Você está na página 1de 206

Seguridade Social

Prof.a Georgia Carneiro da Fontoura


Prof. Vinícius Dittrich

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof.a Georgia Carneiro da Fontoura
Prof. Vinícius Dittrich

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

F684s

Fontoura, Georgia Carneiro da

Seguridade social. / Georgia Carneiro da Fontoura; Vinícius Dittrich.


– Indaial: UNIASSELVI, 2020.

196 p.; il.

ISBN 978-65-5663-265-0
ISBN Digital 978-65-5663-266-7

1. Seguridade social. - Brasil. I. Dittrich, Vinícius. II. Centro Universitário


Leonardo da Vinci.

CDD 341.67

Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico! Seja bem-vindo a esta nova disciplina em seu
curso, em que trataremos as questões inerentes à Seguridade Social.

Na Unidade 1, nós iremos iniciar nossos estudos abordando o conceito


e os fundamentos da Seguridade Social, buscando compreender este ramo
do direito e refletir sobre sua importância enquanto um sistema de proteção
social. Nesta unidade, nós iremos também buscar compreender como se deu
a evolução histórica da Seguridade Social no mundo, as principais teorias e
como está o panorama atual.

Na Unidade 2, nós estudaremos a Teoria Geral do Direito da


Seguridade Social, tópico fundamental para entender seus elementos
basilares, como o tripé da Seguridade Social: Saúde, Previdência Social e
Assistência Social. Além disso, abordaremos os princípios constitucionais
da Seguridade Social e os seus princípios interpretativos, ou seja, aquelas
concepções que norteiam a interpretação das normas jurídicas desta seara,
bem como o planejamento, implementação, execução e fiscalização de suas
políticas e ações.

Além disso, conheceremos os principais benefícios disponíveis no


âmbito da Seguridade Social: o benefício de prestação continuada – BPC
(LOAS); o Aluguel Social, o Bolsa Família, o seguro-desemprego e a pensão
especial aos portadores da Síndrome da Talidomida.

Em nossa terceira e última unidade, iremos estudar o sistema de


financiamento da Seguridade Social, que, conforme previsto na Constituição
Federal, é um dever imposto a toda sociedade. Afinal, quais são as formas
de contribuição para o custeio da Seguridade Social? Quem gesta? Estas e
outras perguntas conseguiremos responder em nosso percurso.

Por fim, trataremos também de alguns tópicos especiais com


exceções, inadimplementos e aspectos tributários da seguridade social

Pronto para começar mais esta jornada em seu percurso formativo?


Então vamos lá!

Bons estudos!

Prof. Vinícius Dittrich


Prof.a Georgia Carneiro da Fontoura
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE
SOCIAL........................................................................................................................ 1

TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL........................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 CONCEITO DE SEGURIDADE SOCIAL........................................................................................ 3
3 FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL............................................................................ 8
3.1 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS......................................................................................................... 10
3.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL........................................................................................................ 10
3.3 EMENDAS CONSTITUCIONAIS .............................................................................................. 11
3.4 LEIS E SUAS ESPÉCIES................................................................................................................ 13
3.5 MEDIDAS PROVISÓRIAS........................................................................................................... 13
3.6 DECRETOS E SUAS ESPÉCIES................................................................................................... 13
3.7 RESOLUÇÕES, PORTARIAS E INSTRUÇÕES NORMATIVAS ............................................ 14
3.8 JURISPRUDÊNCIA....................................................................................................................... 14
4 NATUREZA JURÍDICA DA SEGURIDADE SOCIAL............................................................... 14
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 16
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 22
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 23

TÓPICO 2 — A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO................................................................ 25


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 25
2 TEORIAS CLÁSSICAS DA SEGURIDADE SOCIAL................................................................. 25
2.1 O MODELO BISMARCKIANO DE SEGURIDADE SOCIAL................................................. 29
2.2 O MODELO BEVERIDGIANO DE SEGURIDADE SOCIAL.................................................. 30
3 PANORAMA ATUAL DA SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO.......................................... 32
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 34
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 42

TÓPICO 3 — A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL.................................................................. 45


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 45
2 A EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL DA SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL................ 45
2.1 A LEI ELOY CHAVES COMO MARCO DA SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL........... 47
2.2 A SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988................................. 48
2.3 A LEI ORGÂNICA DA SEGURIDADE SOCIAL...................................................................... 51
3 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO SOBRE A SEGURIDADE
SOCIAL................................................................................................................................................. 52
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 53
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 59
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 62
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL........................ 65

TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL...................................................................................... 67


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 67
2 O TRIPÉ DA SEGURIDADE SOCIAL: ASSISTÊNCIA, PREVIDÊNCIA E SAÚDE........... 67
2.1 ASSISTÊNCIA SOCIAL................................................................................................................ 69
2.2 PREVIDÊNCIA SOCIAL.............................................................................................................. 70
2.3 SAÚDE ........................................................................................................................................... 70
3 DIFERENÇAS ENTRE PREVIDÊNCIA SOCIAL E ASSISTÊNCIA SOCIAL....................... 71
4 PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DISPONÍVEIS NO ÂMBITO DA SEGURIDADE SOCIAL
EM SEDE DE ASSISTÊNCIA .......................................................................................................... 73
4.1 BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA – BPC (LOAS)............................................. 74
4.2 ALUGUEL SOCIAL....................................................................................................................... 75
4.3 BOLSA FAMÍLIA........................................................................................................................... 76
4.4 PENSÃO ESPECIAL AO PORTADORES DA SÍNDROME DA TALIDOMIDA.................. 78
4.5 SEGURO-DESEMPREGO............................................................................................................. 80
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 83
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 89
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 90

TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL.................... 93


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 93
2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS DA SEGURIDADE SOCIAL.................. 93
2.1 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE............................................................................................ 94
2.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO........................................................................................... 95
2.3 PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO..................................................... 96
2.4 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA......................................................... 97
3 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ESPECÍFICOS DA SEGURIDADE SOCIAL....... 98
3.1 PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE DE COBERTURA E DE ATENDIMENTO............... 99
3.2 PRINCÍPIO DA PRÉVIA FONTE DE CUSTEIO OU REGRA DE CONTRAPARTIDA......... 100
3.3 PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E
SERVIÇOS ENTRE AS POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS............................................ 101
3.4 PRINCÍPIO DA SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DOS
BENEFÍCIOS E SERVIÇOS......................................................................................................... 102
3.5 PRINCÍPIO DA EQUIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇÃO DO CUSTEIO............... 103
3.6 PRINCÍPIO DA DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO.................................. 104
3.7 PRINCÍPIO DO CARÁTER DEMOCRÁTICO E DESCENTRALIZADO DA
ADMINISTRAÇÃO POR MEIO DA GESTÃO QUADRIPARTITE...................................... 105
3.8 PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO E ATUARIAL................................................ 106
3.9 PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS............................. 107
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 108
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 114
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 115

TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL................... 117


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 117
2 PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL......................................... 117
2.1 PRINCÍPIO DO TEMPUS REGIT ACTUM E ULTRATIVIDADE......................................... 118
2.2 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE................................................................................... 118
2.3 PRINCÍPIO DA APLICAÇÃO IMEDIATA DA NORMA CONSTITUCIONAL................ 119
2.4 PRINCÍPIO DA RETROSPECTIVIDADE................................................................................ 119
2.5 PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS.............. 120
2.6 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO SOCIAL..................................................................................... 120
2.7 PRINCÍPIO DO DIREITO AO MELHOR BENEFÍCIO.......................................................... 121
2.8 PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE DA TUTELA PREVIDENCIÁRIA............................... 121
2.9 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DE INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA SEM AMPARO
LEGAL........................................................................................................................................... 122
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 123
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 129
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 131

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 132

UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL.......................................... 135

TÓPICO 1 — RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO..................................................................... 137


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 137
2 DEFINIÇÃO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL........................................................................ 137
3 AUTONOMIA DA RELAÇÃO DE CUSTEIO............................................................................ 142
4 OS CONSELHOS DE GESTÃO DESCENTRALIZADA DA SEGURIDADE SOCIAL..... 143
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 149
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 155
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 156

TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE CONTRIBUIÇÕES PARA O CUSTEIO DA SEGURIDADE


SOCIAL........................................................................................................................ 159
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 159
2 CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL PREVIDENCIÁRIAS.............................. 160
3 CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL NÃO PREVIDENCIÁRIAS.................... 161
4 CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL RESIDUAIS E GERAIS.......................... 163
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 166
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 171
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 172

TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E


ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL................................ 173
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 173
2 HIPÓTESES DE MORATÓRIA, ANISTIA, REMISSÃO E IMUNIDADES DAS
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS......................................................................................................... 173
3 HIPÓTESES E CONSEQUÊNCIAS DO INADIMPLEMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES
SOCIAIS ............................................................................................................................................ 180
4 COMENTÁRIOS SOBRE A NATUREZA JURÍDICA E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DAS
CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURIDADE SOCIAL............................................................. 182
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 185
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 193
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 194

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 195
UNIDADE 1 —

FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO
HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o que é a Seguridade Social, por meio de seus conceitos e


fundamentos;

• delinear a natureza jurídica da Seguridade Social;

• estabelecer a evolução histórica da Seguridade Social no mundo;

• compreender a evolução histórica da Seguridade Social no Brasil;

• estimular a reflexão acerca da importância da Seguridade Social enquanto


um sistema de proteção social;

• desenvolver um olhar crítico acerca da Seguridade Social, compreendendo


seu panorama atual.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

TÓPICO 2 – A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO

TÓPICO 3 – A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, seja bem-vindo a esta caminhada que se inicia.

Neste primeiro tópico iremos estudar o conceito e os fundamentos da


Seguridade Social. Veremos a sua natureza jurídica e em que ramo do direito,
enquanto ciência jurídica, a Seguridade Social estaria vinculada.

A Seguridade Social é um importante sistema de proteção social,


composta por serviços e benefícios sociais que visam o bem-estar da sociedade.
Uma dúvida muito comum que temos é sobre as semelhanças e diferenças
da Previdência Social, pois frequentemente vemos a Seguridade Social e a
Previdência Social sendo tratadas como sinônimos, mas não são.

Nesta caminhada iremos descobrir juntos estas e outras questões


fundamentais para compreendermos o universo da Seguridade Social, este
importante instrumento de concretização de direitos fundamentais, essenciais
para efetivação da cidadania e dignidade da pessoa humana, visando a formação
de uma sociedade livre, justa e solidária.

Você vai ver que Seguridade Social é um tema muito mais empolgante e
interessante do que poderia imaginar.

Está preparado para iniciar esta jornada de conhecimento? O início da


caminhada está a uma página de distância. Vamos lá?

2 CONCEITO DE SEGURIDADE SOCIAL


O conceito de Seguridade Social, em uma primeira análise e, por
assim dizer, em uma definição mais ortodoxa, é naturalmente aquele previsto
constitucionalmente, no artigo 194 da Carta Magna, que a define como um
“conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, previdência social e
assistência social”.

3
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

O artigo 6ᵒ da Constituição Federal, diz que são direitos sociais: a


educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer,
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988).

Assim, podemos concluir já nestas primeiras linhas de nossos estudos


que a Seguridade Social é um conceito muito mais amplo do que o de Previdência
Social, muito embora estes termos sejam utilizados com frequência, inclusive
pela melhor doutrina jurídica, como se fossem sinônimos, mas não são.

A Seguridade Social, como bem delineado pelo próprio texto


constitucional, é um gênero que contempla três espécies: a saúde, a assistência
social e a previdência social. Este é o chamado tripé da seguridade social ou
tríplice aspecto da seguridade social.

A Previdência Social é, portanto, uma espécie dentro do gênero


Seguridade Social, sendo esta última muito mais abrangente do que a primeira.
Desde já, entenda e lembre-se de que a única dentre estas três espécies que exige,
obrigatoriamente, a chamada contraprestação pecuniária – ou seja, você precisa
contribuir/pagar para utilizar – é a previdência social.

Por outro lado, a saúde e a assistência social, independem de contribuição,


pagamento ou contraprestação, são de acesso livre, universal e gratuito. A
maior parte da doutrina resume estes termos “contribuição, pagamento ou
contraprestação” como “contributivo” ou “não contributivo”. Ou seja, enquanto a
previdência social obedece a todo um sistema contributivo, a saúde e a assistência
social são “não contributivos”, porque independem de qualquer “contribuição”
direta por parte do cidadão, ou seja, pagamento.

Naturalmente, nada é “de graça”. Muito embora o cidadão não necessite


contribuir diretamente para acessar os serviços de saúde e assistência social, existe
um sistema de financiamento destes serviços, que inclui contribuições indiretas
de toda a sociedade e do Estado.

Seja como for, para fins doutrinários e inclusive frente a questões de


provas de concursos ou exame de ordem, por exemplo, a regra é de que saúde e
assistência social são sistemas não contributivos, enquanto somente a previdência
social é um sistema contributivo. É muito importante que você tenha isto muito
bem fixado.

Bradbury (2020, p. 6) nos ajuda a compreender melhor o conceito de


Assistência Social e seus aspectos:

Assim, podemos definir a Seguridade Social como o conjunto de


políticas públicas governamentais e ações da sociedade civil voltadas
para o desenvolvimento de direitos relacionados à saúde, previdência
e assistência social. [...] Verifica-se, assim, que a Seguridade Social, tem
os seus três ramos (saúde, assistência e previdência social) previstos

4
TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

expressamente no art. 6ᵒ da CF/1988, como direitos sociais de segura


geração ou dimensão, os quais foram assegurados pelo Estado do
Bem-Estar Social, que busca implementar a seguinte premissa lógica:
“é preciso ter para ser”, ou seja é necessário ter, materialmente, um
mínimo de direitos assegurados e realizados, para que o indivíduo
possa ser, realmente, um cidadão. Os direitos de segura geração ou
dimensão se situam, desta maneira, no plano do ter, de conteúdo
econômico e social e almejam melhorar as condições de vida e trabalho
da população, exigindo do Estado uma atuação positiva (obrigação
de fazer) em prol dos explorados, compreendendo, dentre outros,
o direito ao trabalho, à saúde, ao lazer, à educação, à moradia e à
previdência social.

A definição trazida por Bradbury (2020, p. 6) deixa bastante claro que


a Seguridade Social tem por função garantir a dignidade da pessoa humana,
cercando-a por três aspectos absolutamente fundamentais, quais sejam, a saúde,
a assistência social, e a previdência social, que beneficiam os cidadãos durante
todas as etapas de sua vida, garantindo-lhe o mínimo existencial, em busca do
estabelecimento e manutenção de uma ordem de bem-estar social, ainda tão
almejada pela sociedade brasileira.

O esquema a seguir ilustra bem a Seguridade Social com gênero, que tem
intersecções com as suas espécies: saúde, assistência e previdência. Note que as
espécies não se intersecionam entre si, mas somente com a Seguridade Social:

FIGURA 1 – ILUSTRAÇÃO DO TRIPÉ DA SEGURIDADE SOCIAL

FONTE: Os autores

São, portanto, espécies, bastante distintas umas das outras. Vale transcrever
um trecho da obra de Santos (2019, p. 269), que ensina:

A solidariedade é o fundamento da seguridade social. Pela definição


constitucional, a seguridade social compreende o direito à saúde,
à assistência social e à previdência social, cada qual com disciplina
constitucional e infraconstitucional específica. Trata-se de normas de

5
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

proteção social, destinadas a prover o necessário para a sobrevivência


com dignidade, que se concretizam quando o indivíduo, acometido
de doença, invalidez, desemprego, ou outra causa, não tem condições
de prover seu sustento ou de sua família. É com a proteção dada por
uns dos institutos componentes da seguridade social que se garantem
os mínimos necessários à sobrevivência com dignidade, à efetivação
do bem-estar, à redução das desigualdades, que conduzem à justiça
social. As mutações sociais e econômicas decorrentes do avanço
tecnológico conduzem a novas situações causadoras de necessidades,
fazendo com que a proteção social tenha que se adequar aos novos
tempos. O art. 194, parágrafo único, da CF, permite que se expanda a
proteção e, consequentemente, também o seu financiamento. Deseja a
Constituição que todos estejam protegidos, de alguma forma, dentro
da seguridade social. E a proteção adequada se fixa em razão do custeio
e da necessidade. Assim, se o necessitado for segurado da previdência
social, a proteção social será dada pela concessão do benefício
previdenciário correspondente à contingência-necessidade que o
atingiu. Caso o necessitado não seja segurado de nenhum dos regimes
previdenciários disponíveis, e preencha os requisitos legais, terá direito
à assistência social. Todos, ricos ou pobres, segurados da previdência
ou não, têm o mesmo direito à saúde (art. 196). Portanto, todos os que
vivem no território nacional, de alguma forma, estão ao abrigo do
“grande guarda-chuva da seguridade social”, pois a seguridade social
é direito social, cujo atributo principal é a universalidade, impondo que
todos tenham direito a alguma forma de proteção, independentemente
de sua condição socioeconômica. A seguridade social garante os
mínimos necessários à sobrevivência. É instrumento de bem-estar e de
justiça social, e redutor das desigualdades sociais, que se manifestam
quando, por alguma razão, faltam ingressos financeiros no orçamento
do indivíduo e de sua família.

É muito interessante a visão de Santos (2019, p. 269) ao inserir no contexto


do estudo da Seguridade Social o termo solidariedade. Ao fazer uma simples
pesquisa em um buscador de internet, veremos que o termo solidariedade,
do francês solidarité, quer dizer responsabilidade mútua, inteiro, completo,
interdependente. E, do latim, solide ou solidus, é um termo que manifesta firmeza,
algo inteiro e sólido. É, assim, um termo muito apropriado este utilizado por
Santos (2019) ao buscar definir Seguridade Social.

Leitão (2018, p. 48) contribui para o conceito de Seguridade Social, ao afirmar:

A seguridade social, parte integrante da ordem social, compreende


um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e
da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social (art. 194 da CF/88). Portanto, conclui-
se que a seguridade social é um sistema de proteção social composto
de três subsistemas: previdência, assistência social e saúde.

Impende observar que o Leitão (2018) classifica a Seguridade Social dentro


do contexto da Ordem social, ou seja, como uma das ferramentas para a promoção
da ordem e Bem-Estar social. O autor apresenta uma didática ilustração acerca da
Seguridade Social:

6
TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

FIGURA 2 – SEGURIDADE SOCIAL NA VISÃO DE LEITÃO (2018)

FONTE: Leitão (2018, p. 47)

Denota-se pelo esquema da figura acima que Leitão (2018) compreende a


Seguridade Social como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes
públicos e da sociedade, destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.

Kertzman (2014, p. 11) estrutura de forma bastante interessante o seu


conceito de Seguridade Social:

A palavra “seguridade” quer dizer “segurança”, “proteção”,


“salvaguarda”. Associada ao adjetivo “social”, passa a ser expressão
indicativa de um conjunto de políticas públicas assumidas pelo Estado
com o objetivo de garantir aos cidadãos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no país os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social. A “seguridade social” é, portanto, e em última
análise, a manifestação institucional de um seguro que a própria
sociedade brasileira, tendo como base o primado do trabalho e com
vistas ao bem-estar e à justiça sociais, construiu para si mesma.

O autor contribui, também, com uma tabela muito didática:

7
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

TABELA 1 – QUADRO-RESUMO DA SEGURIDADE SOCIAL

FONTE: Kertzman (2014, p. 11)

Você compreendeu o conceito de Seguridade Social e como este conceito


é totalmente diferente de Previdência Social? Conseguiu compreender, além
disso, que a Seguridade Social compreende saúde, assistência e previdência?
Não se preocupe em entender agora os detalhes. O importante é que você tenha
compreendido os aspectos gerais e saiba, ao menos, responder às perguntas
acima. Em nossa próxima unidade, estudaremos de forma mais aprofundada o
tríplice aspecto da Seguridade Social, bem como, mais algumas de suas distinções
em relação à Previdência Social. Já está curioso(a)?

3 FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL


Antes de adentrar aos fundamentos em espécie da Seguridade Social,
é salutar conceituar o que são fundamentos, na acepção jurídica deste termo.
Fundamentos, em ciência jurídica, são os elementos que formam o arcabouço, a
espinha dorsal, a base sobre a qual esta ciência se desenvolve.

Em sede de Seguridade Social, os fundamentos em linhas gerais são comuns


a outros ramos do direito, porém, com elementos que lhe são particulares, por
exemplo, princípios específicos, normas constitucionais especificamente dirigidas
à Seguridade Social, leis que tratam da seguridade social, e assim por diante.

Assim, podemos dizer que os fundamentos da Seguridade Social são


formados por:

• Princípios específicos
• Constituição Federal
• Emendas constitucionais
• Leis e suas espécies
8
TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

• Medidas provisórias
• Decretos e suas espécies
• Resoluções, portarias, instruções normativas
• Jurisprudência

Tsutiya (2013, p. 47) explica de maneira muito didática sobre os


fundamentos da Seguridade Social:

Todo o processo se inicia na Constituição. O povo, reunido em


Assembleia Nacional, por intermédio de seus representantes,
estabelece as diretrizes para a explicitação de sua vontade. Compõe-
se a chamada superestrutura do ordenamento jurídico, na visão
kelseniana. Em seguida, o legislador regula- menta a vontade
do povo por meio das leis e diversas espécies normativas. São as
chamadas normas infraconstitucionais, ou seja, localizadas abaixo da
Constituição. As leis criam direitos e obrigações. Para sua efetivação,
entra em cena o Poder Executivo, que tem a função precípua de
executar as leis. Para tanto, utiliza instrumentos que tornam exequível,
administrativamente, o comando emanado do Poder Legislativo.
Essas espécies normativas compõem as normas infralegais. São os
decretos, regulamentos, circulares, ordens de serviço etc., em que são
efetivamente concedidos os direitos e cobradas as obrigações na seara
do direito público.

O autor ilustra, por meio da figura a seguir, de forma bastante visual, os


fundamentos da Seguridade Social:

FIGURA 3 – FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Constituição Federal
Emendas constitucionais

Normas
infraconstitucionais
Leis ordinárias, complementares,
leis delegadas, decretos legislativos,
medidas provisórias

Decretos, regulamentos
Normas
infralegais
Instruções normativas
Ordens de serviço

FONTE: Tsutiya (2013, p. 48)

9
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

Perceba que Tsutiya (2013) divide os fundamentos da Seguridade Social


em dois grandes grupos: normas infraconstitucionais, ou seja, aquelas que estão
abaixo da constituição como as leis ordinárias, complementares, leis delegadas,
decretos legislativos e medidas provisórias; e as normas infralegais, como os
decretos, regulamentos, e instruções normativas, por exemplo.

3.1 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS


Os princípios específicos de Seguridade Social serão abordados em
unidade adiante, mas, considerando que integram os fundamentos da Seguridade
Social, vamos aqui, tão somente, elencar os principais:

• Universalidade da cobertura e do atendimento


• Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações rurais e
urbanas
• Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços
• Irredutibilidade do valor dos benefícios
• Equidade na forma de participação no custeio
• Diversidade da base de financiamento
• Caráter democrático e descentralizado da administração

Estes princípios estão previstos constitucionalmente no artigo 194 da


Constituição Federal, incisos I ao VII.

É importante destacar que os princípios específicos da Seguridade Social


não se confundem com os princípios específicos de Direito Previdenciário ou de
Previdência Social, posto que, como estudamos, o primeiro é gênero, enquanto os
segundos são espécie.

3.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL


A Constituição Federal não poderia deixar de ser um dos fundamentos da
Seguridade Social. Tsutiya (2013, p. 49) tece alguns comentários relevantes acerca
da posição da Constituição Federal como integrante do rol de fundamentos da
Seguridade Social, sob a ótica de Hans Kelsen:

A Constituição, segundo o sistema kelseniano, ocupa o topo da


pirâmide normativa. É a lei suprema do Estado, a fonte irradiadora
de todo o direito. Em vista disso, todas as normas jurídicas devem
submeter-se a ela. Como vimos, traz as diretrizes para a explicitação
da vontade do povo. Como carta política, contém princípios e valores
fundamentais que servem de paradigma para a interpretação das
demais normas de integração do ordenamento jurídico.

10
TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

O artigo 194 da Constituição Federal trata da Seguridade Social,


insculpindo que a seguridade social compreende um conjunto integrado de
ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar
os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (BRASIL,
1988). A seu turno, o artigo 195 da Constituição Federal também fala da
Seguridade Social, mais especificamente nos seguintes termos: “A seguridade
social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes
Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social”.

3.3 EMENDAS CONSTITUCIONAIS


O artigo 59 da Constituição Federal e seu inciso I, preveem que “o processo
legislativo compreende a elaboração de: I- emendas à Constituição” (BRASIL,
1988, art. 59). As emendas constitucionais são alterações específicas no texto
constitucional, que podem atingir toda a constituição, com exceção das chamadas
cláusulas pétreas, que são aquelas que são consideradas imutáveis, assim sendo
aquelas previstas no artigo 60, parágrafo 4ᵒ, da Constituição Federal, a saber:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


[...]
§ 4ᵒ Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente
a abolir:
[...]
I- a forma federativa de Estado;
II- o voto direto, secreto, universal e periódico;
III- a separação dos Poderes;
IV- os direitos e garantias individuais (BRASIL, 1988, s. p.).

Desta forma, tudo aquilo que não se enquadre nas hipóteses acima,
quais sejam, cláusulas pétreas da Constituição Federal, poderá ser objeto de
emenda constitucional. A seguir, disponibilizamos a lista de todas as emendas
constitucionais já implementadas em matérias de Seguridade Social:

Emenda Constitucional nᵒ 103, de 12 de novembro de 2019


Altera o sistema de previdência social, estabelece regras de transição e
disposições transitórias.

Emenda Constitucional nᵒ 98, de 6 de dezembro de 2017


Altera o art. 31 da Emenda Constitucional nᵒ 19, de 04 de junho de 1998, e
dá outras providências.

Emenda Constitucional nᵒ 88, de 7 de maio de 2015


Altera o inciso II do § 1ᵒ do art. 40 da Constituição Federal, relativamente ao
limite de idade para a aposentadoria compulsória do servidor público, bem como
acrescenta o art. 100 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT.

11
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

Emenda Constitucional Nᵒ 79, de 27 de maio de 2014


Altera o art. 31 da Emenda Constitucional nᵒ 19, de 4 de junho de 1998,
para prever a inclusão, em quadro em extinção da Administração Federal, de
servidores e policiais militares admitidos pelos Estados do Amapá e de Roraima,
na fase de instalação dessas unidades federadas, e dá outras providências.

Emenda Constitucional nᵒ 70, de 29 de março de 2012


Acrescenta o art. 6ᵒ-A à Emenda Constitucional nᵒ 41, de 2003, para
estabelecer critérios para o cálculo e a correção dos proventos da aposentadoria
por invalidez dos servidores públicos.

Emenda Constitucional nᵒ 47, de 6 de julho de 2005


Altera os arts. 37, 40, 195 e 201 da Constituição Federal, para dispor sobre
a previdência social, e dá outras providências.

Emenda Constitucional nᵒ 41, de 19 de dezembro de 2003


Modifica os arts. 37, 40, 42, 48, 96, 149 e 201 da Constituição Federal, revoga
o inciso IX do § 3ᵒ do art. 142 da Constituição Federal e dispositivos da Emenda
Constitucional nᵒ 20, de 15 de dezembro de 1998, e dá outras providências.

Emenda Constitucional nᵒ 25, de 14 de fevereiro de 2000


Altera o inciso VI do art. 29 e acrescenta o art. 29-A à Constituição Federal,
que dispõem sobre limites de despesas com o Poder Legislativo Municipal.

Emenda Constitucional nᵒ 20, de 15 de dezembro de 1998


Modifica o sistema de previdência social, estabelece normas de transição
e dá outras providências.

Emenda Constitucional nᵒ 19, de 4 de junho 1998


Modifica o regime e dispõe sobre princípios e normas da Administração
Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e
custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providências.

Emenda Constitucional nᵒ 18, de 5 de fevereiro de 1998


Dispõe sobre o regime constitucional dos militares.

E
IMPORTANT

A Emenda Constitucional n° 103/2019, também conhecida como Reforma


da Previdência, altera o sistema de previdência social, estabelece regras de transição
e disposições transitórias, trouxe profundas e controversas modificações no sistema
previdenciário brasileiro. Recomendamos que você faça a leitura, acessando: http://
sa.previdencia.gov.br/site/2019/11/5dd3d625cb972-5dd3d625cb975EC-n.o-103-de-12-
novembro-2019-DOU-de-13.11.2019.pdf.pdf.

12
TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

3.4 LEIS E SUAS ESPÉCIES


As leis têm previsão constitucional (artigo 59, incisos II e III). Na lição de
Tsutiya (2013, p. 50):

Somente as leis têm o condão de criar direitos e obrigações. A


intenção do povo, manifestada pelo poder constituinte originário
ou derivado, não é suficiente para criar direitos; é somente a partir
da lei que se passa à efetividade. A não ser, é claro, que se trate de
norma constitucional de eficácia plena e aplicabilidade imediata,
que por si só produz efeitos imediatos. Porém, esse tipo de norma
é exceção; a Constituição é geralmente composta de normas de
eficácia limitada de cunho programático. Tal espécie de norma é
condizente com o espírito da Constituição, que é uma carta política.
São diretrizes apontadas pelo povo, por meio do poder constituinte,
para a elaboração de sua vontade.

3.5 MEDIDAS PROVISÓRIAS


As medidas provisórias, segundo preconiza o artigo 59, inciso V, da
Constituição Federal, são parte do processo legislativo. Trata-se de um ato
privativo do chefe do poder executivo nacional, em caso de urgência e relevância.
Com força de lei, tem prazo de duração de sessenta dias, prorrogáveis por igual
período, e, caso não seja objeto de apreciação pelo poder legislativo no prazo
de quarenta e cinco dias, tranca a pauta e obriga a realização de sua votação,
transformando-a ou não em lei.

3.6 DECRETOS E SUAS ESPÉCIES


Decretos Legislativos

Previstos no art. 59, inciso VI, da Constituição Federal, os decretos


legislativos, segundo Tsutiya (2013, p. 51):

[...] introduzem na ordem jurídica os tratados e convenções. Por esse


instrumento normativo, o Legislativo aprova os tratados e convenções
internacionais assinados pelo presidente da República. Exemplo de
decreto legislativo é o de n. 27, de 26-5-1992, que aprova a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos celebrada em 1969 — Pacto de
San José (Costa Rica). Entre os direitos humanos encontra-se o direito
à Seguridade Social.

Decretos Administrativos

Os decretos administrativos, por sua vez, são um comando emanado


diretamente do Poder Executivo, e visam dar efetividade à aplicação de uma
norma jurídica. O decreto administrativo é um ato que compete privativamente
ao chefe do poder executivo, e jamais poderá contrariar uma norma jurídica, mas
apenas complementá-la ou aperfeiçoá-la, sem retirar-lhe o espírito.
13
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

3.7 RESOLUÇÕES, PORTARIAS E INSTRUÇÕES


NORMATIVAS
As Resoluções são normas ou atos administrativos que partem de
autoridades do poder executivo, com a finalidade de disciplinar determinados
temas. No âmbito do INSS, por exemplo, estes instrumentos são amplamente
utilizados para regular de forma pormenorizada as determinações da autarquia.
Existem centenas destas normas regulando os mais variados tipos de temas,
tanto sobre a forma dos requerimentos, prazos, sistema recursal, dentre outros
temas. Quem atua nesta área deve estar extremamente atento a estas normas, pois
inclusive muitas delas tem tido a sua própria constitucionalidade questionada.

Já as Portarias são documentos oficiais assinados por chefes de estado.


Assemelham-se bastante às Resoluções, sendo estas últimas mais comuns no
âmbito da Seguridade Social do que as Portarias.

As Instruções Normativas no âmbito da Previdência Social, a título


de exemplo, na lição de Tsutiya (2013, p. 52) são uma instrução “emitida
exclusivamente pela diretoria colegiada para normatizar e disciplinar a
aplicação de leis, decretos, regulamentos e pareceres normativos de autoridades
do Poder Executivo”. No âmbito da Previdência Social, a instrução normativa é
emitida exclusivamente pela diretoria colegiada para normatizar e disciplinar a
aplicação de leis, decretos, regulamentos e pareceres normativos de autoridades
do Poder Executivo.

3.8 JURISPRUDÊNCIA
Por fim, a jurisprudência, que consiste em um conjunto de decisões
do poder judiciário, de forma reiterada no mesmo sentido e direção sobre
determinado tema, também é considerada um dos fundamentos da Seguridade
Social, que está sujeita ao seu controle.

Assim, finalizamos o estudo dos fundamentos da Seguridade Social.

4 NATUREZA JURÍDICA DA SEGURIDADE SOCIAL


A Seguridade Social é uma criação constitucional, disciplinada, como
estudamos anteriormente, normas jurídicas diversas. É uma espécie de proteção
estatal compulsória. Não se escolhe ser acolhido ou não pela Seguridade Social.
O fato é que ela está à disposição de toda a sociedade.

Outro fator a ser considerado, é que as normas no âmbito da Seguridade


Social são impositivas, não cabendo ao beneficiário qualquer espécie de
interferência direta. Tal fato, revela a natureza jurídica do Direito Previdenciário:
Direito Público.
14
TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Afinal, o que é Direito Público? O Direito Público é o ramo da ciência


jurídica que trata do conjunto de normas jurídicas que organizam os interesses
estatais, tanto internos como externos. No caso do Direito Previdenciário, temos
que este se enquadra como um ramo do Direito Público Interno, posto que trata
da soberania do Estado sobre o povo em assuntos domésticos.

Dower (2001, p. 5) ensina que:

Normas de Direito Público são aquelas em que o Estado toma parte,


ou seja, regulam as relações em que o Poder Público (a União, o
Estado membro, o Município, suas respectivas autarquias) é parte.
Considerando que o Estado intervém na relação jurídica como
autoridade estatal, norma de direito público é aquela que se refere aos
interesses do Estado.

Para além destas considerações, é importante contextualizar a Seguridade


Social, enquanto parte do Direito Público, também como uma espécie de imposição
Estatal. Neste sentido, somos brindados com a lição de Canotilho (1993, p. 541),
quando aponta que a função defensiva dos direitos dos cidadãos possui dupla
perspectiva:

[...] (1) constituem, num plano jurídico-objetivo, normas de


competência negativa para os poderes públicos, proibindo
fundamentalmente as ingerências destes na esfera jurídica
individual; (2) implicam, num plano jurídico-subjetivo, o poder de
exercer positivamente direitos fundamentais (liberdade positiva) e
de exigir omissões dos poderes públicos, de forma a evitar agressões
lesivas por parte dos mesmos (liberdade negativa).

Alexy (2011, p. 443) vem no mesmo sentido e direção, quando afirma:

[...] de acordo com a interpretação liberal clássica, direitos


fundamentais são “destinados, em primeira instância, a proteger a
esfera de liberdade do indivíduo contra intervenções dos Poderes
Públicos; eles são direitos de defesa do cidadão contra o Estado”.
Diretos de defesa do cidadão contra o Estado são direitos a ações
negativas (abstenções) do Estado. Eles pertencem ao status negativo,
mais precisamente ao status negativo em sentido amplo. Seu
contraponto são os direitos a uma ação positiva do Estado, que
pertencem ao status positivo, mais precisamente ao status positivo
em sentido estrito.

Assim, bem delineados os aspectos da natureza jurídica da Seguridade


Social, enquanto parte do Direito Público.

15
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

SEGURIDADE SOCIAL: A ASSISTÊNCIA COMO FERRAMENTA DE


GARANTIAS SOCIAIS

Romilda Barbosa da Silva Lourençon

Resumo: Este artigo estuda a assistência social, parte integrante da


Seguridade Social. A Assistência se diferencia da Previdência Social por
apresentar um caráter de auxílio aos que dela necessitem, independentemente
de contribuição. Tem-se o intuito de demonstrar a Assistência como natureza de
justiça social, como ferramenta utilizada pelo Estado de cuidar dos necessitados
e ser omisso diante da grande segregação e disparidade na distribuição de renda
de nosso país.

Palavras-chave: Seguridade Social. Assistência Social. Princípio da


Universalidade.

1. A Seguridade Social

A seguridade social de acordo com o artigo 194 da Constituição Federal e


o art. 1ᵒ da Lei 8.212, Lei Orgânica da Seguridade Social, compreende um conjunto
integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado
a assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à assistência social, e tem
como princípios e diretrizes a universalidade da cobertura e do atendimento;
uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas
e rurais; seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
irredutibilidade do valor dos benefícios; equidade na forma de participação
no custeio; diversidade da base de financiamento; e caráter democrático e
descentralizado da gestão administrativa com a participação da comunidade, em
especial de trabalhadores, empresários e aposentados.

Existem duas concepções para a seguridade social, uma distributiva e


outra comutativa:

A comutativa pode ser observada nas primeiras legislações dos


seguros sociais e nos sistemas que se inspiram no seguro privado.
Aqui o direito à seguridade social está intimamente associado
a uma atividade assalariada. Dessa forma, o exercício de uma
atividade profissional é a causa e a medida de tal proteção. Segundo
a concepção comutativa, a seguridade social funciona como um
sistema de garantias de rendas obtidas pelo exercício de determinada
atividade profissional e destinadas à cobertura de riscos previamente
catalogados. […] Segunda a concepção distributiva, o exercício de uma
atividade profissional deixa de ser o elemento fundamental do direito
à seguridade social. Aqui, o objeto é a necessidade dos indivíduos,
levando-se em consideração a existência de outras necessidades
sociais, novas, chamadas de coletivas (CORREIA, 2013).

16
TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Essa segunda concepção trabalha com a ideia do princípio da


solidariedade, onde toda a coletividade deve tomar para si as prestações
destinadas a garantir a todos a existência digna. Reflete-se assim na seguridade,
como sendo um sistema de garantias em busca do mínimo social.

Quando estudamos a Seguridade Social, devemos ter em mente todo o


percurso que foi necessário para se ter esses direitos garantidos na Constituição.
Historicamente, o Brasil é um país jovem em comparação aos demais com o
mesmo nível de desenvolvimento, e embora não tenhamos de maneira satisfatória
e efetiva a garantia e respeito a preceitos constitucionais referentes aos direitos
de segunda geração, temos isso instituído em Lei. Com o desenvolvimento e
participação social nas políticas públicas, que vem gradativamente ocorrendo com
país, é questão de tempo para que haja o correto funcionamento da seguridade
social. O que atravanca o desempenho desse ramo do direito é a falta fiscalização,
comprometimento e gestão dos recursos destinados à seguridade.

A seguridade social é um conjunto de ações e instrumentos por meio


do qual se pretende alcançar uma sociedade livre, justa e solidária, erradicar
a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades sociais e promover o
bem de todos. Ela visa a garantir que o cidadão se sinta seguro e protegido ao
longo de sua existência, provendo-lhe a assistência e recursos necessários para
os momentos de infortúnios. É a segurança social, segurança do indivíduo como
parte integrante de uma sociedade.

Para tanto, a seguridade social, de acordo com o art. 196 da Constituição


Federal, divide-se em: saúde, previdência social e assistência.

2. A Assistência Social

A Constituição trata sobre Assistência Social nos artigos 203 e 204.

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem
por objetivos:
I- a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice;
II- o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III- a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV- a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e
a promoção de sua integração à vida comunitária;
V- a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, conforme dispuser a lei.
Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social
serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social,
previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base
nas seguintes diretrizes:

17
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

I- descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e


as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos
respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a
entidades beneficentes e de assistência social;
II- participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no controle das ações
em todos os níveis.
Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular
a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos
por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses
recursos no pagamento de:
I- despesas com pessoal e encargos sociais;
II- serviço da dívida;
III- qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos
investimentos ou ações apoiados.

Sergio Pinto Martins define Assistência Social como conjunto de


princípios, de regras e de instituições detonado a estabelecer uma política social
aos hipossuficientes, por meio de atividades particulares e estatais, visando à
concessão de pequenos benefícios e serviços, independentemente de contribuição
por parte do próprio interessado. A partir disso, observamos que Assistência
Social é para todos, nela está contida o solidarismo, essencial a seguridade, pois
os ativos devem contribuir para sustentar os inativos, e quando uma pessoa
é atingida pela contingência, todas as outras continuam contribuindo para
a cobertura do benefício do necessitado, princípio esse implícito no art. 3ᵒ da
Constituição Federal.

Portanto, a Assistência Social é prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição do próprio beneficiário à seguridade social.

A Assistência Social organiza-se por dois tipos de proteção. A proteção


social básica, onde temos conjuntos de serviços, programas, projetos e benefícios
da assistência social que visa prevenir situações de vulnerabilidade e risco social
por meio de desenvolvimento de potencialidades e aquisições do fortalecimento
de vínculos familiares e comunitários. A proteção social especial, que é o
conjunto de serviços, programas e projetos que tem por objetivo contribuir
para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a defesa do direito,
o fortalecimento das potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e
indivíduos para o enfrentamento das situações de violação de direitos.

Os objetivos da Assistência Social estão contidos nos incisos do art. 203 da


Constituição Federal. Sendo eles: a proteção social, que visa à garantia da vida, à
redução de danos e à prevenção da incidência de riscos.

A Assistência Social se diferencia do Assistencialismo que é:

uma prática de dar atenção às populações desfavorecidas por


intermédio de políticas públicas. Pode haver cooptação de eleitores,
que, na maioria, é de pessoas de baixa renda, submissas e dependentes.
A pessoa recebe e não quer trabalhar. O pagamento por longo prazo

18
TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

propicia renda à pessoa, que não vai mais procurar emprego. Várias
pessoas vivem ao mesmo tempo do benefício recebido. Recentemente
até um gato recebeu irregularmente o benefício. Os assistidos podem
dar retorno eleitoral por ocasião das eleições a quem o concede.

A Assistência Social deve ser feita de forma integrada às políticas que


busquem dar ao necessitado meios de sair da situação geradora da necessidade.
O Assistência torna-se assistencialismo ao passo de que não se oferece os meios
de crescimento e tampouco haja fiscalização de modo a obrigar o necessitado que
saia dessa condição, muitas vezes cômoda.

3. Princípios e Diretrizes

A Assistência é política pública de proteção social e não contributiva, de


direito de cidadania e responsabilidade estatal. Ela se apresenta como processo
e instrumento que se objetiva na redução das mazelas sociais, por meio de
benefícios contínuos e serviços assistenciais protetivos, “a quem dela necessitar”,
art. 203, CF, a partir de dispositivos leais, sendo a diretiva geral estabelecida pala
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social.

"No artigo 204 da Constituição de 1988 encontram-se duas diretrizes


da política de assistência social, relacionadas à descentralização político-
administrativa e à participação da população e controle social. O artigo 203
preconiza os objetivos e são antecedidos pelo enunciado de que “a assistência
social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição
à seguridade social”. Portanto, o texto da Carta Magna remete a gratuidade
dos benefícios e serviços oferecidos e disponibilizados indistintamente a
quem necessitar, sobretudo, o acesso e a garantia dos direitos, respeitando a
autonomia dos cidadãos bem como as diferenças culturais, regionais, sociais,
religiosas e territoriais.”

Com relação às diretrizes da política da Assistência social, temos a


primazia da responsabilidade do Estado e o comando único das relações em
cada esfera do governo, sendo centralizado na família para concepção de
serviços, projetos, programas e benefícios. O LOAS descentralizou política
e administrativamente o controle das atividades sociais, demandando aos
municípios a construção de uma nova ordem democrática, art. 16, da LOAS.
Há diretriz de participação popular por meio de organizações representativas,
na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Há
descentralizarão político-administrativa e participarão da população, conforme
art. 5ᵒ da Lei 8.742:

Art. 5ᵒ A organização da assistência social tem como base as seguintes


diretrizes:
I- descentralização político-administrativa para os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em
cada esfera de governo;
II- participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no controle das

19
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

ações em todos os níveis;


III- primazia da responsabilidade do Estado na condução da política
de assistência social em cada esfera de governo.

Os princípios éticos da Assistência Social, podemos apresentar:

Defesa incondicional da liberdade, da dignidade da pessoa humana,


da privacidade, da cidadania, da integridade física, moral e
psicológica e dos direitos socioassistenciais; Defesa do protagonismo
e da autonomia dos usuários e a recusa de práticas de caráter
clientelista, vexatório ou com intuito de benesse ou ajuda; Oferta de
serviços, programas, projetos e benefícios públicos gratuitos com
qualidade e continuidade, que garantam a oportunidade de convívio
para o fortalecimento de laços familiares e sociais; Garantia do direito
a receber dos órgãos públicos e prestadores de serviços o acesso às
informações e documentos da assistência social, de interesse particular,
ou coletivo, ou geral – que serão prestadas dentro do prazo da Lei
no 12.527, de 18 de novembro de 2011 – Lei de Acesso à Informação –
LAI, e a identificação daqueles que o atender; Proteção à privacidade
dos usuários, observando o sigilo profissional, preservando sua
intimidade e opção e resgatando sua história de vida; Garantia de
atenção profissional direcionada para a construção de projetos
pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade do usuário;
Reconhecimento do direito dos usuários de ter acesso a benefícios e
à renda; Garantia incondicional do exercício do direito à participação
democrática dos usuários, com incentivo e apoio à organização de
fóruns, conselhos, movimentos sociais e cooperativas populares,
potencializando práticas participativas; Acesso à assistência social a
quem dela necessitar, sem discriminação social de qualquer natureza,
resguardando os critérios de elegibilidade dos diferentes benefícios
e as especificidades dos serviços, programas e projetos; Garantia aos
profissionais das condições necessárias para a oferta de serviços em
local adequado e acessível aos usuários, com a preservação do sigilo
sobre as informações prestadas no atendimento socioassistencial, de
forma a assegurar o compromisso ético e profissional estabelecidos
na Norma Operacional Básica de Recurso Humanos do SUAS – NOB-
RH/SUAS; Disseminação do conhecimento produzido no âmbito
do SUAS, por meio da publicização e divulgação das informações
colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários e trabalhadores, no
sentido de que estes possam usá-las na defesa da assistência social,
de seus direitos e na melhoria das qualidade dos serviços, programas,
projetos e benefícios; Simplificação dos processos e procedimentos na
relação com os usuários no acesso aos serviços, programas, projetos e
benefícios, agilizando e melhorando sua oferta; garantia aos usuários
do direito às informações do respectivo histórico de atendimentos,
devidamente registrados nos prontuários do SUAS.

Sergio Pinto Martins coloca como princípios a supremacia do atendimento


às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica;
universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação
assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; respeito à dignidade do
cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem
como à conveniência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação

20
TÓPICO 1 — CONCEITO E FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL

vexatória de necessidade; igualdade de direitos no acesso ao atendimento,


sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência entre às
populações urbanas e rurais; divulgação ampla de benefícios, serviços, programas
e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e
dos critérios para sua concessão.

Observa-se que na Assistência, não há o que se falar em universalidade,


visto que ela não atinge a todos, apenas aos que dela realmente necessitem.

5. Conclusão

Como podemos observar, a Assistência Social busca promover bem mais


do que assistência, busca promover dignidade, resgatar qualquer do povo que
esteja passando por necessidades, por meio de políticas públicas.

A assistência se configura como uma ação estatal que promove medidas


de política social. A LOAS estende a aplicação da assistência a qualquer que
dela necessite, sem que a contribuição seja requisito para a concessão. Há
descentralização da assistência, que significa a possibilidade de ampliação
dos direitos através da participação cotidiana dos cidadãos na gestão pública,
a autonomia municipal e uma potencialização quanto ao uso e redistribuição
dos recursos.

A assistência prevê cobertura prioritária à criança, à família, à gestante,


à nutriz, em situações de riscos e nos casos de calamidade pública. A assistência
é “um direito do cidadão”, entretanto para ser atendido por ela é necessário
que esse cidadão se aproxime da miserabilidade. A assistência sem políticas
que dê ao atendido meios para sair da condição de necessitado não passará
de assistencialismo, é mister que haja não só fiscalização e incentivo para o
crescimento profissional do atendido, mas também uma política mais efetiva
no sentido de obriga-lo a se profissionalizar e se torne autossuficiente. Dessa
forma, além de desonerar a Seguridade Social, melhoraria a economia do país, e
promoveria o desenvolvimento e inclusão social do atendido.

As políticas assistenciais em voga são necessárias, nosso país tem uma


das piores distribuições de renda do mundo. A Seguridade Social, entre outras
coisas, promove a redistribuição de renda o passo em que há proporcionalidade
nas contribuições. No entanto, o que analisamos frente as notícias dos programas
sociais atuais, é que há pouca fiscalização tanto quando se vai conceder os
benefícios, quanto a fiscalização de sua manutenção. Os escândalos envolvidos
com a distribuição desses benefícios, tanto no que tange ao desvio de verbas,
quanto na não necessidade do recebimento por parte de atendidos não pode
macular a Assistência.

FONTE: Disponível em <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-previdenciario/


seguridade-social-a-assistencia-como-ferramenta-de-garantias-sociais/#:~:text=3%C2%BA%20
da%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%20Federal.,pr%C3%B3prio%20benefici%C3%A1rio%20
%C3%A0%20seguridade%20social.&text=203%20da%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%20
Federal.,preven%C3%A7%C3%A3o%20da%20incid%C3%AAncia%20de%20riscos>.
Acesso em: 21 jun. 2020.

21
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Seguridade Social engloba saúde, assistência social e previdência social.

• Muito embora sejam tratados frequentemente como sinônimos, Seguridade


Social e Previdência Social são diferentes, sendo que o primeiro é gênero e o
segundo é espécie.

• A natureza jurídica da Seguridade Social é como um ramo do Direito Público.

• A Seguridade Social tem diversos fundamentos, estando assentada em uma


ordem jurídica complexa.

22
AUTOATIVIDADE

1 O Estado Democrático brasileiro é destinado constitucionalmente a


assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.
Prevê em seu art. 6ᵒ da CF a garantia aos direitos sociais como meio de
proteção social e satisfação das necessidades vitais da sociedade. Neste
sentido, com base em seus estudos nesta unidade, discorra com suas
palavras sobre o conceito de Seguridade Social.

2 A Seguridade Social enquanto conjunto integrado de ações de iniciativa


dos poderes públicos e da sociedade envolve um sistema amplo de
proteção social no Brasil. A Previdência Social integra os denominados
direitos fundamentais sociais, voltados à proteção social dos trabalhadores
brasileiros e suas famílias. Com base no exposto responda: Seguridade
Social é o mesmo que Previdência Social? Justifique sua resposta.

3 A Seguridade Social é um importante instrumento para efetivação dos


direitos sociais fundamentais. Compreende um conjunto integrado de
ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade. Sobre para onde
esse conjunto de ações é destinado, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Saúde, à previdência e ao trabalho.


b) ( ) Saúde, ao trabalho e à segurança.
c) ( ) Saúde, à previdência e à assistência social.
d) ( ) Saúde, à segurança e à assistência social.

4 Segundo Martins (2018, p. 21), "a Seguridade Social é um “conjunto de


princípios, de regras e de instituições destinado a estabelecer um sistema
de proteção social aos indivíduos contra contingências que os impeçam de
prover as suas necessidades pessoais básicas e de suas famílias, integrado por
ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, visando assegurar
os direitos relativos a saúde, a previdência e a assistência social”. Assinale a
alternativa CORRETA que indica a natureza jurídica da Seguridade Social:

FONTE: MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 37 ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

a) ( ) Direito misto, privado e público.


b) ( ) Direito Autônomo
c) ( ) Direito Público
d) ( ) Direito Universal

23
5 A Seguridade Social, assim como a organização social brasileira, passou por
um longo processo de transformação em nosso ordenamento jurídico. Com
relação à evolução constitucional da seguridade social no Brasil, classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A Constituição Imperial de 1824, ainda que de forma bastante superficial,


tratou pela primeira vez sobre assistência social
( ) Em 1965 foi criado o auxílio-desemprego no âmbito da constituição militar.
( ) O conceito de Seguridade Social aparece pela primeira vez na Constituição
brasileira de 1967.
( ) A Constituição de 1934 cria a tríplice forma de custeio, composta por
empregados, empregadores e governo, bem como inclui a noção de risco
social com os eventos doença, invalidez, velhice e morte.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – F – V – F.
c) ( ) F – V – F – F.
d) ( ) V – V – F – V.

24
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Seja bem-vindo ao segundo tópico da nossa unidade.

Atualmente, sabemos que o Estado é responsável pela proteção social


da população, e o faz por meio de serviços como a saúde (SUS), benefícios
assistenciais e previdenciários, mas será que sempre foi assim? Quando e por
quais circunstâncias iniciou-se a proteção social por parte do Estado?

Neste tópico conheceremos a evolução histórica da Seguridade Social no


mundo, desde o princípio até a atualidade. A proteção social advém de uma série
de contextos sociais vivenciados em distintos momentos da história mundial, e
que foram consolidados por meio de constantes lutas sociais.

A Seguridade Social surge então da necessidade social de se estabelecer


métodos de proteção contra os diversos riscos às necessidades básicas do ser
humano. Em âmbito mundial, surge sistematizada por meio de duas teorias
clássicas: os modelos Bismarckiano (1883) e Beveridgiano (1942), os quais
conheceremos neste tópico, assim como poderemos refletir sobre suas influências
no atual modelo brasileiro.

Vamos finalizar nosso tópico conversando um pouco sobre o panorama


atual da Seguridade Social no mundo.

2 TEORIAS CLÁSSICAS DA SEGURIDADE SOCIAL


Antes de adentrarmos ao tema das teorias clássicas da Seguridade Social, é
importante estudarmos a evolução histórica da Seguridade Social no mundo.
Desde já, destacamos que a história da Seguridade Social no mundo se confunde
com a história da Previdência Social e do Direito Previdenciário, pois todos
beberam das mesmas fontes, para só na história recente haver a já estudada
distinção entre Seguridade Social enquanto gênero das espécies saúde, assistência
social e previdência social.

Leitão (2018, p. 32) nos diz que:

25
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

A questão social foi a mola propulsora que impulsionou o surgimento


do Estado Social. A previsão de direitos sociais, em primeiro
momento, deferidos aos trabalhadores, com viés expansionista, até a
inclusão na carta de direitos das constituições adotadas após o fim da
Primeira Guerra Mundial, tinha como objetivo precípuo permitir que
a vida em sociedade fosse usufruída com o mínimo de dignidade.

O estudo da Seguridade Social passa pela compreensão do seu surgimento


e evolução no mundo, através dos tempos – a sua história. Cada direito, neste
campo, que hoje é garantido a qualquer cidadão do mundo ou do Brasil, existe
por uma razão muito específica – a dialética estabelecida entre cidadão e Estado.

Desde o surgimento até os dias de hoje, a Seguridade Social foi,


basicamente, fruto da dialética estabelecida entre o Estado e o cidadão,
consistente em uma “luta pelo direito”, em que grupos de trabalhadores que até
então eram completamente desamparados e desprovidos de qualquer garantia
caso adoecessem ou mesmo perdessem total ou parcialmente, temporária ou
permanentemente a sua capacidade de trabalhar, seja por acidentes, doenças ou
pela idade, lutaram pela garantia de sua subsistência e de suas famílias.

Estes grupos de trabalhadores começaram a se unir de forma organizada


e reivindicar por parte do Poder Público uma resposta sobre estes eventos
adversos, a fim de que o seu próprio sustento e de suas famílias fossem
assegurados caso não pudessem trabalhar por algum motivo.

Assim, o Estado, de um lado, enquanto fruto de um pacto ou contrato social,


figura no campo previdenciário como um agente protetor, ou assim pelo menos
deve ser. É neste sentido que se diz que cabe ao Estado garantir a subsistência ou
o também chamado “mínimo existencial” ao cidadão que necessite de recursos
materiais quando não mais possui condições físicas ou psicológicas de exercer
uma atividade remunerada que provenha o seu sustento. Ou, ainda, quando este
cidadão alcance determinados requisitos necessários – e estabelecidos pelo Estado
– para gozar de um merecido descanso, por exemplo, quando do nascimento ou
adoção de um filho, ou quando se aposenta.

Situações em que o trabalhador que preencha as condições estabelecidas


pelo Estado para tanto, pode usufruir de descanso enquanto recebe uma quantia
que seja suficiente para garantir sua subsistência e de sua família. Geralmente,
todo o grupo de segurados em plena atividade – ou seja, que estão trabalhando –
é que contribui financeiramente para que os trabalhadores sem possibilidade de
trabalhar possam usufruir dos benefícios com tranquilidade.

Como exatamente tudo isso começou no mundo? O surgimento da


Seguridade Social no mundo foi, como não poderia deixar de ser, um fenômeno
social, como já visto, fruto da luta dos trabalhadores organizados por dignidade
para além dos seus ambientes de trabalho, mas notadamente para a manutenção
de condições dignas de vida em situações de impossibilidade de trabalhar.

26
TÓPICO 2 — A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO

Importante considerar que a Seguridade Social pode se desenvolver porque


suas sementes foram lançadas sobre um solo fértil, chamado Estado sólido. Sem
um Estado forte, capaz de assegurar aos seus cidadãos o mínimo existencial, a
Seguridade Social não teria se desenvolvido tal qual a conhecemos hoje. Neste
sentido, alguns movimentos históricos ocorridos em alguns países do mundo são
considerados os precursores da Seguridade Social, servindo de inspiração para o
sistema de Seguridade Social de praticamente todos os países do mundo.

Alguns escritores ou doutrinadores do direito costumam classificar


estes movimentos e momentos históricos por regiões ou países, mas, aqui, para
promover uma melhor compreensão desta dinâmica, vamos apresentar por data:
da mais antiga, para a mais atual. Para tanto, utilizaram-se as lições históricas
e doutrinárias de Bradbury (2020), Santos (2019), Kertzman (2015) e Leitão
(2018), cujos títulos encontram-se nas referências desta unidade e recomendamos
fortemente a leitura. Vamos lá?

1601 – Inglaterra

O documento intitulado “Poor Relief Act” (ou “A Lei de Alívio para os


Pobres”) foi uma espécie de política de assistência social. Também conhecido
como “Lei dos Elisabetanos”, o Poor Relief Act foi instituído em 1601 durante o 43ᵒ
ano de reinado de Elizabeth I, e previa uma contribuição obrigatória por parte de
toda a sociedade em auxílio aos necessitados.

Os critérios e a dinâmica desta lei eram bastante subjetivos, e os


registros históricos mostram que a rainha delegou que magistrados em geral
nomeassem a seu livre critério inspetores, que eram responsáveis por arrecadar
de forma discricionária (livre de condições) valores de proprietários de imóveis
considerados de grande extensão territorial, e dízimos da população em geral,
devendo destinar tais valores para o financiamento da assistência pública – uma
espécie, como dito, de assistência social.

1883 – Alemanha

Muito embora não tenha sido o primeiro país a estabelecer auxílios de


natureza previdenciária, a Alemanha também pode ser considerada como uma das
precursoras do Direito Previdenciário e da própria Seguridade Social, posto que
os modelos lá criados e estabelecidos são até hoje os mais adotados globalmente,
e foram, efetivamente, de natureza previdenciária, e não assistencial, mas que, de
todo modo, encontram-se dentro do “guarda-chuva” da Seguridade Social.

No ano de 1883, o Chanceler alemão Otto von Bismark estabeleceu o


primeiro benefício previdenciário do mundo: o auxílio-doença, logo em seguida
incluindo também um auxílio para os trabalhadores que sofressem acidentes de
trabalho. O auxílio-doença era custeado tanto pelos trabalhadores, como pelos
empresários e pelo próprio Estado. Um modelo já bem semelhante ao atualmente
seguido pela maior parte dos países do mundo.

27
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

Já o auxílio prestado aos trabalhadores que sofressem acidentes de


trabalho, era custeado integralmente pelos empresários, atendendo, assim, às
reinvindicações dos trabalhadores organizados para que houvesse mais segurança
em seus ambientes de trabalho, notadamente nas grandes indústrias.

De forma que, se ocorresse qualquer acidente de trabalho que


impossibilitasse um trabalhador de exercer suas atividades temporária ou
definitivamente, seria de responsabilidade integral do seu empregador custear o
seu sustento e de sua família.

Mais adiante, vamos estudar um pouco mais a fundo sobre este modelo,
chamado de Bismarckiano.

1889 – Alemanha

Em 1889, também na Alemanha, e ainda sob a batuta de Bismark, foi criado o


seguro por invalidez, que hoje poderíamos chamar de aposentadoria por invalidez, e,
ainda no mesmo ano, o seguro-velhice, correspondente a atual aposentadoria. Estes
benefícios eram custeados pelos empregados, empregadores e Estado.

Como estudamos anteriormente, a Previdência Social surgiu como fruto


da dialética entre os trabalhadores organizados e o Estado. Neste sentido, Bismark
entendeu por bem criar tais benefícios em uma tentativa de acalmar os ânimos e
evitar movimentos socialistas, posto que naquela época a Alemanha passava por
uma profunda crise industrial.

1917 – México

Pela primeira vez na história um país incluiu no texto da sua constituição


direitos de natureza análoga a Seguridade Social, e mais especificamente
previdenciária. A constituição mexicana de 1917 trouxe na sua redação direitos e
garantias que englobavam tanto a previdência como a assistência social

Ainda que de forma superficial e sem ferramentas jurídicas que


permitissem ao cidadão exigir a efetivação destes direitos por parte do Estado, é
fato que a inclusão da previdência social em um texto constitucional, representa
um avanço em termos jurídicos para o direito previdenciário enquanto ciência
jurídica ou ciência social aplicada.

1935 – Alemanha

No ano de 1935 foi a vez a Alemanha incluir em seu texto constitucional


pela primeira vez uma norma de Seguridade Social, muito próxima da espécie
previdenciária. No entanto, tal qual ocorreu com a constituição mexicana de
1917, a carta constitucional alemã não foi suficientemente objetiva e não conferiu
eficiência e aplicabilidade a tal norma, estabelecendo de forma vaga e genérica que
o Estado deveria garantir sustento aos cidadãos que estivessem desempregados.

28
TÓPICO 2 — A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO

1935 – Estados Unidos

Nitidamente influenciado pela mais grave crise econômica americana


e mundial: a crise de 1929 ou a “Grande Depressão”, o então presidente norte
americano Franklin Delano Roosevelt estabeleceu, no âmbito do seu plano
econômico e social conhecido como “New Deal” ou “Novo Acordo” (pensado e
implementado justamente para tentar amortecer os impactos da grave crise), o
chamado “Social Security Act”, que foi a Lei de Seguridade Social Americana.

A Lei de Seguridade Social Americana previa um auxílio aos idosos e o


nascimento do auxílio-desemprego. Sem embargos de críticas a respeito da Lei da
Seguridade Social Americana de 1935 ou “Social Security Act”, por não ter exercido
efetivo impacto econômico para os necessitados, é fato que foi um marco na
história da Seguridade Social americana, e proporcionou, na época, um ambiente
de tranquilidade, confiança e segurança necessário para a retomada da economia.

Agora que estudamos a evolução histórica da Seguridade Social no


mundo, vamos estudar as duas teorias clássicas da Seguridade Social: o modelo
Bismarckiano (alemão), e o modelo Beveridgiano (britânico).

2.1 O MODELO BISMARCKIANO DE SEGURIDADE SOCIAL


O modelo Bismarckiano de Seguridade Social, já introduzido nas
páginas anteriores, foi aquele criado pelo Chanceler alemão Otto von Bismark,
a partir de 1883, quando instituiu os primeiros benefícios no âmbito da
Seguridade Social. Este modelo, apesar de efetivamente ser precursor e fonte de
inspiração para outros, inclusive o atual modelo brasileiro e de diversos outros
países, era restrito aos empregados, não abrangendo toda a sociedade. O que
o faz assemelhar-se mais a um modelo de previdência do que de seguridade
propriamente dito.

Bradbury (2020, p. 13) faz uma análise crítica acerca dos reflexos do
modelo Bismarckiano no Brasil e no mundo atualmente, quando diz que “o
Brasil também segue essa tendência mundial de aproximação do modelo
Bismarckiano, no sentido de limitar a universalidade de cobertura e de
atendimento, respectivamente, pela seletividade e distributividade”.

29
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

FIGURA 4 – OTTO VON BISMARCK

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Otto_von_Bismarck#/media/Ficheiro:Bundesarchiv_
Bild_146-2005-0057,_Otto_von_Bismarck.jpg>. Acesso em: 29 maio 2020.

Assim, tem-se que o modelo instituído por Bismarck inaugurou o Sistema


de Seguridade Social no mundo, mas, ainda era limitado.

2.2 O MODELO BEVERIDGIANO DE SEGURIDADE SOCIAL


O modelo Beveridgiano de Seguridade Social, assim chamado aquele
desenvolvido e implementado por William Henry Beveridge, foi além do modelo
Bismarckiano. Santos (2019, p. 34) explica:

Em junho de 1941, o governo inglês, empenhado na reconstrução do


país, formou uma Comissão Interministerial para o estudo dos planos
de seguro social e serviços afins, então existentes, e nomeou para
presidi-la Sir William Beveridge. A Comissão foi incumbida de, após
estudos, fazer uma proposta para a melhoria do setor. O resultado
dos trabalhos da Comissão — o Plano Beveridge — foi apresentado
ao Parlamento em 1942. O Plano analisou o seguro social e os serviços
conexos da Inglaterra pós-Segunda Guerra Mundial, análise que
abrangeu as necessidades protegidas, os fundos e as provisões.
Beveridge concluiu que o seguro social já não atendia às necessidades
sociais, porque era limitado apenas aos trabalhadores vinculados por
contrato de trabalho, com certa remuneração quando em serviços não
manuais. Ficavam sem cobertura os trabalhadores “por conta própria”,
isto é, sem vínculo de emprego, que constituíam a parcela da massa
pobre da população, justamente a que mais precisava da proteção do
Estado. Entendeu Beveridge, ainda, que o seguro social não levava
em conta as responsabilidades com a família para os trabalhadores
não manuais, e concedia benefícios diferentes em situações em que
eram os mesmos os gastos necessários das pessoas doentes e das
desempregadas. Quanto às contribuições, Beveridge entendeu que as
distinções também não tinham lógica dentro do sistema.11 Beveridge
percebeu que a principal conclusão de seu trabalho foi a de “que a
abolição da miséria requer uma dupla redistribuição das rendas, pelo
seguro social e pelas necessidades da família. [...]

30
TÓPICO 2 — A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO

Beveridge destacou o papel do Estado, por meio de políticas públicas


que garantissem a proteção social em situações de necessidade.
Influenciou muito a legislação social que se seguiu na Europa e na
América, influência que atualmente ainda se faz presente nos sistemas
de seguridade social.

Sobre este modelo, leciona Leitão (2018, p. 35):

O ponto mais importante deste período de evolução da proteção


social é o Relatório Beveridge, produzido por uma Comissão
interministerial presidida por Sir William Beveridge, apresentado na
Inglaterra em 1942, que deu origem ao Plano Beveridge, considerado
como a origem da Seguridade Social, na medida em que o Estado se
responsabilizaria não apenas pela previdência social, mas também
por ações de assistência e saúde.

O que se extrai destas lições é que William Henry Beveridge foi muito
além de proteger a classe de trabalhadores, propondo a extensão da proteção
social para toda uma nação mediante contribuição de todos, para todos,
evidenciando o papel fundamental do Estado na implementação de políticas
públicas que garantissem a proteção social em situações de necessidade.

FIGURA 5 – WILLIAM HENRY BEVERIDGE

FONTE: <https://www.prospectmagazine.co.uk/magazine/the-battle-for-beveridges-welfare-state>.
Acesso em: 19 jun. 2020.

Para melhor ilustrar as diferenças entre o modelo Bismarckiano e o


modelo Beveridgiano de Seguridade Social, vejamos a comparação a seguir, de
Leitão (2018, p. 35):

31
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

FIGURA 6 – SISTEMA BISMARCKIANO X SISTEMA BEVERIDGIANO

FONTE: Leitão (2018, p. 35)

Muito embora o modelo Beveridgiano de Seguridade Social seja


considerado o mais avançado, atualmente, o modelo Bismarckiano é precursor de
quase todos os modelos de Seguridade Social no mundo, provavelmente devido
a fatores econômicos e sua maior aproximação com o liberalismo econômico.

DICAS

Recomendamos que leia o artigo "Seguridade social no Brasil: conquistas e


limites à sua efetivação", escrito pela professora Ivanete Boschetti, do Departamento de
Serviço Social da UnB, que você pode acessar aqui: http://portal.saude.pe.gov.br/sites/
portal.saude.pe.gov.br/files/seguridade_social_no_brasil_conquistas_e_limites_a_sua_
efetivacao_-_boschetti.pdf.

3 PANORAMA ATUAL DA SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO


O panorama da Seguridade Social no mundo nunca parou de mudar.
Desde que surgiu, a Seguridade Social tem se transformado, se aprimorado e se
reinventado de acordo com os interesses do Estado e as necessidades dos cidadãos.
Nem sempre as mudanças são bem aceitas e de fato, algumas representaram
algum retrocesso em relação aos direitos dos cidadãos.

Fato é que o mundo caminha, atualmente, para grandes mudanças


com relação à seguridade social. Algumas delas já bastante contundentes,
como a recente reforma da previdência chilena, que praticamente privatizou a
previdência social e parte da seguridade social. No mundo inteiro, vários países
estão reformando principalmente os seus modelos de aposentadoria, e pouco tem
mudado em relação às outras facetas da Seguridade Social – que não existem em
todos os países.

32
TÓPICO 2 — A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO

O Brasil recentemente passou por mais uma reforma em sua


previdência, por meio da Emenda Constitucional nᵒ 103/2019, que, dentre
outras mudanças, elevou a idade mínima para aposentadoria das mulheres
de 60 para 62 anos, o que influencia diretamente na aposentadoria por idade
e indiretamente, por meio do fator previdenciário, na aposentadoria por
tempo de contribuição.

Nitidamente, o Brasil e o mundo caminham para um sistema onde as


pessoas se aposentarão mais tarde. É fato que a exemplo do que já ocorre nos
países desenvolvidos, nos países emergentes como o Brasil, a população está
envelhecendo, e isso é um problema para o sistema previdenciário no modelo em
que está formatado hoje. Menos jovens trabalhando e mais idosos se aposentando
– a conta não fecha.

Isto porque os recursos aplicados pelo contribuinte de hoje, servem para


pagar o benefício de quem atualmente está aposentado. O caminho talvez seja – e
deve ser muito bem pensado – migrar para um modelo de previdência no qual
os recursos com os quais o trabalhador contribui sejam aplicados da melhor forma,
para que este usufrua destes no futuro, de forma mais flexível e segura. No entanto,
para que isto ocorra, há de ser implementado um modelo híbrido inicial, a fim de
que os atuais aposentados tenham uma fonte segura de financiamento.

Recentemente, Espanha, Alemanha, França e Chile implementaram


profundas mudanças em seus sistemas de previdência social, notadamente no
que tange à idade mínima e tempo de contribuição.

Outro fato sobre o atual cenário da Seguridade Social no Brasil e no


mundo é que, cada vez mais, as pessoas de classe média, média alta e alta têm
aderido a sistemas de previdência complementar junto a instituições financeiras
e securitizadoras, na mesma proporção em que tem aumentado a desconfiança
em relação ao sistema público de previdência social. No que tange aos demais
aspectos da Seguridade Social, no Brasil temos o Sistema Único de Saúde que,
ao mesmo tempo em que é modelo para o mundo no combate ao HIV, ou no
que concerne aos transplantes de órgãos, por exemplo, é ineficiente frente às
necessidades mais básicas como é o caso dos hospitais de urgência e emergência,
e as especialidades médicas.

Este cenário se inverte em alguns países onde os protocolos de urgência


e emergência atendem satisfatoriamente a maior parte da população, mas por
outro lado não há políticas públicas de tratamento de doenças como o HIV, citado
anteriormente. Com relação à assistência social, o cenário em geral é caótico em
todos os países do mundo, e no Brasil não é diferente, com exceção do Programa
Bolsa Família, que inobstante seja objeto de severas críticas internamente, é exemplo
para o mundo no que se refere à distribuição de renda, sendo reconhecidamente
o maior e mais eficiente programa de transferência de renda do mundo.

As medidas que serão adotadas daqui em diante devem ser bem


estudadas, e sobretudo devem contar com a participação social. Afinal, a
Seguridade Social deve ser do povo, para o povo.

33
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

Antecedentes históricos da Seguridade Social no mundo e no Brasil

Rodrigo Guimarães Jardim

I. Considerações iniciais

A Seguridade Social não surgiu abruptamente, seja no mundo, seja no


Brasil. Ela originou-se na necessidade social de se estabelecer métodos de proteção
contra os variados riscos ao ser humano. Em verdade, a elaboração de medidas
para reduzir os efeitos das adversidades da vida, como fome, doença, velhice,
etc. pode ser considerada como parte da própria teoria evolutiva de Darwin, na
parte em que refere à capacidade de adaptação da raça humana para sobreviver.
Segundo Ibrahim, “não seria exagero rotular esse comportamento de algo
instintivo, já que até os animais têm hábito de guardar alimentos para dias mais
difíceis. O que talvez nos separe das demais espécies é o grau de complexidade
de nosso sistema protetivo”.

Este é o tema deste ensaio: os antecedentes históricos da Seguridade


Social no mundo e no Brasil.

II. Antecedentes históricos da Seguridade Social no mundo e no Brasil

Inicialmente, a proteção contra os riscos da vida era conferida pela


família. Contudo, antigamente o conceito de família era bem mais amplo.
Nos dias de hoje, a reunião dos genitores e seus filhos sob a mesma moradia
representa a ideia clássica de família. Contudo, no Império Romano, a família,
normalmente sob o comando do homem mais velho que conservasse o vigor
físico, o pater familiae, consistia num aglomerado maior, reunindo avós, pais,
filhos, netos, sobrinhos, ou seja, além do vínculo sanguíneo em linha reta, uma
mesma família também reunia a linha colateral em vários feixes.

Aqueles que não eram abarcados pela proteção familiar e não tinham
condições de prover o próprio sustento dependiam da chamada ajuda aos
pobres e necessitados. Por bastante tempo a caridade praticada pelos mais ricos
tinha o efeito psicológico de diminuir-lhes a culpa pela exploração realizada
ao seu próprio semelhante, tanto a exploração dos escravos como a exploração
trabalhista sobre o homem livre. Dessa forma, a caridade seria a efetiva garantia
de acesso ao Reino de Deus.

Formalmente, “a notícia da preocupação do homem em relação ao


infortúnio é de 1344. Ocorre neste ano a celebração do primeiro contrato de seguro
marítimo, posteriormente surgindo a cobertura de riscos contra incêndios”. Vale
ressaltar, no entanto, que a preocupação maior desses seguros não era com as
pessoas, mas, sim, com as cargas e bens materiais.

34
TÓPICO 2 — A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO

Segundo Martins, posteriormente vieram as confrarias ou guildas,


consistentes em associações com fins religiosos. Essas sociedades normalmente
vinculavam pessoas da mesma categoria ou profissão, que tinham objetivos
comuns. Os integrantes recolhiam valores anuais, que poderiam ser utilizados em
caso de velhice, doença e pobreza. Saindo um pouco da realidade europeia, cabe
destacar que o Império Inca, ainda que em estado evolutivo menos avançado, já
se preocupava com os seus integrantes que não tinham capacidade de produção.
Por essa razão, havia o cultivo de terras com trabalho comum, cuja meta era
atender as necessidades alimentares dos anciãos, doentes e inválidos.

Retornando à Europa, o ano de 1601 marcou o advento, na Inglaterra,


do Poor Relief Act (lei de amparo aos pobres), que instituiu a contribuição
obrigatória para fins sociais e consolidou outras leis sobre a assistência pública.
Essa lei concedia aos juízes da Comarca o poder de tributar, pois autorizava que
lançassem o imposto de caridade a ser pago por todos os ocupantes e usuários
de terras. O valor arrecadado era centralizado nas paróquias e administrados
pelos inspetores nomeados pelos juízes, cabendo a elas – paróquias – o auxílio
aos indigentes.

Também tem inegável relevância o artigo 21 da Declaração dos Direitos do


Homem e do Cidadão, acrescentado pela Convenção Nacional francesa de 1793.
Dispôs o artigo 21 que “os auxílios públicos são uma dívida sagrada. A sociedade
deve a subsistência aos cidadãos infelizes, quer seja procurando-lhes trabalho,
quer seja assegurando os meios de existência àqueles que são impossibilitados de
trabalhar. Assim, verifica-se que a proteção assistencial passou, progressivamente,
a ser institucionalizada.

A gênese da proteção social conferida pelo Estado originou-se, então,


na Alemanha, com a aprovação, em 1883, do projeto do Chanceler Otto Von
Bismarck. A Lei do Seguro Social garantiu, inicialmente, o seguro-doença,
evoluindo para abrigar também o seguro contra acidentes de trabalho (1884)
e o seguro de invalidez e velhice (1889). O financiamento desses seguros era
tripartido, mediante prestações do empregado, do empregador e do Estado.

Depois da atuação do Chanceler Alemão para diminuir a tensão


existente entre as classes trabalhadoras, surge uma nova fase denominada
constitucionalismo social, em que o tema sob análise começa a ser positivado na
própria Constituição dos países:

A primeira Constituição do mundo a incluir o seguro social em seu bojo foi


a do México, de 1917 (art. 123). Previa que os empresários eram responsáveis pelos
acidentes do trabalho e pelas moléstias profissionais dos trabalhadores, em razão do
exercício da profissão ou do trabalho que executarem; por conseguinte, os patrões
deverão pagar a indenização correspondente, conforme a consequência decorrente
seja morte, ou simplesmente a incapacidade temporária ou permanente para o
trabalho, de acordo com o que as leis determinarem. Esta responsabilidade subsistirá
ainda no caso de o patrão contratar o trabalho por via de intermediário (XIV).

35
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

A Constituição Soviética de 1918 também tratava de direitos


previdenciários.

A Constituição de Weimar, de 11-8-1919, criou um sistema de seguros


sociais para poder, com o concurso dos interessados, atender à conservação da
saúde e da capacidade para o trabalho, à proteção, à maternidade e à previsão das
consequências econômicas da velhice, da enfermidade e das vicissitudes da vida
(art. 161). Determinou que ao Estado incumbe prover a subsistência do cidadão
alemão, caso não possa proporcionar-lhe a oportunidade de ganhar a vida com
um trabalho produtivo (art. 163).

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada em 1919. Tal


órgão passou a evidenciar a necessidade de um programa sobre previdência
social, aprovando-o em 1921. Várias convenções vieram a tratar da matéria, como
a de nᵒ 12, sobre acidentes do trabalho na agricultura, de 1921; a Convenção nᵒ 17
(1927), sobre “indenização por acidente de trabalho”, e outras.

Após o modelo Bismarckiano, outros países aprovaram seus planos de


proteção social. A Dinamarca aprovou o direito à aposentadoria em 1891. Logo
depois, a Suécia desenvolveu o primeiro plano de pensão nacional universal.
Na América Latina, os sistemas mais antigos de seguro social foram criados na
Argentina, Chile e Uruguai, no começo da década de 1920. Os Estados Unidos
da América, de Franklin Roosevelt, instituíram o New Deal, com a doutrina
do Wellfare State (Estado do bem-estar social), a partir de 1933, e editaram o
Social Security Act, em 1935. A Nova Zelândia instituiu, em 1938, instituiu uma
lei concedendo proteção a toda a população, implantando o seguro social e
extinguindo o seguro privado. A Carta do Atlântico previu a previdência social
como “um modo de viver livre do temor e da miséria”, em 14 de agosto de 1941.

O ápice da evolução securitária deu-se a seguir, no ano de 1942, com


a divulgação, na Inglaterra, do famoso Relatório Beveridge, que previa uma
ação estatal concreta como garantidora do bem-estar social, estabelecendo a
responsabilidade do Estado, além do seguro social, na área da saúde e assistência
social. O Plano Beveridge foi elaborado por uma comissão interministerial
de seguro social e serviços afins, nomeada um ano antes, com o escopo de
estabelecer alternativas para a reconstrução da sociedade no período pós-guerra.
É considerado um marco da evolução securitária porque se trata de um estudo
amplo e minucioso de todo o universo do seguro social e serviços conexos,
tendo questionado a proteção somente aos empregados, enquanto todos os
trabalhadores estão sujeitos aos riscos sociais.

O Plano Beveridge baseava-se numa proteção ampla e duradoura, tanto


que Lorde Beveridge afirmara que a segurança social deveria ser prestada do
berço ao túmulo (Social security from the cradle to the grave). Segundo Martins,
o Plano Beveridge tinha por objetivos (a) unificar os seguros sociais existentes;
(b) estabelecer o princípio da universalidade, para que a proteção se estendesse
a todos os cidadãos e não apenas aos trabalhadores; (c) igualdade de proteção;

36
TÓPICO 2 — A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO

(d) tríplice forma de custeio, porém com predominância do custeio estatal”. O


Plano Beveridge tinha cinco pilares: (a) necessidade; (b) doença; (c) ignorância;
(d) carência (desamparo); (e) desemprego. Era universal e uniforme. Visava ser
aplicado a todas as pessoas e não apenas a quem tivesse contrato de trabalho, pois
o sistema de então não atingia quem trabalhava por conta própria. [...] Tinha por
objeto abolir o estado de necessidade. Objetivava proporcionar garantia de renda
às pessoas, atacando a indigência. [...] Os princípios fundamentais do sistema
eram: horizontalidade das taxas de benefícios de subsistência, horizontalidade das
taxas de contribuição, unificação da responsabilidade administrativa, adequação
dos benefícios, racionalização e classificação.

Com base no Relatório Beveridge, o governo inglês apresentou uma


proposta de reforma da Previdência Social, implantando-o no ano de 1946.

No Brasil, a proteção social evoluiu de forma semelhante ao plano


internacional. Inicialmente foi privada e voluntária, passou para a formação
dos primeiros planos mutualistas e, posteriormente, para a intervenção cada
vez maior do Estado. No século XVI, decorrente da caridade imanente à fé
cristão e a atuação da Igreja Católica, o padre jesuíta José de Anchieta fundou
a Santa Casa de Misericórdia, cujo objetivo era prestar atendimento médico e
hospitalar aos necessitados.

Em 1795, foi criado o Plano de Benefícios dos Órfãos e Viúvas dos Oficiais
da Marinha. Esse talvez seja a primeira ideia de pensão por morte no ordenamento
jurídico brasileiro, na medida em que tinha por objetivo estabelecer proteção aos
citados dependentes dos oficiais da Marinha contra o risco social morte. Em 1808,
estabeleceu-se o montepio para a guarda pessoal de Dom João VI e, em 1835, o
Montepio Geral dos Servidores do Estado (Mongeral). Em 1ᵒ de outubro de 1821,
Dom Pedro de Alcântara publicou Decreto concedendo o direito à aposentadoria
aos mestres e professores, desde que completassem 30 (trinta) anos de serviço,
bem como assegurou um abono de ¼ dos ganhos para aqueles que continuassem
trabalhando depois de completarem o tempo para inativação.

Na Constituição Imperial de 1824, a referência mais próxima ao seguro


social foi feita pelo artigo 179, inciso XXXI, ao constituir os Socorros Públicos.
Depois da proliferação dos Socorros Públicos, instituiu-se, como já referido, o
Montepio Geral dos Servidores do Estado, no ano de 1835. Esse Montepio, que
previa um sistema mutualista de cobertura de riscos, foi a primeira entidade
privada a funcionar no país.

Na vigência da Constituição Imperial, ainda, merecem destaque: a) o


Código Comercial (1850), que previa o direito de manutenção do salário por
três meses na hipótese de acidente imprevisto e inculpado; b) o Regulamento
nᵒ 737 (1850), que igualmente garantia aos empregados acidentados os salários
por até três meses; c) o Decreto nᵒ 2.711 (1860), que regulamentava o custeio dos
montepios e das sociedades de socorros mútuos; d) o Decreto nᵒ 9.912-A (1888)
e nᵒ 9.212 (1889), que, respectivamente, concedeu aos empregados dos Correios

37
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

o direito à aposentadoria, ao conjugarem 60 (sessenta) anos de idade e 30 (trinta)


anos de serviço e criou o montepio obrigatório para os seus empregados dos
Correios; e) o Decreto nᵒ 221 (1890), que instituiu o direito à aposentadoria para
os empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil.

A Constituição Federal de 1891 foi a primeira a referir expressamente


o termo “aposentadoria”, concedendo o direito à inativação somente aos
funcionários públicos, no caso de invalidez. As outras categorias de trabalhadores
não foram contempladas pela Constituição. Essa diferenciação de tratamento
entre funcionários públicos e privados merece registro. A justificativa era a
necessidade de conceder uma proteção aos militares porque eram eles que
defendiam as fronteiras territoriais e mantinham a ordem, sacrificando-se pelo
país. Essa argumentação é válida, mas é bom que se diga: ao manter a ordem, o
exército mantinha o regime monárquico e o próprio imperador no poder.

Na vigência da Constituição Federal de 1891, tem importância a edição da


Lei nᵒ 217 (1892), que concedeu o direito à aposentadoria por invalidez e a pensão
por morte dos operários do Arsenal da marinha do Rio de Janeiro, da Lei nᵒ 3.724
(1919), que estabeleceu o seguro acidente e tornou obrigatório o pagamento de
indenização pelos empregadores e, principalmente, a Lei Eloy Chaves (Decreto
nᵒ 4.682/1923).

[...]

Com a edição da Lei Eloy Chaves, outras categorias mobilizaram na


busca pelos mesmos direitos, provocando uma extensão dessa medida protetiva.
São exemplos dessa situação a Lei nᵒ 5.109 (1926), que estendeu a incidência da
Lei Eloy Chaves aos portuários e marítimos, e a Lei nᵒ 5.485 (1928), referente ao
pessoal das empresas de serviços telegráficos e radiotelegráficos.

Após publicação da Lei Eloy Chaves, o desenrolar da Seguridade Social


no Brasil passa pela Revolução de 1930, com o governo de Getúlio Vargas.
Este Presidente reformulou os regimes previdenciário e trabalhista. Na esfera
previdenciária, tem especial destaque a mudança da organização do sistema de
caixas de aposentadoria e pensão para institutos de aposentadoria e pensão. O
primeiro a ser criado foi o Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos
(Decreto nᵒ 22.872/1933). Gize-se que “a unificação das caixas em institutos
também ampliou a intervenção estatal na área, pois o controle público ficou
finalmente consolidado, já que os institutos eram dotados de natureza autárquica
e subordinados diretamente à União, em especial ao Ministério do Trabalho”.

A Constituição Federal de 1934, que empregou o termo “previdência”


dissociado do termo “social”, foi a primeira a estabelecer a forma tripartida de
custeio, mediante contribuições do empregado, do empregador e do Estado. A
Constituição Federal de 1937 não trouxe nenhuma inovação significativa, senão
o emprego da expressão “seguro social”. A Constituição Federal de 1946 foi a
primeira a empregar o termo “previdência social” em substituição à “seguro

38
TÓPICO 2 — A SEGURIDADE SOCIAL NO MUNDO

social”; também durante a sua vigência foi editada a Lei nᵒ 3.807 (1960), que
unificou a legislação securitária e foi apelidada de Lei Orgânica da Previdência
Social (LOPS). Em 1965 ocorreu um fato significativo, incluiu-se na Constituição
Federal de 1946 um parágrafo proibindo a prestação de benefício sem a
correspondente fonte de custeio.

Finalmente, no ano de 1966, o Decreto nᵒ 72 criou o Instituto Nacional


de Previdência Social (INPS), autarquia integrante da administração indireta
da União, com personalidade jurídica própria. Em 1977, a Lei nᵒ 6.439 instituiu
o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), conservando
as competências previdenciárias do INPS, e criando, entre outros órgãos, o
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Em
1976, novamente a legislação esparsa, que havia surgido desde a LOPS de 1960,
foi unificada pelo Decreto nᵒ 77.077 na Consolidação das Leis da Previdência
Social (CLPS). A CLPS de 1976 foi substituída pela CLPS de 1984, aprovada pelo
Decreto nᵒ 89.312.

Em 1988, sob inspiração do Wellfare State, foi publicada no Brasil uma


nova Constituição Federal. O novel texto constitucional trouxe um capítulo
abordando a Seguridade Social (artigos 194 a 204), que foi dividida em
Previdência Social, Assistência Social e Saúde. Num primeiro momento, o custeio
da Seguridade Social seria realizado por contribuições sociais do empregador,
dos trabalhadores e sobre as receitas dos concursos de prognósticos. [...]

A Constituição Federal de 1988 reclamou a alteração da legislação


ordinária. Dessa forma, em 1990, o SIMPAS, do qual faziam parte INPS e o
INAMPS, foi extinto. A Previdência Social foi assumida, então, pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), criado pela Lei nᵒ 8.029, e o atendimento
médico hospitalar passou a ser realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
criado pela Lei nᵒ 8.080. Por fim, a CLPS de 1984 foi revogada pela Lei nᵒ 8.213
(1991), que dispôs sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, e pela Lei
nᵒ 8.212 (1991), que institui o Plano de Custeio, vigentes até hoje.

Em breves linhas, estes são os principais fatos e atos normativos que


demonstram a evolução da seguridade social no mundo e no Brasil.

III. Considerações finais

Diante de todo o exposto, possível concluir-se que a Seguridade Social,


sob o enfoque mundial, tem origem nos modelos Bismarckiano e Beveridgiano. O
modelo Bismarckiano foi inaugurado em 1883, com o seguro-doença, evoluindo
para abrigar também o seguro contra acidentes de trabalho (1884) e o seguro de
invalidez e velhice (1889). O Plano Beveridge (1942), por sua vez, era universal
e uniforme, tendo cinco pilares: necessidade, doença, ignorância, carência
(desamparo) e desemprego. Ele baseava-se numa proteção ampla e duradoura,
tanto que Lorde Beveridge afirmara que a segurança social deveria ser prestada
do berço ao túmulo (Social security from the cradle to the grave).

39
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

No Brasil, a proteção social evoluiu de forma semelhante ao plano


internacional. Inicialmente foi privada e voluntária, passou para a formação dos
primeiros planos mutualistas e, posteriormente, para a intervenção cada vez
maior do Estado. O marco normativo da Seguridade Social brasileira foi a Lei
Eloy Chaves, que criou nacionalmente as Caixas de Aposentadorias e Pensões
para os ferroviários, e atualmente é regida pelas Leis nᵒ 8.080/90 e nᵒ 8.213/91, que
criaram, sob a égide da Constituição Federal de 1988, o Sistema Único de Saúde
(SUS) e o Plano de Benefícios da Previdência Social.

FONTE: <http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/36139/antecedentes-historicos-
da-seguridade-social-no-mundo-e-no-brasil>. Acesso em: 11 nov. 2020.

40
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Seguridade Social surgiu e se desenvolveu por meio da dialética entre


cidadão e Estado.

• A luta dos trabalhadores organizados em busca de segurança social foi


propulsora de grandes conquistas na Seguridade Social.

• A Alemanha foi a grande precursora da Seguridade Social no mundo, e seu


modelo é um dos mais seguidos até hoje, inclusive pelo Brasil.

• Esta evolução gradativa da Seguridade Social resultou em dois grandes


modelos: o Bismarckiano e o Beveridgiano.

• O México foi o primeiro país do mundo a incluir a Seguridade Social no texto


da sua constituição.

• O panorama atual da Seguridade Social no mundo é de profundas mudanças,


notadamente com reformas nos sistemas de previdência social.

41
AUTOATIVIDADE

1 A evolução gradativa da Seguridade Social resultou em dois grandes


modelos: o Bismarckiano e o Beveridgiano. Explique com suas palavras
cada um destes modelos.

2 Considera-se que a seguridade social foi criada na Alemanha, em 1883, por


Otto Von Bismarck, o qual estabeleceu o primeiro benefício previdenciário
do mundo. Com relação a este benefício, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Salário-maternidade.
b) ( ) Auxílio-doença.
c) ( ) Auxílio-acidente.
d) ( ) Benefício de guerra.

3 Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, William Henry Beveridge


desenvolveu um modelo de seguridade social conhecido como Plano
Beveridge. Este modelo baseou-se no de Otto Bismarck, e é considerado o
responsável pelo surgimento do plano da assistência social moderna. Com
base em seus estudos, explique com suas palavras o modelo Beveridgiano.

4 Desde o seu surgimento, a Seguridade Social se desenvolveu por meio


da dialética estabelecida entre o Estado e o cidadão, um fenômeno
social que atravessou diversos acontecimentos históricos na busca por
condições dignas de vida e trabalho. Acerca da evolução histórica da
Seguridade Social no mundo, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:

( ) O documento “Poor Relief Act” (ou “A Lei de Alívio para os Pobres”) foi
primeira experiência de proteção aos pobres reconhecido, uma espécie de
política de assistência social do século XIV na Inglaterra.
( ) Os Estados Unidos foi o primeiro país do mundo a incluir a Seguridade
Social no texto da sua constituição, em 1935.
( ) A Alemanha foi a grande precursora da Seguridade Social no mundo, e
seu modelo é um dos mais seguidos até hoje, inclusive pelo Brasil.
( ) A Lei de Seguridade Social Americana, de 1935, previa um auxílio aos
idosos e o nascimento do auxílio-desemprego.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – F – F – F.
c) ( ) F – V – F – F.
d) ( ) V – F – V – V.

42
5 Durante o curso da evolução histórica da Seguridade Social, diversos
dispositivos normativos foram desenvolvidos e implementados no
mundo, visando buscar, diante dos contextos sociais, assegurar a proteção
e assistência social da população. Assinale a alternativa CORRETA que
aponta a primeira Constituição social do mundo que incluiu em seu texto a
Seguridade Social:

a) ( ) Constituição Alemã, 1935.


b) ( ) Constituição Brasileira, 1988.
c) ( ) Constituição Mexicana, 1917.
d) ( ) Constituição Inglesa, 1911.

43
44
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Bem-vindo ao nosso terceiro e último tópico desta
unidade.

Neste tópico iremos estudar sobre a evolução constitucional da Seguridade


Social brasileira, buscando compreender as conquistas e os limites a sua efetivação.
Para tanto, iremos acompanhar sua trajetória desde o Brasil-Império até a atualidade,
aprofundando-nos na Constituição Federal de 1988, vigente.

No Brasil, tivemos alguns marcos na evolução da Seguridade Social,


sendo consagrados na Constituição Federal de 1988 que ampliou e democratizou
o acesso da população à assistência social, à saúde e à previdência social.

Também vamos estudar a Lei Orgânica da Seguridade Social de 1991


que dispõe sobre a organização da Seguridade Social e institui seu Plano de
Custeio. Finalizaremos com o estudo da competência legislativa em sede de
Seguridade Social.

Ao final, teremos uma leitura complementar e uma autoatividade para


testar seus conhecimentos

2 A EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL DA SEGURIDADE


SOCIAL NO BRASIL
Neste tópico estudaremos como a Seguridade Social surgiu e evoluiu
através dos tempos nas constituições brasileiras. O estudo se limitará à inserção
da Seguridade Social no âmbito constitucional e, por isto, não serão estudadas
normas de outras naturezas como leis e decretos, que serão objeto de estudo em
outra unidade.

45
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

Alguns escritores ou doutrinadores do direito costumam classificar


estes movimentos e momentos históricos por regiões ou países, mas, aqui, para
promover uma melhor compreensão desta dinâmica, vamos apresentar por data:
da mais antiga, para a mais atual. Para tanto, utilizaram-se as lições históricas
e doutrinárias de Bradbury (2020), Santos (2019), Kertzman (2015) e Leitão
(2018), cujos títulos encontram-se nas referências desta unidade e recomendamos
fortemente a leitura. Vamos lá?

1824 – Constituição Imperial

A Constituição Imperial de 1824, ainda que de forma bastante superficial,


tratou pela primeira vez a assistência social, o mais próximo conhecido na
legislação brasileira até então sobre Seguridade Social. Eis o que trouxe o inciso
XXXI do art. 179:

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos


Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a
propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira
seguinte:
[...]
XXXI. A Constituição também garante os socorros públicos (BRASIL,
1824, s. p.).

Ao falar sobre os “socorros públicos”, a Constituição Imperial se


assemelha um tanto quanto ao que dispunha a “Lei de Alívio para os Pobres
da Inglaterra”, ou seja: um direito subjetivo, de interpretação ampla, e
aplicabilidade pouco eficiente.

1891 – Constituição estabelece aposentadoria por invalidez restrita aos


funcionários a serviço da nação.

1934 – Constituição cria a tríplice forma de custeio, composta por


empregados, empregadores e governo, bem como inclui a noção de risco social
com os eventos doença, invalidez, velhice e morte.

1937 – A expressão seguro social aparece em uma constituição pela


primeira vez na história do Brasil.

1946 – A expressão previdência social é utilizada pela primeira vez em


uma constituição na história do Brasil, e é criado o mecanismo de contrapartida
para manter o equilíbrio atuarial.

1965 – É criado o auxílio-desemprego no âmbito da constituição militar.

Esta é, em suma, a evolução constitucional da Seguridade Social brasileira.

46
TÓPICO 3 — A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL

2.1 A LEI ELOY CHAVES COMO MARCO DA SEGURIDADE


SOCIAL NO BRASIL
A Lei Eloy Chaves, na verdade, não é uma lei, mas um decreto. Por algum
motivo, ficou conhecida como “Lei Eloy Chaves” e assim é chamada popularmente
até os dias de hoje.

FIGURA 7 – ELOY CHAVES

FONTE: <https://jundiai.sp.gov.br/noticias/2014/01/23/dia-do-aposentado-tudo-comecou-em-
jundiai-com-eloy-chaves/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

O Decreto, de n° 4.682/1923 criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões


para os empregados de cada empresa ferroviária, ou seja, cada empresa ferroviária
brasileira poderia ter sua própria Caixa de Aposentadoria e Pensões mediante
desde que seguisse os exatos ditames deste decreto (BRASIL, 1923).

Este decreto é considerado pela doutrina como o marco do Direito


Previdenciário no Brasil, ao passo que criou, pela primeira vez na história
nacional, uma regulamentação única, mesmo que ainda para uma única classe
de trabalhadores.

No mesmo ano, por meio do Decreto n° 16.037/1923, foi instituído o


Conselho Nacional do Trabalho com diversas atribuições, dentre elas decidir
sobre Previdência Social (BRASIL, 1923).

Goes (2014, p. 1) nos lembra de que:

[...] apesar de se tratar de um marco no Direito Previdenciário,


a Lei Eloy Chaves não foi o primeiro diploma sobre Previdência
Social no Brasil, pois antes de sua edição já havia algumas normas
previdenciárias, como o Decreto 3.724 de 1919, sobre o seguro
obrigatório de acidente do trabalho, bem como algumas leis
concedendo aposentadorias para algumas categorias de trabalhadores
(professores, empregados dos Correios, servidores públicos).

47
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

Kertzman (2015, p. 44) também assevera que “a Constituição da República


do Brasil de 1824 foi a primeira a tratar de ato securitário, na medida em que
previu em seu art. 179, XXXI, os socorros públicos”.

Assim, de alguma forma, pode-se dizer que a Lei Eloy Chaves é um marco
do Direito Previdenciário no Brasil, mas não se pode ignorar a relevância de
diplomas legais anteriores a ela, tão ou mais importantes.

E
IMPORTANT

A Lei Eloy Chaves é muito importante dentro do estudo de Direito Previdenciário.


Você sabia que o dia 24 de janeiro, dia da promulgação do Decreto, é oficialmente “O Dia
da Previdência Social” no Brasil?

2.2 A SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


DE 1988
Agora que chegamos até aqui, estamos prontos para descobrir como
a Seguridade Social ganhou destaque com a promulgação da Constituição
Federal de 1988. A Constituição de 1988 foi a sétima promulgada no país, mas
a primeira e única construída com ampla participação democrática, pelo povo
e para o povo, justo após o final da ditadura militar. Uma constituição que
consolidou diversos direitos e garantias de grande importância e, por estas
razões, chamada de cidadã.

FIGURA 8 – PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

FONTE: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-10/referencia-da-historia-
contemporanea-constituicao-completa-30-anos#>. Acesso em: 8 jun. 2020.

48
TÓPICO 3 — A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL

A Seguridade Social passou por uma grande transformação a partir do


advento da nova Constituição, posto que o texto da Carta Magna trouxe, pela
primeira vez, o conceito propriamente dito de Seguridade Social.

A Seguridade Social contempla, segundo os preceitos da nova


Constituição, e conforme já estudamos até aqui, três aspectos: saúde, assistência
social e previdência social, portanto, este tripé passou a existir e cada espécie veio
com regras muito próprias e distintas.

O artigo 194 da Constituição de 1988 dispõe que “a seguridade social


compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e
da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
e à assistência social” (BRASIL, 1988, art. 194).

Já o artigo 195 fala do custeio da seguridade social, nos seguintes termos: “a


seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições
sociais [...]” (BRASIL, 1988, art. 195).

Os artigos seguintes tratam da saúde – artigos 196 ao 200; previdência


social – artigos 201 e 202; e, finalmente, assistência social – artigos 203 e 204.

E
IMPORTANT

É muito importante que você separe um tempo para ler os artigos mencionados
na Constituição Federal, que você pode acessar em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm.

Posteriormente à promulgação da Constituição de 1988, surgiram três


normas jurídicas importantíssimas no estudo do Direito Previdenciário: o Decreto
n° 99.350/1990, a Lei nᵒ. 8.212/1991 e a Lei nᵒ 9.213/1991.

O Decreto nᵒ 99.350/1990 criou o Instituto Nacional do Seguro Social –


INSS, fundindo o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS com o Instituto
de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social – IAPAS
(BRASIL, 1990).

49
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

A partir de então a autarquia federal passou a centralizar a


operacionalização do Regime Geral de Previdência Social – RGPS, que será
objeto de estudo mais adiante. A Lei nᵒ 8.212/1991 dispõe sobre a organização
da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências,
especificadamente dentro de cada um dos componentes do tripé Saúde,
Assistência Social e Previdência Social.

No que diz respeito à Previdência Social, dispõe que:

Art. 3ᵒ A Previdência Social tem por fim assegurar aos seus beneficiários
meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade,
idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário,
encargos de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam
economicamente.
Parágrafo único. A organização da Previdência Social obedecerá aos
seguintes princípios e diretrizes:
a) universalidade de participação nos planos previdenciários,
mediante contribuição;
b) valor da renda mensal dos benefícios, substitutos do salário-de-
contribuição ou do rendimento do trabalho do segurado, não
inferior ao do salário mínimo;
c) cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição,
corrigidos monetariamente;
d) preservação do valor real dos benefícios;
e) previdência complementar facultativa, custeada por contribuição
adicional (BRASIL, 1991a, s.p.).

Dispõe detalhadamente sobre as fontes de custeio, qualidade de segurado,


dependente, e outros temas que serão objeto de estudo mais adiante. Por sua
vez, a Lei nᵒ 8.213/1991 dispõe especificamente sobre os planos de benefícios da
Previdência Social, de forma extremamente detalhada, o que também é objeto de
estudo em tópico a parte (BRASIL, 1991b).

DICAS

Recomendamos que assista ao vídeo "Previdência: de onde viemos, para


onde vamos", produzido pela TV Câmara, que você pode acessar em: https://www.
youtube.com/watch?v=7rhh5DREn-g.

50
TÓPICO 3 — A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL

2.3 A LEI ORGÂNICA DA SEGURIDADE SOCIAL


A Lei nᵒ 8.212/1991, mencionada no item anterior, é conhecida como a Lei
Orgânica da Seguridade Social (BRASIL, 1991a). Esta lei é de suma importância,
posto que é ela que dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui
Plano de Custeio, e dá outras providências, especificadamente dentro de cada um
dos componentes do tripé Saúde, Assistência Social e Previdência Social.

A seguir, vamos ler alguns trechos muito importantes desta lei:

TÍTULO II
DA SAÚDE
Art. 2ᵒ A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Parágrafo único. As atividades de saúde são de relevância pública e
sua organização obedecerá aos seguintes princípios e diretrizes:
a) acesso universal e igualitário;
b) provimento das ações e serviços através de rede regionalizada e
hierarquizada, integrados em sistema único;
c) descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
d) atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas;
e) participação da comunidade na gestão, fiscalização e
acompanhamento das ações e serviços de saúde;
f) participação da iniciativa privada na assistência à saúde, obedecidos
os preceitos constitucionais.
TÍTULO III
DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
Art. 3ᵒ A Previdência Social tem por fim assegurar aos seus beneficiários
meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade,
idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário,
encargos de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam
economicamente.

Parágrafo único. A organização da Previdência Social obedecerá aos


seguintes princípios e diretrizes:
a) universalidade de participação nos planos previdenciários,
mediante contribuição;
b) valor da renda mensal dos benefícios, substitutos do salário-de-
contribuição ou do rendimento do trabalho do segurado, não
inferior ao do salário-mínimo;
c) cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição,
corrigidos monetariamente;
d) preservação do valor real dos benefícios;
e) previdência complementar facultativa, custeada por contribuição
adicional (BRASIL, 1991a, s.p.).

51
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

E
IMPORTANT

É muito importante que você separe um tempo para ler a íntegra da Lei
Orgânica da Seguridade Social, que está disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8212orig.htm.

A lei disciplina, ainda, toda a parte de contribuições para a Seguridade


Social, o que será objeto de estudo em unidade a parte. Aos poucos, todos os
aspectos desta lei serão estudados ao longo da nossa trilha de aprendizagem.

Por enquanto, separe um tempo para uma leitura muito dedicada,


conforme indicamos acima!

3 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO SOBRE


A SEGURIDADE SOCIAL
Vamos finalizar nossa unidade falando sobre a competência privativa da
União para legislar sobre a Seguridade Social. Em conformidade com o artigo
22, inciso XXIII, da Constituição Federal, compete privativamente à União
legislar sobre saúde, assistência e previdência social, logo, estamos falando sobre:
Seguridade Social.

Há, no entanto, uma exceção a esta regra, trazida pelo artigo 24, inciso
XII, também da Constituição Federal, que compartilha com os estados e o Distrito
Federal a competência da União para legislar sobre previdência social. Esta
exceção vale, no entanto, somente para que os estados e o Distrito Federal possam
criar Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) para os seus servidores.

Bradbury (2020, p. 17) assevera com razão que:

Apesar dos municípios não estarem previstos na referida competência


legislativa concorrente do art. 24 da CF/1988, tais entes também
podem legislar a respeito das regras da previdência pública de seus
próprios servidores com base em sua competência suplementar (art.
30, II, da CF/1988), bem como por se tratar de assunto de interesse
local (art. 30, I, da CF/1988).

Na prática, todas as regras previdenciárias (e também trabalhistas)


envolvendo trabalhadores da iniciativa privada, são de competência exclusiva da
União, enquanto as regras previdenciárias dos trabalhadores da iniciativa pública
são de competência de cada ente a eles ligado.

52
TÓPICO 3 — A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL

LEITURA COMPLEMENTAR

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Lígia Bahia

A expressão ‘Sistema Único de Saúde’ (SUS) alude em termos


conceituais ao formato e aos processos jurídico-institucionais e administrativos
compatíveis com a universalização do direito à saúde e em termos pragmáticos
à rede de instituições – serviços e ações – responsável pela garantia do acesso
aos cuidados e atenção à saúde. Os termos que compõem a expressão ‘SUS’,
espelham positivamente críticas à organização pretérita da assistência médico-
hospitalar brasileira.

‘Sistema’, entendido como o conjunto de ações e instituições, que de


forma ordenada e articulada contribuem para uma finalidade comum, qual seja, a
perspectiva de ruptura com os esquemas assistenciais direcionados a segmentos
populacionais específicos, quer recortados segundo critérios socioeconômicos,
quer definidos a partir de fundamentos nosológicos.

‘Único’ referido à unificação de dois sistemas: o previdenciário e o do


Ministério da Saúde e secretarias estaduais e municipais de saúde, consubstanciada
na incorporação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência
Social (Inamps) pelo Ministério da Saúde e na universalização do acesso a todas
ações e cuidados da rede assistencial pública e privada contratada e ao comando
único em cada esfera de governo.

‘Saúde’ compreendida como resultante e condicionante de condições


de vida, trabalho e acesso a bens e serviços e, portanto, componente essencial
da cidadania e democracia e não apenas como ausência de doença e objeto de
intervenção da medicina; a saúde, tomada como medida de determinações sociais
e perspectiva de conquista da igualdade, contrapõe-se ao estatuto de mercadoria
assistencial que lhe é conferido pela ótica economicista, tal como definida na VIII
Conferência Nacional de Saúde é “a resultante das condições de alimentação,
habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde”.

HISTÓRICO: O CONTEXTO DE FORMULAÇÃO E INSCRIÇÃO DO


SUS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

O SUS foi formulado, na esteira da luta pela redemocratização do


Brasil, por intelectuais, entidades de profissionais de saúde, estudantis e outras
entidades da sociedade civil. Como expressão institucional da Reforma Sanitária,
o SUS, entre outras referências, inspirou-se no processo de mudança no sistema
de saúde italiano – denominado Riforma Sanitaria do qual se originou a Lei n. 833
de 1978 sobre a Istituzione del Servizio Sanitario Nazionale.

53
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

A convergência entre as mudanças teórico-conceituais acerca das


concepções sobre as relações entre saúde, Estado e sociedade e as lutas pelas
liberdades democráticas contra o regime militar confluíram para a formulação e
tradução operacional da Reforma Sanitária Brasileira.

O lema “saúde é democracia” embalou as proposições da Reforma Sanitária


difundidas durante a preparação e realização da VIII Conferência Nacional de
Saúde em 1986. A efervescência dos movimentos sociais a partir da metade da
década de 1970, a criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), em
1976, as experiências locais alternativas de organização de serviços de saúde, a
presença de sanitaristas no planejamento de instituições de saúde e, sobretudo, o
intenso debate e a apresentação de reflexões, em fóruns dos movimentos sociais
e nas arenas governamentais, sobre as alternativas à hegemonia dos interesses
mercantis na assistência médica previdenciária, tornaram-se os ingredientes
essenciais para a elaboração das diretrizes do SUS.

Durante o I Simpósio de Saúde da Câmara dos Deputados em 1979, o


documento do Cebes intitulado “Saúde é Democracia” sinalizou para a necessidade
de criação de um sistema único e para a necessidade de transformação das ações
de saúde em bens sociais gratuitos sob responsabilidade do Estado a partir de
uma base eficaz de financiamento.

Tais premissas justapostas às acepções sistêmicas e universalistas sobre


previdência e assistência social fundamentaram a inscrição do SUS como
integrante das ações destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social no artigo 194 da Constituição de 1988.

FUNDAMENTOS TEÓRICO-POLÍTICOS DO SUS

O SUS resulta da formulação e legitimação de estratégias de reordenação


do sistema de saúde brasileiro postas em disputa com teorias divergentes sobre as
concepções sobre saúde-doença e distintos projetos de poder no campo da saúde.

A partir da concepção histórico-estruturalista, os estudos sobre as


relações entre medicina e sociedade enfatizaram a necessidade de desvendar os
padrões de intervenção estatal específicos na área da saúde. As interpretações
sobre as articulações entre saúde e política econômica buscaram evidenciar
simultaneamente: 1) a natureza objetiva (histórico- material) da sociedade, a
identificação de padrões, variações e matizes dos arranjos político-institucionais
presentes no setor saúde no Brasil; 2) a identificação e análise da origem e das
contradições entre projetos de atores singulares, suas projeções no Estado, visto
não apenas como locus de preservação de legitimação, mas também como arena
de disputa por hegemonia.

54
TÓPICO 3 — A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL

O padrão dual de desenvolvimento social e econômico e seus


rebatimentos sobre os níveis de desigualdade e indicadores de saúde, em um
contexto pautado pela emergência de demandas complexas em termos sociais,
biológicos e geográficos questionavam as respostas estatais centradas em
programas de controle de endemias, por meio da atuação do Ministério da Saúde
ou do atendimento individual a determinadas categorias de trabalhadores,
administrado pela Previdência Social.

No final dos anos 70, o descompasso entre as receitas e as despesas com


saúde e as críticas à natureza dicotomizada e fragmentada do sistema foram
incluídos nas agendas de reivindicação dos movimentos sociais e nas pautas da
grande imprensa.

No período de transição democrática, a feição nacional e universalista


da luta pela transformação do sistema de saúde e das condições de saúde da
população brasileira viabilizou alianças com setores progressistas de diferentes
orientações político-partidárias.

Os compromissos com a produção de conhecimentos sobre os


determinantes sociais da saúde, com o movimento por mudança no sistema de
saúde e mudanças na sociedade brasileira lastrearam a formulação do SUS.

No início da denominada Nova República, a coalizão suprapartidária e


a mobilização social, essenciais para a inclusão da Seguridade Social e do SUS
como direitos de cidadania, tornaram exequível a nomeação de integrantes
do movimento sanitário para cargos de direção no Ministério da Saúde e na
Previdência Social, que, por seu turno, construíram as bases técnico-operacionais
para a transferência de recursos humanos, financeiros e físicos e competências do
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social para o Ministério
da Saúde.

BASES JURÍDICO-LEGAIS DO SUS

O direito à saúde elevado ao patamar de direito essencial em função de sua


ligação intrínseca com o direito à vida e à dignidade da pessoa humana no âmbito
da positivação dos direitos sociais atribuída pela Constituição de 1988, traduz-se no
reconhecimento da saúde como direito público subjetivo de eficácia plena e imediata.
A tutela estatal e o agir positivo, ao ensejarem a criação e efetivação de políticas
públicas, fazem com que esses direitos adquiram caráter coletivo.

O SUS, responsável pela garantia do exercício do direito à saúde, tem


como suportes doutrinários o direito universal e dever do Estado (artigo
196 da Constituição Brasileira de 1988); a integralidade das ações de saúde; a
descentralização, com direção única em cada esfera de poder e a participação da
sociedade (artigo 198).

55
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

Em termos operacionais, trata-se de um sistema unificado, regionalizado,


com atribuições definidas por esfera de governo, financiamento compartilhado
e áreas de competências e abrangência firmadas. A saúde passa a ter o estatuto
de bem de relevância pública tal como previsto no artigo 197, que define a
competência do poder público na regulamentação, fiscalização e controle das
ações e serviços de saúde.

O artigo 199 franqueia à iniciativa privada a participação nas atividades


de saúde. As áreas de atuação e competência dos órgãos do sistema de saúde são
definidas no artigo 200. Segundo este dispositivo, o controle, fiscalização, execução
e ordenamento das políticas, ações e programas referentes a itens diversos, tais
como alimentos, medicamentos, equipamentos, hemoderivados, saneamento
básico, formação de recursos humanos para a saúde, ambientes de trabalho,
desenvolvimento científico e tecnológico e meio ambiente são atribuições do SUS.

O conteúdo constitucional do SUS é discriminado e detalhado em


duas leis orgânicas, a Lei 8.080/90 e a Lei 8.142/ 90. A Lei 8.080/90 contém
dispositivos relacionados com o direito universal, relevância pública, unicidade,
descentralização, financiamento, entre outros, enfatizando a definição das
atribuições de cada esfera de governo dentro do novo sistema.

A Lei 8.142/ 90 dispõe sobre o caráter, as regras de composição, regularidade


de funcionamento das instâncias colegiadas do SUS – o conselho e a conferência
de saúde – e transferências intergovernamentais de recursos. Ao longo do tempo,
a legislação ordinária foi complementada por decretos de autoria do poder
executivo ou do legislativo e normas emanadas do Ministério da Saúde, entre as
quais as normas operacionais básicas (NOBs) que determinaram as regras para o
repasse dos recursos federais às esferas subnacionais.

O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS PRINCÍPIOS E


DIRETRIZES ORGANIZACIONAIS DO SUS

Os questionamentos à Constituição de 1988, especialmente quanto à


generosa e abrangente perspectiva de organização de um sistema integrado de
seguridade social e ao apoio às propostas de organização de seguros baseados
na relação contribuição-benefício sob regime de capitalização emanadas do
receituário de ajuste fiscal, alteraram o curso de implementação do SUS.

No início dos anos 90, a conjuntura adversa aos projetos de corte


universalista contribuiu para a fragmentação das bases de apoio político, não
observância das normas sobre as receitas e destinos do orçamento da ‘seguridade
social’ e distintas velocidades da regulamentação de cada um de seus componentes:
saúde, previdência e assistência social.

56
TÓPICO 3 — A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL

A fragmentação da seguridade social e, em especial, o não cumprimento


dos preceitos constitucionais relacionados com o financiamento da saúde
limitaram a plena implementação do SUS. Em 1993, o então Ministério da
Previdência e Assistência Social retirou as transferências destinadas à saúde a
partir da contribuição sobre a folha de salários.

Desde então, a resistência contra o subfinanciamento da saúde tem sido


a tônica de entidades da sociedade civil, parlamentares e integrantes do poder
judiciário e do ministério público, e a participação das esferas subnacionais,
principalmente os municípios, tem sido crescente.

A mobilização permanente em torno da garantia de recursos para a saúde


gerou compromissos governamentais com a estabilidade dos repasses tal como
expressos na Emenda Constitucional 29. No que concerne ao desenho e à execução
dos pactos intergovernamentais para consolidar o processo de descentralização e
reorganizar as redes do sistema de saúde, os avanços são notáveis.

Nos marcos da democracia e do federalismo, o SUS construiu uma


estrutura institucional complexa para coordenar as ações dos três níveis de
governo: as ações de saúde pública e os serviços de saúde estatais, filantrópicos
e privados.

As Comissões Gestoras Bipartite e a Comissão Tripartite, integradas


por representantes das três esferas de governo, são instâncias de decisão
compartilhada sobre políticas de saúde. Os governos locais tornaram-se essenciais
na organização da atenção à saúde, e os representantes dos usuários, profissionais
de saúde e gestores civis dispõem de instrumentos para formular políticas de
saúde, controlar e fiscalizar a ação das instituições de saúde.

Contabilizam-se ainda, entre os expressivos avanços da estruturação


de um sistema único e descentralizado, os êxitos do impacto sobre o controle/
redução de agravos relacionados com a oferta de atenção universal a grupos
populacionais definidos. Contudo, o SUS, no que concerne especialmente à oferta
de assistência médico-hospitalar, não é universal.

A preservação da segmentação das demandas condiciona e de certo modo


legitima o subfinanciamento público para a atenção universal à saúde e desafia
permanentemente a lógica da organização do SUS. A vigência da clivagem
assistencial afeta a equidade do acesso aos serviços de saúde, os valores sobre a
qualidade do que é público e a própria definição de SUS.

Os usos correntes do termo SUS, como sinônimo de um convênio de


repasse de recursos ou órgão de compra de serviços e não como sistema de
saúde, restringem drasticamente sua natureza e atribuições constitucionais.
Alternativamente, a imunidade do direito à saúde tal como previsto pela
Constituição de 1988 às tentativas de desfigurá-lo, bem como os efeitos favoráveis
da inclusão e universalização das ações de saúde conferiram ao SUS o estatuto
de política de Estado e modelo exemplar de sistema de saúde na América Latina.

57
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL

O RESGATE DO SUS CONSTITUCIONAL

As avaliações sobre a persistência de problemas de saúde e elevadas


desigualdades econômico-sociais e no acesso a bens e serviços vis-à-vis o
subfinanciamento, as distorções na estrutura dos gastos públicos e a subordinação
das políticas sociais em face da ‘financeirização’ do orçamento público estimularam
a realização do VIII Simpósio da Câmara Federal sobre Política Nacional de Saúde
em 2005.

O debate e a mobilização para o resgate do SUS constitucional implicam


a defesa da seguridade social e a definição de uma política nacional de
desenvolvimento e, portanto, revisão da política monetária.

Recursos oriundos da desvinculação de receitas da União, inclusive das


contribuições sociais e do elevado superávit fiscal, devem ser redirecionados para
as políticas sociais. As iniciativas de criar e reunir um Fórum da Reforma Sanitária
na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca e a realização de reuniões
conjuntas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) Centro Brasileiro
de Estudos de Saúde (Cebes), Rede Unida, Associação Brasileira de Economia
da Saúde (Abres), Associação Nacional de Promotores do Ministério Público em
Defesa da Saúde (Ampasa) e a Frente Parlamentar da Saúde permitiram ampliar
e aprofundar a reflexão e as propostas de resgate do SUS constitucional.

O documento “SUS pra Valer: universal, humanizado e de qualidade”,


subscrito por essas entidades, elaborado no segundo semestre de 2006, contendo
estratégias programáticas, reafirma a imprescindibilidade da compatibilização
dos padrões de saúde dos brasileiros ao progresso tecnológico, cultural e
político disponível.

Por sua vez, as instituições responsáveis pela gestão do SUS definiram


novas diretrizes para a descentralização no Pacto pela Vida, em Defesa do ‘SUS’ e
de Gestão, proposto pelo Ministério da Saúde, Conselho de Secretários de Saúde
(Conass) e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems)
em 2006.

Medidas como o reforço à organização das regiões sanitárias, a cogestão,


a base do financiamento tripartite como parâmetro para o planejamento e
definição de responsabilidades sanitárias compartilhadas aproximam a trajetória
do SUS real a do SUS constitucional. Os esforços para corrigir o rumo e o prumo
da trajetória do SUS, quer oriundos da esfera da sociedade civil, quer gerados
na esfera governamental, ainda que até agora tenham logrado contra-restar
plenamente obstáculos estruturais, expressam a vitalidade e perenidade de seus
princípios e diretrizes.

FONTE: Disponível em: <http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/sisunisau.html>.


Acesso em: 11 nov. 2020.

58
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Seguridade Social no Brasil começou com o estabelecimento de benefícios de


proteção a grupos de trabalhadores específicos.

• Com o passar do tempo, ao longo das constituições brasileiras, os primeiros


termos que mais se aproximam ao atual modelo de Sistema de Seguridade
Social foram aparecendo e se aprimorando.

• A Lei Eloy Chaves foi um grande marco para a Seguridade Social.

• A Constituição Federal de 1988 trouxe o conceito de Seguridade Social como


gênero, e a saúde, assistência social e previdência social como espécies.

• A Lei Orgânica da Previdência Social disciplinou e organizou detalhadamente


desde o funcionamento até o custeio da Seguridade Social.

• A competência para legislar sobre saúde e assistência social é privativa da


União, enquanto para legislar sobre previdência social – desde que seja
dos servidores – é compartilhada com estados e municípios, mantendo-
se a competência privativa da União para legislar sobre a previdência dos
trabalhadores celetistas.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

59
AUTOATIVIDADE

1 A Lei Eloy Chaves é reconhecida como um marco da Seguridade Social, o


primeiro diploma sobre Previdência Social, consolidando a base do sistema
previdenciário brasileiro. Assinale a alternativa CORRETA que apresenta o
que a Lei Eloy Chaves instituiu:

a) ( ) Caixas de Aposentadoria e Pensão.


b) ( ) Regimes geral e especial de previdência.
c) ( ) Fundos de pensão de empresas públicas e privadas.
d) ( ) Fundações previdenciárias.

2 De acordo com a Constituição Federal de 1988, compete privativamente à


União legislar sobre saúde, assistência e previdência social, sendo que os
estados e o Distrito Federal não possuem competência para criar Regimes
Próprios de Previdência Social (RPPS) para os seus servidores. Com base
em seus estudos, esta afirmação está CORRETA? Justifique e fundamente
sua resposta.

3 Ao longo das constituições brasileiras, os primeiros termos que mais


se aproximam ao atual modelo de Sistema de Seguridade Social foram
aparecendo e se aprimorando. Com relação à evolução constitucional da
seguridade social no Brasil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) A Constituição Imperial de 1824, ainda que de forma bastante superficial,


tratou pela primeira vez sobre assistência social
( ) Em 1965 foi criado o auxílio-desemprego no âmbito da constituição militar.
( ) O conceito de Seguridade Social aparece pela primeira vez na Constituição
brasileira de 1967.
( ) De acordo com a Constituição Federal de 1988, compete privativamente à
União legislar sobre saúde, assistência e previdência social, sendo que os
estados e o Distrito Federal não possuem competência para criar Regimes
Próprios de Previdência Social (RPPS) para os seus servidores.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – F – V – F.
c) ( ) F – V – F – F.
d) ( ) V – V – F – F.

60
4 A Competência legislativa é a capacidade de editar leis e atos normativos,
sendo determinada conforme previsão constitucional a cada ente federativo.
De acordo com o disposto em nossa Carta Magna sobre os entes públicos
responsáveis por legislar acerca das matérias relativas à Seguridade Social,
discorra se há possibilidade legislativa dos municípios.

5 Em seu art. 24, a Constituição Federal dispõe que compete à União, aos
Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: previdência
social, proteção e defesa da saúde. Com relação à exceção à regra trazida
por este artigo da Constituição Federal, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os estados e o Distrito Federal possuem competência para legislar e criar


Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) para os seus servidores.
b) ( ) Os estados tem competência concorrente com a União para legislar
sobre matérias da Seguridade Social.
c) ( ) Os estados e o Distrito Federal tem competência privativa sobre
seguridade social.
d) ( ) Os estados e o Distrito Federal em hipótese nenhuma podem legislar
sobre previdência social.

61
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio
Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

BRADBURY, L. C. S. La. Curso prático de direito e processo previdenciário. 3.


ed. São Paulo: Atlas, 2020.

BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. 1988.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 8 jun. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da


Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências, 1991a.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso
em: 8 jun. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de


Benefícios da Previdência Social e dá outras providências, 1991b. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 8 jun. 2020.

BRASIL. Decreto n° 99.350 de 27 de junho de 1990. Cria o Instituto Nacional


do Seguro Social (INSS) define sua estrutura básica e o Quadro Distributivo
de Cargos e Funções do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores de
suas Unidades Centrais e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d99350.htm. Acesso em: 8 jun. 2020.

BRASIL. Decreto n° 4.682 de 24 de janeiro de 1923. Crea, em cada uma das


emprezas de estradas de ferro existentes no paiz, uma caixa de aposentadoria
e pensões para os respectivos ernpregados. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dpl/DPL4682-1923.htm. Acesso em:
8 jun. 2020.

BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil. 1824. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm. Acesso
em: 8 jun. 2020.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1993.

DOWER, N. G. B. Instituições de direito público e privado. 10. ed., São Paulo:


Nelpa, 2001.

GOES, H. M. Manual de direito previdenciário: teoria e questões. 8. ed. Rio de


Janeiro: Ferreira, 2014.

62
KERTZMAN, I. Curso prático de direito previdenciário. 13. ed. Salvador:
JusPodivm, 2015.

KERTZMAN, I. Guia prático da previdência social. 5. ed. São Paulo: Saraiva 2014.

LEITÃO, A. S. Manual de direito previdenciário. 5. ed. São Paulo: Saraiva 2018.

SANTOS, M. F. dos. Direito previdenciário esquematizado. 9. ed. São Paulo:


Editora Saraiva, 2019.

TSUTIYA, A. M. Curso de direito da seguridade social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

63
64
UNIDADE 2 —

TEORIA GERAL DO DIREITO DA


SEGURIDADE SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• diferenciar o tripé da seguridade social;

• delinear as diferenças entre previdência social, assistência social e saúde;

• compreender os principais benefícios disponíveis no âmbito da


assistência social;

• estimular a reflexão sobre a importância dos benefícios de assistência social;

• debater sobre os princípios da seguridade social, tanto constitucionais


como interpretativos, e entender as suas diferenças;

• desenvolver um pensamento crítico sobre a assistência social no Brasil.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – DA SEGURIDADE SOCIAL

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

65
66
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

DA SEGURIDADE SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico!

Neste tópico, nós estudaremos o tripé da seguridade social, também


chamado tríplice aspecto da seguridade social, que é formado pela saúde,
assistência social e previdência social. Vamos entender cada uma destas três
espécies que compõem o gênero seguridade social, e como elas compõe uma
importante estrutura de proteção social e busca do bem-estar social.

Também vamos analisar os principais benefícios disponibilizados pela


seguridade social no âmbito da assistência social: seus formatos, requisitos de
acesso, fundamentos e particularidades. Estes benefícios assistenciais não exigem
contraprestação pecuniária (pagamento) ou regime de filiação, os beneficiários
somente precisam cumprir os requisitos estabelecidos para cada modalidade. Isto
se dá pela finalidade destes benefícios que é auxiliar os que mais precisam, na
medida de suas necessidades.

Aliás, você sabia que o Brasil é um dos países com um dos sistemas mais
avançados de proteção social, contando com o maior programa de transferência
de renda do mundo?

2 O TRIPÉ DA SEGURIDADE SOCIAL: ASSISTÊNCIA,


PREVIDÊNCIA E SAÚDE
Aprendemos em nossa unidade anterior que a Seguridade Social é formada
por três componentes, tendo um aspecto tríplice, também chamado de Tripé da
Seguridade Social, que são a Assistência Social, a Previdência Social e a Saúde.

O artigo 194 da Constituição Federal apresenta a Seguridade Social


como um “conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da
sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, previdência social
e assistência social” (BRASIL, 1988, s.p.).

67
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Esta divisão é importante para que o próprio Estado, enquanto


responsável por estes três aspectos, possa implementar e executar as políticas
a eles relacionados, tanto direta como indiretamente. Ou seja, por meio de
órgãos próprios ou por meio de entidades criadas especificamente para estas
finalidades, como é o caso do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS,
autarquia pública federal criada especialmente para tratar de tudo que é
relacionado à Previdência Social.

Na área da Saúde, temos o Sistema Único de Saúde, um sistema criado


por meio de lei, que se articula de forma horizontal e descentralizada, e tem suas
políticas criadas e executadas pela União Federal, estados federados, municípios
e Distrito Federal. Na seara da Assistência Social, de modo muito semelhante à
Saúde, também temos um sistema horizontal e descentralizado, cujas ações são
planejadas e executadas em todas as esferas acima mencionadas, por meio de
diversas políticas públicas que visam à promoção da assistência aos cidadãos de
que dela necessitam.

Para melhor ilustrar o Tripé da Seguridade Social, temos a imagem a seguir:

FIGURA 1 – O TRIPÉ DA SEGURIDADE SOCIAL

FONTE: <http://www.fetecpr.org.br/e-nas-crises-que-o-povo-mais-precisa-da-seguridade-social-
aponta-medico-do-forum-social-mundial-de-saude/>. Acesso em: 10 jul. 2020.

Existem diversos conceitos jurídicos de Seguridade Social, mas aqui


vamos adotar o de Bragança (2012, p. 3), que a define como “a técnica de proteção
pela qual o Estado garante à sua população o bem-estar social. Este é o fim que
deve perseguir”.

A seguir, estudaremos juntos cada um destes três componentes do


Tripé da Seguridade Social, suas diferenças, particularidades, e como eles se
complementam formando a Seguridade Social no Brasil enquanto um importante
sistema de proteção social.
68
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

2.1 ASSISTÊNCIA SOCIAL


A Assistência Social é o primeiro componente da Seguridade Social
estudado por nós neste tópico. Trata-se de um dos principais meios de proteção
social criado em benefício dos cidadãos que mais necessitam.

Este elemento da Seguridade Social não depende de contribuição


ou filiação para que seja acessado pelo cidadão brasileiro – sendo nato ou
naturalizado –, basta para tanto que esteja presente o elemento necessidade.
Em outras palavras, a Assistência Social, por meio de seus diversos benefícios
visa proteger o cidadão de determinado risco social, mediante a demonstração
da efetiva necessidade.

Ao contrário da Previdência Social, não é necessário que o cidadão


ofereça algum tipo de contraprestação pecuniária – como o pagamento de um
carnê de Previdência Social ao INSS, por exemplo. Outro aspecto interessante
da Assistência Social a ser observado é que sua gestão e execução é totalmente
horizontal e descentralizada, por meio de políticas públicas federais, estaduais,
municipais e distritais de assistência social. Mais adiante, em tópico próprio,
estudaremos quais são estas políticas e como funcionam.

Tsutiya (2020, p. 503) entende a Assistência Social como um sistema que


busca garantir proteção social para todos “assegurado por serviços públicos
custeados pelo orçamento estatal, cuja receita decorre do pagamento de impostos
e taxas pelo conjunto dos cidadãos, foi instituído após acordo entre sociedade,
Estado e mercado”.

A Assistência Social tem suas diretrizes disciplinadas pelos artigos 203


e 204 da Constituição Federal, e de forma bastante específica pela Lei Orgânica
da Assistência Social – LOAS –, Lei nᵒ 8.742/1993, promulgada pelo presidente
Itamar Franco. Alguns exemplos de políticas públicas de Assistência Social
são o Programa Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada – BPC e o
Seguro-Desemprego.

E
IMPORTANT

Para aprofundar nossos estudos sobre a Assistência Social, é importante


a leitura atenta dos artigos 203 e 204 da Constituição Federal, que você pode acessar
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm, e também da Lei
Orgânica da Assistência Social – LOAS, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l8742compilado.htm.

69
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

2.2 PREVIDÊNCIA SOCIAL


O termo Previdência Social é utilizado de forma comum na literatura
jurídica como sinônimo da Seguridade Social. Aqui, no entanto, iremos estudar a
Previdência Social como uma espécie do gênero Seguridade Social, na medida em
que, como vimos, a Previdência Social, ao lado da Assistência Social e da Saúde,
compõe do Tripé da Seguridade Social.

O art. 3ᵒ da Lei nᵒ 8.212/1991, que dispõe sobre a organização da


Seguridade Social, define a Previdência Social como um conjunto de medidas que
têm por finalidade disponibilizar aos seus beneficiários os “meios indispensáveis
de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, tempo de serviço,
desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte daqueles de
quem dependiam economicamente” (BRASIL, 1991, s.p.).

Como estudamos anteriormente, a Previdência Social integra um sistema


contributivo e de filiação, ao contrário do que ocorre com a Assistência Social
e com a Saúde. De modo que só podem acessar os benefícios proporcionados
pela Previdência Social, tais como aposentadoria e auxílio-doença, aqueles que,
cumulativamente, dentre outros requisitos, se filiaram efetivamente ao Regime
Geral de Previdência Social – RGPS –, mantêm a qualidade de segurado, e
contribuem financeiramente para o regime.

O Regime Geral de Previdência Social – RGPS, responsável por organizar


e executar as políticas previdenciárias no Brasil, é de filiação obrigatória e
compulsória para todos aqueles que exercem uma atividade laborativa, o que
já não acontece com a Saúde e com a Assistência Social. Estas são de acesso aos
de que delas necessitam, independentemente de exercerem ou não atividade
laborativa ou verterem qualquer contribuição pecuniária.

2.3 SAÚDE
O acesso à Saúde, tal qual a Assistência Social, independe de filiação ou
de contribuição, sendo disponibilizado a todos aqueles que dela necessitam,
ao contrário do que ocorre na Previdência Social, como vimos anteriormente.
A Saúde é também, a exemplo da Assistência Social, organizada de forma
horizontal e descentralizada, de modo que existem políticas federal, estaduais,
municipais e distritais de saúde.

Nacionalmente, a Saúde é organizada, gerida e executada pelo


Sistema Único de Saúde – SUS, que tem seus fundamentos e regramentos
disciplinados pela Lei nᵒ 8.080/1990, conhecida como Lei Orgânica do
SUS. Essa normativa dispõe sobre as condições para a promoção, proteção
e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências.

70
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

A Lei nᵒ 8.080/1990 disciplina em seu artigo 5ᵒ os objetivos do Sistema


Único de Saúde – SUS:

Art. 5ᵒ São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:


I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e
determinantes da saúde;

II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos


campos econômico e social, a observância do disposto no § 1ᵒ do art.
2ᵒ desta lei;
III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção,
proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações
assistenciais e das atividades preventivas (BRASIL, 1990, s. p.).

Assim, por definição legal, temos que o Sistema Único de Saúde – SUS é o
meio pelo qual todo cidadão brasileiro, nato ou naturalizado, independentemente
de qualquer prestação pecuniária (pagamento) ou filiação, tem direito de acesso
à promoção, proteção e recuperação da saúde. Leitão (2018, p. 90) nos remete à
definição constitucional do direito à Saúde, no sentido de que ela “é direito de
todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

E
IMPORTANT

Recomendamos que você faça uma leitura cuidadosa da Lei Orgânica do SUS –
Lei nᵒ 8.080/1990, que pode ser acessada em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.
htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%208.080%2C%20DE%2019%20DE%20SETEMBRO%20
DE%201990.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20as%20condi%C3%A7%C3%B5es%20
para,correspondentes%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.

3 DIFERENÇAS ENTRE PREVIDÊNCIA SOCIAL E ASSISTÊNCIA


SOCIAL
Como vimos, a Previdência Social e a Assistência Social são espécies do
gênero Seguridade Social. A Assistência Social é destinada a toda sociedade,
independente de contribuição destinada a este fim, enquanto que a Previdência
Social depende de contribuição e do cumprimento de requisitos para que o
cidadão possa se beneficiar de suas prestações. Assim, definimos as principais
diferenças entre Previdência Social e Assistência Social.

71
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Bradbury (2020, p. 7) conceitua Previdência Social como um seguro


social de natureza obrigatória, de caráter contributivo, que tem por objetivo
proporcionar dignidade aos cidadãos “quando se depararem com situações
caracterizadoras de um risco social [...] tais como o desemprego involuntário,
a morte, a velhice, a doença, a incapacidade permanente, a idade avançada, a
prisão ou a maternidade”.

A Assistência Social, prevista no artigo 203 da Constituição Federal, tem


os seguintes objetivos:

I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à


velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção
da integração ao mercado de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação
das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração
à vida comunitária; V – a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem
não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família, conforme dispuser a lei (BRASIL, 1988, s.p.).

Dentro do estudo da Assistência Social, é importante destacar o Sistema


Único de Assistência Social – SUAS, disciplinado pela Lei nᵒ 8.743/1993, que dispõe
sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Este sistema
prevê que a assistência social é direito do cidadão e dever do Estado que provê os
mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa
pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

A Lei do SUAS define importantes diretrizes de enfrentamento à pobreza,


por meio de projetos de investimento econômico-social nos grupos populares,
buscando subsidiar, financeira e tecnicamente, iniciativas que lhes garantam
meios, capacidade produtiva e de gestão para melhoria das condições gerais de
subsistência, elevação do padrão da qualidade de vida, a preservação do meio-
ambiente e sua organização social.

E
IMPORTANT

Dentro do estudo da Assistência Social é muito importante que você faça a


leitura da Lei nᵒ 8.743/1993, que disciplina o Sistema Único de Assistência Social – SUAS –,
que você pode acessar em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm.

72
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

4 PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DISPONÍVEIS NO ÂMBITO DA


SEGURIDADE SOCIAL EM SEDE DE ASSISTÊNCIA
Os benefícios disponíveis no âmbito da Assistência Social são diversos,
existindo políticas públicas federais, estaduais, municipais e distritais, que podem
ou não dispor sobre benefícios assistenciais idênticos ou parecidos.

O que todos estes benefícios assistenciais têm em comum é o fato de


que, para acessá-los, não pode haver a existência de qualquer contraprestação
pecuniária (pagamento) ou regime de filiação. No entanto, existem critérios
objetivos e específicos para acessar cada modalidade de benefício, uma vez que
o intuito da sua existência é auxiliar àqueles que mais precisam, na medida de
suas necessidades. Neste sentido existem alguns requisitos como a inscrição, que
basicamente é o pedido de recebimento de determinado benefício assistencial,
e o preenchimento de requisitos objetivos, que servem para mensurar o grau
de necessidade de cada indivíduo e assim alocar os recursos estatais da melhor
forma possível em favor da coletividade.

Existe um velho jargão no meio jurídico que fala desta atuação estatal
como “tratar desigualmente os desiguais na medida das suas desigualdades”, ou
seja, estabelecer e executar políticas de enfrentamento às desigualdades sociais,
tratando de forma diferente os que necessitam, para que tenham o mínimo de
condições de igualdade em relação aos demais membros da sociedade, em busca
do bem-estar social.

Para Silva (2013, s.p.), no âmbito do Sistema Único de Assistência Social


– SUAS:

[...] podem-se classificar os benefícios assistenciais em duas categorias:


aqueles permanentes – federais, instituídos mediante lei federal, a
exemplo, o Benefício de Prestação Continuada – BPC criado pela
Lei Federal nᵒ8.742/93 – Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS,
que regulamentou o art.203, inciso V da Carta Política Pátria; e os
benefícios eventuais – federativos, criados por entes da federação
Estados, Distrito Federal e Municípios, conforme critérios e prazos
definidos pelo Conselho Nacional de Assistência Social.

Estudaremos, a seguir, os principais benefícios em sede de Assistência


Social, dentro do contexto da Seguridade Social. Entenda que existem muitos
outros benefícios, inclusive semelhantes aos que vamos estudar, porém, que são
planejados e executados em outras esferas de poder executivo, paralelamente
ou não.

Estes benefícios que iremos estudar a seguir são os mais cobrados em


provas de concursos públicos e, também, no exame de ordem da OAB, por isso é
essencial que você os compreenda bem. No entanto não se limite ao estudo deles.

73
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

4.1 BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA – BPC (LOAS)


O Benefício de Prestação Continuada – BPC –, também conhecido como
LOAS, por conta de sua regulamentação por meio da Lei Orgânica da Assistência
Social, talvez seja o benefício assistencial mais conhecido e difundido. É comum
confundir o Benefício de Prestação Continuada como uma aposentadoria. Ao
contrário da aposentadoria, que é um benefício do âmbito Previdenciário, o BPC
é um benefício do âmbito Assistencial.

Para Bradbury (2020, p. 499) o Benefício de Prestação Continuada


– BPC – é um benefício assistencial “no valor de um salário mínimo a fim de
que o hipossuficiente possa ter recursos financeiros mínimos para ter uma vida
digna”. A recente Lei nᵒ 13.981/2020, publicada em 24/03/2020, estabeleceu em
seu parágrafo terceiro do artigo primeiro que “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per
capita seja inferior a 1/2 (meio) salário-mínimo” (BRASIL, 2020, s.p.).

Assim, existem requisitos objetivos e específicos para acesso a este


benefício assistencial, que podemos classificar como, primeiro, ser idoso ou
pessoa com deficiência, e segundo, integrar família com renda mensal por pessoa
inferior a metade do salário mínimo nacional vigente.

Não existe exigência de filiação ao Regime Geral de Previdência Social –


RGPS ou filiação. No entanto, na prática, é necessário que o cidadão que pleiteia
o benefício esteja inscrito junto à assistência social de seu município, bem como
junto ao Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico
–, e preencha um questionário de informações econômicas e sociais, a fim de que
o profissional assistente social possa direcionar para o pedido de benefício os
cidadãos que efetivamente necessitam.

Este benefício é geralmente deferido pelo período provisório de dois


anos, e dentro deste período é reavaliada a situação do beneficiário, a fim de
verificar se ainda necessita do auxílio, e a depender do resultado da avaliação,
renovar ou não. É importante entender que este benefício é considerado precário,
na medida que não é definitivo e nem forma direito adquirido. Não se pode, de
forma alguma, confundir com uma aposentadoria, muito embora em grande
parte dos casos este benefício seja deferido em favor de pessoas que, atingindo
a idade de 65 anos, não reúnam os requisitos necessários para a aposentadoria
por idade nem por tempo de contribuição, e, cumulativamente, apresentem os
requisitos necessários para o recebimento do BPC, anteriormente especificados.

Por fim, é essencial entender que o BPC não gera direito a pensão por
morte, de modo que este benefício se encerra na hipótese de falecimento do
beneficiário. Desta forma não pode ser transmitido para seus eventuais cônjuges
ou dependentes, ao contrário do que ocorre com as aposentadorias por idade ou
tempo de contribuição, que geram direito ao pedido de pensão por morte para o
cônjuge e/ou dependente.

74
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

E
IMPORTANT

Por meio dos links a seguir, é possível verificar diretamente no site do INSS
todas as orientações sobre o Benefício de Prestação Continuada – BPC. O INSS divide os
requisitos entre os idosos, no link: https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/
assistencia-social/beneficios-assistenciais-1/beneficio-assistencial-ao-idoso-e-a-pessoa-
com-deficiencia-bpc e as pessoas com deficiência no link: https://www.gov.br/pt-br/
servicos/solicitar-beneficio-assistencial-a-pessoa-com-deficiencia. Na data de acesso
a estes links (15 jul. 2020), ainda constava como renda per capta máxima ¼ do salário
mínimo nacional vigente, ainda não estando atualizado de acordo com a nova redação
dada pela recente Lei nᵒ 13.981/2020, publicada em 24/03/2020, que aumentou este valor
para ½ do salário mínimo nacional vigente.

4.2 ALUGUEL SOCIAL


O aluguel social, ao contrário do Benefício de Prestação Continuada
– BPC, anteriormente estudado, não consiste em um programa permanente e
de acesso mediante simples inscrição. Trata-se, em verdade, de um benefício
oferecido pelo governo federal, estadual, municipal e distrital, cada um com
suas diretrizes próprias.

O que existe em comum no aluguel social entre todos estes entes


executivos, é o fato deste benefício ser disponibilizado em favor de famílias que
cuja residência esteja localizada em área risco de desastre, tais como desabamentos
e deslizamentos, ou ainda, em favor de famílias que foram vítimas de desastres,
como rompimento de barragens, por exemplo. O valor do aluguel social e
variável de acordo com a política de cada ente, mas geralmente é estabelecido
em quinhentos reais por família, pelo período máximo de um ano, podendo ser
renovado ou não a depender de cada caso e de cada política estabelecida.

A legislação que dá sustento a este benefício, via de regra, não é


específica nem objetiva, sendo que a maioria das normas jurídicas editadas para
regulamentar o benefício (comumente por meio de atos emanados pelo poder
executivo, justamente pelo caráter de emergência e imediaticidade) utiliza como
base a Lei nᵒ 8.742/93.

75
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

4.3 BOLSA FAMÍLIA


O Programa Bolsa Família foi criado no governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, no ano de 2004, pela Lei nᵒ 10.836/2004, sendo,
posteriormente, regulamentada por meio do Decreto nᵒ 5.209/2004. A alteração
mais recente no programa se deu por meio do Decreto nᵒ 9.396/2018, no governo
Michel Temer, que modificou os valores de renda per capta e dos benefícios.
Este programa é considerado como a maior política de transferência de renda
do mundo, auxiliando, atualmente, em torno de 13,9 milhões de famílias em
todo o Brasil.

DICAS

Assista a este vídeo sobre o Bolsa Família, disponibilizado pelo Ministério da


Cidadania, referenciando o programa como o maior programa de transferência de renda do
mundo: https://www.youtube.com/watch?v=axeCV2rWIdA.

Segundo informações da Caixa Econômica Federal – CEF (on-line) –,


responsável por executar os pagamentos do Programa Bolsa Família, este:

É um programa de transferência direta de renda, direcionado às


famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o
País, de modo que consigam superar a situação de vulnerabilidade
e pobreza.
O programa busca garantir a essas famílias o direito à alimentação e o
acesso à educação e à saúde.
Em todo o Brasil, mais de 13,9 milhões de famílias são atendidas pelo
Bolsa Família. [...]
Quais os objetivos do programa
Combater a fome e promover a segurança alimentar e nutricional;
Combater a pobreza e outras formas de privação das famílias;
Promover o acesso à rede de serviços públicos, em especial, saúde,
educação, segurança alimentar e assistência social.

O Bolsa Família, a exemplo de outros benefícios inseridos no âmbito da


Assistência Social, é de natureza precária, ou seja, não é definitivo e não gera
direito adquirido, muito menos direito à percepção de pensão por morte, na
medida que não se constitui de benefício previdenciário, e sim assistencial dentro
da Seguridade Social.

Os benefícios atualmente concedidos por meio do programa são aqueles


previstos nos incisos do artigo 19 do Decreto nᵒ 5.209/2004, conforme tabela abaixo:

76
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

QUADRO 1 – BENEFÍCIOS NO ÂMBITO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Benefício Valor
Benefício básico, destinado às unidades
familiares que se encontrem em situação de R$ 89,00 por família.
extrema pobreza (inciso I do art. 19).
Benefício variável, destinado às unidades
familiares que se encontrem em situação de
pobreza ou de extrema pobreza e que tenham R$ 41,00 por beneficiário, até o limite de R$
em sua composição gestantes, nutrizes, crianças 205,00 por família.
entre zero e doze anos, ou adolescentes até 15
anos (inciso II do art. 19).
Benefício variável, vinculado ao adolescente,
destinado às unidades familiares que se
encontrem em situação de pobreza ou de extrema
R$ 48,00 por beneficiário, até o limite de R$ 96,00
pobreza e que tenham em sua composição
por família.
adolescentes com idade de dezesseis a dezessete
anos matriculados em estabelecimentos de
ensino (inciso III do art. 19).
Benefício variável de caráter extraordinário:
constitui-se de parcela do valor dos benefícios
das famílias remanescentes dos Programas Bolsa
Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação Valor variável que segue critérios específicos e
e Auxílio Gás que, na data da sua incorporação únicos para cada família.
ao Programa Bolsa Família, exceda o limite
máximo fixado para o Programa Bolsa Família
(inciso IV do art. 19).
Benefício para superação da extrema pobreza,
O valor do benefício para superação da extrema
cujo valor será calculado no limite de um
pobreza será o resultado da diferença entre R$
por família, destinado às unidades familiares
89,01 (oitenta e nove reais e um centavo) e a
beneficiárias do Programa Bolsa Família cuja
soma per capita referida no inciso V do caput,
soma da renda familiar mensal e dos benefícios
multiplicado pela quantidade de membros da
financeiros previstos no inciso I ao inciso III igual
família, arredondado ao múltiplo de R$ 2,00
ou inferior a R$ 89,00 (oitenta e nove reais) per
(dois reais) imediatamente superior.
capita (inciso V do art. 19).

FONTE: Os autores

O encaminhamento para cadastro e recebimento do Programa Bolsa


Família geralmente é realizado por meio de um Centro de Referência de
Assistência Social – CRAS –, de gestão do poder executivo municipal. É por meio
do CRAS que são realizadas as entrevistas e estudos sociais a fim de verificar se a
família é apta ou não ao recebimento do benefício.

O agente executor do Programa é a Caixa Econômica Federal – CEF –,


que é responsável pela aprovação ou não do benefício, sua renovação, e seu
pagamento. A concessão dos benefícios do Programa Bolsa Família tem caráter
temporário e não gera direito adquirido, devendo a elegibilidade das famílias,
para recebimento de tais benefícios, ser obrigatoriamente revista a cada período
de dois anos (BRASIL, 2004a).

77
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Uma das principais preocupações no programa em relação às famílias é a


frequência escolar das crianças e adolescentes, de modo que uma das inúmeras
regras para a continuidade do recebimento do benefício mensalmente é a
comprovação de frequência escolar de crianças e adolescentes entre seis e quinze
anos, que deve ser de, no mínimo, oitenta e cinco por cento.

DICAS

Conheça todas as regras de funcionamento do Programa Bolsa Família no site


da Caixa Econômica Federal acessando: http://www.caixa.gov.br/programas-sociais/bolsa-
familia/Paginas/default.aspx.

4.4 PENSÃO ESPECIAL AO PORTADORES DA SÍNDROME


DA TALIDOMIDA
A talidomida é um medicamento que originalmente foi fabricada na
Alemanha pelo laboratório Chemie Grünenthal, no ano de 1957, indicado como
antibiótico. A talidomida serviu de base para fabricação do medicamento
Contergan, a primeira marca do fármaco lançada no mercado. Rapidamente se
transformou em um dos medicamentos líderes de vendas, sobretudo na Europa.

Em pouco tempo foram verificadas propriedades anti-inflamatórias,


sedativas, hipnóticas e no auxílio ao enjoo, o que popularizou rapidamente o
fármaco entre gestantes na década de cinquenta e início da década de sessenta,
pois "não provocava efeitos colaterais nem se ingerido em doses excessivas" e
combateria os famosos enjoos da gravidez.

O que veio a ser descoberto posteriormente causou grande comoção social:


o uso da talidomida por gestantes causou a má-formação dos bebês, notadamente
a ausência, distorção ou encurtamento dos braços e pernas. Inúmeras crianças
nasceram sem os membros inferiores e superiores ou com grandes más-formações.

78
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

FIGURA 2 – NOTÍCIA SOBRE A SÍNDROME DA TALIDOMIDA VEICULADA

FONTE: <http://157.86.193.160/wp-content/uploads/2017/11/talidomida_1962_folha.jpg>.
Acesso em: 16 jul. 2020.

Estima-se que a talidomida foi amplamente utilizada por gestantes em


mais de quarenta e seis países do mundo. Curiosamente, a comercialização
da talidomida nunca foi autorizada nos Estados Unidos, uma vez que um
farmacologista chamado Frances Oldham Kelsey, responsável à época pela
Food and Drug Administration – FDA –, correspondente ao que hoje no Brasil é
a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, com base em estudos
clínicos apresentados pela própria indústria produtora da droga, recomendou a
sua não comercialização no país.

A talidomida chegou a ser proibida no Brasil e em inúmeros países, mas


atualmente é utilizada no tratamento de certos tipos de câncer, como o de medula,
hanseníase, lúpus, no alívio de sintomas do HIV, artrite reumatoide e outras
condições de saúde, sendo proibida sua utilização por gestantes ou pessoas com
risco de gravidez.

Por meio da edição da Lei nᵒ 7.070/1982, assinada por João Figueiredo,


ficou garantida às pessoas com síndrome da talidomida, uma pensão mensal,
vitalícia e intransferível, atualmente paga por meio do INSS.

O valor desta pensão é calculado em função de pontos indicadores da


natureza e grau de dependência resultantes da síndrome, critérios estes avaliados
em perícia realizada no âmbito do próprio INSS. A pensão tem garantia de reajuste
anual nos mesmos índices de outros benefícios no âmbito do INSS.

79
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

No ano de 2010 foi assinada pelo então presidente Luiz Inácio Lula
da Silva a Lei nᵒ 12.190/2010, que garante ao titular da pensão mensal, uma
indenização por dano moral, que é paga pelo governo em uma parcela única e
deve ser requerida de forma administrativa, diretamente no INSS. O valor desta
indenização é de cinquenta mil reais, valor multiplicado pelos pontos indicadores
da natureza e grau de dependência na forma acima descrita.

Para acessar tanto a pensão mensal como a indenização por danos morais,
a pessoa com síndrome da talidomida deve submeter-se à perícia médica do
INSS, verificando-se que a condição física se deve ao uso da talidomida, bem
como, deve ter nascido a partir de 01/03/1958, data de início da comercialização
do medicamento no país.

Em 2018, o então presidente Michel Temer assinou a Lei nᵒ 13.638/2018,


que fixou que o valor da pensão mensal para pessoas com síndrome da
talidomida passaria a ser o resultado da multiplicação do valor de mil reais pelos
pontos indicadores da natureza e grau de dependência resultantes da síndrome,
avaliados por médico perito do INSS.

É muito importante entender que muito embora a avaliação da síndrome,


e a execução do pagamento tanto da pensão mensal vitalícia como da indenização
por danos moral administrativa ocorram no âmbito do INSS, não se trata de
um benefício previdenciário, mas sim assistencial, na medida que independe de
regime de filiação, qualidade de filiado ou contraprestação pecuniária por parte
do beneficiário, bastando que sejam comprovados os requisitos acima elencados,
relacionados à síndrome e à data de nascimento.

DICAS

Nesta página do INSS você encontra todas as instruções de como obter a


pensão especial da síndrome da talidomida: https://www.gov.br/pt-br/servicos/solicitar-
pensao-especial-da-sindrome-da-talidomida.

4.5 SEGURO-DESEMPREGO
O seguro-desemprego é um benefício assistencial pecuniário devido
ao trabalhador desempregado por um período pré-determinado. Consiste no
pagamento de três até cinco parcelas, que podem ser de forma contínua ou
alternada, dependendo do tempo pelo qual o beneficiário trabalhou antes da
demissão. Para Leitão (2018, p. 742):

80
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

O seguro-desemprego é um benefício integrante da seguridade


social que tem por objetivo, além de prover assistência financeira
temporária ao trabalhador desempregado sem justa causa, auxiliá-lo
na manutenção e na busca de emprego, promovendo, para tanto, ações
integradas de orientação, recolocação e qualificação profissional.

A solicitação e avaliação do benefício deve ser realizada pelo interessado


junto a uma das Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego – SRTE,
Sistema Nacional de Emprego – SINE ou junto a órgãos credenciados Ministério do
Trabalho, dependendo da sua região. A maioria das regiões possui um a agência do
SINE, sendo este o local mais comum para a solicitação do seguro-desemprego.

Inicialmente, qualquer um destes órgãos acima listados vai tentar


a recolocação do interessado no mercado de trabalho, direcionando-o para
vagas compatíveis com a sua experiência profissional. Caso não seja possível
o redirecionamento do interessado para o mercado de trabalho, serão então
concedidas, de acordo com os critérios estabelecidos, as parcelas de seguro-
desemprego. A execução do pagamento destas parcelas ocorre por meio da
Caixa Econômica Federal – CEF.

Para ter acesso ao benefício o interessado precisa ter sido dispensado


do seu trabalho sem justa causa, continuar desempregado quando requerer o
benefício e não receber qualquer benefício previdenciário (exceto auxílio acidente
e pensão por morte) ou Benefício de Prestação Continuada – BPC.

Também é necessário para solicitar o seguro-desemprego ter recebido


salários de pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada, relativos: na 1ª
solicitação: pelo menos doze meses nos últimos dezoito meses imediatamente
anteriores à data de dispensa, quando da primeira solicitação; na 2ª solicitação:
pelo menos nove meses nos últimos doze meses imediatamente anteriores à
data de dispensa, quando da segunda solicitação; e na 3ª solicitação: cada um
dos seis meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando das demais
solicitações.​

O valor do seguro-desemprego é calculado utilizando-se a média dos


últimos três salários anteriores à demissão. Já para o empregado doméstico,
trabalhador resgatado e pescador artesanal – categorias estas que possuem
requisitos específicos para concessão do benefício, o valor será sempre de
um salário mínimo. A Lei nᵒ 13.134/2015 estabelece os critérios objetivos que
determinam a quantidade de parcelas a que tem direito o interessado, sendo:

§ 2ᵒ A determinação do período máximo mencionado no caput


observará a seguinte relação entre o número de parcelas mensais do
benefício do seguro-desemprego e o tempo de serviço do trabalhador
nos 36 (trinta e seis) meses que antecederem a data de dispensa que
originou o requerimento do seguro-desemprego, vedado o cômputo de
vínculos empregatícios utilizados em períodos aquisitivos anteriores:

81
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

I- para a primeira solicitação:


a) 4 (quatro) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício
com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo,
12 (doze) meses e, no máximo, 23 (vinte e três) meses, no período de
referência; ou
b) 5 (cinco) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício
com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo,
24 (vinte e quatro) meses, no período de referência;
II- para a segunda solicitação:
a) 3 (três) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício
com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no
mínimo, 9 (nove) meses e, no máximo, 11 (onze) meses, no período
de referência;
b) 4 (quatro) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício
com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo,
12 (doze) meses e, no máximo, 23 (vinte e três) meses, no período de
referência; ou
c) 5 (cinco) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício
com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo,
24 (vinte e quatro) meses, no período de referência;
III- a partir da terceira solicitação:
a) 3 (três) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício
com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo,
6 (seis) meses e, no máximo, 11 (onze) meses, no período de referência;
b) 4 (quatro) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício
com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo,
12 (doze) meses e, no máximo, 23 (vinte e três) meses, no período de
referência; ou
c) 5 (cinco) parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício
com pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada de, no mínimo, 24
(vinte e quatro) meses, no período de referência (BRASIL, 2015, s. p.).

DICAS

Você pode verificar todos os requisitos, documentos, prazos e formas de


acesso ao seguro-desemprego na página da Caixa Econômica Federal – CEF, acessando:
http://www.caixa.gov.br/beneficios-trabalhador/seguro-desemprego/Paginas/default.aspx.
Consulte todos os campos, e repare que existem requisitos e regras específicas para os
pescadores artesanais, empregados domésticos e trabalhadores resgatados à situação
análoga à escravidão.

82
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

COMO FUNCIONAM PROGRAMAS NOS MOLDES DO 'BOLSA FAMÍLIA'


NAS 10 MAIORES ECONOMIAS DO MUNDO

A pobreza não é uma questão que preocupa apenas os países menos


desenvolvidos. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), as nações ricas que integram o grupo gastam, em média,
1,6% do PIB em prestações de assistência social condicionadas a um limite de
renda dos beneficiários, como é o caso do Bolsa Família. São recursos transferidos
em dinheiro para ajudar na subsistência e lutar contra a pobreza. O número exclui
gastos sociais com Previdência, saúde e seguro-desemprego.

No Brasil, as despesas com o Bolsa Família, programa que beneficiou 14


milhões de famílias em novembro, representam cerca de 0,5% do PIB. Neste ano,
os pagamentos do Bolsa Família devem atingir R$ 30 bilhões.

O benefício médio recebido pelo programa é de R$ 187 (quase US$ 50),


após reajuste de 5,7% que entrou em vigor em julho. O valor recebido pelos
beneficiários varia conforme o número de membros da família, a idade de cada
um e a renda.

Entre as 10 maiores economias do mundo – que incluem desde países com


elevados níveis de bem-estar social, como a França e a Alemanha, aos com altos
índices de pobreza, como a Índia –, os programas de transferência de renda estão
presentes, ainda que com diferentes formulações.

Na França – que vive uma onda de violentos protestos motivados pelos


efeitos da alta carga tributária e do baixo poder de compra de boa parte da
população –, os programas de transferência de renda são ainda mais amplos
do que a média dos países ricos e atingem 2,1% do PIB, totalizando mais de 45
bilhões de euros (cerca de R$ 200 bilhões).

Além de garantir recursos para despesas do dia a dia, a França, que possui
uma ampla rede de proteção social, tem também programas de ajuda para pagar
o aluguel e contas de luz ou gás e para a compra de material escolar, entre outros.

De acordo com Maxime Ladaique, diretor de recursos estatísticos da


divisão de políticas sociais da OCDE, os gastos dos países ricos com programas
de transferência de renda se mantêm, em geral, estáveis nos últimos anos.

"Logo após a crise financeira de 2008, as prestações sociais aumentaram,


enquanto o PIB caiu. Os países pagaram mais para amortecer os efeitos da
deterioração da economia", diz o especialista.

83
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

"Desde então, elas vêm sendo levemente reduzidas, mas o PIB dos países
cresceu", afirma Ladaique, acrescentando que, na prática, a relação desses gastos
em relação ao PIB tem se mantido estável.

Pode mudar no Brasil? O presidente eleito Jair Bolsonaro, antes crítico do


Bolsa Família, declarou que vai ampliar o programa e aperfeiçoar o combate a
fraudes. Além de um 13° 'salário' para os beneficiários, o programa de governo de
Bolsonaro prevê instituir um sistema de "renda mínima para todas as famílias", ou
seja, não apenas as mais pobres, com valor igual ou superior ao que é atualmente
pago. O programa do presidente eleito não detalha, no entanto, como seriam
obtidos os recursos para financiar a medida e se, de fato, ela será adotada.

Pedaço pequeno dos gastos sociais – Na avaliação de Ladaique, os


programas de transferência de renda dos países ricos têm algo em comum: eles
representam apenas uma pequena parte do total de gastos sociais, que incluem
despesas bem mais elevadas como as da Previdência e saúde. "As despesas com
pessoas de baixa renda são pouco significativas em relação a todos os gastos
sociais", diz ele.

Basta olhar para os números gerais: os países ricos da OCDE gastam, em


média, 21% do PIB (Produto Interno Bruto) na área social. O percentual engloba
os recursos usados na Previdência, na saúde pública, com seguro-desemprego e
assistência social às famílias, que em vários casos inclui programas de distribuição
de renda. Na França, os gastos na área são ainda maiores: 31% do PIB.

No Brasil, os gastos sociais do governo federal atingem cerca de 17,5%


do PIB, incluindo despesas com Previdência, saúde, assistência social, educação,
trabalho, saneamento básico e habitação. O percentual é mais elevado do que em
outros países da América Latina e da Ásia.

Em boa parte dos países ricos, no entanto, os programas de transferência


de renda não permitem que os beneficiários vivam acima da linha da pobreza
(que leva em conta o nível de vida no país), ressalta Ladaique, da Ocde.

Conheça detalhes sobre cada um deles (com exceção do Brasil, que ocupa
a nona posição no ranking do FMI) a seguir:

Estados Unidos: auxílio para alimentação


O principal programa social dos Estados Unidos é o SNAP (Programa
de Assistência Nutricional Suplementar), que ajuda pessoas de baixa renda a
comprarem comida. É um programa federal, executado por agências locais, que
beneficia mais de 20 milhões de lares. O valor médio pago por mês em 2018 para
cada beneficiário é US$ 125 e, para cada lar, US$ 252. Os valores se mantiveram
estáveis nos últimos quatro anos. O benefício custará quase US$ 56 bilhões neste
ano. O SNAP é concedido aos lares com recursos e ativos de até U$ 2,2 mil. O
governo do presidente Donald Trump propôs mudanças na legislação, passando
a exigir que pessoas com até 60 anos trabalhem para ter direito ao benefício,
comumente chamado de "selos de comida". No caso de desempregados, também
há programas de seguro-desemprego, operados por cada um dos Estados.

84
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

Por conta do impasse político criado com a proposta de mudança do


SNAP, o Congresso americano ainda não aprovou a nova lei agrícola (Farm Bill),
que financia o setor e o programa de nutrição. Parte da lei expirou no final de
setembro e o restante irá expirar em 31 de dezembro. A imprensa americana
estima que pelo menos 2 milhões de pessoas poderão ter o benefício do SNAP
cortado ou reduzido caso a proposta de Trump seja aprovada.

O programa Renda de Segurança Suplementar – Supplemental Security


Income (SSI) – paga benefícios a adultos e crianças com deficiência ou pessoas
acima de 65 anos com poucos recursos (ativos de até US$ 2 mil para um solteiro
ou US$ 3 mil para um casal, considerando conta bancária, poupança, carro etc.).
No ano passado, o valor da ajuda mensal era de US$ 735 para um solteiro e de
US$ 1,1 mil para um casal.

Há outros programas nos Estados Unidos, como a assistência temporária


em dinheiro para famílias pobres e sem emprego (Temporary Assistance for Needy
Families – TANF), com critérios e benefícios definidos pelos Estados. Alguns Estados
exigem, para conceder o benefício, renda equivalente a menos de 50% da linha da
pobreza, enquanto outros aceitam valores acima disso. Há uma contrapartida de
horas de trabalho mensais, que podem ser serviços à comunidade, formações, ou
empregos subsidiados no setor público e privado.

China: mudanças desde 1990


O país implementou 12 programas de assistência social. Alguns foram
criados há várias décadas, mas eles ganharam força após uma reforma da
assistência social no início dos anos 90, que passou a incluir nos programas de
transferência de renda pessoas aptas ao trabalho. Um deles, com versões urbana
("Urban Dibao"), e rural ("Rural Dibao"), garante recursos mínimos de subsistência
às famílias de baixa renda, independentemente da capacidade para trabalhar. O
sistema beneficia todos os lares do país que vivem abaixo da linha da pobreza.
Shangai, a cidade mais desenvolvida do país, foi a primeira a implementar, em
1993, o Dibao urbano nos novos moldes que beneficiam a todos.

O programa Dibao é nacional, mas em razão das disparidades entre


áreas urbanas e rurais e entre províncias do país, os governos locais definem os
padrões de ajuda, ou seja, os benefícios variam de uma região para outra, mas
são normalmente calculados em função da linha da pobreza na localidade. Em
Pequim, por exemplo, a linha da pobreza é de 900 yuans por mês (R$ 500). Se uma
pessoa ganhar apenas 700 yuans (R$ 385), o governo completa os 200 yuans que
faltam para atingir a renda mínima de subsistência.

Na média, o "Urban Dibao" equivale a um quinto ou um sexto da renda


per capita das cidades. Em Pequim, a renda média per capita é de 5,3 mil yuans
(R$ 2,9 mil). Nas áreas rurais, a linha de pobreza média do Dibao é de 312 yuans
(R$ 172), mais do que o dobro do valor em 2010, segundo a ONU. Há um outro
programa nas áreas rurais, o "Wubao", que fornece alimentação, roupas e cuidados
médicos, além de ajuda financeira para moradia e até para enterros. A partir dos
anos 2000, a China reforçou novamente seus programas sociais, com assistência
educacional para beneficiários do Dibao, além de subsídios para moradia.

85
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Japão: ajuda para gastos médicos e material escolar


O Japão possui um programa de auxílio de subsistência, o Seikatsu Hogo.
O valor do benefício resulta de um cálculo complexo em função do custo de vida
básico necessário da família, conforme a idade e o número de integrantes do lar
e também da região. Um lar em Tóquio com um adulto e uma criança em idade
escolar, por exemplo, recebe por mês cerca de 125 mil ienes – US$ 1,1 mil (R$ 4,2
mil) e tem direito a auxílio moradia de 64 mil ienes (US$ 565 – R$ 2,2 mil).

O governo japonês prevê ainda ajuda financeira para gastos médicos,


serviços para idosos e compra de material escolar, entre outros. Além disso, os
municípios do país ainda oferecem um auxílio por criança a famílias de baixa
renda, o Jido teate, que pagar cerca de 15 mil ienes por criança (R$ 520) por mês.
No Japão, as despesas sociais representam cerca de 23% do PIB, abaixo de países
como a França e a Alemanha, mas acima dos Estados Unidos.

Alemanha: apoio até para o aluguel


A assistência social na Alemanha cobre despesas básicas, com garantia
de recursos mínimos para pessoas de baixa renda ou incapacitadas de trabalhar.
Neste ano, o montante "da assistência para necessidades básicas" é de 416 euros
mensais (cerca de R$ 1,7 mil) para uma pessoa solteira e de 748 euros para um casal
(R$ 3,1 mil). Há um suplemento para crianças em função da idade, que vai de 240 a
316 euros (de R$ 1 mil a R$ 1,3 mil). Há ainda ajudas financeiras para necessidades
suplementares, como mães ou pais solteiros, situações especiais como roupas de
gravidez e de bebê, ou ainda para a educação de crianças e adolescentes, que
incluem, por exemplo, recursos para material didático e excursões escolares.
Também há auxílio para pagar o aluguel, se ele for considerado "razoável". Isso
significa um montante de cerca de 450 euros (quase R$ 2 mil) no caso de um
apartamento para duas pessoas em Berlim, uma das cidades mais baratas da
Europa ocidental.

Reino Unido: apoio será ampliado


O país está implementando o sistema do Crédito Universal, um
pagamento mensal para famílias de baixa renda. Ele deverá ser ampliado para
todo o país até 2019 e substituirá outros benefícios, como o complemento de renda
(Income Support) e auxílio-moradia. O Crédito Universal pode ser solicitado por
trabalhadores, autônomos e desempregados. O montante depende da situação
(ganhos, filhos, eventual deficiência, ajuda para pagar aluguel) e do local onde a
pessoa vive. Ele não é válido para quem não é cidadão britânico ou irlandês. Um
casal acima de 25 anos recebe 499 libras (US$ 640) por mês. Outros fatores podem
ser acrescentados à ajuda básica, como 277 libras (US$ 355) por mês no caso do
primeiro filho e 232 libras para o segundo filho e subsequentes.

França: ajuda nas contas de luz e gás


O sistema de proteção social francês é um dos mais generosos do mundo.
O país garante, por exemplo, uma renda mínima para pessoas com mais de
25 anos sem atividade profissional e que não tenham mais direito ao seguro-
desemprego (que pode durar até dois anos). Jovens a partir de 18 também têm
direito ao chamado Revenu de solidarité Active (RSA) caso tenham filhos. O valor

86
TÓPICO 1 — DA SEGURIDADE SOCIAL

do RSA para uma pessoa que não receba auxílio-moradia complementar é de


550 euros (R$ 2,3 mil) mensais. Um casal com um filho recebe quase 1 mil euros
(R$ 4,3 mil). Além de uma ajuda financeira para o aluguel, há inúmeras outras
alocações, como a destinada a despesas com crianças de menos de três anos, para
a compra de material escolar ou ainda o "cheque energia" para pessoas de baixa
renda, soma anual que varia de 28 a 247 euros (R$ 120 a pouco mais de R$ 1 mil)
para ajudar a pagar contas de luz ou gás.

Índia: queda grande na taxa de pobreza


A Índia lançou em 2013 um plano experimental de pagamento em
dinheiro aos mais pobres, nos moldes do Bolsa Família brasileiro. O governo
estuda atualmente modalidades para estender o programa, batizado de "seu
dinheiro em suas mãos". Há dois anos, técnicos da Índia visitaram o Brasil para
aprofundar conhecimentos em relação ao Bolsa Família. Há diversos programas
de bem-estar social no país, relacionados principalmente a bolsas de estudo. O
país fornece auxílio para a compra de alimentos (5 kg de grãos por pessoa por
mês), subsídio para o gás de cozinha e alocações financeiras para atender às
necessidades básicas de famílias. A taxa de pobreza na Índia caiu de 55% para
28% no período de dez anos (até 2016), segundo o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (Pnud).

Itália: complemento aos baixos salários


A Itália ainda não possui um regime nacional de apoio financeiro à
população de baixa renda. Até o momento, o único benefício social nacional,
o Assegno Social, é pago àqueles com mais de 66 anos em situação de
vulnerabilidade. Em seu projeto de orçamento para 2019 – fortemente criticado
pela União Europeia por prever o agravamento do déficit público, que se situaria
em 2,4% do PIB –, o governo italiano prevê o aumento dos gastos públicos para
permitir a criação da chamada "renda de cidadania", medida defendida pelo
Movimento 5 Estrelas e que garantiria a qualquer pessoa maior de idade uma
renda mínima de 780 euros (R$ 3,3 mil). Na prática, se a pessoa trabalhar e tiver
um salário de 400 euros, ela receberá o complemento, 380 euros. Também existem
na Itália programas administrados por regiões e cidades que concedem recursos
em função da renda e que variam de acordo com a localidade.

Canadá: governo limita iniciativas


No Canadá, os programas de assistência social são administrados
pelas províncias e territórios, que fixam suas próprias regras e montantes dos
pagamentos. Em Ontário, uma pessoa sem filhos pode receber, entre a ajuda
financeira de subsistência e o auxílio moradia máximo, até cerca de R$ 2 mil. No
caso de um casal com dois filhos, a soma pode atingir R$ 3,3 mil. A província
de Ontário havia lançado no ano passado um projeto piloto de renda básica
universal (uma verba mensal garantida tanto para desempregados quanto para
trabalhadores), com 4 mil pessoas inscritas. Ele deveria durar três anos, mas em
julho o governo da província anunciou o encerramento progressivo do projeto,
alegando que a iniciativa custa caro e não é viável a longo prazo. Uma pessoa
solteira poderia receber até 17 mil dólares canadenses (R$ 50 mil) por ano.

87
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Coreia do Sul: programas 'sob medida'


Após a crise de 1997, o governo sul-coreano ampliou, em 2000, as
condições para ter acesso ao chamado programa de proteção nacional de
subsistência básica, permitindo que pessoas na faixa de renda baixa pudessem
receber os recursos. Antes, eles eram destinados apenas a pessoas incapacitadas
de trabalhar por motivo de deficiência ou idade. O programa foi reforçado em
2015, com ajudas "sob medida" relacionadas ao custo de vida, serviços médicos,
moradia e educação, baseada nas necessidades dos beneficiários. O benefício
corresponde a 30% da renda média, fixada anualmente pelo ministério da Saúde
e do Bem-Estar Social. A renda média é de 2,8 milhões de wons (US$ 2,5 mil)
para um lar com duas pessoas e a alocação de subsistência é de US$ 740. A ajuda
escolar (inscrições, compra de material, entre outros) para estudantes do ensino
fundamental e médio vai de US$ 37 a US$ 48.

FONTE: BBC New Brasil – Daniela Fernandes. Disponível em: <https://www.bbc.com/


portuguese/internacional-45897725> Acesso em 17 jul. 2020.

88
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O tripé da seguridade social é formado por saúde, assistência social e


previdência social.

• Enquanto a previdência social depende de regime de filiação e contribuição, a


saúde e a assistência social independem disto, estando à disposição daqueles
que mais necessitam, independentemente de qualquer contraprestação
pecuniária ou regime de filiação.

• Existem critérios e requisitos objetivos e específicos para acesso aos


programas de assistência social. Assim, muito embora não seja necessária
a contraprestação pecuniária ou regime de filiação, é necessário que o
interessado apresente determinadas condições de acesso aos programas.

• A seguridade social, por meio da assistência social, disponibiliza diversos


benefícios próprios para quem necessita, a fim de possibilitar condições
mínimas de dignidade e de igualdade.

• Os programas sociais no âmbito da assistência social podem ser criados e


executados tanto pela esfera federal, quando estadual, municipal e distrital, de
forma paralela ou não.

• O Bolsa Família se consolidou, reconhecidamente, como o maior programa de


transferência de renda do mundo.

89
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com nossos estudos até aqui, sabemos que a Seguridade Social
é composta por três componentes, um aspecto tríplice, também chamado
de Tripé da Seguridade Social, que são a Assistência Social, a Previdência
Social e a Saúde. Cada tripé da seguridade do social possui diferentes regras
sobre aqueles que podem acessar seus benefícios. Assinale a alternativa
CORRETA com relação a estas regras:

a) ( ) A saúde está disponível para todos, por outro lado, a assistência social
exige a filiação do cidadão para que acesse aos benefícios.
b) ( ) A assistência social, assim como a saúde, está disponível para todos
aqueles que necessitarem dela e buscarem pelo atendimento, menos os
estrangeiros.
c) ( ) A Previdência Social integra um sistema contributivo e de filiação, ao
contrário do que ocorre com a Assistência Social e com a Saúde.
d) ( ) A previdência social depende de contribuição ou filiação para que seja
acessado pelo cidadão brasileiro, assim como a assistência social.

2 Com base em nossos estudos, analise as sentenças a seguir sobre os


benefícios em sede de assistência no âmbito da seguridade social:

I- O aluguel social não consiste em programa permanente e de acesso a


benefício da seguridade social, possui diretrizes próprias de acordo com as
diretrizes de cada ente do governo federal, estadual, municipal e distrital.
II- O trabalhador em situação de desemprego involuntário tem direito
ao benefício assistencial pecuniário, ainda que a concessão do seguro-
desemprego fique a cargo do Ministério do Trabalho e Emprego.
III- O benefício de prestação continuada constitui espécie de prestação da
Assistência Social e garante 01 (um) salário mínimo mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família,
desde que não recebam qualquer outro benefício da Seguridade Social ou
outro Regime.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença II está correta
b) ( ) Somente a sentença I está correta
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

3 Criado pela Lei n° 10.836/04, o Bolsa Família se consolidou como o maior


programa de transferência de renda do mundo. Com base em seus estudos,
descreva em que consistiu este programa.

90
4 Um importante benefício assistencial que poucas pessoas conhecem é a
pensão especial para pessoas com síndrome da talidomida, instituída pela
Lei nᵒ 7.070/1982, assinada pelo então presidente João Figueiredo. Explique
com suas palavras do que se trata este benefício.

5 Com objetivo de amparar a população mais vulnerável, o Brasil possui


diversos programas sociais, que se estruturam por demandas e finalidades
específicas, buscando alcançar condições mais dignas e humanas aos
brasileiros frente a situações de risco social. Com relação aos programas
sociais no âmbito da assistência social, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os programas sociais no âmbito da assistência social podem ser criados


e executados pela esfera estadual, municipal e distrital, de forma
paralela ou não.
b) ( ) Os programas sociais no âmbito da assistência social podem ser criados
e executados tanto pela esfera federal, quando estadual, municipal e distrital,
de forma paralela ou não.
c) ( ) Os programas sociais no âmbito da assistência social são criados pela
esfera federal e executados pelos municípios e distritos.
d) ( ) Os programas sociais no âmbito da assistência social são criados e
executados tanto pela esfera federal.

91
92
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Neste tópico, nós vamos estudar os princípios
constitucionais da Seguridade Social.

Estudar os princípios é compreender as proposições e ideias básicas que


servem como fundamento de alicerce para a Seguridade Social. A Constituição
Federal de 1988 estabeleceu no artigo 194 os objetivos da seguridade que devem
orientar e condicionar seu sentido e compreensão, na aplicação e integração das
regras, assim como na elaboração de normas jurídicas.

Iremos ver que estes princípios são, em uma primeira análise, classificados
em duas categorias distintas: os princípios constitucionais gerais da Seguridade
Social, que são aqueles previstos em diversos trechos da Constituição Federal
e se aplicam à Seguridade Social; e os princípios constitucionais específicos
da Seguridade Social, que são aqueles previstos de forma expressa no texto
constitucional em relação especificamente à Seguridade Social e suas espécies:
Saúde, Assistência Social e Previdência Social. Estes últimos são, portanto,
princípios próprios, exclusivos e específicos da Seguridade Social.

Vamos compreender, por meio do estudo destes princípios, que a


Seguridade Social é guiada por toda a sociedade e pelo Estado por meio de
mecanismos e órgãos específicos. Também vamos verificar que é necessário manter
o equilíbrio financeiro da Seguridade Social, por meio de alguns dispositivos e
princípios, e que a Constituição buscou resgatar a isonomia entre os trabalhadores
urbanos e rurais em relação ao acesso à Seguridade Social.

Você está pronto para iniciar mais esta etapa de nossos estudos? Vamos lá!

2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS DA


SEGURIDADE SOCIAL
Quando falamos sobre princípios constitucionais da Seguridade Social,
estamos falando de princípios que têm aplicabilidade sobre a Previdência Social,
a Assistência Social e a Saúde, pois voltamos a falar do gênero Seguridade Social,
que abarca todas estas três espécies.

93
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Em sede de princípios constitucionais de Seguridade Social, temos a


nossa disposição comandos que norteiam a interpretação das normas jurídicas
desta seara, bem como o planejamento, implementação, execução e fiscalização
de suas políticas e ações. Estes princípios não formam nem a base, nem o topo
no contexto da hierarquia das normas de Seguridade Social. Ao contrário disso:
estão acima ou “de fora” desta hierarquia, servindo como bússola que revela a
direção a seguir na construção da Seguridade Social e na eventual solução de
conflitos deste âmbito.

Nas palavras de Bradbury (2020, p. 40), apesar de não serem princípios


específicos “por não estarem expressos nos artigos 194 a 204 da CF/1988, possuem
extrema importância, pois são estruturantes da própria Seguridade Social e do
sistema previdenciário”.

Neste sentido, existem princípios constitucionais gerais da Seguridade


Social, que são aqueles que não estão necessariamente expressos de forma
inequívoca no capítulo da Seguridade Social na carta magna – no caso, estamos
falando do Capítulo II – Da Seguridade Social – mas que estão previstos em
outras partes da nossa Constituição e são perfeitamente aplicáveis, mesmo assim,
à Seguridade Social. Abordaremos nesta parte de nossos estudos os seguintes
princípios constitucionais gerais da Seguridade Social:

• Princípio da solidariedade;
• Princípio do contraditório;
• Princípio da inafastabilidade da jurisdição;
• Princípio da dignidade da pessoa humana.

Lembre-se de que todos estes princípios, por serem gerais e não


específicos, podem ser aplicáveis – ou não – a diversos ramos do direito. Ou seja,
aqui, estamos discutindo a sua aplicabilidade e efeitos exclusivamente no âmbito
da Seguridade Social, o que, repita-se, contempla a Saúde, a Previdência Social e
a Assistência Social.

2.1 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE


Para Bradbury (2020, p. 41) o princípio da solidariedade se encontra com a
Seguridade Social “no sentido de construir uma sociedade livre, justa e solidária,
sendo, desta forma, uma norma pragmática, mas que possui força normativa”.

Este princípio está previsto no art. 3ᵒ, inciso I, da Constituição Federal:


quando determina que “constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária” (BRASIL,
1988, s.p.).

Kertzman (2012, p. 53) contribui com o entendimento deste princípio


afirmando que:

94
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

O Princípio da Solidariedade pode ser analisado sob duas óticas: a)


Horizontal, que significa a redistribuição de renda entre as populações
(pacto intrageracional); b) Vertical, que representa a necessidade de
que uma geração trabalhe para pagar os benefícios das gerações
passadas (pacto intergeracional).

Também é seguro afirmar que o princípio da solidariedade impõe o


financiamento da Seguridade Social, para além do que foi dito, também por
toda a sociedade, de forma solidária no sentido mais amplo do termo. Este
princípio tem, assim, uma natureza compulsória, de pacto entre toda a sociedade
e o Estado, não havendo espaço para discutir a contribuição individual e a
contribuição coletiva, ou mesmo a relação disto com as vantagens que cada um
obterá ou não individualmente.

Pelo contrário, o princípio da solidariedade impõe-se de modo a


determinar que todos devem agir em prol do bem comum e do alcance do bem-
estar social de todos e para todos. Toda a sociedade é responsável, solidariamente,
por manter aqueles que mais necessitam em condições de igualdade. Podemos
citar o exemplo da pessoa com deficiência que, atingindo a idade de sessenta e
cinco anos, e sem ter tido a possibilidade de contribuir para a Previdência Social,
não reúne as condições necessárias para aposentar-se nem por idade, nem por
tempo de contribuição.

Neste caso, pela aplicação do princípio da solidariedade, todo o Estado


e toda a sociedade, por meio de cada cidadão e de todos, irá contribuir para que
este indivíduo, em situação de altíssima vulnerabilidade social, seja mantido pela
Seguridade Social por meio da Assistência Social, onde, independentemente de
ter este vertido ou não contribuições e de estar ou não filiado a um regime de
Previdência, irá ser amparado por meio do Benefício de Prestação Continuada
– BPC no âmbito da Assistência Social. Este é um bom exemplo da aplicação do
princípio da solidariedade no âmbito da Seguridade Social.

O mesmo fenômeno se repete na esfera da Saúde, por meio do Sistema Único


de Saúde, e, por que não, também na própria Previdência Social, onde, segundo
Bradbury (2020, p. 41) não há necessariamente “paridade entre as contribuições
realizadas pelos contribuintes e as contraprestações que eventualmente receberão,
tendo em vista que se busca a proteção de toda a sociedade e não individualmente
de cada pessoa”.

2.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO


O princípio do contraditório é também tratado na doutrina jurídica como
princípio do contraditório e da ampla defesa. Este implica o direito do cidadão
em participar de todas as etapas das decisões judiciais ou administrativas em
sede de Seguridade Social, em qualquer de suas espécies – Saúde, Assistência
Social ou Previdência Social. Isto passa pela efetiva e inequívoca participação na
produção das provas e sua oitiva prévia acerca do assunto discutido.

95
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Nesta primeira análise do princípio do contraditório, quando estamos


falando sobre discussão judicial ou administrativa sobre algum tema afeto à
Seguridade Social, temos uma divisão didática trazida por boa parte da doutrina,
entre o contraditório material e o contraditório formal.

O contraditório material, é aquele no qual o julgador, ao construir a


decisão, analisa efetivamente todas as alegações levantadas pelas partes, mesmo
que seja para não as acatar. Não basta, portanto, que o juiz ou a autoridade
administrativa permita que as partes falem no processo judicial ou administrativo,
sendo necessário que efetivamente os escute e se manifeste sobre as alegações
suscitadas, mesmo que seja para indeferi-las (BRADBURY, 2020).

Já o contraditório formal é aquele onde o julgador, seja na esfera


administrativa ou judicial, deve oferecer oportunidades iguais para as partes
envolvidas, seja, por exemplo, concedendo igual possibilidade de produção de
provas, e iguais prazos para se manifestarem. Este princípio tem grande aplicação
no Direito Previdenciário, onde notadamente se concentra a maior parte das lides
em sede de Seguridade Social. Bradbury (2020, p. 43), neste sentido, exemplifica:

Nesta perspectiva, não pode, por exemplo, o INSS, em determinado


processo administrativo previdenciário, cancelar o benefício do
segurado sem lhe ser concedida prévia possibilidade de defesa, a fim
de que possa esclarecer situações, alegar fatos e suscitar teses jurídicas
em seu favor. Além disso, a autoridade administrativa previdenciária
deve, em sua decisão, analisar efetivamente as questões suscitadas
pelo segurado em sua defesa, mesmo que seja para indeferi-las.

Sem embargos das considerações sobre a aplicabilidade deste princípio


na seara previdenciária, é importante destacar que este também é perfeitamente
aplicável às discussões envolvendo Saúde e Assistência Social.

2.3 PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO


O princípio da inafastabilidade da jurisdição garante a todos o direito de
levar ao conhecimento do juízo, administrativo ou judicial, qualquer questão que
afete nossos direitos e garantias, sendo este obrigado a conhecer, processar e julgar.
É um direito fundamental formal que carece de densificação através de outros
direitos fundamentais materiais (CANOTILHO, 2003), ou seja, a inafastabilidade
da jurisdição é um meio para se atingir um fim, seja este favorável ou não ao
interesse posto.

Dentro da Constituição Federal, este princípio está guardado no inciso


XXXV do art. 5ᵒ:

96
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

Art. 5ᵒ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito (BRASIL, 1988, s.p.).

Assim, o acesso à justiça pode ser encarado como o requisito fundamental


– o mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e
igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar direitos de todos. [...] O
“acesso” não é apenas um direito social fundamental, crescentemente reconhecido;
ele é também, necessariamente, o ponto central da moderna processualística
(CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 12-13).

Ponto importante a ser compreendido é que a inafastabilidade da


jurisdição tem um duplo aspecto: a inafastabilidade do “tribunal” ou o “chegar
ao tribunal” e a inafastabilidade da paridade de armas dentro do tribunal. A
inafastabilidade do “tribunal” ou o “chegar ao tribunal” quer dizer que devem
ser garantidas as condições necessárias para que todo e qualquer cidadão tenha a
oportunidade e o direito de acesso, em igualdade de condições, ao julgador, seja
este de esfera administrativa ou judicial.

Já a “paridade de armas”, pode ser considerada como uma segunda etapa,


na medida em que “chegando ao tribunal” o princípio da inafastabilidade da
jurisdição deve continuar irradiando na mesma frequência, amplitude e extensão
todos os seus efeitos, garantindo ao cidadão as mesmas condições de se fazer ser
ouvido – formalmente e materialmente –, tanto quanto qualquer outro cidadão
ou entidade.

2.4 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


O princípio da dignidade da pessoa humana, especificamente aplicado
à Seguridade Social, implica dizer que todo ser humano tem deve ter a garantia
de acessar um mínimo de direitos que lhe proporcionem não só uma vida,
mas uma vida digna. Este princípio está previsto no inciso III do artigo 1ᵒ da
Constituição Federal:

Art. 1ᵒ A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
III - a dignidade da pessoa humana; (BRASIL, 1988, s.p.).

Sarmento (2016, p. 92) contribui com uma visão crítica deste princípio:

97
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Nessa toada, compreendo e adoto como conteúdo do princípio da


dignidade da pessoa humana o valor intrínseco da pessoa, ou seja, a
pessoa como fim em si mesmo, e nunca como instrumento ou objeto;
a autonomia pública (coletiva) e privada (individual) dos sujeitos; o
mínimo existencial para a garantia das condições materiais existenciais
para a vida digna; e o reconhecimento individual e coletivo das pessoas
nas instituições, práticas sociais e relações intersubjetivas

Quer dizer, o princípio da dignidade da pessoa humana não tem a pessoa


por objeto: o princípio é a pessoa como meio de acessar livremente os seus direitos
mais fundamentais e inalienáveis, enquanto sujeito autônomo de direitos que é o
ser humano.

Tendo em vista que os benefícios pagos pela Previdência Social possuem


caráter eminentemente alimentar, voltados para o custeio de remédios,
tratamentos médicos e aluguel dos segurados e seus dependentes, a proteção ao
Direito à Previdência Social está intimamente relacionada com o Direito à Vida,
à Saúde e à Moradia, essencial para que se tenha dignidade (BRADBURY, 2020).

No mesmo sentido e direção podemos trazer este princípio para as outras


espécies do gênero Seguridade Social, como a Saúde e a Assistência Social, na
medida que ambos são ferramentas para acessar a dignidade da pessoa humana
em sua acepção mais ampla e efetiva.

3 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ESPECÍFICOS DA


SEGURIDADE SOCIAL
Os princípios constitucionais específicos da Seguridade Social são aqueles
que estão guardados de forma clara nas disposições dos artigos 194 a 204 da
Constituição Federal, ou seja, aqueles do Capítulo II – Da Seguridade Social, do
Título VIII – Da Ordem Social, que tratam especificamente da Seguridade Social
em si. São princípios próprios da Seguridade Social, não fazendo parte de outros
ramos do direito, como acontece com os princípios gerais da Seguridade Social,
tratados no item anterior.

Trataremos, aqui, dos seguintes princípios:

• Princípio da universalidade de cobertura e de atendimento;


• Princípio da prévia fonte de custeio ou da contrapartida;
• Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços entre as
populações urbanas e rurais;
• Princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e
serviços;
• Princípio da equidade na forma de participação e custeio;
• Princípio da diversidade da base de financiamento;

98
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

• Princípio do caráter democrático e descentralizado da administração por meio


da gestão quadripartite;
• Princípio do equilíbrio financeiro e atuarial;
• Princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios.

Estes princípios regulam e norteiam de forma específica e objetiva o


planejamento e execução de absolutamente tudo que envolve a Seguridade Social
e suas espécies: Saúde, Assistência Social e Previdência Social.

Como destacamos anteriormente, é importante entender que estes


princípios não formam nem a base, nem o topo no contexto da hierarquia das
normas de Seguridade Social. Ao contrário disso: estão acima ou “de fora” desta
hierarquia, servindo como bússola que revela a direção a seguir na construção da
Seguridade Social e na eventual solução de conflitos deste âmbito.

3.1 PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE DE COBERTURA E DE


ATENDIMENTO
O princípio da universalidade de cobertura e de atendimento está previsto
de forma expressa no inciso I do parágrafo único do art. 194 da Constituição
Federal, nos seguintes e exatos termos:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado


de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade,
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei,
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento (BRASIL, 1988, s.p.).

O que quer dizer universalidade da cobertura e do atendimento? Em


sede de Assistência Social e Saúde, podemos afirmar que a universalidade da
cobertura e do atendimento significam que todo cidadão tem o direito de acesso
ao sistema de proteção social que estas espécies formam.

No âmbito da Previdência Social, podemos trazer o exemplo da cobertura


oferecida para aqueles que não exercem uma atividade remunerada, como é o
caso dos segurados facultativos. Bradbury (2020, p. 44) diz que o princípio da
universalidade de cobertura e de atendimento preceitua que “a Seguridade Social
deve atender ao maior número de pessoas possível, garantindo-lhes a proteção
social do Estado, possuindo um nítido caráter subjetivo, uma vez que se relaciona
com os sujeitos da relação jurídica da Seguridade Social”.

Santos (2019, p. 41) ilustra o funcionamento deste princípio:

99
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

FIGURA 3 – A UNIVERSALIDADE DE COBERTURA E DE ATENDIMENTO

FONTE: Santos (2019, p. 41)

Assim, temos que também é possível extrair deste princípio que a


Seguridade Social deve garantir à sociedade a cobertura de todos os riscos sociais
existentes, prevendo com antecedência a sua possibilidade e risco, para preparar
e executar o que for necessário para proteger a todos indistintamente.

3.2 PRINCÍPIO DA PRÉVIA FONTE DE CUSTEIO OU REGRA


DE CONTRAPARTIDA
O princípio da prévia fonte de custeio ou regra de contrapartida encontra
seu fundamento constitucional no parágrafo 5ᵒ do art. 195, que diz:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,


de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
[...]
§ 5ᵒ Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser
criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio
total (BRASIL, 1988, s. p.)

Ou seja, de forma responsável o poder constituinte determinou que


nenhum benefício ou serviço da Seguridade Social poderá ser criado, majorado
ou estendido sem que exista uma previsão legal de prévia fonte de custeio.

Importante atentar-se ao fato de que o constituinte inseriu na disposição


do referido texto a expressão Seguridade Social, de modo que nem a Saúde, nem a
Assistência Social e tampouco a Previdência Social estão excluídas desta regra.

O Princípio da Prévia Fonte de Custeio dispõe que qualquer benefício ou


serviço da Seguridade Social – Previdência, Saúde e Assistência Social – deve,
para sua criação, majoração ou extensão, prever a fonte de seu custeio total, ou
seja, a origem dos recursos para o seu pagamento e manutenção. Esse princípio
busca, então, garantir um equilíbrio financeiro atuarial no sistema da seguridade
social, evitando situações deficitárias (BRADBURY, 2020, p. 52).

100
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

E
IMPORTANT

O Supremo Tribunal Federal decidiu por meio do AI 714.000 AgR/PR que o


Princípio da Prévia Fonte de Custeio ou Regra de Contrapartida não se aplica aos planos de
Previdência Complementar Privada, que é de caráter eminentemente individual.

3.3 PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA


DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ENTRE AS POPULAÇÕES
URBANAS E RURAIS
O princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços
entre as populações urbanas e rurais está previsto no inciso II do parágrafo único
do art. 194 da Constituição Federal:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de


ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei,
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
[...]
II- uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações
urbanas e rurais; (BRASIL, 1988, s.p.).

Esta previsão constitucional tem um motivo de existir: resgatar o equilíbrio


de direitos e obrigações entre os trabalhadores urbanos e rurais, na medida que,
historicamente, existe o fenômeno do êxodo rural, quando a população rural
migrou para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida.

Na área urbana, onde se concentra a indústria – e também as ferrovias,


serviços de correio e outros –, principais objetivos da população rural instalada
nas cidades, sempre foi privilegiada em detrimento da mão de obra rural, na
medida em que, como já estudamos anteriormente, a história da Seguridade Social
e notadamente da espécie Previdência Social está ligada de maneira intrínseca
com estas categorias profissionais específicas.

A população rural, neste aspecto, nunca foi protagonista e tampouco


protegida. Os trabalhadores rurais sempre foram discriminados no Brasil se
comparados os direitos destes aos reconhecidos aos trabalhadores urbanos. Em
termos de seguridade social, a situação não era diferente. A CF de 1988 reafirmou
o princípio da isonomia, consagrado no caput de seu art. 5ᵒ, no inc. II, do parágrafo
único, do art. 194, garantindo uniformidade e equivalência de tratamento, entre
urbanos e rurais, em termos de seguridade social (SANTOS, 2019).

101
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Assim como os trabalhadores urbanos, os trabalhadores rurais também


estão sujeitos a riscos sociais, bem por isto, devem ser tão protegidos dos riscos
quanto a população urbana. No entanto, bem observa Bradbury (2020, p. 45) que
“não obstante, o Princípio da Uniformidade não impede que determinado benefício
previdenciário seja criado exclusivamente para tipos específicos de segurados”.

Esta questão vem justamente reforçar o que estudamos anteriormente,


no sentido de que cada desigualdade deve ser tratada desigualmente, a fim
de buscar a isonomia entre os cidadãos. Bem por isto existem, por exemplo,
regras previdenciárias específicas para os trabalhadores rurais, distintas dos
trabalhadores urbanos. Por fim, importante destacar que a mesma fórmula para
calcular os benefícios dos trabalhadores urbanos, deve ser utilizada para calcular
os benefícios dos trabalhadores rurais, garantindo-lhes isonomia.

3.4 PRINCÍPIO DA SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA


PRESTAÇÃO DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS
Determina o inciso III do parágrafo único do artigo 194 da Constituição
Federal que a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social, competindo ao Poder
Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base, dentre outros
princípios, no da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e
serviços (BRASIL, 1988).

Este princípio, específico da Seguridade Social, norteia o planejamento,


execução e fiscalização dos serviços e benefícios no âmbito da Saúde, Previdência
Social e Assistência Social no sentido e direção de proteger as pessoas mais
necessitadas das contingências a que estão sujeitas. Bradbury (2020, p. 46) diz
que “a Seguridade Social deve selecionar os riscos sociais (contingências) mais
graves e distribuir os benefícios e serviços deles decorrentes para as pessoas mais
necessitadas, funcionando assim, também, como um critério de distribuição de
renda”.

Didaticamente, podemos desmembrar este princípio em dois, para melhor


compreensão de cada aspecto:

a) Distributividade: a Seguridade Social deve ser uma ferramenta de


transferência de renda, protegendo as pessoas mais vulneráveis dos riscos
sociais, reestabelecendo suas condições de dignidade mediante programas e
serviços da Saúde, Assistência Social e Previdência Social.

102
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

b) Seletividade: considerando os recursos limitados e finitos de que dispõe a


Seguridade Social e, notadamente, considerando neste aspecto o Princípio da
Universalidade de Cobertura, a Seletividade vem colocar freios na transferência
de renda, de modo que devem ser selecionados os riscos sociais mais graves
diante da falta de recursos, e concentrar os esforços e recursos da Saúde,
Previdência Social e Assistência Social nas contingências que ofereçam maiores
riscos à dignidade humana.

Assim, como a realidade infelizmente é que a Seguridade Social, no


momento, não é capaz de atender a tudo e a todos, o Princípio da Seletividade
e Distributividade na Prestação dos Serviços e Benefícios vem regular o tema,
impondo que os três poderes – executivo, legislativo e judiciário atuem com
parcimônia e racionalidade no atendimento das contingências.

3.5 PRINCÍPIO DA EQUIDADE NA FORMA DE


PARTICIPAÇÃO DO CUSTEIO
O princípio da equidade na forma de participação do custeio encontra
previsão constitucional expressa no inciso V do parágrafo único do art. 194 da
carta magna. Este princípio, basicamente, vem nos dizer que cada segurado
irá contribuir para com a Previdência Social, especificamente, com base na sua
capacidade econômica, ou ainda, no valor econômico por ele gerado.

Todos devem participar do custeio da Previdência Social, mas não de


forma igual no sentido pecuniário. Cada um irá contribuir – e também receber –
de acordo com a sua capacidade econômica ao longo da vida.

Assim, por exemplo, um segurado que contribuiu com um salário mínimo


durante a maior parte de sua vida, irá receber um benefício de aposentadoria em
valor menor se comparado a um segurado que contribuiu, na média, sobre dois
ou três salários mínimos.

Para Santos (2019, p. 43):

[...] a equidade na participação no custeio deve considerar, em


primeiro lugar, a atividade exercida pelo sujeito passivo e, em
segundo lugar, sua capacidade econômico-financeira. Quanto maior
a probabilidade de a atividade exercida gerar contingências com
cobertura, maior deverá ser a contribuição.

Ainda no âmbito da Previdência Social, temos que, quanto maior o salário


percebido pelo empregado, maior a alíquota sobre a qual irá contribuir para com o
Regime Geral de Previdência Social – RGPS. O mesmo se aplica aos empregadores,
como é o caso das denominadas instituições financeiras – cooperativas de crédito,
bancos, caixas etc. – que contribuem em alíquota superior (25% sobre a folha) em
relação aos demais empregadores (20% sobre a folha).

103
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Por fim, importante destacar que com o advento da Emenda


Constitucional nᵒ 103/2019 – Reforma da Previdência – o parágrafo 9ᵒ do artigo
195 da Constituição Federal foi alterado, vindo a refletir, também, o Princípio
da Equidade na Forma de Participação e Custeio, quando define que:

As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo


poderão ter alíquotas diferenciadas em razão da atividade econômica,
da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da
condição estrutural do mercado de trabalho, sendo também autorizada
a adoção de bases de cálculo diferenciadas apenas no caso das alíneas
"b" e "c" do inciso I do caput (BRASIL, 1988, s.p.).

Desta forma, este princípio, específico da Seguridade Social, mas com


aplicação mais direcionada à Previdência Social, vem nortear o equilíbrio no
âmbito das contribuições, ou a participação no custeio, de modo que cada um
contribuía na medida das riquezas geradas e percebidas.

3.6 PRINCÍPIO DA DIVERSIDADE DA BASE DE


FINANCIAMENTO
Com a finalidade de evitar a constituição de um déficit no âmbito da
Seguridade Social, o poder constituinte estabeleceu por meio do artigo 194,
parágrafo único, inciso VI e artigo 195 da carta magna, o Princípio da Diversidade
da Base de Financiamento:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de


ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei,
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
[...]
VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em
rubricas contábeis específicas para cada área, as receitas e as despesas
vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social,
preservado o caráter contributivo da previdência social;
[...]
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: [...]
(BRASIL, 1988, s.p.).

Assim, a legislação constitucional estabelece que deve haver diversas


fontes de custeio da Seguridade Social, na medida em que, se alguma destas
fontes tornar-se eventualmente deficitária, as outras darão conta de suportar o
custeio dos serviços e benefícios.

104
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

Verifica-se que o financiamento da Seguridade Social envolve tanto


recursos privados, oriundos da sociedade, quanto recursos públicos, provenientes
dos orçamentos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. “Constata-se,
assim, que diversos são os sujeitos e as entidades, tanto privadas quanto públicas,
que contribuem para o financiamento da seguridade social, o que é condição
essencial para que haja higidez econômica do sistema, caso haja alguma crise em
determinados setores da economia” (BRADBURY, 2020).

Podemos relacionar o Princípio da Diversidade da Base de Financiamento


ao já estudado Princípio da Solidariedade, na medida em que todos respondem
solidariamente pelo custeio da Seguridade Social, bem nome do bem comum e
do bem-estar social, mirando, sempre, na dignidade da pessoa humana, outro
princípio relacionado de forma intrínseca a estes.

3.7 PRINCÍPIO DO CARÁTER DEMOCRÁTICO E


DESCENTRALIZADO DA ADMINISTRAÇÃO POR MEIO DA
GESTÃO QUADRIPARTITE
O Princípio do Caráter Democrático e Descentralizado da Administração
por Meio da Gestão Quadripartite da Seguridade Social determina que todos os
interessados na Seguridade Social devem participar da tomada de decisões no
que se refere às políticas planejadas, implementadas, executadas e fiscalizadas
no âmbito da Saúde, Assistência Social e Previdência Social. Este princípio está
previsto no artigo 194, parágrafo único, inciso VII, da Constituição Federal, e é
ilustrado por Silva (2019, p. 44) pelo fluxograma a seguir:

FIGURA 4 – ESTRUTURA DA GESTÃO QUADRIPARTITE DA SEGURIDADE SOCIAL

FONTE: Silva (2019, p. 44)

Dentro deste contexto, existe, dentro de cada espécie da Seguridade Social,


um órgão responsável por participar da gestão quadripartite, a saber:

105
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

• Saúde: Conselho Nacional de Saúde – CNS, previsto no parágrafo segundo


do artigo primeiro da Lei nᵒ 8.142/1990 e na Lei nᵒ 8.080/1990. O Conselho
Nacional de Saúde – CNS é uma instância colegiada, deliberativa e permanente
do Sistema Único de Saúde – SUS, ligada, portanto, ao Ministério da Saúde.
• Assistência Social: Conselho Nacional da Assistência Social – CNAS, previsto
no artigo 17 da Lei nᵒ 8.742/1993. Este conselho tem por finalidade a promoção
do controle social das políticas públicas no âmbito da Assistência Social,
contribuindo para o seu permanente aprimoramento a partir das necessidades
sociais – contingências.
• Previdência Social: Conselho Nacional da Previdência Social – CNPS,
previsto no art. 3° da Lei nᵒ 8.213/1991. Este conselho, composto por
empregados, empregadores, aposentados e o Poder Público, visa o
acompanhamento e na avaliação dos planos e programas que são realizados
pela administração da Previdência Social, na busca de melhor desempenho
dos serviços aos beneficiários.

Desta forma, podemos concluir que este princípio visa garantir a


participação e o controle tanto na formulação de propostas como na execução das
políticas públicas no âmbito da Seguridade Social, por todos aqueles que estão
envolvidos nestes processos.

3.8 PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO E ATUARIAL


O Princípio do Equilíbrio Financeiro e Atuarial encontra sua previsão
constitucional no artigo 201, que determina “a previdência social será organizada
sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de
filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, na forma da lei, a [...]” (BRASIL, 1988, art. 201). “Este princípio
é importante para garantir a rigidez econômica do sistema previdenciário,
evitando que se torne deficitário, isto é, não gaste mais no pagamento dos
benefícios e serviços da seguridade social do que no valor que é arrecadado para
o seu custeio” (BRADBURY, 2020, p. 53).

Em suma, podemos afirmar que o Princípio do Equilíbrio Financeiro e


Atuarial está intimamente conectado com o Princípio da Prévia Fonte de Custeio
ou Regra de Contrapartida, pois, tal qual esta, visa proteger a Seguridade Social
de se tornar deficitária por conta de gastos que extrapolem o orçamento. “O
equilíbrio financeiro e atuarial é a chave da sobrevivência de qualquer regime de
previdência social público ou privado” (SANTOS, 2019, p. 513). Por fim, podemos
afirmar que o Princípio do Equilíbrio Financeiro e Atuarial é um dos objetivos a
serem protegidos pela gestão quadripartite, estudada anteriormente, havendo
íntima conexão entre estes princípios e o princípio da contrapartida.

106
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

3.9 PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS


BENEFÍCIOS
O princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios encontra
previsão no inciso IV do parágrafo único do artigo 194 da Constituição Federal,
e preconiza que nenhum benefício poderá ter o seu valor reduzido. Parece ser
de simples entendimento o conceito trazido por este princípio, no entanto, a
doutrina algumas vezes polemiza o tema, conforme trecho extraído de Bradbury
(2020, p. 47), e é importante que se tenha esta visão crítica do tema, inclusive
porque, não raro, esta discussão é objeto de provas de concursos públicos e do
exame de ordem:

Apesar da clareza do conceito, o importante para sua correta


compreensão é saber a qual tipo de valor se refere o princípio em
estudo, isto é, se o que não pode ser reduzido é o valor meramente
nominal – aquele previsto no momento da concessão do benefício
– ou se trata do valor real – o que refere ao poder aquisitivo do
benefício, em razão da incidência da inflação. Nesta toada, a
irredutibilidade do valor nominal dispõe que uma vez o benefício
sendo concedido no valor de R$ 1.700,00, por exemplo, não pode
o INSS no ano seguinte, reduzi-lo para R$ 1.500,00. Por sua vez, a
irredutibilidade do valor real busca manter o poder aquisitivo do
benefício face ao fenômeno inflacionário.

Apesar destas considerações, de Bradbury (2020), que são pertinentes e


despertam uma visão crítica do assunto – inclusive porque o que se verifica é
que ano após ano os beneficiários de aposentadorias do INSS perdem seu poder
aquisitivo em razão da inflação e do parco reajuste dos valores dos benefícios –, é
essencial saber que o Supremo Tribunal Federal – STF decidiu sobre recentemente
sobre este assunto no julgamento do RE 263.252/PR, em 23/06/2020, por meio de
Voto Vencedor do Ministro Moreira Alves.

Na decisão, o Supremo Tribunal Federal – STF firmou entendimento no


sentido de que o Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Benefícios se refere
exclusivamente ao valor do benefício em si, ou seja, aquele definido quando da
concessão do benefício, e não do seu poder aquisitivo frente à inflação.

107
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

CONTROLE SOCIAL: A IMPORTÂNCIA DOS CONSELHOS DE DIREITOS


NA FORMULAÇÃO E CONTROLE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

A luta dos movimentos sociais no Brasil no final do século passado foi


marcada pelo processo de democratização no país. Com a Constituição Federal
de 1988, que descentralizou o poder do Estado, veio a abertura para participação
da sociedade civil na formulação e controle das políticas públicas nos três níveis
da administração pública.

Essa participação popular se materializou na figura dos conselhos de


direitos, previsto pela Carta Magna.

Dentro desse novo contexto surgiram os conselhos, órgãos colegiados,


permanentes e deliberativos, responsáveis pela formulação, fiscalização,
promoção e defesa das políticas públicas. É nos espaços dos conselhos que se
concretiza a participação social preconizada na Constituição Federal.

O artigo 204 da Constituição Federal estabelece em seu inciso II que uma


das suas diretrizes é a “participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos
os níveis”.

Dessa forma, a Lei nᵒ 8.742/93 – Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS)


reforça a importância da participação social. Para isso, faz saber que a instituição
e funcionamento dos conselhos de assistência social, é condição indispensável
para o repasse de recursos aos municípios, aos estados e ao distrito federal.

“Os Conselhos de Assistência Social contribuem decisivamente para a


implantação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS (TCU,2012)”

Com a criação dos conselhos de políticas públicas a partir da década


de 1990, os movimentos sociais puderam direcionar ações para a construção e
defesa das políticas públicas universais e garantidoras de direito, fazendo uso de
sistemas descentralizados e participativos nestes espaços.

Assim, o nosso post de hoje tem como objetivo apresentar os Conselhos


como espaços de participação democrática de controle social.

Os Conselhos como Espaços de Participação Social Democrática

Parafraseando RAICHELIS (2006, p.11), “Os conselhos, nos moldes


definidos pela Constituição Federal de 1988, são espaços públicos com força
legal para atuar nas políticas públicas, na definição de suas prioridades, de seus
conteúdos e recursos orçamentários, de segmentos sociais a serem atendidos e na
avaliação dos resultados.
108
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

A composição plural e heterogênea, com representação da sociedade civil


e do governo em diferentes formatos, caracteriza os conselhos como instâncias
de negociação de conflitos entre diferentes grupos e interesses, portanto,
como campo de disputas políticas, de conceitos e processos, de significados e
resultados políticos”.

Em relação ao desenvolvimento das políticas sociais pelos conselhos


gestores, no que se refere a Política Nacional de Assistência Social – PNAS,
devemos ressaltar que se trata de espaços de controle social de caráter deliberativo,
consultivo e paritário.

Portanto, retratam interesses contraditórios, ou seja, de lutas e disputas


políticas, mas que devem primar pelo acompanhamento, fiscalização e
monitoramento de serviços, programas e benefícios de assistência social prestados
à população por órgãos públicos e entidades sem fins lucrativos.

Estrutura e Organização dos Conselhos

Como instâncias deliberativas de caráter permanente e composição


paritária entre governo e sociedade civil, os Conselho estão representados por
50% pelo Poder Público, e 50% pela Sociedade Civil (dentre usuários, entidades e
organizações não-governamentais).

109
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Qual é o papel dos Conselheiros?

Vejamos agora qual é o papel dos conselheiros (titulares e suplentes) e de


que forma eles podem contribuir com o controle social:

• Buscar aprimorar o conhecimento “in loco” da rede pública e privada prestadora


de serviços;
• Manter-se atualizado em assuntos referentes à área e colaborar no
aprofundamento das discussões para auxiliar as decisões do colegiado;
• Divulgar as discussões/decisões do Conselho nas instituições que representa e
em outros espaços;
• Ser assíduo às reuniões e participativo;
• Desenvolver habilidades de negociação e prática de gestão intergovernamental;
• Conhecer o marco legal que rege os serviços, benefícios e programas de acordo
com cada política de atendimento ao Conselho que estiver filiado (assistência
social, criança e adolescente, idoso, pessoa com deficiência, segurança alimentar
e nutricional etc.).

Recursos financeiros, humanos e materiais para funcionamento e


manutenção dos Conselhos

O artigo 204 da Constituição Federal estabelece em seu inciso II que uma


das suas diretrizes é a “participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos
os níveis”.

Dessa forma a Lei nᵒ 8742/93 – Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS)


reforça a importância da participação social, e para isso faz saber que a instituição
e funcionamento dos conselhos de assistência social, é condição indispensável
para o repasse de recursos aos municípios, aos estados e ao distrito federal.

É importante destacar que a Secretaria Municipal de Assistência Social


(SEMAS), deve prover com todos os recursos materiais necessários para o pleno
funcionamento e atribuições dos Conselhos, como uma infraestrutura adequada
para o seu funcionamento, garantindo apoio técnico e administrativo a ser
assegurado pela dotação orçamentária.

Quais são os mecanismos de controle utilizados pelos Conselhos?

Dentre os mecanismos de controle estão o monitoramento, avaliação e


fiscalização de serviços, programas e benefícios de assistência social prestados à
população por órgãos públicos e entidades sem fins lucrativos.

110
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

Os Conselhos têm por responsabilidade:

• Fiscalizar entidades com e sem fins lucrativos que desenvolvam serviços,


programas e projetos previstos em legislações relativas às áreas da assistência
social, idoso, criança e adolescente, pessoa com deficiência, e segurança
alimentar em todos os níveis de complexidade previstos na Tipificação
Nacional dos Serviços Socioassistenciais – Resolução Nᵒ 109/2009 do Conselho
Nacional de Assistência Social – CNAS;
• Fiscalizar e acompanhar a execução do orçamento da assistência social e do
Fundo da Infância e Adolescência – FIA, bem como a efetiva prestação de contas;
• Realizar encaminhamentos decorrentes das fiscalizações de visitas realizadas a
entidades;
• Receber e encaminhar denúncias de violação de direitos ao Centro de Referência
de Assistência Social –CREAS para averiguação e acompanhamento e demais
órgãos que compõem a rede de atendimento.

Os desafios para efetivação do Controle Social pelos Conselhos

Os conselhos atuam na definição das prioridades das políticas públicas da


assistência social, acompanhando, avaliando e fiscalizando os serviços prestados
à população usuária por estas entidades não governamentais e órgãos públicos.

Dentro deste contexto, alguns desafios dos Conselhos estão centrados


para as demandas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), como por
exemplo: a necessidade de aumento de recursos financeiros para as Secretarias
de Assistência Social de forma a proporcionar a ampliação da rede de serviços
socioassistenciais em todos os níveis de proteção social.

O desafio dos gestores e profissionais que atuam nos Conselhos, é buscar


responder as demandas da população através de princípios e valores fundados
na concepção de superação das desigualdades sociais, com direitos sociais
universais na (re)afirmação da cidadania, ou seja, no seu caráter emancipatório.

“O desafio de facilitar o exercício do controle social exige medidas que


possibilitem a participação ativa do cidadão no controle da gestão pública, até
mesmo quanto aos aspectos relacionados com probidade, moralidade, eficiência,
economicidade e publicidade dos atos de gestão” (TCU, 2012).

Dentre os maiores desafios encontrados pelos Conselhos estão:

• Fomentar, qualificar e estimular a participação dos usuários enquanto sociedade;


· Aprofundar a intersetorialidade com as demais Secretarias Municipais de
forma a fortalecer o protagonismo dos usuários e sua representação política no
âmbito dos conselhos;

111
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

• Promover eventos temáticos que possam trazer os usuários para as discussões


da política, fomentando, assim, o protagonismo desses sujeitos; · Fortalecer o
Conselho como espaço legal e legítimo de deliberação das políticas garantidoras
de direitos;
• Apoiar e incentivar novas iniciativas para a criação de espaços de controle
social, de forma que contemplem com prioridade a participação dos usuários
dos serviços e benefícios da política.

Assim, os desafios contribuem para que os resultados prezem pela


transparência nas análises e no processo decisório, a garantia da qualidade das
informações que são passadas aos conselheiros de forma a subsidiar a tomada de
decisões, e a orientação das ações do conselho visando a garantia da qualidade
dos serviços prestados.

Estratégias para promover o Fortalecimento dos Conselhos

As principais estratégias para o fortalecimento dos Conselhos priorizam


a articulação dos conselhos com as autoridades públicas em geral, no âmbito
do executivo e do legislativo, e a democratização das informações relativas às
diversas políticas sociais e articulação com os conselhos setoriais.

A atuação profissional do assistente social no âmbito dos Conselhos

De um modo geral, o trabalho do assistente social dentro dos Conselhos,


visa proporcionar a efetiva e correta fiscalização das políticas públicas nos espaços
de participação e controle social, tendo como pontos fundamentais específicos:

• Fomentar e qualificar a participação dos usuários;


• Estimular a participação da sociedade civil e defesa dos princípios democráticos;
• Primar pela transparência nas análises e no processo decisório;
• Garantir a qualidade das informações que são passadas aos conselheiros de
forma a subsidiar a tomada de decisões;
• Orientar as ações dos conselhos visando à garantia da qualidade dos serviços
prestados; · · Possuir um conhecimento aprofundado da legislação de modo a
orientar e subsidiar as decisões dos conselheiros;
• Promover a análise institucional, no sentido de avaliar e qualificar as ações
públicas e privadas da assistência social.

A atuação dos assistentes sociais nos Conselhos exige desses profissionais


uma capacidade de apreensão das demandas recebidas, contribuindo assim
para o processo de democratização das políticas sociais, visando a ampliação
dos canais de participação da população na formulação e controle da gestão das
políticas para a garantia de direitos.

112
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

Conclusão

Importante órgão fiscalizador do exercício do controle social, os conselhos,


para possuírem um bom desempenho de suas atribuições, precisam ter bem
definidas as funções que exercem, principalmente por se tratar de órgãos de
defesa dos direitos humanos e de promoção e controle das políticas públicas.
Assim, sua atuação deve contribuir para a modificação das relações sociais e
políticas resgatando a soberania popular.

FONTE: Disponível em: <https://www.gesuas.com.br/blog/controle-social-a-importancia-dos-


conselhos-de-direitos/>. Acesso em: 18 jul. 2020.

113
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os princípios constitucionais gerais da Seguridade Social são aqueles previstos


em diversos trechos da Constituição Federal, mas que se aplicam, além de a
outros ramos do direito, também à Seguridade Social.

• Os princípios constitucionais específicos da Seguridade Social são aqueles


previstos de forma expressa no texto constitucional em relação especificamente
à Seguridade Social, constituindo-se de princípios próprios e específicos da
Seguridade Social.

• A Seguridade Social conta com mecanismos de controle interno e externo, por


representantes dos empregados, empregadores, aposentados e Poder Estatal

• Esta fiscalização se dá por meio de diversos órgãos, como o Conselho Nacional


de Saúde – CNS –, o Conselho Nacional da Assistência Social – CNAS – e o
Conselho Nacional da Previdência Social – CNPS.

• Muitos dos princípios constitucionais de Seguridade Social, sejam eles gerais


ou específicos, estão intimamente conectados, complementando-se entre si.

• A Constituição Federal de 1988 buscou resgatar a equidade e a isonomia entre


os trabalhadores urbanos e rurais.

114
AUTOATIVIDADE

1 A Seguridade Social é resguardada por princípios gerais constitucionais


que, mesmo não estando contidos no capítulo específico, são perfeitamente
aplicáveis a matéria. Neste sentido, sobre os princípios constitucionais
gerais da Seguridade Social, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Princípio da primazia da realidade.


b) ( ) Princípio da solidariedade.
c) ( ) Princípio do contraditório.
d) ( ) Princípio da inafastabilidade da jurisdição.

2 Os princípios constitucionais próprios da Seguridade Social, estão contidos


nas disposições dos artigos 194 a 204 da Constituição Federal de 1988, e
tratam especificamente da matéria, regulam e norteiam de forma específica
e objetiva o planejamento e execução da Seguridade Social. Deste modo,
acerca dos princípios próprios da Seguridade Social, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Benefícios prevê que


que nenhum benefício poderá ter o seu valor reduzido, e se refere
exclusivamente ao poder aquisitivo do benefício frente à inflação.
( ) O Princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e
serviços prevê que a Seguridade Social deve garantir a proteção das pessoas
mais vulneráveis aos riscos sociais, selecionando os riscos sociais mais
emergentes e que ofereçam maiores riscos à dignidade da pessoa humana.
( ) O Princípio da prévia fonte de custeio prevê que todo benefício ou serviço
da Seguridade Social deve ter previsão legal da origem dos recursos para
o seu pagamento e manutenção.
( ) O Princípio da equidade na forma de participação do custeio prevê
que todos devem participar do custeio da Seguridade Social, de modo
a contribuir e receber com a mesma alíquota independente da sua
capacidade econômica ao longo da vida.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – V.

3 (Ano: 2020 Banca: VUNESP Órgão: Valiprev – SP Prova: VUNESP – 2020 –


Valiprev – SP – Analista de Benefícios Previdenciários)

115
Nos termos da Constituição Federal, a seguridade social compreende
um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
e à assistência social, e compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar
a seguridade social, com base, dentre outros, no seguinte objetivo:

a) ( ) Seletividade da cobertura e do atendimento.


b) ( ) Equidade na forma de participação no custeio.
c) ( ) Diferenciação dos benefícios às populações urbanas e rurais.
d) ( ) Caráter centralizado da administração e gestão tripartite.
e) ( ) Vedação da diversidade na base de financiamento.

FONTE: (Ano: 2020 Banca: VUNESP Órgão: Valiprev – SP Prova: VUNESP – 2020 – Valiprev
– SP – Analista de Benefícios Previdenciários).

4 Os princípios constitucionais gerais da Seguridade Social são aqueles


previstos em diversos trechos da Constituição Federal, mas que se
aplicam, além de outros ramos do direito, também à Seguridade Social.
Um importante princípio constitucional atrelado à Seguridade Social é o da
Solidariedade. Explique com suas palavras a relação deste princípio com a
Seguridade Social.

5 Os princípios constitucionais específicos da Seguridade Social regulam


e norteiam de forma específica e objetiva o planejamento e execução de
absolutamente tudo que envolve a Seguridade Social e suas espécies:
Saúde, Assistência Social e Previdência Social. Com base em seus
estudos, explique com suas palavras o princípio da irredutibilidade do
valor dos benefícios.

116
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Chegamos ao terceiro a último tópico desta unidade.

Até aqui, avançamos bastante no estudo da Seguridade Social e


amadurecemos nossos conceitos sobre os temas relacionados à Saúde, Assistência
Social e Previdência Social. Agora, vamos finalizar estudando sobre os princípios
interpretativos da Seguridade Social.

Estes princípios, ao contrário dos estudados anteriormente – princípios


constitucionais gerais e específicos da Seguridade Social – não estão
necessariamente previstos de forma expressa no texto constitucional, ou mesmo
em outras normas jurídicas. São princípios construídos ao longo do tempo pela
doutrina e pela jurisprudência, e até mesmo confirmados por meio de atos
normativos emanados pelos órgãos ligados à Previdência Social, Assistência
Social e Saúde.

Eles são importantes para a interpretação e aplicação das normas jurídicas


da Seguridade Social, tendo em vista que estas precisam de uma interpretação
diferenciada em atenção à especialidade da matéria. É possível afirmar que a
interpretação das normas jurídicas diz respeito ao entendimento da norma em
si e sua aplicação é fruto desta interpretação, onde, ao caso concreto, se aplica
a norma adequada. Para interpretação da lei é necessária a compreensão de
seus fins sociais, sua finalidade ou essência, para que assim seja possível fixar
sentido e alcance das normas jurídicas. Assim, o ato de interpretar deve levar em
consideração a norma jurídica e todo sistema jurídico a qual pertence.

Você está pronto para encerrar mais um ciclo de estudos? Então, vamos lá!

2 PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL


Os princípios interpretativos da Seguridade Social, ao contrário dos
princípios constitucionais gerais e específicos, não estão previstos de forma
expressa na Constituição, e tampouco em outras normas jurídicas. Estamos
falando de princípios construídos ao longo do tempo pela doutrina, jurisprudência
e, também, extraídos de atos normativos elaborados pela Previdência Social,
Assistência Social e Saúde por meio de seus órgãos.

117
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

Estes princípios são importantes para a correta interpretação e aplicação


das normas jurídicas em sede de Seguridade Social, tendo em vista que estas
devem ter uma interpretação diferenciada em atenção a especialidade da matéria.
A Seguridade Social está disposta no Título VIII (Da Ordem Social) da Constituição
Federal, designando um direito social fundamental para o equilíbrio social
e a garantia da dignidade da pessoa humana. Como dito anteriormente, estes
princípios não formam nem a base, nem o topo no contexto da hierarquia das
normas de Seguridade Social. Ao contrário disso: estão acima ou “de fora” desta
hierarquia, servindo como bússola que revela a direção a seguir na construção da
Seguridade Social e na eventual solução de conflitos deste âmbito.

2.1 PRINCÍPIO DO TEMPUS REGIT ACTUM E


ULTRATIVIDADE
Os benefícios serão concedidos nos exatos termos e condições vigentes na
época da sua concessão. É isto que, em resumo, preconiza o princípio do tempus
regit actum – o tempo rege o ato. Já o princípio da ultratividade se relaciona aos fatos
geradores do pedido de um determinado serviço ou benefício, não importando
se posteriormente ao momento do pedido a norma que gerou o direito ao serviço
ou benefício esteja eventualmente revogada total ou parcialmente.

E
IMPORTANT

O Supremo Tribunal Federal – STF – decidiu, por meio do RE 415454/SC, de


Relatoria do Ministro Gilmar Mendes, que o Princípio do Tempus Regit Actum é plenamente
aplicável, de modo que naquele caso em específico, as regras válidas para o cálculo do
benefício eram aquelas vigentes à época do pedido.

2.2 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE


O princípio da irretroatividade é uma ferramenta de hermenêutica jurídica
(interpretação) da norma de Seguridade Social no tempo e no espaço. Define este
princípio que não é possível que a lei retroaja no tempo para a concessão de um
benefício, não importando inclusive se esta norma jurídica é benéfica ou gravosa
ao beneficiário. Bradbury (2020, p. 60) esclarece que:

Assim, no Direito Previdenciário, diferentemente do que ocorre no


Direito Penal, não há a retroatividade automática da lei previdenciária
mais benéfica, posto que será aplicada a lei vigente na data do fato
gerador do benefício, salvo se a própria lei previdenciária determinar
expressamente a sua aplicação retroativa.

118
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Assim, vemos que existe uma exceção a este princípio, que é justamente
quando a própria lei define que terá efeitos retroativos. Caso contrário, ou seja,
sendo a lei omissa neste sentido, não irá gerar efeitos retroativos.

2.3 PRINCÍPIO DA APLICAÇÃO IMEDIATA DA NORMA


CONSTITUCIONAL
Podemos afirmar que o princípio da aplicação imediata da norma
constitucional é uma exceção ao princípio da irretroatividade, na medida em
que este princípio afirma que se a nova norma previdenciária for de status
constitucional, sua aplicabilidade será imediata, inclusive gerando efeitos
retroativos aos benefícios concedidos antes da sua vigência e eficácia.

No entanto, muito embora a nova norma constitucional atinja os benefícios


concedidos antes da sua vigência e eficácia, não gera direito a valores retroativos
ou correções anteriores, mas sim, a readequação do benefício anteriormente
concedido, nos moldes da norma constitucional vigente, desde que mais benéfica.

2.4 PRINCÍPIO DA RETROSPECTIVIDADE


O Princípio da Retrospectividade implica dizer que, desde que a norma
jurídica não trate dos pressupostos para a concessão de benefícios, ou seja, uma
norma de natureza material, mas somente sobre questões formais, como prazos,
por exemplo, poderá haver a irradiação dos efeitos desta norma jurídica para
frente, de modo a atribuir efeitos futuros a relações jurídicas em andamento.

Na lição de Bradbury (2020, p. 61):

Cumpre esclarecer a diferença entre o Princípio da Irretroatividade da


Lei Previdenciária e o da Retrospectividade da Lei Previdenciária. [...]
com fulcro no Princípio da Irretroatividade, a lei previdenciária que
verse sobre pressupostos e condições para a concessão do benefício
não pode retroagir para alterar os benefícios concedidos cujos fatos
geradores ocorreram antes de sua vigência, mesmo que seja mais
benéfica, a não ser que exista previsão neste sentido. Diversamente,
o Princípio da Retrospectividade traduz-se na possibilidade de a
lei previdenciária que não verse sobre os pressupostos e condições
para a concessão do benefício atribuir efeitos futuros a situações ou
relação jurídicas já existentes, podendo, assim, alcançar benefícios
previdenciários concedidos cujos fatos geradores tenham ocorrido
antes da sua vigência.

Assim, desde que a norma jurídica não altere qualquer questão de natureza
material – o direito em si – esta poderá irradiar seus efeitos sobre as discussões
em andamento, a fim de atingir futuras concessões de serviços e benefícios.

119
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

2.5 PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE DOS BENEFÍCIOS


PREVIDENCIÁRIOS
O princípio da irrepetibilidade dos benefícios previdenciários determina
que não é necessária nem exigível a devolução de parcelas de benefícios recebidos
pelo beneficiário de forma indevida. Este princípio decorre da natureza alimentar
dos benefícios previdenciários e de Seguridade Social em geral, sendo que, em
sede de qualquer ramo do direito, os alimentos não podem ser devolvidos,
tornando-se impossível esta exigência.

Assim, podemos afirmar que o princípio da irrepetibilidade dos benefícios


previdenciários está conectado ao princípio constitucional da dignidade da
pessoa humana.

E
IMPORTANT

Se comprovada a existência de má-fé, este princípio não será aplicável, sendo


o beneficiário, neste caso, obrigado à devolução dos valores percebidos. A devolução
poderá ocorrer inclusive mediante desconto em benefício previdenciário, limitado a 30%
do valor mensal.

2.6 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO SOCIAL


O princípio da proteção social dispõe que a interpretação das leis da
seguridade social deve ser realizada com vista a garantir a maior proteção social,
analisando a realidade concreta e o contexto fático do pretenso beneficiário
(BRADBURY, 2020).

Deste modo, a interpretação da norma jurídica no âmbito da Seguridade


Social deve sempre ser guiada por uma visão que proteja o interesse social,
visando ao bem-estar social como norte. Tem sido comuns decisões, inclusive no
âmbito do Supremo Tribunal Federal – STF –, no sentido de flexibilizar normas
de Assistência Social para a concessão do Benefício de Prestação Continuada –
BPC –, na medida que o critério de miserabilidade social é relativo, dependendo
muitas vezes de estudo social por um profissional de assistência social, e não de
critérios puramente objetivos, como renda familiar isoladamente.

120
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL

2.7 PRINCÍPIO DO DIREITO AO MELHOR BENEFÍCIO


O princípio do direito ao melhor benefício é praticamente vinculado
à Previdência Social, não tendo espaço, na prática, na Saúde e na Assistência
Social, onde os benefícios são mais estanques e não sujeitos a tantas variáveis
como no âmbito da Previdência Social dentro do Regime Geral de Previdência
Social – RGPS.

Assim, muito embora um beneficiário mal instruído solicite um


determinado benefício, cabe ao servidor do INSS verificar se este é de fato o
melhor benefício previdenciário à disposição do segurado, sendo sua obrigação –
e não opção – oferecer ao beneficiário o melhor benefício disponível.

Dessa forma, caso o segurado requeira junto ao INSS o auxílio-doença,


porém já tenha preenchidos os requisitos para a concessão de aposentadoria por
incapacidade permanente, o servidor do INSS deve orientá-lo que pode obter o
benefício mais vantajoso (BRADBURY, 2020, p. 53).

E
IMPORTANT

O INSS reconhece expressamente o princípio do direito ao melhor benefício,


tanto é que editou a Instrução Normativa nᵒ 77/2015, com a seguinte redação: “O INSS
deve conceder o melhor benefício a que o segurado fizer jus, cabendo ao servidor
orientar neste sentido”.

2.8 PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE DA TUTELA


PREVIDENCIÁRIA
O princípio da fungibilidade da tutela previdenciária é intimamente
conectado com o princípio do direito ao melhor benefício. Este princípio tem
sua aplicabilidade no âmbito judicial, na medida em que, caso o beneficiário
esteja requerendo judicialmente um benefício, e exista um outro que lhe seja
mais benéfico, deverá o Poder Judiciário conceder o benefício mais vantajoso,
mesmo que o beneficiário tenha requerido equivocadamente um benefício menos
vantajoso quando do ajuizamento da ação judicial.

Ou seja, o princípio do direito ao melhor benefício tem sua aplicabilidade


na esfera administrativa, enquanto o princípio da fungibilidade tem sua
aplicabilidade na esfera judicial, refletindo ambos o mesmo espírito: conceder ao
beneficiário, sempre, o benefício que lhe seja mais vantajoso, desde que cumpridos
os requisitos. Cumpre registrar que esta fungibilidade não se aplica apenas entre

121
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

benefícios por incapacidade, mas, sim, entre todos os benefícios previdenciários,


tendo em vista que o juiz, no processo previdenciário, deve buscar garantir a
maior proteção social, efetivando o Princípio Constitucional da Tutela Adequada
quando o autor da lide preencher os requisitos para a concessão de benefício
diverso do requerido expressamente na petição inicial (BRADBURY, 2020).

2.9 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DE INTERPRETAÇÃO


RESTRITIVA SEM AMPARO LEGAL
O princípio da proibição da interpretação restritiva sem amparo legal
implica a obrigação do agente público ser proibido de interpretar normas de
Seguridade Social de acordo com suas impressões pessoais. Neste sentido é
obrigação do servidor interpretar as normas de Seguridade Social de acordo com
a sua literalidade e, quando houver dúvidas, utilizar-se dos princípios até então
estudados, a fim de preservar o espírito da norma jurídica, e não a desvirtuar ou
deturpá-la em detrimento dos direitos do beneficiário.

E
IMPORTANT

O Superior Tribunal de Justiça – STJ – reconheceu expressamente a existência


e aplicabilidade do princípio da proibição de interpretação restritiva sem amparo legal no
âmbito do Recurso Especial nᵒ 1.243.760/PR e no Recurso Especial nᵒ 1.082.631/RS, ambos
do ano de 2013.

122
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

DECIFRANDO UM ALGORITMO: “IRREPETIBILIDADE DE ALIMENTOS NO


SISTEMA PREVIDENCIÁRIO”

1 Considerações prévias

Um dos temas mais polêmicos, na passagem dos séculos, tem sido a


discussão doutrinária e jurisprudencial que se trava em torno da irrepetibilidade
de valores recebidos da previdência social, por aposentados e pensionistas, que,
tendo obtido a tutela antecipada (de proventos, pensões ou outros benefícios),
mediante decisão provisória ou na sentença, na linha da jurisprudência então
dominante nos tribunais regionais federais e no Superior Tribunal de Justiça,
viram-se, de uma hora para outra, reféns da autarquia previdenciária, em razão
da reviravolta da jurisprudência do STJ, a partir do REsp 1.401.560/MT.

2 Irrepetibilidade de valores recebidos da previdência social

Tendo em vista a natureza e os contornos especiais da lide previdenciária,


a doutrina tem entendido que “não se deve exigir a restituição dos valores que
foram recebidos de boa-fé pelo beneficiário da previdência social em decorrente
de ordem judicial”.1 A tese sustentada pela autarquia previdenciária (INSS), em
favor da devolução das quantias recebidas pelo beneficiário da decisão judicial
busca assento no art. 115, II da Lei 8.213/91, segundo o qual, dentre outras
hipóteses: “Podem ser descontados dos benefícios: II – pagamento indevido de
benefício além do devido”; entendendo a maioria dos operadores do direito,
advogados previdenciários ou previdenciaristas, que no caso não se trata de
“pagamento indevido”, porquanto feito com base numa determinação judicial.

A questão é controversa, e não se pacificará enquanto a orientação não


vier a prevalecer na mais elevada instância judiciária do País (STF), na definição
de questão constitucional, que tem se debruçado sobre o tema.

3 Irrepetibilidade de benefício previdenciário no Superior Tribunal


de Justiça

No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, firmou-se, originariamente,


o entendimento no sentido da impossibilidade de devolução dos proventos
recebidos a título de benefício previdenciário, devido ao seu caráter alimentar,
aplicando nesse caso o princípio da “irrepetibilidade dos alimentos”. [...]

Nessa mesma linha, seguiram-se os julgamentos sobre o mesmo tema


no AgRg no AG 1421204/RN;2 no AgRg no AREsp 22854/PR;3 no AgRg no Ag
1249809/RS),4 seguindo antiga tradição e clássica posição da jurisprudência
em favor do direito previdenciário dos aposentados e pensionistas e outros

123
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

beneficiários da previdência social, como é da natureza do INSS, que estruturado


e concebido para tutelar os direitos e interesses dos beneficiários da previdência
social, acabou por se notabilizar mais pela defesa dos interesses, nem sempre
legítimos, mas financeiros, da autarquia previdenciária. [...]

4 Irrepetibilidade de benefício previdenciário no Supremo Tribunal Federal

Provocado a se manifestar sobre o tema da “irrepetibilidade de benefício


previdenciário”, o Supremo Tribunal Federal alinhou-se à orientação do Superior
Tribunal de Justiça, favorável à pretensão do beneficiário da previdência social, [...]

8 Distinguishing na irrepetibilidade de benefício previdenciário

A propósito da devolução de valores de benefício recebida por força


de decisão judicial (tutela antecipada ou sentença final, acórdão ou decisão
monocrática do tribunal), Alan da Costa Macedo, em artigo sobre o tema15, faz a
defesa da tese da irrepetibilidade dos valores recebidos, com base, dentre outros,
nos seguintes fundamentos:

[...] Sabemos que o tema dos recursos repetitivos acaba por confundir-
se com a técnica de aplicação dos precedentes. Firmado um precedente,
este acaba por ser seguido nos casos similares ou que se identifiquem
com a mesma tese estabelecida.
Ocorre que se o caso posterior for diverso daquele retratado no
precedente e tiver peculiaridades que lhes são próprias, que reclamam
novas valorações hermenêuticas, estará aberto o caminho para que o
órgão jurisdicional afirme não haver precedente, por se tratar de novo
caso, ainda não examinado pelos Tribunais firmadores da tese invocada.
Haverá, nesse caso, o que chamamos de distinguishing, a afastar a
aplicação do precedente ou da tese firmada naquele. O precedente
pode, enfim, ser afastado ou mesmo mitigado, se o novo caso que se
apresenta contém uma particularidade que merece novo tratamento
ou solução diversa.
Uma das questões que vão, certamente, provocar as manifestações em
“distinguishing” é o fato de, em alguns casos, não remanescer qualquer
benefício previdenciário após a cessação daquele considerado indevido
por força de tutela antecipada revogada. Terão, os beneficiários,
a mesma obrigação de devolver? Como e com o que devolverão se
muitos deles não têm nem mesmo o bem de família (impenhorável)?
Estamos certos que, apesar de sabermos das recentes decisões do STF
inadmitindo Recurso Extraordinário sobre o tema, sob o argumento
de que a matéria é infraconstitucional, outros argumentos de ordem
Constitucional podem ser utilizados pelos advogados do país a tentar
a mudança de entendimento da Corte Suprema e a reapreciação da
matéria. Até porque a execução dos valores devidos necessitará do
transito em julgado da decisão que declarou o dever de devolução ou
o direito do INSS de cobrá-lo.
O próprio Supremo Tribunal Federal por diversas vezes recorreu
ao distinguish, até mesmo para afastar a incidência de sua própria
súmula. [...]

124
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Particularmente, não vemos razão para que a questão relativa à


irrepetibilidade (ou repetibilidade) dos valores recebidos por beneficiários da
previdência social, não chegue ao Supremo Tribunal Federal, desde que um hábil
advogado consiga enquadrar a decisão no caso concreto numa das hipóteses
previstas no art. 102, I a IV 16 da Constituição; mesmo porque, como costumo
dizer: “Quando o juiz quer, quer, e quando não quer, não quer e ponto final”; e,
num desses eventuais recursos extraordinários, os atuais ministros da Suprema
Corte podem querer, na certeza de que um dia serão, tanto quanto os atuais
desvalidos da previdência social, um aposentado.

9 Cobrança judicial de benefício previdenciário indevidamente pago

Recentemente, tem-se propagado diversas ações de execução fiscal do


INSS contra os beneficiários da previdência social (aposentados e pensionistas),
que tiveram reformada a decisão de tutela antecipada ou julgada improcedente a
ação previdenciária, com decisão antecipatória liminar, o que tem provocado um
verdadeiro tsunami nas suas parcas finanças.17

Ainda que fosse possível a repetição de benefício previdenciário, havido


por força de tutela antecipada ou de sentença reformada, a forma de cobrança
dessa verba não poderia ser feita a título de compensação, administrativamente,
em virtude da vedação imposta pelo art. 1.707 do Código Civil, nem mediante
execução fiscal, porquanto inexiste na Lei 8.213/91 nada de semelhante ao disposto
na Lei 8.112/90 (art. 47, parágrafo único), que autoriza, no caso da não quitação do
débito pelo servidor, a sua inscrição em dívida ativa.

Em se tratando de prestação de caráter alimentar, é incabível falar-se em


benefício previdenciário indevido, porque, até que a decisão concessória perca a
sua eficácia –, por ter sido a liminar cassada ou a ação sido julgada improcedente
–, o que se tem, como realidade jurídica, são prestações devidas, em caráter
temporário e temporal, mas devidas, e que apenas se tornam indevidas para
o futuro, mas, nesse caso, o pagamento cessa, nada havendo a ser repetido
(cobrado). [...]

10 Miragem jurisprudencial e sucumbência induzida

No fundo, os beneficiários da previdência social, que estão sendo


cobrados pelo INSS, em função de valores recebidos a título de tutela antecipada,
ou de liminar em ação previdenciária julgada improcedente, foram vítimas de
verdadeira “miragem” jurisprudencial, pois somente se dispuseram a pleitear
a concessão da tutela antecipada, nas circunstâncias em que a pleitearam,
porque a jurisprudência que se formara no Superior Tribunal de Justiça lhes era
majoritariamente favorável, consolidada no sentido de que, em razão da sua
natureza alimentar, os valores recebidos a título de benefício previdenciário

125
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

eram “irrepetíveis”; não sendo justo nem équo que uma reviravolta na orientação
dessa corte superior os exponha ao sacrifício de ter de devolver valores recebidos
de boa-fé, quando os seus benefícios (proventos, pensões, auxílios etc.) não são
suficientes nem para manter a sua sobrevivência.

A nosso ver, o que está acontecendo com os aposentados e pensionistas


da previdência social é também um típico caso de sucumbência induzida por
uma jurisprudência então majoritária, pelo que não tem cabimento, na espécie,
qualquer condenação a título de verbas sucumbenciais e honorários advocatícios.

11 Conclusão

Com essas ponderações, espera-se que os aplicadores do direito, nos


tribunais superiores, liguem as antenas da sensibilidade social e do bom senso,
e ponham os seus neurônios a serviço do modus operandi do sistema jurídico
processual, especialmente o macrocosmo processual, composto de macrossistema,
microssistema e sistema periférico, porque neste último está a fórmula que
decifra o algoritmo19 da irrepetibilidade dos valores alimentares recebidos da
previdência social.

NOTAS:

1 SAVARIS, José Antônio. Direito processual previdenciário, 6 ed. Curitiba:


Alteridade Editora, 2016, p. 399.

2 “ADMINISTRATIVO. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. PAGAMENTO


INDEVIDO. BOA-FÉ. DEVOLUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. A
jurisprudência pacífica desta Corte é no sentido da impossibilidade dos descontos,
em razão do caráter alimentar dos proventos, percebidos a título de benefício
previdenciário, aplicando ao caso o Princípio da Irrepetibilidade dos alimentos.
Precedentes. Súmula 83/STJ. Agravo regimental improvido”.

3 “AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO. TUTELA


ANTECIPADA. REVOGAÇÃO. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS
EM RAZÃO DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA. DESNECESSIDADE. BOA-
FÉ DO SEGURADO. HIPOSSUFICIÊNCIA. NATUREZA ALIMENTAR DO
BENEFÍCIO. 1. Impossibilidade da devolução dos valores recebidos a título
de benefício previdenciário, por força de antecipação de tutela posteriormente
revogada, em razão do seu caráter alimentar. Precedentes. 2. A questão tratada
nos autos foi decidida sem a necessidade de afastamento da norma jurídica
por inconstitucionalidade, sendo, portanto, desnecessária a observância do que
dispõe o art. 97 da Constituição Federal. 3. Agravo Regimental desprovido”.

4 “AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL


CIVIL. VALORES RECEBIDOS POR FORÇA DE TUTELA ANTECIPADA
POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 83/STJ. 1. O Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento

126
TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL

no sentido de que, em se tratando de verbas de natureza alimentar, como as


decorrentes de benefícios previdenciários, os valores pagos pela Administração
Pública, por força de antecipação de tutela posteriormente revogada, não
devem ser restituídos. Incide a Súmula 83/STJ. 2. Agravo regimental a que se
nega provimento”.

5 AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REMESSA OFICIAL. APELAÇÃO.


PREVIDENCIÁRIO. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.
SINDICATO. AUTORIZAÇÃO ASSEMBLEAR. PRELIMINARES REJEITADAS.
LISTA DE SUBSTITUÍDOS. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO 1.401.560/MT.
AMPLITUDE. MEDIDAS JUDICIAIS ANTECIPATÓRIAS. PRECARIEDADE.
PROVISORIEDADE. REVERSIBILIDADE. ANÁLISE NOS PRÓPRIOS AUTOS
E NO MESMO JUÍZO EM QUE REVOGADA/REFORMADA A DECISÃO
JUDICIAL ANTERIOR. PRINCÍPIO DO JUÍZO NATURAL. ARTIGO 933, DO
CPC/2015. INAPLICABILIDADE. DA MIHI FACTUM, DABO TIBI JUS. COISA
JULGADA. ABRANGÊNCIA TERRITORIAL. HONORÁRIOS DE ADVOGADO.
MULTA DIÁRIA. [...] 6. O Recurso Especial nᵒ 1.401.560/MT, decidido pelo C.
Superior Tribunal de Justiça na sistemática dos recursos repetitivos, consagrou a
tese de que: "A reforma da decisão que antecipa a tutela obriga o autor da ação a
devolver os benefícios previdenciários indevidamente recebidos". Não se encontra
abrangida a hipótese de devolução de prestações de natureza assistencial. 7. A
revogação da tutela antecipada, no CPC/73, ou das tutelas de urgência, nos termos
do CPC/2015, com a consequente reposição de eventuais prejuízos sofridos pelo
réu, é possível, e deve ser objeto de análise pelo próprio órgão judiciário que
proferiu a decisão anterior, sob o risco de malferir-se o princípio do juízo natural
(art. 5ᵒ, inciso LIII, da Constituição Federal). 8. Ademais, mesmo nos casos em que
a devolução não foi determinada expressamente, a cobrança é possível porque
decorre de lei, e não depende de uma nova decisão judicial. Trata-se de efeito
anexo da sentença. [...] (APREE 0005906-07.2012.4.03.6183/SP)

6 Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-


mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos
ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem
de tê-la provida por sua família. [...]

7 MACEDO, Alan da Costa. “Distinguishing para a não devolução de


valores recebidos de boa-fé por força de tutela antecipada – a luta por justiça
continua” http://www.sitraemg.org.br/post_type_artigo/distinguishing-para-
nao-devolucao-de-valores-recebidos-de-boa-fe-por-forca-de-tutela-antecipada-
luta-por-justica-continua/

8 “Art. 102. [...] III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas


decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar
dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou
lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. [...]”

127
UNIDADE 2 — TEORIA GERAL DO DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

9 Quero (J. E. Carreira Alvim), como um dos coautores desta obra, deixar
registrada, aqui, para a posteridade, a minha indignação com a decisão do STJ
(REsp 1.401.560/MT), que, de forma infeliz –, e não é a primeira vez –, autorizou
o INSS a recobrar dos aposentados da previdência social o que receberam a mais
por força de liminar, posteriormente revogada; e tenha o STF dispensado os juízes
paulistas de devolver ao Erário estadual o que receberam, indevidamente, acima
do teto constitucional (Cf. O Globo de 8/8/208, 1ᵒ Caderno, p. 9: “Juízes de SP não
precisam devolver auxílio que ultrapassou teto salarial”). Afinal, que justiça é
essa, difícil de ser alcançada por quem tenha uma noção mínima de justiça justa?

10 Nesse recurso são indicados os seguintes precedentes: REsp. nᵒ 867.718/


PR; REsp. nᵒ 440.540/SC; AgRg no AREsp. n. 225.034/BA; AgRg no AREsp.
252.328/CE; REsp. 132.2051/RO; AgRg no AREsp 188047/AM; AgRg no REsp. n.
800.40/SC.

11 Matematicamente, o algoritmo é uma sequência finita de regras,


raciocínios ou operações que, aplicada a um número finito de dados, permite
solucionar classes semelhantes de problemas.

FONTE: Instituto de Estudos Previdenciários. Autores: J. E. Carreira Alvim, doutor em direito


pela UFMG e Luciana Gontijo Carreira Alvim Cabral, advogada cível, criminal e previdenciarista
no Rio de Janeiro (coautores); com a colaboração de Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro,
especialista em Previdência Social. Versão resumida. Íntegra do estudo está disponível
para leitura em: <https://www.ieprev.com.br/conteudo/categoria/3/4252/decifrando_um_
algoritmo_lirrepetibilidade_de_alimentos_no_sistema_previdenciariorn#:~:text=A%20
jurisprud%C3%AAncia%20pac%C3%ADfica%20desta%20Corte,Princ%C3%ADpio%20da%20
Irrepetibilidade%20dos%20alimentos.&text=DEVOLU%C3%87%C3%83O%20DOS%20
VALORES%20PAGOS%20EM%20RAZ%C3%83O%20DA%20MEDIDA%20ANTECIPAT%C3%93RIA>.
Acesso em: 19 jul. 2020.

128
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os princípios interpretativos da Seguridade Social não estão necessariamente


previstos de forma expressa no texto constitucional, ou mesmo em outras
normas jurídicas, diferente do que ocorre com os princípios constitucionais
gerais e específicos, estudados anteriormente.

• Estes princípios são de grande importância para a interpretação das normas


jurídicas de seguridade social.

• São princípios resultantes de conclusões doutrinárias e jurisprudenciais,


e inclusive, não raro ratificados por meio de atos normativos de órgãos
relacionados à Seguridade Social.

• O princípio do tempus regit actum preconiza que o tempo rege o ato. Já o


princípio da ultratividade se relaciona aos fatos geradores do pedido de um
determinado serviço ou benefício, não importando se a norma que gerou
o direito ao serviço ou benefício esteja eventualmente revogada total ou
parcialmente posteriormente ao momento do pedido.

• O princípio da irretroatividade é uma ferramenta de hermenêutica jurídica


(interpretação) da norma de Seguridade Social no tempo e no espaço. Define
este princípio que não é possível que a lei retroaja no tempo para a concessão
de um benefício, não importando inclusive se esta norma jurídica é benéfica ou
gravosa ao beneficiário. A exceção a este princípio ocorre quando a própria lei
define que terá efeitos retroativos.

• O princípio da aplicação imediata da norma constitucional é uma exceção


ao princípio da irretroatividade. Pois, se a nova norma previdenciária for
de status constitucional, sua aplicabilidade será imediata, inclusive gerando
efeitos retroativos aos benefícios concedidos antes da sua vigência e eficácia.

• Conforme o Princípio da Retrospectividade, desde que a norma jurídica não


altere qualquer questão de natureza material – o direito em si – esta poderá
irradiar seus efeitos sobre as discussões em andamento, a fim de atingir futuras
concessões de serviços e benefícios.

• O princípio da irrepetibilidade dos benefícios previdenciários decorre da


natureza alimentar dos benefícios da seguridade social, e, com base nisso,
determina que não é necessária, nem exigível, a devolução de parcelas de
benefícios recebidos pelo beneficiário de forma indevida.

129
• O princípio da proteção social dispõe que a interpretação das leis da seguridade
social deve ser realizada com vista a garantir a maior proteção social, analisando
a realidade concreta e o contexto fático do pretenso beneficiário.

• O princípio do direito ao melhor benefício é praticamente vinculado à


Previdência Social, não tendo espaço, na prática, na Saúde e na Assistência
Social. De acordo com esse princípio, é obrigação do servidor do INSS – e não
opção – verificando haver outro benefício disponível, oferecer ao beneficiário o
melhor benefício.

• O princípio da fungibilidade da tutela previdenciária é intimamente


conectado com o princípio do direito ao melhor benefício. Este princípio tem
sua aplicabilidade no âmbito judicial, na medida em que, caso o beneficiário
esteja requerendo judicialmente um benefício, e exista um outro que lhe seja
mais benéfico, deverá o Poder Judiciário conceder o benefício mais vantajoso,
mesmo que o beneficiário tenha requerido equivocadamente um benefício
menos vantajoso quando do ajuizamento da ação judicial.

• O princípio da proibição da interpretação restritiva sem amparo legal implica a


obrigação do agente público ser proibido de interpretar normas de Seguridade
Social de acordo com suas impressões pessoais.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

130
AUTOATIVIDADE

1 Os princípios são essenciais para compreendermos a finalidade de


determinada matéria, poder compreender a estrutura que fundamenta a
essência pela qual se estabelece determinado propósito para compreender e
aplicar uma norma. Com base em nossos estudos, discorra sobre a distinção
entre os princípios interpretativos da Seguridade Social e os princípios
constitucionais relativos à matéria.

2 Conforme estudamos o princípio da fungibilidade da tutela previdenciária


é intimamente conectado com o princípio do direito ao melhor benefício,
ambos visam conceder aos beneficiários, desde que cumpridos os requisitos,
o benefício que lhe seja mais vantajoso. Diante disto, discorra sobre cada
um destes princípios e qual a diferença na sua aplicação.

3 Os princípios interpretativos da Seguridade Social são fundamentais para


devida aplicação das normas jurídicas neste ramo, sendo resultantes de
conclusões doutrinárias e jurisprudenciais ao longo do tempo. Com relação
a estes princípios, analise as sentenças a seguir:

I- O princípio da proibição da interpretação restritiva sem amparo legal


prevê a obrigação do servidor interpretar as normas de Seguridade
Social de acordo com a sua literalidade, sem levar em consideração sua
visão pessoal.
II- O princípio da irretroatividade prevê que a lei não pode retroagir no
tempo para a concessão de um benefício, desde que o ato seja gravoso
ao beneficiário.
III- O princípio da irrepetibilidade dos benefícios previdenciários prevê que
não é necessária a devolução de parcelas recebidas de forma indevida e
devendo ser aplicado conjuntamente com o princípio constitucional da
dignidade da pessoa humana.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença II está correta.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e II estão corretas.

131
REFERÊNCIAS
BRADBURY, L. C. S. La. Curso prático de direito e processo previdenciário. 3.
ed., São Paulo: Atlas, 2020.

BRAGANÇA, K. H. Manual de direito previdenciário. 8. ed., Rio de Janeiro:


Forense, 2012.

BRASIL. Lei nᵒ 13.981, de 23 de março de 2020. Altera a Lei nᵒ 8.742, de 7 de


dezembro de 1993 (Lei Orgânica da Assistência Social), para elevar o limite
de renda familiar per capita para fins de concessão do benefício de prestação
continuada. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/L13981.htm. Acesso em 10 jul. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 13.638, de 22 de março de 2018a. Altera a Lei nᵒ 8.686, de 20


de julho de 1993, para estabelecer novo valor para a pensão especial devida
à pessoa com a deficiência física conhecida como Síndrome da Talidomida,
instituída pela Lei nᵒ 7.070, de 20 de dezembro de 1982. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13638.htm. Acesso em:
10 jul. 2020.

BRASIL. Decreto nᵒ 9.396, de 30 de maio de 2018b. Altera o Decreto nᵒ 5.209,


de 17 de setembro de 2004, e o Decreto nᵒ 7.492, de 2 de junho de 2011, para
reajustar valores referenciais de caracterização das situações de pobreza e de
extrema pobreza e os de benefícios do Programa Bolsa Família. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9396.htm.
Acesso em: 9 jul. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 13.134, de 16 de junho de 2015. Altera as Leis nᵒ 7.998, de 11


de janeiro de 1990, que regula o Programa do Seguro-Desemprego e o Abono
Salarial e institui o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), nᵒ 10.779, de 25
de novembro de 2003, que dispõe sobre o seguro-desemprego para o pescador
artesanal, e nᵒ 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os planos de
benefícios da Previdência Social; revoga dispositivos da Lei nᵒ 7.998, de 11 de
janeiro de 1990, e as Leis nᵒ 7.859, de 25 de outubro de 1989, e no 8.900, de 30 de
junho de 1994; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13134.htm. Acesso em: 16 jul. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 12.190, de 13 de janeiro de 2010. Concede indenização por dano


moral às pessoas com deficiência física decorrente do uso da talidomida, altera
a Lei no 7.070, de 20 de dezembro de 1982, e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12190.htm.
Acesso em: 10 jul. 2020.

132
BRASIL. Lei nᵒ 10.836, de 9 de janeiro de 2004a. Cria o Programa Bolsa Família
e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2004-2006/2004/Lei/L10.836.htm. Acesso em: 9 jul. 2020.

BRASIL. Decreto nᵒ 5.209 de 17 de setembro de 2004b. Regulamenta a Lei no


10.836, de 9 de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa Família, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2004/Decreto/D5209.htm. Acesso em: 9 jul. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização


da Assistência Social e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm. Acesso em: 11 jul. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização


da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso
em: 8 jul. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições


para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.
htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%208.080%2C%20DE%2019%20DE%20
SETEMBRO%20DE%201990.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20as%20
condi%C3%A7%C3%B5es%20para,correspondentes%20e%20d%C3%A1%20
outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 11 jul. 2020.

BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. 1988.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 9 jul. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 7.070, de 20 de dezembro de 1982. Dispõe sobre pensão especial


para os deficientes físicos que especifica e dá outras providencias. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/1980-1988/L7070.htm. Acesso em:
10 jul. 2020.

CAIXA ECONÔMICA SOCIAL. Bolsa família, programas sociais. Disponível


em: http://www.caixa.gov.br/programas-sociais/bolsa-familia/Paginas/default.
aspx. Acesso em: 8 ago. 2020.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7.


ed., 9. reimp. Coimbra: Almedina, 2003.

CAPPELLETTI, M.; GARTH, B. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sérgio Antonio


Fabris, 1988.

133
KERTZMAN, I. Guia prático da previdência social. 2. ed. São Paulo: Saraiva 2012.

LEITÃO, André Studart. Manual de direito previdenciário. 5. ed., São Paulo:


Saraiva 2018.

SANTOS, M. F. dos. Direito previdenciário esquematizado. 9. ed., São Paulo:


Editora Saraiva, 2019.

SARMENTO, D. Dignidade da pessoa humana: conteúdo, trajetórias e


metodologia. Belo Horizonte: Fórum, 2016.

SILVA, Ivete Sacramento de Almeida. Benefícios assistenciais. Revista Jus


Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3803, 29 nov. 2013. Disponível em: https://jus.
com.br/artigos/25936. Acesso em: 16 jul. 2020.

TSUTIYA, A. M. Curso de direito da seguridade social. 4. ed. São Paulo:


Saraiva, 2020.

134
UNIDADE 3 —

FINANCIAMENTO DA
SEGURIDADE SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a definição da relação jurídica obrigacional de custeio da


seguridade social;
• delinear a autonomia desta relação jurídica;
• estimular a reflexão sobre as hipóteses e consequências do inadimple-
mento das obrigações pecuniárias em seguridade social;
• debater as espécies de contribuição para a seguridade social;
• desenvolver reflexões a um pensamento crítico sobre a importância da
manutenção do sistema de seguridade por e para toda a sociedade.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

TÓPICO 2 – ESPÉCIES DE CONTRIBUIÇÕES PARA O CUSTEIO


DA SEGURIDADE SOCIAL

TÓPICO 3 – TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES,


INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS
DA SEGURIDADE SOCIAL

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

135
136
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico!

Seja bem-vindo ao Tópico 1 da nossa última unidade de Seguridade Social.

Neste tópico, iremos estudar de que forma advém os recursos que


custeiam a seguridade social, suas fontes de custeio, ou seja, os meios econômicos
e financeiros obtidos e determinados à concessão e à manutenção das prestações
da Seguridade Social.

Como já vimos, a seguridade social é financiada por toda a sociedade, de


forma direta e indireta, mas de que modo se dá esta relação obrigacional entre o
contribuinte e o Estado? Em que situações somos obrigados a contribuir para a
seguridade social (saúde, assistência social e previdência)?

Buscaremos tratar destas questões, buscando compreender de que modo


estes recursos são aplicados à finalidade do direito postulatório a benefício.
Veremos também sobre a autonomia da relação de custeio desta em relação às
contraprestações da seguridade social e os conselhos de gestão descentralizada
da seguridade social no âmbito da saúde, previdência social e assistência social.

Ao final, separamos uma leitura complementar e atividades para exercitar


os seus conhecimentos.

Bons estudos!

2 DEFINIÇÃO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL


Prezado acadêmico! Aqui veremos que a seguridade social é custeada de
diversas formas, por diversas fontes, formando uma base diversificada de custeio.
Entenda que, quando falamos de relação obrigacional, precisamos ter em mente
que em sede de seguridade social, de um lado sempre teremos o Estado e do
outro o contribuinte, seja pessoa física ou jurídica.

A Constituição Federal prevê, em seu artigo 195, que:

137
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,


de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I- do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na
forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
II- do trabalhador e dos demais segurados da previdência social,
podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com
o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição
sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de
Previdência Social;
III- sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV- do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a
ele equiparar (BRASIL, 1988, s.p.).

Atente-se ao fato de que o artigo 11 da Lei de nᵒ 8.212/1991 determina que,


no âmbito federal o orçamento da seguridade social será composto por receitas
advindas da União, contribuições sociais e outras fontes. Na sequência, o artigo 16
da mesma lei disciplina que se estes recursos forem insuficientes para o custeio do
orçamento da seguridade social, a União será responsável direta por cobrir o déficit.

Esta relação de dois lados pode ter variações na relação obrigacional,


sendo que ora o Estado pode figurar como credor, ora como devedor, a depender
do objeto relação obrigacional. Dentro da relação obrigacional da relação
jurídica de custeio, o Estado é naturalmente o credor, e o contribuinte, devedor.
Situação esta que, note, se inverte quando o contribuinte, pessoa física, requer
um benefício previdenciário e o Estado tem a obrigação de fornecer as prestações
pecuniárias de natureza previdenciária, por exemplo, em que o Estado é devedor
e o contribuinte, credor.

Neste sentido e direção é a lição de Castro (2019, p. 108):

Obrigação previdenciária de custeio é espécie do gênero obrigação


tributária. Decorre da relação jurídica representada pelo vínculo
entre o ente público responsável pela arrecadação das contribuições,
acréscimos de mora e penalidade pecuniárias devidos, por um lado, e
por outro, o responsável pelo cumprimento das obrigações previstas
em lei, relativas ao recolhimento de contribuições previdenciárias,
acréscimos de mora ou pagamento das penalidades pecuniárias
decorrentes do descumprimento de obrigações.

Assim, entende-se a obrigação guardada na relação jurídica de custeio


em sede de seguridade social, como uma espécie de obrigação tributária. Tanto
é assim que a Receita Federal do Brasil é o órgão responsável por arrecadar
e fiscalizar o regular cumprimento das contribuições previdenciárias, por
exemplo. A arrecadação das contribuições de natureza previdenciária se dá
pela Guia de Recolhimento da União – GRU –, que é de competência da Receita
Federal do Brasil.

138
TÓPICO 1 — RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

FIGURA 1 – TELA DO SITE DA RECEITA FEDERAL BRASIL PARA EMISSÃO DE GRU

FONTE: <http://sal.receita.fazenda.gov.br/PortalSalInternet/faces/pages/calcContribuicoesCI/
filiadosApos/selecionarOpcoesCalculoApos.xhtml>. Acesso em: 6 ago. 2020

Atenção: a Guia de Recolhimento da União – GRU – é emitida diretamente


pelo site da Receita Federal do Brasil, por meio do sistema chamado Sistema de
Acréscimos Legais – SAL –, ou pode ainda ser preenchida a mão por quem não
possui acesso à internet e paga em instituições financeiras.

E
IMPORTANT

A Guia de Recolhimento da União (GRU) é um dos documentos instituídos


pelo Ministério da Economia (antigo Ministério da Fazenda) para recolhimento das receitas
de órgãos, fundos, autarquias, fundações e demais entidades integrantes dos orçamentos
fiscal e da seguridade social, tais como taxas (custas judiciais, emissão de passaporte
etc.), aluguéis de imóveis públicos, serviços administrativos e educacionais (inscrição de
vestibular/concursos, expedição de certificados pelas Universidades Públicas Federais),
multas (da Polícia Rodoviária Federal, do Código Eleitoral, do Serviço Militar etc.), entre
outras. FONTE: <https://bit.ly/3n4JMVP>. Acesso em: 5 ago. 2020.

139
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

A formação da relação obrigacional se dá a partir do momento em que


surge o fato gerador, que, em sede de previdência é, por exemplo, o exercício
de uma atividade remunerada. Este fato gerador cria uma relação obrigacional
entre o contribuinte e o Estado, obrigando o primeiro a verter as contribuições
previdenciárias em relação ao segundo. O mesmo ocorre em relação ao eventual
empregador, que também estará obrigado a contribuir.

O que é uma obrigação, ou uma relação obrigacional? Monteiro (2009,


p. 54), nos diz que: “A obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório,
estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal
econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-
lhe o adimplemento através de seu patrimônio”.

A natureza de relação obrigacional da seguridade social pode ser verificada


com maior facilidade quando analisamos uma característica bastante peculiar sob
o aspecto do seu financiamento: a obrigatoriedade.

Isto porque, uma vez que exerça atividade remunerada, todo brasileiro
é obrigado a se filiar ao Regime Geral de Previdência Social – RGPS. Uma vez
que esteja trabalhando, o cidadão obrigatoriamente terá que contribuir com a
Previdência Social por meio do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, exceto
quando vinculado a Regime Próprio, o que também será estudado adiante.

FIGURA 2 – ILUSTRAÇÃO DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

FONTE: <http://www.odireitoeeu.com/2019/02/22/direito-das-obrigacoes-obrigacoes-civis/>.
Acesso em: 13 set. 2020.

De outro lado, o empregador ou equiparado, também é obrigado a


contribuir para o sistema de seguridade social, seja para a previdência social
propriamente dita, enquanto espécie, ou para a saúde e assistência social por
meio de contribuições específicas que estudaremos adiante.

140
TÓPICO 1 — RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

Seja como for, você consegue compreender que não cabe, aqui, a
manifestação de vontade do cidadão, ou ainda, que esta é absolutamente
irrelevante? Isto se deve ao fato de que o Estado torna esta vinculação e contribuição
compulsória. Tal fato se deve à natureza de direito público da seguridade social,
mas o que é direito público?

O direito público é o ramo da ciência jurídica que trata do conjunto


de normas jurídicas que organizam os interesses estatais, tanto internos como
externos. No caso da seguridade social temos que este se enquadra como um
ramo do direito público interno, posto que trata da soberania do Estado sobre o
povo em assuntos domésticos.

Dower (2001, p. 5) nos ensina que as normas de direito público são as que
regulam as relações em que o Poder Público (União, Estado Membro, Município)
é parte. Deste modo, “considerando que o Estado intervém na relação jurídica
enquanto autoridade estatal, a norma de direito público é aquela que se refere aos
interesses do Estado”.

Para além destas considerações é importante contextualizar a seguridade


social enquanto parte do Direito Público, como uma espécie de contraponto à
atuação Estatal, uma vez que é um direito social. Neste sentido, somos brindados
com a lição de Canotilho (1993, p. 541), quando aponta que a função defensiva dos
direitos dos cidadãos possui dupla perspectiva: em um plano jurídico-objectivo,
constituem “normas de competência negativa para os poderes públicos, proibindo
fundamentalmente as ingerências destes na esfera jurídica individual; um
plano jurídico-subjectivo, implicam no poder de exercer positivamente direitos
fundamentais (liberdade positiva) e de exigir omissões dos poderes públicos, de
forma a evitar agressões lesivas por parte dos mesmos (liberdade negativa)”.

Alexy (2011, p. 443) vem no mesmo sentido e direção, quando afirma:

[...] de acordo com a interpretação liberal clássica, direitos fundamentais


são “destinados, em primeira instância, a proteger a esfera de
liberdade do indivíduo contra intervenções dos Poderes Públicos; eles
são direitos de defesa do cidadão contra o Estado”. Diretos de defesa
do cidadão contra o Estado são direitos a ações negativas (abstenções)
do Estado. Eles pertencem ao status negativo, mais precisamente ao
status negativo em sentido amplo. Seu contraponto são os direitos a
uma ação positiva do Estado, que pertencem ao status positivo, mais
precisamente ao status positivo em sentido estrito.

Assim, bem delineados os aspectos da natureza de relação obrigacional


da seguridade social enquanto parte do direito público, reforçando o patamar
da seguridade social enquanto direito social, visando à preservação do bem-
estar social.

141
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

DICAS

Recomendamos uma pausa para a leitura da tese de doutorado de Dimitri


Brandi de Abreu, intitulada “A Previdência Social como instrumento de intervenção
do Estado brasileiro na economia”, apresentado na Universidade de São Paulo. A tese
aborda, dentre outros temas, aspectos relevantes e uma visão muito crítica sobre a
relação jurídica de custeio da seguridade social. Você pode acessar o conteúdo em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2133/tde-26082016-141751/publico/
DimitriBrandideAbreuPrevienciasocialcomoinstrumentoIntegral.pdf.

3 AUTONOMIA DA RELAÇÃO DE CUSTEIO


Quando falamos da autonomia da relação de custeio da seguridade social,
precisamos compreender que o custeio não tem uma relação direta com qualquer
cobertura, mas indireta, por ser requisito formador da base de direito postulatório
a benefício. De modo que de um lado, temos a relação jurídica de custeio, e de
outro, a relação de benefícios. Assim, a relação jurídica de custeio possui completa
autonomia com relação a qualquer outro aspecto da seguridade social.

Neste sentido, a lição clássica e atemporal de Coimbra (1997, p. 235), que


nos diz que:

Nesta, que ora examinamos, sujeito ativo é o Estado, passivo cidadão


ou a empresa, e o objeto material da prestação a quantia em dinheiro
devida pelo sujeito passivo ou ativo. Não há correspondência entre a
obrigação de custeio e a de amparo. A relação de custeio é autônoma,
forma-se e se extingue por modos e em ocasiões diversas das que
regula as demais relações jurídicas de Direito Previdenciário.

O caráter compulsório do regime indica que, independentemente da


sua vontade, todos os trabalhadores são automaticamente filiados ao sistema.
Quanto ao caráter contributivo, exige, por parte do segurado, o pagamento
de contraprestação financeira, a fim de que possa vir a receber os benefícios e
serviços previdenciários (BRADBURY, 2020).

Isto implica não só a relação autônoma de custeio em relação à previdência


social, em que a contribuição é essencial para a percepção de benefícios, mas
também para com a saúde e a assistência social de forma direta ou indireta, pois
sempre haverá um agente financiador e um agente financiado nesta relação.

O fato de existir uma relação jurídica de custeio, em que há uma


obrigatoriedade do seu cumprimento (pagamento de prestação pecuniária)
por parte do ente passivo não significa, necessariamente, presunção de direito
142
TÓPICO 1 — RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

à concessão de benefício, daí dizer-se que a relação jurídica de custeio em


seguridade social é autônoma.

DICAS

Recomendamos a leitura do artigo “Seguridade social: redefinindo o alcança


da cidadania”, divulgado pela Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, que você
pode acessar em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4347/1/bps_n17_vol01_
seguridade_social.pdf.

4 OS CONSELHOS DE GESTÃO DESCENTRALIZADA DA


SEGURIDADE SOCIAL
É importante lembrar que a gestão da seguridade social é composta pela
saúde, assistência social e previdência social. Temos uma gestão descentralizada,
direcionada especificamente a cada uma destas áreas, a saber:

● Saúde: Conselho Nacional de Saúde – CNS, previsto no parágrafo segundo do


artigo primeiro da Lei nᵒ 8.142/1990 e na Lei nᵒ 8.080/1990. O Conselho Nacional
de Saúde – CNS – é uma instância colegiada, deliberativa e permanente do
Sistema Único de Saúde – SUS –, ligada, portanto, ao Ministério da Saúde.

O Conselho Nacional de Saúde (2020, s.p.) possui a seguinte organização:

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) é organizado em Plenário,


Mesa Diretora, Presidência, Comissões, Grupos de Trabalho, Câmaras
Técnicas e Secretaria-Executiva.
Plenário
O Plenário do CNS é o fórum de deliberação plena e conclusiva
formado pelos representantes de usuários, governo e prestadores da
área da saúde e profissionais de saúde. As reuniões ocorrem de forma
ordinária doze vezes por ano, uma vez por mês, ou por convocação
extraordinária requerida pela presidência do CNS ou por deliberação
do Plenário. Ao todo, 48 conselheiros e conselheiras compõem o
Plenário do CNS.
Mesa Diretora
A Mesa Diretora do CNS, eleita pelo Plenário, é composta por oito
conselheiros titulares, incluído a presidência do CNS, para mandato
de três anos, permitidas reeleições, desde que observado o prazo
de três anos, fixado no Art. 7ᵒ do Decreto nᵒ 5.839, de 11 de julho de
2006. Cabe à Mesa Diretora, a responsabilidade por toda a condução
dos processos administrativos e políticos a serem deliberados pelo
Plenário. Outra competência da Mesa do CNS é promover articulações
políticas com órgãos e instituições, internos e externos, para garantir
a intersetorialidade do controle social na saúde e a articulação com
outros conselhos de políticas públicas.

143
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Presidência
A Presidência do CNS é definida por meio de votação secreta, entre
os conselheiros titulares, em eleição que precede a escolha dos demais
membros da Mesa Diretora. Seu mandato é de três anos, permitidas
reeleições desde que observado o prazo de três anos, fixado no Art.
7ᵒ do Decreto nᵒ 5.839, de 11 de julho de 2006. Entre as principais
atribuições da Presidência, estão a coordenação da Mesa Diretora,
a representação do conselho em suas relações internas e externas, o
estabelecimento da interlocução com órgãos do Ministério da Saúde
e demais órgãos do governo e com instituições públicas ou entidades
privadas para o cumprimento das deliberações do CNS, expedir atos
decorrentes de deliberações do CNS, entre outras.
Comissões
As Comissões são organismos de assessoria ao Plenário do CNS,
que resgatam e reiteram os princípios do SUS e do controle social.
Atualmente, o conselho possui 18 comissões que buscam fornecer
subsídios de discussão ao Plenário para a deliberação sobre a
formulação da estratégia e controle da execução de políticas públicas
de saúde. As Comissões são compostas por até 36 membros, entre
titulares e suplentes. Poderão compor a Comissão: Conselheiros
Nacionais e representantes das áreas técnicas do Ministério da Saúde,
outros Ministérios, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde
(Conass), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
(Conasems) e de entidades e movimentos nacionais, de acordo com
as necessidades e especificidades. Para as funções de coordenador
e coordenador adjunto somente poderão ser indicados(as)
conselheiros(as) nacionais, titulares ou suplentes.
Câmaras Técnicas
Em 2017, a Resolução nᵒ 548 do CNS instituiu a possibilidade de criação
de Câmaras Técnicas que dão suporte ao CNS sobre temas específicos.
As Câmaras Técnicas são temporárias, com caráter excepcional. Podem
ser compostas por representantes da sociedade civil selecionados via
chamada pública ou por indicação, além de membros do CNS.
Grupos de Trabalho
Os Grupos de Trabalho (GT) são organismos instituídos pelo Plenário
para assessoramento temporário ao CNS ou às Comissões, com
objetivos definidos e prazo para o seu funcionamento fixado em até
seis meses. Cabe ao GT fornecer subsídios de ordem política, técnica,
administrativa, econômico-financeira e jurídica. Sua composição pode
ser de até cinco conselheiros(as), incluindo a coordenação, garantindo,
preferencialmente, a representação de todos os segmentos do CNS.
Secretaria-Executiva
A Secretaria-Executiva do CNS é um órgão vinculado ao Gabinete do
Ministro da Saúde com a finalidade de fornecer as condições necessárias
para o cumprimento das competências do CNS. Cabe à Secretaria dar
todo o suporte técnico-administrativo para as atribuições do CNS,
às suas Comissões e Grupos de Trabalho. Também está entre as
atribuições da Secretaria-Executiva o encaminhamento das demandas
aos Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde após deliberação
do Plenário, acompanhar, assessorar e participar da execução e
do mapeamento do recolhimento de dados e análises estratégicas
formuladas pelos órgãos conveniados, organizar o processo eleitoral
do CNS e participar da organização de conferências e outros eventos
do CNS.

144
TÓPICO 1 — RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

FIGURA 3 – REUNIÃO PLENÁRIA DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE

FONTE: <https://website.cfo.org.br/conselho-nacional-de-saude-aprova-relatorios-para-veto-de-
-ensino-a-distancia-na-saude/>. Acesso em: 13 set. 2020.

● Assistência Social: Conselho Nacional da Assistência Social – CNAS, previsto


no artigo 17 da Lei nᵒ 8.742/1993. Este conselho tem por finalidade a promoção
do controle social das políticas públicas no âmbito da Assistência Social,
contribuindo para o seu permanente aprimoramento a partir das necessidades
sociais – contingências. Atualmente, este conselho está vinculado à Secretaria
Especial do Desenvolvimento Social, parte integrante do Ministério da Cidadania:

Art. 17. Fica instituído o Conselho Nacional de Assistência Social


(CNAS), órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à
estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável
pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, cujos
membros, nomeados pelo Presidente da República, têm mandato de 2
(dois) anos, permitida uma única recondução por igual período.
§ 1ᵒ O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) é composto
por 18 (dezoito) membros e respectivos suplentes, cujos nomes são
indicados ao órgão da Administração Pública Federal responsável
pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, de acordo
com os critérios seguintes:
I- 9 (nove) representantes governamentais, incluindo 1 (um)
representante dos Estados e 1 (um) dos Municípios;
II- 9 (nove) representantes da sociedade civil, dentre representantes dos
usuários ou de organizações de usuários, das entidades e organizações
de assistência social e dos trabalhadores do setor, escolhidos em foro
próprio sob fiscalização do Ministério Público Federal.
§ 2ᵒ O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) é presidido por
um de seus integrantes, eleito dentre seus membros, para mandato de
1 (um) ano, permitida uma única recondução por igual período.
§ 3ᵒ O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) contará com
uma Secretaria Executiva, a qual terá sua estrutura disciplinada em ato
do Poder Executivo.
§ 4o Os Conselhos de que tratam os incisos II, III e IV do art. 16, com
competência para acompanhar a execução da política de assistência

145
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

social, apreciar e aprovar a proposta orçamentária, em consonância


com as diretrizes das conferências nacionais, estaduais, distrital
e municipais, de acordo com seu âmbito de atuação, deverão ser
instituídos, respectivamente, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos
Municípios, mediante lei específica (Redação dada pela Lei nᵒ 12.435,
de 2011).
Art. 18. Compete ao Conselho Nacional de Assistência Social:
I- aprovar a Política Nacional de Assistência Social;
II- normatizar as ações e regular a prestação de serviços de natureza
pública e privada no campo da assistência social;
III- acompanhar e fiscalizar o processo de certificação das
entidades e organizações de assistência social no Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome;(Redação dada pela
Lei nᵒ 12.101, de 2009).
IV- apreciar relatório anual que conterá a relação de entidades e
organizações de assistência social certificadas como beneficentes
e encaminhá-lo para conhecimento dos Conselhos de Assistência
Social dos Estados, Municípios e do Distrito Federal; (Redação
dada pela Lei nᵒ 12.101, de 2009).
V- zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo
de assistência social;
VI- a partir da realização da II Conferência Nacional de Assistência
Social em 1997, convocar ordinariamente a cada quatro anos a
Conferência Nacional de Assistência Social, que terá a atribuição
de avaliar a situação da assistência social e propor diretrizes
para o aperfeiçoamento do sistema; (Redação dada pela Lei nᵒ
9.720, de 26.4.1991).
VII- (Vetado.)
VIII- apreciar e aprovar a proposta orçamentária da Assistência
Social a ser encaminhada pelo órgão da Administração Pública
Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de
Assistência Social;
IX- aprovar critérios de transferência de recursos para os Estados,
Municípios e Distrito Federal, considerando, para tanto,
indicadores que informem sua regionalização mais equitativa,
tais como: população, renda per capita, mortalidade infantil e
concentração de renda, além de disciplinar os procedimentos
de repasse de recursos para as entidades e organizações de
assistência social, sem prejuízo das disposições da Lei de
Diretrizes Orçamentárias;
X- acompanhar e avaliar a gestão dos recursos, bem como os ganhos
sociais e o desempenho dos programas e projetos aprovados;
XI- estabelecer diretrizes, apreciar e aprovar os programas anuais e
plurianuais do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS);
XII- indicar o representante do Conselho Nacional de Assistência
Social (CNAS) junto ao Conselho Nacional da Seguridade Social;
XIII- elaborar e aprovar seu regimento interno;
XIV- divulgar, no Diário Oficial da União, todas as suas decisões, bem
como as contas do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS)
e os respectivos pareceres emitidos (BRASIL, 1993, s.p.).

● Previdência Social: Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS, previsto


no art. 3° da Lei nᵒ 8.213/1991. Este conselho, composto por empregados,
empregadores, aposentados e o Poder Público, visa ao acompanhamento e na
avaliação dos planos e programas que são realizados pela administração da
Previdência Social, na busca de melhor desempenho dos serviços aos beneficiários:

146
TÓPICO 1 — RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

O Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS, órgão superior de


deliberação colegiada, tem como principal objetivo estabelecer o caráter
democrático e descentralizado da administração, em cumprimento
ao disposto no art. 194 da Constituição, com a redação dada pela
Emenda Constitucional nᵒ 20, que preconiza uma gestão quadripartite,
com a participação do Governo, dos trabalhadores em atividade, dos
empregadores e dos aposentados. Criado pela Lei nᵒ 8.213, de 24 de
julho de 1991, o Conselho de Previdência, ao longo do tempo vem
aperfeiçoando sua atuação no acompanhamento e na avaliação dos
planos e programas que são realizados pela administração, na busca de
melhor desempenho dos serviços prestados à clientela previdenciária
(CONSELHO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2020, s.p.).

Vejamos o que disciplinam os artigos 3ᵒ e 4ᵒ da Lei nᵒ 8.213/1991 a respeito


da composição e das atribuições com Conselho Nacional de Previdência Social:

Art. 3ᵒ Fica instituído o Conselho Nacional de Previdência Social–


CNPS, órgão superior de deliberação colegiada, que terá como
membros:
I- seis representantes do Governo Federal; (Redação dada pela Lei nᵒ
8.619, de 1993)
II- nove representantes da sociedade civil, sendo: (Redação dada pela
Lei nᵒ 8.619, de 1993)
a) três representantes dos aposentados e pensionistas; (Redação dada
pela Lei nᵒ 8.619, de 1993)
b) três representantes dos trabalhadores em atividade; (Redação dada
pela Lei nᵒ 8.619, de 1993)
c) três representantes dos empregadores. (Redação dada pela Lei nᵒ
8.619, de 1993)
§ 1ᵒ Os membros do CNPS e seus respectivos suplentes serão nomeados
pelo Presidente da República, tendo os representantes titulares da
sociedade civil mandato de 2 (dois) anos, podendo ser reconduzidos,
de imediato, uma única vez.
§ 2ᵒ Os representantes dos trabalhadores em atividade, dos
aposentados, dos empregadores e seus respectivos suplentes serão
indicados pelas centrais sindicais e confederações nacionais.
§ 3ᵒ O CNPS reunir-se-á, ordinariamente, uma vez por mês, por
convocação de seu Presidente, não podendo ser adiada a reunião por
mais de 15 (quinze) dias se houver requerimento nesse sentido da
maioria dos conselheiros.
§ 4ᵒ Poderá ser convocada reunião extraordinária por seu Presidente
ou a requerimento de um terço de seus membros, conforme dispuser o
regimento interno do CNPS.
§ 5ᵒ (Revogado pela Lei nᵒ 9.528, de 1997)
§ 6ᵒ As ausências ao trabalho dos representantes dos trabalhadores em
atividade, decorrentes das atividades do Conselho, serão abonadas,
computando-se como jornada efetivamente trabalhada para todos os
fins e efeitos legais.
§ 7ᵒ Aos membros do CNPS, enquanto representantes dos trabalhadores
em atividade, titulares e suplentes, é assegurada a estabilidade no
emprego, da nomeação até um ano após o término do mandato de
representação, somente podendo ser demitidos por motivo de falta
grave, regularmente comprovada através de processo judicial.
§ 8ᵒ Competirá ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social
proporcionar ao CNPS os meios necessários ao exercício de suas
competências, para o que contará com uma Secretaria-Executiva do
Conselho Nacional de Previdência Social.
§ 9ᵒ O CNPS deverá se instalar no prazo de 30 (trinta) dias a contar da
publicação desta Lei.
Art. 4ᵒ Compete ao Conselho Nacional de Previdência Social–CNPS:

147
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

I- estabelecer diretrizes gerais e apreciar as decisões de políticas


aplicáveis à Previdência Social;
II- participar, acompanhar e avaliar sistematicamente a gestão
previdenciária;
III- apreciar e aprovar os planos e programas da Previdência Social;
IV- apreciar e aprovar as propostas orçamentárias da Previdência
Social, antes de sua consolidação na proposta orçamentária da
Seguridade Social;
V- acompanhar e apreciar, através de relatórios gerenciais por ele
definidos, a execução dos planos, programas e orçamentos no
âmbito da Previdência Social;
VI- acompanhar a aplicação da legislação pertinente à Previdência
Social;
VII- apreciar a prestação de contas anual a ser remetida ao Tribunal
de Contas da União, podendo, se for necessário, contratar
auditoria externa;
VIII- estabelecer os valores mínimos em litígio, acima dos quais será
exigida a anuência prévia do Procurador-Geral ou do Presidente
do INSS para formalização de desistência ou transigência
judiciais, conforme o disposto no art. 132;
IX- elaborar e aprovar seu regimento interno.
Parágrafo único. As decisões proferidas pelo CNPS deverão ser
publicadas no Diário Oficial da União (BRASIL, 1991, s.p.).

E
IMPORTANT

Convidamos você a visitar os sites destes conselhos:

Conselho Nacional de Saúde: http://conselho.saude.gov.br/


Conselho Nacional de Assistência Social: http://mds.gov.br/assuntos/assistencia-social/
participacao-social/conselhos-de-assistencia-social
Conselho Nacional de Previdência Social: https://www.gov.br/previdencia/pt-br/acesso-
a-informacao/conselho-nacional-de-previdencia

Cada um destes conselhos possui atribuições bem específicas e particulares em relação a


cada uma das espécies do gênero seguridade social, possuindo entre eles total autonomia
e singularidade.

DICAS

Recomendamos uma pausa para a leitura de um manifesto publicado


pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, chamado
“Precisamos falar sobre a DRU”, que você pode acessar em: https://www.anfip.org.br/
artigo-clipping-e-imprensa/precisamos-falar-sobre-a-dru/.

148
TÓPICO 1 — RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

LEITURA COMPLEMENTAR

A DRU e sua relação com o “déficit” e a Reforma da Previdência

Atualmente, um dos assuntos mais escutados e abordados em nosso


cenário político e econômico é a Reforma da Previdência. A todo momento em
noticiários da TV, jornais impressos, sites e em conversas cotidianas, fala-se
sobre esse assunto. Sempre tem alguém querendo saber como ficará sua vida
previdenciária após a aprovação da Reforma.

Contudo, o que pouca gente sabe é sobre a DRU. Ou seja, sobre a


Desvinculação de Receitas da União, conceito intimamente relacionado à (Nova)
Previdência e ao tão falado “déficit da Previdência”. Será que este déficit de fato
é real?

Portanto, traz-se através do presente artigo, uma discussão a respeito


destes temas que nos levam a um momento de enormes mudanças e insegurança
jurídica ao qual vivemos. Então, vamos nessa!

1. O que é a DRU?

A DRU é uma alternativa que permite ao Governo usar livremente 30% de


tributos federais previstos em lei para fundos ou despesas.

Criada em 1994, tinha, então, o intuito de estabilizar a economia após o


Plano Real. E no ano de sua instituição, foi nomeada, dessa maneira, de Fundo
Social de Emergência (FSE)

No entanto, em 2000 passou a ter o nome atual: Desvinculação de Receitas


da União. No governo Michel Temer (MDB), o valor inicial de 20% passou, assim,
a ser de 30%. E a principal fonte desta desvinculação são as contribuições sociais,
correspondentes a 90% do montante desvinculado.

Desse modo, o governo o governo pode aplicar os recursos destinados a


áreas como educação, saúde e previdência social em qualquer despesa considerada
prioritária, bem como em recursos para pagamento de juros da dívida pública.

Na prática, entretanto, o que ocorre é que, quando o dinheiro entra nos


cofres da União, o governo utiliza esses 30% do total como bem entender e no
que bem quiser. E desvia, dessa forma, o dinheiro que seria para prioridades em
outros gastos secundários e menos necessários.

Como se verá, esse aspecto acaba por impactar a Reforma da Previdência.

149
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

2. Qual a relação da DRU com o déficit da Previdência? Esse déficit existe ou é


apenas uma falácia?

O déficit da Previdência, assim como a Reforma da Previdência, é sempre


um tema de muitas controvérsias, haja vista que o governo e representantes dele
alegarão que ele de fato existe, enquanto que entidades e outros estudiosos fora
da esfera governamental dirão que este déficit é apenas uma falácia. Em quem
acreditar, portanto?

Para se formar uma opinião acerca do tema, é importante pesar os


argumentos de quem defende essa Previdência deficitária e de quem não a
defende, bem como analisar algumas questões estatísticas, como veremos a
seguir.

2.1. Gastos públicos sigilosos

Alguns estudiosos da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da


Receita Federal do Brasil (ANFIP) e Fundação ANFIP de Estudos da Seguridade
Social e Tributário, realizaram um estudo aprofundado acerca do tão falado
déficit da Previdência e se posicionaram, então, a respeito do tema. Vejamos,
portanto, suas perspectivas para melhor compreender, também, os impactos na
Reforma da Previdência.

Dentre eles, Maria Lúcia Fattorelli, Coordenadora Nacional da Auditoria


Cidadã da Dívida, diz que o rombo das contas do governo decorre de gastos
financeiros sigilosos, pois não é divulgado o nome de quem recebe os juros
exorbitantes sobre a dívida pública, nem os bancos que receberam quase meio
trilhão de reais de 2014 a 2017 para remunerar ilegalmente sua sobra de caixa,
entre outros mecanismos que fomentam a dívida do país enquanto os recursos
vazam para o setor financeiro.

Afirma que estes gastos consomem cerca de metade do orçamento


federal anual, de forma que a sobra de recursos poderia ser ainda maior, pois
grandes empresas e bancos são devedores de contribuições sociais, mas faltam
investimentos na administração tributária para viabilizar a sua cobrança.

2.2. Discurso do déficit da Previdência é produzido

Fattorelli declara, ainda, que o discurso do déficit, tão levantado na defesa


da Reforma da Previdência, é fake. Ou seja, é um déficit produzido, já que a conta
apresentada pelo governo compara o valor arrecadado com as contribuições
do INSS (pagas pelos trabalhadores e empresários) com todo o gasto com a
Previdência Social, que está inserida dentro da Seguridade junto à Assistência
e Saúde, porém, a Constituição Federal cuidou de estabelecer fontes de receitas
diversas, pagas por toda a sociedade.

Segundo ela, e de acordo com dados oficiais anualmente divulgados pela


ANFIP, há um superávit impressionante de 1988 a 2015. Em 2016 não houve
150
TÓPICO 1 — RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

sobra de recursos por irresponsabilidade do governo, que concedeu desonerações


exageradas a diversos setores e errou enormemente na política monetária, que
deixou mais de 13 milhões de desempregados e 37 milhões na informalidade,
comprometendo, assim, a arrecadação do INSS.
Por fim, ela afirma que a simples existência da DRU (Desvinculação de
Receitas da União) comprova que sobram recursos na Seguridade Social, pois se
faltassem não haveria nada para desvincular,  e que a distorcida conta do falacioso
“déficit” não pode servir de justificativa para a PEC 287, cujo principal objetivo
é favorecer o mercado financeiro com a proliferação dos planos de previdência
privada que não oferecem garantia alguma de pagamento de benefício futuro
à classe trabalhadora, podendo simplesmente quebrar ou desaparecer, como
ocorreu nos Estados Unidos e Europa.

2.3. Política fiscal e falsa crise da seguridade social no Brasil

Outra estudiosa acerca do tema é Denise Gentil, professora e pesquisadora


do Instituto de Economia da UFR. Gentil concluiu a sua tese de doutorado com o
tema “A Política fiscal e a falsa crise da Seguridade Social no Brasil: uma análise
financeira do período de 1990 a 2005”, e afirma que a questão demográfica e o
envelhecimento da população são questões chaves que influenciaram nos custos
gradativos dos sistemas previdenciários, que desembocaram no corte de direitos,
na redução do valor dos benefícios e na elevação de impostos.

A pesquisadora também defende que há uma manobra contábil no cálculo


do déficit apresentado pelo governo, pois contraria o disposto na Constituição
de 1988, já que a União apresenta a Seguridade junto ao Orçamento Fiscal, e o
art. 165 § 5ᵒ da nossa Carta Magna diz que deve haver a dissociação desses dois
orçamentos, o que leva a uma grande dificuldade na identificação da transferência
de recursos da Seguridade Social para outras áreas.

Além disso, considera-se apenas a receita de contribuição ao INSS que


incide sobre a folha de pagamento, excluindo o valor dos benefícios pagos aos
trabalhadores, o que dá um déficit. No entanto, há outras fontes advindas da
Previdência que não são computadas neste cálculo.

2.4. Projeto “Desmistificando o déficit da Previdência”

Com base nesses estudos realizados pela ANFIP, a Frente Parlamentar


Mista em Defesa da Previdência Social publicou suas conclusões por meio do
projeto “Desmistificando o déficit da Previdência”, que traz, por exemplo, dados
do Boletim Estatístico da Previdência Social de dezembro/2015, que constam
que menos de 60% dos brasileiros economicamente ativos estão contribuindo,
corroborando a tese de que o mito do déficit e as incessantes reformas levam
à insegurança jurídica e uma consequente desmotivação no investimento pelo
descrédito no sistema.

Segundo os estudos supracitados, o Orçamento da Seguridade Social

151
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

apresenta sucessivos resultados superavitários, mesmo com a incidência da


Desvinculação de Receitas da União (DRU) estimada em R$ 60 bilhões nos últimos
anos e R$ 500 bilhões nos últimos 10 anos (de 2006 a 2015), conforme observado
na tabela a seguir:

2.5. Total de desonerações da Receita da Seguridade Social de 2007 a 2016 (em


milhões correntes)

Antes de passar a uma análise da Reforma da Previdência, observam-se


gráficos do total de desonerações da Receita da Seguridade Social entre 2007 e 2016:

152
TÓPICO 1 — RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO

A Tabela 12 apresenta os dados das receitas desvinculadas e as não


consideradas relativas aos rendimentos financeiros, as compensações pela
desoneração da folha e a parcela do PIS/Pasep destinada ao BNDES.

Com isto, na identificação de receitas e despesas da Seguridade Social, o


governo acrescenta receitas e despesas dos regimes previdenciários de servidores
e de militares. A Análise da Seguridade Social não considera nem as receitas,
nem as despesas desses regimes. Naturalmente, que o governo soma as receitas
dos regimes próprios para também somar as respectivas despesas, que são muito
superiores.

3. Revisões anteriores à Reforma da Previdência

Concluiu-se também que antes de se proceder às reformas nas regras dos


benefícios previdenciários, se impõe revisão:

1. do financiamento da Seguridade Social, especialmente quanto à desoneração


da folha de pagamentos sem o correspondente repasse dos recursos da
contribuição substitutiva;
2. das renúncias e desonerações fiscais;
3 . da DRU, para que não incida sobre nenhuma das contribuições sociais;
4 . do modelo administrativo-judicial de cobrança de dívidas ativas de
contribuições previdenciárias;

Portanto, é de suma importância a pesquisa, a leitura e o estudo acerca do


presente tema e da Reforma da Previdência. Assim, poderemos ter conhecimento
sobre a verdadeira realidade acerca do falacioso déficit da Previdência, e
enxergar que esta invenção é um mito irresponsável produzido pelo governo,
que rasga a nossa Constituição Federal dia após dia, sem obediência aos preceitos
orçamentários previstos legalmente e com muita irresponsabilidade na não
apresentação de comprovações estatísticas e na ausência de honestidade na
transparência dos gastos com a dívida pública.

153
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

4. Qual a relação da DRU com a Reforma da Previdência?

Todos sabemos que a Reforma da Previdência em trâmite ocorre devido


ao argumento do déficit, que, como vimos acima, com base em dados estatísticos
e estudos aprofundados, não é real como dizem, pois não há referências para as
inúmeras transferências do Orçamento da Seguridade Social para o Orçamento
Fiscal, por exemplo, as promovidas pela DRU. Logo, tudo está diretamente
relacionado, se não há déficit, não precisaríamos de Reforma, pelo menos não nos
moldes apresentados pelo governo.

Antonio Tuccílio, presidente da Confederação Nacional dos Servidores


Públicos, afirma que, quando o governo faz as contas do déficit, a DRU é
considerada.  Já a ANFIP, por exemplo, não a considera nas contas, o que para
ele faz mais sentido, pois a DRU diminui os recursos da Seguridade, da qual a
Previdência faz parte, sendo, portanto, prejudicial.

E questiona se seria a desvinculação apenas uma espécie de ferramenta


utilizada pelo governo para justificar a Reforma da Previdência? Afinal, quanto
maior o déficit anunciado, maiores são os argumentos para garantir sua aprovação
no Congresso.

5. Perspectivas para a Reforma da Previdência

A Reforma da Previdência se apresenta como uma “faca de dois gumes”


pois na medida em que corta regalias desnecessárias e aumenta a fiscalização
dos critérios para concessão de benefícios, se mostra também como restritiva de
muitos direitos primordiais e garantidores da preservação da dignidade humana,
por vezes tratando todos como fraudadores.

Posto isto, acredita-se que a Reforma é necessária, mas precisa ser revista,
já que traz muitas inconstitucionalidades e insegurança jurídica, nos causando
um momento de total obscurantismo.

Antes de tudo é preciso mudar mecanismos de política pública do Banco


Central, promover uma Reforma tributária, mudar a política monetária nacional
e principalmente, ter transparência na divulgação dos dados da dívida pública,
de forma a não recorrer a falácias no intuito de mascarar a responsabilidade
do Estado por suas incessantes políticas de renúncias fiscais, desonerações,
desvinculações de receitas e da sua ineficiência na cobrança da dívida ativa.

Portanto, é de suma importância o conhecimento de conceitos


fundamentais que nos circundam nos dias atuais e de como são interligados, a
fim de nos trazer a malícia para que o argumento do déficit saia do senso comum
e passe a ser visto como uma fraude fabricada, de forma que saibamos o que de
fato ocorre com o dinheiro de todos.

FONTE: <https://blog.sajadv.com.br/reforma-da-previdencia-dru/>. Acesso em: 5 set. 2020.

154
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A seguridade social é custeada de diversas formas, por diversas fontes,


formando uma base diversificada de custeio.

• Dentro da relação obrigacional da relação jurídica de custeio, o Estado é


naturalmente o credor, e o contribuinte, devedor.

• A obrigação guardada na relação jurídica de custeio em sede de seguridade


social, como uma espécie de obrigação tributária.

• A formação da relação obrigacional se dá a partir do momento em que surge o


fato gerador, que, em sede de previdência é, por exemplo, o exercício de uma
atividade remunerada.

• O fato da existência da relação jurídica de custeio o seu cumprimento por


parte do ente passivo, destarte, não significa direito a concessão de benefício,
daí dizer-se que a relação jurídica de custeio em seguridade social é detém
plena autônoma.

155
AUTOATIVIDADE

1 A Seguridade Social é um sistema de proteção social constituído


pela previdência social, assistência social e a saúde. Para realizar seu
funcionamento, possui fontes de custeio, ou seja, os meios econômicos
obtidos e determinados para a concessão e manutenção das suas prestações.
Com relação ao custeio da Seguridade Social, analise as sentenças a seguir:

I- A seguridade social é custeada de diversas formas, por diversas fontes,


formando uma base diversificada de custeio.
II- A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta
e indireta.
III- Compõe o orçamento da seguridade social: receitas da União; receitas das
contribuições sociais e receitas de outras fontes.
IV- A Seguridade social possui uma única fonte de custeio que são as
contribuições sociais.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

2 Conforme artigo 195 da Constituição Federal, a seguridade social é


financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante
recursos provenientes dos orçamentos da:

( ) União e dos Estados, apenas.


( ) Contribuições sociais, apenas.
( ) Municípios e contribuições sociais, apenas.
( ) União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de contribuições
sociais.

3 Assinale a alternativa CORRETA sobre o custeio da seguridade social.

a) ( ) A seguridade social será financiada por toda a sociedade, mediante


recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, exceto as contribuições sociais do
empregador e da empresa.
b) ( ) A lei não poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a
manutenção ou a expansão da seguridade social.
c) ( ) As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas
à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, integrando
o orçamento da União.

156
d) ( ) Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado,
majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.
e) ( ) A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social
poderá contratar com o Poder Público, porém dele não poderá receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

FONTE: Ano: 2020 Banca: VUNESP Órgão: Valiprev – SP Prova: VUNESP – 2020 – Valiprev -
SP - Analista de Benefícios Previdenciários

157
158
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

ESPÉCIES DE CONTRIBUIÇÕES PARA O


CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Seja bem-vindo ao segundo tópico da nossa unidade.

Neste tópico, com base no sistema contributivo adotado pela Seguridade


Social e as suas fontes de custeio, abordaremos sobre os conceitos de contribuição
para a seguridade social previdenciária e não previdenciária, suas diferenças,
seus pagadores e suas destinações.

Como vimos, as fontes de custeio da seguridade social estão previstas


no art. 195 da Constituição Federal, que serão provenientes de recursos dos
orçamentos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios e das chamadas
contribuições sociais.

As contribuições sociais de seguridade social possuem natureza jurídica de


tributo, ou seja, possuem características do sistema contributivo e das contribuições
sociais da Seguridade Social. Dentre elas temos as contribuições da seguridade
social previdenciárias, que preveem a manutenção e custeio da previdência social.
Estas têm caráter contributivo e a filiação é obrigatória, deste modo, somente os
contribuintes que cumpram os requisitos legais tem direito aos benefícios.

Por outro lado, no caso das contribuições não previdenciárias, são as que
se destinam ao custeio da Assistência Social e a Saúde. Estas contribuições advêm,
por exemplo, do PIS (Programa de Integração Social), COFINS (Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social) e a CSLL. (Contribuição Social sobre
o Lucro Líquido).

Além destas, estudaremos também as contribuições residuais e gerais,


que não se enquadram nas anteriores, e podem ser instituídas para garantir a
manutenção ou expansão da seguridade social.

Por fim, teremos uma leitura complementar e atividades para aprofundar


seus conhecimentos.

Bons estudos!

159
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

2 CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL


PREVIDENCIÁRIAS
As contribuições da seguridade social previdenciárias são aquelas que
têm como objetivo precípuo a manutenção e custeio da previdência social, e não
da saúde e da assistência social.

Desta forma, as contribuições da seguridade social previdenciárias são


incidentes notadamente sobre:

• Por parte dos empregados, sobre o seu salário, sendo:

FIGURA 5 – ALÍQUOTAS DE CONTRIBUIÇÃO DOS EMPREGADOS PARA O INSS

FONTE: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/02/28/novas-aliquotas-da-previ-
dencia-passam-a-valer-em-1o-de-marco>. Acesso em: 6 ago. 2020.

• Por parte dos empregadores, nas seguintes subcategorias:

- Empregador doméstico: 8% sobre o salário + 0,8% para o financiamento do


seguro contra acidentes de trabalho;
- Empresa ou equiparado: 20% sobre o total das remunerações pagas, devidas
ou creditadas durante o mês, ou seja, sobre a folha da empresa – inclusive
sobre o 13ᵒ; além do Seguro de Acidente de Trabalho de acordo com o risco,
sendo 1% para risco leve, 2% médio e 3% grave.
- Contribuição para o Sistema S: variável de acordo com a atividade econômica
do empregador;

• Por parte dos contribuintes individuais, em regra, 20% sobre o rendimento


declarado;

• Produtores rurais pessoas físicas: 1,5% sobre a receita bruta proveniente da


comercialização da produção rural;

160
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE CONTRIBUIÇÕES PARA O CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL

• Produtores rurais pessoas jurídicas: 1,8% sobre a receita bruta proveniente da


comercialização da produção rural;

• Agroindústrias: 2,76% sobre a folha dos empregados, além da contribuição


para o sistema S na forma anteriormente explicada;

• Microempreendedor individual: 3% sobre o salário de contribuição declarado;

• Microempreendedor individual rural: 3% sobre o salário de contribuição


declarado.

Estas são, em síntese, as contribuições da seguridade social previdenciárias,


ou seja aquelas efetivamente destinadas ao custeio da previdência social.

NOTA

Sistema S é um termo que define o conjunto de organizações das entidades


corporativas voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa
e assistência técnica, que além de terem seu nome iniciado com a letra S, têm raízes comuns
e características organizacionais similares. Fazem parte do sistema S: Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria
(Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac). Existem ainda os seguintes:
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem do
Cooperativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte (Sest). FONTE: <https://www12.
senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/sistema-s>. Acesso em: 8 set. 2020.

3 CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL NÃO


PREVIDENCIÁRIAS
De outro lado, as contribuições da seguridade social não previdenciárias
são aquelas que se destinam ao custeio das duas outras espécies dentro da
seguridade social: a Assistência Social e da Saúde. Como sabemos, os benefícios
e programas custeados por estas contribuições são aqueles voltados para pessoas
a populações de que mais necessitam, independentemente de contribuição ou
filiação. Assim, estas contribuições são pagas pelo empregador, e variam de
acordo com a atividade econômica desenvolvida, sendo, em suma:

• PIS (Programa de Integração Social)

Por meio da Lei Complementar n° 7/1970 foi criado o Programa de


Integração Social (PIS). O programa buscava a integração do empregado do
setor privado com o desenvolvimento da empresa. O pagamento do PIS é de
responsabilidade da Caixa​.

161
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

• COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social)

O COFINS é a Constituição para o Financiamento da Seguridade Social, e


o recursos arrecadados destinam-se à Saúde e Assistência Social.

• CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido)

A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido também tem suas verbas


totalmente revertidas para programas e benefícios da Seguridade Social nas áreas
de Saúde e Assistência Social.

• Sobre o concurso de prognósticos

São chamados concursos de prognósticos os concursos e apostas


existentes, tanto implementadas e executadas por empresas privadas, como pelo
poder público. São estes, sem prejuízo de outros:

a. Loteria federal (17,04%).


b. Loteria de prognósticos numéricos, espécie em que se tenta adivinhar quais
números serão sorteados (17,32%).
c. Loteria de prognósticos específicos/ficha pronta (1%).
d. Loteria de prognósticos esportivos (7,61%).
e. Loteria de apostas de cota fixa, espécie em que não se sabe o exato valor do
prêmio até o momento do sorteio (0,4%).
f. Loteria de apostas de cota fixa, espécie em que o prêmio é definido no momento
da aposta (0,5% se meio físico e 0,25% se meio virtual).

NTE
INTERESSA

Desde seu 1ᵒ sorteio, em 15/09/1962, a Loteria Federal tem contribuído para a


melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, pois parte do total arrecadado com a venda
dos bilhetes é repassada à União, para aplicação nas áreas de seguridade social, cultura,
segurança pública e esporte:

Prêmio Bruto 55,91%


Seguridade Social 17,04%
Fundo Nacional da Cultura – FNC 1,50%
Fundo Penitenciário Nacional – FUNPEN 0,81%
Fundo Nacional de Segurança Pública – FNSP 5%
Comitê Olímpico do Brasil – COB 1,48%
Comitê Paralímpico Brasileiro – CPB 0,87%
Despesa de custeio e manutenção:
Taxa de administração Caixa 4,34%
Comissão Caixa 8,71%
Comissão dos lotéricos 4,34%
Total 100%

FONTE: <https://bit.ly/3oGFdBj>. Acesso em: 13 set. 2020.

162
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE CONTRIBUIÇÕES PARA O CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL

• Importador de bens ou serviços do exterior

Também chamadas de “COFINS-Importação” e “PIS/PASEP-Importação”,


estas contribuições incidem sobre os valores dos bens e serviços importados,
possuindo tabela específica de acordo com o bem o serviço importado.

Estas são, assim, em regra, as contribuições da seguridade social não


previdenciárias, destinadas ao custeio da Saúde e da Assistência Social.

4 CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL RESIDUAIS E


GERAIS
São consideradas como contribuições da seguridade social residuais ou
gerais aquelas que não estão previstas expressamente nos itens anteriores, ou seja,
não são exclusivamente previdenciárias nem exclusivamente não previdenciárias,
destinando-se ao custeio da Seguridade Social como um todo.

O artigo 195, §4ᵒ da Constituição Federal assim considera:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,


de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
[...]
4ᵒ A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a
manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto
no art. 154, I. (BRASIL, 1988, s.p.).

Estas contribuições devem obedecer às regras constitucionais acima


dispostas, e são assim classificadas:

Contribuições da Seguridade Social Residuais

Além das fontes de financiamento da seguridade social expressamente


previstas no artigo 149 e 195, incisos I a IV, da Constituição Federal, podem ser
instituídas outras destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade
social, que são chamadas de contribuições da seguridade social residuais
(BRADBURY, 2020):

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições


sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e
150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6ᵒ, relativamente às
contribuições a que alude o dispositivo.
[...]
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito

163
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:


I- do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na
forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
II- dos trabalhadores;
II- do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não
incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas
pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;
II- do trabalhador e dos demais segurados da previdência social,
podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com
o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição
sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de
Previdência Social;
III- sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV- do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a
ele equiparar. (BRASIL, 1988, s.p.).

Importante frisar que é proibida a criação de contribuições cumulativas,


ou seja, que se destinem a programas, serviços ou benefícios específicos para os
quais já exista contribuição específica destinada. Além disso, a criação destas
contribuições deve, obrigatoriamente, se dar por meio de lei complementar.

Contribuições Sociais Gerais

Esta modalidade de contribuição para a seguridade social incide


diretamente sobre a folha dos empregadores ou entidades equiparadas e servem
precipuamente para subsidiar programas, serviços e benefícios integrantes do
sistema S.

Estas contribuições têm previsão no artigo 240 da Constituição Federal:

Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais


contribuições compulsórias dos empregadores sobre a folha de
salários, destinadas às entidades privadas de serviço social e de
formação profissional vinculadas ao sistema sindical (BRASIL, 1988,
s.p.).

Bem como no artigo 212, parágrafo 5ᵒ, da Carta Magna:

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito,


e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por
cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino.
[...]
§ 5ᵒ A educação básica pública terá como fonte adicional de
financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida
pelas empresas na forma da lei (BRASIL, 1988, s.p.).

164
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE CONTRIBUIÇÕES PARA O CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL

Muito embora não integre o sistema de seguridade social, de forma direta,


a educação básica pública recebe financiamento advindo da seguridade, na forma
exposta acima na constituição federal.

Finalizando este tópico, trazemos a contribuição de Bradbury (2020) sobre


o tema, que, de forma didática, esquematizou as modalidades de contribuição
para com a seguridade social e o contexto em que estão inseridas:

FIGURA 6 – FLUXOGRAMA DAS CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURIDADE SOCIAL

Contribuições
Previdenciárias

Contribuições Contribuições não


Sociais da Previdenciárias
Contribuições Seguridade Social
Sociais em Sentido
Amplo Contribuições
Contribuições
Sociais Gerais
Residuais
Contribuições de (Educação)
Intervenção no
Contribuições Domínio Econômico
Especiais
Contribuições de
Interesse de Categorias
Profissionais

Contribuições para
o Custeio da
Iluminação Pública

FONTE: Os autores

165
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

A NOVA IN 1.911/2019 PARA PIS E COFINS E O SETOR DO AGRONEGÓCIO

Foi publicada dia 15 de outubro do corrente ano a Instrução Normativa


1.911/2019 pela Secretaria Especial da Receita Federal com o objetivo de
regulamentar “a apuração, a cobrança, a fiscalização, a arrecadação e a
administração da Contribuição para o PIS/Pasep, da Cofins, da Contribuição para
o PIS/Pasep-Importação e da Cofins-Importação”.

Naturalmente como se se trata de um ato normativo infralegal, este


somente deve sistematizar e explicitar o disposto em lei, não podendo criar
restrições aos direitos dos contribuintes. Esta observação há de ser feita pois a
leitura da IN deve ser ao lado da Lei.

Esta Instrução Normativa, ao regulamentar inúmeras questões de PIS


e Cofins, por sua vez, também trouxe dispositivos voltados para o setor do
agronegócio que estavam disciplinados em diversos atos infralegais.

Antes de descrevermos tais artigos que estão voltados para o setor do


agronegócio de forma mais direta, é importante lembrar que existem outros
também aplicáveis ao setor, inclusive, alguns com evidente polêmica e clara
ilegalidade, como, por exemplo: (i) – artigo 27, o qual disciplinou exclusão o ICMS
a base de cálculo do PIS/COFINS; (ii) - a base de cálculo do crédito no regime
não cumulativo e inclusão do ICMS (artigo 167); (iii) – imposição de prazo para
utilização do crédito o regime não cumulativo (artigo 161); (iv) – as restrições
impostas aos créditos quanto aos bens e serviços utilizados como insumo (artigo
164 e subsequentes), em detrimento ao posicionamento do recurso repetitivo do
Superior Tribunal de Justiça e Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.

O setor agropecuário, dentro da presente Instrução Normativa, está


estruturado notadamente no Livro XI, sendo composto pelos Títulos I (Das
hipóteses a que se aplica a suspensão), II (Crédito presumido) e III (Dos produtos
com alíquotas reduzidas a zero).

Podemos afirmar, inclusive, a partir deste Livro e Títulos que as principais


peculiaridades ligadas às contribuições do PIS e da Cofins estão aqui disciplinadas
quanto ao setor do agronegócio.

Não temos neste texto a pretensão de exaurir e detalhar cada um destes


Títulos, de modo que somente, diante da novidade que foi a publicação da Instrução
Normativa 1.911/2019, iremos traçar de forma descritiva aspectos gerais desta.

Neste sentido, no Título I, a partir do artigo 489 até o artigo 503, temos toda
a disciplina quanto à venda no mercado interno de insumos de origem vegetal ou
animal por pessoa jurídica com suspensão de PIS e Cofins para as agroindústrias.

166
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE CONTRIBUIÇÕES PARA O CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL

Dentro desta perspectiva de venda com suspensão de insumos, por


exemplo, vejamos o artigo 489 da IN:

“Art. 489. Observado o disposto no art. 495, está suspenso o pagamento


da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins incidentes sobre a receita auferida
por cerealistas na operação de venda de produtos in natura de origem vegetal,
classificados na Tipi nos códigos (Lei nᵒ 10.925, de 2004, art. 9ᵒ, inciso I, com redação
dada pela Lei nᵒ 12.865, de 2013, art. 33; Lei nᵒ 12.599, de 2012, art. 7ᵒ, parágrafo
único):

I- 10.01 a 10.08 (cereais), exceto os códigos 1006.20 e 1006.30; e


II- 18.01(cacau).

Parágrafo único. Para efeitos do disposto no caput, entende-se por


cerealista, a pessoa jurídica que exerça cumulativamente as atividades de limpeza,
padronização, armazenagem e comercialização dos produtos in natura de origem
vegetal relacionados nos incisos I e II do caput (Lei nᵒ 10.925, de 2004, art. 8ᵒ, § 1ᵒ,
inciso I, com redação dada pela Lei nᵒ 12.865, de 2013, art. 33)”.

Nos demais artigos são citados outros insumos que poderão ser
comercializados com suspensão.

Um ponto relevante dentro desta disciplina a respeito da venda com


suspensão diz respeito à necessidade de se identificar quais pessoas jurídicas
estão sujeitas a esta imposição legal. Ao que nos parece seriam as pessoas jurídicas
agropecuárias e cooperativas de produção agropecuária[1], além de cerealistas que
exerçam cumulativamente as atividades de limpeza, padronização, armazenagem
e comercialização. De tal sorte que outras pessoas jurídicas ao comercializar
tais tipos de insumos sofrerão a tributação pela regra geral na alíquota de 7,6%
(Cofins) e 1,65% (PIS), sobretudo, se estivermos tratando de mera revenda.

Lembramos da mesma forma que a venda com suspensão somente


ocorrerá se a agroindústria[2] adquirente possuir os seguintes requisitos (artigo
496) cumulativamente: (i) – apurar IRPJ no lucro real; (ii) – utilizar os produtos
como insumo para produção de bens para consumo humano ou animal.

De outro lado, a comercialização de insumos e origem vegetal ou animal


para a agroindústria com suspensão, impõe, como regra, a impossibilidade
de aproveitamento de créditos vinculados a tais operações (artigo 496, § 3ᵒ).
Não obstante ser a regra, vale ressaltar que há polêmica e possibilidade de
questionamentos a respeito de referida vedação, além de ser fundamental se
atentar a tipo de produção agropecuária.

Por sua vez, no Título II podemos encontrar a regulamentação do crédito


presumido, o qual é dividido nos seguintes Capítulos: (i) – I -Dos créditos
decorrentes da aquisição de produtos agropecuários em geral; (ii) – II - Dos
créditos decorrentes da aquisição de produtos pecuários específicos; (iii) – III -

167
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Dos créditos decorrentes da aquisição de produtos suínos e aviculários; (iv) – IV


- Dos créditos decorrentes da cadeia do café; (v) – V - Dos créditos da cadeia de
soja e de seus derivados.

Percebe-se, portanto, que o crédito presumido concedido ao setor


agropecuário em virtude de suas peculiaridades e necessidade de dar cumprimento
da não cumulatividade possui uma regra geral de concessão, conforme Capítulo I,
como também a depender do produto ou setor disciplina específica que prevalece
sobre a geral, como por exemplo o setor de carnes, café, soja, entre outros.

No tocante à regra geral, o artigo 504 estabelece que:

Art. 504. Sem prejuízo das vedações estabelecidas neste Regulamento, as


pessoas jurídicas que exerçam atividade agroindustrial, inclusive as sociedades
cooperativas, sujeitas ao regime de apuração não cumulativa, poderão descontar da
Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, devidas em cada período de apuração,
créditos presumidos calculados sobre o valor de aquisição dos produtos agropecuários
utilizados como insumos na fabricação dos produtos relacionados nos arts. 491 e 492
(Lei nᵒ 10.925, de 2004, art. 8ᵒ, com redação dada pela Lei nᵒ 13.137, de 2015, art. 4ᵒ, e
art. 15, com redação dada pela Lei nᵒ 11.051, de 2004; Lei nᵒ 12.058, de 2009, art. 37; Lei
nᵒ 12.350, de 2010, art. 57; e Lei nᵒ 12.599, de 2012, art. 7ᵒ)”.

As aquisições que geram o crédito presumido, na regra geral, pelas


agroindústrias são aquelas comercializadas, conforme artigo 505, por:

“Art. 505. Geram direito ao desconto do crédito presumido de que trata o art.
504 inclusive as aquisições ou recebimentos de produtos agropecuários efetuados de
(Lei nᵒ 10.925, de 2004, art. 8ᵒ, caput e § 1ᵒ; com redação dada pela Lei nᵒ 12.865, de
2013, art. 33, e art. 15, com redação dada pela Lei nᵒ 11.051, de 2004, art. 29):

I- pessoa física residente no País;


II- cooperado pessoa física ou jurídica, residente ou domiciliada no País;
III- cerealista que exerça cumulativamente as atividades de limpar, padronizar,
armazenar e comercializar os produtos in natura de origem vegetal
classificados nos códigos 10.01 a 10.08, exceto os dos códigos 1006.20 e
1006.30, e 18.01, todos da Tipi;
IV- pessoa jurídica que exerça cumulativamente as atividades de transporte,
resfriamento e venda a granel de leite in natura; e
V- pessoa jurídica que exerça atividade agropecuária e cooperativa de produção
agropecuária”.

Já, por sua vez, o artigo 508 trouxe o montante de referido crédito
presumido:

168
TÓPICO 2 — ESPÉCIES DE CONTRIBUIÇÕES PARA O CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL

Art. 508. O montante do crédito presumido da Contribuição para o PIS/


Pasep e da Cofins de que tratam os arts. 504 e 505 será determinado mediante
a aplicação, sobre o valor de aquisição dos produtos agropecuários utilizados
como insumos, de alíquota correspondente a (Lei nᵒ 10.925, de 2004, art. 8ᵒ, com
redação dada pela Lei nᵒ 13.137, de 2015, art. 4ᵒ, e art. 15, com redação dada pela
Lei nᵒ 11.051, de 2004; Lei nᵒ 12.058, de 2009, art. 37; Lei nᵒ 12.350, de 2010, art. 57;
e Lei nᵒ 12.599, de 2012, art. 6ᵒ; Lei nᵒ 12.839, de 2013, art. 2ᵒ):

I- 0,99% (noventa e nove centésimos por cento) e 4,56% (quatro inteiros e


cinquenta e seis centésimos por cento), respectivamente, em relação (Lei nᵒ
10.925, de 2004, art. 8ᵒ, § 3ᵒ, inciso I, com redação dada pela Lei nᵒ 13.137, de
2015, art. 4ᵒ; Lei nᵒ 12.058, de 2009, art. 37; Lei nᵒ 12.350, de 2010, art. 57; e Lei nᵒ
12.839, de 2013, art. 2ᵒ):

a) aos produtos de origem animal classificados no Capítulo 2, exceto os códigos


02.01, 02.02, 02.03, 02.04, 0206.10.00, 0206.20, 0206.21, 0206.29, 0206.30.00,
0206.4, 02.07 e 0210.1 da Tipi;
b) aos produtos de origem animal classificados no Capítulos 3, exceto os códigos
03.02, 03.03, 03.04, da Tipi, e os produtos vivos desse Capítulo, e no Capítulo 4,
exceto o código 0405.10.00, da Tipi, e o leite in natura;
c) aos produtos de origem animal classificados nos códigos 15.01 a 15.06 e 1516.10,
exceto o código 1502.00.1, todos da Tipi;
d) às misturas ou preparações de gorduras ou de óleos animais dos códigos 15.17
e 15.18, exceto o código 1517.10.00, da Tipi; e
e) aos produtos de origem animal classificados no Capítulo 16;

II- 0,5775% (cinco mil e setecentos e setenta e cinco décimos de milésimo por cento)
e 2,66% (dois inteiros e sessenta e seis centésimos por cento), respectivamente,
em relação aos insumos para produção dos demais produtos a que se refere
o art. 504, exceto leite in natura (Lei nᵒ 10.925, de 2004, art. 8ᵒ, § 3ᵒ, inciso III,
com redação dada pela Lei nᵒ 13.137, de 2015, art. 4ᵒ, e art. 15, § 2ᵒ; e Lei nᵒ
12.350, de 2010, art. 57);
III- 0,825 % (oitocentos e vinte e cinco milésimos por cento) e 3,8 % (três inteiros e
oito décimos por cento), respectivamente, para o leite in natura, adquirido por
pessoa jurídica, inclusive cooperativa, regularmente habilitada, provisória ou
definitivamente, no Programa Mais Leite Saudável nos termos dos arts. 635 a
640 (Lei nᵒ 10.925, de 2004, art. 8ᵒ, § 3ᵒ, inciso IV, incluída pela Lei nᵒ 13.137,
de 2015, art. 4ᵒ); e
IV- 0,33 % (trinta e três centésimos por cento) e 1,52 % (um inteiro e cinquenta e
dois centésimos por cento), respectivamente, para o leite in natura, adquirido
por pessoa jurídica, inclusive cooperativa, não habilitada no Programa Mais
Leite Saudável (Lei nᵒ 10.925, de 2004, art. 8ᵒ, § 3ᵒ, inciso V, incluída pela Lei
nᵒ 13.137, de 2015, art. 4ᵒ).

169
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Apesar de tais créditos presumidos serem a regra geral, lembramos que


existem legislações específicas com outros percentuais e formas de aproveitamento,
conforme produto e setor.

Por fim, chegamos ao último título dedicado especificamente ao


agronegócio, o qual diz respeito às mercadorias que são tributadas à alíquota
zero de PIS e Cofins.

O artigo 540 enumera os produtos, entre eles, adubos e fertilizantes,


defensivos agropecuários, fertilizantes, sementes, além de produtos da cesta
básica como óleo de soja, café, entre outros.

Importante lembrar que referida alíquota zero para a venda no mercado


interno de tais produtos se aplica tanto à pessoa jurídica no regime não cumulativo
como cumulativo. Ademais, no regime não cumulativo, é possível a manutenção
do crédito em suas operações, apesar da comercialização com alíquota zero,
sobretudo, conforme artigo 17, da Lei 11.033/2004, embora possa existir exceções.

Portanto, são estas algumas breves considerações a respeito da IN


1911/2019 e sua relação com o agronegócio.

1- vide art. 491 da IN 1911/2019.

2- v. art. 511 da IN 1.911/2019: “Art. 511. Para efeitos do disposto neste Capítulo,
entende-se por atividade agroindustrial: I - a atividade econômica de produção
das mercadorias relacionadas no caput do art. 501, excetuadas as atividades
relacionadas no art. 2ᵒ da Lei nᵒ 8.023, de 1990; e II - o exercício cumulativo das
atividades de padronizar, beneficiar, preparar e misturar tipos de café para
definição de aroma e sabor (blend) ou separar por densidade dos grãos, com
redução dos tipos determinados pela classificação oficial, relativamente aos
produtos classificados no código 09.01 da Tipi.”

FONTE: <https://www.conjur.com.br/2019-out-25/direito-agronegocio-in-19112019-pis-cofins-
-setor-agronegocio>. Acesso em: 6 ago. 2020.

170
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As contribuições da seguridade social previdenciárias são aquelas que têm


como objetivo precípuo a manutenção e custeio da previdência social, e não da
saúde e da assistência social.

• As contribuições da seguridade social não previdenciárias são aquelas que se


destinam ao custeio das duas outras espécies dentro da seguridade social: a
Assistência Social e da Saúde.

• São consideradas como contribuições da seguridade social residuais ou gerais


aquelas que não estão previstas expressamente nos itens anteriores, ou seja, não
são exclusivamente previdenciárias nem exclusivamente não previdenciárias,
destinando-se ao custeio da Seguridade Social como um todo.

171
AUTOATIVIDADE

1 Além das fontes de financiamento da seguridade social expressamente


previstas no artigo 149 e 195, incisos I a IV, da Constituição Federal, podem
ser instituídas outras destinadas a garantir a manutenção ou expansão
da seguridade social. Assinale a alternativa CORRETA que indica a
denominação desta contribuição:

( ) Contribuições da seguridade social residuais.


( ) Contribuições da seguridade social não previdenciárias.
( ) Contribuições da seguridade social previdenciárias.
( ) Contribuições sociais sobre o Lucro Líquido.

2 A Contribuição Social é uma espécie tributária destinada a custear


atividades estatais específicas não inerentes ao Estado, ou seja, de sua
atuação indireta. Seus fins específicos encontram-se fundamentados no art.
149 da Constituição Federal. Com base em seus estudos discorra sobre o
que são as contribuições sociais previdenciárias e não previdenciárias.

3 Com relação ao déficit público, reforma administrativa, reforma


previdenciária, responsabilidade fiscal, regra de ouro e ordenação de
despesa, julgue o item a seguir. Nenhum benefício relativo à seguridade
social poderá ser criado sem a indicação de uma fonte de custeio para
suportar essa despesa.

( ) Certo, pois segundo art.195, § 5ᵒ (CF,1988), nenhum benefício ou serviço


da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total, denominado como princípio da
precedência da fonte, contrapartida, preexistência ou da antecedência da
fonte de custeio.
( ) Errado, pois quando o benefício é criado para atender a mandamento
constitucional dispensaria a fonte de custeio.

FONTE: Ano: 2020 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: SEFAZ-AL Prova: CESPE – 2020 – SEFAZ-AL
– Auditor de Finanças e Controle de Arrecadação da Fazenda Estadual (adaptado).tionse

172
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES,


INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA
SEGURIDADE SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Seja bem-vindo ao último tópico da nossa última unidade.

Vamos encerrar nossos estudos sobre Seguridade Social abordando


tópicos especiais sobre as exceções, inadimplementos e aspectos tributários da
Seguridade Social.

Iniciamos o tópico analisando as hipóteses de moratória – causa de


suspensão da exigibilidade do crédito tributário e dilação do prazo para pagamento
do tributo, anistia – exclusão do crédito tributário, isenção do pagamento de
multa pecuniária ou demais penalidades, remissão – uma espécie de perdão do
crédito tributário, e as imunidades em sede de contribuições para a seguridade
social – e condição de isenção de determinados sujeitos de contribuírem para com
a seguridade social.

Seguimos para as hipóteses e consequências do inadimplemento das


obrigações tributárias em sede de seguridade social, ou seja, as principais
consequências do não pagamento ou inadimplemento destas obrigações.
Concluímos com uma análise sobre os aspectos tributários das obrigações para
com a seguridade social.

Ao final, separamos uma leitura complementar para reforçar seus estudos,


e atividades para testar seus conhecimentos.

Bons estudos!

2 HIPÓTESES DE MORATÓRIA, ANISTIA, REMISSÃO E


IMUNIDADES DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS
Caro acadêmico! Inicialmente é importante distinguirmos os conceitos de
moratória, anistia, remissão e imunidades, em se tratando de contribuições para
a seguridade social, a fim de que possamos avançar com maior embasamento e
conteúdo para os próximos temas.

173
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Vejamos, a seguir, cada um desses conceitos e a sua fundamentação legal:

Moratória

De acordo com o disposto nos artigos 151 e 152, do Código Tributário


Nacional – CTN:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:


I - moratória;
[...]
Art. 152. A moratória somente pode ser concedida:

I- em caráter geral:
a) pela pessoa jurídica de direito público competente para instituir o
tributo a que se refira;
b) pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios, quando simultaneamente
concedida quanto aos tributos de competência federal e às
obrigações de direito privado;
II- em caráter individual, por despacho da autoridade administrativa,
desde que autorizada por lei nas condições do inciso anterior.
Parágrafo único. A lei concessiva de moratória pode circunscrever
expressamente a sua aplicabilidade à determinada região do território
da pessoa jurídica de direito público que a expedir, ou a determinada
classe ou categoria de sujeitos passivos. (BRASIL, 1966, s.p.).

A moratória consiste em uma causa de suspensão da exigibilidade do


crédito tributário e refere-se à dilação do prazo para pagamento do tributo
(BRADBURY, 2020). Importante considerar, também, que com o advento da
Emenda Constitucional nᵒ 103/2019, ficou proibida a concessão de moratória
durante mais de sessenta meses e com relação a contribuições sociais.

E
IMPORTANT

O que é uma Emenda Constitucional? A Proposta de Emenda à Constituição


(PEC) pode ser apresentada pelo presidente da República, por um terço dos deputados
federais ou dos senadores ou por mais da metade das assembleias legislativas, desde que
cada uma delas se manifeste pela maioria relativa de seus componentes. Não podem ser
apresentadas PECs para suprimir as chamadas cláusulas pétreas da Constituição (forma
federativa de Estado; voto direto, secreto, universal e periódico; separação dos poderes e
direitos e garantias individuais). A PEC é discutida e votada em dois turnos, em cada Casa
do Congresso, e será aprovada se obtiver, na Câmara e no Senado, três quintos dos votos
dos deputados (308) e dos senadores (49). FONTE: <https://www12.senado.leg.br/noti-
cias/glossario-legislativo/emenda-constitucional>. Acesso em: 13 set. 2020.

174
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Em linhas gerais percebemos, então, que a moratória é um ato do poder


público que suspende durante um determinado período o prazo para pagamento
do crédito tributário, no presente caso, um crédito de natureza de seguridade
social. As regras da moratória são as acima definidas, não possuindo o poder
público autorização para conceder moratória fora de tais critérios.

Remissão

A remissão não pode ser confundida com a moratória, pois, enquanto a


moratória suspende a exigibilidade do crédito tributário, a remissão consiste em
uma espécie de perdão deste crédito. Assim, preconiza o artigo 156, inciso IV, do
Código Tributário Nacional – CTN:

Art. 156. Extinguem o crédito tributário:


[...]
IV – remissão; (BRASIL, 1966, s.p.).

Neste caso, o crédito tributário já havia sido devidamente constituído pelo


lançamento tributário, sobrevindo lei posterior que perdoou o sujeito passivo
(BRADBURY, 2020).

Anistia

A anistia consiste em uma modalidade de exclusão do crédito tributário,


a teor do disposto pela redação do artigo 175, inciso II, do Código Tributário
Nacional – CTN:

Art. 175. Excluem o crédito tributário:


[...]
II - a anistia. (BRASIL, 1966, s.p.).

Podemos diferenciar a anistia das demais modalidades acima, pois esta


ocorre quando após já constatada a infração tributária, isenta-se o contribuinte do
pagamento de multa pecuniária ou demais penalidades.

Compreendidos estes aspectos, passemos ao estudo das imunidades das


contribuições sociais em sede de seguridade social. A imunidade é a condição de
isenção de determinados sujeitos de contribuírem para com a seguridade social.
As hipóteses são muito restritas, a saber:

a) Entidades filantrópicas: são aquelas que atuam em benefício de outrem


(da coletividade) mediante o dispêndio do seu patrimônio sem que haja
contrapartida por parte do usuário do serviço por ela prestado, isto é, sem
que incida nenhum ônus financeiro. Assim, tais entidades prestam serviços
pautados pelos pilares da caridade e da gratuidade (BRADBURY, 2020).
b) Entidades sem fins lucrativos: são aquelas que também atuam em benefício
de outrem (da coletividade), mas diferentemente das entidades filantrópicas,
podem exigir contrapartida financeira por parte do usuário, em face do serviço

175
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

por ela prestado, não sendo, assim, gratuito. Destarte, a entidade sem fins
lucrativos pode contabilizar lucros pelo desenvolvimento de sua atividade,
porém não pode distribuí-los aos sócios, devendo aplicá-los no patrimônio da
própria entidade (BRADBURY, 2020).

O artigo 195, §7ᵒ da Constituição Federal nos diz que:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,


de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
[...]
§ 7ᵒ São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades
beneficentes de assistência social que atendam às exigências
estabelecidas em lei. (BRASIL, 1988, s.p.).

Assim é que temos que o fundamento da imunidade tributária em sede de


seguridade social em favor das entidades filantrópicas e sem fins lucrativos tem
sua base assentada na constituição federal.

A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, por meio do Ministério da


Economia, editou recentemente, a Portaria nᵒ 14402, de 16/06/2020, a fim de lidar
com os impactos da pandemia do COVID-19 (coronavirus) na economia nacional.

Esta Portaria estabelece as condições para transação excepcional na


cobrança da dívida ativa da União, em função dos efeitos da pandemia causada
pelo coronavirus na perspectiva de recebimento de créditos inscritos, o que inclui
as dívidas perante o Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

A redação da Portaria, cuja leitura é altamente recomendada, deixa


bastante claro que são objetivos da transação excepcional na cobrança da dívida
ativa da União:

• viabilizar a superação da situação transitória de crise econômico-financeira


dos devedores inscritos em dívida ativa da União, em função os efeitos do
coronavírus em sua capacidade de geração de resultados e na perspectiva de
recebimento dos créditos inscritos;
• permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego e da renda dos
trabalhadores;
• assegurar que a cobrança dos créditos inscritos em dívida ativa seja realizada
de forma a ajustar a expectativa de recebimento à capacidade de geração de
resultados dos devedores pessoa jurídica; e
• assegurar que a cobrança de créditos inscritos em dívida ativa seja realizada de
forma menos gravosa para os devedores pessoa física.

Importante compreender quais são as modalidades de desconto ou


cobrança diferenciada oferecidas pelo Governo Federal nesta situação excepcional:

176
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Art. 9ᵒ São modalidades de transação excepcional na cobrança da


dívida ativa da União:
I- para os empresários individuais, microempresas, empresas de
pequeno porte, instituições de ensino, Santas Casas de Misericórdia,
sociedades cooperativas e demais organizações da sociedade civil
de que trata a Lei n. 13.019, de 31 de julho de 2014, cujos créditos
são considerados irrecuperáveis ou de difícil recuperação:
a) pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do valor
dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o limite
de até 70% (setenta por cento) sobre o valor total de cada crédito
objeto da negociação, em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais e
sucessivas, sendo cada parcela determinada pelo maior valor entre
1% (um por cento) da receita bruta do mês imediatamente anterior,
apurada na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77, e o valor
correspondente à divisão do valor consolidado pela quantidade de
prestações solicitadas;
b) pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do valor
dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o limite de
até 60% (sessenta por cento) sobre o valor total de cada crédito
objeto da negociação, em até 60 (sessenta) parcelas mensais e
sucessivas, sendo cada parcela determinada pelo maior valor entre
1% (um por cento) da receita bruta do mês imediatamente anterior,
apurada na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77, e o valor
correspondente à divisão do valor consolidado pela quantidade de
prestações solicitadas;
c) pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do valor
dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o limite de
até 50% (cinquenta por cento) sobre o valor total de cada crédito
objeto da negociação, em até 84 (oitenta e quatro) parcelas mensais
e sucessivas, sendo cada parcela determinada pelo maior valor
entre 1% (um por cento) da receita bruta do mês imediatamente
anterior, apurada na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77,
e o valor correspondente à divisão do valor consolidado pela
quantidade de prestações solicitadas;
d) pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do valor
dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o limite de
até 40% (quarenta por cento) sobre o valor total de cada crédito
objeto da negociação, em até 108 (cento e oito) parcelas mensais e
sucessivas, sendo cada parcela determinada pelo maior valor entre
1% (um por cento) da receita bruta do mês imediatamente anterior,
apurada na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77, e o valor
correspondente à divisão do valor consolidado pela quantidade de
prestações solicitadas;
e) pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do valor
dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o limite de
até 30% (trinta por cento) sobre o valor total de cada crédito objeto
da negociação, em até 133 (cento e trinta e três) parcelas mensais e

177
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

sucessivas, sendo cada parcela determinada pelo maior valor entre


1% (um por cento) da receita bruta do mês imediatamente anterior,
apurada na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77, e o valor
correspondente à divisão do valor consolidado pela quantidade de
prestações solicitadas;
II- para as demais pessoas jurídicas cujos créditos são considerados
irrecuperáveis ou de difícil recuperação:
a) pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do valor
dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o limite de
até 50% (cinquenta por cento) sobre o valor total de cada crédito
objeto da negociação, em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais e
sucessivas, sendo cada parcela determinada pelo maior valor entre
1% (um por cento) da receita bruta do mês imediatamente anterior,
apurada na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77, e o valor
correspondente à divisão do valor consolidado pela quantidade de
prestações solicitadas;
b) pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do
valor dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o
limite de até 45% (quarenta e cinco por cento) sobre o valor total
de cada crédito objeto da negociação, em até 48 (quarenta e oito)
parcelas mensais e sucessivas, sendo cada parcela determinada
pelo maior valor entre 1% (um por cento) da receita bruta do mês
imediatamente anterior, apurada na forma do art. 12 do Decreto-
Lei n. 1.598/77, e o valor correspondente à divisão do valor
consolidado pela quantidade de prestações solicitadas;
c) pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do valor
dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o limite de
até 40% (quarenta por cento) sobre o valor total de cada crédito
objeto da negociação, em até 60 (sessenta) parcelas mensais e
sucessivas, sendo cada parcela determinada pelo maior valor entre
1% (um por cento) da receita bruta do mês imediatamente anterior,
apurada na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77, e o valor
correspondente à divisão do valor consolidado pela quantidade de
prestações solicitadas;
d) pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do valor
dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o limite de
até 35% (trinta e cinco por cento) sobre o valor total de cada crédito
objeto da negociação, em até 72 (setenta e duas) parcelas mensais e
sucessivas, sendo cada parcela determinada pelo maior valor entre
1% (um por cento) da receita bruta do mês imediatamente anterior,
apurada na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77, e o valor
correspondente à divisão do valor consolidado pela quantidade de
prestações solicitadas;
III- para as pessoas físicas cujos créditos são considerados
irrecuperáveis ou de difícil recuperação, pagamento, a título de
entrada, de valor mensal equivalente a 0,334% (trezentos e trinta
e quatro centésimos por cento) do valor consolidado dos créditos
transacionados, durante 12 (doze) meses, e o restante pago com
redução de até 100% (cem por cento) do valor dos juros, das multas
e dos encargos-legais, observado o limite de até 70% (setenta por

178
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

cento) sobre o valor total de cada crédito objeto da negociação, em


até 133 (cento e trinta e três) parcelas mensais e sucessivas, sendo
cada parcela determinada pelo maior valor entre 5% (cinco por
cento) do rendimento bruto do mês imediatamente anterior e o
valor correspondente à divisão do valor correspondente à divisão
do valor consolidado pela quantidade de prestações solicitadas;
IV- para os empresários individuais, microempresas, empresas de
pequeno porte, instituições de ensino, Santas Casas de Misericórdia,
sociedades cooperativas e demais organizações da sociedade civil
de que trata a Lei n. 13.019, de 31 de julho de 2014, em processo de
recuperação judicial, liquidação judicial, liquidação extrajudicial
ou falência, pagamento, a título de entrada, de valor mensal
equivalente a 0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por
cento) do valor consolidado dos créditos transacionados, durante
12 (doze) meses, e o restante pago com redução de até 100% (cem
por cento) do valor dos juros, das multas e dos encargos-legais,
observado o limite de até 70% (setenta por cento) sobre o valor
total de cada crédito objeto da negociação, em até 133 (cento e
trinta e três) parcelas mensais e sucessivas, sendo cada parcela
determinada pelo maior valor entre 1% (um por cento) da receita
bruta do mês imediatamente anterior, apurada na forma do art. 12
do Decreto-Lei n. 1.598/77, e o valor correspondente à divisão do
valor consolidado pela quantidade de prestações solicitadas;
V- para as demais pessoas jurídicas em processo de recuperação
judicial, liquidação judicial, liquidação extrajudicial ou falência,
pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do valor
dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o limite de
até 50% (cinquenta por cento sobre o valor total de cada crédito
objeto da negociação, em até 72 (setenta e duas) parcelas mensais e
sucessivas, sendo cada parcela determinada pelo maior valor entre
1% (um por cento) da receita bruta do mês imediatamente anterior,
apurada na forma do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77, e o valor
correspondente à divisão do valor consolidado pela quantidade de
prestações solicitadas;
VI- para os devedores com personalidade jurídica de direito público,
pagamento, a título de entrada, de valor mensal equivalente a
0,334% (trezentos e trinta e quatro centésimos por cento) do valor
consolidado dos créditos transacionados, durante 12 (doze) meses,
e o restante pago com redução de até 100% (cem por cento) do
valor dos juros, das multas e dos encargos-legais, observado o
limite de até 50% (cinquenta por cento) sobre o valor total de cada
crédito objeto da negociação, em até 72 (setenta e duas) parcelas
mensais e sucessivas.
§ 1ᵒ Em se tratando das contribuições sociais previstas na alínea "a" do
inciso I e no inciso II do caput do art. 195 da Constituição, o prazo de
parcelamento de que trata o caput, após a quitação da entrada, será de
até 48 (quarenta e oito) meses.
§ 2ᵒ O valor das parcelas previstas nos no caput não será inferior a:
I- R$ 100,00 (cem reais), na hipótese de contribuinte pessoa natural,
empresário individual, microempresa ou empresa de pequeno porte;
II- R$ 500,00 (quinhentos reais), nos demais casos.
§ 3ᵒ Os valores correspondentes à entrada das modalidades de
transação previstas nos incisos I a VI do caput serão calculados sobre o
valor total da dívida incluída na negociação, sem descontos.
§ 4ᵒ Os descontos ofertados nas modalidades de transação previstas
nos incisos I a VI do caput serão definidos a partir da capacidade de
pagamento do optante e do prazo de negociação escolhido, observados
os limites legais, e incidirão sobre o valor consolidado individual de
cada inscrição em dívida ativa na data da adesão. (BRASIL, 2020, s.p.).

179
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

E
IMPORTANT

É muito importante que você faça uma pausa para estudar com atenção a
redação do Decreto nᵒ 14402/2020, que você pode acessar em: http://normas.receita.
fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=110357.

3 HIPÓTESES E CONSEQUÊNCIAS DO INADIMPLEMENTO


DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS
Todos aqueles que não estão listados nas hipóteses de moratória, anistia,
remissão ou isenção/imunidade acima estudadas, estão qualificados como
sujeitos passivos da obrigação tributária em relação à seguridade social, sendo,
assim, contribuintes obrigatórios.

O não pagamento ou inadimplemento destas obrigações reverberam em


consequências que estudaremos neste ponto. As principais consequências do
inadimplemento das contribuições sociais em sede de seguridade social são:

a) Suspensão de empréstimos e financiamentos por instituições financeiras


oficiais.
b) Revisão de incentivos fiscais de tratamento tributário especial.
c) Inabilitação para participar de licitações e contratações de qualquer órgão
ou entidade da administração pública direta ou indireta das esferas federal,
estadual, distrital e municipal.
d) Interdição para o exercício do comércio, se for sociedade mercantil ou
comerciante individual.
e) Desqualificação para pedir concordata.
f) Cassação de autorização para funcionar o país, quando for o caso.

Todas estas consequências acima listadas são pertencentes à chamada


esfera administrativa, mas existem, também, as consequências da esfera criminal,
como o crime previsto no artigo 168-A, do Código Penal:

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições


recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
(Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei
nᵒ 9.983, de 2000)
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Incluído pela Lei nᵒ
9.983, de 2000)
I- recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância
destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento
efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; (Incluído
pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)

180
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

II- recolher contribuições devidas à previdência social que tenham


integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos
ou à prestação de serviços; (Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
III- pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou
valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência
social. (Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara,
confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou
valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma
definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído
pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a
de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
(Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
I- tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida
a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária,
inclusive acessórios; ou (Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
II- o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja
igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social,
administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de
suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
§ 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos casos
de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios,
seja superior àquele estabelecido, administrativamente, como sendo o
mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela
Lei nᵒ 13.606, de 2018) (BRASIL, 1940, s.p.).

Além de incidir no crime previsto pelo artigo 337-A, também do Código Penal:

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e


qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Incluído pela Lei
nᵒ 9.983, de 2000)
I- omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de
informações previsto pela legislação previdenciária segurados
empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador
autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; (Incluído
pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
II- deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade
da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas
pelo empregador ou pelo tomador de serviços; (Incluído pela Lei
nᵒ 9.983, de 2000)
III- omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações
pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais
previdenciárias: (Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei
nᵒ 9.983, de 2000)
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara
e confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as
informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela Lei nᵒ 9.983,
de 2000)
§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a
de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
(Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
I- (VETADO) (Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
II- o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja
igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social,

181
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de


suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento
mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o
juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas
a de multa. (Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000)
§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas
mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da
previdência social. (Incluído pela Lei nᵒ 9.983, de 2000) (BRASIL,
1940, s.p.).

Desta forma, podemos concluir que as consequências do inadimplemento


das contribuições para com a seguridade social estendem-se desde a esfera
administrativa, com diversas punições, até a esfera criminal.

4 COMENTÁRIOS SOBRE A NATUREZA JURÍDICA E


ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DAS CONTRIBUIÇÕES PARA A
SEGURIDADE SOCIAL
A natureza jurídica das contribuições para a seguridade social é tributária,
uma vez que conforme estudamos anteriormente, para além da previsão
constitucional, possuem regulação dentro da ordem tributária por meio do
Código Tributário Nacional – CTN.

O Código Tributário Nacional preceitua em seu artigo 5ᵒ que são tributos


os impostos, taxas e contribuições de melhoria, adotando expressamente a teoria
tripartida ou tripartite. Nesta perspectiva, se o tributo não for vinculado, ou seja,
não possuir destinação certa de seu produto, será um imposto. Se houver esta
vinculação e ela se referir à valorização imobiliária em razão de uma obra pública
será uma contribuição de melhoria.

E
IMPORTANT

O CTN – Código Tributário Nacional – é a Lei norteadora, no Brasil, da aplicabi-


lidade dos tributos, extensão, alcance, limites, direitos e deveres dos contribuintes, atuação
dos agentes fiscalizadores e demais normas tributárias.

RECEPÇÃO DO CTN PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988


A aplicabilidade atual do CTN, sob a égide da Constituição de 1988 decorre
do fenômeno, teoria ou princípio da recepção (art. 34, §5 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias). Através do princípio da recepção, todas as normas jurídicas
em vigência anteriores a um ordenamento constitucional e que não entrem em conflito
com este último, são absorvidas pelo sistema jurídico, permanecendo em vigor.

182
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

O CTN – Lei nᵒ 5.172, de 25 de outubro de 1966, cumpre as funções da lei


complementar exigida pela Constituição Federal de 1988 para tratar de prescrição e de
decadência tributárias no art. 150, parágrafo quarto; no art. 156, inciso V; no art. 173 e no
art. 174 do texto constitucional.

No aspecto formal, como a Constituição Federal de 1967 exigia que a matéria


tributária, em se tratando de ‘normas gerais, conflitos de competência e limitações ao
poder tributante’ fosse de natureza complementar, o CTN, diploma que versava sobre tais
assuntos, embora fosse lei ordinária, passou a ter ‘eficácia de lei complementar’ por força
do princípio da recepção.

FONTE: <http://www.portaltributario.com.br/obras/ctn.htm>. Acesso em: 13 set. 2020.

Por fim, caso o tributo se destine à outra finalidade específica que não
seja esta, será considerado taxa. Para os adeptos da tripartição, as contribuições
especiais e os empréstimos compulsórios são igualmente tributos, mas ora serão
classificados como impostos, ora como taxas, a depender da definição legal de
seu fato gerador (BRADBURY, 2020).

Dentro deste contexto estão inseridas as contribuições para a seguridade


social, na forma prevista no artigo 195, inciso I, alínea a, e inciso II, da constituição
federal, bem como no artigo 149, §1ᵒ da carta magna, reforçando sua natureza
tributária, a saber:

Constituição Federal de 1988:


Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e
150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6ᵒ, relativamente às
contribuições a que alude o dispositivo.
§ 1ᵒ A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por
meio de lei, contribuições para custeio de regime próprio de previdência
social, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e dos pensionistas,
que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com o valor da base de
contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões.
[...]
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I- do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na
forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício;
[...]
II- do trabalhador e dos demais segurados da previdência social,
podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com
o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição
sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de
Previdência Social; (BRASIL, 1988, s.p.).

183
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Assim, os assuntos relacionados às dívidas para com a Seguridade Social


como um todo (ou seja, compreendendo Saúde, Assistência Social e Previdência
Social) são tratados como questão de ordem tributária, seguindo, inclusive, os
trâmites de execução fiscal tributária quando judicializados.

184
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

DESTINAÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL

Introdução

O artigo se propõe a analisar a relevância constitucional da destinação das


receitas tributárias arrecadadas pelas contribuições da seguridade social.

Identifica e pontua autores que reforçam a opinião de que a destinação


de receitas, quando estabelecida na Constituição Federal, é critério de validação
desta espécie tributária.

Acentua a importância do controle desta destinação e sugere as formas,


sob pena da contribuição ser declarada inconstitucional.

Por último, pontua e critica a decisão do Supremo Tribunal Federal acerca


da matéria proferida em repercussão geral, tendo em vista a dissonância com
o texto constitucional vigente e opina sobre a desconstitucionalização de parte
do sistema tributário Nacional de modo a facilitar alterações de destinação de
acordo com as necessidades da administração pública.

Da Definição da Espécie Tributária – Contribuições Sociais.


No início da nossa existência, a relação controversa da humanidade com
o tributo não era tão conturbada como a dos últimos séculos. A função era a
de recompensa aos guerreiros mais fortes, aos líderes das tribos que saiam em
caçadas e voltavam com mais alimentos e couro animal para proteção dos seus.

Na pré-história o homem reunia-se em agrupamentos para facilitar


a sobrevivência, e o tributo fazia as vezes de “presente” àquele que cumpria o
papel de liderança, assumido depois pelo estado. Pela liberalidade da prestação,
presume-se que se cumpria como forma de gratidão à bravura do líder. A
definição, tributum, que significa “repartir entre as tribos”, fazia todo o sentido.

O que no primeiro momento parecia ser oferenda, no segundo passou a


estar “na dependência da satisfação das necessidades coletivas e dos caprichos
dos chefes, que o exigiam de seus súditos. Eram prestações in labora, in natura ou
in pecunia, exigidas pela força e arbitrariedade”.

As guerras de conquistas por terras visavam a arrecadar, para a nação


vencedora, recursos que eram retirados dos vencidos com o intuito de financiar
novas invasões para aumentar o ciclo de expropriação das riquezas da população.

Quando o tributo passou a ter o caráter impositivo pela nobreza, revestido de


um poder emocional bastante violento, a reação dos plebeus foi de retaliação a um
dano causado. O tributo que deveria ter como função a promoção da igualdade passa
a ser, justamente, o motivo de futuras revoltas contra o desvio total de sua finalidade.
185
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Em 1789 a forma de organização do Estado, responsável pelo sustento dos


luxos da nobreza, dos privilégios do clero, dentre eles a isenção de tributos, e que
extorquia a burguesia e as camadas populares, foi uma das causas da Revolução
Francesa. Há historiadores que afirmam ter sido a estrutura tributária o fator de
eclosão da revolução.

A Declaração dos Direitos do Homem pontuou nos artigos 13ᵒ e 14ᵒ, a


exigência por sistema tributário justo e igualitário, “Para conservação da força
pública e para as despesas da administração, uma contribuição comum é
indispensável, ela deve ser igualmente repartida entre todos os cidadãos, em
razão de seus recursos. […] Os cidadãos têm o direito de constatar por eles
mesmos ou pelos seus representantes, a necessidade da contribuição pública, de
consenti-la livremente, de continuar a empregar e de determinar a quantidade, a
posição e o tempo de duração“.

Séculos depois, no Brasil, o sistema tributário ainda se assemelha em


alguns aspectos com o cenário pré-revolução francesa, o que justifica a afirmação
do Prof. Ives Gandra Martins de que o tributo é uma “norma de rejeição social”
mas esta é uma seara que não nos propomos a discutir neste artigo.

Embora no Estado Contemporâneo brasileiro os tributos tenham como


objetivo prioritário a arrecadação de recursos para a promoção do bem comum,
representado pela soma dos direitos fundamentais, podem igualmente ser
utilizados como instrumento de parafiscalidade ou extrafiscalidade, ou seja,
tanto como uma forma de intervenção na economia, como um elemento chave na
aplicação das políticas sociais e de redistribuição.

A este título, Hugo de Brito Machado afirma que “no mundo moderno […]
o tributo é largamente utilizado com o objetivo de interferir na economia privada,
estimulando atividades, setores econômicos ou regiões, desestimulando o consumo
de certos bens e produzindo, finalmente, os efeitos mais diversos na economia”.

No mesmo sentido, Fabio Ambiag e Ana Claudia Além, afirmam “que a


política fiscal pode realizar três funções principais. A primeira — função alocativa
— refere-se ao fornecimento de bens públicos. A segunda é a função distributiva,
associada à redistribuição de renda através da tributação. A última função
corresponde à estabilização, cujo objetivo é influenciar a política econômica para
atingir certo nível de emprego, estabilidade dos preços e taxa de crescimento
econômico”.

As contribuições sociais, quinta das espécies tributárias disciplinada pela


Constituição Federal de 1988 no art. 149, é utilizada como instrumento parafiscal:

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais,


de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais
ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado
o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, §
6ᵒ, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
186
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

A doutrina não é unanime quanto à divisão das espécies tributárias em


três ou cinco, a depender da norma tributária utilizada como premissa, o Código
Tributário Nacional ou a Constituição Federal. O CTN de 1966 utiliza apenas um
critério para distinguir os tributos, o da vinculação (vinculação ou não com uma
atividade do Estado), já a Constituição Federal elencou a destinação como fator
determinante para distinguir impostos (produto da arrecadação não destinada a
um fim específico) das contribuições sociais (produto da arrecadação destinada a
um fim específico).

Geraldo Ataliba sustenta existirem apenas duas espécies de tributo:


vinculados ou não vinculados a uma ação estatal. Quando inexistir essa
vinculação, tem-se o imposto, tributo não vinculado. Entretanto, caracterizada
a vinculação do tributo à atuação do Estado, tem-se a taxa ou contribuição. Em
verdade, sob sua ótica, a diferença entre as taxas e as contribuições estaria no fato
de que as taxas têm por hipótese de incidência “uma atuação estatal diretamente
(imediatamente) referida ao obrigado”, enquanto que na contribuição “medeia,
entre a atuação e o obrigado, uma circunstância, um fato intermediário”.

Majoritariamente aceita-se que a CF/88 adotou a destinação como um dos


critérios de validação constitucional do tributo. Em suma tributos com destinações
especificas são exações atreladas ao cumprimento de uma finalidade com expressa
previsão de destinação do produto da sua arrecadação na lei instituidora.

A destinação deve ser observada em dois momentos: na instituição


da contribuição pela norma tributária e, no orçamento (art. 167, VIII, da CF),
quando da elaboração da organização do plano plurianual, da lei das diretrizes
orçamentárias e da lei orçamentária anual, restando, de tal maneira, intimamente
ligadas a matéria tributária e orçamentária acerca da destinação.

Espécies de Contribuições Sociais


O artigo 149, caput, da Constituição Federal agrupa três figuras rotuladas
como “contribuições”, são elas as contribuições da seguridade social (perfil
traçado no Título VIII da Constituição), contribuições de intervenção no domínio
econômico (interventivas -arts. 170 a 181 da CF) e contribuições de interesse de
categorias profissionais ou econômicas (custeio das atividades das instituições
fiscalizadoras e representativas das categorias econômicas ou profissionais, que
exercem funções legalmente reputadas como de interesse público.)

Com a edição da Emenda Constitucional 39/2002 ao artigo 149 da


Constituição Federal foi acrescido o artigo 149-A, que instituiu a contribuição de
iluminação pública municipal, tida como distorção tributária na medida em que
não se enquadra no conceito de contribuição, tampouco de taxa.

187
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

A contribuição social é uma espécie de tributo que têm por escopo o


custeio de atividades sociais e encontram fundamento de validade no art. 149 e
195 da Constituição Federal de 1988. Neste sentido, Paulo Ayres Barreto afirma
que “as contribuições têm natureza tributária por se amoldarem ao conceito de
tributo. Não é sua submissão ao regime tributário que lhe confere tal natureza.
[…] é a sua natureza que define o regime jurídico ao qual deva ser submetida”.

Concluímos, portanto, que foi intencional o legislador constituinte


estabelecer a destinação como critério de validade desta espécie tributária. Esta
certeza evidencia-se quando o mesmo legislador proíbe a destinação, chamada de
vinculação pelo texto constitucional, de impostos a órgão, fundo e despesa (artigo
167, IV). Temos “a destinação, quando valorizada pela norma constitucional,
como critério hábil para distinguir essa figura tributária de outras, cujo perfil não
apresente semelhante especificidade”.

Nesse sentido, Misabel Abreu Machado Derzi, assevera:

“Ora, proibida a criação de impostos com destinação específica no art.


167, IV, a Constituição usou de terminologia especial para designar tributos que
só podem nascer afetados a certos fundos, órgãos ou despesas – contribuições
e empréstimos compulsórios – mesmo que essa afetação não altere a estrutura
interna da norma tributária, em sua hipótese de incidência ou base de cálculo. […]
Entretanto, a destinação, discriminada na Constituição, é que define o conteúdo
e a extensão da norma de competência federal. A União, os Estados e Municípios
não podem instituir impostos com destinação específica. Apenas a União poderá
criar tributos com destinação específica, denominados de contribuição ou
empréstimo compulsório. Essas últimas espécies tributárias, ainda que tenham
hipótese de impostos (lucro, faturamento ou remuneração paga a empregados),
fato que indica capacidade econômica do contribuinte, a teor do art. 145, par. 1ᵒ,
só podem ser instituídas para atender às finalidades, expressamente consignadas
no Texto Constitucional. A destinação é fundante da norma de competência”.

Espécies de Contribuições Sociais – Divergências quanto a classificação


pela destinação

Uma vez cientificado o critério da destinação como uma “vontade


constitucional”, passa ser importante identificar, especialmente nas contribuições
da seguridade social, quais as finalidades que o constituinte as relaciona.

Régis Fernandes de Oliveira reforça “ao tempo em que a Constituição


assegurou um amplo elenco de direitos sociais, criou o recurso material
necessário à concretização de tais direitos, vinculando as contribuições sociais à
área social. As contribuições foram concebidas como ‘instrumento’, mas devem
ser compreendidas como meios para alcançar algum fim ou objetivo, porque
não tem sentido conceber algo como instrumento em si mesmo. Nessa linha de
raciocínio, as contribuições sociais somente podem ser instituídas para atender
às finalidades já consagradas pelos direitos sociais positivados em nossa
Constituição Federal atual”.

188
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Parte da doutrina divide as contribuições sociais em duas categorias: as


gerais e as destinadas ao financiamento da seguridade social, sob o fundamento
de que as gerais estão elencadas no art. 149, caput, da Constituição têm acepção
bastante abrangente, destinando-se ao custeio das matérias fixadas na Ordem
Social (Título VIII), e as destinadas ao custeio da seguridade social, disciplinadas
no art. 195 da CF.

Pois bem.
A crítica desta classificação reside justamente no que foi sustentado
até o presente momento, ou seja, que a destinação é critério de validade das
contribuições sociais e deve estar prevista na hipótese de incidência tributária.
Entender que há contribuições sociais gerais é desconsiderar esta premissa.

Com o objetivo de financiar exclusivamente a saúde, previdência e a


assistência social, o gênero “contribuições da seguridade social”, é a única desta
classificação legitima perante as normas constitucionais.

A destinação a saúde tem como objeto universalidade plena, atribuindo


a todos os seres sociais viventes no território nacional, indistintamente, o direito
de acesso a saúde. A previdência abrange os indivíduos econômica e socialmente
incluídos, através do trabalho ou mesmo em razão de rendimento de capital.
Por fim a destinação à assistência social tem o fulcro de promoção de políticas
públicas para inclusão dos indivíduos excluídos econômico e socialmente.

O controle da destinação
A obrigatoriedade da destinação bem como da respectiva previsão da
utilização dos recursos auferidos com a exação, na norma orçamentária somente
faz sentido se estabelecido mecanismos de controle do ingresso destes valores
nas áreas pretendidas. O desvio do produto da arrecadação das contribuições,
tendo como pressuposto a obrigatoriedade constitucional da destinação, atribui a
contribuição social a qualidade de indevida.

Neste sentido, “a inexistência de possibilidade de controle da destinação


efetiva, seja pela obscuridade das regras orçamentárias, seja pela falta de
transparência nos gastos públicos, desqualifica a necessidade da destinação legal
e compromete a própria existência das chamadas contribuições”.

Paulo Ayres Barreto, sobre o imprescindível controle do destino do


produto da arrecadação de contribuições, tanto no que diz respeito à destinação
legal como à destinação efetiva, afirma que “estaríamos diante de uma
condicionante que, verdadeiramente, nada condicionaria; de um pretenso limite
jurídico que não serviria a nenhum propósito; de um controle de legalidade que
nada controlaria”. No mesmo diapasão, Ricardo Simões Xavier dos Santos, “A
autorização para a instituição de contribuição decorre da necessidade do ente
tributante obter recursos que se destinem ao atendimento de uma finalidade
específica. Em contrapartida, o ente tributante tem o dever jurídico de usar
integralmente o produto da arrecadação nesse fim colimado”.

189
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

O controle da destinação deve ser feito no plano legal ou abstrato e no


plano fático ou concreto.

Primeiramente é feito através do exame de previsibilidade na lei. Deve


ser exercido pelas Comissões de Constituição e Justiça e eventualmente pelo
judiciário. O segundo passo é a destinação fática, quando a norma orçamentária
prevê a utilização de tais recursos e posteriormente há o ingresso nos cofres
públicos dos recursos auferidos com a cobrança da contribuição.

O desvio da destinação fática poderá ser impugnado por recurso


administrativo mandado de segurança repressivo, ação de anulação de crédito
tributário, inclusive com a responsabilização administrativa e penal do agente.

O Desvio da destinação das Contribuições Sociais


A arrecadação possui um papel fundamental no desenvolvimento de
políticas públicas, logo se afirma que há um caráter solidário de tal financiamento.

Há precedentes jurisprudenciais neste sentido:

CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE


O LUCRO – CSL. SETOR FINANCEIRO. CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL.
ART. 17, I, DA LEI Nᵒ 11.727/08. ALÍQUOTA DIFERENCIADA. EXIGIBILIDADE.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. OFENSA. INEXISTÊNCIA. 1. A seguridade
social idealizada pelo legislador constituinte está alicerçada no princípio da
solidariedade social e reclama, portanto, a participação de todos os agentes
econômicos, públicos ou privados, como garantia do respectivo financiamento.
2. As contribuições sociais destinadas ao seu financiamento não se fundam
unicamente no critério da referibilidade, ou seja, na relação de pertinência entre a
obrigação imposta e o benefício a ser usufruído, mormente porque, se um de seus
objetivos é justamente permitir a universalidade da cobertura e do atendimento,
à evidência, tal tributação está assentada em bases muito mais amplas. 3. Firmado
o entendimento no sentido de que a contribuição em comento representa
verdadeiro imposto finalístico, resta caracterizada a sua sujeição ao regime desse
tributo. (TRF3, AMS 00076994120094036100; DESEMBARGADORA FEDERAL
CECILIA MARCONDES; e-DJF3 Judicial 1 DATA: 09/08/2013).

Para Leandro Paulsen, o art. 195 da Constituição Federal “estabeleceu,


expressamente, uma especial solidariedade entre toda a sociedade, forçando,
assim, uma referibilidade ampla ou global de tal subespécie”. Prossegue a
doutrina dizendo que “o financiamento por toda a sociedade expressa o caráter
solidário desse tributo”.

Wladimir Novaes Martinez sustenta que a “seguridade social é técnica


de proteção social, custeada solidariamente por toda a sociedade segundo o
potencial de cada um, propiciando universalmente a todos o bem-estar das ações
de saúde e dos serviços assistenciários em nível mutável, conforme a realidade
socioeconômica, e os das prestações previdenciárias”.

190
TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE EXCEÇÕES, INADIMPLEMENTOS E ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

A seguridade social está fixada no princípio da solidariedade social,


pelo fato de toda a sociedade, indistintamente, contribuir independentemente
de se beneficiar de todos os serviços disponibilizados. Trata-se da
universalização do atendimento.

Ressalte-se, por fim, a lição Professor Sérgio Pinto Martins:


“A solidariedade pode ser considerada um postulado fundamental do
Direito da Seguridade Social, previsto implicitamente inclusive na Constituição.
Sua origem é encontrada na assistência social, em que as pessoas faziam uma
assistência mútua para alguma finalidade e também com base no mutualismo,
de se fazer um empréstimo ao necessitado. É uma característica humana, que se
verifica no decorrer dos séculos, em que havia uma ajuda genérica ao próximo,
ao necessitado.
[…]
Ocorre solidariedade na Seguridade Social quando várias pessoas
economizam em conjunto para assegurar benefícios quando as pessoas do grupo
necessitarem. As contingências são distribuídas igualmente a todas as pessoas
do grupo. Quando uma pessoa é atingida pela contingência, todas as outras
continuam contribuindo para a cobertura do benefício do necessitado”.

Desta forma, resta-se evidenciado que desviar arrecadação das


contribuições da seguridade, além de qualificar o tributo como inconstitucional,
o torna alheio ao princípio da solidariedade.

Uma das questões levantadas quando da eventual declaração de


inconstitucionalidade por desvio de destinação, é a possibilidade de o contribuinte
ingressar com pedido de repetição do indébito. Sobre a questão, decidiu o
Tribunal Regional Federal da 4ª Região que “Ainda que tecnicamente inadequada
e inconveniente, a desvinculação do produto de arrecadação das contribuições
sociais, tendo advindo das Emendas Constitucionais nᵒ 27/00 e 42/03, são válidas
e legítimas”.

Reafirmou o Supremo Tribunal Federal, ao decidir sobre a vinculação


de parte das receitas de contribuições sociais instituídas pelas Emendas
Constitucionais 27/2000, 42/2003, 56/2007, 59/2009 e 68/2011, em sede de repercussão
geral no Recurso Extraordinário 566.007/2015, que o Contribuinte não tem direito
a restituição de receitas desvinculadas, “A desvinculação de receitas decorrentes
de contribuições sociais estabelecida por Emenda Constitucional não contraria a
Carta Magna. E, mesmo se o fizesse, a consequência seria a revinculação dessas
verbas, e não a restituição delas ao contribuinte”.

Esta decisão me parece inadequada diante da Constituição Federal vigente.


Todavia a sustentação desta inconstitucionalidade passaria pela discussão da
possibilidade da norma constitucional derivada ser declarada inconstitucional,
que particularmente entendo possível.

191
UNIDADE 3 — FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

A DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO DO SISTEMA TRIBUTÁRIO


Frente da Constituição vigente, não há dúvidas que a destinação das
receitas tributárias das contribuições da seguridade social é pressuposto de
validade da norma, também não há dúvidas que esta previsão leva engessamento
do já anacrônico sistema tributário.

Além disso, a previsão constitucional de normas que deveriam estar em


leis ordinárias decretos sobrecarrega o STF de conflitos tributários.

A realidade é de que a desconstitucionalização de boa parte do Sistema


Tributário Nacional, mantendo-se, apenas as competências tributárias e os limites
do poder de tributar facilitaria a adequação das receitas às necessidades sazonais
da população, obviamente, desde que bem administradas.

Conclusão
O desenho constitucional de 1988 obriga a destinação das contribuições
sócias a um fim especifico. Não basta a atenção aos princípios tributários, sua
instituição e arrecadação, devem possibilitar a realização das atividades estatais
de caráter social.

A desvinculação das receitas traria maior liberdade ao administrador


público, mas para começarmos esta reflexão, temos que levar pensar em uma
desconstitucionalização do sistema tributário através de uma reforma profunda
na Constituição com discussões, inclusive, acerca do pacto federativo.

FONTE: <https://busca.legal/destinacao-das-contribuicoes-da-seguridade-social/>.
Acesso em: 8 set 2020.

192
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A moratória consiste em uma causa de suspensão da exigibilidade do crédito


tributário e refere-se à dilação do prazo para pagamento do tributo, sendo um
ato do poder público que suspende durante um determinado período o prazo
para pagamento do crédito tributário, no presente caso, um crédito de natureza
de seguridade social.

• A remissão consiste em uma espécie de perdão deste crédito tributário.

• A anistia consiste em uma modalidade de exclusão do crédito tributário,


podendo diferenciar a anistia das demais modalidades acima, pois esta ocorre
quando após já constatada a infração tributária, isenta-se o contribuinte do
pagamento de multa pecuniária ou demais penalidades.

• Entidades filantrópicas e entidades sem fins lucrativos possuem isenção


tributária geral e também com relação à seguridade social.

• O inadimplemento das obrigações tributárias em sede de seguridade social


incide em consequências administrativas e criminais.

• A natureza jurídica das contribuições para a seguridade social é tributária,


uma vez que conforme estudamos anteriormente, para além da previsão
constitucional, possuem regulação dentro da ordem tributária por meio do
Código Tributário Nacional – CTN.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

193
AUTOATIVIDADE

1 O Código Tributário Nacional traz, em seu artigo 151, um rol taxativo das
hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito. Com relação a estes,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Moratória.
( ) Anistia.
( ) O depósito do seu montante integral.
( ) As reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do
processo tributário administrativo;  IV - a concessão de medida liminar
em mandado de segurança.
( ) Parcelamento

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – F – F – F.
c) ( ) F – V – F – F.
d) ( ) V – F – V – V.

2 Uma das causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário,


a moratória de crédito tributário, encontra-se prevista no art. 151, I do
Código Tributário Nacional e é regulamentada nos artigos 152 a 155, do
mesmo diploma. Com base em seus estudos discorra sobre a moratória de
crédito tributário.

3 A anistia tributária pode ser compreendida como uma espécie de privilégio


fiscal. Em vista disso, para ser aplicada deve cumprir rigidamente os
requisitos estabelecidos no Código Tributário Nacional e na Constituição
Federal, visando limitar sua concessão e evitar o cometimento de abusos.
De acordo com o disposto no Código Tributário Nacional, assinale a
alternativa CORRETA com relação à anistia tributária:

a) ( ) Modalidade de cancelamento do crédito tributário.


b) ( ) Modalidade de exclusão do crédito tributário.
c) ( ) Modalidade de suspensão do crédito tributário.
d) ( ) Modalidade de aplicabilidade do crédito tributário.

194
REFERÊNCIAS
ALEXY, R. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da
Silva. 2. ed., São Paulo: Malheiros, 2011.

BRADBURY, L. C. S. La. Curso prático de direito e processo previdenciário. 3.


ed., São Paulo: Atlas, 2020.

BRASIL. Portaria nᵒ 14.402, de 16 de junho de 2020. Estabelece as condições para


transação excepcional na cobrança da dívida ativa da União, em função dos efei-
tos da pandemia causada pelo coronavírus (COVID-19) na perspectiva de recebi-
mento de créditos inscritos. Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/
sijut2consulta/link.action?idAto=110357&visao=anotado. Acesso em: 10 nov. 2020.

BRASIL. Emenda Constitucional nᵒ 103, de 12 de novembro de 2019. Altera


o sistema de previdência social e estabelece regras de transição e disposições
transitórias. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
emendas/emc/emc103.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da


Assistência Social e dá outras providências. Disponível em: http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefí-


cios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Segu-


ridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação


da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as trans-
ferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8142.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições


para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funciona-
mento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.

BRASIL. Lei complementar nᵒ 7, de 7 de setembro de 1970. Institui o Progra-


ma de Integração Social, e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp07.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.

195
BRASIL. Lei nᵒ 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tribu-
tário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União,
Estados e Municípios. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l5172compilado.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.

BRASIL. Decreto-Lei nᵒ 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Dispo-


nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm. Acesso
em: 10 nov. 2020.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1993.

CASTRO, C. A. P. de. Manual de direito previdenciário. 22. ed., Rio de Janeiro:


Forense, 2019.

COIMBRA, Direito previdenciário brasileiro. 7. ed., Rio de Janeiro: Edições


Trabalhistas, 1997.

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Estrutura. 2020. Disponível em: http://


conselho.saude.gov.br/estrutura-cns. Acesso em: 9 nov. 2020.

CONSELHO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. 2020. Disponível em:


https://www.gov.br/previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/conselho-nacional-
-de-previdencia. Acesso em: 9 nov. 2020.

DOWER, N. G. B. Instituições de direito público e privado. 10. ed., São Paulo:


Nelpa, 2001.

MONTEIRO, W. de B. Curso de direito civil: direito das obrigações. 35. ed., São
Paulo: Saraiva, 2009.

196

Você também pode gostar