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AULA 6

FUNDAMENTOS DE
EDUCOMUNICAÇÃO

Prof. Rodrigo Otávio dos Santos


TEMA 1 – A ESCOLA E A EDUCOMUNICAÇÃO

A escola é o lugar onde a educomunicação se promove, com a inserção de


obras comunicacionais no âmbito da educação. Entretanto, como já pontua
Orozco Goméz (2014), há sempre uma briga da escola com os meios de
comunicação. Isso porque a escola pretende ter o monopólio da educação, o que
já não é mais verdade desde o início do século XX, com a popularização dos
meios de comunicação.
Ora, as crianças e jovens atualmente – quer professores aceitem isso ou
não – aprendem muito mais por conta dos videogames, programas de televisão e
redes sociais, por exemplo, do que nas salas de aula, que, infelizmente, muitas
vezes são monótonas e com metodologias do século XVII, como os ditados ou o
“encher a lousa para copiar”. A escola, de acordo com Jacquinot-Delaunay (2011),
não mudou o suficiente para entender a forma como os jovens entendem e se
relacionam com o mundo que os cerca.
Isso se revela ainda pior quando pensamos que, em muitos casos, a escola
se nega a compreender. Professores, coordenadores, diretores e até mesmo
governos estaduais em vários momentos se negam a colocar a escola na vida
cotidiana de seus alunos. Assim, esta vai ficando cada vez mais defasada, e a
sociedade sempre a olha pelo retrovisor, ou seja, ela está sempre atrás, sempre
defasada.
Procuramos, então, com este curso, tirar um pouco dessa defasagem,
deixar a escola mais próxima dos nossos alunos, para que eles consigam
compreendê-la como um local interessante, estimulante e desafiador. Mas, para
tanto, ela precisa de algumas mudanças.
Talvez uma das principais mudanças seja a cultura dos professores. Em
pleno século XXI, parece inconcebível que, em uma sala com adolescentes, o
telefone celular seja banido. Não é banindo o celular que o aluno se concentrará
mais, pois o que o faz se concentrar talvez seja exatamente o celular. Em vez de
extirpá-lo, que tal utilizá-lo para a aprendizagem? O professor não pode ter medo
da tecnologia, ele tem que se aliar a ela.
Uma turma motivada, como qualquer professor sabe, rende muito mais e
promove melhor aprendizado aos seus indivíduos. Assim, inserir o celular na sala
de aula como ferramenta metodológica e de apoio docente pode ser muito
estimulante para os alunos. Um vídeo da plataforma YouTube pode ser

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transmitido por meio de um projetor para a classe toda, e, se o vídeo for
interessante, os alunos não se preocuparão em assistir no seu próprio celular.
Mais ainda: se eles conseguirem fazer colagens, recriações e novos olhares com
base nesse mesmo vídeo, melhor ainda.
A problematização pode ser feita dessa forma e o mesmo pode ser dito em
relação às músicas para o uso em sala de aula. A escola, permitindo a utilização
de celulares (e fones de ouvido), pode estimular a busca por músicas com algum
conteúdo determinado pelo docente, e, com essas músicas, fazer grandes e
interessantes trabalhos.
Assim, nosso principal ponto é que a escola não pode fugir da tecnologia.
Pelo contrário, deve abraçá-la. Para se tornar novamente atraente, ela tem que
se aliar à tecnologia que os alunos utilizam. Não adianta colocar uma lousa
eletrônica no lugar de um quadro de giz se o professor continua simplesmente
escrevendo para os alunos copiarem. A forma como os alunos utilizam a
tecnologia deve ser acompanhada pelos professores, que só serão efetivamente
ouvidos se conseguirem falar a mesma linguagem dos mais novos.
Também não se pode fugir dos meios de comunicação. Televisão, redes
sociais, cinema, músicas populares etc. não podem ser tratadas como se não
existissem, como se dentro dos muros da escola não fossem reais. Há fenômenos
culturais que não podem ser ignorados, em vários dos meios de comunicação. Os
novos artistas que surgem e se vão meteoricamente podem ter seus conteúdos
problematizados, discutidos, até para que os alunos compreendam o porquê de
aquele artista ser ruim ou não muito interessante. O que não é útil é dizer que
aquilo não pode passar pelos portões da escola.
Não podemos nos esquecer de que, do ponto de vista da cultura de massa,
a escola sempre foi um lugar de censura, e, como diz Umberto Eco (2015), há um
preconceito enorme contra aquilo que a academia define como “baixa cultura” ou
“cultura vulgar”. A escola poderia não se deixar levar por esses preconceitos e
entender que, mesmo na pior música, filme ou livro, há algo que toca o aluno. E
isso pode ser interessantíssimo (já que há identificação) para uma análise mais
aprofundada e problematização desse ou daquele conteúdo.
Além disso, do ponto de vista do investimento, seria interessante que as
escolas destinassem uma parte da sua verba para a compra de equipamentos
que possibilitassem trabalhar com educomunicação. Mesmo que apenas uma ou
duas caixas de som para a divulgação de músicas, e um microfone para, talvez,

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uma rádio escolar. Um projetor e um computador também podem ser úteis para a
exibição de filmes e outras obras audiovisuais. Uma biblioteca com histórias em
quadrinhos também já se revelou muito útil para o aprendizado.
Naturalmente, se a escola tem condições, quanto mais desses aparatos,
melhor, até que todas as salas de aula possam ter vídeo e áudio com qualidade.
Mais ainda, caso haja verba, a compra de alguns videogames para uso
pedagógico também seria interessante. Não estamos dizendo aqui que as escolas
e os professores não podem trabalhar com o que têm, ou que são necessários
grandes investimentos: estamos apenas salientando que, caso haja verba, há
diversos equipamentos para compra que possibilitariam um trabalho mais
eficiente com a educomunicação.

Leitura obrigatória
ECO, U. Apocalípticos e integrados. Brasília: Perspectiva, 2015.

TEMA 2 – TÉCNICAS DE APLICAÇÃO – O PROFESSOR

Uma das primeiras coisas que um professor que deseja trabalhar com
educomunicação deve ter em mente é que é necessário planejamento. Trabalhar
com elementos da comunicação é fascinante, mas, ao mesmo tempo, desafiador,
pois a oferta de produtos é gigantesca (apenas para termos uma ideia, segundo
o maior website de catalogação de filmes do mundo, o imdb.com, temos mais de
20 mil filmes sendo lançados por ano), mas a oferta de bons produtos é muito
mais escassa. Encontrar, em meio à miríade de filmes, canções, histórias em
quadrinhos, jogos etc., algo que efetivamente seja útil para sua aula, para debater
e problematizar, não é exatamente uma tarefa fácil.
Por conta disso, tem-se uma das principais características desejadas para
um bom professor que deseja trabalhar com educomunicação: a erudição. Como
informa Santos (2016), o docente tem muito mais condições de desenvolver sua
pesquisa e sua efetiva participação em sala de aula quando detém maior
repertório. E quando estamos falando em erudição e repertório, falamos de filmes,
músicas, quadrinhos e jogos que o professor tenha por ventura assistido e consiga
fazer um elo com sua disciplina ou com o tema a ser trabalhado naquele momento.
Isso posto, é necessário avisar o professor também que essa erudição não
aparece da noite para o dia, e que é necessário tempo e dedicação. Napolitano
(2010) chega a dizer que o professor poderia se preparar com cerca de um ano

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de antecedência, colecionando referências de obras para o uso na sala de aula,
assistindo a filmes, ouvindo canções com mais atenção, jogando alguns jogos,
lendo histórias em quadrinhos...
O papel do professor também é digno de nota. Orozco Goméz, em
entrevista para Fígaro (2011, p. 245), diz:

O papel que eu gostaria que tivessem os professores seria o de


facilitadores de experiências e aprendizagem das crianças. Isto significa
que o professor não é a pessoa que chega à aula e diz: “Aqui está o livro,
aqui está o vídeo, temos que memorizá-los, passar no exame, estão aqui
para serem aprovados”. Penso que um professor tem que ser, em
primeiro lugar, provocador de experiências e de aprendizagem, para as
quais podem ser muito úteis as novas tecnologias.

Assim, o professor que quer se valer da educomunicação tem que ter em


mente que não basta assistir ao filme com os alunos e perguntar o nome do
protagonista ou escutar uma canção e pedir para que a repitam em uma folha de
papel. O docente integrado à educomunicação é uma pessoa que vai instigar os
alunos, que vai problematizar questões muito mais complexas do que o mero
memorizar ou se utilizar de perguntas simplistas.
A problematização e a matização dos conteúdos são de extrema
importância. Discutir questões de consumo, bem como as de produção das obras
estudadas, é fundamental, assim como tentar traçar paralelos entre o que se
passa na tela ou nos ouvidos e a realidade do aluno. De nada adianta
simplesmente uma obra ilustrativa, muito menos uma obra para puro
entretenimento. Cinema, quadrinhos e música para entretenimento os alunos já
têm.
É interessante dizer também que, desde o início, o professor deve explicitar
as intenções pedagógicas da utilização de determinada mídia em sala de aula.
Mais do que isso, o docente deve indicar aos alunos o que ele deseja que estes
enxerguem ao assistir determinado filme, por exemplo. Os alunos precisam estar
cientes de que há filmes para diversão, para assistir com os amigos ou com a
família em um sábado à tarde, mas que, naquele momento, o filme, a história em
quadrinhos, a música ou o jogo está servindo ao propósito pedagógico. A obra de
comunicação é um artefato educacional, tão ou mais importante que o giz, a lousa
e o livro didático, com os quais os alunos já estão acostumados.
Outro ponto que desejamos frisar é que a escola sempre deve estar ciente
das intenções do professor, uma vez que muitos alunos e muitas vezes seus pais
podem não entender a proposta pedagógica a ser utilizada, principalmente se

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levarmos em consideração o preconceito que muitas pessoas ainda têm em
relação ao uso de elementos comunicacionais em sala de aula. Em muitos casos,
infelizmente, as pessoas ainda acreditam que a escola deveria se ater apenas ao
livro didático e que, do muro da escola para dentro, as comunicações de massa
deveriam ser banidas. O docente deve ficar atento a essa possibilidade.
Uma questão que foi levantada por Napolitano (2010) é a possibilidade da
utilização do mesmo recurso comunicacional para mais de uma disciplina. Nesse
caso, é interessante a sinergia entre professores e disciplinas, como já
comentamos. Se um mesmo filme, por exemplo, puder servir para dois conteúdos
de duas disciplinas diferentes, seria um ganho exemplar para alunos e
professores.
Vejamos um filme como A Guerra do Fogo, de Jean-Jacques Annaud. Ele
sozinho pode ajudar professores a discutirem questões de linguística (por
exemplo, português), de sociologia, de história e de geografia. As possibilidades
de problematização em todas essas disciplinas são riquíssimas, basta entrar em
consenso entre os docentes sobre o melhor momento para a exibição.
Em alguns casos, é possível reunir mais de uma turma para a exibição da
mesma obra. Também pode ser interessante reunir duas ou três turmas para a
audição de algumas canções previamente programadas, bem como fazer
competições de videogames entre as classes pode ser útil para a motivação dos
discentes e, por consequência, uma maior assimilação do conteúdo a ser
trabalhado. Basta pensarmos em jogos de tabuleiro, como War (Risk), que pode
ser útil à História e à Geografia, ou Banco Imobiliário, que pode ser útil para a
Matemática e a Sociologia.
Novamente, sentimos necessidade de alertar que todas essas tarefas
devem ser pensadas com bastante antecedência, e que o planejamento é
essencial para que cada atividade não se transforme apenas em mais um
passatempo para os alunos. Para cumprir sua função didática, a tarefa deve ser
bem-pensada e executada com cuidado.

Leitura obrigatória
CITELLI, A. O.; COSTA, M. C. C. (Org.). Educomunicação – construindo uma
nova área de conhecimento. São Paulo: Paulinas, 2011.

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TEMA 3 – TÉCNICAS DE APLICAÇÃO – OS ALUNOS

O papel dos alunos não pode ser subestimado no que tange à utilização da
educomunicação. Imaginar que o aluno é um ser passivo e inexpressivo no qual
o professor vai inserir conhecimento é uma concepção já há muito tempo
ultrapassada, e não é mais possível reconhecer essa ideia em nenhuma esfera
da prática pedagógica.
Isso posto, é necessário levar em consideração os desejos dos alunos e,
também, seu entorno. Freire (1996) já informava que é muito mais simples e muito
mais útil começar o processo educacional pelo aluno, levando em consideração o
seu entorno. Assim, em vez de o professor escolher uma canção para trabalharem
em sala de aula, poderia oferecer uma chance aos alunos de escolherem.
Naturalmente, uma escolha consciente, com base em um tema – a própria escolha
consciente dos alunos já ajudaria em seu processo didático.
A negociação com os alunos é muito importante. Voltando ao exemplo da
música, se o professor precisa ou quer utilizar uma música, digamos, da MPB, e
os alunos querem uma música de hip-hop, por que não uma alternância? Na
primeira vez, os alunos decidem a música (com base em alguns critérios
elaborados pelo professor), e, depois, o professor decide a canção, já com maior
apoio do alunado.
Outra coisa interessante é não subestimar a capacidade de compreensão
dos estudantes. Ainda que eles vejam ou ouçam coisas diferentes do professor,
este deve estar atento para utilizar também as percepções dos alunos no
momento da reflexão com a turma, no momento da problematização do tema
proposto. Muitas vezes, quando o professor está aberto a escutar o que os alunos
têm a dizer, são grandes as surpresas positivas. Em muitos casos, a reflexão dos
mais jovens acaba sendo ainda mais profunda que a do docente, e, quanto mais
autonomia é concedida aos alunos, novamente voltando à Freire (1996), maior a
reflexão individual e mais densa é a retenção daquele conhecimento.
Como explica Orozco Gomés (2014), a possibilidade de aprender é muito
superior à possibilidade de ensinar. Conseguimos ensinar muito menos do que
aquilo que nos foi ensinado, e isso se reflete em nossos alunos. Não se deve
subestimar as subjetividades do aprendizado dos indivíduos, muito menos suas
reflexões. Assim, podemos dizer que o aluno é a parte mais importante do
processo de ensino-aprendizagem quando utilizamos técnicas como a da

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educomunicação, em que o professor, em geral, comporta-se mais como um
mediador do que como um detentor do saber.
Por outro lado, o maior desafio do docente é evitar a “bagunça”,
principalmente em turmas muito jovens. É muito comum escutarmos de
professores que eles desistem de tentar novos métodos porque não conseguem
“controlar” a turma, ou não conseguem fazer com que as crianças se acalmem e
prestem atenção.
Bem, em relação a isso, podemos dizer que a diferença é apenas no
comportamento. Uma turma apática e que fica apenas em silêncio pode ser mais
fácil para o professor, mas de forma alguma indica que os alunos estão
aprendendo alguma coisa. Como afirma Vygotsky (1998), muito se aprende
interagindo, em contato com os colegas, e esse contato não é silencioso,
principalmente em turmas muito jovens.
De qualquer forma, o esforço em controlar as crianças terá frutos muito
bons, e, depois da primeira ou segunda vez em que a atividade está sendo feita,
os alunos já se comportam de forma melhor, pois já entenderam a dinâmica e
sabem que, apesar de estarem diante de uma obra midiática, ainda assim estão
na escola e, portanto, é o momento de concentração para o aprendizado.

Leitura obrigatória
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia – saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

TEMA 4 – TÉCNICAS DE APLICAÇÃO – TRABALHOS EM EQUIPE

Normalmente, quando professores vão se utilizar da educomunicação, por


uma questão de tempo e até de agilidade, preferem fazer trabalhos em equipe.
Todo educador sabe, desde Vygotsky (1998), que a Zona de Desenvolvimento
Proximal é articulada em conjunto com os colegas, em um processo dialógico.
Isso abre um campo muito interessante para o docente criar atividades que
envolvam obras comunicacionais e o conceito/tópico que deseja discutir com os
alunos.
Observando, naturalmente, a idade e o desenvolvimento dos alunos, o
professor pode sugerir debates entre filmes, por exemplo, com base em um
mesmo tema. Um docente de Língua Portuguesa pode, por exemplo, propor a
discussão de um filme como Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade,

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com seu vocabulário rebuscado, e Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, com
seu linguajar das ruas. Uma problematização em relação à forma de falar pode
muito bem ser efetivada por esses filmes.
Entretanto, essa discussão, como fica evidente, não pode ser feita
individualmente. Se cada aluno assistir a um filme e todos debaterem, por melhor
que seja a intenção do professor e dos alunos, a sala de aula virará uma torre de
Babel, incompreensível. Nesse caso, quando utilizamos filmes, recomendamos
que sejam feitas duas ou, no máximo, três equipes na sala toda, para que exista
apenas dois ou três filmes para debater.
Caso o docente queira fazer grupos menores, a melhor tática parece ser a
de rodadas, ou seja, duas equipes debatem enquanto o restante da sala de aula
assiste ao debate. Porém, nesse caso, há uma chance de os que estão de fora
da discussão se entediarem e não haver paz na classe.
Outra questão a ser pontuada é o controle que o professor deve fazer em
um trabalho em equipe, para que a carga de trabalho não fique sobrecarregada
em um ou dois indivíduos enquanto o restante do grupo trabalha menos. Para
isso, a educomunicação também acaba ajudando, uma vez que se pode colocar
toda a equipe junta para, continuando no exemplo anterior, assistir ao filme. É
possível também estipular papéis para cada um dos alunos, já que a produção de
um filme envolve centenas de pessoas, e fica relativamente fácil dividir as equipes
com base nessa organização.
Por último, é interessante notar que os trabalhos motivados pela
comunicação têm uma aceitação maior por parte dos alunos, o que significa que
podem também promover uma espécie de ajuda para aqueles que são mais
tímidos, ou mais entediados. Em ambos os casos, todos se beneficiam, porque a
motivação dos alunos cresce com esse tipo de atividade, e até o lugar do aluno
no grupo de estudantes pode ser melhorado com esse tipo de atividade.

Leitura obrigatória
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins, 1998.

TEMA 5 – TÉCNICAS DE APLICAÇÃO – INDIVIDUALMENTE

No que tange à aplicação da proposta, o professor deve tentar fazer com


que todos sejam escutados durante as aulas, sempre lembrando que a proposta
educomunicacional é a de reflexão por parte dos alunos, de problematização de

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questões prementes no conteúdo do professor. Isso posto, a voz individual de
cada aluno é muito útil para o debate com o grupo.
Dar voz às pessoas e escutar suas interpretações sobre a obra posta é
muito interessante porque, não raro, o professor se surpreende com a sagacidade
dos alunos e, mais do que isso, com as possibilidades aventadas, uma vez que o
olhar deles, em especial daqueles mais jovens, com grande diferença geracional
em relação ao docente, pode ser muito diferente e proporcionar ótimos e novos
olhares não apenas para o sujeito, mas também para todo o grupo que se dispôs
a fazer a atividade.
Como se processa no ambiente escolar, durante a execução e depois de
completada a atividade proposta, algum tipo de aferição deve ser feito, para que
o professor saiba o que está acontecendo com seu alunado. Muitas vezes,
principalmente nas primeiras tentativas, o professor pode se frustrar, já que um
ou outro estudante não conseguiu compreender ou mesmo não entendeu a
proposta.
Também acontece de a atividade não surtir o efeito desejado na primeira
aplicação. Isso é normal, e vai se dissipando com o tempo. O mais importante é o
docente estar atento para a constante melhoria, tentando perceber como os
indivíduos reagem aos estímulos educomunicacionais e fazendo um ajuste fino do
método e da atividade realizada, e, com base nesse feedback, tentar contemplar
todos os alunos na proposta. Se não conseguir todos, que pelo menos mais de
80% da turma se identifique, se empenhe e realmente aprenda.
O próximo passo é a avaliação. Quando o professor deseja avaliar
individualmente os alunos de sua sala de aula, como sabemos, deve ter cuidado
com a formulação da avaliação. Desde já salientamos que uma “prova” não
necessariamente é a melhor forma de avaliação, como explicita Both (2007). O
autor chega a dizer que a avaliação é também um momento de ensinar, não
apenas de descobrir se o aluno compreendeu ou não, e, mais ainda, que grande
parte da avaliação ocorre quando se ensina, no momento em que o aluno toma
conhecimento do conteúdo a ele transmitido.
Nesse sentido, queremos deixar claro aos docentes que fazer uma
avaliação estilo “decoreba”, ou seja, que vai avaliar apenas a capacidade de
memorização do aluno, é contraproducente ou inútil. Simplesmente decorar o
nome do autor da canção, os versos dela ou o nome do autor que atuou em um

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filme não serve de nada, como afirma Napolitano (2010). Informações podemos
conseguir facilmente na internet.
Por isso, o importante é que o aluno seja instigado, tenha sua curiosidade
e criatividade postas à prova. Assim, depois de assistir a um filme, uma redação
sobre o filme é muito mais interessante do que uma prova com cinco alternativas
por questão, da mesma forma que pedir para o discente criar a letra de uma
canção com elementos iguais aos que vira em sala de aula também pode ser uma
ótima alternativa.

Leitura obrigatória
NAPOLITANO, M. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo: Contexto,
2010.

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REFERÊNCIAS

BOTH, I. J. Avaliação planejada, aprendizagem consentida. Curitiba: Ibpex,


2007.

ECO, U. Apocalípticos e integrados. Brasília: Perspectiva, 2015.

FÍGARO, R. Uma pedagogia para os meios de comunicação: Guillermo Orozco


Goméz. In: CITELLI, A. O.; COSTA, M. C. C. (Org.). Educomunicação –
construindo uma nova área de conhecimento. São Paulo: Paulinas, 2011. p. 91-
98.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática


educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

JACQUINOT-DELAUNAY, G. A escola, o fenômeno midiático e o processo de


evolução social. In: CITELLI, A. O.; COSTA, M. C. C. (Org.). Educomunicação –
construindo uma nova área de conhecimento. São Paulo: Paulinas, 2011. p. 99-
107.

MARTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: Editora da


UFRJ, 2015

NAPOLITANO, M. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo: Contexto,


2010.

OROZCO GOMÉS, G. Educomunicação: Recepção midiática, aprendizagens e


cidadania. São Paulo: Paulinas, 2014.

SANTOS, R. O. dos. Fundamentos da pesquisa histórica. Curitiba: InterSaberes,


2016.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins, 1998.

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