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ABREGO DE LACY
C o n selh o de D ir e ç ã o
José M anuel Sánchez Caro (Coordenador)
A lfonso de la Fuente Adánez
Rafael A guirre M onasterio
Julio Trebolle B arrera
Santiago G uijarro Oporto
OS LIVROS
P lano
PROFÉTICOS
geral da obra
1. A Bíblia e seu contexto*
2. B íblia e Palavra de Deus*
3. O Pentateuco e a historiografia bíblica
4. Os Livros Proféticos
5. Livros Sapienciais e outros escritos*
6. Evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos*
7. Escritos paulinos
8. Escritos joaninos e cartas católicas
9. Literatura judaica intertestam entária (suplem ento I)
10. Literatura e exegese cristã prim itiva (suplem ento II)
EDITORA
* Volumes publicados ou no prelo. AVE-MARIA
193
C a p ít u l o V I
I. Temos um texto contra Nabonid, publicado parcialmente em J. Briend, Israely Judá en los
textos dei Próximo Oriente antiguo: Doc. em tom o a Ia Bíblia 4 (Estella 1982) 90-91, equivalente a
ANET 3 15-3 16 (versão em espanhol, SAO 243-246). Cf. também ANET 306-307 (SAO 240-241).
194 EzeqaieI e o segundo Isaías História da época e sua problemática 195
em certos vestuários sacerdotais babilônios, convém recordar a boa re com unidade devia ser o húm us do qual nasceram alguns textos bíblicos,
cepção que fizeram a Ciro. O dom ínio deste novo senhor do m undo se especialm ente as Lam entações (e o SI 74 ou Is 63,7-64,12).
fundam entava no restabelecim ento das tradições religiosas e cultuais de Na B abilônia se encontrava a aristocracia política, religiosa e inte
cada povo, o que lhe granjeou não som ente as sim patias dos povos lectual do povo. Foram chegando em três deportações sucessivas nos anos
vassalos, mas tam bém da m esm a capital. de 597, 586 e 582. O rei Jeconias, a sua fam ília e os mais influentes
Se nos perguntarm os pelo povo judaico da época, nós o encontrare políticos e sacerdotes chegaram na prim eira deportação. N ão foram m ui
mos dividido em três regiões principais: as novas colônias do Egito e da to numerosos. Já vimos que Bright dim inuiu a cifra para 20.000 deporta
Babilônia, e os poucos que perm aneceram na Palestina. Dos que fugiram dos, mas o seu influxo posterior foi enorme. Entre eles nasce um a nova
para o E gito não podem os d izer m uito: chegaram ali fu g in d o dos form a religiosa que conhecem os com o nom e de judaísm o, fundam enta
babilônios, e desprezando expressam ente o apoio dos am onitas. Junto do nas reuniões oracionais, na falta do culto sacrifical do tem plo e nos
com Joanã e seus capitães (Jr 41,11 -18), chegou uma porção de judeus e, elem entos diferenciadores de seu modo de ser (circuncisão e sábado). A
contra a sua vontade, o profeta Jerem ias. Estabeleceram -se em Tafnes e grandiosidade da B abilônia e o esplendor de seu culto aum entaram -lhes a
logo se dispersaram por outras regiões egípcias. A colônia ju d aica no saudade de Jerusalém , mas apresentavam -se tam bém com o um a tentação
Egito tornou-se, com o passar do tem po, m uito im portante, mas neste para a sua fé. A riqueza literária e religiosa da época do exílio se deve em
m om ento mal tiveram com que sobreviver. É notório que os docum entos grande parte ao grupo dos deportados para Babilônia. D a releitura sacer
bíblicos seguem por m otivos teológicos os passos desta com unidade (2 dotal que fizeram das tradições originais nasceu posteriorm ente a Torá.
Rs 25,25-26; Jr 41 - 44), que não tem m uita im portância para o m om ento. Reescreveram a sua história com m entalidade deuteronom ista, conserva
Em Judá a situação era m uito difícil diante do evidente despovoa- ram as tradições proféticas e as adaptadas à sua realidade. D esenvolve
m ento (se atinge a cifra de 20.000 habitantes2). N ão é precisam ente uma ram, em síntese, um intenso labor catequético e literário.
situação de abandono, mas sim de instabilidade. D eixa-se sentir a influ
ência dos reinos vizinhos que durante algum tem po conservaram um a
relativa independência, com o são A m on e Edom: o prim eiro interveio na 2. Os problemas teológicos
morte de Godolias e provocou, sem querer, a conseqüente fuga de um
O fato de que o m om ento m ais crítico da existência do povo judaico
grupo de judeus para o Egito; o segundo expandiu o seu território por
se convertesse num dos mais fecundos para a sua fé se deve à audácia
Judá, chegando inclusive até Hebron. Se o reino do N orte era adm inistra
com que um grupo de fiéis encarou a crise teológica do m om ento. Por
do diretam ente com o província babilônica, não se sabe com certeza a
isso, há um especial interesse em querer apresentar, em bora de uma for
situação de Judá. Talvez dependesse de Samaria. Os dirigentes agrários
m a breve, alguns aspectos que foram fundam entais na pregação profética
que não pertenciam à aristocracia cortesã tom aram as rédeas da situação
do momento.
precária e cuidaram da sobrevivência. A pesar de a capital e o tem plo se
encontrarem destruídos, as suas ruínas atraíam de algum a form a a pieda
a) O m onoteísm o radical
de popular e os peregrinos se reuniam esporadicam ente (Jr 41,5). A reli
gião carecia do ornam ento cultuai do passado e é possível que o seu A queda de Jerusalém e a destruição do tem plo supõem algo m ais do
javism o estivesse minado. Os irm ãos do N orte não ajudaram de um a for que um a sim ples desarticulação das esperanças históricas de um povo;
ma precisa a salvaguardar a tradição em sua pureza. N o entanto, esta para aqueles que sobreviveram , supôs a com provação histórica da falsi
dade de sua fé. Todos os dogm as de sua fé caíram por si sós: a prom essa
davídica, a A liança, o dom da terra, o seu nascim ento para a liberdade, a
2. Cl'. Bright, Historia, 410. Para uma visão dc conjunto deste período, com as suas devidas unicidade de Deus... O esplendor do culto babilônico, apesar das dificul
implicações políticas e religiosas, cf. a obra mais completa até o momento, W. D. Davies /L . Finkelstein dades por que passou no reinado de Nabonid, lhes fazia pensar que Javé
(eds.), The Cambridge History o f Judaism. /. Introduction. The Persicin Period (Cambridge 1984); pode ter sido um deus forte e poderoso nas épocas históricas, mas que no
cf. também uma síntese sobre este período e o capítulo seguinte, centrado 110 nascimento do judaís
mo, em J. M. Sánchez Caro, Esdras, Nehemías y los orígenes dei judaísmo, “Salmanticensis” 32 presente a glória e o poderio de M arduk eram incontestáveis; Javé tinha
(1985)5-34. sido derrotado. É verdade que a pregação profética sem pre sustentou que
História da época e sua problemática 197
196 Ezequiel e o segundo Isaías
exilados ao regim e hierosolim itano. Num prim eiro m om ento, o proble
a derrota não era de Javé, mas do povo; que Javé tinha lutado contra o
ma era teológico, mais tarde se acentuou o aspecto sociológico. O acento
povo pecador e rebelde. Pois bem, esta voz continuou sendo ouvida com
estabelecia a qual m entalidade organizativa deveria impor-se. Estas dife
um a grande audácia: não som ente M arduk não era mais forte do que o
renças teológicas dão um a idéia da dispersão em “correntes” dos judeus
D eus de Israel, mas que Javé é o único Deus e os ídolos são nada, são
fiéis, m as não parece que causaram diretam ente as perplexidades que en
vacuidade, obra de mãos hum anas, apesar de serem recobertos de ouro e
frentou a com unidade que em seu m om ento em preendeu a reconstrução
prata. Som ente o D eus de Israel é o D eus criador e o Senhor da história.
de Jerusalém . H ouve outras causas, entre as quais não era acidental a
Tais afirm ações são típicas desta época (Jr 10,3-5.14; C arta de Jerem ias;
diferente extração social das pessoas (Jr 39,10).
Ez 7,20; Is 41,24; 44,9-20). A pregação de Elias, afirm ando que Javé era
o único D eus de Israel, fica ultrapassada e transcendida. Esta audácia
crente é a que possibilitou a esperança num m om ento tão crítico. Esta
c) A retribuição individual
visão proporcionou tam bém um a visão universalista da religião judaica.
O problem a do mal e da dor sem pre foi um problem a para Israel e
para toda religião m onoteísta. A o não existir um a divindade negativa so
b) A origem geográfica da salvação bre a qual se possa descarregar a culpabilidade, é preciso buscar outras
vias de explicação. A culpabilidade reside no pecado do povo: esta foi a
Certam ente, nem todos os judeus alim entaram pensam entos de es
solução adotada por Israel, tanto na pregação profética com o na catequese
perança. Houve os que se separaram num a adaptação total aos costum es
deuteronom ista. A pesar de tudo, Javé nunca pôde livrar-se de certas nó
da região, na qual viviam. Outros se resignaram com a sua situação, lim i
doas em relação ao mal e à dor, com o se pode ver na m esm a m ensagem
tando-se a sobreviver. N ão foram muitos os que sonharam com um a ação
de Isaías.
salvífica do Senhor. Talvez, a princípio, fossem num erosos os que espe
O problem a se aguça neste mom ento crucial da vida do povo por
ravam um a rápida restauração e reconstrução de Jerusalém e do reino.
duas razões: pela radicalidade do desastre e pela m entalidade individual
Tam bém sabem os que a possibilidade de um longo exílio provocava rápi
que vai adquirindo foros de cidadania. O tem a do “fim do povo” já o
das reações contra a desm oralização (Jr 29). A pesar disso, a destruição de
trataram com todo o seu vigor profetas com o Amós e Oséias vários sécu
Jerusalém no ano de 587/586 deve ter representado sério revés para suas
los antes da destruição de Jerusalém . Porém , devido à m entalidade
esperanças. Por isso, as dificuldades encontradas por aqueles que anim a
“corporativa” do povo, nunca tiveram que defrontar-se seriam ente com o
vam o povo a regressar no m om ento decisivo foram m uito grandes (Esd
problem a do castigo do justo. O inocente sofre perseguição e opressão
2; N e 7; Ag 1,2-11; Zc 5,1-5) e tiveram que anim ar o povo (Is 40,27;
por parte do m alvado; dele Deus tem que livrá-lo através de sua justiça
43,18; 49,14) e insistindo para que partissem (Is 48,20; 52,11). Contudo,
vicária nos tribunais ou direta em sua intervenção. Quando D eus castiga
para aqueles que sem pre esperaram pela salvação, se levantava um pro
todo o povo pelo seu pecado, é normal que o inocente sofra o castigo
blem a de difícil solução. A partir de 597 havia duas possibilidades de
coletivo. Isto é justo? Esta era a pergunta com a qual tiveram que se de
encará-la: alguns pensavam que Jeconias, o rei exilado na B abilônia, era
frontar tanto Jerem ias com o Ezequiel, respondendo ao refrão que se tor
o legítim o e dele se devia esperar a restauração da m onarquia davídica;
nou popular na época: “Os pais com eram uvas verdes e os dentes dos
outros aceitavam Sedecias com o rei e pensavam que a salvação residia
filhos ficaram em botados” (Jr 31,29-30; Ez 18,2). Estes profetas defen
naqueles que permaneceram em Judá. Jeremias alinhou-se claram ente com
deram incansavelm ente a justiça do agir de D eus, mas nunca puderam
o segundo grupo (Jr 22,24-30; 24; 32). Ezequiel provavelm ente com o
proporcionar um a solução intelectualm ente satisfatória. O tem a alcança
prim eiro grupo (os seus oráculos datam da época de Jeconias e a Sedecias
o seu ápice literário e de proposta no livro de Jó, no qual se fundem a
não cham a de rei, Ez 17,11-15). Esta dúvida se m anteve com força até
poesia e o m istério. Som ente no caldo de cultivo desta problem ática é
que no ano de 586 foi destruído o templo de Jeaisalém . Parece que Jeremias
im aginável um a solução tão audaz como a que oferece a figura do servo
esperava a salvação para aqueles que perm aneceram no território palesti
(segundo Isaías), na qual, conforme veremos, se funde a pessoa individual e
no (Jr 42,10). As duas posturas tiveram certa força na sua época, mas
seu valor corporativo numa função salvífica misteriosa e grandiosa.
nunca se duvidou de que a restauração passava pela incorporação dos
198 Ezequiel e o segundo Isaías História da época e sua problemática 199
3. Observação cronológica sobre a queda de Jerusalém Abril 573-Abril 572: ano 3 2 2 de N abucodonosor, 2 5 2 da deporta
ção (Ez 40,1), 14 2 depois da queda de Jerusalém (Ez 40,1).
São vários os problem as cronológicos que se costum a encontrar ao D este m odo, o cerco de Jerusalém durou do dia 5 de janeiro de 587
estudar esta época histórica. M uitos deles permitem , além disso, chegar a a 18 de julho de 586, isto é, um ano e meio. A prim eira atividade profética
especificar dados m uito concretos, inclusive mês e dia. M as os abundan de Ezequiel vai de 31 de julho de 593 a 18 de julho de 586, isto é, 7 anos.
tes dados que neste aspecto nos oferece o A ntigo Testam ento são em si A paralisia de Ezequiel e a sua m udez vai do dia 18 de julho de 586 a 5 de
m esm os problem áticos. Para conjugá-los corretam ente é preciso levar em janeiro de 585, num total de 25 semanas. Tam bém em Jr 52,4 aparece a
consideração vários aspectos. Em prim eiro lugar, alguns (por exem plo, data da queda de Jerusalém . Para muitos é um dogm a que Jerusalém caiu
aqueles que são apresentados nos livros de Jeremias e dos R eis) seguem em 587, m as para m anter tal data seria necessário corrigir 4 dados bíbli
em sua cronologia o rei Sedecias, enquanto outros (por exem plo, Ezequiel) cos.
som am os anos do deportado Jeconias. E Vogt nos convida a ter presentes
algum as questões:
II. O P R O F E T A E Z E Q U IE L E A S U A O B R A
a) A través de vários docum entos de N abucodonosor sabem os que
Jerusalém se subm eteu no dia 16 de março de 597, quer dizer, 4 sem anas
antes do início do novo ano (13 de abril de 597). Por várias razões passa Bibliografia básica: O comentário fundamental em espanhol do texto do profeta
ram m ais de 4 sem anas antes que Sedecias com eçasse a reinar e antes que Ezequiel é o de Alonso / Sicre, Profetas II, 667-855 (Paulinas, 1991, 687-883). Pode ser
útil completá-lo com Asurmendi, Profetismo, 56-62 (Paulinas, 1988, 68-76); Id., Ezequiel:
tivesse acontecido a deportação. CuadB 38 (Estella, 4 - ed., 1990, Ed. em português, Ed. Paulinas, número 33); Beaucamp,
b) Sedecias, portanto, com eçou a reinar quando já se havia iniciado Profetas, 177-220; Garcia Cordero, Librosproféticos, 779-982; L. Monloubou, Un sacer
o novo ano. Por isso o ano de 597/6 era incom pleto e, portanto, conside dote se vuelve profeta: Ezequiel (Barcelona 1973); von Rad, Teologia II, 275-297 (Aste,
rado com o “ano da ascensão ao trono” ; o seu “prim eiro ano” com eçou S. Paulo, 1974, 211-228); Schmidt, Introducción, 305-316; Sicre, “Con lospobres", 378-
em abril de 596. De fato o “ano da ascensão ao trono” de Sedecias é 407 (Paulinas, 1990, 512-553); E. Zurro/ L. Alonso Schôkel, Ezequiel, Los libros sagra
dos 11 (Madri 1971).
m encionado em Jr 49,34.
c) Finalm ente, este modo de contar os anos não servia para os depor
tados, por isso o 597/6 era “o prim eiro ano da deportação” . Esta diferença
1. O profeta sacerdote
de num eração se encontra em vários lugares no A ntigo Testamento. O
esquem a seguinte do calendário sinótico resum e a visão deste autor e
E ntre os deportados de 597, junto com o rei Jeconias, viajava com a
ajuda a interpretar os dados encontrados nos textos bíblicos.
sua fam ília um jovem cham ado Ezequiel, filho de um sacerdote de Jeru
Abril 597-Abril 596: era o oitavo ano de Nabucodonosor (2 Rs 24,12),
salém de nome Buzi (Ez 1,3). Certo dia, em pleno exílio3 perto do rio
o ano em que Sedecias sobe ao trono (Jr 49,34), o prim eiro ano da depor
Kebar, recebeu a sua vocação profética. A data é detalhada: era o dia 5 do
tação. quarto mês do “quinto ano da deportação do rei Jeconias” , segundo a
Abril 596-Abril 595: foi o ano 9 2 de Nabucodonosor, o prim eiro de
glosa de Ez 1,2, seria o dia 31 de julho de 593. Este dado é precedido de
Sedecias, o segunda da deportação. um m isterioso “ano 30” (Ez 1,1), que alguns entendem com o a sua idade
Abril 588-Abril 587: era o ano 1 7 - de N abucodonosor, o 9 - de
no m om ento da vocação. Teria nascido, portanto, no m esm o ano da refor-
Sedecias (conform e 2 Rs 25,1, com eça o cerco de Jerusalém no dia 5 de
janeiro de 587), o 102 da deportação.
A bril 587-A bril 586: ano 182 de N abucodonosor, ano 1 0 ” de
3. Foram propostas diversas teorias sobre o lugar da atividade de Ezequiel. A discussão centrou-
Sedecias, ano 112 da deportação. se em supor uma atividade profética de Ezequiel em Judá. Urna síntese destas teorias se encontra em
Abril 586-Abril 585: ano 192 de N abucodonosor (2 Rs 25,8: queda Alonso / Sicre, Profetas II, 660-670 (Paulinas, 1991, 689-697). A maioria dos autores conserva a
de Jerusalém ), ano 11 2 de Sedecias (2 Rs 25,2: 18-07-586), ano 122 da proposta que apresentamos como a mais coerente com os dados do livro. E verdade que Ezequiel fala
de Jerusalém e do templo. Mas os traços que apresenta se devem ao conhecimento direto que tinha
deportação (Ez 33,11: o fugitivo chega no dia 5 de janeiro de 585). deles e correspondem melhor às “visões”.
200 Ezequiel e o segundo Isaías História da época e sua problemática 201
ma de Josias, no ano de 622. M as nem todos entendem desta form a.4 2. O livro de Ezequiel
Segundo Flávio Josefo (Ant. 10,98), o jovem era um a criança; poderia ter
nascido cerca do ano de 605 ou pouco antes. Em todo caso, parece lógico a) Cronologia ou teologia?
supor que a sua atividade profética se deu no início do ano de 592. Por
N o livro de Ezequiel falta os contornos de um período histórico de
outra parte, o último oráculo datado que encontramos no livro corresponde
lim itado, um a localização geográfica clara e um grupo de ouvintes defi
a 26 de abril de 571 (Ez 29,17). Entre estas duas datas se desenvolvem
nido. Estes foram, pelo menos, os problem as nos quais se tem centraliza
todos os dados de seu livro.
do a exegese crítica. M as a característica mais peculiar do livro de Ezequiel,
Podemos distinguir duas etapas em sua pregação, coincidindo a divisão
em relação aos dem ais livros proféticos, radica na abundância de datações
entre elas com a notícia da destruição de Jerusalém no ano de 586. O objeto
e na ordem quase estrita das mesm as (exceto nos casos que irem os assi
central da primeira parte é uma mensagem dura que explica o exílio como
nalar com asterisco).
conseqüência do pecado de Judá e anuncia ainda um castigo maior. A segun
O texto data os acontecim entos a partir da deportação de Jaconias.
da com eça depois da má notícia de 586, e oferece fundamentalmente uma
D esta form a, a vocação do profeta acontece no ano quinto da prim eira
mensagem de esperança alicerçada na reconstrução que o Senhor vai operar.
deportação (593 a.C.), segundo a glosa de Ez 1,2. N o ano seguinte, sexto
Não parece que a sua formação sacerdotal favorecesse uma pregação profé
da deportação, dá-se a visão do pecado no tem plo (8,1). N o sétimo está
tica, mas certamente não a impediu. Essa formação deixou seus vestígios nos
datada a reflexão sobre a rebeldia de Judá (20,1). N o nono, a visão da
temas como a pureza ou a santidade (22,26; 24,13-14) e no interesse que ele
panela de barro (24,1). No ano décimo se data um prim eiro oráculo con
ou os seus seguidores manifestaram pelo templo. Esteve casado e a morte
tra o Egito (29,1). N o décim o prim eiro, um oráculo contra Tiro (* 26,1) e
repentina de sua mulher teve para ele um valor simbólico (24,15s): ao ser-lhe
dois contra o faraó (30,20; 31,1). No ano décim o segundo se situa um
arrebatado “o encanto de seus olhos” (24,16) e não poder conservar luto,
oráculo contra o Egito (32,1) e a chegada do m ensageiro de Jerusalém
entende que o Senhor vai destruir seu santuário, “o encanto dos vossos olhos”
(33,21). Daqui pulam os para o ano vigésim o quinto, que é quando se
(24,21). Até o seu silêncio se converte, desta forma, em mensagem divina
inicia a descrição do novo tem plo e da nova terra (40,1). O últim o texto
(3,25-26; 24,26-27).
em ordem cronológica seria o oráculo sobre a conquista do Egito por
A sua personalidade deu m uito o que falar. Os psicólogos e até os
N abucodonosor (* 29,17).
ufólogos se interessaram por este profeta. Chegou-se a afirm ar que Ez 3-
Este cuidado com a ordem cronológica é, sem dúvida, m ais aparente
24 é o diário de um enferm o. Sem dúvida, tudo isto é um exagero, pois
do que real, pois, quando não temos motivo para duvidar das datas, não
torna-se quase im possível destrinchar a realidade pessoal do profeta e a
sabem os exatam ente a que passagem concreta se referem. Podem os su
interpretação posterior acrescentada no livro. Porém é verdade que no
por que o livro está ordenado seguindo um critério bem mais teológico do
seu livro abundam visões e ações um tanto estranhas. As visões, relacio
que cronológico, se bem que não saibam os interpretar cabalm ente o cri
nadas com a mão do Senhor (1,1-3,15; 3,16.22; 8-11; 37,1-14; 40-48),
tério teológico. Com o indícios sobre os quais basear esta afirm ação,
assim com o algumas de suas atuações, estão cheias de elem entos que
aduzim os o fato de que os oráculos das nações (capítulos 25-32) inter
convidam a pensar em patologias psíquicas: com e um livro (3,3), perde a
ro m p em o an ú n c io e o cu m p rim e n to da c h e g a d a do m e n sa g e iro
fala em duas ocasiões (3,26; 24,17), perm anece durante oitenta dias dei
hierosolim itano (24,25-27; 33,21-22), e que na apresentação histórica do
tado de um lado ou do outro (4,4-8), com eça a dançar (6,11) ou a aplaudir
plano de Deus (cap. 12.16.20) transcende claram ente qualquer tem po cro
(6,11; 21,9), rapa totalm ente a cabeça (5,1), diante de todos prepara o
nológico.
fardo e se põe a cam inho com o rosto coberto (12,3-7)... Só o que de real
haja em tudo isso dá um a idéia da im pressão que sua pessoa e a sua m en
sagem causaram entre os seus com patriotas exilados.
b) A estrutura do texto
O livro está claram ente dividido em três seções: no conjunto 1-24
4. E ste “ano 30” faz referência a um novo calendário im plantado por m otivo da reform a
predom inam os oráculos de condenação contra Judá e Jerusalém ; os capí
deuteronôm ica? N ão o sabemos. tulos 25-32, com os oráculos contra as nações, ocupam a parte central; na
202 Ezequiel e o segundo Isaías História da época e sua problemática 203
parte final, form ada pelos capítulos 33-48, predom inam os oráculos de 3. O estilo literário de Ezequiel
salvação para o novo Israel. N esta últim a seção se distinguem , além dis
so, os capítulos 38-39, com posição de caráter escatológico dedicada aos O estilo de Ezequiel é m uito pessoal. A prim eira característica notá
m íticos inim igos G og e M agog, e a unidade form ada pelos capítulos 40- vel é a abundância de imagens. Sem o intento de serm os com pletos, po
48, nos quais se colocam os fundam entos do novo Israel em torno ao dem os enum erar várias: o profeta é um “vigia” ou “atalaia” (33,2; 3,17);
novo tem plo.5 G lobalm ente se pode afirm ar que os oráculos da prim eira os falsos profetas são com o “caiadores” de um m uro que vai ser derruba
parte pertencem à época anterior à destruição de Jerusalém e os da tercei do (13,8-16); Jerusalém com o um a panela (11,3; 24,1-14); os reinos de
ra supõem a destruição do reino de Judá. Judá e Israel com o dois “bastões” (37,15-28); o vinho está presente nos
capítulos 15; 17 e 19; a espada é utilizada em 11 e 21; o cedro em 17 e 31.
c) A form a çã o do livro Por outra parte, as im agens se desenvolvem em alegorias que explicam a
m ensagem . D esta forma, a videira queim ada se assem elha a Jerusalém
O livro de Ezequiel. adquiriu a sua forma atual no transcorrer de uma
(15); a história da criança abandonada (16) ou das duas irm ãs (23) expli
complicada história. Nele, tanto ou mais do que nos demais livros proféticos,
cam a história do povo; da natureza tom a as figuras da águia e do cedro
é importante o trabalho de reinterpretação que tem sofrido. O mais evidente é
(17; 31) para explicar outros aspectos mais concretos. A presenta visões
a estrutura cronológica que apresenta. Além disso, podemos citar a apresen
grandiosas e de grande força com o as três da glória do Senhor (1,1-3,15;
tação do profeta como “vigia” , provavelmente original em Ez 33, mas se
8-11; 40-48) ou a dos ossos secos que se unem e recom põem (37,1-14).
combinou com a discussão de Ez 18 e volta a ser retomada em 3,17 como
Com a m esm a sinceridade com que afirm am os as qualidades plásticas
categoria geral sobre a qual interpretar todo o ministério profético. A coloca
das im agens e das visões, é preciso confessar a perda de força com unica
ção dos oráculos das nações (25-32), interrompendo a seqüência literária ci
tiva nas explicações que as acom panham . Porém esta abundância de ele
tada anteriormente, reinterpreta o material. Com efeito, acusadas as nações
mentos visuais confere à linguagem de Ezequiel um a notável plasticidade.
por razões diferentes das de Israel, geralmente pela sua vingança contra o
Para falar de Deus atuando, utiliza geralm ente a im agem de sua “m ão”
povo e pela sua arrogância, são julgadas antes da restauração de Israel com
(cf. 14,9 e todas as vezes que atua sobre Ezequiel 1,1-3,15; 3,16.22; 8-11;
imagens semelhantes (espada, desolação) e com a mesma finalidade (“Co-
37,1-14; 40-48. Existem referências anteriores em 1 Rs 18,46; 2 Rs 3,15;
nhecerás que eu sou o Senhor” , 25,11.17). Curiosamente, os oráculos contra
Is 11: Jr 15,17).
Gog e M agog (38-39) não se incluem nesta seção e são colocados explicita
Tam bém é preciso colocar em realce a linguagem jurídica do profe-
mente atacando Jerusalém restaurada e perdoada.6
ta-sacerdote. Não é a m esm a linguagem forense de Amós; não há “pleito”
Talvez com o conseqüência de tanta rein terp retação , o livro de
(rib, salvo no acréscim o 44,24), nem juízo (dtn), nem outros term os pro
Ezequiel teve algumas dificuldades para ser adm itido no cânon judaico.
féticos anteriores. O seu âm bito é sacerdotal, caracterizado por um gêne
O judaísm o oficial, reunido em Jâm nia ou Yabne no final do século I
ro casuístico no qual o sacerdote responde a um a questão de pureza ou de
d.C., considerou perigoso o fato de que Ezequiel tivesse visto o trono de
sacralidade. Exem plos clássicos são os capítulos 14; 18 e 3 3 ,l-2 0 7 (cf.
Javé (Ez 1 e 10) fora da Palestina. A leitura deste texto foi proibida aos
além disso 44,23-27; 4,14; 6,13; 8,6; 18,5-7; 36,17). Zim m erli assinala
m enores de 30 anos e nunca foi lido na sinagoga. Tam bém foram desco
que a sua m ensagem se form ula em term inologia forense. D esta form a, a
bertas contradições entre a Torá proclam ada por Esdras e á aceita pelo
história da desobediência não é levada em consideração com a fórm ula
ju d a ís m o e alg u n s d e ta lh e s de E z 4 0 -4 8 . A e x istê n c ia de te x to s
típica da invectiva, mas com a própria do “estudo de um caso” (18,1 ss), e
apocalípticos reconhecidos, com o em Zacarias e em Daniel, ajudaram a
o caso se contem pla em term os de juízos sacerdotais, da ação ju sta ou
sua aceitação no cânon.
injusta (13,1 ss; 36,17).
No marco destas questões é necessário colocar em realce o uso exclusi
vo, ou pelo menos abundante, de certas fórmulas literárias. As mais típicas
5. Costuma-se assinar uma série de textos “deslocados”, como 33,23-33; 34,1-10.17-19 (cujo
lugar natural parece ser a primeira parte), 35,1-36,15 (pertencem aos oráculos contra as nações) ou
os oráculos de salvação 11,17-20; 17,22-25; 20,40-44.
6. Cf. B. S. Childs, Introduction to the Old Testament as Scripture (Londres 1979) 366-367. 7. Exemplos deste estilo se encontram em Lv 13-16.
204 Ezequiel e o segundo Isaías
História da época e sua problemática 205
são duas,8“Filho de Adão” (ou “filho de homem”) e “Saberás/ereis que eu
• Visão (com cinco elem entos)
sou o Senhor” . A primeira fora forjada provavelmente pelo mesmo Ezequiel.
Ezequiel sempre utiliza a referida imagem na boca de Deus. Esta fórmula 1) 1,5-12: viventes com o quatro asas
sublinha possivelmente o contraste entre a criatura humana (simples homem 2 )1 ,1 3 -2 1 : fogo
ligado à terra, débil e mortal)9 e a majestade divina (2,1 e mais 93 vezes). É 3) 1,22-26a: firm am ento ou plataform a com trono
preciso distingui-la da visão da “espécie de figura humana” (1,26) que estava 4) 1,26b-27a: figura hum ana no trono
sentado no trono, semelhante à figura humana que Daniel cita (7,13; 10,16- 5) 1,27b-28a: resplendor com o o arco-íris
18).10A segunda fórmula mencionada, que se costuma cham ar de “fórmula Conclusão: “Era a aparência visível da glória do Senhor. Ao
de reconhecimento” (6,7.13, etc.), pode assimilar o fim dos anúncios sobre contem plá-la , caí o rosto por terra” (1,28b).
uma intervenção do Senhor, e o une com o seu significado; se encontra 54
vezes no livro do profeta. Mas há outras fórmulas: “Eu, o Senhor, o disse” •Vocação (com audição e missão):
(5,14.17; 17,25; 37,14) ou as de introdução “Veio-me esta palavra do Se
Audição: 1, 28c-2,2: “Ouvi um a voz que m e falava e me dizia: ‘F i
nhor”, que é repetida inumeráveis vezes.
lho de A dão, coloca-te em pé, que eu vou falar-te’. Penetrou em mim o
Talvez relacionado com a m entalidade casuística sacerdotal (cf.
seu espírito... e me colocou em pé e ouvi aquele que m e falava” .
14,3.13), é preciso consignar o m étodo das “controvérsias” , nas quais o
profeta dialoga com o seu auditório direta ou ficticiam ente (12,21-28;
M issão: 2,3 - 3,11 (3 partes e retorna aos deportados)
16,44; 18; 20,32; 33,10-11.17-20), inclusive com povos estrangeiros (26,2;
28,2; 29,3; 36,13).
1) A núncio da m issão
a) 2, 3-5: Envio-te a um povo rebelde, para que saibam que há
4. Leitura de alguns textos um profeta no meio deles.
b) 2,6-7: N ão temas; tu dirás as m inhas palavras.
a) A vocação: 1,1-3,15
O texto da vocação de Ezequiel está m uito retocado por intérpretes 2) O rdenação profética
sucessivos do profeta, que pretenderam explicar os aspectos m isteriosos, a) 2,8-10 : Com e o que te vou dar; um livro escrito com elegias,
relacionando-os provavelm ente com detalhes do tem plo, por exem plo, lam entos e ais.
identificando os “viventes” com os querubins que cobriam a arca ou situ b) 3,1 -3: Ordem de com ê-lo, cum prim ento e sabor doce.
ando o abandono do tem plo por parte da glória de D eus no m arco de um a
procissão. O texto original, tal com o o definem E. Vogt e W. Zim m erli, é 3) M issão propriam ente dita
m uito sim ples." Poderíam os resum i-lo desta forma: a) 3,4-9: Ordem de ir e falar; nem língua difícil nem muitos
povos (obedeceriam ); são rebeldes; tu és forte.
b) 3,10-11: Ordem de aprender as palavras e com unicá-las aos
8. J. Asurmendi, Ezéchiel, em AA. W ., Les prophètes et les livres prophétiques (Paris 1985)
deportados.
199-233, especialmente 219-220 (Paulinas, 1992, 273-283).
9. Alonso / Sicre, Profetas II, 688 (Paulinas, 1991, 707). i
10. Nenhuma delas parece ter algo a ver com as especulações sobre um hipotético título (“O Retorna aos exilados (3,12-15): “O espírito ergueu-me... ( 14) e
filho do Homem”) que a literatura apocalíptica (cf. I Henoc, fundamentalmente o livro das parábo
las, nn. 37-71) teria aplicado ao Messias. Esta teoria parece ser defendida por F. C om ente / A. Pinero,
m e levou; eu fui... amargurado, enquanto a mão do Senhor me
Libro 1 de Henoc, em A. Díez Macho (ed.), Apócrifos dei A T IV, (Madri 1984), 95, nota 14, enquan em purrava com fo rç a (15). Cheguei aos exilados de Tel-Aviv,
to, na p. 30 admite uma linha de tradição nesta direção. A opinião contrária é sustentada por J. que é onde habitavam e perm aneci ali sete dias, consternado,
Mateos / F. Camacho, El Evangelio de Mateo (Madri 198 1) 86 - 87 (cf. ed. em português, Paulinas,
1993). no m eio d e le s”.
11. Tanto J. Asurmendi (CuadB 38) como A lonso/S icre seguem a explicação destes autores,
principalmente a de E. Vogt. Asurmendi reproduz o suposto texto original; Alonso o coloca em
A ousadia de ter com unicado a sua vocação no m arco de um a visão
cursivo ou assinala os acréscimos com parênteses ou com defesa.
da glória de D eus custou ao profeta muitos problem as posteriores com o
206 Ezequiel e o segundo Isaías Histórici da época e sua problemática 207
judaísm o oficial. Não foi m elhor com seus contem porâneos. A ssim o in creve a execução do castigo. A realidade ilum inou a desem baraçada notí
dicam as repetidas qualificações de povo rebelde ou a necessidade de ser cia do profeta (cf. 2 Rs 25,9; Lm 2,3-4; 4,11; Jr 39,8). Por outro lado,
forte diante deles (cf. Jr 1,17-19). Ezequiel teve uma grandiosa visão (narra responde a um a pergunta prem ente: Com o é possível que tenha sido
o que vê de baixo para cima); recebeu sua vocação profética; é preciso destruído o tem plo? A resposta é porque a glória de Javé o tinha abando
anunciar oráculos que causarão dor (é o conteúdo do livro que com e); nado previam ente, devido à profanação que se conta a partir de Ez 8. O
anunciou-se-lhe resistência por parte do povo; não estranha que fique percurso que segue a glória divina ao abandonar o tem plo é retilíneo: vai
abatido no meio deles (3,15). Em sua sobriedade narrativa aparece pouco da câm ara ao átrio, depois à porta oriental e finalm ente ao m onte das
ativo, tudo é iniciativa divina. Porém ficou evidente que o Senhor se Oliveiras.
m anifestava onde queria (tam bém no exílio). Além disso, o profeta foi Explicações posteriores mudam a pergunta numa outra: O que se pas
constituído testem unha da história divina (a qual é narrada em outras par sou com a arca ao ser destruído o templo? A cam inhada da glória de Javé se
tes, com o no capítulo 16); um a testem unha que continua atuando no exí identifica com uma procissão da arca em seu correspondente carro.
lio; testem unha da fidelidade divina e de sua liberdade de ação, até o
ponto de o Santo se revelar fora do tem plo ao povo obstinado. c) Outros textos de Ezequiel: 4-24
N ós vam os nos deter brevem ente só em alguns exem plos de sua
b) A glória do Senhor abandona o templo: 10-1 / prim eira atividade. Outros textos são explicados de um a form a m elhor
M uito relacionada com o capítulo da vocação, por ter sofrido o m es nos livros citados na bibliografia em espanhol. Alguns não se pode deixar
mo tipo de reinterpretações, apresenta-se a narração da glória de Deus de ler. Cingim o-nos, agora, som ente às três ações sim bólicas iniciais (4,1 -
abandonando o templo. Essa é a base de Ez 10-11, conclusão da visão da 5,4a) e no final de sua prim eira atividade profética (cap. 24). A m bos não
profanação do tem plo que com eça em Ez 8. O texto, várias vezes retoca foram explicados em espanhol e apresentam dificuldades.
do, se transform ou num dos mais com plicados do A ntigo Testam ento. O
texto original, de acordo com os autores citados anteriorm ente, era sim • Ações sim bólicas iniciais
ples e poderia ser dividido em duas cenas mescladas entre si. A com pa O profeta descreve três m om entos do cerco de Jerusalém e, em se
nha-as um a conclusão de toda a visão. guida, explica estes m om entos através de um oráculo.
Prim eira cena. O castigo de Jerusalém (10,2.7, unido ao capítulo O início (4,1 -2): Grava o cerco, num tijolo. Temos oito frases no impe
anterior): “(2) Disse èle então ao homem vestido de linho: Entra na cela rativo e três palavras em cada frase. Os quatro primeiros imperativos descre
do tem plo (= a casa)... e enche am bas as mãos de brasas... e espalha pela vem a preparação do cerco, os quatro seguintes descrevem o ataque mesmo.
cidade. E vi que ele entrou... (7). Estendeu a sua mão em direção ao fogo..., E o acréscimo do v. 3 serve para sublinhar a severidade do castigo.
ele o pegou e saiu” . A fo m e na cidade assediada (4,9-11): D epois do im perativo são enu
Segunda cena: A glória do Senhor abandona o tem plo (10,4.18-19; m erados seis artigos que escasseiam corho conseqüência do cerco. E o
11,23): “ (4) A glória de Javé ergueu-se sobre os querubins e se pôs no mom ento crítico. Na realidade Jeremias esteve a ponto de morrer (Jr 37,21).
um bral do templo; a nuvem encheu o tem plo e o resplendor da glória de N a trilogia se introduz, por conexão externa, outra ação sim bólica
Javé encheu o átrio. A seguir a glória de Javé saiu... do tem plo... (19) e se (4,12-15) sobre a pureza dos alim entos durante o exílio. Além da diferen
deteve junto à porta oriental da casa de Javé. (11,23) D epois, a glória de ça de conteúdo com as outras três, apresenta várias diferenças form ais
Javé se elevou sobre a cidade e se deteve sobre o monte, ao oriente da (com o a ausência de um a introdução).
cidade” . Os habitantes durante o cerco (5,1-2): Ezequiel teve que rapar a
C onclusão de toda a visão (11,24-25): “Então o espírito me arreba cabeça e separar em três partes os cabelos. Pessoalm ente esta ação supõe
tou e m e levou pelo ar ao exílio da B abilônia, em visão; a visão desapare um a grande dureza (cf. 2 Sm 10,4), mas sim bolicam ente relem bra a m e
ceu. E eu relatei aos exilados o que Javé me havia revelado” . táfora de Is 7,20. A sorte dos cabelos (expurgado o texto de suas am plia
N este texto se conclui o castigo da cidade, um a vez m arcados e sal ções) explica a sorte dos habitantes. Os vv. 3-4a am pliam a ação com pli-
vos os inocentes (cap. 9). O instrum ento de castigo é o fogo. N ão se des cando-a.
208 Ezequiel e o segundo Isaías História da época e sua problemática 209
Explicação das três ações sim bólicas (5 ,4 b -17): Prim eiro, revela de 3,25-26 m udaram de lugar.12 A m orte da m ulher do profeta serve com o
qual cidade se trata: Jerusalém (4b-5a). É a sua prim eira m ensagem pro sinal da conquista da capital. Os ouvintes com preenderão que nesse m es
fética e preludia o que vai acontecer com a sua atividade durante quase mo dia a cidade tinha sido tom ada; é um a paixão sim bólica na vida do
sete anos. Segue-se o anúncio do juízo divino num oráculo, que na ori profeta. Q uando o fato for com provado, então voltará a falar. D urante
gem com preenderia a acusação (5b-6a) e a sentença (8-9.14-15). Jerusa sete anos anunciou aos seus concidadãos e estes não acreditaram nele.
lém desprezou sua dignidade, não cum prindo nem com Deus, nem entre Agora, num estado de paixão não prediz, testem unha o que aconteceu.
os concidadãos (leis e m andam entos), por isso seria desprezada pelos D urante seis m eses viveu pessoalm ente a destruição de Jerusalém . A sua
povos. O anúncio é duro, nunca se escutou algo sem elhante antes e ja paixão será concluída em 33,21-22, quando um m ensageiro confirm a o
mais se voltará a escutar algo assim. Para um sacerdote não será fácil sinal. A partir deste m om ento, com eçará a falar de esperança.13
sem elhante m ensagem , por isso a rubrica final: “Eu, o Senhor, o tenho
dito” . Ezequiel não é nacionalista; fala de povos, não de nações, e são
m elhores do que Israel. Os vv. 16-17 reinterpretam a falta de pão. 5. A mensagem de Ezequiel
D epois de tudo aquilo que temos afirm ado, torna-se claro que a
• O fin a l da prim eira atividade profética: Ez 24 m ensagem deste profeta contém duas épocas, claram ente divididas pela
queda de Jerusalém . N a prim eira, procura justificar o castigo sofrido (é o
O capítulo 24 consta claram ente de duas partes, que com eçam com a que falta ainda) com o pecado im perante em Jerusalém e no povo. So
m esm a fórm ula (vv. 1-14 e 15-27). m ente se salvará quem for justo (cap. 18). N a segunda etapa só anuncia a
N a prim eira parte se propõe a parábola do cozinheiro. Ezequiel pôde salvação, pois nunca voltará a se repetir sem elhante castigo. Nas duas
relatar m uitas (cf. 21,5). A contece antes do cerco de Jerusalém (vv. 1-2) e partes procura opor-se à m entalidade imperante, eufórica e teologicam ente
tem que escrever a data. A estrutura do conjunto é sim ples. Prim eiro, se segura num prim eiro m om ento (cf. 11,3; 12,22.27), deprim ida e resigna
desenvolve a parábola (3-5); em seguida, sua interpretação (9-10); outro da num segundo m om ento (37,11). O profeta faz de revulsivo, se bem
autor prossegue a parábola (11-12) e a interpreta (13-14). Os vv. 6-8 pare que não será ouvido (2,6). A sua função de “vigia” ou “sentinela” (33,1-
ce que foram enxertados posteriorm ente. O contexto esclarece o signifi 9; 3,16-21) cum pre-a em sua dupla vertente, anunciar aquilo que se apro
cado do conjunto. Ezequiel com eça com o um trovador popular cantando xima (norm alm ente o inimigo) e oferecer aos ouvintes a possibilidade de
um alegre “canto do cozinheiro” . Os ouvintes conhecem o refrão que era se preparar. Não som ente anunciava, mas oferecia ao m alvado a possibi
dito com orgulho em Jerusalém , “A cidade é um a panela e nós som os a lidade de se converter e ao justo a de segui-lo (cap. 18); esta função é de
carne” (11,3). Estavam seguros de que voltariam a Jerusalém , pois o tem responsabilidade dò profeta, sobre a qual se lhe pedirá conta (33,6.8.9).
plo não seria tocado. O canto poderia ter um final feliz e anunciar o retor Esta variedade, contudo, é enraizada em concepções tradicionais da
no (cf. Is 22,13). D ificilm ente podiam esperar a explicação que se ofere fé javista que lhe dá coerência. No seu livro Deus ocupa o lugar preem i-
ce (9-10): Deus é aquele que acende o fogo para a panela de Jerusalém . nente. A sua santidade transcendente (“glória”) é prejudicada pelo peca
A o continuar a parábola (11-12), o novo autor não trata de m om ento da do; abandona a cidade. Ela será também a causa da restauração, ao não
destruição da carne de seu interior, m as de destruir a panela (pois já co poder perm itir que o seu N om e seja m anchado entre os povos (20,14-22;
nhece a sorte da cidade). Explica-o (13-14) pelo seu estado de im undície. 25,3.8; 26,2; 28,2; 35,10; 36,3-6.20; etc.). A idolatria, ou seja, a profana
N a segunda parte (15-27) a referência histórica é o m om ento final ção do tem plo é o cum e de toda a classe de pecados, denunciados de
do cerco. Os vv. 15-20 servem de introdução aos dois oráculos, um para m odo alegórico (cap. 16 e 23) ou realista (cap. 8 e 20); resum e um a atitu-
todo o Israel (21-24), outro para Ezequiel (25-27). Torna-se estranho que
a chegada do fugitivo anuncie que o profeta poderá voltar a falar (v. 27).
N ão se tinha afirm ado que estivesse mudo. O fugitivo não chega no dia 12. Ez 3,17-19 também foi tirado de um outro lugar (do cap. 33), mas se tem mantido literal
mente também em seu lugar original.
em que Jerusalém foi tom ada; isto contraria o dado de 33,21. Buscaram - 13. O texto 3,4-8 reinterpreta a paralisia de Ezequiel. Os vv. 4. 8 fazem exatamente isto; os vv.
se todas as soluções. Talvez, a mais simples seja supor que os versículos 5.6.7 são três sucessivas reinterpretações dos aspectos concretos.
210 Ezequiel e o segundo Isaías História da época e sua problemática 211
de de abandono do Senhor e justifica o desastre. A relação entre o Senhor de um a form a especial os cap. 18; 22 e 34. É quase im possível entender a
e o seu povo está fundam entada na Aliança, esclerosada na atitude dos profanação do tem plo e da cidade, esta é a acusação fundam ental de
crentes, por isso um a restauração da prim eira tem que passar por um a Ezequiel, sem perceber a relação com a justiça.
transform ação fundam ental da segunda, inserida no coração m esm o dos Finalm ente, seria bom ler algum dos oráculos de salvação da segun
fiéis (16,60; 36,26-27; 37,26). A lei, especialm ente a sua versão sacerdo da atividade de Ezequiel. São m uito conhecidos os cap. 36-37, e a im a
tal, sustenta a A liança e a vida do povo (11,12; 18,9.17.27; 20,13, etc.). A gem usada no cap. 34. Poderia com eçar por este: antes de ler o com entá
com preensão individual do cum prim ento desta lei trata de evitar o casti rio de Sicre “Con los p o b res”, procurar as palavras ou frases repetidas,
go dos justos (9,4) ou a restauração dos ímpios (20,38). A lgo de funda deter-se no tem po dos verbos, assinalar o sujeito e o objeto das ações.
mental está m udando na problem ática teológica israelita. O interior do D esta form a podem os procurar uma divisão form al e tem ática deste capí
Tem plo de Jerusalém tinha sido o lugar privilegiado desta relação (8-11), tulo, que ajudará m uito para um a posterior leitura de algum com entário.
porém o Senhor transcende a geografia e prepara para o futuro um a nova
ordenação com um a nova cidade e um novo templo (40-42), ao qual vol
tará a sua glória (43,1-5). N a nova etapa será selada a reunificação dos 7. Bibliografia complementar
dois reinos (37,15ss) sob um m esm o pastor com o Davi (34,23-24).
O livro de Ezequiel não parece ter exercido um influxo im portante São fundam entais os com entários de Eichrodt (ATD 1966) e de
no N ovo Testamento, pelo mênos quarito às citações explícitas a que se Zim m erli (BK, 13. N eukirchen-V luyn 1969, 2 a ed.,1972). Dos num ero
refere. M as algum as de suas im agens sim .14 O seu influxo - em bora com sos estudos e desenvolvim entos concretos, assinalo alguns para posterio
p ro b lem as - tem sido m aio r no ju d a ísm o p o sterio r e na literatu ra res aprofundam entos:
apocalíptica que com eça a partir deste m om ento a abrir cam inho. J. Alonso D íaz, E zequiel el profeta de ruina y esperanza: CuB 25
(1968) 290-299; P. Auvray, Ezékiel: DBS 8 (1970) 759-791; D. Baltzer,
Ez.ech.iel u n d D e u te ro je sa ja (B erlim 1971); W. B rü g g e m a n n , La
6. Exercícios de leitura im aginación profética (Santander 1986); Th. Carley, Ezekiel am ong the
Prophets (Londres 1975); A. Colunga, La vocación dei profeta Ezequiel:
D escobrir as datas que alguns textos contêm e com provar a sua or EstBíb 22 (1942) 121-166; R. Criado, M esianism o en Ez 21,32?: XXX
dem “cronológica” . Seria bom ler alguns textos da prim eira atividade Sem ana Bíblica Espanola (M adri 1970) 263-317; E. G arcia Hernando,
profética de Ezequiel, levando em consideração o hiato de tem po que Aspectos pastorales en el m inistério profético de Ezequiel: “Lum en” 19
transcorre entre o anúncio profético da destruição de Jerusalém e a con (1970) 412-437; J. G arscha, Studien zum Ezechielbuch (Berna / Frank
firm ação m esm a do fato. N este hiato acontece a atividade dos falsos pro furt 1974); F. L. H o ssfeld , U ntersuchungen zum K om position und
fetas e o costum e de alguns de consultarem os adivinhos (cap. 13-14). Theologia des Ezechielbuches (Wurzburgo, 1977); A. Hurvitz, A linguistic
Tam bém aqui aparecem em realce as alegorias históricas dos cap. 16 e study o f the relationship between priestly source and the book o f Ezekiel
20. É possível averiguar as suas referências históricas? C onviria enum e (P aris 1982); R. W. K lein, E zekiel: The P rophet a nd H is M essage
rar a lista de “pecados” dos quais Jerusalém é acusada no cap. 22. (C olum bia 1988): Th. K rüger, G eschichtskonzepte im E zechielbuch
Seria útil percorrer o livro de Ezequiel, procurando elencar as ações (Berlim / N ova York 1989); E. Kutsch, Die Chronologischen D aten des
sim bólicas e as alegorias utilizadas. N ão é um m ero exercício literário; Ezechielbuches (Friburgo / Gõttingen 1985); J. Lust, Ezekiel and his book
sem ultrapassar o “ponto de com paração” , é possível penetrar no seu pen (Lovaina 1986); G. dei Olmo Lete, Estructura literaria de Ez 33,1-20:
sam ento teológico. EstBíb 22 (1963) 5-31; H. van Dyke Parunak, The Literary Architecture
A m entalidade sacerdotal de Ezequiel o leva a interessar-se pelas o f EzechieVs M a r ’o t "elohim : JB L 99 (1980) 61-74; J. Ribera, Fragm ento
questões de pureza, mas tam bém pelo tem a da justiça. J. L. Sicre estuda babilónico-yem ení sobre los profetas (Ez 45, 17-25, hebreo y arameo),
em Hom. J. Prado (M adri 1975) 553-571; G. Savoca, Un profeta interro
ga la storia. Ezechiele e la teologia delia storia (Rom a 1976); H. Simian
14. Cf. A lonso / Sicre, P rofetas I, 679-680 (Paulinas, 1988, 699-700). Y ofre, D ie th e o lo g isc h e N a c h g e sc h ic h te d e r P ro p h etie E ze c h ie ls
212 Ezequiel e o segundo Isaías O segundo Isaías 213
(W urzburgo 1974); D. Veiweger, D ie Spezifik d er B erufungsberichte 2. A pessoa do segundo Isaías
Jerem ias und Ezechiels im Umfeld ühnlicher Einheitens des ATs (Frank
furt 1986); E. Vogt, U ntersuchungen zum Buch Ezechiel (Rom a 1981); N ada sabem os deste profeta, tão anônim o que esteve durante 25 sé
W. Zim m erli, Ezechiel. G estalt und B otschaft (N eukirchen-V luyn 1972). culos escondido atrás do nom e de Isaías, o grande profeta do século VIII
a.C. A sua época de atuação deve ter sido ligeiram ente posterior à de
Ezequiel; um a certa desilusão se deixa sentir no ânim o da com unidade
judaica exilada. O segundo Isaías conhece a sorte dos exilados, o seu
III. O SE G U N D O IS A ÍA S (IS 4 0 - 5 5 ) desânim o e falta de fé (40,27; 41,10; 49,14ss), as suas m urm urações con
tra o plano divino (45,9). Conhece tam bém de perto o governo de Ciro
(41,5-25; 44,1.28; 45,1). A sua época lhe concedeu a oportunidade de
Bibliografia básica: O comentário mais completo em espanhol é o de Alonso /
Sicre, Profetas I, 263-340 (Paulinas 1988, 267-350); também são de interesse os pontos assistir à queda da B abilônia (47,1; 48,14). Tudo isto nos perm ite susten
de vista de Asurmendi, Profetismo, 63-69 (Paulinas, 1988, 77-78); Beaucamp, Profetas, tar que este profeta coincidiu com a época avançada do exílio e que ele
221-272; Gelin / Monloubou, em Cazelles, Introducción, 467-479; von Rad, Teologia II, mesm o o sofreu em sua própria carne (42,24).
299-325 (A s te - São Paulo, 1974, 229-252); Schmidt, Introducción, 317-332; Cl. Wiener,
El segundo Isaías. El profeta dei nuevo éxodo, CuadB 20 (Estella, 6 - ed., 1992) (Paulinas,
1980, “Cadernos Bíblicos” 5).
3. A obra literária do segundo Isaías
1. O contexto histórico do profeta Sua obra transluz um estilo peculiar e ardente, m ajestoso e apaixo
nado. G osta das repetições (40,1; 43,11; 48,11; 43,25; 48,15; 51,9.12.17;
Se no com eço os exilados na Babilônia sonharam com um rápido 57,6.14; 55,1; 51,10), utiliza as imagens com poderio, mas carentes de
retorno, o passar do tem po e as notícias de um a cadeia de desgraças fo rigor e de construção. O seu vocabulário é m uito rico no cam po sem ânti
ram m inando o seu tem peram ento. O ódio que alim entaram contra a co da alegria. U tiliza não poucos epítetos para o nom e do Senhor (42,5;
B abilônia (cf. Jr 51,34-35; SI 137; Is 13; 21,5-10) perm ite descobrir algo 43,15; 45,18; 43,14; 44,6.24; 47,3) e expressões particulares com o “toda
dos sentim entos desta com unidade no exílio. Ali, onde estavam , não era a c a r n e ” (4 0 ,5 .6 ; 4 6 ,1 6 .2 3 .2 4 ; 4 9 ,2 6 ), “ ilh a s ” (4 0 ,1 5 ; 4 1 ,1 .5 ;
mais possível reunir-se para rezar, cantar os cânticos de Sion e recordar 42,4.10.12.15), “os confins da terra” (40,28; 41,5.9; 42,10; 43,6; 45,22).
as antigas tradições de seu povo. No entanto, o tempo não passa inutil Tam bém foram assinalados alguns aram aísm os em sua sintaxe.
m ente. A m aioria procurou acom odar-se à nova situação de um m odo ou A obra se divide em duas partes que não são nem homogêneas, nem
de outro, até o ponto de perder a esperança de um novo retorno. A carta de iguais (40-48; 49-55), a ponto de alguns comentaristas afirmarem que é obra
Jerem ias (Jr 29) já não era tão escandalosa em todos os seus aspectos. de mãos diferentes. Cada uma das partes consiste num mosaico de diversos
M ais ainda: quando surgiu Ciro, o político que mostrou a sua inteligência oráculos, adornada com seções possivelm ente autônom as ao m odo de
num a das prim eiras proclam ações públicas de liberdade religiosa, os ju incrustações literárias. É desta forma que se considera o ciclo de Ciro (42,24-
deus - evidentem ente - o receberam com alegria, mas não tinham m uita 48,12) na primeira parte e os cânticos do servo, na segunda. Entre os gêneros
vontade de em preender o cam inho de regresso à sua pátria. Podiam ouvir literários utilizados se podem assinalar os oráculos de salvação (Is 41,8-13.14-
com anuência que por meio de Ciro o Senhor ia realizar o seu plano, que 16), controvérsias (Is 40,12-17.21-24.27-31), pleitos (especialmente polêmi
ele era o seu “eleito” ; mas poucos se colocaram a cam inho. Foi nesta cos com outros deuses 41,1-5.21-29; 43,8-13), e hinos escatológicos.
situação que este profeta pregou com força poética e vigor expressivo a
sua m ensagem de esperança e de retorno à pátria. A frase que dá início
aos seus oráculos, “Consolai, consolai o meu povo” , fez com que todo o 4. A mensagem do segundo Isaías
conjunto recebesse o nome de “livro da consolação*’.
O tem a essencial do segundo Isaías é, sem dúvida algum a, a restau
ração de Israel, o final do exílio e o retorno dos exilados. Este único tem a
Ezequiel e o segundo Isaías O segundo Isaías 215
214
é transm itido com a ajuda de alguns conceitos teológicos próprios de não tanto no aspecto literal, mas na sim bologia. A estrutura de base é
indubitável repercussão no futuro: o m onoteísm o, o segundo êxodo, o m antida (libertação-deserto-posse), em bora com algumas m odificações
servo. significativas. Para libertar o povo, o Senhor sai (42,13) ou pronuncia a
sua Palavra (55,11); precede e oculta o seu povo (52,12). Com o outrora o
a) O monoteísm o libertou da escravidão e dos trabalhos forçados, desta form a liberta o povo
da escravidão, do cárcere ou da escuridão (40,1-2; 42,7; 47,6; 49,9; 51,14;
A pregação do único Deus é a base teológica da esperança que o
52,2.4). O Senhor reivindica o seu título de redentor. O cam inho é seguro
segundo Isaías prega. Tiveram que esperar os últim os anos do exílio para
e rápido, o deserto se transform a em paraíso (40,3; 41,17-19; 43,19-20;
ouvir nos lábios do povo judeu a confissão m onoteísta por excelência:
44 ,3 -4 ; 55,1). D esaparece o caráter de prova, m as as resistências são
não há D eus fora do Senhor. Quando os exilados foram tentados pela
m antidas, encarnadas nos outros deuses, na m esm a Babilônia e inclusive
história a ler a grande derrota de seu D eus na queda do reino e de Jerusa
no próprio povo (40,27; 41,13-14; 42,18-20; 43,18; 45,9-11; 48,1-8;
lém, e quando a m agnificência do culto babilônico que contem plavam
49,14). Porém a Palavra do Senhor vencerá com facilidade; esta seguran
com os seus próprios olhos tornava m ais dolorosa sua nostalgia e mais
ça abre e conclui o texto profético (40,8; 55,11). Por fim , chega a m eta
temível e atrativo outro culto, justam ente nesse m om ento, um profeta
final, a posse. O povo é conduzido ou retorna (44,22) porque a Palavra do
teve a ousadia de confessar não só que Javé continua sendo Deus, mas
Senhor (55,11) ou o Senhor m esm o (52,8) volta. A terra, m eta do prim ei
que perm anece com o o único Deus de Israel, e tam bém que é o único
ro êxodo, se concentra em Jerusalém (49; 54); a Jerusalém é anunciada a
Deus: os deuses dos outros povos não são deuses. Javé é o único Senhor
m ensagem salvífica (41,27) e é a interlocutora do Senhor (51,17-52,6).
da história e do cosmos, é o seu criador e o seu governante. A duz com o
Com ela se abria o poem a (40,2) que se encerra com a B abilônia (55,12).
prova a sua atividade criadora e o seu dom ínio sobre a história (40,27-31;
A mão que salvou Israel e que o castigou fará nascer o novo povo com o
41,21-29; 44,6-8; 46,1-7.8-13). No Deus criador radica a autêntica espe
seu poder (43,12-13; 50,2).
rança de novidade (43,18-19), no “redentor” de Israel (41,14; 43,14; 44.6-
24; 47,4; 48,17; 49,7.26; 54,5.8) a esperança de salvação.
c) Os cânticos do Servo
A esta confissão m onoteísta corresponde a abertura universalista de
Israel. O horizonte da m issão do povo se alarga e retom a a am plitude da “Se excluirm os o problem a do Pentateuco, não existe no A ntigo Tes
prom essa a Abraão: “Com teu nom e serão abençoadas todas as fam ílias tam ento um problem a m ais com plicado ou mais controvertido do que os
da terra” (Gn 12,3; cf. 40,5; 42,10; 45,14). Israel é o m ediador da salva poem as ou os cânticos do Servo” , é assim que com eça dizendo A. Feuillet
ção, com o outrora foram Abraão, M oisés ou Davi. M as esta função m edia no capítulo dedicado ao servo.16 Duhm (1892) foi o prim eiro a enfrentar o
dora continuará sendo plural: em relação com ela terá que contem plar, problem a: das 21 vezes que a palavra “servo” aparece em Is 40-55 (sem
tam bém , a de Ciro ou a do servo. Israel ocupa o centro da história, porque pre no singular, exceto em 54,17), 14 vezes se aplica direta ou indireta
D eus o tem colocado aqui (43,1-7), e o tem cham ado com um a vocação m ente a Israel. As outras 7 ocorrências (42,1; 44,26; 49,5.6; 50,10; 52,13;
(41,8-16), e lhe tem confiado a sua m issão (43,8-13). 53,11) parecem aludir m elhor a um indivíduo, de m odo que se torna difí
cil aplicá-las a um a coletividade. Às vezes, inclusive, o texto contrapõe o
b) O segundo êxodo servo ao povo (49,5-6; 53,8). Duhm procurou solucionar o problem a e,
ao propor a existência de 4 cânticos (42,1-4; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12),
N o m om ento de im aginar a salvação é natural que surja com força
originariam ente independentes do segundo Isaías, historicam ente o com
renovada a tradição do êxodo. É verdade que a ela se alude esporadica
plicou. As questões que foram debatidas em torno deste tem a podem ser
m ente no texto (43,16-17; 51,9) e não de modo unívoco.15 Porém o pa
resum idas nestas: a) a legitim idade de individualizar alguns textos, não
drão canônico do êxodo é reconhecido pela grande m aioria dos autores,
relacionados com o seu contexto, que possam ser denom inados de cânticos
15. H. Sim ian-Y ofre pensa que estas alusões se referem m elhor à m ítica luta inicial de Deus
contra o caos. Seria portanto um a questão de teodicéia. De fato, a essa luta alude tam bém a épica do
16. A. Feuillet, Étucles d ’exégèse (Paris 1975) 115.
Êxodo, por isso é m uito difícil identificar a referência.
216 Ezequiel e o segundo Isaías O segundo Isaías 217
do servo; b) um a vez reconhecida a sua existência, determ inar a interpre se pode dar por definitivo. Quem é o autor? A quem se refere com esta
tação m ais objetiva dos mesm os; c) finalm ente, definir a doutrina destes figura?
textos e a origem da mesma. As diversas propostas sobre o autor pretendem fundam entar-se nos
argum entos literários e teológicos. Duhm e outros com entaristas supõem
• A existência dos cânticos um a origem e, portanto, um autor totalm ente diferente do profeta deno
O prim eiro ponto a ser estabelecido é a partir das diferenças existen minado segundo Isaías; outros com entaristas atribuem ao segundo Isaías
tes entre o texto atribuído aos cânticos e seu contexto. C onseqüentem en a com posição dos quatro cânticos ou, pelo menos, alguns deles. G eral
te, o fato de colocar o acento nas diferenças não anula, mas supõe, as mente a aceitação destes textos com o cânticos do servo pode conter em si
sem elhanças: m onoteísm o, relação com as nações, ação do Senhor, etc. o convencim ento de que o profeta os tom ou de algum outro lugar.
O núm ero e a am plidão dos textos individualizados com o cânticos do A identificação do servo tem sido a questão m ais debatida. Se pres
servo variam de acordo com os autores; por exem plo, Duhm propõe qua cindirm os da interpretação mítica, de escasso eco crítico, podem os redu
tro cânticos, enquanto G ressm ann fala de sete. Os problem as sobre a ex zir a quatro as correntes interpretativas sobre a identidade do servo:
tensão serão versados logo a seguir. Com parando-os com o contexto, - O servo é Israel. É uma interpretação coletiva, fundamentada no múl
podem os observar as diferenças seguintes: tiplo uso de tal denominação no conjunto do texto, como já se tem afirmado.
A maior dificuldade que esta teoria encontra é a contraposição servo-Israel
- O diverso uso do título de “servo”, identificado algum as vezes
em alguns momentos (49,5-6; 53,8). Tem-se procurado evitá-la, identifican
com Israel e aplicado a um personagem anônim o nos supostos cânticos.
do o servo não com todo Israel, mas com um grupo seleto e fiel.
- O com portam ento distinto dos dois servos. O servo Israel é um a
- O servo é um personagem histórico. A história desta interpretação
nação indócil e pecadora, fustigada pelos profetas, cujos pecados lhe têm
individual produziria uma longa lista de personagens identificados com o
m erecido o exílio (40,2; 42,24-25; 43,25-28), povo surdo e cego (42,18-
servo. A única que merece um a certa atenção é aquela que descobre no servo
20). Nos cânticos, pelo contrário, se sublinham os m éritos do servo, a sua
o profeta mesmo. Neste caso, o quarto cântico teria sido composto por um
santidade, a sua docilidade heróica (50,4-6; 53,7), a sua inocência (53,4-
discípulo, mas a idéia se une com a tradição de Jeremias. Certamente, os
5.9), o seu m artírio expiatório (53,10). cânticos mantêm uma relação textual íntima com as passagens do livro de
- A m issão é diferente de ambos. Israel realiza a sua m issão de teste Jeremias.
m unha (43,12; 44,8) de modo passivo; a sua m aravilhosa libertação fará - Personalidade corporativa. Esta interpretação mista está ganhando
com preender aos pagãos a sabedoria e poder do Senhor. O servo anônim o ultimamente muitos adeptos. Os seus defensores sustentam que nenhuma
tem, pelo contrário, um a m issão ativa de ensinam ento e deverá lutar para das correntes anteriores faz justiça ao texto e simplificam o problema. O
levá-la ao seu pleno êxito. O oferecim ento voluntário de sua vida assegu servo no segundo Isaías é uma figura complexa. Se em algum momento se
ra o êxito final do plano divino. Inclusive, tem um a m issão dentro do torna necessário m anter a identidade individual do servo, não faz falta
povo com o “aliança do povo” (42,6), o que dificilm ente perm itirá a sua identificá-lo com um personagem concreto. São muitas as pessoas inocentes
identificação com Israel. que expiam com seus sofrimentos os delitos dos outros. Assim como o rei
- C onfrontada a perspectiva escatológica. O profeta anuncia a res personifica o povo, estas pessoas encarnam o autêntico Israel. Bonnard apre
tauração material na Palestina da nação escolhida, sem tratar de sua con senta em relação a isto uma interpretação muito interessante.
versão ou o aperfeiçoam ento moral. Nos cânticos, por outra parte, se dis - A interpretação m essiânica não contradiz as anteriores. Porém se
tingue estritam ente o ponto de vista espiritual e político: carece do porvir é legítimo o uso que o N ovo Testamento faz da figura do servo (M t 12,18-
hum ano, som ente encontra hostilidade entre os seus, sua m issão univer 21; 8,17; Lc 22,37; At 8,32-33; etc.), não parece que o texto de Isaías
sal está ligada aos seus sofrimentos. identifique diretam ente o servo com o M essias.
O eunuco de Candace (At 8,26-40) personificou detalhadam ente a D e um a form a breve desenvolverem os os dados básicos sobre o con
perplexidade que produz o personagem anônim o do “ servo” . Q uase nada teúdo de cada um dos cânticos do servo.
218 Ezequiel e o segundo Isaías O segundo Isaías 219
Primeiro cântico (Is 42,1 -4.5-9): Is 42,1 -4 continua a ser a extensão A m enção do Senhor (v. 9) convida a estender o cântico até o v. 9,
atribuída pelos autores ao prim eiro cântico do servo. A lguns autores in apesar do tom triunfal e seguro dos dois versículos. O tem a translada para
cluem tam bém os vv. 5-9. O Senhor introduz o seu servo com o o eleito, o Novo Testamento: Cristo confia na defesa do Espírito (Jo 16,8-11), o
revestido com o seu Espírito (cf. Is 11,2) com a finalidade de im plantar o cristão conta com Cristo com o defensor (Rm 8,33ss). A pertença dos vv.
direito e a lei nas nações, isto é, difundir a revelação de sua vontade (cf. 2 10-11 ao conjunto se fundam enta na ocorrência do vocábulo “servo” e na
Rs 17,26-27). É apresentado diante de testem unhas desconhecidas, num m enção do Senhor (v. 10); mas é estranha a interpretação direta aos ou
cenário universal. A justiça não é im plantada quebrando o débil (cf. Eclo vintes e a dura postura do servo, contrária à sua m ansidão inicial.
20,4; 30,20), mas tam pouco ele se quebrará. O seu m étodo paciente re Quarto cântico (Is 52,13-53,12): A extensão do cântico não oferece
corda a figura de M oisés (cf. Nm 12,3). dúvidas. O texto é sim ples e enigmático ao m esm o tempo; o conjunto
A relação com os versículos seguintes é m odificada pelo v. 5. No constitui o poem a por excelência do servo paciente e glorificado; canta o
oráculo de 42,5-9 o Senhor se dirige ao servo (no estilo do SI 2). Este sentido soteriológico de seu martírio e exaltação. A tendendo ao sujeito
recebe um a vocação ao estilo daquela recebida por Jerem ias, com isto que fala e ao tem po dos verbos, podemos distinguir três partes: a) intro
fica estabelecido com o m ediador de um a aliança, cujas cláusulas (v. 4) dução (52,13-15), b) corpo do poem a (53,1-9), e c) epílogo (53,10-12).
deve anunciar. Pertencem ao poem a a indeterm inação do servo, do grupo “nós” e certas
Segundo cântico (Is 49,1-6.7.8-12): Fala o servo, apresenta as suas dificuldades textuais (52,15; 53,3; 53,8.9).
credenciais, recorda a sua vocação. A partir do v. 5 o servo reproduz as - N a introdução, o Senhor oferece uma chave interpretativa do con
palavras que o Senhor dirigiu a ele. As novas introduções de suas pala junto, apresentando o êxito com o meta final, apesar do aparente fracasso.
vras nos vv. 7.8, assim com o o conteúdo dos versículos finais, apresen A m aioria dos com entaristas corrige o texto (v. 15) segundo a tradução
tam dificuldade para determ inar a extensão do cântico. Se a m issão do grega, m odificando a “aspersão” purificadora do TM em “ficarão estupe
servo com eça em Israel e se estende a todo o m undo (v. 6), dificilm ente fatas ou m aravilhadas” . Contudo, o TM viu-se confirm ado em Q um rân e
se pode identificar com o povo, por isso é considerada um a glosa a m en alude provavelm ente à aspersão de M oisés (Ex 24,6-8) ao estabelecer a
ção de Israel no v. 3. Porém a sua identidade não fica clara. L. A lonso A liança (cf. Is 42,6). Ezequiel prevê uma aspersão m etafórica para parti
S chõkel17 com para o texto com a tradição patriarcal de Jacó no Gênesis: cipar dos bens m essiânicos (Ez 36,25-26). Skinner oferece a seguinte in
a sua eleição desde o ventre (Gn 25,23), a sua luta com D eus pelo nom e terpretação: “D a m esm a form a que muitos se espantarão dele... assim
(Gn 32,29; 35,10), o seu trabalho por um salário finalm ente reconhecido purificará muitos povos” .
(Gn 30-31), o seu retorno com os filhos e a fam ília (Gn cap. 31 e 33). - O corpo do poem a consta de duas seções. N a prim eira (vv. 1-6)
O esquem a é de vocação profética: cham ado prim ordial, destinado à um grupo m anifesta a sua adm iração na prim eira pessoa do plural diante
palavra, objeção do trabalho inútil, confirm ação divina, enunciado da do inaudito m istério que lhes é revelado, um inocente sofre as conseqüên
missão. O aparente fracasso diante de seu povo é o paradoxo da missão. cias que correspondiam a eles pelas suas rebeliões; na segunda (vv. 7-9)
O Senhor o reconforta anunciando-lhe que o glorificará e anunciando-lhe desaparece o grupo, mas continua a descrição do m istério. A queles que
que será luz e salvação do m undo inteiro. proclam am a m ensagem , expressam a sua participação, dão testem unho
Terceiro cântico (Is 50,4-7.8-9.10-11): No terceiro cântico o servo de sua transform ação profunda. Não som ente se descobre a inocência do
se apresenta com o fiel discípulo do Senhor, vítim a da m aldade dos ho perseguido e m altratado, mas o sentido salvífico de seu martírio. O servo
mens: cospem -lhe no rosto e o esbofeteiam . A presenta características de é um leproso (vv. 4.8) que deve ocultar o seu rosto diante das pessoas (v.
profeta e sábio. A sua língua pronuncia o que o Senhor lhe indica; o seu 3). Os vv. 8-9 concluem este mistério de inocência e castigo que une o
ensinam ento procura consolar o abatido (cf. 42,3). A ceita a sua m issão servo e os espectadores m aravilhados. Poderíam os traduzi-lo desta for
sem resistência (“com o um cordeiro m anso” - Jr 11,19), conhece as difi ma:
culdades no seu íntimo, o seu único apoio está na sua confiança. (8) A rrancaram -no da terra dos vivos por causa dos pecados do
meu povo, o golpe recai sobre ele? (9) D estinaram -lhe um a se
pultura entre os maus, entre os ricos está o seu túm ulo, em bora
17. A lonso / Sicre, P rofetas 1, 315-316 (Paulinas, 1988, 323-325). não tivesse praticado violência...
220 Esequiel e o segundo Isaías O segundo Isaías 221
- N a terceira parte se proclam a a exaltação do servo. O horizonte se cício m uito prático consiste em ler o quarto cântico, estruturando as suas
am plia no tem po e no espaço até a universalidade de sua vitória. Deus partes de acordo com os tempos verbais utilizados ou os sujeitos destes
m esm o volta a tom ar a palavra (pelo m enos a partir do v. 11), com o fez no verbos; não esquecer de com provar as características de universalidade
início, e confirm a o êxito anunciado em 52,13. O triunfo do servo é a no início e no final do cântico.
realização do plano do Senhor (v. 10). Não será difícil elencar, no transcorrer de vários textos deste profe
ta, os elem entos com uns das discussões de D eus com os falsos deuses.
Quais são os atributos do Deus verdadeiro?
5. Observação sobre o uso da figura do servo no Novo Testamento