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AUG\ E RESP\ LOJ\ SIMB\

“FRATERNIDADE CAMPINEIRA”
N.º 2158 – ORIENTE DE CAMPINAS - SP
R\E\A\A\

“Relação entre o juramento de


Hipocrites e os ensinamentos
maçonicos.”
Ir\ (nome do Ir.´.) A\M\
Orientação: Ir\ (nome do Ir.´. orientador) M\M\- 2º Vig\
(Mês)/(Ano) E\ V\
1. Introdução:

O juramento de Hipócrates é um juramento ético que os médicos fazem para cumprir


determinadas obrigações e respeitar certos princípios em sua prática profissional. Por
outro lado, a Maçonaria é uma ordem fraternal que promove valores éticos e morais em
seus membros, com o objetivo de torná-los melhores pessoas e cidadãos.

Embora não haja uma relação direta entre o juramento de Hipócrates e os ensinamentos
maçônicos, há certos valores que são compartilhados por ambas as instituições. Por
exemplo, o juramento de Hipócrates inclui o compromisso de tratar todos os pacientes
com igualdade, sem discriminação ou preconceito. Esse valor também é defendido pela
Maçonaria, que busca promover a igualdade e a fraternidade entre seus membros,
independentemente de sua origem social, raça ou religião.

Além disso, tanto o juramento de Hipócrates quanto a Maçonaria promovem a


honestidade, a integridade e a lealdade. O juramento de Hipócrates inclui o
compromisso de manter a confidencialidade dos pacientes, respeitar suas escolhas e
tratar seus dados de forma responsável. Da mesma forma, a Maçonaria enfatiza a
importância da honestidade e da integridade em todas as esferas da vida, promovendo o
respeito às leis e a justiça social.

Outra possível relação entre o juramento de Hipócrates e os ensinamentos maçônicos


está na ideia de que a prática da medicina e a prática da Maçonaria exigem o
compromisso e a dedicação. O juramento de Hipócrates inclui o compromisso de
estudar e buscar constantemente aprimorar a prática médica, enquanto a Maçonaria
enfatiza a importância do autoconhecimento, da reflexão e da busca contínua pelo
aperfeiçoamento pessoal.
Em resumo, embora não haja uma relação direta entre o juramento de Hipócrates e os
ensinamentos maçônicos, ambas as instituições promovem valores éticos e morais,
como igualdade, honestidade, integridade, lealdade e compromisso, que são
fundamentais para uma prática profissional e uma vida pessoal bem-sucedidas.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xx (texto da Introdução).

O Juramento de Hipócrates é um juramento solene efetuado pelos médicos,


tradicionalmente por ocasião de sua formatura, no qual juram praticar a medicina
honestamente.
De forma geral, acredita-se que o juramento tenha sido escrito por Hipócrates —
amplamente considerado como o pai da medicina ocidental — ou por um dos seus alunos.
O juramento original foi escrito em grego jónico (século V a.C.).
Existem duas versões do Juramento de Hipócrates: a original, escrita em Lausana em
1771, e uma outra, ratificada em 1948 pela Declaração de Genebra (posteriormente
atualizada em 1968, 1983,[1] e 2017), a qual vem sendo utilizada em vários países por se
mostrar social e cientificamente mais próxima da atual realidade.[2]

Em Portugal
Em Portugal, o texto original de 1771 foi inicialmente adotado pela Ordem dos
Médicos daquele país, e mais tarde substituído pelo da Declaração de
Genebra da Associação Médica Mundial, sendo sucessivamente atualizado.[3]

Versão de 1771
Texto do juramento

“ Prefácio
São estes os estatutos da arte médica que o aluno deve aceitar e confirmar ”
por juramento, Contêm os preceitos sobre a gratidão para com o professor;
sobre a integridade do doente e sobre os mais graves casos cirúrgicos não
curáveis, como a extracção de cálculos da bexiga, como se debus pela
divisão da medicina em três partes, Os antigos aceitavam-na, os Mercuriales
rejeitam-na.
Argumento
Os deveres que o médico deve ter para com o professor e para com a
profissão são: a integridade de vida, a assistência aos doentes e o desprezo
pela sua própria pessoa,
Juramento
Juro por Apolo Médico, por Esculápio, por Hígia, por Panaceia e por todos os
deuses e deusas que acato este juramento e que o procurarei cumprir com
todas as minhas forças físicas e intelectuais,
Honrarei o professor que me ensinar esta arte como os meus próprios pais;
partilharei com ele os alimentos e auxiliá-lo-ei nas suas carências,
Estimarei os filhos dele como irmãos e, se quiserem aprender esta arte,
ensiná-la-ei sem contrato ou remuneração.
A partir de regras, lições e outros processos ensinarei o conhecimento global
da medicina, tanto aos meus filhos e aos daquele que me ensinar, como aos
alunos abrangidos por contrato e por juramento médico, mas a mais ninguém.
A vida que professar será para benefício dos doentes e para o meu próprio
bem, nunca para prejuízo deles ou com malévolos propósitos.
Mesmo instado, não darei droga mortífera nem a aconselharei; também não
darei pessário abortivo às mulheres.
Guardarei castidade e santidade na minha vida e na minha profissão.
Operarei os que sofrem de cálculos, mas só em condições especiais; porém,
permitirei que esta operação seja feita pelos praticantes nos cadáveres,
Em todas as casas em que entrar, fá-lo-ei apenas para benefício dos doentes,
evitando todo o mal voluntário e a corrupção, especialmente a sedução das
mulheres, dos homens, das crianças e dos servos,
Sobre aquilo que vir ou ouvir respeitante à vida dos doentes, no exercício da
minha profissão ou fora dela, e que não convenha que seja divulgado,
guardarei silêncio como um segredo religioso,
Se eu respeitar este juramento e não o violar, serei digno de gozar de
reputação entre os homens em todos os tempos; se o transgredir ou violar
que me aconteça o contrário.

Versão de 1983
Texto do juramento

“ Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade.


Darei aos meus Mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos.
Exercerei a minha arte com consciência e dignidade.
A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação.
Mesmo após a morte do doente respeitarei os segredos que me tiver
confiado.
Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições
da profissão médica.
Os meus Colegas serão meus irmãos.
Não permitirei que considerações de religião, nacionalidade, raça, partido
político, ou posição social se interponham entre o meu dever e o meu Doente.
Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo
sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos Médicos contra as leis
da Humanidade.
Faço estas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra. ”
Versão de 2017
A versão de 2017 é usada atualmente em Portugal no momento em que o clínico é
admitido como Membro da Ordem dos Médicos.
Texto do juramento
Compromisso do Médico
“ COMO MEMBRO DA PROFISSÃO MÉDICA:
– PROMETO SOLENEMENTE consagrar a minha vida ao serviço da
humanidade;
– A SAÚDE E O BEM-ESTAR DO MEU DOENTE serão as minhas primeiras
preocupações;
– RESPEITAREI a autonomia e a dignidade do meu doente;
– GUARDAREI o máximo respeito pela vida humana;
– NÃO PERMITIREI que considerações sobre idade, doença ou deficiência,
crença religiosa, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação política, raça,
orientação sexual, estatuto social ou qualquer outro fator se interponham
entre o meu dever e o meu doente;
– RESPEITAREI os segredos que me forem confiados, mesmo após a morte
do doente;
– EXERCEREI a minha profissão com consciência e dignidade e de acordo
com as boas práticas médicas;
– FOMENTAREI a honra e as nobres tradições da profissão médica;
– GUARDAREI respeito e gratidão aos meus mestres, colegas e alunos pelo
que lhes é devido;
– PARTILHAREI os meus conhecimentos médicos em benefício dos doentes
e da melhoria dos cuidados de saúde;
– CUIDAREI da minha saúde, bem-estar e capacidades para prestar cuidados
da maior qualidade;
– NÃO USAREI os meus conhecimentos médicos para violar direitos
humanos e liberdades civis, mesmo sob ameaça;
FAÇO ESTAS PROMESSAS solenemente, livremente e sob palavra de
honra; ”
No Brasil
No Brasil também se utilizam tanto o texto original quanto a versão atualizada
pela Associação Médica Mundial, entre outros juramentos, a critério da instituição de
ensino.

Versão de 1771
Esta é a versão adotada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo (CRM-SP):[4]
Texto do juramento
Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Hígia e Panaceia, e tomo por
“ testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu
poder e minha razão, a promessa que se segue:

Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer
vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens;
Ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles
tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso
escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino,
meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os
regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e
entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por
comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do
mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Conservarei imaculada minha vida e minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa
operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de
todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do
amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da
sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu
conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar
felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os
homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça.

Outras versões
Algumas outras versões também são utilizadas no Brasil; segue-se uma delas, adotada
pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais:[5]
Texto do juramento
Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da
“ honestidade, da caridade e da ciência.
Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os
segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra.
Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o
crime.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a
minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me,
suceda-me o contrário.

1. Em busca de minha formação humanística e jurídica, sempre me dediquei aos estudos de


Filosofia e Ética, desde o já longínquo ano de 1958 quando ingressei na Faculdade de
Direito.
No campo da Ética, sempre me impressionou o contido no “Juramento de
Hipócrates” que os acadêmicos de Medicina renovam a séculos e em todo o mundo,
antes de dar início à sua profissão. Aliás, juramento que não existe, pelo que consegui
observar, em nenhuma outra profissão, como por exemplo, ao final dos cursos de
Direito e Engenharia.
2. Sobre tal juramento, fui colecionando diversas notas, especialmente no campo da
Deontologia. Como fui, no ano de 2017, eleito Conselheiro do Conselho Consultivo
daFundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência (FAEPA) do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, senti-
me encorajado a elaborar este pequeno e modesto estudo.
3. A tradição de vinte e quatro séculos de prestação desse juramento por todos aqueles que
ingressam na profissão médica, em todo o mundo, revela a consagração desse compromisso.

Do teor de tal juramento, encontramos pontuais condutas éticas a impor aos médicos
obediência durante o exercício de sua profissão.

o juramento de hipócrates.
4. No ano486 a.C, em uma pequena ilha do Mar Egeu (Grécia) denominada Ilha de Kós,
nasceu e floresceu uma escola médica destinada a mudar a história e os rumos da Medicina,
sob a inspiração daquele que passou a ser, por todo o sempre, o paradigma de todos os
médicos – Hipócrates. É considerado, até hoje, o Pai da Medicina moderna, pois coube a
ele separar “a Medicina da religião, e da magia, afastou as crenças em causas
sobrenaturais das doenças, e fundou os alicerces da medicina racional e científica. Ao lado
disso, deu um sentido de dignidade à profissão médica, estabelecendo as normas éticas de
conduta que devem nortear a vida do médico, tanto no exercício profissional, como fora
dele”.[2]
5. Da Escola Médica deHipócrates há uma coleção de 72 livros, coleção esta conhecida
como “Corpus Hippocraticum” ,onde sete livros tratam, exclusivamente da Ética
Médica e são eles: Juramento, Da Lei, Da Arte, Da Antiga Medicina, Da Conduta Honrada,
Dos Preceitos, Do Médico.
Sobressai dentre eles, sem dúvida alguma, o Juramento, que a tradição de mais de 48
séculos, é prestado e renovado por todos aqueles considerados aptos a exercer a
Medicina e, em regra durante a cerimônia de colação de grau. No momento em que se
dá o Juramento, os acadêmicos passam a ser admitidos pelos seus pares, como novos
integrantes da classe médica. O Juramento de Hipócrates “é considerado um patrimônio da
humanidade por seu elevado sentido moral e, durante séculos, tem sido repetido como um
compromisso solene dos médicos, ao ingressarem na profissão”.[3]

Daí porque, os novos médicos não podem e não devem esquecer a sua importância,
além da necessidade de conhecer e saber o que representa.

o texto do juramento.
6. O texto original doJuramento, que chegou até nossos dias, está escrito em grego clássico.
Daí porque, foi traduzido em vários idiomas. Traduções estas oriundas de antigos e raros
documentos, que são mencionados no referido artigo do professor Joffre M. de Rezende.
Entre tais documentos são citados os seguintes: a) – o manuscrito “Urbinas Graecus” da
Biblioteca Apostólica Vaticana, texto este localizado entre os anos X e XI, sendo
interessante observar que o documento é escrito em forma de cruz, para bem marcar o
patrocíncio religioso; b) – o manuscrito “Marcianus Venetus”, do século XI, pertencente à
Biblioteca de São Marcos em Veneza, considerado como texto original, uma vez que
conserva a invocação dos deuses da mitologia grega, diante de sua origem pagã; c) – o
manuscrito do século XII da Biblioteca Apostólica Vaticana e inserto em “Vaticanus
Graecus 276”; d) – manuscrito do século XII da Biblioteca de Paris.
Esse último manuscrito guarda a invocação inicial dos deuses da mitologia grega e
corresponde ao texto mais difundido na atualidade.[4]
7. O saudoso professorEdmundo Vasconcellos, eminente mestre de Clínica Cirúrgica da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, publicou um notável artigo
na Revista Paulista de Medicina, em abril de 1974, sobre o Juramento de Hipócrates, onde
esclarece ter se valido da tradução literal do texto, gentilmente feita pelo professor
Alexandre Corrêa, ilustre e cultíssimo helenista. Esclarece ter cotejado a tradução na
publicação bilíngüe de Littré, publicada em 1844 por Balière, autor dos mais autorizados
sobre toda a obra hipocrática.[5]
Assim está redigida a tradução feita pelo saudoso professor Alexandre Corrêa:
“ Juro por Apolo, médico, e por Esculápio, por Hygéia, por Panacéia, e por todos os deuses e
deusas, constituindo-os os juízes de como, na medida das minhas forças e do meu juízo, haverei
de fazer executado o seguinte juramento e o seguinte compromisso: considerarei aquele que
me ensinou esta arte o igual a meus pais; prometerei partilhar com ele os meus bens; e, se
padecer necessidades, torná-lo-ei participante deles; considerarei os seus filhos meus irmãos, e,
se quiserem aprender esta arte, haverei lh’a ensinar sem qualquer salário nem compromisso.
Dos preceitos, das lições ouvidas e todas as mais instruções farei a transmissão aos meus filhos,
aos filhos do meu mestre, aos discípulos ligados por uma obrigação, tendo jurado, segundo a
lei médica; porém a ninguém mais. Aplicarei os regimes de vida para a utilidade dos doentes
de acordo com a minha capacidade e meu juízo, abstendo-me de qualquer malefício ou dano
(injustiça). Não porei nenhum veneno em mãos de ninguém, mesmo que n’o peçam, nem
tomarei a iniciativa de o aconselhar; igualmente não entregarei a nenhuma mulher um
pessário abortivo. Passarei a minha vida e praticarei a minha arte pura e santamente. Não
operarei de nenhum modo os padecentes de litíase (não praticarei a litotomia), deixando a
prática desse ato aos profissionais. Em quantas casas entrar, fá-lo-ei só para a utilidade dos
doentes, abstendo-me de todo o mal voluntário e de toda voluntária maleficência e de qualquer
outra ação corruptora, tanto em relação a mulheres quanto a jovens, sejam livres ou escravos.
O que for que veja ou ouça, concernente à vida das pessoas, no exercício da minha profissão ou
fora dela, e que não haja necessidade de ser revelado, eu calarei, julgando que tais coisas não
devem ser divulgadas. Se eu cumprir fielmente este juramento sem infringir, seja-me dado
gozar, feliz, da minha profissão, honrado por todos os homens, em todos os tempos; mas, se o
violar e perpetuar um prejuízo, que o contrário me suceda”.
8. O saudoso professorEdmundo Vasconcellos observa que a tradução mais citada e tida
como a mais próxima do original grego está em “Oeuvres completes d’Hipocrate”, edição
bilíngue publicada por E. Littré pela Editora J. B. Balière, em 1844, sendo importante
mencionar, também, as versões em inglês de Francis Adams, de 1849 transcrita na
coleção Harcard Classic, vol. 38 de 1910 e a de W. H. S. Jones, que se encontra na
coleção Loeb Classical Library, desde 1923.
Merece ser destacada a tradução em português do texto grego feita por Bernardes de
Oliveira, autor do livro “A evolução da Medicina até o Século XIX”, tradução esta baseada
no texto em inglês feita por Jones:
“Juro por Apolo Médico, por Esculápio, por Higéia, por Panacéia e por todos os deuses
e deusas, tomando-os como testemunhas, obedecer, de acordo com meus
conhecimentos e meu critério, este juramento: Considerar meu mestre nesta arte
igual aos meus pais, fazê-lo participar dos meios de subsistência que dispuser, e,
quando necessitado com ele dividir os meus recursos; considerar seus descendentes
iguais aos meus irmãos; ensinar-lhes esta arte se desejarem aprender, sem honorários
nem contratos; transmitir preceitos, instruções orais e todos outros ensinamentos aos
meus filhos, aos filhos do meu mestre e aos discípulos que se comprometerem e
jurarem obedecer a Lei dos Médicos, porém, a mais ninguém. Aplicar os tratamentos
para ajudar os doentes conforme minha habilidade e minha capacidade, e jamais usá-
los para causar dano ou malefício. Não dar veneno a ninguém, embora solicitado a
assim fazer, nem aconselhar tal procedimento. Da mesma maneira não aplicar
pessário em mulher para provocar aborto. Em pureza e santidade guardar minha vida
e minha arte. Não usar da faca nos doentes com cálculos, mas ceder o lugar aos nisso
habilitados. Nas casas em que ingressar apenas socorrer o doente, resguardando-me
de fazer qualquer mal intencional, especialmente ato sexual com mulher ou homem,
escravo ou livre. Não relatar o que no exercício do meu mister ou fora dele no convívio
social eu veja ou ouça e que não deva ser divulgado, mas considerar tais coisas como
segredos sagrados. Então, se eu mantiver este juramento e não o quebrar, possa
desfrutar honrarias na minha vida e na minha arte, entre todos os homens e por todo
o tempo; porém, se transigir e cair em perjúrio, aconteça-me o contrário”.[6]
Cumpre observar, como o faz o professor Joffré M. de Rezende, que, em todos os
idiomais, as traduções apresentadas diferem entre si em alguns aspectos relativos à
linguagem empregada, embora mantenham todas o núcleo central dos preceitos que
compõem o juramento.[7] Acrescenta que as diferenças existentes se encontram
principalmemente entre algumas passagens e no significado de determinadas
palavras gregas, que não encontram equivalentes em outros idiomas, além da
polissemia que permite um leque de opções na língua de chegada.
9. O professorJoffre M. de Rezende faz o trabalho de colocar em análise diversos vocábulos
em grego e sua corresppondência com as traduções feitas em inglês, francês e português.
Trata-se de um interessante estudo sobre o conteúdo do texto do Juramento para aquele que
deseja se aprofundar em seu estudo. [8]
texto da declaração de genebra.
10. Em 1948, diante das atrocidades verificadas durante a Segunda Guerra Mundial,
especialmente, nos campos de concentração nazistas, a Associção Médica Mundial, em sua
Assembléia Geral, aprovou a denominadaDeclração de Genebra, considerada como um dos
documentos cenrtrais da Ética Médica. O texto original da Declaração foi alterado três vezes
(1968, 1983 e 1994) e revisto duas (2005 e 2006). Em 2016, a Associação constituiu um
grupo de trabalho com a finalidade de preparar uma nova versão ao texto da Declaração a
ser apresentado ao Comitê de Ética daquela institução.
11. ADeclarção de Genebra adotada pela Associação Médica Mundial, com sua redação
aprovada em 1983, tem o seguinte teor:

“ Prometo solenemente consagrar a minha vida a serviço da Humanidade.

Darei aos meus Mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos.

Exercerei a minha arte com consciência e dignidade.

A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação.

Mesmo após a morte do doente respeitarei os segredos que me tiver confiado.

Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da


profissão médica.

Os meus Colegas serão meus irmãos. Não permitirei que considerações de religião,
nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interponham entreo meu
dever e o meu Doente.

Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça
e não farei uso dos meus conhecimentos médicos contra as leis da Humanidade.

Faço estas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra.”

12. Em sua versão de 2017, o texto da Declaração é o seguinte:


“COMO MEMBRO DA PROFISSÃO MÉDICA:

RESPEITAREI a autonomia e a dignidade do meu doente;

GUARDAREI o máximo respeito pela vida humana;

NÃO PERMITIREI que considerações sobre idade, doença ou deficiência, crença


religiosa, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação política, raça, orientação sexual,
estatuto social ou qualquer outro fator se interponham entre o meu dever e o meu
doente;

RESPEITAREI os segredos que me forem confiados, mesmo após a morte do doente;

EXERCEREI a minha profissão com consciência e dignidade e de acordo com as boas


práticas médicas;

FOMENTAREI a honra e as nobres tradições da profissão médica;

GUARDAREI respeito e gratidão aos meus mestres, colegas e alunos pelo que lhes é
devido;

PARTILHAREI os meus conhecimentos médicos em benefício dos doentes e da


melhoria dos cuidados de saúde;

CUIDAREI da minha saúde, bem-estar e capacidade para prestar cuidados da maior


qualidade;

NÃO USAREI meus conhecimentos médicos para violar direitos humanos e liberdades
civis, mesmo sob ameaça;

FAÇO ESSAS PROMESSAS solenemente, livremente e sob palavra de honra”.

Trata-se de texto revisto na 68ª. Assembléia Geral da Associação Médica Mundial


realizada em Chicago, EUA, em outubro de 2017.

tradição do juramento nas escolas de medcina.


13. A tradição doJuramento a ser prestado no final dos Cursos de Medicina teve início
na University of Wittenberg, na Alemanha em 1508. Teve seus altos e baixos em
popularidade até a segunda metade do século XX, quando se estabeleceu a sua tradição na
formação médica.
14. A partir da década de 1950, em virtude dos inegáveis avanços da Ciência Médica, cresceu o
movimento junto aos médicos e órgãos de classe na busca de atualizar-se o texto
doJuramento. Isto é, buscar-se sua modernização, para mantê-lo relevante. Foi modificado,
revisado e também substituído e as substituições, por sua vez, revisadas, em uma “tentativa
de refletir com precisão as mudanças nas expectativas sobre o comportamento ético dos
médicos em relação com pacientes, em um mundo no qual os primeiros frequentemente não
dão a última palavra”.[9]
15. Todo juramento exige a presença de“algo” ou de “alguém”. O Juramento de Hipócrates se
inicia com a invocação de deuses e deusas da mitologia grega (e depois romana), uma vez
que foi ditado em uma era pagã.[10]
O Juramento invoca o “Apolo, médico”, bem como “Asclépio, Higeia e Panacéia”, deuses
da mitologia grega. Apolo era filho de Zeus (rei dos deuses do Olimpo). Ocupava lugar
de destaque entre os deuses. Era conhecido como deus da luz e do Sol, da verdade e
da profecia, da medicina e da cura, das artes, da poesia e da música, entre outras
coisas, que congregava em si. Pode-se dizer que Apolo era um deus de grande
importância para a mitologia grega. Ademais, a medicina e a cura associadas a Apolo
estavam presentes pela mediação de seu filho, Acléspios, mais tarde chamado
de Esculápio pelos romanos. Enquanto Apolo possuía vários domínios de
atuação, Esculápio era deus, especificamente, da medicina e da cura, na antiga mitologia
grega.[11] Interessante observar que Esculápio teve por mãe Coronis, que foi morta
ainda grávida de Asclépios, por ter sido infiel a Apolo, mas seu filho foi resgatado vivo
de seu útero. Por isso recebeu o nome Asclépios, que signifca algo como “abrir com um
corte”. Os romanos traduziram Asclépios para Esculápio (Aesculapius). As
palavras “escalpelo” (sinônimo de bisturi) e “scalpel” (bisturi em inglês) não são mera
coincidência. Esculápio era o deus específico da medicina, da cura, do rejuvenecimento.
Os ancestrais da nossa civilização ocidental, quando doentes, peregrinavam em massa
para os templos de cura dedicados a Esculápio (Asclépios), que era simbolizado por
um bastão envolvido por uma serpente. Em homenagem a Asclépios, durante os
rituais de cura, várias cobras não venenosas eram deixadas serpenteando no chão dos
quartos ocupados por doentes e feridos.[12] Higeia, na mitologia grega, é filha de
Asclépios. Se, de um lado, Asclépios era associado à recuperação e cura, a figura de
Higéia (Ὑγεία) era associada à prevenção das doenças e à continuidade da boa saúde. Ela
era a deusa da saúde, da limpeza e do saneamento. Seu nome deu origem à
palavra higiene. Panacéia é irmã de Higeia, portanto filha de Asclépio e neta de Apolo.
Panaceia é deusa da cura. Observa-se que Apolo também era deus da cura, entre
outras coisas. Acontece que Panaceia e suas 4 irmãs, possuíam cada uma, faceta
específica da arte de Apolo: Panacéia, a cura; Higeia, a prevenção; Meditrina,
a longevidade; Algeia (também conhecida como “Egle”), a beleza natural; e Akeso (ou
Aceso), a recuperação. Panaceia detinha uma poção, com a qual curava os doentes. Daí
surgiu o termo panaceia, utilizado até hoje para descrever um medicamento capaz de
curar muitas doenças, ou “remédio universal” capaz de solucionar todos os males.[13]
Quando se faz um Juramento, jura-se sempre por alguma coisa, que representa algo de
caráter sagrado, como também se pode ter em conta um ancestral (vivo ou morto).
São comuns os juramentos: “Juro pela minha mãe…”, “juro pela alma de minha mãe” e “juro
por Deus”. Ao invocar deuses da mitologia grega, o Juramento de Hipócrates nos
reporta a nossos ancestrais de tempos imemoriais, do berço da civilização
ocidental, “a quem devemos não apenas nossa herança genética e de conhecimento”. Naquele
remotíssimo tempo, foram criados esses personagens mitológicos (deuses, portanto
sagrados). Esses personagens “sempre foram simbólicos e representavam uma série de
fenômenos até hoje inexplicáveis pela lógica”.[14]

Daí porque, ouso discordar com todo o respeito possível ao grande médico Dráuzio
Varella, quando afirma soar o ridículo quando se vêm acadêmicos jurar por Apolo,
Asclápios, Higeia e Panaceia em artigo que publicou sob o título “Juramento de
Hipócrates,

de uma importante reflexão.


16. Já agora, depois dessas considerações, surge uma indagação pertinente que nos leva à
reflexão:além do Juramento de Hipócrates, quais são os outros juramentos que os médicos
têm feito nas últimas décadas?
O site Medscape dedicado a assuntos médicos, e que serve de referância para os
profissionais da Medicina, dá conta de uma pesquisa feita com estudantes e médicos
em exercício, onde se questinou sobre o Juramento de Hipócrates e sobre a questão
de ser relevante ou não para a prática médica, ou se deveria ser revisado para
expressar as preocupações éticas contemporâneas. A pesquisa foi feita on line e reuniu
mais de 2.600 respostas de médicos e mais de 200 comentários, muitos deles
extensos.
17. O resultado obtido foi o seguinte:
18. a) – Mais da metade (56%) dos médicos entrevistados fizeram o Juramento hipocrático.
19. b) – Três (3) por cento declararam ter feito o juramento de Maimônides, um juramento
tradicional para médicos atribuído a Maimônides, um médico e filósofo medieval, usado
como alternativa ao juramento de Hipócrates.
20. c) – Seis (6) por cento recitaram a Declaração de Genebra de 1948, onde são estabelecidas
diretrizes éticas para os médicos após a Segunda Guerra Mundial, por conta das atrocidades
cometidas pelos médicos nazistas e reveladas nos julgamentos de Nuremberg.
21. d) – Cinco (5) por cento preferiram a versão modificada do juramento de Hioócrates escrito
em 1964 pelo Dr. Louis Lasagna, reitor acadêmico daTufts University School of Medicine.
22. e) – Nove (9) por cento prestaram um juramento alternativo escrito pelos professores de
suas próprias Faculdades de Medicina; um (1) por cento recitaram um juramento escrito por
suas próprias turmas e 14 (quatorze) por cento não fizeram juramento médico algum.[15]
23. Quanto àsidades dos entrevistados, apurou-se o seguinte: três quartos dos participantes
(75%) tinham 45 anos de idade ou mais, 12% tinham de 35 a 44 anos e 9% menos de 34
anos.
24. Quanto às indicações de como a prestação do juramento sofreu modificações nos últimos
anos, tais indicações foram fornecidas por uma pesquisa realizada em 2009, com 98 reitores
de Faculdades de Medicina dos Estados Unidos da América e do Canadá, que relataram a
forma dos juramentos usados em suas instituições.[16]Descobriu-se que o uso do juramento
hipocrático estaria em declínio. Em 33,3% das Faculdades os estudantes faziam o juramento
do Dr. Lasagna. O segundo juramento mais utilizado era a Declaração de Genebra (15,6%).
Empatados em terceiro, com 11,1%, estavam o tradicional Juramento de Hipocrátes
e “outro” que incluía juramentos escritos por um professor da Faculdade, pelos alunos, ou
pelos dois em conjunto.[17]
25. A pesquisa doMedscape aponta que para a maioria dos médicos (81%) o tradicional
juramento hipocrático é “muito” ou “um tanto significativo” para a prática da Medicina.
Em suma, “o juramento é a constituição da profissão médica”. Todavia, para 7% dos
participantes da pesquisa o juramento seria “ligeiramente significativo” e para 11% “nada
significativo”.[18]
26. Quanto ao texto do juramento hipocrático, para 62% dos participantes – maioria – deveria
permanecer em sua forma tradicional e ser mantido como está. Mais de um terço (28%)
entendeu que o juramento deveria ser revisado e substituído, enquanto 9% opinaram que
deveria ser abandonado.[19]
textos abreviados ou resumidos.
22. Textosabreviados ou resumidos têm sido utilizados nas Faculdades de Medicina de
diferentes países a começar em França que se utiliza de um modelo abreviado conhecido
como juramento de Montpelier. Posteriormente, se passou ao uso de um texto mais
resumido, onde foi incluído um novo compromisso, qual seja o de atender gratuitamente os
pobres e o de ser moderado na cobrança de honorários e deixando de mencionar outros
preceitos contidos no texto original do juramento, entendendo estejam submetidas nas
expressões genéricas de “ser fiel às leis da honra e da probidade no exercício da
medicina” e de “não corromper os costumes, nem favorecer o crime”.[20] Na língua
inglesa existem várias formas abreviadas do Juramento “que não seguem exatamente o
modelo francês”, tendo como exemplo o texto utilizado no New York Medical College.[21]

No Brasil, a maioria das Faculdades de Medicina utiliza um modelo simplificado que,


segundo o saudoso professor Edmundo Vasconvellos, chegou a ser usado na
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e cujo texto é o seguinte:

“ Prometo que ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade,
da caridade e da ciência.
Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os
segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra.
Nunca me servirei da profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu, para sempre, a minha vida e a
minha arte, com boa reputação entre os homens.
Se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me ocontrário”.[22]

De lembrar-se que uma variante desse texto tem livre curso em nossas Faculdades de
Medicina.

No entanto, difere do texto antes transcrito em um pequeno detalhe de redação que


modifica inteiramente o sentido da frase. Eis o texto:

“Prometo que ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da
honestdade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos
serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, os quais terei
como preceito de honra. Nunca me servirei da profissão para corromper os costumes
ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu, para
sempre, a minha vida e a minha arte, com boa reputaçãoentreoshomens.
Se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário.” [23]
Nota-se, comparando-se as duas versões, que a diferença consiste na substituição, no
segundo parágrafo, da locução pronominal o que pela locução os quais. Na primeira
versão a locução o que se refere ao enunciado na frase anterior, ou seja, expressa a
intenção do médico de guardar sigilo em relação aos “segredos que me forem revelados”.
Na segunda versão, a locução pronominal os quais, no plural, tem como
antecedente “os segredos que me forem revelados”. À evidência, não faz o menor sentido
fazer-se “dos segredos que me forem revelados” um “preceito de honra”.[24]
23. No consubstancioso artigo mencionadono decorrer deste pequeno estudo, o
professor. Joffre M. de Rezende realliza uma detida e exaustiva pesquisa sobre como se
apresenta o Juramento de Hipócrates nas diversas Faculdades de Medicina brasileiras na
solenidade de formatura do curso médico.

Para tanto, foram enviadas cartas-circulares, em nome da Sociedade Brasileira de


História da Medicina, a 82 Faculdades, obtendo-se respostas de 41 e três delas não
especificaram o texto em uso. Daí porque na análise foram incluídas somente 38
Faculdades.
O resultado da pesquisa aponta que das 38 Faculdades, apenas três (3) usam o texto
do Juramento por extenso e a maioria se utiliza de um modelo simplificado de uso
corrente e traz o seguinte: a) – três Faculdades se utilizam do texto por extenso
(07.9%); b) – duas usam o texto por extenso modificado (05.3%); c) – três se urtilizam
de textos próprios (07.9%); d) – vinte e três usam texto simplificado (60.5%); e) – seis
usam mais de um texto (15.8%); f) – uma se utuiliza da Declaração de Genebra (02.6%).

Das seis Faculdades,que utulizam mais de um texto, cinco empregam a forma


simplificada, que é assim adotada em 28 Fculdades (73.7%) e destas, apenas nove
(32.1%) usam a redação correta com a locução pronominal o que, enquanto 18 (64.3%)
empregam a locução pronominal incorreta os quais e uma aos quais.[25]
atualização do juramento,
24. A partir do século XX, especialmente, o “progresso científico e o avanço tecnológico da
medicina, aliados à evolução do pensamento e dos costumes, trouxeram novos conceitos e
novos aspectos relativos à ética médica e a validade do juramento de Hipócrates passou a
ser questionada, se não em seu significado simbólico, pelo menos em seu conteúdo”,Daí o
surgimento de numerosas propostas no sentido de “atualizar” ou “modernizar” o seu texto.
[26]
As alterações sugeridas visam, principalmente, compatibilizá-lo “com a Bioética e adaptá-
lo à problemática decorrente da prática médica atual, com o objetivo de evitar a conivência dos
médicos com as falhas dos atuais sistemas de saúde, sempre que houver prejuízo para os doentes e
com os interesses financeiros da indústria farmacêutica e de equipamentos médicos, que procuram
influenciar a conduta do médico”.[27] São inúmeras as propostas de modificações. Muito
embora, procurem contemplar a autonomia do paciente, justiça social e
mercantilização da medicina, “afrouxam as obrigações dos discípulos para com seus
mestres” substituem a proibição do aborto por sua regulamentação, “e suprimem o item
referente à operação de calculose vesical”.[28]
O professor Joffre M. de Rezende toma o cuidado de listar as propostas oriundas de
entidades de maior representatividade, quais sejam: 1) – Declaração de Genebra da
Associação Médica Munidial (1948), a mais antiga e conhecida de todas e que é
utiizada em diversos países, quando da recepção aos novos profissionais inscritos no
respectivo Conselho; 2) – texto de Brighton (1995) elaborado por 35 eticistas, médicos
e não médicos reunidos naquela cidade; 3) – texto do Código de Deontologia Médica
da França aprovado pelo Decreto n. 95-1000, de 6.9.1995, art. 109; 4) – o texto
proposto pela British Medical Association em 1997 e que dá ênfase à autonomia do
paciente, admite o aborto, desde que permitido em lei, e inclui o consentimento
esclarecido do paciente para a sua participação em qualquer investigação científica; 5)
– Carta do Profissionalismo Médico de 2002. Trata-se de documento que não se
destina a substituir o juramento de Hipócrates, pois é, antes de tudo, um verdadeiro
código de contuta do médico. Foi elaborado em conjunto por diversas instituições
médicas norte-americanas, ao lado da Federação Médica Européia de Medicina
Interna.[29]
25. Em 1984 foi feita uma pesquisa na classe médica braileira, por amostragem, sobre se o
juramento de Hipócrates deveria ou não ser modificado e o resultado foi o seguinte[30]:
Deve permanecer inalterado: 80%
Deve ser modificado: 15%
Deve ser ignorado: 5%
Apesar do tempo decorrido, pode servir de indicativo para a pesquisa feita no
decorrer deste pequeno estudo.

26. Como anota o professorJoffre M. de Rezende a pergunta que se impõe é a seguinte: deve o
juramento de Hipócrates ser modificado ou substituído por outro documento?

A resposta a esta pergunta, nos obriga a tecer algumas considerações.

O juramento existe a 2.600 anos. Foi recepcionado e incorporado à memória histórica


da civilização ocidental. Daí a necessidade de se dar ênfase ao cultivo de nossa cultura,
sob pena de que ocorra a destruição da “cultura da vida e o legado da medicina hipcrática e
cristã, e a sociedade é quem pagará o preço.[31]
Em nota de rodapé deixamos expresso em resumo, um justo desabafo sobre a
profissão médica. Sua leitura é fundamental, diante das constantes investidas feitas
contra a classe médica.[32]
Num editorial publicado no The Medical Journal of Australia, o professor Edmund
Pellegrino escreveu: “Talvez para muitos o juramento médico hoje seja apenas um fragmento de
uma antiga imagem despedaçada. Mas o suficiente dessa imagem permanece na consciência dos
profissionais para lembrá-los de que desconsiderá-la completamente seria como transformar a
medicina num empreendimento comercial, industrial ou proletário.”
27. No decorrer deste estudo é realçada a importância do Juramento de Hipócrates, ponto
fundamental para uma das mais nobres profissões, qual seja a Medicina. Os médicos lidam
com o bem maior e fundamental da Humanidade, qual seja avida. Na relação médico e
paciente se encontra a certeza da presença de alguém (paciente) a sofrer a perda de sua
saúde e que encontra no médico a recompensa e a esperança de recuperá-la. A vida humana
sempre estará presente.

Daí a imortância e a relevância dos princípios éticos que o juramento encerra.


Princípios éticos da Medicina que são eternos e mesmo com o incontestável avanço
da ciência médica são regras a conduzir os médicos no exercício de sua nobre e
insubestituível profissão, para o bem de toda a Humanidade.

ética e moral. A conduta humana.


28. Tanto a norma moral, como a norma jurídica, estabelecemrumos de conduta, a guiar os
homens, pois no dizer de Horkounov, em nossa atividade consciente, obedecemos “às
regras que nos apontam a linha de conduta a ser adotada para a consecução deste ou
daquele determinado fim.” [33]
Tais normas possuem, assim, força de obrigatoriedade, embora as respectivas
sanções sejam de natureza diversa[34], tendo ambas um fundamento ético comum,
pois, conforme o magistério de Radbruch: “Não há, pode dizer-se, um único domínio da
conduta humana, quer interior, quer exterior, que não seja susceptível de ser ao mesmo tempo
objeto de apreciações morais e jurídicas.” [35]
29. Neste ponto, surge a pergunta:Ética é o mesmo que Moral? Para muitos estudiosos não há
diferença, pois ambas possuem idêntica origem etimológica. Moral deriva da palavra
latina “mores”, enquanto ética vem de um vocábulo grego e ambos significam “costumes”.
No entanto, para alguns filósofos, como Kant, há diferença entre elas. Enquanto
a moral “designa o conjunto dos princípios gerais”, a “ética” corresponde à “sua
aplicação concreta”.[36] Para alguns outros, a ética tal como a entendem “é o estudo lógico
da linguagem da moral”.
José Renato Nalini, em seus estudos e livros notáveis e brilhantes, diz que a “Ética é a
ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”. É uma ciência porque possui
objeto próprio, leis próprias e método próprio. O objeto da Ética é a Moral que é um
dos aspectos do comportamento humano.[37]
Para alguns estudiosos, em uma visão pragmática, a “moral é ampla e abundante. Quando
suas normas são positivadas, está-se a falar de Ética. Por isso é que existem “Códigos de Érica” e
não “Códigos de Moral”.[38]
Por fim, cabe observar que a Ética é uma disciplina normativa, “não por criar normas,
mas por descobri-las e elucidá-las”. Seu conteúdo mostra às pessoas “os valores e
princípios que devem nortear sua existência. A Ética aprimora e desenvolve o sentido moral
do comportamento e influencia a conduta humana”.[39] Ademais, a Ética é a
doutrina “do valor do bem e da conduta humana que tem por objetivo realizar esse valor”,
a Ética “não é senão uma das formas de atualização ou de experiência de valores ou, por
outras palavras, um dos aspectos da Axiologia ou Teoria dos Valores”. Assim, “o complexo
de normas éticas se alicerça em valores”, normalmente, designados “valores do bem”. Daí
porque não se pode deixar de entender que há “conexão indissolúvel entre o dever e
o valioso”.[40]
deontologia.
30. Quando em uma determinada profissão, por seus órgãos diretivos ou de classe, se procura
anormatização de seus deveres, através de uma deontologia específica, estamos diante de
regras a impor dever de conduta àqueles que fazem parte da referida profissão.
No campo da Deontologia (“deon” + “logus” = ciência dos deveres) vamos encontrar
regras, especialmente, de “direito disciplinar que “instrumentalmente se ligam a normas éticas
e normas de Direito comum”.[41]
Daí porque, Léon Husson, conforme citado pelo saudoso professor Miguel Reale,
analisando “as atividades profissionais e o Direito”, afirma que o
termo “Deontologia” “présente l’avantage de désigner, sans spécifier s’ils présentent un caractère
juridique ou un caractère moral, lénsemble des devoirs qui s’imposent “in concreto” dans une
situation sociale définie” [42].
Rafael Bielsa, o notável publicista portenho, ensina: “Si bien todo profesional ejerce su
profesión con miras a la eficacia que lo acredita, un motivo de interés comun a todos los
profesionales que es la dignidad de la profesión, la legitima confianza que debe inspirar, les
impone deberes determinados, que constituyen, precisamente, la deontologia; essos deberes son
también morales” [43].
A defesa dos princípios e regras de conduta fixados na Deontologia de uma determinada
profissão, cuja razão está na presença da honra profissional, normalmente, “se justifica
por una especie de autodefensa colegiada…” [44]
Portanto, a desobediência “ao comando de ordem moral pode, por si só, dar causa a uma
penalidade de natureza disciplinar, tal a importância que se confere à correta conduta
profissional.” [45]
31. Já agora, passamos a fazer breves considerações sobre aresponsabilidade civil dos médicos,
no exercício de sua nobre profissão.
Sempre se entendeu, e ainda hoje se entende, que a responsabilidade civil do médico,
bem como de outros profissionais liberais, é de natureza subjetiva.

O Código Civil de1916 dispunha em seu art. 1545:


“Os médicos … são obrigados a satisfazer o dano, sempre que da imprudência,
negligência ou imperícia, em atos profissionais, resultar morte, inabilitação de servir, ou
ferimento”.

Em identidade normativa dispõe o art. 951 do vigente Código Civil:

“ O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida
por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou
imperícia, causar a morte, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o
trabalho”.
Bem por isso continua atual a lição de Clóvis, o maior de nossos civilistas, em
comentário ao art. 1545 do Código Civil de 1916:“ A responsabilidade das pessoas indicadas
neste artigo, por atos profissionais, que produzam morte, inabilitação para o trabalho, ou
ferimento, funda-se na culpa” [46].
Logo, uma relação desse jaez não pode, assim, submeter-se à dicção do art. 14, caput,
do Código de Defesa do Consumidor, que trata da responsabilidade de requerer “defeitos
relativos à prestação de serviços”.
Assim, mesmo com tantas novidades para a proteção do consumidor, porém, a Lei
8.078, de 11 de setembro de 1990, em seu art. 14, § 4º, foi taxativa para repetir a
fórmula consagrada da responsabilidade subjetiva dos profissionais dessa natureza, ao
estipular textualmente: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada
mediante a verificação de culpa”.
Em obra específica sobre a matéria, conferem o professor Arruda Alvim e
Outros colaboradores a exata dimensão que se há de dar ao mencionado dispositivo
da nova lei: “O parágrafo quarto, último deste artigo, afasta dos profissionais liberais a
responsabilidade independentemente de culpa pelo fato do serviço. Assim, a responsabilidade
civil pelos danos decorrentes do serviço dos profissionais liberais, como médicos, advogados,
odontólogos, contadores e outros, dependerá da existência e comprovação da culpa”.[47]
32. Na atividade médica, o profissional da Medicina lida com orisco que decorre da doença,
da patologia apresentada pelo paciente. Não se trata, assim, de risco da atividade médica.
A doença, moléstia ou patologia, atua duas vezes, pelo menos, como fator de risco: (1) –
agride o organismo do paciente, coloca em risco a sua saúde; (2) – obriga o médico a
intervir, a realizar cirurgia, por exemplo, que é uma intervenção em situação de risco
criado pela moléstia e não se trata, assim, de risco criado pela atividade médica.
Em suma, quando o médico é chamado a intervir, já existe uma situação de risco criada
pela patologia de que o paciente é portador.
Logo, mesmo agindo da forma mais diligente possível, pode não obter êxito no tratamento.
Se essa não fosse a realidade, ninguém morreria de enfermidades
– todas as doenças seriam curadas, mediante a intervenção médica.
Não se pode olvidar, assim, que o paciente, em virtude da moléstia de que é portador,
se encontra em situação de risco em sua saúde e, diante desta circunstância, o médico é
chamado a intervir.
Em v. acórdão do egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, encontramos imorredoura
lição ministrada pelo eminente e notável Desembargador Laerte Nordi: “Porque os
médicos são seres humanos e sujeitos à falibilidade inerente à árdua profissão, tenho afirmado que
somente prova cabal de erro flagrante e indesculpável pode levar à responsabilização, sobretudo
em face do elevado número de pessoas atendidas e operadas por dia. E se eles cuidam do
mais difícil e complexo dos mecanismos – o corpo humano – que, às vezes, sugerem várias
alternativas, não se pode nem se deve exigir deles a infalibilidade dos deuses”.[48]
Quando se põe a realizar um ato de seu ofício, o médico não se investe tecnicamente
da obrigação de cura, da obrigação de resultado, mas assume o encargo de tratar o
doente com zelo e diligência adequados, de acordo com as aquisições da ciência, ou,
em outras palavras, passa a ter uma obrigação de fornecimento de meios.[49] Em
significativo acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo, após o reconhecimento de
que “a vida e a saúde humanas são ditadas por conceitos não exatos”, também se assentou
que, em tais casos, “cabe ao médico tratar o doente com zelo e diligência, com todos os
recursos de sua profissão para curar o mal, mas sem se obrigar a fazê-lo, de tal modo que o
resultado final não pode ser cobrado, ou exigido”; e se finalizou o raciocínio com a assertiva
de que a responsabilidade civil do médico está a representar uma obrigação de meio e não de
resultado”.[50]
Em outro sugestivo acórdão, a egrégia Corte de Justiça assentou que, mesmo após a
vigência do Código de Defesa do Consumidor, não interessando se proposta a ação contra
o hospital ou contra o médico pessoalmente, não se aplica a responsabilização objetiva,
porquanto o que se põe em exame é o próprio trabalho médico, devendo-se submeter
a questão aos estritos lindes do § 4º do art. 14 do referido Código [51].
Como se vê, a responsabilização do profissional da área médica, na atualidade,
reveste-se de natureza subjetiva, no que o ordenamento segue a tradição de nosso
Direito para a responsabilidade indenizatória genericamente considerada, estando,
assim, afastada a hipótese de aplicação dos princípios norteadores da
responsabilidade objetiva.
princípios éticos do juramento.
33. O Juramento encerra diversos princípios e regras éticas. Vamos a eles.
34. Da leitura do juramento e em análise de seus preceitos, surge como princípio primeiro da
ética médica, apreservação da vida humana, estando o médico dedicado a manter a saúde
de seu paciente. E a preservação da vida humana haverá de existir desde seu início com
a concepção. Inclsusive o Juramento fala de que nunca será administrada uma substância
abortiva às mulheres.
De sua parte, não é ocioso recordar que a “Declarção de Genebra” quando de sua
aprovação pela Associação Médica Mundial em 1948, contem o seguinte: “Guardarei
respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos
meus conhecimentos médicos contra as leis da Humanidade.
A vida humana e a sua consequente preservação são fundamentais para que
a sociedade exista. Daí porque, todos os direitos e deveres contemplados pela ordem
jurídica e social têm raízes no direito fundamental à vida.
35. Aliás, ao fazer-se o jurmento pelapreservação da vida a partir da concepção, o jovem
médico estará a consagrar a ciência. Com efeito, a ciência – e não a religião ou
a filosofia – comprova que a vida humana tem início na concepção, quando o
espermatozóide penetra o óvulo. Instala-se a gravidez, que se encerra com o parto. Desde
esse momento, há vida humana a ser preservada.
Ademais, avançados estudos médicos e científicos demonstram que o nascituro não é
apenas uma porção do corpo da gestante, mas um ser autônomo com vida própria,
apenas “transitoriamente ligado, pelas deficiências de uma fase de sua evolução, ao organismo
materno”. Bem por isto, quaisquer constrangimentos, físicos ou psíquicos, suportados
pela mãe interferem de alguma maneira em seu natural desenvolvimento. Nesta
parte, cumpre recordar que o Código Penal alemão “considera o aborto como um delito
de homicídio e o feto como um ser vivente autônomo, embora dependente do organismo materno
até o parto”, conforme esclarece Mezger.[52]
Por fim, a décima terceira semana completa o primeiro trimestre da gestação, quando o
coração, fígado, baço e muitos outros órgãos estão a funcionar.
Com total propriedade, merece ser destacado o seguinte depoimento colhido
no Medscape de 21 de fevereiro de 2017, depoimento este prestado por um médico
pediatra: “Enquanto os médicos continuarem a matar bebês que ainda não nasceram e a ajudar
pacientes vivos a se matarem, como é permitido pelas leis contemporâneas e pela própria profissão,
então o antigo juramento de Hipócrates é irrelevante“.
36. Durante algum tempo, medrou o entendimento de que a vida teria seu início, com a
formação dosistema nervoso do feto, procurando refutar que o início da vida ocorre com a
concepção.
No “Portal da Família” no “Youtube” é encontrado um vídeo que responde à seguinte
pergunta: “A vida humana começa com a formação do sistema nervoso?”
Referida teoria defende “que a vida humana começa apenas depois da formação do sistema
nervoso” e usa como “critério o fato da medicina considerar a morte cerebral como o fim da
vida” e utiliza esta “informação para traçar um paralelo supostamente lógico de que se a vida
termina com a morte cerebral, então ela só começa com a formação do sistema nervoso, antes disso
não haveria vida humana”.
A igualdade de critérios “neste ponto é enganosa, utilitarista e reducionista, sendo bastante
inadequada e até certo ponto desonesta”.
Quando se procura entender-se porque a medicina e o Estado consideram a morte
encefálica como critério para o fim da vida, “entenderemos que o mesmo critério favorece a
defesa do embrião emquanto ser humano vivo e independente”.
A morte encefálica “é um bom critério clínico porque com ela o indivíduo não mais consegue se
sustentar de forma autônoma, pois a partir de uma etapa do desenvolvimento do organismo quem
garante essa autonomia é justamente o sistema nervoso”. Um organismo adulto sem o
funcionamento do sistema nervoso (tronco encefálico) perde irreversivelmente “sua
autonomia funcional e a manutenção da vida torna-se impossível.” Há morte “porque a situação é
irremediável, independente do que for feito dali para frente, todo o resto do orgamismo irá parar de
funcionar”.
No caso do embrião “ainda sem sistema nervoso formado este critério não é
válido porque mesmo sem o sisterma nervoso, o embrião consegue sustentar, como qualquer ser
humano em condição favorável, seu organismo de forma autônoma e desenvolver-se perfeitamente
com os recursos orgânicos que possui para atender as demandas biológicas da respectiva etapa de
vida em que está”.
Portanto, “o critério adotado para determinar a morte encefálica não é a presença ou
a ausência de um órgão ou sistema, isso seria reduzir a vida a um simples órgão, mas sim a
capacidade de aquele organismo se suestentar de forma independente e organizar suas funções de
forma integrada”. Isso o “embrião faz desde sua concepção, por isso é mais lógico, é
mais cientificamente correto e mais seguro defender o início da vida humana a partir da
concepção”.
A dignidade da vida humana é um valor em si e não admite relativização.
do aborto.
37. O Código Penal brasilerio pune oaborto, como crime contra a vida e contra a pessoa (art.
124). Prevê, também, duas hipóteses em que não haverá aplicação de pena, quais sejam as
hipóteses de aborto necessário (inciso I do art. 128) e o aborto sentimental (inciso II). Em
ambas as hipóteses o Código exige a sua prática por médico.
Na hipótese do inciso I, por exemplo, conforme adverte o eminente professor Aníbal
Bruno, “é preciso que haja perigo real da morte da gestante, perigo que não possa ser afastado de
outro modo, para que se autorize a interrupção da gravidez”, sendo necessário,
ainda, “que todas as possibilidades para a salvação da mãe e do filho se tenham esgotado”.[53]
Quanto ao aborto definido no inciso II – gestação proveniente de estupro – conforme
pondera, com toda razão o professor Aníbal Bruno, por mais respeitáveis que sejam os
sentimentos em favor da gestante vítima da violência, “tomar a situação como justificativa
da morte do ser que se gerou é uma conclusão de fundo demasiadamente individualista, que
contrasta com a idéia do Direito e a decidida proteção que ele concede à vida do homem e aos
interesses humanos e sociais que se relacionam com ela e demasiadamente importantes para serem
sacrificados a razões de ordem pessoal, que, por mais legítimas que possam parecer não têm mérito
bastante para se contrapor ao motivo de preservação da vida de um ser humano”, vindo a citar a
lição de Alatavilla de que “não há fundamento para falar-se nesse caso em estado de necessidade
e deve-se considerar o aborto, na hipótese, extremamente cruel” e “a lei protege sempre uma vida
humana, seja embora em estado embrionário, qualquer que seja sua origem”,[54]
Todas as demais hipóteses de aborto: indicação eugênica, indicação social, indicação
individual e, muito menos, indicação racista não foram acolhidas por nosso Código
Penal.
De sua parte, o Código de Ética Médica, de há muito, veda ao médico “descumprir
legislação específica nos casos de transplantes de órgãos ou tecidos, esterilização, fecundação
artificial e abortamento”. Quer dizer: pelo Código de Deontologia Médica, fora das
hipóteses delineadas no art. 128, I e II, do Código Penal, o médico não pode atuar.
No Direito brasileiro inexiste qualquer hipótese de aborto legítimo. O art. 128 do Código
Penal, nas duas hipóteses nele defiidas “não declara excluída a possibiliidadedo ilícito
penal”, pois apenas “suprime a pena”, mas “fica o crime”. Para se colocar uma pá de cal
na discussão doutrinária existente, na interpretação do art. 128, do Código Penal,
especialmente daqueles que enxergam neste dispositivo caso de exclusão da
criminalidade, de recordar-se que a norma constitucional, de hierarquia suprema,
garante a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida. Logo, não poderia a
lei ordinária dispor de modo diverso. De outra parte, o Direito Civil garante os direitos do
nascituro, ofertando a este a qualificação de sujeito de direitos e, conseqüentemente,
de pessoa, fundada em uma personalidade material. Antes de todos os direitos, o
nascituro tem direito à sua vida e tal fato se apresenta claro quando o Código Penal
inclui o delito de aborto entre os crimes contra a vida e contra a pessoa. Assim, mesmo
que o aborto sem pena do Código Penal, não fosse crime, “não podemos ter a menor
dúvida de que é contra o direito; de que é um ilícito”.[55]
38. Cumpre anotar, por derradeiro que em 22 de novembro de 1969 foi subscrita a“Convenção
Americana sobre Direitos Humanos”, conhecida como “Pacto de São José da Costa
Rica”. O Brasil veio a ratificá-la em 25/9/92, após sua aprovação pelo Congresso Nacional,
mediante o Decreto Legislativo 27, de 26/5/92 e o Governo brasileiro, pelo Decreto 678, de
6/11/92 determinou a sua aplicação no Direito interno, sem reserva alguma.
Trata-se de um tratado multilateral americano, que tem por objeto a reafirmação dos
direitos humanos, a prescrição de garantias do seu exercício e proteção para que não
sejam violados. No tema concernente aos direitos humanos, o art. 1º, 2 do “Pacto de São
José” preceitua: “Para efeitos dessa Convenção, pessoa é todo ser humano”. A
expressão “pessoa é todo ser humano” nos leva, necessariamente, a concluir pela
proteção do direito à vida, desde a concepção. Com efeito, ser humano não é apenas
o nascido, mas o nascente, pois vida há no novo ser concebido.
Para o eminente jurista José Afonso da Silva, “no momento em que o óvulo é fecundado
existe vida humana e se existem vida e pessoa – em potencial – deve ser protegida contra
tudo e contra todos, inclusive a mãe. A “árvore” será “árvore” se, antes, for semente. Sem
semente não haverá árvore”… Logo, “destruída a semente, não permitindo o processo,
“destrói-se a árvore”. Aliás, o professor Lejane, autoridade mundial em biologia
genética, dirigiu à Comissão Especial do Congresso dos Estados Unidos da América, no
ano de 1981, a seguinte observação: “A vida poderá ter uma história longa;
entretanto, cada indivíduo tem um início bem determinado: o momento da
concepção”.
regras éticas no juramento de hipócrates.
39. A partir do inconteste e fundamental princípio concernente à defesa davida, o Juramento de
Hipócrates descreve e realça importantes regras éticas, no exercício da nobre profissão da
Medicina. Regras estas que permanecem atuais e encontram paralelo no Cógido de Ética
Médica, como será possível verificar.
40. No Juramento consta a regra de seaplicar os tratamentos, regimes a “bem do doente,
segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou maefício a alguém”. Por
esta regra, o médico, janais, poderá causar mal aos seus pacientes. O dr. Alexandre
Feldman lembra a existência de efeitos colaterais que os medicamentos poderão causar. No
entanto, é perfeitamente aceitável que os médicos prescrevam drogas ao seu paciente, a
despeito dos possíveis efeitos colaterais, uma vez que o emprego de tais drogas não
provocarão, necessariamente, efeitos colaterais indesejáveis.
A regra moral hippocrática encontra correspondência no Capítuto III do Código de Ética
Médica, onde se encontra preceito referennte à Responabildade Profissional,
que veda ao médico causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como
imperícia, imprudência ou negligência.
O professor Carlindo Machado Filho em artigo publicado na “Residência RP Pediátrica”,
órgão oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria publicou interessante artigo sob o
título “O Juramento de Hispócrates e o Código de Ética Médica”, artigo este que será
aproveitado para expor sobre outras regras éticas advindas do referido juramento.
41. Outra regra moral preconizada por Hipócrates diz respeito à proibição do médico
ministrarremédio mortal ou que induza à perda. Encontramos correspondência no Capítulo
V – Realação com Pacientes e Familiares – que em seu art. 41 prescreve: “É vedado ao
médico abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.
Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos
os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações disgnósticas ou terpêuticas
inúteis e obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou
na sua impossibilidade a de seu representante legal”.
42. Na sequência, o Juramento afirma:“não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva”.
Em outro tópico deste estudo foi tratada a correspondência deste preceito hipocrático com
os arts. 14 e 15 do Código de Ética Médica.
43. Para o Juramento se faz necessário ao médico conservar com pureza a“sua vida e sua
arte”. Há correspondência com o disposto no Capítulo I – Princípios Fundamenntais -,
onde consta o seguinte preceito: “ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito
desempenho ético da Medicina, e bom conceito da profissão”.
44. Chegamos a uma parte do Juramento que causa muito celeuma, qual seja aquela em que se
jura“não usar a talha mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa tarefa aos
práticos que disso cuidam”.
Os críticos entendem que jurar por tal proceder, diante da medicina moderna, não se
justifica. No entanto, tais críiticos desconhecem que na época de Hipócrates,
o médico era uma coisa e cirurgião era outra. Na atualidade, nem todo médico é
cirurgião. Portanto, não se pode incumbir um médico clínico a realizar uma cirurgia
cardíaca, por exemplo, diante da evidente imperícia do médico clínico em realizar tal
intervenção
Logo, a regra moral hipocrática encontra correspondência no Capítuto III do Código de
Ética Médica, onde há preceito referennte à Responabildade Profissional, que veda ao
médico causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia,
imprudência ou negligência.
45. Outra regra constante do Juramento prescreve, de acordo com a tradução feita pelo
professorAlexandre Corrêa do texto original em grego: “Em quantas casas entrar, fá-lo-ei
só para a utilidade dos doentes, abstendo-me de todo o mal voluntário e de toda voluntária
maleficência e de qualquer outra ação corruptora, tanto em relação a mulheres quanto a
jovens, sejam livres ou escravos”.
Pois bem, encontramos a correspondência desta regra hipocrática, por analogia, no
art. 38 do Capítulo V – Relação com Pacientes e Familiares: “É vedado ao médico…
Desrespeitar o pudor de qualqier pessoa, sob os seus cuidados profissionais”.
46. No Juramento está presente, ainda, a regra moral de que deve o médico “não relatar o que
no exercício do meu mistér ou fora dele no convívio social eu veja ou ouça e que não deva
ser divulgado, mas considerar tais coisas como segredos sagrados”, ou como consta da
versão utilizada na Faculdade de Medicina da USP por muitos anos:“Guardar segredo que
quer que eu veja, ouça ou venha a conhecer no exercício da Medicina ou fora dele que não
deva ser divullgado, considerando a discrição como um dever”.
A regra é correlata àquela constante no Capítulo IX – Sigilo Profissional, muito embora
o Códido de Ética Médica “se restrinja ao que o Médico toma conhecimento em seu exercício
profissional”.
Cabe observar, também, que o Código de Ética Médica determina ser vedado ao
médico “revelar fato que tenha conhecimento em virtude do exercício da sua profissão, salvo por
motivo justo, dever legal ou consentimento por escrito do paciente” (art. 73), como lhe é
vedado “revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade (74) e “fazer
referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais
ou na divulgação de assuntos médicos em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização
do paciente” (art. 75).
47. Neste ponto, cabe recordar que o juramento de Hipócrates em seu original realça odever de
agradecimento aos mestres que ensinam a arte médica e a obrigação de transmitir o
conhecimento da medicina e as conquistas no tratamento dos pacientes aos seus filhos.
Trata-se de um princípio de gratidão – toda gratidão é benfaseja, pois é prova de
caráter – e de outra parte existe o sentido de cooperação a guiar os médicos na partilha
de seus conhecimentos em prol da Medicina.
Aliás, em texto sob o título “O Novo e Moderno Juramento dos Médicos”, em que o
articulista escreve sobre o IX Congresso Nacional de Medicina realizado em Coimbra
(2017), em que as Fauldades de Medicina de Portugal (Lisboa, Coimbra, Braga e Porto)
adotaram a Declaração de Genebra em sua versão aprovada pela Associação Médica
Mundial em 2017, realça sobre esse princípio ético o seguinte que o texto “alarga
o dever de respeito não só aos mestres, mas também aos alunos e aos colegas, reconhecendo o
dever de partilha do conhecimento dos médicos em benefícios aos doentes – algo relacionado com
a formação médica conínua e com a obrigação” que os médicos têm de “partilhar o
conhecimento” que possuem com seus pares, que se trata de uma questão fundamental
da Medicina.[56]
48. Importante ressaltar, por exemplo, que a obra deMachado de Assis, como a de Monteiro
Lobato, recentemente caída em domínio público, devem ser interpretadas após o estudo
adequado. Eis porque, “leitores incultos e mal intecionados – enxergam no Juramento o
machismo grego como se fosse machismo médico, ou o respeito aos médicos como
corporativismo, obviamente uma deturpação inaceitável para alguém que domine o mínimo
de metodologia necessária ao ler um documento antigo”. [57]
remate.
49. O saudoso e ilustre médico, membro da Academia Paulista de MedicinaDr. José Pompeu
Tomanik, ao falar sobre o trabalho médico, com rara felicidade, diz ser importante
reconhecer o “trabalho das mãos que trazem os homens ao mundo, tratam de suas doenças
e dos seus familiares, bem como que irão gratuitamente assinar seu “passaporte” para o
outro lado”.[58]
Essa certeza faz ecoar um brado: “salve tão nobre profissão, insubstituível para que a
Humanidade continue a escrever a sua história para todo o sempre”.
O Juramento de Hipócrates escrito a 2.600 anos, como se observou no decorrer deste
pequeno estudo, continua a conter o cerne de regras éticas para o exercício da nobre
profissão da Medicina. Nele se encontram os predicados exigidos para que
existam verdadeiros médicos. Preceitos éticos estes que se incorporaram aos Códigos de
Ética Médica de diversos países, incluindo o Brasil.
50. Uma detida refexão, a partir do estudo ora empreendido, nos conduz a uma certeza: o
Juramento de Hipócrates continua a servir de paradigma ético aos futuros médicos, o que o
torna válido em qualquer época. O Juramento de Hipócrates“é uma obra de arte e
sabedoria, só comparável às mais altas criações do espírito humano e, por isso mesmo,
deve ser considerado patrimônio da humanidade e permanecer intocável, como um marco
na história da medicina”.[59]
Se assim é, não se pode destruir o texto do Juramento, “criando uma versão falsificada e
inodora, ou distorcer a interpretação e a correta contextualização do original”.[60]
Portanto, o importante, mesmo que haja versão reduzida, que se mantenha
o cerne dos princípios e das regras éticas contidos no Juramento de Hipócretes
constantes de seu original, princípios e regras éticas que permanecem atuais, apesar
de decorridos 2.600 anos.

O Juramento de Hipócrates* Hipócrates, visto por um artista bizantino, c. 1342. Em


uma pequena ilha do mar Egeu, na Grécia, próximo ao litoral da ásia Menor – a ilha de
Cós – floresceu no século v a.C. uma escola médica destinada a mudar os rumos da
medicina, sob a inspiração de um personagem que se tornaria, desde então, o paradigma
de todos os médicos: Hipócrates. A escola hipocrática separou a medicina da religião e
da magia, afastou as crenças em causas sobrenaturais das doenças e fundou os alicerces
da medicina racional e científica. Ao lado disso, deu um sentido de dignidade à
profissão médica, estabelecendo as normas éticas de conduta que devem nortear a vida
do médico, tanto no exercício profissional, como fora dele. na coleção de 72 livros
contemporâneos da escola hipocrática, conhecida como Corpus Hippocraticum, há sete
livros que tratam exclusivamente da ética médica. São eles: Juramento, Da Lei, Da Arte,
Da Antiga * Reproduzido da Revista Paraense de Medicina, vol. 17 (1), pp. 38-47,
2003. — 31 —Medicina, Da Conduta Honrada, Dos Preceitos, Do Médico
(Castiglioni, 1931, p. 131). Sobressai dentre eles o Juramento, a ser proferido por todos
aqueles considerados aptos a exercer a medicina, no momento em que são aceitos como
tal por seus pares e admitidos como novos membros da classe médica. o juramento
hipocrático é considerado um patrimônio da humanidade por seu elevado sentido moral
e, durante séculos, tem sido repetido como um compromisso solene dos médicos, ao
ingressarem na profissão. Textos Manuscritos Preservados o texto do juramento de
Hipócrates que hoje se encontra em vários idiomas resultou de traduções oriundas de
antigos e raros manuscritos. Embora sem comprovação, aceita-se que os citados
manuscritos reproduzem o texto original de quando o mesmo foi escrito. os mais
antigos manuscritos conhecidos, segundo Bernardes de oliveira, são: 1. o manuscrito
Urbinas Graecus 64 da Biblioteca Apostólica Vaticana. Está localizado entre os séculos
x e xi. Suas palavras iniciais esclarecem: “Texto do Juramento Hipocrático que pode ser
jurado pelos cristãos”. o interessante documento é escrito em forma de cruz para bem
marcar o patrocínio religioso. inicia-se com a saudação laudatória habitual: “Bendito
seja Deus, o Pai de nossso Senhor Jesus Cristo; para sempre bendito seja...”. Sua
redação acompanha o texto clássico com algumas variantes e alterações das quais a
principal é a omissão da cláusula referente à operação da calculose vesical. 2. o
segundo, por ordem de antiguidade, é o manuscrito Marcianus Venetus Z 269, do século
xi, pertencente à Biblioteca de S. Marcos de Veneza. o juramento aí se acha como sendo
o texto original. inicia-se com a invocação dos deuses da mitologia grega, consoante sua
origem pagã. 3. Manuscrito do século xii da Biblioteca Apostólica Vaticana: Vaticanus
Graecus 276, fólio 1 recto. 4. Manuscrito do século xii da Biblioteca nacional de Paris
(Bernardes de oliveira, 1974, pp. 321-338). o último manuscrito citado encerra a versão
pagã, com a invocação inicial dos deuses da mitologia grega e corresponde ao texto
mais difundido atualmente. — 32 —os demais manuscritos conhecidos do juramento
de Hipócrates são todos dos séculos xiv e xv. Embora sejam equivalentes, verificam-se
mínimas diferenças de redação. Há atualmente na ilha de Cós uma fundação, a
Fundação Hipocrática internacional de Cós, que é, ao mesmo tempo, museu e centro de
pesquisas sobre a medicina hipocrática. nesta fundação, preserva-se um texto idêntico
ao que se encontra no livro Ancient Medicine, de Edelstein, que, por sua vez, o
transcreveu da obra Corpus Medicorum Graecorum, editada em Berlim por Heiberg, em
1927 (Edelstein, 1987, p. 5). Traduções do Texto Original A partir dos manuscritos já
referidos, foram feitas traduções do juramento de Hipócrates em latim, hebraico, árabe e
nos demais idiomas. Duas traduções em inglês e duas em francês tornaram-se clássicas
e têm servido de referência para as versões em outros idiomas. As versões clássicas em
inglês são a de Francis Adams, de 1849, transcrita na coleção Harvard Classic, vol. 38,
de 1910, e a de W. H. S. Jones, que se encontra na coleção Loeb Classical Library,
desde 1923 (Adams, 1910; Jones, 1972, pp. 298-301). As versões em francês são a de
Littré, de 1844, e a de Daremberg, de 1855 (Littré, 1932, p. 3; Daremberg, 1969, pp.
112-113). Transcrevemos a seguir a tradução de Adams, em inglês, e a de Littré, em
francês. The oath by Hippocrates i swear by Apollo the physician, and Aesculapius, and
Health, and All-heal, and all the gods and goddesses, that, according to my ability and
judgment, i will keep this oath and this stipulation – to reckon him who taught me this
Art equally dear to me as my parents, to share my substance with him, and relieve his
necessities if required; to look upon his offspring in the same footing as my own
brothers, and to teach them this art, if they shall wish to learn it, without fee or
stipulation; and that by precept, lecture, and every other mode of instruction, i will
impart a knowledge of the Art to my own sons, and those of my teachers, and to
disciples bound by a stipulation and oath according to the law of medicine, but to none
others. i will follow that system of regimen which, according to my ability and — 33
—Reprodução do livro de Edelstein, Ancient Medicine. judgment, i consider for the
benefit of my patients, and abstain from whatever is deleterious and mischievous. i will
give no deadly medicine to any one if asked, nor suggest any such counsel; and in like
manner i will not give to a woman a pessary to produce abortion. With purity and with
holiness i will pass my life and practice my Art. i will not cut persons laboring under the
stone, but will leave this to be done by men who are practitioners of this work. into
whatever houses i enter, i will go into them for the benefit of the sick, and will abstain
from every voluntary act of mischief and corruption; and, further from the seduction of
females or males, of freemen and slaves. Whatever, in connection with my professional
practice or not, in connection with it, i see or hear, in the life of men, which ought not to
be spoken of abroad, i will not divulge, as reckoning that all such should be kept secret.
While i continue to keep this oath unviolated, may it be granted to me to enjoy life and
the practice of the art, respected by all men, in all times! But should i trespass and
violate this oath, may the reverse be my lot. — 34 —Serment d’Hippocrate Je jure, par
Apollon, médecin, par Esculape, par Hygie et Panacée, par tous les dieux et toutes les
déesses, les prenant à témoin, que je remplirai, suivant mes forces et ma capacité, le
serment et l’engagement suivants: je mettrai mon maître de médecine au même rang que
les auteurs de mes jours, je partagerai avec lui mon avoir, et, le cas échéant, je
pourvoirai à ses besoins; je tiendrai ses enfants pour des frères, et, s’ils désirent
apprendre la médecine, je la leur enseignerai sans salaire ni engagement. Je ferai part
des préceptes, des leçons orales et du reste de l’enseignement à mes fils, à ceux de mon
maître, et aux disciples liés par un engagement et un serment suivant la loi médicale,
mais à nul autre. Je dirigerai le régime des malades à leur avantage, suivant mes forces
et mon jugement, et je m’abstiendrai de tout mal et injustice. Je ne remettrai à personne
du poison, si on m’en demande, ni ne prendrai l’initiative d’une pareille suggestion;
semblablement, je ne remettrai à aucune femme un pessaire abortif. Je passerai ma vie
et j’exercerai mon art dans l’innocence et la pureté. Je ne pratiquerai pas l’opération de
la taille, je la laisserai aux gens qui s’en occupent. Dans quelque maison que j’entre, j’y
entrerai pour l’utilité des malades, me préservant de tout méfait volontaire et corrupteur,
et surtout de la séduction des femmes et des garçons, libres ou esclaves. Quoi que je
voie ou entende dans la société pendant l’exercice ou même hors de l’exercice de ma
profession, je tairai ce qui n’a jamais besoin d’être divulgué, regardant la discrétion
comme un devoir en pareil cas. Si je remplis ce serment sans l’enfreindre, qu’il me soit
donné de jouir heureusement de la vie et de ma profession, honoré à jamais parmi les
hommes; si je le viole et que je me parjure, puissè-je avoir un sort contraire! Em
português há várias traduções, a maioria baseada nos textos clássicos em inglês ou
francês, e outras feitas diretamente do texto grego, hoje facilmente acessível em
reproduções impressas. Transcrevemos a tradução em português de Bernardes de
oliveira, autor do livro A Evolução da Medicina até o Início do Século x x , baseada no
texto inglês de Jones (Bernardes de oliveira, 1981, p. 79): Juramento de Hipócrates Juro
por Apolo Médico, por Esculápio, por Higeia, por Panaceia e por todos os deuses e
deusas, tomando-os como testemunhas, obedecer, de acordo com meus conhecimentos e
meu critério, este juramento: Considerar meu mestre nesta arte — 35 —igual aos meus
pais, fazê-lo participar dos meios de subsistência que dispuser, e, quando necessitado
com ele dividir os meus recursos; considerar seus descendentes iguais aos meus irmãos;
ensinar-lhes esta arte se desejarem aprender, sem honorários nem contratos; transmitir
preceitos, instruções orais e todos outros ensinamentos aos meus filhos, aos filhos do
meu mestre e aos discípulos que se comprometerem e jurarem obedecer a Lei dos
Médicos, porém, a mais ninguém. Aplicar os tratamentos para ajudar os doentes
conforme minha habilidade e minha capacidade, e jamais usá-los para causar dano ou
malefício. não dar veneno a ninguém, embora solicitado a assim fazer, nem aconselhar
tal procedimento. Da mesma maneira não aplicar pessário em mulher para provocar
aborto. Em pureza e santidade guardar minha vida e minha arte. não usar da faca nos
doentes com cálculos, mas ceder o lugar aos nisso habilitados. nas casas em que
ingressar apenas socorrer o doente, resguardando-me de fazer qualquer mal intencional,
especialmente ato sexual com mulher ou homem, escravo ou livre. não relatar o que no
exercício do meu mister ou fora dele no convívio social eu veja ou ouça e que não deva
ser divulgado, mas considerar tais coisas como segredos sagrados. Então, se eu mantiver
este juramento e não o quebrar, possa desfrutar honrarias na minha vida e na minha arte,
entre todos os homens e por todo o tempo; porém, se transigir e cair em perjúrio,
aconteça-me o contrário. • Em todos os idiomas, as traduções oferecidas diferem entre si
em alguns aspectos relativos à linguagem empregada, embora mantenham todas o
núcleo central dos preceitos que compõem o juramento. Analisando-se o teor de várias
traduções, verificamos que as diferenças existentes entre elas se encontram
principalmente em algumas passagens e no significado de determinadas palavras gregas,
que não encontram equivalentes em outros idiomas ou, o que é mais comum, na sua
polissemia, que permite um leque de opções na língua de chegada. Selecionamos dez
das mais acreditadas versões em português, sendo oito do Brasil e duas de Portugal,
para um estudo comparativo de como aquelas palavras foram traduzidas. As versões
utilizadas foram as seguintes: Brasil: Flamínio Fávaro, Livro de Medicina Legal;
ivolino de Vasconcelos, Instituto Brasileiro de História da Medicina; a tradução de René
Laclete para a História da Medicina, de Arturo Castiglioni; Bernardes de oliveira, A
Evolução da Medicina até o Início do Século x x ; otacílio Carvalho — 36 —• Lopes,
A Medicina no Tempo; Alexandre Correa, Revista Paulista de Medicina (abr. 1974);
Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp); Universidade de
Ribeirão Preto (Unaerp). Portugal: tradução baseada em Edelstein e F. Guerra; tradução
baseada em Littré. o primeiro exemplo encontramos nas palavras dynamin kaí krísin,
expressão empregada em duas passagens, uma no primeiro parágrafo e outra no terceiro
parágrafo do texto original em grego. no primeiro parágrafo: Expressão utilizada poder
e razão habilidade e julgamento Número de traduções 3 2 poder de discernimento
conhecimento e critério força e aptidão força e inteligência capacidade e discernimento
no terceiro parágrafo: Expressão utilizada habilidade e julgamento saber e razão
autoridade e discernimento habilidade e capacidade força e juízo poder e entendimento
força e inteligência melhor parecer 1 1 1 1 1 Número de traduções 2 2 1 1 1 1 1 1 o
segundo exemplo temos na expressão diaitémasi te khrésomai, que abre o terceiro
parágrafo. Diaite, em grego, tanto significa ‘‘dieta’’ como ‘‘regime de vida’’. — 37
—— 38 — Expressão utilizada Número de traduções Aplicarei os regimes 3 Seguirei
aqueles regimes 2 Adotarei o regime 1 Prescreverei o regime 1 Prescreverei o regime
dietético 1 ordenarei a dieta 1 Aplicarei os tratamentos 1 outro exemplo está na
expressão phármakon... thanásimon, encontrada no quarto parágrafo. Phármakon, em
grego, expressa qualquer substância capaz de atuar no organismo, seja no sentido
benéfico ou maléfico, ou seja como remédio ou como veneno. nas dez versões em
português deparamos com as seguintes traduções: Expressão utilizada Número de
traduções remédio mortal 4 venenos mortais 2 venenos 2 medicamento mortal 1 droga
mortal 1 A crítica que se pode fazer neste passo diz respeito à expressão “remédio
mortal” ou “medicamento mortal”. É uma incongruência a denominação de remédio ou
medicamento mortal. Se é reconhecidamente mortal, deixa de ser remédio ou
medicamento e passa a ser veneno. A proibição da prática do aborto no texto original
refere-se ao uso de pessário, naturalmente o recurso existente na época de Hipócrates,
que poderia ser empregado pelos médicos. nas versões modernas, a tradução por vezes
foge ao original, com a intenção de abranger outros métodos abortivos atualmente
disponíveis.— 39 — Expressão utilizada Número de traduções pessário abortivo 6
medicação abortiva 1 remédio abortivo 1 substância abortiva 1 (sem referência) 1 outra
passagem que apresenta diferenças marcantes nas várias versões é a do antepenúltimo
parágrafo, onde se lê no original grego: aphrodision érgon epi te gynaikeion somáton
kaí andreion... nas dez versões em português foram usadas as seguintes traduções:
Expressão utilizada Número de traduções sedução de mulheres e de homens 2 prazeres
do amor com mulheres ou com homens 2 sedução de mulheres e homens 1 sedução de
mulheres e de rapazes 1 sedução, sobretudo os prazeres do amor 1 contatos sexuais com
mulheres e homens 1 comércio voluptuoso, seja com mulher ou homem 1 ato sexual 1
Vemos que todas as versões citadas afastaram-se da tradução literal. A expressão
aphrodision érgon tem o sentido de “ato erótico”, e gynaikeion somáton kaí andreion,
“corpo de mulher e de homem”. A tradução mais próxima do texto seria “ato libidinoso
em corpo de mulher ou de homem”. o ato libidinoso difere de “sedução” e de “prazeres
do amor” e nem sempre culmina com o “ato sexual”. Pode ser praticado com ou sem
participação da outra pessoa. Das traduções citadas, a que mais se aproxima do texto
original é “comércio voluptuoso, seja com mulher ou homem”. “Comércio”, no entanto,
subentende o concurso de ambas as partes, enquanto “ato” pode ser unilateral. Em
traduções francesas, usa-se a expressão entreprise voluptuese. Em uma versão em
espanhol, o tradutor se refere tão somente à “seducción de las mujeres jóvenes, libres o
esclavas”.no penúltimo parágrafo, a expressão bíon anthrópon foi traduzida do seguinte
modo: Expressão utilizada vida dos homens comércio da vida vida do homem convívio
social convívio da sociedade (sem referência) Número de traduções 3 2 1 1 1 2 Estas
dificuldades e variações de tradução são comuns a todos os idiomas. o importante é que
o tradutor consiga transmitir a ideia contida no texto original de forma expressiva e com
a máxima exatidão. o juramento é simbólico e impregnado de sacralidade, qualquer que
seja a sua tradução. o importante é o compromisso que o recém-formado assume perante
sua própria consciência e a sociedade de cumprir os preceitos éticos contidos no
juramento. Formas Resumidas do Juramento Textos abreviados do juramento têm sido
utilizados em diferentes países e idiomas, tendo em vista a extensão do texto original
para leitura durante uma solenidade festiva como a da conclusão do curso médico. na
França, é corrente um modelo abreviado conhecido como juramento de Montpellier,
certamente oriundo de uma das mais antigas e celebradas escolas médicas da França – a
de Montpellier. o texto original em francês deste juramento tem a seguinte redação: En
présence des maîtres de cette école et de mes condisciples, je promets et je jure d’être
fidèle aux lois de l’Honneur et de la Probité dans l’exercice de la Médecine. Je donnerai
mes soins à l’indigent et n’exigerai jamais un salaire au-dessus de mon travail. Admis
dans l’intérieur des maisons, mes yeux ne verront pas ce qui s’y passe, ma langue taira
les secrets qui me seront confiés et mon état ne servira ni à corrompre les moeurs, ni à
favoriser le crime. — 40 —Reconnaissant envers mes maîtres, je tiendrai leurs enfants
et ceux de mes confrères pour des frères, et s’ils devaient apprendre la Médecine ou
recourir à mes soins, je les instruirais ou les soignerais sans salaire ni engagement. Si je
remplis ce serment sans l’enfreindre, qu’il me soit donné de jouir heureusement de ma
vie et de ma profession, honoré à jamais parmi les hommes; si je le viole et que je me
parjure, puissé-je avoir un sort contraire. Posteriormente surgiu um modelo ainda mais
sintético com o seguinte texto (Carpenter e Mangin-Lazarus, 1996, pp. 37-39): En
présence des Maîtres de cette Faculté, de mes chers condisciples et selon la tradition
d’Hippocrate, je promets et je jure d’être fidèle aux lois de l’honneur et de la probité
dans l’exercice de la Médecine. Je donnerai mes soins gratuits à l’indigent, et n’exigerai
jamais un salaire au dessus de mon travail. Admis dans l’intérieur des maisons, mes
yeux ne verront pas ce qui s’y passe, ma langue taira les secrets qui me seront confiés et
mon état ne servira pas à corrompre les moeurs ni à favoriser le crime. Respectueux et
reconnaissant envers mes Maîtres, je rendrai à leurs enfants l‘instruction que j’ai reçue
de leurs pères. Que les hommes m’accordent leur estime si je suis fidèle à mes
promesses. Que je sois couverte d’opprobre et méprisé de mes confrères si j’y manque.
observamos que no modelo de Montpellier, um novo compromisso foi introduzido: o de
atender gratuitamente os pobres e o de ser moderado na cobrança dos honorários. Por
sua vez, outros preceitos enumerados no texto original não foram mencionados, ficando
subentendidos nas expressões genéricas de “ser fiel às leis da honra e da probidade no
exercício da medicina” e de “não corromper os costumes, nem favorecer o crime”. na
língua inglesa também se encontram formas abreviadas do juramento que não seguem
exatamente a mesma linha do modelo francês. Vamos citar, como exemplo, o texto
usado no new york Medical College: i do solemnly swear by whatever i hold most
sacred, that i will be loyal to the profession of medicine and just and generous to its
members. That i will lead my life and practice my Art in uprightness and honor. — 41
—That into whatsoever home i shall enter it shall be for the good of the sick and the
well to the utmost of my power and that i will hold myself aloof from wrong and from
corruption and from the tempting of others to vice. That i will exercise my Art, solely
for the cure of my patients and the prevention of disease and will give no drugs and
perform no operation for a criminal purpose and far less suggest such a thing. That
whatsoever i shall see or hear of the lives of men and women which is not f itting to be
spoken, i will keep inviolably secret. These things i do promise and in proportion as i
am faithful to this oath, may happiness and good repute be ever mine, the opposite if i
shall be foresworn. no Brasil, a maioria das faculdades utilizam um modelo
simplificado, tradução de um texto latino que, segundo o prof. Edmundo Vasconcelos,
chegou a ser usado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A
tradução vernácula desse texto é do seguinte teor (Vasconcelos, 1974): Prometo que ao
exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da
caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha
língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra.
nunca me servirei da profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu
cumprir este juramento com fidelidade, goze eu, para sempre, a minha vida e a minha
arte, com boa reputação entre os homens. Se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o
contrário. Uma variante desse texto tem livre curso em nossas faculdades e é encontrado
nos convites de formatura. Difere do primeiro em um pequeno detalhe de redação, que,
entretanto, modifica inteiramente o sentido da frase. Está assim redigido: Prometo que
ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da
caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha
língua calará os segredos que me forem revelados, os quais terei como preceito de
honra. — 42 —nunca me servirei da profissão para corromper os costumes ou
favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu, para sempre, a
minha vida e a minha arte, com boa reputação entre os homens. Se o infringir ou dele
afastar-me, suceda-me o contrário. Comparando-se as duas versões, vê-se que a única
diferença consiste na substituição, no segundo parágrafo, da locução pronominal “o
que” pela locução “os quais”. na primeira versão, “o que” refere-se ao enunciado na
frase anterior, ou seja, expressa a intenção do médico de guardar sigilo em relação aos
“segredos que me forem revelados”. na segunda versão, a locução pronominal “os
quais”, no plural, tem como antecedente “os segredos que me forem revelados”. ora,
não faz o menor sentido fazer “dos segredos que me forem revelados” “preceito de
honra”. É fora de dúvida que esta construção está gramaticalmente incorreta e deve ser
abandonada em favor da primeira. O Juramento de Hipócrates nas Escolas Médicas
Brasileiras no sentido de verificar como se situa na atualidade o juramento de
Hipócrates em nosso país, realizamos uma pesquisa junto às escolas médicas brasileiras,
solicitando que nos fornecessem o texto utilizado na solenidade de formatura do curso
médico. Enviamos uma carta-circular, em nome da Sociedade Brasileira de História da
Medicina, a 82 faculdades e recebemos resposta de 41. Destas, três não especificaram o
texto em uso, razão pela qual serão incluídas nesta análise somente 38 faculdades. o
resultado desta pesquisa evidenciou que apenas três das 38 usam o juramento por
extenso em sua forma original e que a maioria utiliza o modelo simplificado de uso
corrente, conforme o quadro abaixo: Modalidades de texto em uso Texto simplificado
Mais de um texto Texto por extenso Textos próprios Texto por extenso, modificado
Declaração de Genebra — 43 — Faculdades 23 6 3 3 2 1 % 60,5 15,8 7,9 7,9 5,3
2,6Das seis faculdades que utilizam mais de um texto, cinco incluem a forma
simplificada, que é, assim, adotada em 28 faculdades (73,7%). Destas, apenas nove
(32,1%) usam a redação correta com a locução pronominal “o que”, enquanto dezoito
(64,3%) empregam a locução pronominal “os quais” e uma (3,6%), “aos quais”.
“Atualização” do Juramento de Hipócrates no século xx, o progresso científico e o
avanço tecnológico da medicina, aliados à evolução do pensamento e dos costumes,
trouxeram novos conceitos e novos aspectos relativos à ética médica, e a validade do
juramento de Hipócrates passou a ser questionada, se não em seu significado simbólico,
pelo menos em seu conteúdo. Surgiram, então, numerosas propostas no sentido de
“atualizar” ou “modernizar” o texto do juramento. Essa tendência se acentuou nos
últimos anos. As alterações sugeridas visam, principalmente, a compatibilizá-lo com a
bioética e adaptá-lo à problemática decorrente da prática médica atual, com o objetivo
de evitar a conivência dos médicos com as falhas dos atuais sistemas de saúde, sempre
que houver prejuízo para os doentes, e com os interesses financeiros da indústria
farmacêutica e de equipamentos médicos, que procuram influenciar a conduta do
médico. As modificações introduzidas contemplam a autonomia do paciente; justiça
social e mercantilização da medicina; afrouxam as obrigações dos discípulos para com
seus mestres; substituem a proibição por regulamentação do aborto; e suprimem o item
referente à operação de calculose vesical. Deixando de lado as inúmeras propostas de
caráter pessoal, listamos apenas aquelas oriundas de entidades de maior
representatividade. As principais foram: 1. Declaração de Genebra da Associação
Médica Mundial (1948) 2. Texto de Brighton, Estados Unidos (1995) 3. Código de
Deontologia Médica da França (1995) 4. British Medical Association (1997) 5. Carta do
Profissionalismo Médico (2002) A Declaração de Genebra, a mais antiga e conhecida
de todas, tem sido utilizada em vários países na solenidade de recepção aos novos
médicos — 44 —inscritos na respectiva ordem ou Conselho de Medicina. A versão
clássica em língua portuguesa tem a seguinte redação: Eu, solenemente, juro consagrar
minha vida a serviço da Humanidade. Darei como reconhecimento a meus mestres, meu
respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade. A
saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação. Respeitarei os segredos a
mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da prof
issão médica. Meus colegas serão meus irmãos. não permitirei que concepções
religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus
pacientes. Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção.
Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às
leis da natureza. Faço estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.
Em 1994, a Assembleia Geral da Associação Médica Mundial modificou ligeiramente o
texto. Sua versão em português ficou com a seguinte redação: no momento de me tornar
um profissional médico: Prometo solenemente dedicar a minha vida a serviço da
Humanidade. Darei aos meus mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são
devidos. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A saúde do meu paciente
será minha primeira preocupação. Mesmo após a morte do paciente, respeitarei os
segredos que a mim foram confiados. Manterei, por todos os meios ao meu alcance, a
honra da profissão médica. os meus colegas serão meus irmãos. não deixarei de exercer
meu dever de tratar o paciente em função de idade, doença, deficiência, crença religiosa,
origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação político-partidária, raça, orientação sexual,
condições sociais ou econômicas. — 45 —Terei respeito absoluto pela vida humana e
jamais farei uso dos meus conhecimentos médicos contra as leis da Humanidade. Faço
essas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra. o texto de Brighton foi
elaborado por um grupo de 35 eticistas, médicos e não médicos, reunidos em Brighton,
Estados Unidos, em 1995 (Value of Life Committee inc., s.d.). o texto do Código de
Deontologia Médica da França foi estabelecido em lei pelo decreto n. 95-1000, artigo
109, de 6 de setembro de 1995 (ordre national des Médecins, s.d.). o texto proposto pela
British Medical Association em 1997 dá ênfase à autonomia do paciente, admite o
aborto, desde que permitido em lei e praticado dentro de princípios éticos, e inclui o
consentimento esclarecido do paciente para a sua participação em qualquer investigação
científica (Gersten institute, s.d.). o último documento citado, a Carta do
Profissionalismo Médico, não se destina a substituir o juramento de Hipócrates; é, antes,
um verdadeiro código de conduta do médico. Foi elaborado em conjunto por diversas
instituições médicas norte-americanas e a Federação Europeia de Medicina interna,
tendo sido divulgado em fevereiro de 2002 simultaneamente nas revistas Lancet e
Annals of Internal Medicine. Compõe-se de três princípios e dez compromissos, que se
acham resumidos nos seguintes itens: Princípios 1. Prioridade ao bem-estar do paciente
2. Autonomia do paciente 3. Justiça social Compromissos 1. Competência profissional
2. Sinceridade com os pacientes 3. Sigilo profissional 4. Apropriado relacionamento
com os pacientes 5. Qualidade do atendimento 6. Facilidade de acesso aos cuidados
médicos — 46 —7. Distribuição justa de recursos financeiros alocados à saúde 8.
Atualização científica 9. integridade nos conflitos de interesse 10. Responsabilidade
profissional A pergunta que se impõe é: deve o juramento de Hipócrates ser modif icado
ou substituído por outro documento? Em 1984 foi feita uma pesquisa na classe médica
brasileira, por amostragem, sobre se o juramento de Hipócrates deveria ou não ser
modificado (Rodrigues, 1984). o resultado foi o seguinte: Deve permanecer inalterado
Deve ser modificado Deve ser ignorado 80 % 15 % 5 % Também pensamos como a
maioria. Julgamos que o juramento de Hipócrates não deve ser “atualizado” nem
“modernizado”, e sim complementado por outros instrumentos hábeis, como
declarações, regulamentos e códigos de Deontologia Médica. Vimos que atualmente se
dá preferência à versão simplificada do juramento que não desce a normas específicas,
porém mantém, em linhas gerais, o espírito que presidiu a sua criação e os fundamentos
da ética médica, o que o torna válido em qualquer época. Atualizá-lo seria violentá-lo. o
juramento de Hipócrates é uma obra de arte e sabedoria, só comparável às mais altas
criações da espírito humano e, por isso mesmo, deve ser considerado patrimônio da
humanidade e permanecer intocável, como um marco na história da medicina.
Referências Bibliográficas Adams, F. The Genuine Works of Hippocrates. (Harvard
Classics, vol. 38) Boston, P. F. Collier & Son, 1910. an n a l s o f in t E r n a l mE d i c i
n E . “Medical Profissionalism in the new Milenium: A Physician Charter”. 136, pp.
243-246, 2002. Bernardes de oliveira, A. A Evolução da Medicina até o Início do
Século xx. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1981. — 47 —___________. “o
Juramento de Hipócrates”. Anais Paulistas de Medicina e Cirurgia, 101, pp. 321-338,
1974. Carpenter, J. & Mangin-Lazarus, C. (eds.) Retrouver la médecine. Paris,
Synthélabo, 1996. Castiglioni, A. Histoire de la médecine. Paris, Payot, 1931.
Daremberg, C. Oeuvres Choisies d’Hippocrate. Apud Lopes, o. C. A Medicina no
Tempo. São Paulo, Melhoramentos, 1969. Edelstein, L. Ancient Medicine. Baltimore,
The Johns Hopkins University Press, 1987. Gersten institute. “The Modern oath of
Hippocrates”. Disponível em http://www. imagerynet.com/hippo.ama.html, acesso em 3
nov. 2002. Hipócrates. Hippocrate: Oeuvres complètes, vol. 2. Trad. de E. Littré. Paris,
Javal et Bourdeaux, 1932, p. 3. __________. Hippocrates, vol. 1. (The Loeb Classical
Library) Trad. de W. H. S. Jones. Cambridge, Harvard University Press, 1972, pp 298-
301. Marketos, S.G. (ed.). Proceedings of the First International Medical Olympiad.
Atenas, international Hippocratic Foundation of Kos, 1996, p. 60. new york Medical
College. Student handbook. Disponível em http://www.nymc.edu/
Medical/handbook/chap18.asp, acesso em 3 nov. 2002. ordre national des Médecins.
“Le serment prêté par les jeunes médecins devant l’ordre”. Disponível em
http://www.ordmed.org/commente/serment.html, acesso em 3 nov. 2002. Rodrigues, L.
A. “Juramento de Hipócrates: Que Seja Eterno Enquanto Dure”. Médico Moderno, pp.
26-34, nov.-dez. 1984. Value of Life Committee inc. “Modern oath of Hippocrates”.
Disponível em http:// www.ttuhsc.edu/pages/students/cmds/oath-mod-hippocrates.html,
acesso em 3 nov. 2002. Vasconcelos, E. “Juramento de Hipócrates”. Revista Paulista de
Medicina, 83, pp. 196-204, 1974.
2. Desenvolvimento:

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xx (texto do Desenvolvimento).
3. Conclusão:

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xx (texto da Conclusão).
4. Bibliografia:
 Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxx (Fonte de Pesquisa utilizada – no mínimo 03 – dentre elas o Ritual de Aprendiz
do REAA.´. – caso o Ritual não apresente exatamente o mesmo assunto tratado, utilizá-
lo do ponto de vista filosófico, fazendo analogia).
 Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxx.
 Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxx.

_________________________
Ir\ (nome do Ir.´.) A\M\

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