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We introduce a software aimed to provide with a better understanding over the behavior of superparamagnetic
systems under external magnetic fields that does not require previous knowledge in coding. Our simulator generates
the magnetization behavior according to many variables such as temperature, saturation magnetization, and the
average diameter of the magnetic moment. The problem is tackled in a very simple way via the Langevin function.
Our work ultimately seeks to assist learning in nanostructured magnetic materials, quite often a bit hard to grasp
by many students, thereby also being of use for prominent researchers in the field.
Keywords: superparamagnetism, Langevin, simulator.
Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 42, e20200313, 2020 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2020-0313
Gonçalves e Zucolotto e20200313-3
a se acoplar entre si formando regiões no interior do simples como sendo Hm = Nw M , sendo Nw conhecida
material dentro das quais todos se encontram alinha- como constante molecular de Weiss. Weiss substituiu o
dos em uma mesma direção e sentido. Tais regiões são campo H aplicado externamente no caso paramagnético
chamadas de domínios magnéticos. Quando um campo por um campo efetivo Hef dado pela soma do campo
magnético externo é aplicado sobre o material, as su- aplicado em certa direção Hext com o campo molecular
perfícies fronteiriças entre tais domínios, denominadas interno Hm . Com isso, considerando a Equação (3) e
paredes de domínio, começam a ser mover à medida em substituindo o argumento X da função de Brillouin por
que o campo aplicado aumenta, de forma a maximizar Y , definido por Y = gJµB (Hext + Nw M )/kB T , obtemos
o volume dos domínios cujos momentos de dipolo já se a seguinte expressão:
encontravam relativamente bem alinhados com o campo
aplicado e a diminuir o volume daqueles cujos momentos M gµB (J + 1) Hext + Nw M
= . (6)
de dipolo não se encontravam favoravelmente alinhados MS 3kB T
na direção do mesmo. A magnetização do sistema irá Utilizando a mesma analogia considerada na obten-
aumentar até que os momentos magnéticos presentes ção da Equação (4), porém, considerando o efeito do
em todos os domínios se encontrem com o melhor ali- campo molecular, podemos descrever da Equação 6 a
nhamento possível em relação ao campo aplicado. Este magnetização como sendo
valor de magnetização é chamado de magnetização de
saturação (MS ). No entanto, partindo da situação ante- TC H
M= , (7)
rior e decrescendo este campo até zerá-lo, a trajetória Nw (T − TC )
descrita pela curva de desmagnetização não é a mesma
que a descrita quando o campo aplicado foi aumentado onde TC é a temperatura crítica ou temperatura de Curie,
(curva de magnetização). Isso ocorre porque os movimen- a qual é dada por TC = gµB (J +1)Nw MS /3kB . Portanto,
tos das paredes de domínio são frequentemente detidos a curva de magnetização para os sistemas ferromagnéticos
por defeitos na estrutura cristalina do material, dando decai com o aumento da temperatura, sendo válidas as
origem ao que chamamos de histerese magnética. Isso equações acima para temperaturas inferiores a TC , pois
significa que o material possui uma memória magnética, acima desta, o comportamento do sistema magnético
também conhecida como magnetização remanente (MR ). passa a ser paramagnético, como dito anteriormente.
Para zerar esta remanência magnética é necessário que Não obstante, fazendo uma analogia com a Lei de Curie
se aplique um campo magnético de certa intensidade no do paramagnetismo, a susceptibilidade magnética de um
sentido contrário ao inicial, conhecido como coercivo ou ferromagneto, em temperaturas acima de TC é dada pela
coercitivo (HC ). Caso o campo aplicado extrapole o valor Lei de Curie-Weiss:
do campo coercivo, a magnetização aumentará progressi- ∂M C
vamente no sentido oposto até atingir a saturação. Para χ= = , (8)
∂H T − TC
zerar novamente a magnetização basta fazer o processo
inverso, com isso, alternando o campo magnético de altos onde C = TC /Nw . Observa-se que a Equação (8) é válida
valores de um sentido para outro, ver-se-á uma curva de apenas para T > TC .
histerese sendo delineada pela trajetória da magnetização Uma metodologia utilizada por pesquisadores que bus-
da amostra em função do campo magnético aplicado. cam interpretar o comportamento magnético destes siste-
Nos materiais ferromagnéticos, a Lei de Curie perde mas via medidas de magnetização em função da tempe-
sua validade, pois seus momentos de dipolo magnéticos ratura é representando graficamente o inverso da suscep-
apresentam interação de troca positiva entre vizinhos tibilidade em função da temperatura. Quando os dados
favorecendo o alinhamento em direções e sentidos iguais. interceptam o eixo da temperatura na origem, o sistema
Entretanto, assim como em sistemas paramagnéticos, o apresenta um comportamento paramagnético (Lei de Cu-
comportamento ferromagnético é dependente da tempera- rie); e quando interceptam em certo valor positivo de
tura, uma vez que a agitação térmica é capaz de suplantar temperatura (TC ), o sistema apresenta um comporta-
o acoplamento magnético. Portanto, considerando o men- mento ferromagnético (Lei de Curie-Weiss).
cionado na Sec. 2.1, o comportamento ferromagnético só é
observado em temperaturas abaixo de certa temperatura 2.3. Superparamagnetismo
crítica TC .
Em 1930, Frankel e Doefman [20] apresentaram um traba-
Weiss [19] propôs uma teoria com pressupostos clássi-
lho pioneiro sobre o estudo de amostras magnéticas com
cos. De forma sucinta, foi o primeiro a propor que nos
tamanhos nanométricos. Mostraram que abaixo de certo
sistemas ferromagnéticos os momentos magnéticos estão
tamanho crítico de partícula, energeticamente é mais
completamente alinhados dentro de certas regiões que fi-
favorável que as partículas apresentem um único domínio
caram conhecidas como domínios de Weiss. Em sua teoria,
magnético, chamado monodomínio magnético. Posteri-
considerou a presença de um campo magnético interno
ormente, muitos trabalhos consideraram e aprimoraram
extremamente forte nestes domínios, cuja origem está
este trabalho. Podemos destacar o estudo de Néel [21] de
na interação entre os spins atômicos, o qual denominou
1949, no qual mostrou uma grande importância da flutu-
campo molecular Hm , o qual pode ser descrito de forma
ação térmica capaz de alterar a direção dos momentos
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2020-0313 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 42, e20200313, 2020
e20200313-4 Uma ferramenta para simulação de sistemas superparamagnéticos
magnéticos, desde que a energia térmica kB T seja sufi- superparamagnético submetido a um campo magnético
ciente para superar a barreira de energia de anisotropia externo pode ser representado pela aproximação da Equa-
magnética destes domínios magnéticos, desconsiderando ção 1 considerando J → ∞,
a relaxação temporal [22,23]. Quando isso acontece, estes
materiais se comportam de forma similar aos paramagné- MSP M = lim MP M , (10)
J→∞
ticos. Entretanto, quando a energia térmica é da ordem
da energia de anisotropia, uma curva similar à função ou seja,
de Brillouin começa a surgir devido à lenta reorientação
dos domínios magnéticos, mas não pode ser representada lim BJ (X) = lim BJ
gJµB H
=
pela mesma 1 . Logo, quando a energia térmica é inferior J→∞ J→∞ kB T
a energia de anisotropia magnética, surge remanência
µH kB T
e coercividade magnética, ou seja, o loop de histerese coth − . (11)
kB T µH
se torna evidente. Estes materiais foram nomeados por
Bean e Livingston [24] como superparamagnéticos. Observando a equação obtida, percebe-se que se trata da
As partículas de um sistema superparamagnético são equação de Langevin, ou seja,
compostas pelo agrupamento de pequenos momentos
1
magnéticos na forma de domínios magnéticos não inte- L(x) = coth (x) − . (12)
ragentes. Estes agrupamentos podem ser formados por x
multi ou monodomínios magnéticos. Quando as partí- Logo, a magnetização total de sistemas superparamag-
culas possuem um tamanho significativo, estes agrupa- néticos é, expressa em função da equação de Langevin,
mentos podem ser divididos em dois os mais grupos com dada por
interfaces entre vizinhos que tornam a mudança de orien-
µH
tação gradual, pois ocorre o favorecimento da formação MSP M = MS L . (13)
kB T
das paredes de Bloch, estes são os multidomínios. Entre-
tanto, quando as partículas possuem um tamanho muito
reduzido, abaixo de um volume crítico, a formação das pa-
3. Software SPmag Tools 1.0
redes de Bloch é desfavorecida energeticamente tornando comportamento de sistemas superparamagnéticos pos-
as direções de magnetização dos momentos alinhadas suem dependência de variáveis, como, temperatura, mag-
em um único sentido, ou seja, formam-se monodomínios netização de saturação e diâmetro médio dos momen-
magnéticos 2 . tos magnéticos. Logo, as curvas de magnetização po-
De modo geral, em um sistema superparamagnético dem ser obtidas utilizando a Equação 13 considerando
monodomínio, a energia de interação de troca entre os
6 . Para avaliar o comportamento magnético
3
µ = MS π DM
momentos magnéticos de uma partícula é muito maior
de sistemas superparamagnéticos no regime desbloqueado
que a energia térmica. Logo, a energia térmica é muito
desenvolvemos o software SPmag Tools 1.0. O software
maior que as possíveis energias de interações dipolares
permite realizarmos simulações de curvas de magnetiza-
clássicas entre as partículas. Matematicamente isso pode
ção com diferentes variáveis.
ser expresso da seguinte maneira:
O desenvolvimento do software foi em linguagem JAVA
|Jint | kB T |Jext |. (9) 1.8 com a ferramenta JavaFX 8. Para o ambiente de
desenvolvimento utilizamos o Netbeans IDE por ser inte-
Com isso, podemos representar este tipo de sistema tendo grado e gratuito, sendo executado em muitas plataformas.
domínios interagindo internamente de forma ferromagné- Para ajudar a visualizar o caminho de desenvolvimento
tica, mas entre si, interagindo paramagneticamente. aplicamos o uso da Unified Modeling Language. O design
Supondo que uma partícula superparamagnética pos- foi realizado por código Cascating Style Sheet que o pró-
sui em seu interior momentos magnéticos que se com- prio JavaFX disponibiliza e que pode ser obtido pelos
portam de forma análoga, acoplados uns com os outros, documentos da Oracle (JavaFX CSS Reference Guide).
podemos considerar que cada partícula possui um mo- Na Fig. 1 mostramos uma operação no SPmag.
mento de dipolo total dado pela soma dos momentos Ao explorar o SPmag pela primeira vez o usuário
magnéticos moleculares (ou atômicos) em seu interior, poderá acessar o Help → Quick Tutorial e terá a opção
µ = µat N , sendo µat o momento magnético de cada íon de fazer um pequeno passeio direcionado autoexplicativo
e N o número de íons presentes na partícula. Portanto, pelas principais operações do software. Em File terá a
o comportamento da magnetização total de um sistema opção New Input Control File na qual poderá iniciar
1A função de Brillouin representa curvas M(H) para sistemas para-
um novo projeto de visualização (Vizualization Project)
magnéticos, sendo J da ordem do momento angular total do íon de curvas de Langevin (Langevin Curves). Ao acessar a
magnético. Entretanto, com base nesta função obtém-se uma apro- opção descrita poderá nomear a curva a ser realizada em
ximação clássica para função de Langevin, a qual descreve estas Curve Title e parametrizar os valores de temperatura,
curvas para sistemas superparamagnéticos, que será apresentada
em breve.
diâmetro médio e magnetização de saturação da curva
2 O tamanho crítico é aquele de dimensões da ordem das paredes recém intitulada, observando que os valores inseridos
de Bloch do sistema. deverão estar no SI. Em seguida poderá delimitar os
Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 42, e20200313, 2020 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2020-0313
Gonçalves e Zucolotto e20200313-5
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2020-0313 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 42, e20200313, 2020
e20200313-6 Uma ferramenta para simulação de sistemas superparamagnéticos
mas curvas. Isso ocorre devido a dependência mútua [3] A. Gelir, M. Kocaman e I. Pekacar, Physics Education
entre temperatura e tamanho de constituintes no pro- 54, 055012 (2019).
cesso de magnetização, pois maior o diâmetro e menor [4] V. Mehta e D.C. Lane, Physics Education 53, 045016
a temperatura, mais rapidamente atingisse a saturação (2018).
magnética. [5] F.M. Cruz, A.A.F. Moura, A.P. Moura, E.P. Rocha,
Experimentalmente, dada certas condições existe a D.C.C. Crisóstomo e H.T.Q. Lemos, Revista Brasileira
de Ensino de Física 41, e20190123 (2019).
possibilidade da curva não alcançar a saturação (ou ten-
[6] T.F.D. Fernandes e N.L. Moreira, Revista Brasileira de
dência de saturação) podendo ser interpretado como a
Ensino de Física 41, e20180304 (2019).
presença de partículas paramagnéticas contidas no sis- [7] L.M. Holanda, I.R.O. Ramos, A.P. Lima, J.P.M. Braga e
tema. Isso pode ocorrer devido a questões experimentais H.T.C.M. Souza, Revista Brasileira de Ensino de Física
da coleta de dados, i.e. intervalo de campo magnético 40, e2313 (2018).
pequeno. Neste momento, ajusta-se uma reta na região [8] R.B. Werlang, R.S. Schneider e F.L. Silveira, Revista
de campos mais altos que representaria a presença da con- Brasileira de Ensino de Física 30, 1503 (2008).
tribuição paramagnética e desconta-se esta contribuição [9] G.A.P. Ribeiro, Revista Brasileira de Ensino de Física
de todos os pontos experimentais, para que a curva passe 22, 299 (2000).
a ser representada saturada. Logo, isso é o mesmo que [10] L.M. Holanda, I.R.O. Ramos, A.P. Lima, J.P.M. Braga e
associar simultaneamente a função de Brillouin do para- H.T.C.M. Souza, Revista Brasileira de Ensino de Física
magnetismo com uma função de Langevin. Entretando, 42, e20190196 (2000).
devemos estar atentos aos comportamentos possíveis das [11] S. Palanisamy e Y.M. Wang, Dalton Transactions 48,
curvas de magnetização para que não ocorrem interpreta- 9490 (2019).
[12] D. Cai, L. Liu, C. Han, X. Ma, J. Qian, J. Zhou e W.
ções errôneas nos dados. Entretanto, outras técnicas de
Zhu, Scientific Reports 9, 14475 (2019).
caracterização associadas as medidas magnéticas podem
[13] D. Maity e G. Kandasamy, in: Nanotechnology Cha-
auxiliar na interpretação do sistema magnético. racterization Tools for Tissue Engineering and Medical
Therapy, editado por S.S.R.C. Kumar (Springer, Berlin,
5. Conclusão 2019).
[14] A.P. Guimarães, Revista Brasileira de Ensino de Física
A partir de uma revisão do conceito de superparamagne- 22, 382 (2000).
tismo desenvolvemos o software SPmag Tools 1.0 com o [15] M. Knobel, Revista Brasileira de Ensino de Física 22,
qual podesse realizar simulações das curvas de magnetiza- 387 (2000).
ção de forma rápida, sem a necessidade de conhecimento [16] K.H.J. Buschow e F.R. Boer, Physics of Magnetism
and Magnetic Materials (Kluwer Academic/Plenum Pu-
em programação.
blishers, New York, 2003).
O software desenvolvido constitui uma importante fer-
[17] C. Kittel, Introduction to Solid State Physics (Wiley,
ramenta para consolidação dos conhecimentos acerca do New York, 2005).
comportamento da magnetização de sistemas superpara- [18] B.D. Cullity e C.D. Graham, Introduction to Magnetic
magnéticos no regime desbloqueado sujeitos a campos Materials (John Wiley & Sons, New Jersey, 2009).
magnéticos externos. Ressalta-se que a possibilidade de [19] B.D. Cullity, Introduction to Magnetic Materials
análise de variáveis é um importante acréscimo como (Addison-Wesley, New York, 1972).
apoio didático. [20] J. Frenkel e J. Doefman, Nature 126, 274 (1930).
O superparamagnetismo, apesar de ser estudado a mui- [21] L. Néel, Annales Geophysicae (C.N.R.S.) 5, 99 (1949).
tos anos, ainda possui muitos aspectos inexplorados e [22] L. Néel, Superparamagnétisme des grains très fins anti-
esperamos que este artigo possa incentivar os leitores ferromagnétiques (Comptes Rendus Hebdomadaires Des
ao aprofundamento no estudo destes materiais magnéti- Seances De L’Academie Des Sciences, Paris, 1961), v.
cos. Logo, o software é livre e pode ser encontrado gra- 252.
tuitamente no endereço http://gca.unijui.edu.br/ [23] L. Néel, OEuvres scientifiques de Louis Neel (Centre
national de la recherche scientifique, Paris, 1978).
downloads/bd818e51323107fb230b931c99e77f56.exe
[24] C.P. Bean e J.D. Livingston, Journal of Applied Physics
30, S120 (1959).
Agradecimentos
Os autores agradecem ao apoio da FAPERGS (concessão
n° 19/2551-0001225-0), CNPQ (concessão n° 152026/2016-
9) e UNIJUÍ.
Referências
[1] J.S. Figueira, Revista Brasileira de Ensino de Física 27,
613 (2005).
[2] V. Heckler, M.F.O. Saraiva e K.S. Oliveira Filho, Revista
Brasileira de Ensino de Física 29, 267 (2007).
Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 42, e20200313, 2020 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2020-0313