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A cruz

de Cristo
na espiritualidade franciscana
Na primeira leitura de hoje temos São Paulo
que lembra o centro da fé cristã aos
Coríntios que corriam o risco de serem
desviados pelo fascínio da filosofia grega e
dos raciocínios humanos.
O centro da fé - como recorda o Apóstolo - é
a cruz de Cristo, onde Deus revela sua
Sabedoria e força através de algo que era
hediondo para as pessoas e onde
humanamente se vê somente a fraqueza.
Pegando gancho sobre este chamado a se
voltar para a cruz e tendo uma
espiritualidade franciscana, se faz útil
recordar como a Cruz foi sempre central na
vida de São Francisco e seus companheiros.
Primeiramente o Pai Seráfico teve seu
encontro com Cristo na Cruz de São Damião
e durante toda a sua vida meditava sobre a
Paixão do Senhor.
Podemos ver isso em vários aspectos,
primeiramente em sua própria vida, já que
os estigmas que recebeu não eram somente
sinais milagrosos, mas uma graça de Deus,
que permitiu externalizar esta sua união
com Cristo crucificado a tal ponto de viver
em sua carne os mesmo sofrimentos de
Cristo. Também vemos isso em seus
ensinamentos como quando na Exortação
n.5 - inspirando-se justamente no
ensinamento de São Paulo - ensina seus
frades a não se orgulharem em suas
qualidades, já que qualquer um pode tê-las
e os próprios demônios são muito mais
qualificados que os homens, mas somente
nas próprias fraquezas e no carregar a cruz
de Cristo todos os dias. Outro ensinamento
seu importante é no seu encontro com um
camponês em que medita sobre o descaso
dos homens a Cristo na cruz:
"O camponês perguntou:
Que aconteceu, irmão, por que estás
chorando?
O Irmão respondeu:
Meu irmão, o meu Senhor está na Cruz e me
perguntas por que choras?
Quisera ser neste momento o maior oceano
da terra, para ter tudo isso de lágrimas.
Quisera que se abrissem ao mesmo tempo
todas as comportas do mundo
e se soltassem as cataratas e os dilúvios
para me emprestarem
mais lágrimas.
Mas ainda que juntemos todos os rios e
mares, não haverá lágrimas
suficientes para chorar a dor e o amor de
meu Senhor crucificado.
Quisera ter as asas invencíveis de uma
águia para atravessar as cordilheiras e
gritar sobre as cidades:
O Amor não é amado!
O Amor não é amado!
Como é que os homens podem amar uns
aos outros se não amam o Amor?"
São Francisco não querendo que ficasse
somente nele este amor pela Cruz de Cristo
montou um ofício da "Passio Domini" -
rezado de Quinta para Sexta - em que ele e
seus frades se uniam pela oração a Cristo e
seus sofrimentos na sua Paixão.

Este amor pela cruz realmente não ficou


somente no Pai Seráfico, mas atingiu todos
aqueles que se colocavam a seguir seus
passos. Podemos ver isso de modo
particular naquilo que diz São Boaventura
na Legenda Maior a respeito de São
Francisco e seus companheiros:
"revolviam dia e noite o livro da cruz de
Cristo, que sempre tinham à vista, incitados
pelo exemplo e pela palavra do
amantíssimo pai, que freqüentemente lhes
pregava com inefável doçura as glórias da
cruz de Cristo".
A expressão "Livro da cruz de Cristo" não é
mera imagem poética, mas revela o que a
Cruz de Cristo representava e representa
aos franciscanos, local onde se aprende a
ser santo e a seguir o Senhor.
Tanto é verdade que o próprio São
Boaventura ensina: "Se quereis progredir
no amor de Deus, meditai todos os dias a
Paixão do Senhor. Nada contribui tanto
para a santidade das pessoas como a
Paixão de Cristo".
Neste dia portanto que peçamos ao Pai
Seráfico e a todos os franciscanos que se
santificaram através da meditação da
Paixão de Cristo e do seguimento do
Crucificado que nos ajude a lembramos a
centralidade da Cruz em nossa fé e fazer
dela este livro que nos ensina a sermos
santos através da sabedoria de Deus e não
dos homens.

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