonstrando a convergência de uma sequência.

Seja an = . Prove formalmente que an = 1.

Solução:
A definição exige que encontremos, para cada ϵ > 0, um número M tal que |an – 1| < ϵ.
Para todo n > M, temos:

Portanto, |an – 1| < ϵ se:

Segue que |an – 1| < ϵ é válido com . Por exemplo, se ϵ = 0,01, então
podemos tomar . Assim, |an – 1| < 0,01 para n = 300, 301, 302, …
Fonte: Rogawski (2009, p. 536).
Sequências e séries infinitas 7

É possível visualizar a sequência traçando o seu gráfico, como mostra a


Figura 6.

Figura 6. Gráfico de uma sequência com limite L.


Fonte: Rogawski (2009, p. 536).

Note que a sequência converge para um limite L e, para cada ϵ > 0, os


pontos esboçados acabam sempre ficando dentro da faixa de largura ϵ para
cada lado da reta horizontal y = L, como mostra a Figura 6. A Figura 7 mostra
o gráfico de uma sequência convergente a L = 1. Cabe destacar que é possível
mostrar que a sequência an = cos n, conforme mostra a Figura 8, não tem
limite (ROGAWSKI, 2009).

Figura 7. A sequência an = .
Fonte: Rogawski (2009, p. 537).
8 Sequências e séries infinitas

Figura 8. A sequência an = cos n não tem limite.


Fonte: Rogawski (2009, p. 537).

O limite não muda quando se modifica ou ignora um número finito de


termos da sequência. Além disso, se C for uma constante e an = C para todo n
suficientemente grande, então . Suponha agora que f(x) seja uma
função e que ela tenda a um limite L quando x → ∞. Nesse caso, a sequência
an = f(n) tende ao mesmo limite L, como você pode ver na Figura 9. Nesse
caso, para todo ϵ > 0, podemos encontrar M tal que |f(x) – L| < ϵ para todo
x > M. Portanto, segue que |f(n) – L| < ϵ para todos os inteiros n > M.

Figura 9. Se f(x) convergir a L, então a sequência an = f(n) também


converge a L.
Fonte: Rogawski (2009, p. 537).
Sequências e séries infinitas 9

Sabendo que as sequências são funções, pode-se pensar nos seus limites.
No entanto, como a sequência {an} está definida somente para valores inteiros
de n, o único limite que faz sentido é o de an quando n → + ∞. A Figura 10
mostra os gráficos de quatro sequências, cada uma se comportando de maneira
diferente quando n → + ∞ (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014).

Figura 10. Gráficos de sequências.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 599).

Anton, Bivens e Davis (2014, p. 599) explicam os seguintes aspectos.

„„ Os termos na sequência {n + 1} crescem sem cota.


„„ Os termos na sequência {(–1)n+1} oscilam entre –1 e 1.
„„ Os termos na sequência crescem em direção a um “valor
limite” de 1.
„„ Os termos na sequência também tendem a um “valor
limite” de 1, mas o fazem de forma oscilatória.

Informalmente, o limite de uma sequência {an} pretende descrever como


an se comporta quando n → + ∞. Dizemos que uma sequência {an} tende a
um limite L se os termos da sequência se tornarem arbitrariamente próximos
de L (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014).
10 Sequências e séries infinitas

Uma sequência geométrica é uma sequência da forma an = crn, onde c e r


são constantes não nulas. Por exemplo, se c = 2 e r = 3, obtemos a sequência
geométrica 2, 2 ∙ 3, 2 ∙ 32, 2 ∙ 33, 2 ∙ 34, 2 ∙ 35, … O número r é denominado
razão comum aos termos. Cada termo an é r vezes o termo precedente an–1, ou
seja, . Assim, dizemos que {an} diverge ou tende a ∞, e escrevemos
, se os termos an crescem sem cota, ou seja, se, para cada N > 0,
temos an > N para todo n suficientemente grande (ROGAWSKI, 2009). Veja
um exemplo de uma sequência geométrica.

Prove que:

Solução:
Aplicamos à função exponencial f(x) = rx. Se 0 < r < 1, então

Analogamente, se r > 1, então f(x) tende a ∞ quando x → ∞, de modo que {rn} também
diverge a ∞. Se r = 1, então rn = 1 para todo n, e o limite é 1.
Fonte: Rogawski (2009, p. 538).

Na próxima seção, você poderá aprofundar o estudo das sequências e séries


infinitas a partir do teorema do confronto.

3 Teorema do confronto
O teorema do confronto para sequências diz o seguinte: sejam {an}, {bn},
{cn} sequências tais que, para algum número M, bn ≤ an ≤ cn para n > M e
. Então (ROGAWSKI, 2009). Veja a seguir
alguns exemplos de aplicação do teorema do confronto.
Sequências e séries infinitas 11

Exemplo 1
Mostre que, se , então .

Solução:
Temos:

–|an| ≤ an ≤ |an|

Como |an| tende a zero, –|an| também tende a zero, e o teorema do confronto decorre
de .

Exemplo 2
Na aplicação do teorema do confronto deste exemplo, vamos provar que, dado
qualquer R, realmente tende a zero. Prove que para todo R.

Solução:
Podemos supor que R > 0. Então existe um único inteiro M ≥ 0, tal que M ≤ R < M + 1.
Para n > M, escrevemos como um produto de n fatores:

Os primeiros M fatores são ≥ 1, e os últimos n – M fatores são < 1. Se agruparmos


os primeiros M fatores e denotarmos esse produto por C, omitindo todos os demais
fatores, exceto o último , obteremos:

Como , o teorema do confronto garante que .


Fonte: Rogawski (2009, p. 539–540).
12 Sequências e séries infinitas

Anton, Bivens e Davis (2014) usam uma representação gráfica para explicar
o teorema do confronto, como você pode observar na Figura 11.

Figura 11. Se an → L e cn → L, então bn → L.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 602).

De acordo com Anton, Bivens e Davis (2014), esse teorema é útil para
encontrar limites de sequências que não podem ser obtidos diretamente. Veja
os exemplos do uso do teorema do confronto propostos pelos autores.

Exemplo 1
Use uma evidência numérica para fazer uma conjectura sobre o limite da sequência:

e confirme que ela está correta.

Solução:
O quadro a seguir, obtido com um recurso computacional, sugere que o limite da
sequência possa ser zero.
Sequências e séries infinitas 13

1 1,0000000000
2 0,5000000000
3 0,2222222222
4 0,0937500000
5 0,0384000000
6 0,0154320988
7 0,0061198990
8 0,0024032593
9 0,0009366567
10 0,0003628800
11 0,0001399059
12 0,0000537232

Para confirmar isso, precisamos examinar o limite de quando n → +∞. Embora


isso seja uma forma indeterminada do tipo ∞⁄∞, a regra de L’Hôpital não ajuda, pois
não temos definição de x! com valores não inteiros de x. No entanto, vamos escrever
alguns termos da sequência:

Se n = 1, podemos reescrever o termo geral como:

do que segue que . Agora é evidente que 0 ≤ . Entretanto, as duas


expressões de fora têm o limite zero quando n → +∞. Assim, o teorema do confronto
para sequências implica que an → 0 quando n → +∞, o que confirma a nossa conjectura.

Exemplo 2
Considere a sequência Se tomarmos o valor absoluto

de cada termo, obteremos a sequência que converge para zero.


Assim, temos:

Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 603–604).


14 Sequências e séries infinitas

Neste capítulo, você viu que as sequências e séries infinitas desempenham


um papel importante na matemática e nas ciências. Além disso, estudou
exemplos envolvendo os conceitos, teoremas e definições aprendidas, que
possibilitaram a aplicação dos conhecimentos de sequências e séries infinitas.

ANTON, H.; BIVENS, I. C.; DAVIS, S. L. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. v. 2.
ROGAWSKI, J. Cálculo. Porto Alegre: Bookman, 2009. 2 v.

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