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REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO 231

F R A N Q U IA P O S T A L E T E L E G R Á F IC A ao Govêrno pela Liga da Defesa Nacional e pela


Comissão Organizadora do 2.° Congresso de T u­
O decreto-lei n . 1. 995, de 1,° de fevereiro berculose, por contravir o espirito e a forma da
de 1940, cujo projeto o D . A . S . P . examinou, veio lei em aprêço.
fixar normas muito rígidas na concessão de fran­
Agora, a Federação das Sociedades de As­
quia postal e telegráfica, visando, com isso, acau­
sistência aos Lázaros e Defesa Contra a Lepra
telar as rendas do Departamento .dos Correios e
formulou idêntico pedido ao Senhor Presidente
Telégrafos e tornar mais eficientes os seus servi­
da República.
ços.
Por fôrça dessa lei, até os Estados, M unicí­ Chamada a manifestar-se, a D . C . fê-lo como
pios e Territórios da União estão compelidos a das vezes anteriores, isto é, opiniou contrariamen­
pagar as taxas em mais curto espaço de tempo, te. De fato, em que pesem o objetivo e alcance
sob pena de ficarem suspensos os favores con­ social da medida pleiteada, a sua adoção viria
cedidos. , quebrar o princípio estabelecido no decreto-lei
Após a expedição dêsse decreto-lei, o D . A . supra mencionado, o que, por todos og motivos,
S. P . opinou contrariamente a solicitações feitas deve ser evitado.

FISIOLOGIA DO TRABALHO
A s f in a lid a d e s d a C o m i s s ã o de A m b i e n t e de T r a b a l h o

C a rlo s C h a g a s

Iniciando uma série de artigos sôbre Fisiolo- nais diferentes. Por suas variações, êsses fato­
gia do Trabalho, assunto da mais alta importân­ res afetam o organismo no seu metabolismo calo­
cia econômica e social, definirei inicialmente as rífico, de modo que a sensação experimentada é
diretrizes científicas e as finalidades da. Comissão essencialmente térmica. Esta é, aliás, a razão
de Ambiente de Trabalho. pela qual o rendimento do trabalho humano de­
Naturalmente, meus estudos sôbre a Fisiolo- pende das condições térmicas do ambiente, que
gia do Trabalho serão feitos sob o ponto de vista vão agir no mesmo, quer diretamente, pelas mo­
bio-energético, que é o único para o qual tenho dificações introduzidas no metabolismo energé­
as necessárias credenciais, limitando-se portanto tico, quer indiretamente, pelo desconforto que pos­
os mesmos ao aspecto biofísico da Fisiologia do sam produzir.
Trabalho. O problema inicial consiste, pois, em deter­
Uma primeira série de artigos relatará o que minar quais as condições de ambiência que dão
tem sido feito e o que pretende fazer a Comissão sensação térmica de conforto, na qual o orga­
de Ambiente de Trabalho ; mais tarde outros as­ nismo se encontra em condições ótimas de traba­
suntos serão abordados. lho, com sua homeostesia perfeitamente assegura­
Ao terminar esta breve notícia, não quero dei­ da, e em regime de rendimento máximo.
xar de assinalar o interêsse que o Departamento As sensações experimentadas nos vários am­
Administrativo do Serviço Público tem tomado bientes podem ser referidas a uma escala de ín­
pela questão, colocando à minha disposição todos dices, proposta por Paulo Sá, com os sete valores
os elementos necessários para tais estudos. seguintes : 1.°, muito frio ; 2.°, frio ; 3.°, fresco ;
4.°, agradavel; 5.°, um pouco quente ; 6.°, quente ;
7.°, muito quente. A zona de conforto térmico
I. TRABALHO E CONFÔRTO T É R M IC O é a que corresponde ao número 4.
Os fatores físicos que caracterizam um am­ Como medida das condições de ambiente que
biente produzem nos indivíduos sensações diver­ correspondem a estas varias sensações, usa-se a
sas, às quais correspondem capacidades funcio­ temperatura efetiva, na qual são levadas em con-
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sideração as temperaturas sêca e úmida do termô­ Colocado o indivíduo em condições desfa-


metro, e a velocidade do ar. Uma mesma tempe­ voraveis, terá êle que lançar mão de mecanismos
ratura efetiva, à qual corresponde a mesma sen­ reguladores de sua homeostesia. Esta mobiliza­
sação térmica, pode ser obtida com grande núme­ ção corresponde a um gasto maior de energia em­
ro de combinações das 3 variaveis acima assinala­ pregada nesta regulação. A fadiga se instala
das. Tanto vale dizer que uma mesma sensação com mais rapidez, a eficiência do trabalho dimi-
é obtida para valores diversos da temperatura sêca nue, e numerosos acidentes podem sobrevir.
por ex., desde que a umidade e a velocidade do ar Focalizada a questão dêste modo, o progra­
sofram as variações necessárias. A temperatura ma da Comissão de Ambiente de Trabalho se
efetiva é uma função da temperatura do ar, da sua delinea por si mesmo. Terá ela que determinar
umidade, e da agitação do mesmo. A zona de inicialmente a zona de conforto térmico para vá­
conforto térmico foi determinada para os Estados rias atividades individuais, quando o metabolismo
Unidos, em numerosas experiências, e a sua varia­ do indivíduo assume valores diferentes e a sua
ção com diversos fatores estudada. O seu valor produção de calor varia.
está compreendido entre 17 e 21 graus de tem­
O primeiro inquérito sôbre o assunto, reali­
peratura efetiva. No Brasil, Jorge Leuzinger e
zado com alunos da Faculdade Nacional de M e­
Paulo Sá calculam que a zona de conforto térmico
dicina, no Curso de Higiene, já está terminado,
esteja compreendida entre 20 e 23 graus de tem­
Nele foram obtidas mais de 1.300 fichas de in-
peratura efetiva, conforme a estação do ano.
•quérito, nas quais se estudaram as correlações
A . Missenard, em numerosos estudos feitos,
existentes entre as sensações térmicas, vestuário,
verificou entretanto que um outro fator, o da ra­
temperatura efetiva e temperatura resultante. Cor­
diação das paredes do ambiente, incluindo como
responde o conforto assim estudado ao tipo de ati­
parede não só as propriamente ditas, mas tambem
vidade puramente intelectual, no qual objetiva­
as superfícies livres dos moveis e utensílios, deve
mente não se poude ainda determinar o aumento
ser levado em consideração na apreciação objetiva
da produção do calor. Novo inquérito se inicia­
da sensação de conforto térmico. Propôs que a
rá dentro de breves dias, na Imprens'a Nacional,
mesma fôsse então medida por um termômetro
onde vários tipos de atividades poderão ser ob­
de sua invenção, ao qual deu o nome de termô­
servados. Êstes resultados permitirão uma apre­
metro resultante, e que dêste modo fôsse a sen­
ciação sôbre as zonas de conforto térmico e a ati­
sação referida à temperatura resultante. A tem­
vidade de trabalho. Obtida, para várias con­
peratura resultante foi estudada em nosso meio,
dições de trabalho, a zona de conforto corres­
por Paulo Sá, que publicou interessante monogra­
pondente, facil será a padronização dos ambientes
fia onde são relatados os seus resultados. A tem­
neste ponto de vista. E um estudo da melho­
peratura resultante correspondente ao conforto tér­
ria do rendimento e da preservação das condições
mico é de 22 graus resultantes no verão.
de saúde obtidas pelas modificações de ambiente,
dirá do interêsse das mesmas.
Fisiologicamente, o grau de sensação térmica Estudos complementares tornam-se necessá­
depende ainda de vários fatores internos, ligados ao rios e estão em andamento. O primeiro é o da
metabolismo térmico do indivíduo. Entre êstes, determinação do metabolismo básico em função
o mais importante é o metabolismo do indivíduo, da ambiência, visto como os resultados assinalados
isto é a sua produção de calor. Por isto, torna-se para o Brasil, muitos em desacordo com o que
importante a determinação da zona de sensação havia sido determinado por Alvaro Osorio de A l­
de conforto para uma série de atividades, nas meida, não são ainda suficientemente numerosos
quais haja consumo maior ou menor de oxigênio. • para formarem doutrina. A Comissão de A m ­
Ainda deve se fazer uma referência ao vestuário, biente de Trabalho, dada a importância do assun­
assunto que se estudará mais tarde. to, terá que se incumbir de aprofundá-lo.
A influência da ambiência sôbre o trabalho O segundo é o da influência do vestuário nas
é devida à necessidade que têm os organismos perdas caloríficas. Essas experiências serão dis'
de conservar constantes determinados valores de cutidas inais tarde, não só no ponto de vista teórico,
seu meio interno, como, por exemplo, a tempera­ como no ponto de vista objetivo do mais alto
tura e a taxa de água. interêsse prático.
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A tiv id a d e s d a C o m is sã o de A m b ie n t e de T r a b a lh o em 1940

R e la tó rio apresentado p e lo D r. C a rlo s C h a g a s ao D r. M o a c y r B rig g s ,


D ire to r d a D ivis ã o de O rg a n iza çã o e C o o rd e n a ç ã o d o D A S P

“Tenho a honra de relatar a V . Excia. as atividades A temperatura da pele como fator objetivo de deter­
da Comissão de Ambiente de Trabalho, que começou a minação do grau de confõrto térmico (Vincent et al.) está
funcionar em fins de agosto de 1940. sendo objeto de estudo. Assim é que mandei construir na
No período de seu funcionamento, realizou a Comis­ oficina E. Guimarães £> Cia., já habituada a trabalhar
são onze reuniões semanais, com a organização de oito para o meu laboratório ,pares de termo-elétricos do tipo
relatórios sôbre as atividades das'oito últimas semanas. Büttner (Grundlagen der Hautthermometrie, Büttncr c Flei-
Nessas reuniões foram definidos inicialmente os objetivos derer) e espero vê-los associados às pesquisas que farei
e programa da Comissão de Conforto Térmico, assim como durante a realização do Curso de Higiene.
foi feita a uniformização das definições técnicas em uso e No estudo da questão do vestuário no conforto tér­
dos termos científicos mais usados. mico, comecei pela repetição das experiências de Paulo
De início, na minha conversa com o Dr. Luiz Simões Sá sôbre o poder de arrefecimento do catatermômetro com
Lopes, havia limitado exclusivamente a finalidade das pes­ camisas de tecidos diferentes, estudando porém a influên­
quisas a serem, realizadas ao estudo do conforto térmico cia da côr nesse poder de transmissão. Para isso, o fo-
e visual. Com a organização traçada posteriormente, fi­ tômetro gradual de Puffrich foi montado com a esfera
cou assentado que, depois da realização das pesquisas de Hubricht e a côr de cada tecido será determinada
iniciais sôbre a parte do conforto térmico propriamente pelo processo de W . Ostwald. Estas experiências estão
dito, outros problemas próprios aos locais do trabalho se-- na sua fase inicial que em pouco tempo será terminada.
rão encarados. No momento a atividade das pesquisas Passaremos depois ao estudo dos tecidos já padronizados
da C .A .T . está se desenvolvendo regularmente e o seu pelo D. F .C . para os vários tipos de vestuário dos ser­
ritmo de trabalho vai se acelerando. vidores do Estado.
Com a colaboração do Dr. Borges Sampaio, consegui O edifício da Imprensa Nacional foi visitado pela
realizar, no anfiteatro de biofísica da Faculdade Nacional C .A .T . e atualmente realizam os Drs. B. Calheiros, R.
de Medicina, um estudo comparativo entre a temperatura Sampaio, H . Conde e N . Rodrigues, nos vários locais
resultante, a temperatura efetiva e o grau de confõrto tér­ do mesmo edifício, determinações de temperatura efetiva
mico. Essa pesquisa foi feita durante as aulas de física e de iluminamento. A Comissão está se aparelhando tam­
biológica e apresenta grande número de dados a serem bém para retomar no próximo ano a questão do metabo­
analisados. Foram colhidas 876 fichas de informações se­ lismo básico do homem tropical e a influência das condi­
melhantes ã ficha anexa e, durante a aula, foram verifi­ ções externas sôbre o mesmo. Essa questão, de extraordi­
cadas as condições de confõrto térmico em períodos dife­ nária importância sob vários aspectos, merece um estudo
rentes, por meio do termômetro resultante de Missenart, imparcial aprofundado e sôbre ela tive a oportunidade de
e a temperatura efetiva 110 fim da aula. Essas experiên­ apresentar pequeno relatório à Comissão. A C .A .T . rece­
cias, tão interessantes pelo número de dados já coligidos, beu da General Electric o oferecimento de uma instalação de
estão sendo cuidadosamente analisadas no momento. Serão acondicionamento de ar para nela serem realizadas as ex­
ainda continuadas no curso de Fisiologia do Curso de periências acima assinaladas.
Higiene que iniciarei nos primeiros dias de janeiro e no Durante as reuniões, foram discutidos vários temas
qual conto obter outras tantas folhas de inquérito. de interesse sôbre o assunto em estudo. O Dr. Herminio
Na sala de mecanografia do D .A .S .P ., foram colo­ Conde apresentou uma proposta de recenseamento ocular
cados termógrafos e higrógrafos para se ter inicialmente dos servidores públicos. A C .A .T . reconheceu as altas
impressão sôbre a variação diurna das condições de tem­ finalidades dêsse censo, mas o encaminhou à Comissão de
peratura e umidade e, possivelmente, sôbre a influência do S .S ., a que o assunto está mais diretamente ligado. O
número de funcionários nas mesmas condições. Essa pes­ Dr. Calheiros teve a oportunidade tambem de, por várias
quisa, da qual está encarregado o Dr. Beltrão Cavalcanti, vezes, prender a atenção da Comissão com explanações
)á está completando o seu segundo mês e os resultados se- sôbre questões relativas ao ambiente de trabalho e às con­
r5o trazidos a V . Excia. dentro de pouco tempo. dições atmosféricas no Rio de Janeiro, tendo demonstrado,
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em uma das últimas reuniões, a utilidade da régua de Todas essas realizações puderam ser alcançadas gra­
cálculo para fins meteorológicos ,por êle construída. No ças à cooperação decisiva dos membros da Comissão de
momento, o Dr. Calheiros está fazendo os ábacos a serem Ambiente de Trabalho e dos Drs. Durval Calheiros, Borges
distribuídos aos membros da Comissão e usados em seus Sampaio, Beltrão Cavalcanti, Nilo Rodrigues e Tito Eneas
trabalhos. Lemos Lopes.
Foi organizado um painel para o ''stand" do D .A .S .P . Os assuntos focalizados pela C .A .T . são de grande
na Feira de Amostras, no qual, ao mesmo tempo que se importância social e econômica. Por isso mesmo, é no mo­
divulgava o interêsse que tem o Govêrno de melhorar as mento imprevisível a extensão que podem tomar os seus
condições de ambiente de trabalho, fez-se, sob a forma de trabalhos. Parece-me, no entanto, que o que foi realizado
pequenos dizeres, a propaganda de conselhos uteis relati­ representa um passo decisivo na organização das normas
vos ao conforto térmico e visual. fundamentais da fisiologia do trabalho no Brasil” .

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