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FACULDADE DE FILOSOFIA E TEOLOGIA PAULO VI

O Profeta Joel

Trabalho para a disciplina “Profetas”

Aluno: Gustavo Catania Ramos

I. Datação e contexto histórico

A data de composição do livro do Profeta Joel 1, um dos doze profetas


menores, ainda é objeto de discussão entre os estudiosos. Considerava-se que o
livro havia sido escrito no mesmo período que Oséias e Amós, por ser o segundo na
série hebraica dos doze profetas. Portanto, o livro seria do século VIII ou VII a.C., no
período da tomada do Reino do Norte pelos Assírios.
Entretanto, essa tese começou a ser contestada, pois foram constatados
indícios de um contexto pós-exílico, o que tornaria o profeta Joel um dos mais
recentes. Alguns afirmam que ele poderia ser colocado no século III a.C. As razões
para esse novo entendimento residem no fato de Joel nunca mencionar o rei e de
referir-se aos sacerdotes e anciãos (1,2) - centrais na vida do povo no pós-exílio.
Além disso, Israel é identificada com Judá e Jerusalém (4, 1-2,16), indicando a
inexistência de um reino no Norte. Outro indício para colocar o livro no século IV ou
III a.C. é o fato de Joel referir-se abundantemente a outros livros proféticos, sendo,
nesse sentido, o profeta com mais relações com os outros de sua classe. Há
desenvolvimento de ideias, por exemplo, encontradas na segunda parte do livro de
Zacarias, cuja datação é segura.
Portanto, apesar de não haver consenso, opta-se geralmente por uma
datação mais recente de Joel, no contexto histórico pós-exílico, entre os séculos IV e
III a.C.

1 Utilizou-se, neste trabalho, como base a seguinte obra: BOGGIO, Giovanni. Joel, Baruc, Abdias,
Ageu, Zacarias, Malaquias: Os últimos profetas. São Paulo: Paulus, 1995. (Pequeno Comentário
Bíblico. Antigo Testamento), p. 117-135. Quando outra obra for utilizada, será especificada.
II. Estrutura do livro

O livro de Joel é dividido em duas partes: a primeira trata do presente de


Israel, enquanto a segunda antecipa uma situação futura. Dentro de cada uma
dessas partes há um duplo movimento: um primeiro momento de desastre e
punição, seguido por um momento de redenção e felicidade, como se o desastre
fosse uma purificação para uma vida feliz.
Segue a estrutura do livro, tirada do livro de BOGGIO (1995):

Introdução: nome do profeta (1,1)


Primeiro quadro: a vida de Israel (1,2-2,27);
Primeiro movimento: a purificação;
invasão de gafanhotos (1 2-12);
convite à penitência (1,13-15);
uma grande seca (1,16-20);
intervenção de Deus - o dia do Senhor (2,1-2);
invasão de [inimigos como] gafanhotos (2,3-9);
intervenção de Deus - o dia do Senhor (2,10-11);
convite à penitência (2,12-18);
Segundo movimento: a vida ideal;
a promessa do Senhor (2,19-20);
o bem-estar reencontrado (2,21-27);

Segundo quadro: para além da história (caps. 3-4);


Primeiro movimento: cataclismo geral (3,1-4,15);
intervenção de Deus - o dia do Senhor (3,1-5);
julgamento dos inimigos de Israel (4,1-15; cf. 4,19);
Segundo movimento: a salvação definitiva (4,16-21);
o Senhor protege o seu povo (4, 16-17; cf. 3,5);
o Senhor transforma a terra (4,18-21).
III. O profeta

Pouco se sabe acerca da pessoa do Profeta. Seu nome, Joel, significa o


Senhor é Deus, indicando já a tônica de sua mensagem, baseada na proclamação
da fé no Deus de Israel, confissão que reaparece diversas vezes ao longo do livro
(2,27; 4,17).
Fora isso, não há nada de certo sobre a vida de Joel, pois seu livro não
menciona personagens por nós conhecidas nem algo acerca de sua história. Alguns
especulam que Joel seria de uma classe culta, pelo estilo de seu texto, bem como
da classe sacerdotal ou dos chamados profetas do culto, por deixar antever diversas
referências cúlticas, que denotam um conhecimento detalhado do rito litúrgico (1,17;
2, 13-17 etc.). Entretanto, aparentemente o profeta também tinha bastante
conhecimento de agricultura, pela sua descrição da praga dos gafanhotos. Assim, é
incerto definir a origem de Joel2.

III. Temas e Mensagem

O primeiro aspecto que pode ser ressaltado na mensagem do profeta Joel é a


a sua mentalidade apocalíptica. As agruras e dificuldades do povo de Israel no seu
período histórico, descritas na primeira parte do livro, são imagem de provações
futuras, de dimensões cósmicas, bem como a prosperidade material é imagem de
um futuro com esperança depois da destruição. Interessante notar que os profetas
antes do exílio da Babilônia também mantinham certa esparança apocalíptica, mas
pensavam que a veriam pessoalmente. Na época de Joel, entretanto, com o não
cumprimento dessa expectativa, colocou-se no fim dos tempos a sua plena
realização, numa meta-história.
Outro tema constante em Joel é o dia do Senhor, presente em diversas
passagens: 1,15; 2,10-11; 3,4. Esse tema aparece nos dois quadros em que o livro é
dividido, e possui tanto o sentido de castigo divino como o sentido de anúncio de
salvação. O dia do Senhor é punição e libertação ao mesmo tempo. Essa expressão
também aparece em outros livros proféticos, como Amós (5,18-20); Sofonias (1,14-
18); Abdias (15); Zacarias (Zc 12,3; 14,1) e Malaquias (3,2.19.23). O dia do Senhor,

2 SCHÖKEL, L. Alonso; SICRE DIAZ, J. L.. Profetas: Ezequiel, Doce Profetas Menores, Daniel,
Baruc, Carta de Jeremias. Madrid: Ediciones Cristiandad, v. 2, 1980, p. 923.
antes de tudo, expressa a fé do povo na fidelidade de Deus, que manterá a Sua
palavra apesar de todas as vicissitudes na história de Israel.
O convite à penitência e conversão também é uma constante na mensagem
de Joel, principalmente em 2,13-14: “Rasgai vossos corações e não vossas vestes;
voltai ao Senhor, vosso Deus, porque ele é bom e compassivo, longânime e
indulgente, pronto a arrepender-se do castigo que inflige. Quem sabe se ele mudará
de parecer e voltará atrás, deixando após si uma bênção, ofertas e libações para o
Senhor, vosso Deus?”. Há, também, diversas referências a rituais do templo de
penitência, como tocar trombeta, usar cilício, vestir-se de saco, jejum etc.
Nos tempos apocalípticos, Joel profetiza que todos receberão o espírito (ruah)
de Deus, jovens, anciãos, escravos e escravas (3, 1-2). O dom do espírito, que ao
longo da história de Israel, reduziu-se a poucos, será, no Dia do Senhor, dado a
todos, desde que confessem o nome do Deus de Israel. Essa passagem foi
interpretada pela Igreja primitiva como uma profecia do dia de Pentecostes.

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