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Como vimos, ao passar dos anos muitos impasses foram travados entre o governo e os

garimpeiros, essas disputas de poder continuaram durante todo o funcionamento do garimpo


com o poder governamental tentando estabelecer o período em que o garimpo estaria aberto
ou fechado. Vale ressaltar que os órgãos governamentais e principalmente a Companhia Vale
do Rio Doce queriam tornar a extração do ouro mecanizada no garimpo, ou seja, eles queriam
tornar a mineração mecanizada porque o uso de máquinas era mais eficiente, já que as
máquinas seriam mais ágeis e permitiria extrair mais ouro, então o discurso deles era de que a
garimpagem manual era ineficaz e colocava os garimpeiros em situação de risco por conta de
acidentes, mas o grande objetivo era controlar a exploração do ouro e sua saída. Só que por
outro lado, o uso das máquinas diminuiria o número de trabalhadores no garimpo, então os
garimpeiros insatisfeitos com as tentativas de fechamento e controle da extração de ouro se
uniam em protestos, reafirmando seu poder enquanto grupo.
No ano de 1986, ocorreu uma série de acidentes no garimpo de serra pelada com vítimas
fatais. Nesse mesmo ano, a polícia militar do estado e a polícia civil interditam uma área
considerada de risco, contudo, os garimpeiros não aceitaram essa interdição e chegaram a
incendiar os alojamentos da polícia civil e militar, também incendiaram o prédio da
cooperativa dos garimpeiros, pois estavam descontentes com a direção da cooperativa, tendo
em vista que esta estava sendo acusada de desvio de verbas e corrupção.

Já no ano 1987 aconteceram fatos críticos que envolviam o governo federal e estadual e os
garimpeiros, estes que estavam insatisfeitos com a falta de segurança nos trabalhos de
garimpagem, em especial, nas áreas de risco.

Por sua vez, os garimpeiros não aceitaram passivamente as disposições do governo em ceder
à vale do rio doce, para que usasse do método mecanizado, excluindo a classe garimpeira de
qualquer participação. Uniram-se formando grupos compactos de luta através de sindicatos e
cooperativismo. Os garimpeiros já sabiam que existiam verbas nos cofres do banco do brasil
para realizar o rebaixamento nas áreas vistas como de risco, só que o governo federal estava
retendo este dinheiro, então, como forma de protesto, os garimpeiros ocuparam a ponte
rodoferroviária sobre o rio Tocantins, na cidade de Marabá. Eram cerca de 4 mil garimpeiros,
estes ocupavam a ponte de modo que impedia o trafego dos trens cargueiros que levavam
minérios de ferro.

Várias reuniões foram sendo feitas nas últimas horas enquanto os garimpeiros continuavam
com o protesto, até que eles chegaram a um acordo que era a permanência da extração
manual no garimpo e que seria liberada verbas para fazer o trabalho de rebaixamento e
terraplanagem

Porém, no dia 29 de dezembro, o governo já tinha enviado uma tropa de choque para o local
para se juntar com a polícia de marabá e Belém, com ordens expressas para abrirem fogo.
Hélio Gueiros, então governador, autorizou o desbloqueio da ponte ocupada como uma forma
de “demonstração de força” contra os manifestantes que não aceitaram a negociação para a
suspensão do bloqueio. Com isso, uma tropa de policiais atirou contra os manifestantes,
atacando-os e perseguindo-os, os policiais ocuparam as margens da ponte e os garimpeiros se
viram encurralados de modo que a única saída para escapar dos policiais era pular nas águas
do rio. Os garimpeiros voltaram à serra pelada após o acordo firmado e depois dos choques,
porém, afirmavam que se suas reivindicações não fossem atendidas, eles voltariam a ocupar a
ponte novamente.

- O crime nunca foi investigado e ficou esquecido na história do país, relata Ferreira. “Eu fui
até o Ministério Público e não encontrei nem um inquérito, não existe nada. Se foi aberta
alguma coisa não existe nem no arquivo morto. Fui no Ministério Público Militar, Polícia
Militar também não encontrei. Quer dizer não houve nada, porque não houve cobrança",
aponta. Não se tem notícia de que alguém tenha sido acusado e processado, muito menos
punido, no caso dos garimpeiros. E o autor do livro confirma que nem o Ministério Público
tem em seus arquivos algo minimamente parecido com um inquérito.

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