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CURSO DE

MOBILIZAÇÃO NEURAL

MÓDULO III

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MÓDULO III

8 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DO QUADRANTE SUPERIOR - TESTES


NEURAIS PARA OS MEMBROS SUPERIORES E REGIÃO DORSAL

A avaliação do quadrante superior inclui a utilização do Upper Limb Tension


Test (ULTT) e suas variações (ULTT1, ULTT2a, ULTT2b e ULTT3). O objetivo da
manobra é colocar em tensão o plexo braquial (figura 50) (NETO, 2010).
O plexo braquial é um conjunto de nervos que partem da medula espinhal e
inervam os membros superiores. Suas raízes, que saem dos forames intervertebrais,
são cinco: C5, C6, C7, C8 e T1. As raízes dão origem aos troncos superior (C5 e
C6), médio (C7) e inferior (C8 eT1).

FIGURA 50 – PLEXO BRAQUIAL

FONTE: Werneck, 2010.

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8.1 TESTE DAS RAÍZES CERVICAIS (ULTT)

Para testar as raízes cervicais, o paciente deve ser posicionado em decúbito


dorsal, com a mão do membro a ser testado repousando na região do abdômen. O
terapeuta deve estar sentado atrás da cabeça do paciente. Com a mão cefálica, o
terapeuta envolve a região posterior do pescoço do paciente, e com a mão caudal
realiza uma depressão do ombro, estabilizando-o. Estabilizando o ombro em
depressão, realizar uma lateroflexão contralateral do pescoço do paciente. Observar
se o paciente refere dor ou formigamento pelo trajeto dos nervos (figura 51) (NETO,
2010).

FIGURA 51 – ULTT

FONTE: arquivo pessoal, 2010.

O mesmo teste pode ser realizado de forma ativa. O paciente deve ser
posicionado em pé com os membros superiores estendidos ao longo do corpo.
Pede-se ao paciente para primeiramente realizar abdução de ombro com a cervical
neutra. Faz-se o mesmo com a cervical em lateroflexão contralateral e depois
homolateral (figura 52). Se houver diminuição da ADM ou se os sintomas agravarem
em (NETO, 2010):

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 Lateroflexão contralateral: sensibilização;
 Lateroflexão homolateral: compressão.

FIGURA 52 – ULTT ATIVO

FONTE: arquivo pessoal, 2010.

As variações do teste ULTT objetivam gerar tensão em um nervo específico:


ULTT1 (nervo mediano), ULTT2a (nervo mediano), ULTT2b (nervo radial) e ULTT3
(nervo ulnar) (NETO, 2010).

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8.2 ULTT 1 – AVALIAÇÃO DO NERVO MEDIANO

O nervo mediano (figura 53) é uma ramificação do plexo braquial


(fascículos lateral e medial). Inerva quase todos os músculos flexores do antebraço,
exceto os que o nervo ulnar é responsável (flexor ulnar do carpo e porção medial do
flexor profundo dos dedos). Inerva também os músculos pronadores redondo e
quadrado, e quase toda a face palmar cutânea das mãos. Na mão também é
responsável pela inervação dos músculos da região tenar, exeto o adutor do polegar
(WIKIPÉDIA, 2010).

FIGURA 53 – NERVO MEDIANO

FONTE: Disponível em: <www.neronimassimiliano.com/page17/page18/page18.html>. Acesso em:


10 mar. 2010.

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8.2.1 Indicações

Este teste é indicado para pacientes com sintomas localizados no braço,


cabeça, pescoço ou coluna torácica. Pode ser realizado no primeiro exame do
paciente se as indicações do exame físico e subjetivo apontam para um
comprometimento da mecânica do sistema nervoso como componente da disfunção
do paciente (BUTLER, 2003).

8.2.2 Precauções

Antes de se realizar qualquer uma das manobras ULTT, algumas


precauções devem ser tomadas (BUTLER, 2003):
 Observar as contraindicações relativas e absolutas para o uso da técnica.
 Atentar-se para o fato de que é muito mais fácil agravar sintomas dos
membros superiores do que dos membros inferiores. Portanto, cautela nos
movimentos é importante.
 O ULTT é um teste complexo e que envolve muitas articulações e
músculos. Pode ser fácil esquecer que algumas destas estruturas (por exemplo,
uma articulação zigoapofisária com entorse) podem ser irritadas durante o teste.

8.2.3 Procedimentos

Para realizar o ULTT 1, o paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal;


a seguinte sequência de movimentos deve ser realizada pelo terapeuta (figura 54):
 Abdução de ombro;
 Depressão de ombro;

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 Supinação e extensão de punhos e dedos;
 Rotação externa do ombro;
 Extensão do cotovelo;
 Inclinação lateral da cabeça.

FIGURA 54 – ULTT 1 (SEQUÊNCIA DE MOVIMENTOS)


Realizar abdução de ombro

Realizar depressão do ombro usando a coxa do terapeuta

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Realizar supinação e extensão do punho e dedos

Realizar rotação externa do ombro

Realizar extensão do cotovelo

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Realizar inclinação lateral da cabeça

FONTE: arquivo pessoal, 2010.

Após obter alguma resposta positiva do paciente quanto à reprodução das


queixas e/ dor durante o teste, ainda faltam duas etapas para confirmar o exame:
 A diferenciação estrutural: procedimento que consiste basicamente no
alívio dos sintomas do paciente ou aumento da ADM de extensão de cotovelo ao se
aliviar a tensão sobre o nervo. No ULTT1, pode-se fazer isso de duas formas:
retornando o punho e dedos para uma posição neutra e repetindo a extensão de
cotovelo, ou retornando a cabeça do paciente para a linha média e repetindo o teste.
Em ambos os casos, se houver redução da dor e sintomas e aumento da ADM de
extensão de cotovelo, considera-se que exista uma tensão neural adversa no nervo
mediano.
 A comparação com o membro contralateral: se a resposta obtida for
exatamente igual, mesmo com a reprodução de dor e limitação de ADM, então
existirá a dúvida se esta seria uma resposta normal da paciente.

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8.2.4 Respostas normais

São respostas consideradas normais observadas em pacientes submetidos


ao ULTT1 (BUTLER, 2003):
 Alongamento profundo ou dor na fossa cubital estendendo para baixo nos
aspectos anterior e radial do antebraço e para o lado radial da mão.
 Sensação de formigamento no polegar e primeiros três dedos.
 Alongamento na área anterior do ombro.
 A flexão lateral da coluna cervical contrária ao lado testado aumenta a
resposta do teste.
 A flexão lateral da coluna cervical para o lado testado diminui a resposta
do teste.

8.3 ULTT 2 - AVALIAÇÃO DO NERVO MEDIANO (ULTT 2a) OU RADIAL (ULTT 2b)

O ULTT2 é utilizado para avaliar o nervo mediano (ULTT 2a), quando


realizado com depressão da cintura escapular e rotação externa de ombro, e avaliar
o nervo radial (ULTT 2b), quando realizado com depressão da cintura escapular e
rotação interna do ombro. Da mesma forma que no teste anterior, deve-se proceder
à diferenciação estrutural e à comparação com o membro contralateral (BUTLER,
2003).

8.3.1 Indicações

Como o ULTT, o ULTT2 é indicado para pacientes com sintomas localizados


no braço, cabeça, pescoço ou coluna torácica. Torna-se essencial quando há
indicações subjetivas de um componente de tensão adversa, sobretudo com

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atividades que envolvam a depressão do ombro. Sintomas na distribuição do nervo
radial e desordens apresentadas com diagnóstico clínico de Cotovelo de Tenista e
doença de Quervain também são indicativas para o teste (BUTLER, 2003).

8.3.2 Procedimentos

O teste ULTT 2a, para avaliar o nervo mediano, é realizado com o paciente
em decúbito dorsal. A seguinte sequência de movimentos deve ser realizada (figura
55):
 Inclinação contralateral da cabeça;
 Depressão do ombro;
 Extensão do cotovelo;
 Rotação externa do ombro;
 Extensão do punho e dedos;
 Abdução de ombro.

FIGURA 55 – ULTT 2A (SEQUÊNCIA DE MOVIMENTOS)


Inclinação contralateral da cabeça

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Realizar depressão do ombro usando a coxa do terapeuta

Extensão do cotovelo

Realizar rotação externa do ombro

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Extensão do punho e dedos

Abdução de ombro

FONTE: arquivo pessoal, 2010.

O teste ULTT2b avalia o nervo radial. O nervo radial (figura 56) é formado
por uma ramificação do fascículo posterior do plexo braquial, sendo responsável por
inervações motoras e/ou sensitivas no braço, antebraço e mão. Inervação sensitiva:
face lateral inferior do braço, face posterior do braço, face posterior do antebraço,
face dorsal da mão (exceto a parte ulnar). Inervação motora: compartimentos
posteriores do braço (tríceps) e antebraço (ineva todos os músculos do
compartimento, com exceção dos extensor longo do polegar, extensor curto do
polegar, extensor do index e abdutor longo do polegar (WIKIPEDIA, 2010).

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FIGURA 56 – NERVO RADIAL

FONTE: Werneck, 2010.

O teste é realizado com as posições iniciais do ULTT2a, porém


rotacionando-se internamente o ombro do paciente. A seguinte sequência de
movimentos deve ser realizada (figura 57):
 Inclinação contralateral da cabeça;
 Depressão do ombro;
 Extensão do cotovelo;
 Rotação interna do ombro;
 Flexão do punho e dedos;
 Flexão do polegar, dedos e desvio ulnar.

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FIGURA 57 – ULTT 2B (SEQUÊNCIA DE MOVIMENTOS)
Inclinação contralateral da cabeça

Realizar depressão do ombro usando a coxa do terapeuta

Extensão do cotovelo

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Realizar rotação interna do ombro

Flexão do punho e dedos

Flexão do polegar, dedos e desvio ulnar

FONTE: arquivo pessoal, 2010.

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8.3.3 Respostas normais

Não há estudos específicos sobre respostas esperadas durante a realização


do ULTT2, o que torna importante a comparação com o membro contralateral.
Sintomas devem ser esperados nos campos de inervação dos nervos mediano e
radial e podem ser considerados normais quando leves (BUTLER, 2003).

8.4 ULTT3 – AVALIAÇÃO DO NERVO ULNAR

O nervo ulnar (figura 58) é uma ramificação do plexo braquial, mais


exatamente do fascículo medial. Ele pode ser apalpado na parte medial do cotovelo,
entre o epicôndilo medial do úmero e o olécrano. A inervação dele é responsável por
metade do quarto dedo e todo o quinto dedo, além do músculo flexor ulnar do carpo
e parte medial dos músculos flexores profundos dos dedos (WERNECK, 2000).

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FIGURA 58 – NERVO ULNAR

FONTE: Werneck, 2010.

8.4.1 Indicações

O ULTT 3 é indicado em todas as desordens em que há suspeita de


envolvimento do nervo ulnar, como no Cotovelo de Golfista, por exemplo.

8.4.2 Procedimentos

O teste ULTT 3 é utilizado para reproduzir sintomas relacionados com o


nervo ulnar e suas origens. É útil para detectar lesões de raízes nervosas C8 e T1,
bem como em disfunções do membro superior, como o Cotovelo de Golfista. Da

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mesma forma que nos testes anteriores, deve-se proceder à diferenciação estrutural
e à comparação com o membro contralateral. Realizar a seguinte sequência de
movimentos (figura 59):
 Estabilizar a cintura escapular com depressão do ombro;
 Abdução do ombro;
 Extensão do punho e rotação externa do ombro;
 Flexão do cotovelo;
 Aumentar abdução do ombro (mão/orelha);
 Inclinação contralateral da cabeça.

FIGURA 59 – ULTT 3 (SEQUÊNCIA DE MOVIMENTOS)


Estabilizar a cintura escapular com depressão do ombro

Abdução do ombro

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Extensão do punho e rotação externa do ombro

Flexão do cotovelo

Aumentar abdução do ombro (mão/orelha)

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Inclinação contralateral da cabeça

FONTE: arquivo pessoal, 2010.

8.4.3 Respostas normais

Não há estudos específicos sobre respostas esperadas durante a realização


do ULTT3, o que torna importante a comparação com o membro contralateral. Este
teste, não normalmente, não provoca tantos sintomas em indivíduos normais quanto
o ULTT1 e o ULTT 2, porém algumas pessoas podem referir formigamento ou
queimação na distribuição do nervo ulnar na mão ou no lado medial do cotovelo e
podem ser considerados normais quando leves (BUTLER, 2003).

8.5 TESTE DE FLEXÃO CERVICAL PASSIVA (PNF)

O PNF testa as raízes cervicais (figura 60). Existem oito pares de nervos
cervicais colocados sobre a vértebra de seu número correspondente, com exceção
do oitavo nervo cervical, que emerge abaixo da sétima vértebra cervical
(WERNECK, 2000).

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FIGURA 60 – RAÍZES NERVOSAS DA REGIÃO CERVICAL

FONTE: Netter: Atlas de anatomia humana, 2000.

8.5.1 Indicações

Este teste é indicado para todas as desordens da coluna vertebral. Pode


também ser indicado para sintomas de cefaleias e braquialgias com origem na
coluna vertebral (BUTLER, 2003).

8.5.2 Procedimentos

O PNF é realizado com o paciente em decúbito dorsal, com os membros


mantidos juntos ao longo do corpo. O terapeuta passivamente flexiona a coluna
cervical do paciente, aproximando o queixo do tórax. Uma mão pode ser utilizada
para estabilizar o tórax ou ambas as mãos podem segurar a cabeça (figura 61).

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FIGURA 61 – PNF

FONTE: arquivo pessoal, 2010.

8.5.3 Respostas normais

O PNF é um teste indolor e será considerado positivo se reproduzir os


sintomas do paciente (BUTLER, 2003).

9 TRATAMENTO COM MOBILIZAÇÃO NEURAL

9.1 PONTOS GERAIS PARA O TRATAMENTO

Muitos terapeutas mobilizam inadvertidamente o tecido nervoso e acabam


tensionando de forma inadequada os nervos, seus ramos e meninges nervosas,
causando lesões e desencadeando dores neurogênicas (BUTLER, 2003).
Para utilizar a técnica de mobilização neural é necessária destreza manual,
conhecimento de neurobiomecânica e reavaliação constante do paciente. A

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aplicação correta desta técnica não é uma habilidade rapidamente adquirida.
Demanda treinamento e sensibilidade manual (BUTLER, 2003).

9.2 MANOBRAS DE MOBILIZAÇÃO NEURAL PARA O QUADRANTE SUPERIOR

9.2.1 Mobilização de raízes com desvio lateral

O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal, com a mão do membro


a ser tratado repousando na região do abdômen. O terapeuta deve ser posicionado
sentado atrás da cabeça do paciente. Com uma mão na região cervical, apoiando o
esterno na cabeça do paciente. Com a outra, estabiliza-se o ombro homolateral.
Realizam-se oscilações transversais na região cervical, sem perder a estabilidade do
ombro (figura 62).

FIGURA 62 – MOBILIZAÇÃO DE RAÍZES COM DESVIO LATERAL

FONTE: arquivo pessoal

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9.2.2 Tração cervical oscilatória

O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal, com a mão do membro


a ser tratado repousando na região do abdômen. O terapeuta deve ser posicionado
sentado atrás da cabeça do paciente. Com a polpa dos dedos médios ou
indicadores, o terapeuta realiza bilateralmente o contato com o pilar articular da
vértebra superior ao nível da raiz a ser trabalhada. Realizam-se trações suaves com
os dedos em direção oblíqua para cima e para frente (figura 63).

FIGURA 63 – TRAÇÃO CERVICAL OSCILATÓRIA

FONTE: arquivo pessoal

9.2.3 Tração sustentada

O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal e o terapeuta deve ser


posicionado sentado atrás da cabeça do paciente. O terapeuta posiciona os dedos
que tomem contato com o nível metamérico a ser trabalhado. Realiza-se uma flexão
e uma lateroflexão contralateral até o nível a ser trabalhado (abrir a faceta articular).
Logo após, uma tração suave e sustentada por aproximadamente um minuto (figura
64).

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FIGURA 64 – TRAÇÃO SUSTENTADA

FONTE: arquivo pessoal

9.2.4 Testes neurais

Os testes neurais (ULTT / ULTT1 / ULTT2a e 2b e ULTT3) podem ser


utilizados como manobras de tratamento. Após o limite de estiramento sem dor ou
alguma barreira de movimento ter sido alcançada, inicia-se o tratamento por meio de
movimentos oscilatórios e consecutivos da extremidade envolvida por
aproximadamente um minuto, permitindo ao paciente um descanso de três minutos,
podendo-se repetir a aplicação por mais duas vezes (figura 65).

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FIGURA 65 – TRATAMENTO POR MEIO DE POSIÇÕES DE TESTES NEURAIS
ULTT 1 ULTT 2a

ULTT 2b ULTT 3

FONTE: arquivo pessoal, 2010.

FIM DO MÓDULO III

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