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ROTEIRO DE APRESENTAÇÃO - TEXTO 18

MALDIÇÕES, FETICHES E COMUNISMO NA CRÍTICA DA ECONOMIA


POLÍTICA: A TEORIA DA ALIENAÇÃO DE KARL MARX

07/11/2023
Arthur dos Santos
Sabrina Santana

BRANCO, Rodrigo Castelo. Maldições, Fetiches e Comunismo na Crítica da


Economia Política: a teoria da alienação de Karl Marx. In: Cadernos UniFoa, edição
no 06, abril 2008, p. 28-39.

1. A pluridimensionalidade da categoria ‘alienação’ e a centralidade da sua


determinação econômica

A alienação é um processo social que vai muito além das fronteiras do mundo do trabalho
e atinge vários elementos e comportamentos da vida humana.

É um conceito pluridimensional: a alienação é um fenômeno histórico que compreende


diversas esferas do ser social (política, religião, ideologia), mas com centralidade na base
econômica.

“No caso da alienação política, estamos falando do homem e do


Estado; na religião, do homem e de Deus; na economia, do
homem e do Dinheiro e, posteriormente, do Capital”. (CASTELO
BRANCO, 2017, p. 30).
Marx analisa a alienação a partir da formação histórica da sociedade de classes, da divisão
do trabalho e do surgimento da propriedade privada.

Nesse processo: objetos são criados por um sujeito → se exteriorizam e ganham vida
própria → dominam seu criador → transformam o sujeito em objeto.

1.1. Os Manuscritos Econômico-Filosóficos

Os Manuscritos correspondem à crítica de Marx da economia política. Diferentemente


dos teóricos da economia política, para Marx a objetivação alienada e a coisificação das
relações de produção são produtos da estrutura organizacional da sociedade, fundada na
produção de mercadorias.

“A economia política se torna sua fonte da preocupação quando


Marx percebe-a como uma justificativa ideológica da alienação
da sociedade capitalista, regida pela vontade de uma potência
alheia aos desejos do trabalhador.” (CASTELO BRANCO, 2017,
p. 31).
Nesse mundo estranho ao homem, pautado na mercadoria e no dinheiro, o trabalhador é
separado do produto de seu trabalho e (sub)existe como sujeito físico, coagido a vender-
se como mercadorias.

1.2. Trabalho assalariado e propriedade privada: a alienação econômica

Marx, ao buscar explicar o processo sócio-histórico da gênese da propriedade privada e


suas implicações, adota o ponto de vista do real, com a produção humana e a situação
social dos trabalhadores. Ele não assume o enfoque de um homem qualquer e geral, mas
o do trabalhador, o proletariado.

“Os homens são analisados na sua vida concreta, na sua existência


prática de transformação do mundo e de si mesmo, como produto
e produtores da realidade social.”. (CASTELO BRANCO, 2017,
p. 33).
O trabalho é do mesmo modo uma atividade consciente de realização do homem e uma
forma de mediação primária da relação homem-natureza, onde os trabalhadores
produzem objetos e se reconhecem neles.

“Marx acusa a economia política de reduzir o trabalho ao


emprego, e o trabalhador à condição de mão-de-obra, de
instrumento de produção, de ‘uma besta reduzida às mais estritas
necessidades corporais”. (CASTELO BRANCO, 2017, p. 33).
A alienação é o lado obscuro do trabalho. Em suma, pode ser descrita da seguinte forma:

• O trabalhador é alienado dos produtos de sua atividade. → Esses produtos


pertencem aos donos do meio de produção que os vendem no mercado.
• O trabalhador é também alienado do processo de produção. → Os burgueses
controlam o processo de trabalho no qual o trabalhador está inserido e, por
conseguinte, são donos do produto final.
• O homem deixa de se reconhecer como membro de uma espécie. → Devido a
desumanização do trabalhador.
• Alienação do homem com outros homens. → O homem se torna estranho ao seu
ser.

Segundo Marx, “na manufatura e no artesanato, o trabalhador utiliza a ferramenta, na


fábrica, ele é um servo da máquina”, pois torna-se apenas força de trabalho e é
transformado em coisa.

2. O fetichismo da mercadoria

É um conceito chave na teoria de Karl Marx e se refere a uma ideia central em sua análise
crítica do capitalismo. Para Marx, o fetichismo da mercadoria é a tendência das pessoas
em sociedades capitalistas a atribuir valor não às mercadorias com base em sua utilidade
intrínseca ou trabalho necessário para produzi-las, mas sim ao seu valor de troca no
mercado.

“A resposta do segredo do fetichismo da mercadoria – da


reificação das relações sociais de produção – não está na
propriedade material das coisas produzidas pelo trabalhador, nem
somente nas relações de troca entre agentes econômicos
independentes e que produzem atomizadamente”. (CASTELO
BRANCO, 2017, p. 36).
A economia emerge, segundo o materialismo histórico de Marx e Engels, como a base
social fundante das relações humanas, pois:

“(...) os homens foram obrigados a dedicar a maior parte de sua


atividade à resolução dos problemas referentes à produção e à
distribuição das riquezas materiais (...)”. (GOLDMANN, op. cit.,
p.110).
Assim, dentro do sistema capitalista, a lógica econômica e a busca por lucro começam a
dominar e moldar outros aspectos da vida social. Isso ocorre à medida que mais e mais
aspectos da vida humana são mercantilizados, ou seja, transformados em commodities
para serem compradas e vendidas no mercado. Pois, no capitalismo, o mercado é uma
instituição social e econômica de alocação de recursos caracterizada pela ausência de um
mecanismo centralizador e planificador da produção, distribuição, troca e consumo das
mercadorias.
3. A superação positiva da alienação na crítica da economia política

Ao não investigar a gênese histórica das suas categorias fundantes – trabalho e


propriedade privada, dentre outras – a economia política clássica naturaliza as relações
sociais de produção subjacentes ao plano da aparência econômica (troca, consumo e
distribuição), eterniza suas categorias analíticas que reproduzem a positividade capitalista
e, com isto, acaba por legitimar o mundo desumano do trabalho alienado e ofuscar rotas
alternativas de construção de uma nova ordem social.

A economia política clássica expressa relações sociais de um mundo alienado, em que o


produtor direto produz a riqueza social privadamente apropriada pelas classes dominantes
e, ao mesmo tempo, se empobrece, absoluta e/ou relativamente, quanto mais riqueza
produz.

“A crítica da economia política, extenso projeto de pesquisa que


ocupou mais de vinte anos da vida de Karl Marx, não significa
repúdio, mas um profundo mergulho naquela ciência que traz a
chave da anatomia da sociedade burguesa (NICOLAUS, 2003,
p.106).”
Destarte, a crítica da economia política de Marx, em si, é positiva, ou seja, traz em si
negação e superação, a proposta de algo novo que nasce do velho, uma nova organização
societal de libertação do homem dos grilhões do capital.

4. Questões-debate – textos 17 e 18

De acordo com os pensamentos de Marx, a base da sociedade e das relações estabelecidas


entre seus membros é definida pelo processo de trabalho. Sendo assim, responda:

a) Qual a relação entre a burguesia e as classes sociais, no contexto da luta de classes,


e o conceito de mais-valia?
b) Qual a relação entre o proletariado e a alienação, no processo de produção, e o
conceito de fetichismo da mercadoria?

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