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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS EXATAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E EM
MATEMÁTICA

ABORDAGEM NEUROCIENTÍFICA E DE METODOLOGIAS ATIVAS PARA


SUPERAR O BAIXO DESEMPENHO E A FALTA DE MOTIVAÇÃO NO
APRENDIZADO DE CIÊNCIAS

Projeto de pesquisa apresentado à banca do


processo seletivo para mestrado do programa
de pós-graduação em educação em ciências
e em matemática.

Área de concentração: Educação em Ciências


Temática Específica: Neurociências e Metodologias Ativas
Orientador: Everton Bedin

CURITIBA
2023
1. RESUMO

Este projeto de pesquisa visa investigar como a aplicação das percepções da


neurociência e a adoção de metodologias ativas podem combater o baixo
desempenho e a falta de motivação no ensino e aprendizado de ciências. A pesquisa
explorará a interação entre os processos cognitivos, emocionais e pedagógicos,
buscando desenvolver estratégias eficazes para melhorar a compreensão, o
engajamento e o desempenho dos alunos na área de ciências.
2. DELIMITAÇÃO DO PROJETO

Pode-se dizer que um dos maiores desafios no ensino de ciências na


atualidade é a falta de engajamento e interesse dos alunos. Muitas vezes, os
estudantes podem considerar as ciências como um assunto difícil, abstrato e
desinteressante.
Além disso, a rápida evolução da tecnologia e das informações tem levado a
um desafio adicional: manter os currículos atualizados e relevantes. À medida que
novas descobertas científicas são feitas e a compreensão dos conceitos muda, torna-
se necessário garantir que os materiais e métodos de ensino se mantenham
atualizados.
Tais questões provocam cada vez mais uma desconexão entre os conceitos
científicos e a vida cotidiana dos alunos, resultando em baixo desempenho e falta de
motivação para aprender ciências, o que são desafios persistentes no campo da
educação. Essa situação compromete não apenas o domínio dos conhecimentos
científicos, mas também a capacidade dos alunos de compreender o mundo ao seu
redor.
Superar esses desafios requer abordagens inovadoras para tornar o ensino
de ciências mais envolvente, relevante e prático. Isso pode incluir a incorporação de
abordagens pedagógicas ativas e estratégias baseadas na neurociência.
Este projeto de pesquisa visa investigar como as percepções da neurociência
podem ser aplicadas para enfrentar esses problemas e melhorar a eficácia do ensino
e aprendizado de ciências.
A investigação visa preencher uma lacuna na literatura educacional,
oferecendo recursos práticos para educadores e pesquisadores interessados em
aprimorar o ensino e a aprendizagem nessa área.
3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Investigar como a aplicação de princípios da neurociência e a adoção de


metodologias ativas podem melhorar o desempenho dos alunos e sua motivação para
aprender ciências.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Identificar as principais causas do baixo desempenho e da falta de motivação


no aprendizado de ciências no ensino médio.
• Explorar as bases neurocientíficas relacionadas ao aprendizado e à motivação.
• Investigar o impacto das metodologias ativas no engajamento e aprendizado
dos alunos.
• Desenvolver estratégias pedagógicas baseadas na neurociência e
metodologias ativas para melhorar o ensino de ciências.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Ramos e Pagotti (2008, p.7), “competência cognitiva é um dos


fatores ressaltados no mundo acadêmico, e implica memorizar, comparar, associar,
classificar, interpretar, hipotetizar, julgar, enfim, compreender os fenômenos”.
Tal concepção de competência cognitiva torna as metodologias de ensino
vigentes, na maior parte das escolas brasileiras, impotentemente ineficazes.
Diante disso, os novos conhecimentos da neurociência têm desempenhado
um papel fundamental na transformação da abordagem educacional, visando
melhorar a capacidade dos alunos em se tornarem aprendizes ativos e empenhados
em entender os conteúdos
A neurociência cognitiva nasce de uma interdisciplinaridade de
conhecimentos da psicologia, biologia, medicina, filosofia e outras áreas para
entender como o cérebro e a mente interagem para produzir comportamentos e
processos cognitivos. À medida que a pesquisa avança, a neurociência cognitiva
desempenha um papel crucial na exploração dos mistérios da mente humana e nas
aplicações práticas, como aprimorar o ensino, desenvolver tratamentos para
distúrbios cognitivos e melhorar a compreensão da aprendizagem (OLIVEIRA, 2018).
Para entender como a neurociência contribui para a prática pedagógica,
potencializando a aprendizagem, torna-se necessária a compreensão de alguns
aspectos da neuroplasticidade e das funções nervosas superiores (aquelas
responsáveis pela atenção, memória, motivação, emoções e funções executivas)
(COSTA, 2023).
Segundo Rotta (2016, não p.), é a atuação multi e inter-relacional das funções
nervosas superiores com outras funções cerebrais, através de estímulos e/ou
experiências de vida, que possibilitam a recepção e processamento de aprendizados
pelo cérebro, ou seja, modificação no SNC (Sistema Nervoso Central).
Mediante tais estímulos, o cérebro é capaz de alterar suas estruturas e
funções, criando novas sinapses, aumentando a complexidade das ligações nesses
circuitos e promovendo a associação de circuitos independentes, visto sua natureza
plástica (neuroplasticidade) (COSENZA e GUERRA, 2011). Assim,

A aprendizagem é de essência dialética: provoca mudanças no cérebro e


resulta dessas mudanças [...] No contexto da educação formal, ocorre a
neuroplasticidade guiada, algo que se exige do educador que se pergunte o
quê e como fazer para promove-la. (COSTA, 2023, não p.)

Diante do conhecimento dos mecanismos neurais, os educadores possuem a


possibilidade de mudar a realidade educacional através da utilização de abordagens
mais reflexivas, ativas e críticas, capazes de guiar os alunos rumo a uma
aprendizagem mais significativa (FREGNI, 2019).
Neste contexto surgem as metodologias ativas, as quais são abordagens
pedagógicas que colocam os alunos como protagonistas do processo de
aprendizagem, envolvendo-os em atividades que promovem a reflexão, a participação
ativa e o pensamento crítico.
Dentre as estratégias apresentadas pelas metodologias ativas, podemos
destacar, a nível de exemplificação, a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP),
na qual apresenta-se aos alunos problemas do mundo real relacionados ao conteúdo
a ser aprendido. Assim, estes são incentivados a explorar e analisar o problema,
buscando soluções por meio da pesquisa, colaboração e aplicação de conhecimentos.
Encoraja-se dessa forma os alunos a desenvolverem pensamento crítico e habilidades
para resolução de problemas, além dos conhecimentos específicos relacionados às
questões trabalhadas (BORGES, 2014).
No entanto, pensar de forma crítica e reflexiva envolve um processo cognitivo
que vai além da simples aceitação de informações superficiais. Requer esforço mental
significativo e a disposição de explorar ideias, questionar suposições e considerar
diferentes perspectivas (WILLINGHAM, 2011).
Dessa forma, surge uma problemática crucial estudada pela neurociência que
é o desafio da motivação.
A motivação é um fator fundamental para o sucesso no aprendizado, pois
alunos motivados tendem a se engajar mais, se esforçar e alcançar melhores
resultados.
A Teoria da Autodeterminação é um modelo psicológico que explora as
diferentes formas de motivação e como elas afetam o comportamento humano,
incluindo o contexto escolar. Destaca a importância de promover a motivação
intrínseca dos alunos, ou seja, a motivação que surge de interesses pessoais e
satisfação interna, em contraste com a motivação extrínseca, que é motivada por
recompensas externas ou pressões sociais. A teoria sugere que a motivação é
influenciada por três necessidades psicológicas básicas: autonomia, competência e
relacionamento (MOREIRA, 2014).
A necessidade de autonomia refere-se à capacidade de tomar decisões e agir
de acordo com os próprios valores e interesses. No contexto escolar, isso significa
permitir que os alunos tenham escolhas e controle sobre seu aprendizado. Quando os
alunos têm a oportunidade de escolher tópicos de estudo, métodos de aprendizado e
abordagens de resolução de problemas, eles se sentem mais motivados, engajados
e investidos no processo (MOREIRA, 2014).
A necessidade de competência diz respeito à sensação de eficácia e
habilidade para realizar tarefas desafiadoras. No contexto escolar, os alunos precisam
sentir que estão progredindo e melhorando suas habilidades. Para promover a
motivação, os educadores podem ajustar o nível de dificuldade das tarefas de acordo
com o nível de habilidade dos alunos, fornecer feedback construtivo e criar um
ambiente que valorize o esforço e o crescimento (MOREIRA, 2014).
A necessidade de relacionamento envolve a sensação de conexão e
pertencimento a um grupo. No contexto escolar, isso significa criar um ambiente de
apoio e respeito mútuo, onde os alunos se sintam valorizados e compreendidos.
Professores que demonstram interesse genuíno pelos alunos, incentivam a
colaboração entre colegas e promovem a interação positiva podem fortalecer a
motivação por meio do senso de pertencimento (MOREIRA, 2014).
Ao entender e atender a essas necessidades psicológicas, os educadores
podem cultivar um ambiente de aprendizado que promove a motivação intrínseca dos
alunos. Isso não apenas aumenta o engajamento e a realização acadêmica, mas
também contribui para o desenvolvimento de alunos autônomos, confiantes e
responsáveis (MOREIRA, 2014).
5. METODOLOGIA

Será realizado um estudo de caso múltiplo, incorporando características de


pesquisa-ação. Isso permitirá uma análise aprofundada das intervenções em
contextos educacionais específicos.
A abordagem será de caráter misto, combinando métodos quantitativos e
qualitativos.
Primeiro, uma revisão abrangente da literatura será realizada para identificar
as principais causas do baixo desempenho e da falta de motivação no ensino de
ciências, bem como para examinar as descobertas da neurociência relacionadas ao
aprendizado e os estudos acerca da eficácia e/ou ineficácia das metodologias ativas
aplicadas.
Em sequência será conduzida uma pesquisa empírica envolvendo
professores e alunos de escolas secundárias. Questionários serão aplicados aos
alunos para avaliar seu nível de motivação, interesse e percepção das aulas de
ciências. Entrevistas com professores serão conduzidas para entender suas práticas
de ensino e percepções sobre as metodologias ativas. Além disso, serão realizadas
observações em sala de aula para analisar a implementação das estratégias
pedagógicas.
A análise dos dados qualitativos será conduzida por meio da análise de
conteúdo, identificando temas recorrentes nas percepções dos participantes sobre as
intervenções. Os dados quantitativos serão submetidos a análises estatísticas
descritivas e inferenciais para avaliar o impacto das abordagens no desempenho e
motivação dos alunos.
Com base nas descobertas da revisão de literatura e nos dados da pesquisa
empírica, serão desenvolvidas estratégias pedagógicas inovadoras que aproveitem
os princípios da neurociência e das metodologias ativas para melhorar o ensino de
ciências.
O projeto concentrará sua investigação no contexto do ensino médio, com um
foco específico nas disciplinas de química e física. A pesquisa será realizada em
escolas públicas da cidade de Curitiba-PR, objetivando alunos do segundo ano do
ensino médio.
Nesta fase, os alunos geralmente são expostos a conceitos mais complexos
nas ciências, que podem exigir mais abstração e raciocínio lógico, o que para a
maioria é intimidante. Além disso, neste período, grande parte dos alunos estão se
tornando mais conscientes de seus interesses individuais e preferências e
simplesmente não se sentem atraídos pelas ciências, não conseguem relacioná-la
com sua vida real e muito menos enxergar sua importância para seu futuro. Estes
componentes podem gerar resistência e desmotivação.
6. CRONOGRAMA

FASE 1: PESQUISA E PLANEJAMENTO

Revisão de literatura e possível reestruturação do projeto Março e Abril de 2024

Identificação e seleção das escolas participantes Maio de 2024

Desenvolvimento do plano de intervenção pedagógica Junho de 2024

Preparação e Adaptação dos materiais didáticos Agosto de 2024

FASE 2: APLICAÇÃO

Realização da Intervenção pedagógica nas escolas Setembro de 2024


Coleta de dados Qualitativos (Observações e grupos
Outubro de 2024
focais)
Coleta de dados quantitativos (questionários e
Novembro de 2024
entrevistas)
FASE 3: ANÁLISE

Análise dos dados qualitativos (Análise de conteúdo) Fevereiro de 2025

Análise dos dados quantitativos Fevereiro de 2025

Discussão dos resultados e elaboração de conclusões Março de 2025

FASE 4: VERIFICAÇÃO
Escrita do Relatório de Qualificação e preparação para a
Abril de 2025
Qualificação da pesquisa
Revisão e Ajustes do Relatório de Qualificação Maio de 2025

Qualificação da pesquisa Maio de 2025

FASE 5: PRODUÇÃO

Produção da Dissertação Junho e Julho de 2025

Revisão da Dissertação Agosto de 2025

Preparação para a defesa Setembro de 2025

FASE 6: CONCLUSÃO

Defesa da pesquisa Novembro de 2025


7. RESULTADOS ESPERADOS

Espera-se que este projeto contribua para o desenvolvimento de estratégias


pedagógicas mais eficazes para o ensino de ciências, abordando o baixo desempenho
e a falta de motivação dos alunos.
Os resultados podem fornecer informações valiosas para educadores, escolas
e formuladores de políticas educacionais, podendo contribuir para o desenvolvimento
de práticas educacionais mais eficazes e baseadas em evidências, abordando as
preocupações relacionadas ao ensino de ciências. Isso pode resultar em um aumento
no desempenho dos alunos, no interesse pela disciplina e na formação de uma nova
geração de estudantes motivados e engajados no aprendizado científico.
8. REFERÊNCIAS

BORGES, Tiago Silva; ALENCAR, Gidélia. Metodologias ativas na promoção da


formação crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático
na formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu em Revista. Jul/Ago 2014,
Ano 03, n° 04, p. 119-143.

COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende.


Porto Alegre (RS): Artmed, 2011.

COSTA, Raquel. Neurociência e Aprendizagem. Ver. Bras. Educ. São Paulo. Fev.
2023. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/ZPmWbM6n7JN5vbfj8hfbyfK/?lang=pt#.
Acesso em 13 Ago. 2023.

FREGNI, F. Critical thinking in teaching and learning: the nonintuitive new science of
effective learning. Edição Kindle, 2019.

MOREIRA, Ana Elisa da Costa. Relações entre as estratégias de ensino do professor,


com as estratégias de aprendizagem e a motivação para aprender de alunos do ensino
fundamental 1. 2014. 118 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Estadual de Londrina, Centro de Educação, Comunicação e Artes, Programa de Pós-
Graduação em Educação, 2014.

OLIVEIRA, Clayton Machado de. Contribuições da neurociência cognitiva para refletir


sobre o processo de ensino e aprendizagem em ciências: conhecendo e
reconhecendo as potencialidades do cérebro. Maringá, 2018.

RAMOS, M. T. O; PAGOTTI, A. W. Avaliando o pensamento operatório em futuros


professores. Em: Donatoni, A.R. (Org). Avaliação Escolar e Formação de Professores.
Campinas, SP: Alínea. 2008.

WILLINGHAM, D. T. Por que os alunos não gostam da escola? Respostas da ciência


cognitiva para tornar a sala de aula atrativa e efetiva. Tradução de Marcos Vinícius
Martim da Silva. Revisão técnica de José Fernando Bitencourt Lomônaco. Porto
Alegre (RS): Artmed, 2011.

ZALUSKI, F.C; OLIVEIRA, T.D. METODOLOGIAS ATIVAS: UMA REFLEXÃO


TEÓRICA SOBRE O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM. In: Encontro de
Pesquisadores em Educação à distância no Congresso Internacional de Educação e
Tecnologias. 2018, Rio Grande do Sul. Anais UFSC – Programa de pós-graduação em
Educação.

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