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Microeconomia II – 2º Semestre

Equilíbrio Geral
c/ Produção

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Equilíbrio Geral e
Teoria de bem-estar

Parte II: Economia de Troca com Produção

1. Caixa de Edgeworth da produção. Afetação ótima de Pareto na produção. Curva


contratual da produção.
2. A álgebra das afetações ótimas na produção.
3. A fronteira de possibilidades de produção.
4. A álgebra das afetações ótimas no consumo e na produção. O equilíbrio geral no consumo
e na produção.
5. Condições para a existência de equilíbrio geral numa economia concorrencial de troca
com produção.
6. Significado da existência de equilíbrio geral.
7. Limitações da teoria e outros desenvolvimentos.
8. Os teoremas fundamentais do bem-estar numa economia de troca com produção

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.1 Caixa de Edgeworth na produção. Ótimo de
Pareto na produção. Curva contratual da produção

Vamos começar por considerar um único consumidor, 2 setores e 2 fatores


produtivos (1x2x2).

Este consumidor tem dotações iniciais de trabalho e capital que definem a Caixa de
Edgeworth

Todos os pontos de tangência entre duas isoquantas são afetações eficientes na


produção formando a curva contratual da produção, QQ’.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.1 Caixa de Edgeworth na produção. Óptimo de
Pareto na produção. Curva contratual da produção

Caixa de Edgeworth na produção


L2
O2
K2

y20

y10

K1
O1
L1

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.1 Caixa de Edgeworth na produção. Óptimo de
Pareto na produção. Curva contratual da produção

Afetação ótima de Pareto na produção (ou afetação eficiente na produção) -


Afetação de fatores produtivos tal que a produção de um bem só pode aumentar à
custa da diminuição da produção de outro bem.

Curva contratual da produção – Conjunto das afetações ótimas na produção


no sentido de Pareto ou locus das combinações ótimas de K e L na produção de
Y1 e Y2

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.1 Caixa de Edgeworth na produção. Ótimo de
Pareto na produção. Curva contratual da produção
L2
O2
Q’
k2

y20
y10

K1 Q
O1 u3A
L1

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.2 A álgebra das afetações ótimas na
produção: 2 bens e 2 fatores produtivos
Considerem-se os setores de produção Y1 e Y2 que empregam os fatores K e L.
Algebricamente, as afetações ótimas na produção no sentido de Pareto obtêm-se
maximizando a produção de um sector, dada a produção do outro sector e dado que a
quantidade total procurada dos fatores tem de ser igual à sua oferta.

Onde são as dotações totais dos


fatores K e L, respetivamente.
A resolução deste máximo condicionado faz-
se pelo método dos multiplicadores de
Lagrange, onde λ representa o multiplicador
associado à restrição da produção e ϕ1 e ϕ2
representam os multiplicadores das restrições
das quantidades dos fatores:

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.2 A álgebra das afetações ótimas na
produção: 2 bens e 2 fatores produtivos

Diferenciando em relação às quantidades empregues dos dois fatores pelos dois


setores de produção, temos:

Da resolução do lagrangeano resulta a


seguinte condição de ótimo na produção:

Conhecida por condição marginal para a


substituição de fatores (ou condição marginal
da produção)
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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.2 A álgebra das afetações ótimas na
produção: 2 bens e 2 fatores produtivos

Segundo esta condição a taxa marginal


de substituição tecnica entre capital e
trabalho terá de ser igual na produção
dos bens Y1 e Y2. Alem disso, verifica-se
o pleno emprego dos fatores.

A expressão algébrica da curva contratual na produção obtém-se a partir da condição


acima, impondo-se também o pleno emprego de ambos os fatores, podendo ser
expressa em termos do setor Y1 ou do setor Y2.

A afetação de inputs entre os 2 setores far-se-à ao longo desta Curva de Contrato.


Consoante esta afetação, assim se ajustarão as quantidades produzidas dos 2 bens,
Porém, tal ajustamento dependerá das preferências do consumidor pelos bens que
aqueles produzem, o que nos leva a introduzir o conceito de fronteira de
possibilidades de produção.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.2 A álgebra das afetações ótimas na
produção: 2 bens e 2 fatores produtivos
L2
O2
C’
K2

a
b
c

d
e

K1 C
O1
L1

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.3 A Fronteira de Possibilidades
de Produção (FPP ou FF’)

FPP – dá-nos as
combinações máximas
de Y1 e Y2 a partir de
uma dotação fixa de
fatores. Por outras
palavras, dá-nos as
combinações de Y1 e Y2
tecnologicamente
possíveis.
As afetações a, b, c, d e e
ao longo de QQ’
correspondem as
combinações respetivas
ao longo da FPP ou FF’.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.3 A Fronteira de Possibilidades
de Produção (FPP ou FF’)

A partir da curva contratual no espaço dos fatores (QQ’) podemos obter a fronteira de
possibilidades de produção ou curva de transformação (FPP ou FF’) – produção máxima
de um bem, dada a produção do outro, supondo pleno emprego dos fatores produtivos e dada
a tecnologia. Combinações produtivas tecnologicamente possíveis de dois bens.

A curva de contrato dá-nos uma relação ótima entre os fatores produtivos utilizados na
produção de cada um dos bens, Ki=Ki (Li) .

Substituindo esta relação na função de produção de cada bem teremos:


Yi = fi(Li , Ki ) = fi(Li , Ki (Li)) = gi(Li)

Invertendo esta relação tiramos a procura de um factor, função do nível de produção:


Li = gi-1(Yi)

E sabendo que a procura de cada fator tem de ser igual à sua dotação inicial, obtemos a FPP
na forma implícita
𝐋𝟏 + 𝐋𝟐 = 𝐋ҧ ⇔ 𝐠 −𝟏 −𝟏
𝟏 𝐘𝟏 + 𝐠 𝟐 𝐘𝟐 − 𝐋 = 𝟎
ҧ

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.3 A Fronteira de Possibilidades
de Produção (FPP ou FF’).

Dado o pleno emprego dos dois fatores produtivos, a FPP representa-se por:

Ao longo da curva FF’, se se quiser aumentar Y1 em unidades, terá de se


sacrificar uma certa quantidade de Y2, equivalente a e que representa o
custo marginal da produção de Y1 em termos do bem Y2 .

O rácio destas distâncias dá-nos a taxa marginal de transformação na produção


entre Y2 e Y1 (TMTY2,Y1) , descrevendo a taxa a que a economia pode transformar um
bem noutro através da libertação de fatores produtivos K e L de uma produção para a
outra.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.3 A Fronteira de Possibilidades
de Produção (FPP ou FF’).

y2 S

y2* Ep
Inclinação FPP = TMT

S’

0 y1* F’ y1

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.3 A Fronteira de Possibilidades
de Produção (FPP ou FF’)

Se a curva FF’ é côncava em relação à origem, a TMTY1,Y2 aumenta à medida que


descemos na curva, de F para F’. A TMTY1,Y2 é então igual ao rácio entre o Cmg1 e
Cmg2, sendo, geometricamente equivalente ao simétrico da inclinação da FPP, isto é:

Normalmente, a FPP é linear ou concava em relação à origem.


Pode também ser convexa quando existem rendimentos crescentes à escala.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.3 A Fronteira de Possibilidades
de Produção (FPP ou FF’)

Mas ainda falta determinar qual a combinação ótima de produção e consumo


nesta economia, pelo que é necessário considerar em simultâneo este modelo e o
ótimo do consumidor.

Temos de encontrar a afetação ótima de bens e fatores tal que maximizemos a


utilidade do consumidor.

Essa afetação tem de ser eficiente no consumo (maximizar a utilidade) e eficiente


na produção (situar-se sobre a FPP).

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Considere uma economia com 1 consumidor , 2 bens (Y1 e Y2) e 2 fatores de produção
(K e L): (1 x 2 x 2)

Algebricamente, o ótimo de Pareto nas trocas com produção obtém-se maximizando


a utilidade do consumidor, dada a fronteira de possibilidades de produção:

Onde F(y1,y2) representa FF’


𝐌𝐚𝐱 𝐲𝟏 ,𝐲𝟐 𝐔 𝐲𝟏 , 𝐲𝟐 , na forma implícita e yi a
produção total do bem Yi
𝐬. 𝐭. 𝐅 𝐲𝟏 , 𝐲𝟐 = 𝟎

Escrevendo o Lagrangeano: 𝓛 𝐲𝟏 , 𝐲𝟐 = 𝐔 𝐲𝟏 , 𝐲𝟐 − 𝛌. 𝐅 𝐲𝟏 , 𝐲𝟐

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Escrevendo o Lagrangeano: 𝓛 𝐲𝟏 , 𝐲𝟐 = 𝐔 𝐲𝟏 , 𝐲𝟐 − 𝛌. 𝐅 𝐲𝟏 , 𝐲𝟐

Diferenciando em relação as quantidades consumidas dos dois bens, temos:

ℒ1 y1 , y2 = U1 y1 , y2 − λ. F1 y1 , y2 = 0 U1 y1 , y2 F1 y1 , y2
൝ ֜ = ⇔
ℒ2 y1 , y2 = U2 y1 , y2 − λ. F2 y1 , y2 = 0 U2 y1 , y2 F2 y1 , y2

𝐓𝐌𝐒𝐲𝟏 ,𝐲𝟐 = 𝐓𝐌𝐓𝐲𝟏 ,𝐲𝟐

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

y2 S

F’

y2* Ep

S’
Inclinação da TMT=Inclinação da TMS

0 y1 F’

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

𝐓𝐌𝐒𝐲𝟏 ,𝐲𝟐 = 𝐓𝐌𝐓𝐲𝟏 ,𝐲𝟐

Esta condição define o Ótimo na produção e consumo no modelo 1x2x2.


Por sua vez, este ótimo define a utilidade de partida de 1 único consumidor, o
nível de utilidade que ele garante trabalhando sozinho, sem trocas com outros
consumidores, dadas as suas dotações iniciais de trabalho e capital:
𝑼∗ 𝝎𝑳 , 𝝎𝒌

Cada consumidor nunca aceitará um equilíbrio com trocas que lhe proporcione
uma utilidade inferior a esta.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.1 Caixa de Edgeworth na produção. Óptimo de
Pareto na produção. Curva contratual da produção

O que se altera quando considerarmos 2 consumidores, 2 setores e 2 fatores


produtivos (2x2x2)?

A Caixa de Edgeworth é agora definida pela soma das dotações iniciais de trabalho
e capital dos 2 consumidores. Mas ao nível da produção mais nada se altera.

As condições para eficiência (Ótimo de Pareto) na produção são as mesmas: Taxa


marginal de substituição técnica igual para todos os setores.

Estas condições definem a Curva de Contrato na Produção, a partir da qual


calculamos a Fronteira de Possibilidades de produção e a sua Taxa Marginal de
Transformação em cada ponto.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.3 A Fronteira de Possibilidades
de Produção (FPP ou FF’)

Mas ainda falta determinar qual a combinação ótima de produção e consumo


nesta economia, pelo que é necessário considerar em simultâneo este modelo e o
das trocas.

Temos de encontrar a afetação ótima de bens e fatores tal que a única maneira de
melhorar o bem-estar de um individuo é baixar o bem-estar de outro.

Essa afetação tem de ser eficiente no consumo (situar-se sobre a curva contratual
das trocas)…
…e eficiente na produção (situar-se sobre a FPP).

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Algebricamente, o ótimo de Pareto no consumo com produção obtém-se


maximizando a utilidade de um consumidor, dada a utilidade do outro consumidor e
a fronteira de possibilidades de produção:

Onde F(y1,y2) representa FF’ na forma implícita


e yi a produção total do bem Yi tal que:
yi = yiA + yiB, com i=1,2

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

A resolução deste máximo condicionado faz-se pelo método dos multiplicadores de


Lagrange, onde λ representa o multiplicador associado à restrição de utilidade e μ
representa o multiplicador da restrição da fronteira de possibilidades de produção.

Diferenciando em relação as
quantidades consumidas dos dois
bens pelos dois consumidores,
temos:

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

E dividindo

Esta é a condição marginal (ou de eficiência) na substituição de


produções – condição em que a combinação dos bens produzidos na
economia reflete as preferências dos consumidores

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Graficamente, vejamos a FPP e uma caixa de Edgeworth das trocas, onde a afetação
Ec é um otimo de Pareto se:

- A quantidade total consumida estiver situada sobre a FPP, o que significa que os
recursos são todos usados.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

y2 S

F’

y2* Ep
Inclinação da TMT

S’

0 y1 F’

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Graficamente, vejamos a FPP e uma caixa de Edgeworth das trocas, onde a afetação
Ec é um otimo de Pareto se:

- A quantidade total consumida estiver situada sobre a FPP, o que significa que os
recursos são todos usados;

- Estiver sobre a curva CC’ onde as curvas de indiferença são tangentes (curva de
contrato das trocas);

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

y2 S

F’

y2* Ep
0B
Inclinação da TMT

S’
T
Inclinação da TMS
R

T’

0A y1 F’

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Graficamente, vejamos a FPP e uma caixa de Edgeworth das trocas, onde a afetação
Ec é um otimo de Pareto se:

- A quantidade total consumida estiver situada sobre a FPP, o que significa que os
recursos são todos usados;

- Estiver sobre a curva CC’ onde as curvas de indiferença são tangentes (curva de
contrato das trocas); e

- TMTY1,Y2 = TMSY1,Y2, que garante o ótimo simultâneo no consumo e na produção.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

y2 S
Inclinação da TMT
F’

y2* Ep
0B Se a inclinação da
TMT for diferente
da TMS é possível
S’ alterar a produção
T para aumentar a
R
utilidade de ambos
os consumidores
T’ Inclinação da TMS

0A y1 F’

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

y2 S

F’ Inclinação da TMT

y2* Ep
0B Se a inclinação da
TMT for diferente
da TMS é possível
S’ alterar a produção
para aumentar a
R
utilidade de ambos
os consumidores

0A y1 F’

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

y2 S

F’

y2* Ep
S 0B A inclinação da
Inclinação da TMT
TMT tem de ser
igual à da TMS
Ec S’
para estarmos num
Ótimo de Pareto
Inclinação da TMS
S’

0A y1 F’

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Normalmente, haverá várias combinações simultaneamente eficientes na produção e no


consumo.

Para vários pontos na FPP é possível encontrar uma alocação de consumo que satisfaça
as condições de eficiência anteriores, isto é, seja um Ótimo de Pareto na produção e
consumo.

Para selecionar um ponto de equilíbrio introduzimos então o mecanismo de mercado,


ou seja, um vetor de preços que equilibre Oferta e Procura em todos os mercados.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Equilíbrio geral numa economia de troca com produção (2x2x2) – é um conjunto


de vectores – de preços não negativos de todos os bens e fatores produtivos, de
quantidades dos bens consumidos por cada família, de quantidades de bens produzidos
e de fatores utilizados por cada empresa – que satisfaz as seguintes condições:

(a) Cada família maximiza a sua utilidade sujeita à restrição orçamental, aos preços
dos bens e dos fatores produtivos;

(b) Cada empresa maximiza os seus lucros sujeita a restrição da tecnologia, aos preços
dos bens e dos fatores produtivos;

(c) Para cada bem, o total consumido por todas as famílias não excede a dotação inicial
mais a produção liquida de todas as empresas;

(d) Para cada fator produtivo, a procura total dos setores iguala a dotação inicial.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Do lado do consumo, determinam-se as funções procura ordinárias dos 2 bens


maximizando a utilidade de cada consumidor j dada a sua restrição orçamental .

𝐌𝐚𝐱 𝐲𝟏 ,𝐲𝟐 𝐔 𝐣 𝐲𝟏 , 𝐲𝟐 ,

𝐣 𝐣 𝐣 𝐣
𝐬. 𝐭. 𝐏𝐲𝟏 . 𝐲𝟏 + 𝐏𝐲𝟐 . 𝐲𝟐 = 𝐏𝐋 . 𝛚𝐋 + 𝐏𝐊 . 𝛚𝑲

Essas funções de procura individuais são agregadas, obtendo-se a procura agregada de


cada bem:

YiD (Py1, Py2, PL, PK|𝛚L, 𝛚K)

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Do lado da produção, maximizamos o lucro de cada empresa dada a sua função de


produção. Vejamos para o setor Y1:

Diferenciando em relação as quantidades empregues dos fatores, temos:

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Dividindo as duas últimas


expressões, obtém-se a conhecida
condição de ótimo na produção
de uma empresa tomadora de
preços

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Resolvendo este sistema de equações, obtém-se a procura de fatores para cada


setor:
Li (Py1, Py2, PL, PK)
Ki (Py1, Py2, PL, PK)

Substituindo na função de produção, obtém-se a oferta de cada setor:

Yi S(Py1, Py2, PL, PK)

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção
Do lado do consumo e em resultado da
maximização da utilidade de cada
consumidor dada a sua restrição orçamental,
verifica-se no equilíbrio concorrencial do
consumo a seguinte relação:

Por sua vez, para preços dos fatores


comuns entre os sectores, resulta desta
otimização que:

e por analogia para o setor Y2:

pelo que conjugando o lado da


produção com o lado do consumo,
verifica-se também a seguinte relação
no equilíbrio concorrencial numa
economia de trocas com produção:

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.4 A álgebra das afetações ótimas no
consumo e na produção. O equilíbrio
geral no consumo e na produção

Finalmente, igualando a procura e oferta global em cada mercado:

Y1D (Py1, Py2, PL, PK |𝛚L, 𝛚K) = Y1S (Py1, Py2, PL, PK)
Y2D (Py1, Py2, PL, PK |𝛚L, 𝛚K) = Y2S (Py1, Py2, PL, PK)
L (Py1, Py2, PL, PK) = L0
K (Py1, Py2, PL, PK) =K0

Pela Lei de Walras sabemos que se 3 destes mercados se equilibrarem o restante


também se equilibra. Assim ficamos com 3 equações independentes, a partir das
quais obtemos o vetor dos preços de equilíbrio, fixando um desses preços (p.e., igual
a 1).

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.5 Condições para a existência de
equilíbrio geral numa economia
concorrencial de troca com produção

Embora na maioria dos exemplos exista sempre um equilíbrio geral, são necessárias
uma série de condições para assegurar a sua existência:

1) As curvas de indiferença têm de ser convexas em relação à origem e continuas.


Além disso, não pode haver saturação no consumo de nenhum dos bens.

2) No que respeita às empresas é semelhante. As isoquantas devem ser convexas


em relação à origem e continuas. Além disso, deve ser sempre possível não
produzir.

3) Não hajam “refeições gratuitas” (no free lunch). Não é possível que o produto
seja positivo sem se utilizarem fatores produtivos.

4) É sempre possível aumentar a dotação inicial de uma pessoa de tal forma


que se beneficie alguém sem se prejudicar ninguém.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.6 Significado da existência de equilíbrio geral

É verdade que podem existir dois problemas cruciais: o mercado pode não existir – por
exemplo, não existe o mercado de orgãos humanos por razões morais e o mercado de
cocaína é ilegal – ou a solução de mercado não é a desejada – por exemplo, para o caso
dos bens públicos.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.6 Significado da existência de equilíbrio geral

Tirando as excepções que serão estudadas, a maioria dos bens são produzidos mais
eficientemente de acordo com os mecanismos do mercado.

Note-se que a teoria não tem conteúdo ideológico. A teoria do equilíbrio geral
competitivo não diz que o capitalismo é o sistema económico ótimo. O que nos diz é
que, dadas certas condições (informação perfeita, clara definição dos direitos de
propriedade e outras) o mecanismo de mercado conduz a uma situação eficiente.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.7 Limitações da teoria e outros desenvolvimentos

Um problema que não é aqui abordado é o do conflito possível entre eficiência e


equidade.
De facto, nada na solução de equilíbrio concorrencial nos assegura que a solução
resultante, em termos de distribuição dos bens pelos diferentes indivíduos, seja uma
solução justa.

A distribuição de bens através do mercado começa por atribuir esse bem a quem mais
o deseja (com mais elevado excedente do consumidor) e de entre estes, ao mais rico.
Ora, pode acontecer que os mais pobres não tenham acesso a bens essenciais, daí a
necessidade de introdução de mecanismos de transferência de rendimento via, em
geral, o sistema fiscal ou de segurança social.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.7 Limitações da teoria e outros desenvolvimentos

Repare-se que apenas provámos a existência de um equilíbrio, mas não a estabilidade


ou instabilidade do equilíbrio geral. Porque existe então desemprego nas economias
capitalistas?

Uma das grandes causas da existência de desemprego é a rigidez ou falta de


flexibilidade dos preços e salários – hipótese fundamental de ajustamento nas
situações de desequilíbrio de um mercado.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.7 Limitações da teoria e outros desenvolvimentos

As flutuações económicas podem também dar-se devido a alterações nas


expectativas dos agentes económicos. É que apenas estudamos um equilíbrio
estático, mas no mundo real temos de adicionar um vetor temporal.

Os bens são produzidos ou consumidos em cada período. Ora as decisões de


produção e consumo são tomadas pressupondo uma determinada trajetória para
as variáveis do equilíbrio geral. Sobre elas os agentes económicos formulam
expectativas. Se elas não forem consistentes entre si, ou se provar estarem
erradas, pode haver desequilíbrio no mercado.

Estas são matérias que dizem respeito aos fundamentos microeconómicos da


macroeconomia e que têm constituído uma parte importante da investigação
dos economistas nos últimos anos.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.8 Os teoremas fundamentais do bem-estar numa
economia concorrencial de troca com produção

Primeiro teorema fundamental do bem-estar numa economia de troca com


produção

– Desde que os produtores e os consumidores atuem como tomadores dos preços e haja
um mercado para cada bem e fator produtivo, o equilíbrio geral é um ótimo de Pareto.
Por outras palavras, a economia opera num ponto da fronteira de possibilidades de
utilidade .

Este teorema é também conhecido pelo teorema da mão invisível de Adam Smith.
Tem muito interesse na medida em que sugere que uma economia constituída apenas
por agentes económicos que sejam tomadores dos preços, ou que opera em
condições de concorrência perfeita, afeta automaticamente os recursos de uma forma
eficiente sem necessidade de uma decisão centralizada.

48
Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.8 Os teoremas fundamentais do bem-estar numa
economia concorrencial de troca com produção
Mão Invisível de Adam Smith
A atuação dos agentes económicos no seu interesse próprio pode conduzir ao
interesse social, como se fosse dirigida por uma mão invisível.

Este resultado tem um alcance importante no que respeita à relação entre os objetivos
privados de maximização do bem-estar e os objetivos sociais de uso eficiente dos
recursos, que são escassos.

Com efeito, em determinadas condições, a maximização individualizada e isolada por


cada indivíduo do seu bem-estar, tendo apenas como “sinais” os preços dos bens e
fatores – que são sinais de escassez relativa no consumo e tecnologia - leva de uma
forma descentralizada a uma afetação final de recursos que é socialmente eficiente.

De uma forma simplificada, podemos provar este teorema estipulando que, ao adotar-
se um comportamento de tomador dos preços, uma afetação de recursos tem de ser
simultaneamente eficiente no consumo e na produção.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.8 Os teoremas fundamentais do bem-estar numa
economia concorrencial de troca com produção

Assim, a eficiência no consumo obtém-


se pela via da maximização da utilidade
sujeita à recta do rendimento e leva à
verificação da seguinte igualdade:

que nos dá uma condição necessária de maximização da utilidade.


Por sua vez, a eficiência na produção obtém-se pela via da minimização dos custos
dada a função de produção, verificando-se a seguinte igualdade:

que nos dá uma condição necessária de maximização da produção.

50
Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.8 Os teoremas fundamentais do bem-estar numa
economia concorrencial de troca com produção

Finalmente, a eficiência simultânea na produção e no consumo


obtém-se pela via da maximização do lucro dada a FPP,
verificando-se a igualdade:

51
Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.8 Os teoremas fundamentais do bem-estar numa
economia concorrencial de troca com produção

Se, por exemplo,

constata-se que os produtores estão dispostos a ceder 2 Y2 por 3 Y1, enquanto os


consumidores apenas cedem 1 Y2 por 3 Y1, isto é, os produtores libertam mais Y2
do que o necessário para manter a utilidade dos consumidores constantes, pelo
que a utilidade de alguém vai poder aumentar.

Verificamos que as hipóteses de concorrência perfeita e de comportamento de


ótimo (maximização ou minimização) por parte de todos os agentes económicos
levam a um Ótimo de Pareto.

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Equilíbrio Geral e Teoria de bem-estar
II.8 Os teoremas fundamentais do bem-estar numa
economia concorrencial de troca com produção

Segundo teorema fundamental do bem-estar numa economia de troca com


produção

– Se todas as curvas de indiferença e isoquantas forem contínuas e convexas em


relação a origem e existir uma afetação inicial apropriada, para cada afetação
eficiente de Pareto existirá um conjunto de preços que pode alcançar tal afetação
como um equilíbrio geral concorrencial.
De acordo com este teorema qualquer afetação ao longo da curva de contrato das
trocas e da curva contratual da produção poderá ser um equilíbrio geral. Porém, o
teorema alerta para as questões da escolha adequada dos recursos iniciais e dos
preços relativos, pois poderá ser necessária uma redistribuição dos recursos ou do
rendimento.
Resumindo: enquanto o primeiro teorema se concentra na eficiência de uma
afetação, o segundo teorema concentra-se na equidade dessa afetação. Este ultimo
teorema separa as condições de eficiência das de distribuição.

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Referências:
Frank, R. (2013), Microeconomia e Comportamento, McGraw Hill
[cap.16 (p.565-571)
Abel Mateus e Margarida Mateus, Microeconomia – Teoria e
Aplicações, Verbo Editora, 2001 [cap. 25 (p.521 –531) ]

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