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Considere uma carga trifásica qualquer alimentada diretamente por uma fonte de tensão
alternada senoidal trifásica, com ou sem neutro, como mostrado na figura abaixo:
Nesse caso, um problema que imediatamente surge é: como obter a potência total, ou seja,
a potência trifásica fornecida pelo gerador ou entregue à carga (supondo que não há perdas
de transmissão)?
A solução geral do problema pode ser expressa nos seguintes termos: a potência ativa (ou
reativa) trifásica é igual à soma das potências ativas (ou reativas) associadas a cada
fase. Embora esse resultado seja bem aceito de forma intuitiva, na verdade precisa ser
provado. Uma maneira geral de fazê-lo é lançando mão do teorema de Tellegen, um
poderoso teorema de circuitos elétricos.
Esse teorema é extremamente geral, exigindo apenas que as leis de Kirchhoff sejam
válidas. Embora tenha sido enunciado aqui usando potência instantânea, o teorema vale
também considerando-se potência ativa, reativa ou complexa (com tensões e correntes
fasoriais). Ver demonstração no livro clássico de Desoer & Kuh. “Basic Circuit Theory”,
pag. 394.
Já foi visto anteriormente que os alternadores trifásicos são construídos com três
enrolamentos distribuídos pelo estator e geralmente conectados em estrela (Y), gerando
dessa forma as correspondentes tensões em cada fase vap(t), vbp(t) e vcp(t). Admitindo
seqüência de fases abc, considere um alternador trifásico alimentando diretamente uma
carga trifásica qualquer, seja conectada em triângulo ( ) ou conectada em estrela (Y)
com neutro ou sem neutro, como ilustrado nas figuras abaixo.
Em ambos os casos, o circuito elétrico pode ser visto como formado por seis bipolos: três
geradores correspondentes a cada fase e três impedâncias da carga. Chamando de p1(t),
p2(t) e p3(t) as potências instantâneas em cada impedância da carga, a aplicação do teorema
de Tellegen nos dois casos resulta na expressão:
considerando a mesma convenção utilizada nas leis de Kirchhoff, ou seja, potência entregue
por um gerador é positiva e recebida por uma carga é negativa.
Essa expressão permite afirmar que a potência total entregue pelo alternador é igual à
potência total recebida pela carga e que essas potências correspondem à soma das potências
associadas a cada fase, qualquer que seja a forma de ligação da carga trifásica. Portanto,
O fato de a carga estar em Y não particulariza a explicação, pois se esta estiver conectada
em poderá ser transformada em uma carga equivalente em Y, utilizando-se a
Note que a potência instantânea trifásica é constante, pois as parcelas que dependem do
tempo se cancelam mutuamente (lembre-se que a somatória de três senóides de mesma
amplitude e defasadas de é sempre nula), embora a potência instantânea associada a
cada fase seja pulsante.
Esse resultado fornece duas das razões para se utilizarem sistemas trifásicos no suprimento
de energia elétrica. A primeira se refere ao fato que o torque em motores elétricos CA
trifásicos é também constante se a potência instantânea o for, reduzindo vibrações
mecânicas e outros inconvenientes. Lembre-se que um motor é naturalmente uma carga
equilibrada. A segunda vem do fato de a potência trifásica ser três vezes maior que a
potência monofásica, permitindo gerar, transmitir e utilizar mais energia com acréscimo
de apenas um fio.
em que Vf e If são valores eficazes de fase. Note que no caso de sistemas desequilibrados,
deve-se obter a potência ativa associada a cada fase e depois adicioná-las. Não esquecer
resulta:
Analogamente,
Resulta:
Analogamente,
carga industrial equilibrada (o que em geral acontece), fato que permite usar o modelo por
fase do problema, como mostra a figura abaixo:
Observe que o banco trifásico tem os capacitores conectados em , o que é prática usual
por resultar em menores capacitâncias. No modelo por fase, o capacitor representado
Note na figura que o fasor da corrente fornecida pelo capacitor estará sempre adiantado de
em relação ao fasor da tensão, e que, portanto, a projeção do fasor da corrente
resultante (fornecida pela fonte) permanecerá sempre a mesma, qualquer que seja a corrente
do capacitor. Em outras palavras, o capacitor somente contribui com potência reativa, não
alterando a potência ativa fornecida à instalação industrial. Em conseqüência, o fator de
potência (dado por ) será tanto maior quanto maior for a corrente fornecida pelo
capacitor. Note finalmente que a corrente resultante tenderá ter amplitude cada vez menor à
medida que o fator de potência for sendo elevado, atingindo valor mínimo quando estiver
em fase com a tensão. Entretanto, deve-se ter o cuidado de não instalar capacitores demais,
pois o fator de potência pode voltar a diminuir, como mostrado no caso de carga
monofásica.
Os bancos de capacitores necessários para corrigir o fator de potência devem ser
especificados em termos de: nível de tensão de linha, potência reativa trifásica e
capacitância por fase.
A quantidade de potência reativa a ser fornecida pelo banco pode ser facilmente calculada
usando-se o triângulo de potências trifásicas, como indicado na figura abaixo:
Assumindo que a instalação industrial consome a potência trifásica ativa P com fator de
potência indutivo, deseja-se elevar seu fator de potência para indutivo (em
geral, para 92 % que é o mínimo legal). O triângulo de potências mostra que a potência
trifásica reativa que o banco de capacitores deve fornecer é obtida por:
A capacitância por fase pode ser calculada como segue, assumindo ligação do banco em
:
Finalmente
A propósito, como ficaria a expressão que fornece a capacitância por fase se o banco fosse
conectado em Y aterrado?