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l. A
PLANO TRIENAL DE DESENVOLVIMENTO
ECONOMICO E SOCIAL
(1963-1965 )
ROBERTO B. M. MACEDO
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reivindica~órias, volt~~as principalmente para o alcan-
plebiscito de janeiro de 1963, havia recuperado os po- ce de reajustes salanals cada vez mais elevados face à
d~res do presidencialismo. O último gabinete parla- intensific~ção do processo inflacionário. '
mentarista foi então substituído por um ministério que De um modo geral, constatava-se que o País estava
na área econômico-financeira tinha como expoentes os em uma situação algo desordenada e em busca de um
Srs. San Tiago Dantas, Ministro da Fazenda, e Celso caminho que lhe assegurasse a solução de seus pro-
Furtado, Ministro do Planejamento. blemas mais prementes. Surgindo nestas circustâncias;
Para melhor compreensão dos objetivos a que se o Plano Trienal tornou-se. alvo de grande inter~se e
propôs esse Plano, vale a pena recordar alguns aspectos de grandes esperanças e, consistentemente com o qua-;
importantes da situa;:ão geral da economia do País quan- dro geral do País naquela época, cujos traços gerais fo-
do foi divulgado o Plano Trienal. No que se refere ram acima esboçados, o Plano Trienal procurava in-
ao desenvolvimento econômico, o País vinha da fase de terpretar as aspirações econômico-sociais mais imedia-
euforia do período 1957-1961 em qlle à intensificação tas da coletividade brasileira, fixando-as como objeti-
do processo de substituição de importações propiciou vos do Plano. De uma forma sucinta, este visava a
um !crescimento do Produto Interno Bruto à elevada recuperação do ritmo de desenvolvimento observado no
taxa média de 6,9% ao ano. Entretanto, o ano de período 1957-1961, em tôrno de 7% ao ano; a con-
1961 havia apresentado um crescimento relativamente tenção progressiva do processo inflacionário; algumas
menor, em tomo de 5%, já anunciando, desta forma, correções na distribuição de rendas, quer sob o aspecto
o período de relativa estagnação que então se seguiria. pessoal quer sob o aspecto regional; a realização das
Algo de mais grave ocorria com o processo infla- ;1
reformas de base (administrativa, bancária, fiscal e
cionário, com o ano de 1962 apresentando um cres- agrária) 'e o reescalonamento da dívida externa. Po-
cimento do nível geral de preços à taxa recorde de 51 % J de-se notar, assim, que o .Plano Trjenal procurava al-
e no setor externo, como conseqüência de sucessivos '( cançar um conjunto de objetivos que, de um modo
déficits no balanço de pagamentos, acumulava-se a I
J geral, eram bastante consentâneos com os problemas
dívida externa brasileira.
enfrentados pelo País naquela época.
Politicamente, o País estava em ebulição, sendo Não se procurará aqui descrever o Plano Trienal
o ano de 1962 marcado por uma série de acontecimentos em seus detalhes -nem tampouco criticá-Io segundo as-
de felêvo. O regime parlamentarista, erigido tão-so- pectos pormenorizados da teori~ do planejamento. Re-
mente com a finalidade de contornar a crise decorrente
sumos e apreciações críticas desse Plano são encon-
da renúncia do Sr. Jânio Quadros em 1961, começou
trados com facilidade nas publicações dli época e abran-
a produzir crises políticas tão logo deixou a chefia do
gabinete o Sr. Tancredo Neves, cujos nove meses de gem aspectos os mais diversos, indo desde a parte me-
atuação como o primeiro premier do parlamentarismo todológica do Plano, como em João Paulo de Almeida
foram marcados por acentuada tranqüilidade. A recusa Magalhães!, até a jiusência de fontes nos quadros es-
pelo Congresso do nome do Sr. San Tiago Dantas como tatísticos do texto oficial, como frisa Werner Baer2.
nõvo primeiro-ministro, a renúncia do Sr. Auro de Embora com o título pomposo de "Plano Trienal
Moura Andrade à indicação do seu nom~, as eleições' de Desenvolvimento Econômico e Social", não tinha
parlamentares de outubro, a campanha do plebiscito o Plano maiores pretensões que a de se constituir num
sóbre o parlamentarismo e o debate sóbre as refor- esfôrço embrionário visando a efetiva implantação do
mas de base, tudo isso contribuía para conturbar o planejamento econômico no País.:f: de seu próprio
ambiente político da Nação. texto a afirmativa de que" . .No planejamento, como
Socialmente, um clima de liberdade ensejava rei- na cartografia, o mais prático é iniciar o trabalho com
vindicações sociais bastante amplas, muitas das quais (1) "Planejamento e a Experi!ncia Braslléira", RI!...I.ta Braslllllra
fermentadas por interesses políticos. O movimento sin- dI! Economia, dezembro de 1962.
dical atuava com intensidade e eram comuns as greves . (2) "Observações sbbre O Plano TrienaI", RI!.../.ta Brasllll/ra dI!
Ecdnomla, dezembro de 1962. .
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definir uma nova estratégia de política econômica'. Ela- da oferta global capaz de satisfazer ao incremento da
borado sob a euforia dos resultados do período 1957- renda monetária. Não se pode negar algum crédito ~
-1961 e desconhecendo ainda o mau resultado de 1962, li) este tipo de raciocínio mas deve-se considerar que o
não foi possível ao Plano vislumbrar o estancamento do mecanismo acima descrito abrange apenas uma parte
'processo de substituição de importações'e é evidente dos efeitos do setor externo em termos de pressão in-
que., se o diagnóstico já houvesse captado este estan- ,
flacionária: não foram considerados os efeitos sobre
camento, toàa uma estratégia especial deveria ser de- os preços dos depósitos sobre a compra de. cambiais,
lineada com vistas não só a substituir no proçesso de cujos certificados~eram negociados pelos importadores
desenvolvimento do País a parcela de dinamismo até ao custo de um deságio elevado que acabava por inci-
então provida pela substituição de importações, como dir sóbre os preços; não se levou em conta que o se-
também a evitar que uma insistência pouco criteriosa
( tor externo pode também exercer pressões sôbre a
na continuação desse processo viesse a prejudicar a oferta monetária, na medida em que a compra de cam-
eficiência média da economia como um todo. Este biais dos exportadores venha, eventualmente, a supe-
último aspecto é importante porque a substituição de rar a venda de cambiais aos importadores; ou que, caso
importações já havia atingido a fase dos bens de capi- esté último mecanismo funcione ao contrário, o setor
tal cuja produção exige um mercado de dimensões bas- externo pode fornecer recursos monetários capazes de
tante amplas que possa assegurar os benefícios das aliviar parte da pressão sobre a oferta monetária exer-
economias de escala de produção. Em conseqüência, cida por outros setores. Em suma, não se tomou co-
quando se insiste na produção de bens em escala de nhecimento de algumas vinculações importantes do se-
produção econômicamente inviável, fica prejudicada a tor externo com o problema inflacionário, principal-
eficiência média da economia como um' todo, já que a mente em seus aspectos monetários.
produção se faz a um custo mais elevado. No setor público, o persistente déficit do Tesouro
Também no que se refere ao processo inflacioná- Nacional é basicamente atribuído ao fato de o Governo
rio, o escasso conhecimento que na época se tinha. do '. :Federal ter intensificado os investimentos públicoS en-
mesmo não permitiu ao Plano diagnosticá-lo de ma- quanto promovia uma, reforma cambial-fiscal que veio
. neira mais exata. Basicamente, o Plano atribui ao setor " a privá-Io de substanciais recursos de caixa. Tal re-
externo e ao setor público a responsabilidade pela ele- forma consistiu na eiiminação das taxas múltiplas de
vação de preços.. No setor externo a pressão inflacio- câmbio, sistema este que proporcionava recursos ao
nária era associada a causas estruturais e atuava, em Governo na forma de diferenças de câmbio (ágios me-
linhas gerais, da seguinte forma: em decorrência da nos bonificações), recursos que em 1956 alcançaram
limitação da capacidade de importar, fazia-se sentir 42% da receita orçamentária e em 1961 reduziram essa
a necessidade de substituir importações pela produção participação a apenas 2%, praticamente desaparecendo
em 1961 (p. 42). Ao déficit governamental, atribui-se
interna; esta substituição implicava em substituir pro-
também a origem em desequilibrios estruturais, ao ex-
dução primária por outra mais capitalizada, daí de-
plicar o Plano que". .. em face das modificações es-
correndo importantes modificações na estrutura pro-
truturais ocorridas na economia, com aumento rápido
dutiva; face ao impulso da substituição, gerava-se ren- !f
da urbanização e crescimento das indústrias pesadas,
da monetária que logo se traduzia em maior demanda era perfeitamente natural que os investimentos infra-
J
de importações; não podendo ser satisfeita tal deman- -estruturais aumentassem em termos relativos, exigin-
da, sucediam-se pressões inflacionárias até que a estru- do-se maior esforço do Governo, tanto na prestação
tura produtiva interna e a composição das importações de serviços, como no processo de formação de capital
se modificassem no sentido de permitir um aumento e maior participação do setor público no dispêndio to-
~4) Veja-se, a respeito, dentre outros estudos, "The Growth and
-
Decline of Import Substitution in Brazil" Economic B"lútln for Latln
tal, à semelhança. do que ocorreu em todos os países
A.merlca - Nações Unidas - março de 1964. I em rápida in~ustria1ização".
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o diagnóstico do processo inflacionário foi, como No caso da .elevação da carga fiscal por exemplo
se vê, bastante simpli~icado. Além das falhas já apon- não se sabe ainda de que forma pode; Governo tor~
tadas quanto ao setor~externo e embora o setor públi- ná-Ia compatível com o estímulo aos investimentos do
co fosse realmente o principal responsável pela press'ão setor privado. De um modo geral, todos os últimos
inflacionária, não se tocou, por exemplo, na questão planos de Gov'erno colocam este último objetivo como
salarial, provàvelmente pelo receio de hostilizar parte imprescindível ao alcance de uma elevada taxa de de-
das fôrças políticas que então apoiavam o Governo. senvolvimento; entretanto, na luta contra o déficit go-
Na parte em que o Plano delineia as diretrizes gerais ..: vernamental o aumento da carga tributária é sempre
para a estabilidade interna; menciona-se rapidamente um armamento convencional e, com isto, pode-se' re-
a questão salarial, mas com um enfoque mais voltado duzir as taxas de retorno dos investimentos privados, o
para a programação dos investimentos, lembrando o que implica em inibi-Ios.
Plano que". .. a política salarial pode aumentar ou Na redução do dispêndio público programado, pro-
reduzir o montante de recursos disponíveis para inves- curou o Plano atuar basicamente sobre os subsídios ao
timentos públicos e privados" (p. 55). O que existe consumo de certos produtos como o trigo, combustí-
de mais importante em têrmos da' questão salarial é a veis e lubrificantes que, na época, gozavam deste pri-
previsão de um aumento de 40% para o funcionalismo vilégio. Além disto, previa-se a redução dos déficits
federal. Embora tal acréscimo na época não permitis- das empresas concessionárias de serviços públicos no
se a reconstituição dos salários reais, equivalendo, des- setor de transportes e comunicações, via elevação de
ta forma, a uma política salarial de caráter restritivo, tarifas. Medidas desta natureza foram mais de uma vez
o Governo, como se verá posteriormente, acabou por tentadas pelo Governo Federal e somente foram rea-
não conseguir fazer cumprir a sua meta no que tange lizadas com maior sucesso' após 1964. Quando são
ao funcionalismo federal. Além disso, não chegou a tomadas, gera-se,. de imediato, o que se convencionou
estabelecer outras normas para os reajustamentos no chamar de "inflação corretiva", eufemismo que enco-
âmbito da administração pública e do setor privado.
bre uma elevação brusca e geral de preços, se bem que
Considera o Plano que, isolado (!) o problema possa constituir-se num mal necessário, na medida em
da política salarial e o comportamento do setor exter- que conduza realmente a um sistema econômico ope-
no, a possibilidade de corrigir o desequilíbrio inflacio- rando com maior eficiência. Verifica-se, entretanto,
nário iria depender basicamente da forma de finan- que, quando o arcabouço político-institucional em que
ciar o déficit do Tesouro e da política de crédito ao está inserido o sistema econômico permite a livre ma-
setor privado (p. 55). Para reduzir a pressão infla- nifestação das pressões desenvolvidas pelos que se con-
cionária do Tesouro sem prejudicar a taxa de cresci- sideram prejudicados com as medidas racionalizantes
mento da economia, a estratégia delineada no Plano que o Governo procura adotar, no sentido da elimina-
baseia-se nas seguintes medidas: a) elevação da carga ção desses subsídios, torna-se difícil não somente a
fiscal; b) redução do dispêndio público programado; exec~ão das mesmas como também a resistência à on-
c) captação de recursos do setor privado no mercado da de pressão que seu impacto acaba por gerar.
de capitais e d) mobilização de recursos monetários.
Trata-se de uma estratégia tradicional de fi,nanciamen- A captação de recursos privados no mercado de
to do déficit do Tesouro, muito embora até hoje o capitais era medida que na época o Governo tinha ín-
manuseio de tal estratégia constitua um sério problema fimas chances de realizar com sucesso. Os títulos da
de política econômica para o Governo, seja pelo <des- dívida pública de então eram títulos de renda fixa e
conhecimento das. eventuais repercussões sobre a eco- de valor nominal permanente, não oferecendo, portan-
nomia da utilização desses instrumentos, seja porque to, nenhum atrativo para aplicações de capital numa
essa ~esma utilização muitas vezes se mostra incompa- época de forte pressão inflacionária. O Governo Federal
tível com outros objetivos programados. somente veio a conseguir condições de concorrência no
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A inconsistência na utilização dos instrumentos de daquele Estado, que representa parte importante da
produção agrícola nacional.
política econômica, constatada no Governo Goulart,
resultava em grande parte da sua atitude política, pois, Numa análise mais voltada agora para os pressu-
embora arriscasse uma política reformista e sendo bà- postos teóricos da taxa de crescimento e supondo uma
sicamente apoiado por áreas vinculadas ao movimento relação capital/produto estável, pode-se verificar que no
trabalhista de então, não pretendia cair na ojeriza da- ano de 1963 o baixo desempenho da economia decor-
queles que, de fato, como demonstraram mais tarde, re também dos baixos níveis dos investimentos regis-
detinham os mecanismos de poder. Quando se instala trados na ocasião, De fato, levando em consideração os
uma política antiinflacionária, o uso dos instrumentos dados sobre a formação de capital apresentados pelas
tradicionais como a contenção de crédito, aumento de Contas Nacionais6, verifica-seque, em termos reais,
impostos, suspensão de subsídios, contenção salarial e os investimentos cresceram de apenas 3% em 1963,
outros, exige do Governo não só a consistência na sua enquanto no período 1957-61 a taxa média de cresci-
utilização mas também um poder coercitivo que esteja à mento verificada foi de 13% . Várias hipóteses po-
'altura de impô-Ias à coletividade. O Govêrno Goulart, deriam ser consideradas se se pretendesse explicar
além de utilizar inconsistentemente os meios de que dis- o comportamento do baixo nível da formação bruta
punha, mantinha-se no poder à custa de um equilíbrio de capital fixo em 1963. No caso do investimento
de forças bastante instável e, desta forma, não pre- privado, a aceleração do processo inflacionário aca-
tendendo hostilizar as forças que, em princípio, pro- ba por inibir os investimentos, na medida em que con-
curava representar, não tinha condições de impor sua duz a distorções nos preços relativos, tornando incer-
vontade às demais. Por isso mesmo,'quando se recusa- to o cálculo das taxas de retorno; há que destacar,
va a controlar os aumentos aos trabalhadores, por não também, a instabilidade política e social da época, fa-
querer impor os sacrifícios da luta antiinflacionária a zendo retrair os investidores privados; a própria exe-
êstes últimos - como se (ora possível isolá-Ias mila- cução da política econômica também pode influir, seja
grosamente - não tinha também condições de esten- via aumento da carga tributária ou mesmo pela queda
dê-Ios às demais classes, que pressionavam o Governo do nível de atividade em conseqüência de uma políti-
no sentido da expansão monetária, ca creditícia acentuadamente restrita, No caso dos
Caberia perguntar agora por que não foram al- investimenos públicos, as tentativas de contenção do
cançadas as metas do Plano Trienal no que se refere déficit governamental podem gerar alguma constrição
ao desenvolvimento econômico. Há aqui uma série de dos grandes investimentos em infra-estrutura a cargo
explicações associadas a fatores que na época atuaram do Governo. A análise dos investimentos públicos e
coqjuntamente. No ano de 1963 a economia brasileira privados em 1963, ainda com base nas Contas Nacio-
cresceu, como já foi visto, a uma taxa de 1,6%, cres- nais, mostra que os investimentos privados aumentaram
cendo o produto real industrial a uma taxa de 1%, o de 14% em 1963, enquanto os investimentos pú-
produto agrícola também 1%, enquanto o setor terciá- blicos caíram de 18%, o que estaria a indicar uma pre-
rio expandia-se a uma taxa pouco maior. O baixo de- dominância maior da política de contenção do déficit
sempenho da economia brasileira em 1963 esfeve, assim, como fator atuante na queda dos investimentos
presente em todos os setores, mas, na verdade, parte do em 1963. A análise, todavia, fica pouco conclusiva
resultado de 1963 pode ser atribuído a causas' aleatórias se forem consideradas outras questões subjacentes
presentes não só nesse ano como também em 1962, à interpretação desses resultados, tais como o pro-
t~is como as secas então ocorridas que vieram a preju- 'blema do período de maturação dos investimentos,
dicar não só a produção agrícola como a própria pro- o fato de o crescimento dos investimentos privados, em
dução industrial, pelo conseqüente racionamento de 1963 ter representado apenas uma recuperação dos ní-
energia elétrica. Além disso, houve geadas e incêndios (6) "Contas Nacionais do Brasil", Revista Brasikira de EconomiIJ,
no Paraná, que prejudicaram bastante a safra de café março de 1966,
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I.
veis de 1961 - já que em 1962 caíram de 10% -
ainda a circunstância de o setor privado das Contas Na-
e, ,\ o Piaoo Trienai e a Experiêrria Brasileira
em Pianejamerúo
cionais abranger também algumas companhias vincula-
das ao Governo e que sofrem, assim, os efeitos de sua Mesmo falhando na execução de uma política
política econômica. antiinflacionária e sem muitas condições de atuar sô-
Procurando analisar de que forma o Plano Trienal" bre os investimentos, não se pode desprezar a contri-
atuou sobre os investimentos, verifica-se que foi realf- buição do Plano Trienal. É muito fácil confrontar um
zada uma programação dos dispêndios em formação de Plano com a realidade e apontar erros e deficiências.
capital que o próprio Plano reconhece ser apenas uma Cabe indagar agora o que mais poderia ter feito nas
"primeira aproximação" (p.48) e esta pr.ogramação
r mesmas circunstâncias da época uma outra equipe de
consistia em distribuir os investimentos entre grandes se- planejadores. A premência dõ tempo, a dificuldade de
tores com base nas tendências constatadas em épocas t informações estatísticas detalhadas e de boa qualidade,
imediatamente precedentes, sendo, assim, mais uma ~! a deficiência da estrutura governamental para suportar
previsãoque propriamenteuma programação. Face ao
" a organização necessária ao planejamento, a falta de
estancamento do processo de substituição de importa- experiência, a inexistência de adequados instrumentos
ções e ao agravamento da inflação, que distorcia a es- de ação, o desconhecimento dos efeitos das políticas exe-
trutura de preços relativos, somente por coincidência a cutadall, a resistência dos empresários, tudo isso impe-
programação feita com base em tendências constatadas diu e ainda impede a efetiva implantação do planeja-
no passado seria concretizada, pois nada assegurava mento no País.
que tais tendências se fizessem sentir sem descontinui- Entretanto, não se pode esperar que o planeja-
dade e, de fato, isto não ocorreu. Tendo em vista o mento se instale de um momento para outro, em tôda a
alto nível de agregação com que foram feitas as pro- sua plenitude. Neste aspecto, vale lembrar as limita-
"gramações (p. 52), a crítica anterior poderia ser dis- das perspectivas para o planejamento que o próprio
cutível. Deve-se considerar, entretanto, que mesmo Plano Trienal sabia existentes e que já foram referidas
em termos muito agregados - e tal agregação exces- anteriormente: procurava-se mais uma hierarquização
siva já seria de si criticável - seria ilusório pensar de problemas, um esforço de transição e um maior co-
que o Governo tivesse na época, e mesmo ainda hoje, nhecimento da realidade criando-se, assim, pré-condi-
condições de programar com algum detalhe e eficácia ções para uma ação de planejamento mais profícua no
os investimentos da economia brasileira, seja por lhe futuro. Justamente neste aspecto estão as maiores con-
faltarem condições institucionais que lhe possibilitem o tribuições do Plano Trienal, pois não se pode negar
contrôle e execução desta programação, seja por fal- que a sua experiência foi valiosa. Quando se compara
ta de experiência e mesmo porque não se tem ainda um o Plano Trienal com o atual Programa Estratégico de
conhecimento detalhado da economia do País em termos Governo 1968-1970, não se pode negar que o plane-
de interdependência setorial. Na questão dos investi- jamento já avançou alguns passos, sendo muito maior
mentos, portanto, não se poderia esperar muito da o conhecimento que se tem da economia brasileira e da
ação do Plano Trienal e, desta forma, não se pode di- utilização dos instrumentos de política econômica. Do
zer que à formulação do Plano cabe a culpa 'pelo não- maior conhecimento da realidade brasileira, uma parte
-alcance dos níveis de investimentos necessários à ma- deve ser creditada ao esforço do Plano Trienal em or-
nutenção de uma alta taxa de crescimento. A não ser denar os problemas, aos debates que suscitou e pelas
no caso dos investimentos públicos e naquilo que a pesquisas então realizadas ou a que deu origem pos-'
inflação se relaciona com os investimentos,"pode-se di- teriprmente. Também no manuseio dos instrumentos de
zer que o Plano Trienal pouco ou nada influiu na política econômica a experiência obtida na fase em que
magnitude e na alocação dos investimentos em 1963.' se tentou a aplicação do Plano muito contribuiu para
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o conhecimento de seus efeitos e de suas limitações,
permitindo, assim, o seu aprimoramento.
Em síntese, pode-se dizer que o Plano Trienal não
alcançou realmente seus objetivos de promover o de-
senvolvimento e vencer a inflação. Mas sua contribui-
ção foi ponderável na parte em que ele se propôs a
intensificar o esforço de planejamento do país. Para
quem considere que o planejamento no Brasil vai de-
pender únicamente deste ou daquele Plano ou que se
possa isolar um do outro, vale lembrar que". .. o pla-
nejamento não é um esforço periódico, que se traduz
num plano para um determinado' número de anos, se-
não um processo contínuo, que requer adaptações e cor-
reções freqüentes para ter em conta as modificações
de túda ordem com relação às condições iniciais, como
tambem para ir incorporando as experiências que o
próprio processo de planejamentovai oferecendo".1.
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