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Arteterapia
Segundo a AATA (American Art Therapie Association), a arteterapia está
baseada na crença de que o processo criativo envolvido no fazer arte é
curativo aumentando a qualidade de vida. Criar arte e comunicá-la é um
processo que quando realizado junto com um arteterapeuta, permite a qualquer
pessoa uma ampliação de sua consciência. E, assim ela enfrenta seus
sintomas, seu estresse e suas experiências traumáticas com habilidades
cognitivas reforçadas, para então, desfrutar os prazeres da vida que se
confirmam, artisticamente, criativos (2003).
O paciente com câncer normalmente tem dificuldade para expressar
suas emoções e investe muita energia para contê-las. Também tem uma baixa
no sistema imunológico. Segundo Carvalho (2003) nas palavras de LeShan
(1992):
Os sentimentos afetam a química do organismo (que afeta o
desenvolvimento ou a regressão do tumor), assim como a
química do corpo afeta o sentimento... Descobrimos que o
sistema imunológico é fortemente afetado pelos sentimentos e
que determinados tipos de atitude psicológica podem
influenciar positivamente nosso sistema de defesa. (p.279)
No Cora a nossa experiência com a arte foi mais com pacientes adultos,
terminais e no processo de luto. Sendo assim concordamos com os autores
citados por Vasconcellos e Giglio (2006) como Wood (1998) que aponta que a
intervenção com arte com pacientes terminais pode ajudá-los a compreender a
real situação, amenizando a dor emocional e fortalecendo os recursos para o
enfrentamento da situação que de certa forma aumentava a confiança. Bailey
(1997) da mesma forma se refere à arte como uma possibilidade de ajuda no
confronto com a finitude, um resgate do sentido da vida suprindo necessidades
espirituais.
No caso do processo de luto a arteterapia também entra tanto no
contexto familiar (os acompanhantes) como também num trabalho de grupo de
pacientes com câncer que no momento de morte o grupo precisa elaborar a
perda para que o luto seja vivido de forma normal, natural. Bromberg (2003)
cita Parkes que aponta as reações anormais do luto: luto crônico, o luto adiado
e o luto inibido. Com essa classificação como pano de fundo podemos fazer
uso da intervenção da arte para lidar com esse processo de forma natural.
Voltando ao Cora a arteterapia dentro de um ateliê terapêutico tem sido
uma experiência muito enriquecedora, onde o diálogo com diferentes materiais
favorece o encontro com o criativo, com aquilo que é essencial para que o
processo aconteça.
Ostrower (1995) nos fala que a recuperação do potencial sensível de
criatividade é vital para as pessoas e que “criar significa poder compreender e
integrar o compreendido em novo nível de consciência” (p.252). Complementa
que como se trata de um processo de conscientização a criação depende de
uma disponibilidade interior, motivação e capacidade para expressar
acompanhado de um sentimento de responsabilidade.
Caminhar na recuperação do ser sensível para Ostrower (1995) é ter
“condições internas, espirituais, que permitirão ao indivíduo ser criativo: sua
capacidade de engajar-se no que faz, de permanecer flexível face a certas
contingências da vida sem, no entanto, perder em coerências e integridade”
(p.251). Ainda Ostrower (1995) o importante é a motivação existencial porque o
“criativo na pessoa só pode aflorar e manifestar-se espontaneamente” (p.251).
Dessa forma, acreditamos que os processos criativos nada mais são do
que processos de crescimento que nas palavras de Ostrower envolve todos os
recursos afetivos e intelectuais da pessoa. O fazer arte na nossa compreensão
pode ser o caminho.
Para Kandinsky (1990): “quem quer que mergulhe nas profundezas de
sua arte, em busca de tesouros invisíveis, trabalha para erguer essa pirâmide
espiritual que chegará ao céu” (p.57).
Finalizamos reconhecendo que o curador dentro de nós é sábio e que a
percepção de nossas atitudes, crenças e valores são o caminho para a
ampliação de nossa consciência. Mais conscientes e mais despertos, fica mais
fácil enfrentar os desafios da vida.
O método
Considerações finais
O trabalho criativo com essas pacientes possibilitou uma
sustentabilidade emocional importante tanto do ponto de vista energético
quanto do ponto de vista de recursos para lidar com a doença.
A meta atingida foi a qualidade de vida e o produto final, saúde, pois
quando a doença pode ser contextualizada facilita a cura como um todo e,
assim aceitar o processo e ter recursos para lidar com ele é tirar um proveito da
experiência optando pela saúde integral.
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