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Poemas e reflexões para o professor

A casa, o porão e o sótão

"A consciência se comporta então como um homem que, ouvindo um barulho suspeito no
porão, se precipita para o sótão para constatar que aí não há ladrões e que, por consequência,
o barulho era pura imaginação. Na realidade, esse homem prudente não ousou aventurar-se
ao porão". Carl Jung

À medida que a imagem explicativa empregada por Jung nos convence, nós, leitores,
revivemos fenomenologicamente os dois medos: o medo no sótão e o medo no porão. Em
lugar de enfrentar o porão (o inconsciente), "o homem prudente" de Jung busca coragem nos
álibis do sótão (racionalidade do pensar).

• 210 BACHELARD (A poética do Espaço)

“Muito tempo te construí, ó casa!


Em cada lembrança eu transportava pedras
Do riacho para o alto de tuas paredes
E via, colmo curtido pelas estações do ano,
Teu telhado mudando como o mar
Dançando no fundo das nuvens
Às quais misturava sua fumaça
Casa de vento, morada que um sopro apagava”.

Maison de Vent (Casa de Vento), Louis Guillaume

Perguntas para troca:

Qual a memória que trago de minha casa da infância?

Por que a casa no terceiro ano?

Como essa construção pode se refletir na vida futura da criança que a idealiza?

Que profissão fez parte de sua infância?

A Construção da casa- A época

Trabalho da época e acompanhamento do professor e pais:

1- Contar sobre evolução das habitações na humanidade e os diferentes tipos


existentes no mundo.
Caverna, iglu, ocas, casa na árvore, tendas nômades, casa barco, casa de montanha,
chalés na neve, casa de praia, fazenda, palafitas, castelos e fortalezas, pagode chinês,
japonesas, indonésia etc.

2- Casa de animais:
Covas na terra, grutas, animais construtores de terra, água, ar.
3- Sobre as Etapas de trabalho:
Época com casas de animais e diferentes tipos de habitação, povos, culturas etc;
Observar a própria sala da escola, sua construção.
Planta da casa em que mora.
Praticar as medidas na sala, de diversas formas, usando o que aprenderam.

Cronograma da construção: tipo de moradia, terreno, planta baixa, desenho frontal,


material necessário, paredes, telhado, decoração.

Importante: O professor orienta, mas a criança decide.


Observar e orientar a ajuda dos pais, para que não seja invasiva.
Criar oportunidade para as crianças trocarem ideias sobre suas casas.

Deixar claro que na construção a criança escolhe os materiais e deve fazer o máximo
possível na sua construção. O adulto apoia e ajuda, mas não executa por ela.

 Conhecimento e valorização das diferentes profissões


envolvidas numa construção
 Engenheiro, arquiteto, mestre de obras, pedreiro, eletricista,
encanador, serralheiro, marceneiro, encanador, carpinteiro,
telhadista, vidraceiro, chaveiro, pintor e amigos construtores.

 Que materiais podemos usar? São bons para o local em


que construo?
 Contar e trazer diferentes ferramentas para que as
crianças conheçam.
 Se possível convidar um pai que trabalhe em
construção para contar um pouco de seu trabalho.
 Contar sobre as etapas da construção do preparo do
terreno ao telhado.
O trabalho das crianças:

Desenhos de diferentes casas.


Escrever o que gostou em cada uma.
Observar a própria sala da escola, sua construção e planta.
Planta da casa em que mora.
Cronograma da construção: tipo de moradia, terreno, planta baixa, desenho frontal,
material necessário, paredes, telhado, decoração.

O que observar

Sentido Esotérico da casa:

 O processo encarnatório da criança (físico/anímico)


 Como a criança percebe o mundo físico?
 Como a criança se apossa de seu corpo e se coloca no
mundo?
 Como ela sente o “conforto” dentro de seu corpo físico
(o lar) no mundo exterior?
 Qual a dificuldade de escolha e de concretização de seu
projeto inicial?
 O que são os diferentes cômodos? (as dimensões, a
proporção, cômodos maiores e menores, a distribuição,
o que é necessário para ela)
 O dentro e o fora (equilíbrio corpo/mundo)
 Temos que observar a casa e seu processo de
construção nos sentidos Exotérico e no Esotérico.

1-Tamanho:

A partir do que a criança define o tamanho de sua casa?

Devemos ou não determinar um tamanho? Quer de terreno ou de construção.

 Como a criança se coloca no mundo?


 Que espaço ela precisa?
 Ela domina pela elegância da construção ( beleza, leveza, delicadeza,
estética? Sentir)
 Pelo tamanho e estrutura ( Força, vigor e estabilidade da construção?
Querer)
 Pela complexidade e elaboração da criação, detalhes de planta?
(Pensar)

2-Estrutura/materiais:

 A construção, seja qual for a escolha, está firmemente colocada?


 Chão, paredes, telhado estão bem sustentados e conectados?
 Estrutura e material (como me sinto em meu corpo)
 Ele é forte e serve como um bom instrumento?
 Tem uma estrutura estável? Sólida?
 A casa está integrada ao exterior? Como ela se integra a ele?
 O material escolhido é resistente? Compacto?

3-Espacialidade

 Os tamanhos dos cômodos da casa seguem um parâmetro


harmonioso? (cozinha, sala, quarto)
 Como se distribuem os espaços internos?
 Como se faz a circulação na casa?
 Há fácil acesso aos cômodos ou é labiríntica?
 Qual o cômodo que enfatiza? (cozinha, quarto etc) São espaçosos,
gostosos, aconchegantes, frios, tem detalhes, beleza?
 Na espacialidade percebemos com nitidez se a criança consegue ter
um espaço próprio- seja qual for- onde se sente bem.
 Onde está colocado o espaço de convívio, do social?

4-Etapas da construção
 A criança desenvolveu seu projeto com clareza, liberdade?
 Tinha tudo pronto como idéia?
 Seguiu seu plano desde o começo ou ficou mudando?
 Definiu o tipo de casa com facilidade?
 Conseguiu cumprir o cronograma de construção de sua casa?
 O material a ser usado na construção já estava selecionado ou foi
pensado depois? (Ex. quero um telhado de pinhas, mas não tem
pinhas...)

Outros aspectos:

 Relação da casa com o mundo (desenho da casa, árvore, pessoa)


 Posso ver o mundo de minha casa?
 Janelas amplas, fechadas, portas?
 Olho de longe? De cima? De baixo?
 Proporção dentro e fora. O que tem fora da casa?
 O que é mais enfatizado? O dentro ou o fora?

 Visão Masculina e Feminina


 Masculino Estrutura; Material, tipo de habitação, o fora, o
todo.
 Feminino O dentro, o cálice, beleza, aconchego, recolhimento,
os detalhes.

Poemas para inspirar vocês!

“Quando as cumeeiras de nosso céu se juntarem,

Minha casa terá um telhado.”

Paul Éluard Dignes de Vivre, ed. Julliard, 1941, pág. 115.

E por fim, se entendemos que nosso corpo físico é nossa morada que a cada
dia sustenta e mantém nosso espírito na caminhada diurna, segue um dos
mais belos poemas sobre a casa:

"Uma casa feita no coração


Minha catedral de silêncio
Cada manhã retomada em sonho
E cada noite abandonada."
(Jean Laroche, "Mémoire d'Été")

Os cereais- Do plantio ao pão


Rever com as crianças:
 Preparo da terra (instrumentos, adubação, animais)
 Plantio- semeadura
 Cuidado com os canteiros
 Colheita
 Debulhar o trigo
 Moer
 Preparar o pão
 Se possível as crianças devem construir um forno de
barro

Trazer os diferentes tipos de cereais, suas lendas sua história e qualidades.

Mostrar - se possível- diferentes pães


Ázimo, broa de milho, sírio, sovado, pão de banha, colomba pascal, pão indiano, panetone,
panqueca, pizza etc.

Ritmos e Canções

Ritmo que pode ser feito antes do trabalho na terra, traz consciência de baixo para cima

Ao começar mede o andar.... (consciência nos pés)

Tiro a erva daninha... ( pernas: levantar e abaixar agachando)

A terra vou aguar... ( braços, movimento amplo de abrir)

O trigo vou colher... ( movimento de fechar- fora p. dentro)

Ao moinho vou levar... ( girar os braços como pás girando)

Amassar meu pão... ( com as mãos)

E depois eu vou comer... ( mãos para a boca, cabeça)

E então agradecer... ( olhando para cima, mãos cruzar no peito)

Oração do Pão

A cada pedaço de pão, pensa no sol de rubra cor


Ele aqueceu grão após grão e os fez brotar com seu amor.
A cada pedaço de pão, pensa no irmão angustiado
Tu, que és por Deus abençoado,
Vai dá teu a mor e teu pão!

Poemas diversos para o terceiro ano

Monte de terra simplesinho,


que maravilha esse montinho
que se aconchega ao bom calor
da luz do sol, do seu amor,
enquanto o vento – a asa contida –
sopra as graminhas da subida.
O ar se tece em cores finas
de borboletas dançarinas,
e de zumbidos se reveste
de abelhas rápidas e agrestes.
E sobe então, da terra quente,
um doce aroma de presente.

Christian Morgenstern
traduzido e recriado por Ruth Salles* Ver no site Instituto Ruth Salles inúmeros poemas como:

A minhoca
João de Barro e inúmeros outros maravilhosos!

Espero que possam aproveitar e tenham ideias em cima destas breves dicas.
Beijo Cecilia Bonna

Leiam muitos poemas e inspirem-se para os versos de boletim. Encontrarão ainda farto
material de apoio ao preparo das aulas como: poemas, versos, canções, ritmos etc. nas
bibliotecas das escolas Waldorf. Aconselho a pesquisarem no site
www.estantevirtual.com.br onde podem encontrar livros seminovos por um preço muito
acessível. Lá também existe à disposição vários livros de poemas e coleções.

Ainda, é claro, podem encontrar material no acervo da Biblioteca Virtual de Antroposofia.

Bom trabalho Professora Maria Cecilia Bonna

“Casa da Flor” Gabriel Joaquim de dos Santos-

A "Casa da Flor" de Gabriel Joaquim dos Santos ilustra bem os elementos da imaginação
material concebida por Bachelard: como a casa onírica, ditada em sonho, imaginada como
espaço de proteção, como casa-concha. vida de Gabriel moreu aos 92 anos em 1985.

"Por si só, a palavra crisálida é uma particularidade que não engana. Nela se conjugam dois
sonhos que falam do descanso do ser e seu desabrochar, a cristalização da noite e as asas que
se abrem durante o dia. No corpo do castelo alado que domina a cidade e o oceano, os homens
e o universo, ele guardou uma crisálida de choupana para nela se encolher sozinho no maior
descanso."

"A casa toma as energias físicas e morais do corpo humano. [...] Tal casa chama o homem a
um heroísmo do cosmos. É um instrumento que serve para enfrentar o cosmos. [...] Contra
tudo, a casa nos ajuda a dizer: serei um habitante do mundo. O problema não é somente um
problema do ser, é também um problema de energia e conseqüentemente da contra-energia."
(A Poética do Espaço, p. 385)Bachelard

ANTONI GAUDI
... terminou seus dias vivendo pobremente no ateliê do canteiro de obras da Sagrada Família,
tinha erguido casas magníficas para a burguesia de Barcelona; é que "a representação de uma
casa não deixa por muito tempo indiferente um sonhador", como diz Bachelard em A Poética
do Espaço.

Passagem dedicada a Gaudi: "Alojado por toda parte, mas sem estar preso a lugar algum, tal a
divisa do sonhador de moradas. Na casa real, o devaneio de habitar é enganado. É preciso
sempre deixar aberto um devaneio de outro lugar" (p. 395).

[...] com efeito, a casa é, à primeira vista, um objeto que possui uma geometria
rígida. Somos tentados a analisá-la racionalmente. Sua realidade primeira é
visível e tangível. É feita de sólidos bem talhados, de vigas bem encaixadas. A
linha reta é dominante. O fio de prumo deixou-lhe a marca de sua sabedoria,
de seu equilíbrio. Tal objeto geométrico deveria resistir a metáforas que
acolhem o corpo humano, a alma humana. Mas a transposição ao humano se
faz imediatamente, desde que se tome a casa como um espaço de conforto e
intimidade, como um espaço que deve condensar e defender a intimidade.
Abre-se então, fora de toda racionalidade, o campo do onirismo.

(A Poética do Espaço, Bachelard p. 386)

Para quem quer saber mais, ver imagens


belíssimas do Parc Guell e A casa da flor, segue
o site:

www.rubedo.psc.br | Artigos | © Sônia Freire

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