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Textos Fundamentais Da Literatura Universal
Textos Fundamentais Da Literatura Universal
FUNDAMENTAIS
DA LITERATURA
UNIVERSAL
Introdução
“Ser ou não ser, eis a questão.” Você provavelmente já leu ou ouviu essa
frase em algum lugar. Mas você sabe de onde ela vem? Quem é o seu
autor ou a sua autora? E, afinal de contas, o que ela significa? Apesar de
famosa e emblemática, parece bastante misteriosa e enigmática quando
apresentada dessa forma, fora do seu contexto.
Neste capítulo, você vai descobrir que essa frase pertence à peça
Hamlet, do escritor inglês William Shakespeare. Você também vai conhecer
que tipo de narrativa é essa e que tragédia é vivida por Hamlet, o seu
protagonista. Para que você entenda esse clássico, vamos analisar o
contexto histórico em que viveu Shakespeare em que a obra foi escrita,
o Renascimento. Ainda, vamos discutir o conceito de tragédia moderna,
gênero ao qual Hamlet pertence.
https://goo.gl/ETWnjm
https://goo.gl/S7U5Lp
Você pode visitar, em Londres, o Shakespeare’s Globe Theatre, uma reconstrução do que
seria o teatro onde Shakespeare apresentou algumas das suas peças mais famosas e
do qual foi sócio. Esse novo teatro foi construído quase no local do original, que foi
encerrado permanentemente em 1642.
HAMLET
Ele o envenena no jardim por suas posses. Seu nome é Gonzago. A história
ainda existe, escrita em puro italiano. Ireis ver logo como o assassino
consegue o amor da mulher de Gonzago.
OFÉLIA
O rei se levanta.
HAMLET
O que, assustado com fogo falso?
RAINHA
Como passa o meu senhor?
POLÔNIO
Parem a peça!
REI
Deem-me luz! Vamos.
POLÔNIO
Luzes, luzes, luzes.
(Saem todos, menos Hamlet e Horácio)
HAMLET
Que gema o veado na agonia,
E o cervo vá brincando
Enquanto um dorme, outro vigia;
E o mundo vai andando...
Será que isto, com uma floresta de plumas — se o resto da minha fortuna
me der as costas — com rosas de Provença em seus sapatos esfarrapa-
dos, não me daria lugar numa matilha de atores? (SHAKESPEARE, 2010,
p. 137-138).
Primeiro, Hamlet inventa uma suposta origem da peça criada por ele e
conta-a para Ofélia. Depois, há a sua reação à saída intempestiva do rei,
sugerindo, de forma extremamente mordaz, que ele teria se assustado com
um alarme falso de fogo. Por fim, ele fala metaforicamente que, enquanto o
seu tio se entretém com as funções de ser rei, Hamlet está vigiando todos os
seus passos. E termina perguntando se, caso ele perca a sua posição e o seu
dinheiro, não poderia tornar-se ator. O jovem usa, porém, um coletivo que
não é próprio para um grupo de atores, que poderia ser designado como trupe,
por exemplo. Ele utiliza, no lugar disso, o termo “matilha”, ou seja, grupo de
cães. Talvez o protagonista esteja se referindo ao seu objetivo ao montar o
espetáculo A ratoeira: caçar o assassino do seu pai com uma armadilha, agir
como um cão de caça com a sua presa.
Depois da encenação da peça, inúmeros acontecimentos trágicos se pre-
cipitam. A mãe de Hamlet, a rainha Gertrudes, chama o filho ao seu quarto
para conversar sobre o que havia acabado de acontecer. No caminho, o jovem
príncipe encontra Cláudio rezando e hesita em matá-lo. No outro dia de manhã,
porém, ele mata Polônio sem querer, que estava escondido atrás da cortina,
acreditando ser Cláudio que lhe espiava.
Transtornada com a morte do pai, Ofélia começa a mostrar sinais de loucura
a acaba morrendo afogada. Os coveiros dão a entender que a jovem se suicidou.
mais apavorante quanto o interesse mais avassalador nas pessoas ao longo dos
tempos, é a morte. Hamlet está no cemitério quando segura uma caveira (aquela
famosa cena da tragédia), que um dos coveiros diz ser de Yorick, um bobo da
corte com quem o príncipe muito conviveu quando criança. O protagonista
relembra os tempos passados com Yorick e não consegue acreditar que aquele
ser humano que provocava o riso pode ter se transformado em um punhado
de ossos. A partir dessas recordações, Hamlet inicia uma reflexão sobre o fim
da vida. Ele pergunta ao seu fiel companheiro, Horácio, se ele acredita “que
o próprio Alexandre tenha esse aspecto, dentro da terra” (SHAKESPEARE,
2010, p. 210). Então, ele afirma: “A que baixa condição nós temos de volver,
Horácio!” (SHAKESPEARE, 2010, p. 210). E segue confrontando a grandeza
de Alexandre, o rei da Macedônia, assim como a do imperador César, durante
as suas vidas de conquistas, com a sua pequenez na morte:
Enquanto o homem da Idade Média tem fé de que vai para o céu ou para o inferno
(tudo depende de como levou a sua vida), para o homem moderno, já não existem
mais certezas. Hamlet está sozinho e não tem em quem se apoiar, nem no pai, morto,
nem na família, nem em Deus. Ademais, se o rei Hamlet foi assassinado, esse crime não
faz parte de um destino seu que deveria ser respeitado ou, pelo menos, aceitado por
se constituir como algo inevitável. Por isso, o seu filho, o príncipe Hamlet, pode vingar
a sua morte: ele não é capaz de consertar a situação, já que a morte é irreversível, mas
pode cobrar de quem cometeu o erro.
Leituras recomendadas
HUPPES, I. Tragédia clássica e tragédia moderna. Letras de Hoje, Porto legre, v. 22, n. 1,
1987. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/
view/17013/11036>. Acesso em: 7 ago. 2017.