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CIÊNCIAS DOS

MATERIAIS

PROF. FRANCIS EUZÉBIO PEREIRA


FACULDADE CATÓLICA PAULISTA

Prof. Francis Euzébio Pereira

CIÊNCIAS DOS
MATERIAIS

Marília/SP
2023
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
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a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
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emissão de conceitos.
CIÊNCIAS DOS MATERIAIS
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 01 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA E ENGENHARIA DOS 08
MATERIAIS E SEU TETRAEDRO

CAPÍTULO 02 LIGAÇÕES QUÍMICAS 17

CAPÍTULO 03 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS 26

CAPÍTULO 04 ESTRUTURAS DOS MATERIAIS CERÂMICOS 35

CAPÍTULO 05 ESTRUTURAS DOS MATERIAIS METÁLICOS 43

CAPÍTULO 06 ESTRUTURAS DOS MATERIAIS E 52


POLIMÉRICOS

CAPÍTULO 07 ESTRUTURA AMORFA 63

CAPÍTULO 08 MATERIAIS COMPÓSITOS 74

CAPÍTULO 09 DEFEITOS DA ESTRUTURA CRISTALINA 86

CAPÍTULO 10 DIFUSÃO E MECANISMOS DE DIFUSÃO 93

CAPÍTULO 11 MECANISMOS DE DEFORMAÇÃO PLÁSTICA 104

CAPÍTULO 12 MECANISMOS DE ENDURECIMENTO 116

CAPÍTULO 13 DIAGRAMAS DE FASE 131

CAPÍTULO 14 LIGAS METÁLICAS (AÇOS) E SUAS 146


APLICAÇÕES

CAPÍTULO 15 QUESTÕES AMBIENTAIS E SOCIAIS NA 158


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INTRODUÇÃO

Olá meus queridos alunos, sejam muito bem-vindos a essa disciplina, que é uma
paixão na minha vida, assunto que gosto muito e tive a oportunidade de trabalhar
por vários anos nas indústrias em todo país e no mundo. A Ciência e Engenharia de
Materiais é uma das principais engenharias de construção que temos no mundo hoje, e,
que possibilitou diversos crescimentos em muitas áreas diferentes. Para começarmos,
vamos entender as definições, as quais, e todo o livro, será baseado num dos mais
respeitados e reconhecidos autores internacionais, o prof. William Callister Júnior e
seus colaboradores.
Podemos definir a Ciência dos Materiais como a investigação entre a composição e
a estrutura para obtenção das propriedades desejadas. Já a Engenharia dos Materiais
é responsável por projetar, desenvolver, aperfeiçoar as técnicas de processamento e
fabricação, com base nas relações composição/estrutura e propriedades, e, de uma
forma bem sucinta, realiza a adequação ao uso, às necessidades humanas.
Então, meus queridos alunos, esse livro foi dividido em capítulos, baseado na
proposta pedagógica da Faculdade Católica Paulista. Vamos entender os objetivos e
conteúdo de cada um.
No Capítulo 1, conversaremos sobre a Introdução à Ciência e Engenharia e Materiais
e o Tetraedro dos Materiais. Iniciamos falando um pouco da história e fechamos o
capítulo falando do Tetraedro de Callister et al, cujo objetivo é entendermos a forma
simples para que os materiais, seja qual for sua natureza, será projetado e especificado
de acordo a sua aplicação.
No capítulo 2, conversaremos sobre as Ligações Químicas, que são os princípios
básicos para a associação química entre os metais e que estruturam os materiais para
que possam suportá-los nos esforços que serão submetidos. E, o capítulo 3, é uma
continuidade das ligações, e, terá a finalidade de Classificar os Materiais, baseados
justamente em suas características e composição química.
Já os capítulos 4, 5, 6, vai abordar sobre a Estrutura dos Materiais, de todas as
naturezas: Cerâmicos, Metálicos e Poliméricos. Daremos continuidade no capítulo 7
discutindo sobre a Estrutura Amorfa, com a finalidade de entender a sua peculiaridade

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e de cada tipo, em função da composição. Entenderemos também a importância


dessas estruturas para adequação as especificações técnicas desejadas.
O Capítulo 8, terá como tema os Materiais Compósitos, e o objetivo é entender
como dois ou mais materiais de naturezas diferentes, se juntam dando origem a um
novo com caraterísticas bem melhor do que os seus constituintes, claro, em relação
a aplicação que foi destinada.
O Capítulo 9 trata do Defeitos da Estrutura Cristalina, e, nosso propósito é entender
porque os defeitos não são tão prejudiciais assim. Como sempre, vai depender da
composição e processamento para se obter as propriedades específicas em função
da aplicação.
Seguindo, teremos o Capítulo 10, onde vamos discutir sobre a Difusão e Mecanismos
de Difusão, e como objetivo verificar a formação de materiais através dessa descoberta.
O Capítulo 11, vai discutir sobre os Mecanismos de Deformação Plástica para
melhorar as propriedades e características mecânicas dos materiais, principalmente
dos metálicos, que são os mais susceptíveis em relação a conformação. No Capítulo
12, através dos Mecanismos de Endurecimento, que é uma continuidade do capítulo
11, e como a utilização de força e temperatura, conseguimos modificar o tamanho
dos grãos, e o porque que os mais finos são mais resistentes. Processos os quais,
abordados nos capítulos anteriores que estão diretamente relacionados no próximo
Capítulo 13, que abordaremos os Diagramas de Fase, que é a forma alotrópica que
cada material (principalmente os ferrosos e suas ligas) apresentam.
Devido a sua importância para a engenharia de construção civil, automotiva, metal
mecânica, naval e dentre várias outras, vamos abordar no Capítulo 14 sobre as Principais
Ligas metálicas e suas aplicações.
E, para finalizarmos o livro, no Capítulo 15, conversaremos sobre a importância das
Questões Ambientais e Sociais na Ciência e Engenharia de Materiais.
Portanto meus queridos alunos, espero que possam tirar muito proveito dessa
disciplina que cresce e desenvolve cada vez mais no mundo.

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CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA E
ENGENHARIA DOS MATERIAIS
E SEU TETRAEDRO

1.1 Introdução - Um pouco de história


Meus queridos alunos, que tal tirarmos alguns instantes e refletir em nossa vida,
em como seríamos sem todos os materiais que existem em nosso mundo moderno?
Vocês podem crer ou não, mas, se não existissem os materiais não teríamos carros,
telefones celulares, a internet, os aviões cada vez mais rápidos, belas casas e suas
decorações e móveis, roupas finas, vários tipos de alimentos (nutritivos e também os
menos recomendados), eletrodomésticos, laptops e computadores e uma série de itens
que continuam. Como viveríamos? Podemos observar que em todos os segmentos
de nossas vidas diárias, temos a influência dos materiais. Pensem comigo futuros
engenheiros, conseguiríamos imaginar vivendo sem eles?
Para vocês terem uma ideia, ao longo do tempo, a evolução e o desenvolvimento
das sociedades estiveram diretamente relacionados à capacidade dos seres humanos
produzir, aplicar e melhorar a cada dia em relação a adequação dos materiais à sua
necessidade, seu uso. Podemos ver que as antigas civilizações evoluíram conforme
foram desenvolvendo e aperfeiçoando suas armas para caça (Idade da Pedra, Idade
do Bronze, Idade do Ferro) Callister et al (2019). Para facilitar o entendimento de vocês,
a tabela 1 ilustra de forma simples essa linha do tempo.

Tabela 1: Perspectiva histórica dos materiais


Fonte: Adaptado de Rios (2013)

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Queridos estudantes, vocês sabiam que nossos ancestrais não tiveram muitas
oportunidades de muitos materiais? Sim, somente aqueles que ocorreram naturalmente
em nosso planeta: pedra, madeira, argila, peles, e assim por diante. Imaginem só futuros
engenheiros, a necessidade que tinham de caçar e o escasso recurso ferramental? Na figura
2, temos algumas ferramentas que eram confeccionadas na Idade da Pedra para caçar.

Figura 2: Ferramentas utilizadas na Idade da Pedra


Fonte: https://metalica.com.br/cronologia-do-uso-dos-metais-2/

Queridos alunos, a Idade da Pedra corresponde ao período em que o homem usava


ferramentas criadas a partir de pedras para cortar carnes e plantas. Na figura 3, temos
um exemplo de um Homo Sapiens utilizando as pedras como ferramentas.

Artefatos de pedra

Figura 3: Homo Sapiens utilizando pedras como ferramentas


Fonte: https://aminoapps.com/c/ciencias-geografia-hist/page/blog/divisoes-da-pre-historia-resumo/qg6X_n8tRuwVejonvdEXBvblleRNRQD65D

Queridos alunos, os primeiros seres humanos vivam de uma forma bem diferente da
nossa, não tendo local fixo, denominados nômades. A principal forma de se alimentarem
era da caça, da pesca e da coleta de frutos silvestres e não praticavam a agricultura. A
madeira e o osso foram importantes instrumentos, mas a pedra, sem dúvida, é quem
passou a ocupar o primeiro lugar como matéria-prima para a confecção de instrumento
do uso cotidiano. Na figura 4, temos um exemplo de como confeccionavam suas
ferramentas de pedras e ossos.

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Figura 4: Um exemplo de construção de ferramentas no período paleolítico


Fonte:https://aminoapps.com/c/ciencias-geografia-hist/page/blog/divisoes-da-pre-historia-resumo/qg6X_n8tRuwVejonvdEXBvblleRNRQD65D

Meus amigos, a história diz que no decorrer da evolução do homem, com o tempo,
eles foram percebendo e começaram a desenvolver técnicas para a construção de
materiais que tinham características e propriedades superiores aos materiais naturais;
como exemplo podemos citar as cerâmicas e vários metais. O Sílex, figura 5 a seguir,
é outro material muitíssimo utilizado por eles na Idade da Pedra. Confeccionavam
principalmente armas e suas lascas eram aproveitadas para fabricar objetos cortantes
ou as poliam para construção de outras ferramentas.

Figura 5: Sílex
Fonte: https://aminoapps.com/c/ciencias-geografia-hist/page/blog/divisoes-da-pre-historia-resumo/qg6X_n8tRuwVejonvdEXBvblleRNRQD65D

Indo um pouco mais adiante, eles entenderam que as propriedades de um material


podiam ser melhoradas por meio de beneficiamento, principalmente utilizando o calor,
como os tratamentos térmicos e também, com a adição de outros elementos.
Nesta época, a aplicação desses materiais era um processo bem peculiar, que
envolvia decidir, entre um, as pouquíssimas opções, o que mais se adequava a uma
dada aplicação em virtude das suas características. Propriedades que até então, eles
desconheciam e não dominavam. Para fundamentar melhor essa teoria, em tempos
relativamente recentes, foi que os cientistas compreenderam as relações entre os
elementos estruturais dos materiais e suas propriedades. Informações, segundo
vários autores, dentre eles Callister, Askeland, Chiaverini, dentre outros renomados
pesquisadores, foi se adquirindo provavelmente ao longo dos últimos 100 anos,

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onde, conseguiram estabelecer parâmetros para moldar, de modo significativo,


as características dos materiais. Então, meus queridos, espero que estejam me
acompanhando, podem ler e reler o quanto sentirem necessidade para entenderem
a evolução do homem e dos materiais. Foi a partir dessas informações introdutórias,
que estão sendo possíveis o desenvolvimento de dezenas de milhares de materiais
diferentes, com propriedades e características peculiares e específicas, de forma a
atender às necessidades da nossa moderna e complexa sociedade.
A evolução tecnológica que possibilita termos uma existência tão confortável está
diretamente relacionado ao acesso aos materiais adequados. Então queridos alunos,
uma pausa aqui para refletirmos juntos:

ANOTE ISSO

Não existe material ruim, o que temos é um material inadequado a uma


determinada aplicação.

Então, dando continuidade a história e evolução dos materiais, verificamos que


uma melhoria em um material novo ou mesmo seu desenvolvimento inédito, é o
que tem possibilitado o avanço na compreensão dos tipos de materiais, e, com
certeza é o precursor de um progresso gradativo das tecnologias. Poderíamos citar
diversos exemplos, dentre eles que os automóveis não teriam sido possíveis sem a
disponibilidade a baixo custo de aço e/ou dos outros materiais substitutos. Nos dias
atuais, vários ou quase todos dispositivos eletrônicos sofisticados são fabricados de
componentes dos chamados materiais semicondutores.
Queridos alunos, depois dessa breve história, não seria de fundamental importância
para nossas descobertas e aperfeiçoamento, termos hoje uma forma melhor definida,
estruturada, mais clara e objetiva para se elaborar um novo material, sem se preocupar
tanto com sua utilização final. Reflitam comigo.

1.2 Tetraedro da Ciência e Engenharia dos Materiais


A partir desses entendimentos, autores como Askeland e Callister denominaram uma
forma simples, objetiva e bem definida para esse desenvolvimento, sendo o “Tetraedro
da Ciência e Engenharia de Materiais”, conforme figura 6 a seguir ilustra, como uma
forma estruturada para se elaborar, projetar e fabricar os materiais, independentemente
de sua natureza.

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Figura 6: Tetraedro de Ciência E Engenharia de Materiais


Fonte: Askeland (2012)

O Tetraedro é uma sequência lógica e bem definida para se obter um material


adequado a uma determinada aplicação. A indústria automotiva e a indústria de
construção de máquinas pesadas trabalham de forma bem alinhada aos seus
fornecedores, normalmente as indústrias siderúrgicas, metalúrgicas e metal mecânicas
(conhecidas também como autopeças). Queridos alunos, preciso que me acompanhem
e entendam essa lógica, pois, irão acompanhar vocês engenheiros que seguirem a
carreira de produção de materiais, aplicações, avaliações e testes. O autor que estou
usando para montar essa aula, William Callister et al (2005), ilustra de uma forma bem
didática o que acabamos de conversar. A figura 7 demonstra de uma outra forma o
Tetraedro e ilustra para que possamos entender.

Figura 7: Tetraedro da Ciência e Engenharia dos Materiais


Fonte: Adaptado de Callister et al (2019)
Disponível em: http://sites.poli.usp.br/d/pmt2100/Aula01_2005%201p.pdf

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Então queridos alunos, gostaria de prestassem bem atenção e entendessem o


Tetraedro, que nada mais é do que a sequência lógica de atividades para fabricação
de um carro por exemplo. Onde temos na composição, a natureza química dos
materiais utilizados para fabricar um carro. Após determinada a composição química
dos materiais, se define a estrutura para que possam atingir as propriedades e
características desejadas. A Estrutura, segundo Callister et al (2019) está associada
ao arranjo dos componentes do material ou materiais em análise e estudo, e, pode
ser medida e analisada em diferentes escalas:
• Escala atômica (menor ou igual a nm = 10-9m);
• Nanoestrutura (da ordem de nm);
• Microestrutura (µm = 10-6m até mm);
• Macroestrutura (Maior ou igual a mm).

Não se preocupem, vamos ilustrar para facilitar o entendimento do Tetraedro sendo


aplicado de forma prática. Esse autor nos ajuda muito, não é mesmo?
No livro Ciência e Engenharia de Materiais, do Callister e colaboradores, tem tudo
isso que estamos conversando, não deixem de verificar em outro momento. Agora
vamos entender um pouco mais de escalas, na prática para a fabricação de um motor
de carro, com a figura 8, a seguir:

Figura 8: Exemplo prático de uma Estrutura através das Escalas de análise


Fonte: Adaptado de Callister et al (2019)
Disponível em: http://sites.poli.usp.br/d/pmt2100/Aula01_2005%201p.pdf

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O bloco do motor é o produto final desejado, sendo apresentado na figura 8 em escala


macro. Nele temos que considerar várias características e propriedades que o material
precisa, em virtude de sua aplicação como motor do carro. Esse bloco será exigido em
termos de pressão, temperatura, resistência mecânica, dentre outros esforços, e, dentro
de uma condição de custo x benefício, além da durabilidade. Portanto, para se atender
a todas essas necessidades, temos que obter uma estrutura específica, apresentada na
figura 8 como microestrutura (os grãos do material). As demais escalas, conseguimos
entender como sendo a ampliação da visão, através de microscópio eletrônico de
varredura, que vamos falar adiante. Para fecharmos esse raciocínio, conseguimos
perceber que esses grãos são constituídos de fases e dentritas, conforme alotropias
que o material apresenta. Não se preocupem meus queridos alunos, vamos falar em
outras aulas, a frente, sobre esse assunto. A ideia foi interagir e apresentar de forma
prática sobre o tetraedro da Ciência e Engenharia dos Materiais.
Dando continuidade meus queridos, espero que estejam acompanhando,
explanaremos agora das propriedades dos materiais. Conceitualmente, os grandes
autores como Askeland, Callister et al, dentre outros, definem-na como a resposta de
um material a um estímulo que foi imposto, ou seja meus amigos, um carregamento,
uma carga de força determinada. Então, as respostas (propriedades) aos esforços,
podem ser dar de diversas maneiras. Sendo os mais comuns:
• Mecânicos (Carga ou força aplicada. Ex: Tração, torção, cisalhamento, etc);
• Elétricos (Campo elétrico. Ex: Fios e cabos elétricos de cobre ou alumínio);
• Térmica (Resistência ao calor. Ex: Refratários);
• Óptica (Radiação eletromagnética. Ex: cor, opacidade, translucidez, transparência,
refletividade);
• Deteriorativa (Resistência à oxidação, corrosão, etc. Ex: Aços inoxidáveis).
Para medir ou definir se um material tem suas propriedades compatíveis com seu
projeto de fabricação, medimos o material, ou seja, o colocamos numa condição
similar a real de utilização, e, verificamos sua resposta, que é mais conhecida como
seu desempenho, sua performance. A figura 9 demonstra um conjunto de engrenagens
trabalhando para gerar uma força motriz, em uma linha de produção, de um determinado
processo. O desempenho do conjunto é medido pela resposta que essas peças
trabalhando juntas dão à linha de produção, na forma de torque e velocidade da linha.

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Figura 9: Conjunto de engrenagens de aço trabalhando acopladas em eixos


Fonte: https://embrapii.org.br/competencias/materiais-de-alto-desempenho/

1.3 Considerações finais


Vamos falar um pouco do que entendemos até agora, e refletirmos:
Por que e para que os engenheiros estudam os materiais? Será que é por que tudo
que é feito pelos engenheiros estão relacionados diretamente aos materiais?
Será que encontraremos alguns engenheiros de aplicação, ou seja, os usuários finais
em seus projetos, como os civis ou mecânicos, por exemplo, com alguma situação ou
problema para resolver em seus projetos, diretamente relacionado aos materiais? O que
devem estar pensando hein? Sim, mas é claro que estarão. Pois são os profissionais
indicados na investigação, projeto, desenvolvimento, fabricação e aplicação desses
materiais.
Não podemos esquecer das premissas básicas que estão envolvidas nesse processo,
segundo Callister e colaboradores (2019):

Vocês sabiam que esse modelo representado pelo diagrama acima, já foi chamado
por alguns de paradigma central da ciência e engenharia de materiais ou às vezes
simplesmente de paradigma dos materiais. (O termo “paradigma” significa um modelo
ou conjunto de ideias). O autor que estamos seguindo para dar uma sequência lógica
com fácil entendimento meus amigos, Callister et al (2019), salienta que esse paradigma,
fora formulado nos anos 1990, e, é essencialmente, segundo ele, nosso núcleo da
disciplina ciência e engenharia de materiais. Callister comenta que ele descreve o
procedimento para a seleção e o projeto de materiais para aplicações específicas e
bem definidas, e tem tido uma profunda influência sobre o campo dos materiais. Meus

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queridos, até chegarmos aqui, as etapas e/ou metodologias da ciência/engenharia


de materiais para projetar componentes e sistemas usavam apenas o conjunto de
materiais existentes, acreditam nisso? E conseguem imaginar como os engenheiros
e empresas antes especificavam seus projetos? É uma ciência muito interessante,
não acham?
Bom meus queridos alunos, espero que tenham capitado as informações. Recomendo
ler e reler, o quanto julgarem necessário o material. Para finalizarmos, podemos pensar
a respeito de uma variável muito importante em nossas vidas e no dia a dia das
empresas, que seria uma consideração relacionada aos aspectos econômicos: quanto
custará o produto acabado, um carro, uma ponte, uma casa, um avião? Vamos pensar
a respeito disso, que tal?
Em muitos casos, ocorre ou pode acontecer de um material apresentar todas as
propriedades ideais para um bom desempenho, e, no entanto, ser demasiadamente
caro. Então, pensemos novamente, que, de alguma forma, seria necessária alguma
concessão, sendo-a inevitável. O custo, valor agregado de uma peça acabada também
inclui, não esqueçamos disso meus queridos alunos, todas as despesas incorridas
durante o processo de fabricação para a obtenção da forma desejada. Além é claro,
dos impostos e taxas para comercialização. E finalizando, deixo esse ponto de reflexão:
Que quanto mais os engenheiros estejam adaptados ou familiarizado com as diversas
características e relações entre estrutura-propriedade, guardem isso por favor meus
queridos, assim como com as diversas técnicas e metodologias de processamento
dos materiais, mais capaz e confiante estará para definir de forma ponderada os
materiais mais adequados e específicos, tendo como base esses critérios.

ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=PKozmAxPbEw

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CAPÍTULO 2
LIGAÇÕES QUÍMICAS

2.1 Ligações Químicas


Meus queridos alunos, vamos fazer novamente um exercício mental, como fizemos
na primeira aula, e, pensar em por que estudar as ligações químicas?

ANOTEM ISSO

Conhecer e aprofundar nas ligações é fundamental, porque, em muitos casos, o tipo


de ligação dos materiais são quem nos permite explicar e entender suas propriedades,
conforme explica Callister et al (2019). Nosso foco serão os materiais sólidos.

Iniciemos com um exemplo bastante utilizado, o carbono. Esse elemento pode


existir na forma de grafita e na forma de diamante. Como pode a mesma composição
química ter característica tão distintas? Vejam só, o grafite é bem macio, enquanto
que o diamante é um dos materiais mais duros na natureza. Se formos avaliar outras
propriedades, como as elétricas, por exemplo, temos outra surpresa. O grafite é um
bom condutor, enquanto o diamante não. Explicamos isso meus queridos alunos,
devido ao tipo de ligação presente neles. Na estrutura da grafita, os átomos de carbono
estão localizados nos vértices de hexágonos regulares que se interconectam e que
ficam em planos paralelos (de base), conforme Callister et al (2019) explica. A figura
1 ilustra a estrutura hexagonal compacta presente na grafita.

Figura 2.1: Estrutura da grafita


Fonte: Callister et al (2019)

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À temperatura ambiente e sob pressão atmosférica, o diamante é um polimorfo


metaestável do carbono. Sua estrutura cristalina é uma variante da estrutura da blenda
de zinco (Figura 2) na qual os átomos de carbono ocupam todas as posições (tanto
do Zn quanto do S).

Figura 2.2: Célula unitária para a estrutura cristalina cúbica do diamante


Fonte: Callister et al (2019)

O carbono é um elemento que existe em duas formas alotrópicas — diamante


e grafita, assim como no estado amorfo. Muitos pesquisadores consideram que o
Carbono não se enquadra em nenhuma das tradicionais classificações dos materiais
que veremos adiante, não sendo um metal, uma cerâmica e nem um polímero (Callister
et al 2019). Imaginam, por que utilizamos esse exemplo do carbono? Porque precisamos
entender a importância das ligações e a estrutura em que elas formam, constituindo
os materiais e suas propriedades.

ANOTE ISSO
Devemos entender que cada elemento químico é caracterizado pelo número de
prótons no seu núcleo, ou seu número atômico (Z). Para um átomo eletricamente
neutro ou completo, o número atômico também é igual ao número de elétrons.
E cada átomo consiste em um núcleo muito pequeno composto por prótons e
nêutrons, o qual está envolto por elétrons em movimento, ilustrado na figura 3
abaixo. Todas essas informações são do livro do nosso autor William Callister, que
trás de uma forma bem didática, e, recomendo que o leiam, pois, está disponível em
nossa biblioteca virtual.

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Figura 2.3: Representação esquemática do átomo de Bohr


Fonte: Callister et al (2019)

Portanto, para fechar nosso entendimento das ligações químicas, temos que, o peso
atômico de um elemento ou o peso molecular de um composto pode ser especificado
em termos de um por átomo (molécula) ou de massa por mol de material. Em um mol
de uma substância existem 6,022 × 1023 (número de Avogadro) átomos ou moléculas.
Esses dois conceitos de peso atômico estão relacionados pela seguinte equação:
1 uma/átomo (ou molécula) = 1 g/mol
Queridos alunos, estou muito feliz por estarem aqui comigo, entendendo os
fundamentos para termos materiais para as mais variadas aplicações e necessidades
humanas. Os comentários agora serão sobre as configurações eletrônicas. Iniciamos,
com os elétrons de valência, que são aqueles que ocupam a camada mais externa.
Observem o quão importantes esses elétrons são; conforme vamos conversar para
entendermos, eles participam da ligação entre os átomos para formar agregados
atômicos e moleculares. Além disso, muitas das propriedades físicas e químicas dos
sólidos estão baseadas nesses elétrons de valência.
Temos três tipos diferentes de ligações primárias ou ligações químicas, que são
encontrados nos sólidos — iônica, covalente e metálica. Para cada tipo, a ligação
envolve necessariamente os elétrons de valência; além disso, a natureza da ligação
depende das estruturas eletrônicas dos átomos constituintes. Vamos utilizar a figura
4 para exemplificar:

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Figura 2.4: Representações esquemáticas: (a) formação de íons Na+ e Cl. E (b) ligação iônica no cloreto de sódio (NaCl)
Fonte: Callister et al (2019)

Vamos entender agora, um pouco mais de cada tipo de ligação.

2.1.1 Ligação Iônica


Ao estudarmos as ligações químicas, podemos considerar que a ligação iônica
seja a mais fácil de ser compreendida. Nessas ligações meus queridos, é comum
encontrarmos sempre, ou quase sempre, compostos cuja composição envolve tanto
elementos metálicos quanto não metálicos, ou seja, elementos que estão localizados
nas extremidades horizontais da tabela periódica. Os átomos de um elemento metálico
perdem com facilidade seus elétrons de valência para os átomos de elementos não
metálicos. A ligação iônica, explica Novais (2023) ocorre quando um átomo doa elétrons
para outro átomo. O átomo doador é sempre um átomo de baixa energia de ionização,
ou seja, perde elétrons com mais facilidade; já o átomo que recebe é sempre uma
espécie de alta afinidade eletrônica, ou seja, tem mais facilidade em receber elétrons.
Os elétrons doados e recebidos são sempre os da camada de valência, que, por ser a
camada mais externa, é a que sofre menos atração pelo núcleo atômico. Por causa
dessa harmonia é que a ligação iônica é considerada uma ligação forte. Com a figura
5, podemos exemplificar o composto formado na figura 4 acima, chamado de cloreto
de sódio, o “sal de cozinha”, um tempero amplamente utilizado. Na sua forma sólida,
como comumente conhecemos, o cloreto de sódio tem uma estrutura espacial muito
bem definida, em que os íons de sódio e cloro se alternam, estabilizando a estrutura,
uma vez que possuem cargas opostas.

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Figura 2.5: Representação da estrutura cristalina do cloreto de sódio


Fonte: https://www.manualdaquimica.com/quimica-geral/ligacoes-quimicas.htm

Como, em geral, os metais são espécies de baixa energia de ionização e os ametais


são elementos de alta afinidade eletrônica, muito comum a ligação iônica ocorrer entre
um metal e um ametal. Nesse processo, todos os átomos adquirem configurações
estáveis ou de gás inerte (isto é, camadas orbitais completamente preenchidas) e, além
disso, uma carga elétrica — isto é, eles se tornam íons. O cloreto de sódio (NaCl) é o
material iônico clássico. Um átomo de sódio pode assumir a estrutura eletrônica do
neônio (e uma carga resultante positiva unitária com uma redução no tamanho) pela
transferência do seu único elétron de valência (3s) para um átomo de cloro. Após essa
transferência, o íon de cloro adquire uma carga resultante negativa e uma configuração
eletrônica idêntica àquela do argônio; ele também é maior do que o átomo de cloro.
A ligação iônica está ilustrada esquematicamente na Figura 6.

Figura 2.6: Átomo de Sódio (Na) sendo transferido para o elemento Cloro (Cl)
Fonte: Adaptado de https://www.manualdaquimica.com/quimica-geral/ligacoes-quimicas.htm

Ao demonstrarmos uma ligação iônica, não há a necessidade de representar todos


os elétrons de cada átomo, mas apenas os elétrons de valência. A utilização de setas
é comum e recomendada para que se mostre a espécie que doa e a espécie que
recebe o(s) elétron(s).

2.2 Tabela periódica


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Meus queridos alunos, muito importante que saibam que todos os elementos
foram classificados de acordo com suas configurações eletrônicas na tabela periódica
(Figura 7). Nessa tabela, observamos que os elementos estão posicionados em ordem
crescente de número atômico, em sete fileiras horizontais chamadas de períodos. A
organização (arranjo) é apresenta que todos os elementos localizados em uma dada
coluna ou grupo possuem estruturas semelhantes dos seus elétrons de valência,
assim como propriedades químicas e físicas similares. Essas propriedades variam de
forma gradual ao se mover horizontalmente ao longo de cada período e verticalmente
para baixo em cada coluna (Conforme Callister et al, 2020).

Figura 2.8: A tabela periódica dos elementos. Os números entre parênteses são os pesos atômicos dos isótopos mais estáveis ou mais comuns
Fonte: Adaptado de Callister et al, 2020

2.3 Ligação Covalente


Temos outro tipo de ligação, que, normalmente é encontrada em materiais cujos
átomos possuem pequenas diferenças em eletronegatividade — isto é, que estão
localizados próximos um do outro na tabela periódica. Para esses materiais, as
configurações eletrônicas estáveis são adquiridas pelo compartilhamento de elétrons
entre átomos adjacentes. Dois átomos que estão ligados de maneira covalente
vão contribuir, cada um, com pelo menos um elétron para a ligação, e os elétrons
compartilhados podem ser considerados como pertencentes a ambos os átomos. A
ligação covalente ocorre quando os átomos compartilham entre si os seus elétrons.
Diferentemente da ligação iônica, na ligação covalente os átomos envolvidos não
possuem características antagônicas, mas sim semelhantes.

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Figura 2.9: Representação esquemática da ligação covalente em uma molécula de hidrogênio (H2).
Fonte: Adaptado de Callister et al, 2020

2.4 Ligação Metálica

ANOTE ISSO

Nos tipos de ligações, temos também a ligação metálica, que é encontrada nos
metais e nas suas ligas. Foi proposto um modelo relativamente simples que muito
se aproxima da configuração dessa ligação. Os metais, como mencionado, são
espécies químicas que possuem uma baixa energia de ionização, o que quer dizer
que perdem elétrons de valência com facilidade. Com base nessa propriedade,
cientistas desenvolveram a teoria do mar de elétrons (figuras 10 e 11) para justificar
a ligação entre átomos de um determinado metal.
Nesse modelo, os elétrons de valência não estão ligados a nenhum átomo em
particular no sólido e estão mais ou menos livres para se movimentar ao longo de
todo o metal. Eles podem ser considerados como pertencentes ao metal como um
todo, ou como se formassem um “mar de elétrons” ou uma “nuvem de elétrons”. Os
elétrons restantes, os que não são elétrons de valência, juntamente com os núcleos
atômicos, formam o que é denominado núcleos iônicos, os quais possuem uma
carga resultante positiva com magnitude equivalente à carga total dos elétrons de
valência por átomo.

Figura 2.10: Exemplo de Ligação Metálica


Fonte: https://www.manualdaquimica.com/quimica-geral/ligacoes-quimicas.htm

Figura 2.11: Ilustração esquemática da ligação metálica


Fonte: Adaptado de Callister et al 2020

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Meus queridos alunos, entendam que a presença dos elétrons entre dois átomos
os deixa unidos numa ligação covalente, a presença dos elétrons livres nesse mar
de elétrons é que mantém os átomos metálicos unidos, no que conhecemos como
ligação metálica. A afirmação ou teoria do mar de elétrons, ajuda a explicar por que os
metais têm a propriedade de bons condutores de corrente elétrica no estado sólido.
Importante saberem que a corrente elétrica é o mesmo que cargas em movimento,
em um fluxo ordenado, explica o professor Novais (2021).

ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=4mULIo4BXl0
https://www.youtube.com/watch?v=5-fa4IKp5bU

Considerações Finais
Olá meus queridos alunos, é muito importante entendermos as configurações eletrônicas,
tipos de ligações, pois, daqui para frente, tudo estará relacionado a isso. Ajudaremos a
entender melhor, no próximo capítulo, onde classificaremos os materiais, e, essa classificação
dependem e são influenciadas diretamente pelas ligações e seus tipos.
Temos conversado neste capítulo, que, algumas correlações foram definidas entre
o tipo de ligação e a classificação do material, quais sejam: ligação iônica (cerâmicas),
ligação covalente (polímeros), ligação metálica (metais) e ligação de van der Waals (sólidos
moleculares). Sintetizamos essas correlações no tetraedro do tipo de material mostrado
na Figura 2.12b, que é o tetraedro de ligação da Figura 2.12a, em que estão superpostos
o local/região de ligação tipificado por cada uma das quatro classes de materiais.

Figura 2.12: (a) Tetraedro de ligação: cada um dos quatro tipos de ligação extremos (ou puros) estão localizados em um vértice do tetraedro; três tipos de
ligações mistas estão incluídos ao longo das arestas do tetraedro. (b) Tetraedro do tipo de material: correlação de cada classificação de material (metais,
cerâmicas, polímeros etc.) com seu(s) tipo(s) de ligação.
Fonte: Adaptado de Callister et al (2020)

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Adicionamos também aqueles materiais que possuem ligações mistas: intermetálicos


e semimetais. Além disso, o tipo de ligação predominante para os materiais
semicondutores é covalente, com a possibilidade de uma contribuição iônica.

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CAPÍTULO 3
CLASSIFICAÇÃO
DOS MATERIAIS
3.1 Conceitos fundamentais
A classificação tradicional dos materiais é geralmente baseada na estrutura atômica
e química destes (conforme Prof. Becker 2020).

ANOTE ISSO

Os materiais sólidos foram convenientemente agrupados em três categorias


básicas: metais, cerâmicas e polímeros. A maioria dos materiais se enquadra
em um ou outro grupo distinto. Adicionalmente, existem os compósitos, que são
combinações engenheiradas de dois ou mais materiais diferentes. Outra categoria
é a dos materiais avançados — aqueles que são usados em aplicações de alta
tecnologia, como os semicondutores, os biomateriais, os materiais inteligentes e
os materiais nanoengenheirados, Callister et al 2020. Resumindo, como vamos ver
a seguir, os materiais se classificam em 6 categorias básicas: metais, cerâmicas,
polímeros (pela ligação química e estrutura atômica) compósitos, biomateriais e
semicondutores (pela aplicação).

3.2 Tipos de Materiais

3.2.1 Metais
Meus queridos alunos, Callister e seus colaboradores (2020), definem os metais como
materiais compostos por um ou mais elementos metálicos (por exemplo, ferro, alumínio,
cobre, titânio, ouro, níquel), e, normalmente por elementos não metálicos (por exemplo,
carbono, nitrogênio, oxigênio) em quantidades relativamente pequenas. Os átomos
nos metais e nas suas ligas estão arranjados segundo uma maneira muito ordenada
(como discutido no Capítulo 2) e, em comparação às cerâmicas e aos polímeros,
são relativamente densos e mais resistentes. Os mais comumente utilizados estão
ilustrados na figura 3.1.

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Por serem considerados os materiais mais versáteis, com uma gama enorme de
aplicação e utilização em nosso dia a dia, veremos no capítulo 14, os principais tipos
de processamentos dos metais, sua aplicação e utilização pela engenharia. Como
vimos no capítulo 1, a utilização dos metais pelo homem pré-histórico foi fundamental
para o desenvolvimento da agricultura (produção de alimentos), surgida do período
neolítico, posto que as ferramentas produzidas eram mais eficazes e auxiliavam no
trabalho tal qual o arado e a enxada.
Além da presença forte na construção civil, a importância dos metais também
está em outras áreas produtivas, por exemplo, as indústrias navais, ferroviárias,
automobilísticas e aeronáuticas (dentre outras), que precisam dos metais para suas
produções. Por outro lado, está mais um setor bastante amplo, que é o de produção
de ferramentas e máquinas.

Figura 3.1: Exemplo de ligas ferrosas e não ferrosas


Fonte:https://www.mercadousinagem.com.br/produtos/maquina-cnc/centro-de-usinagem-5-eixos
https://ibram.org.br/noticia/descubra-diferenca-entre-minerio-metal-minerais-e-rochas/
https://www.infoescola.com/quimica/ligas-metalicas/

3.2.2 Cerâmicas
Meus amigos, dando continuidade à classificação dos materiais, temos as cerâmicas,
que são considerados compostos constituídos por elementos metálicos e não metálicos
(normalmente). Em sua maioria são óxidos, nitretos e carbetos. Vamos entender
melhor, os materiais cerâmicos comuns incluem o óxido de alumínio (ou alumina,
Al2O3), o dióxido de silício (ou sílica, SiO2), o carbeto de silício (SiC), o nitreto de silício
(Si3N4) e, ainda, o que alguns chamam de as cerâmicas tradicionais (Callister e seus
colaboradores (2020) — aqueles materiais compostos por minerais argilosos (por
exemplo, a porcelana), assim como o cimento e o vidro. Em relação ao comportamento

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mecânico, os materiais cerâmicos são relativamente rígidos e resistentes — os valores


de rigidez e de resistência são comparáveis aos dos metais (Figura 3.2). Ademais, as
cerâmicas são tipicamente muito duras.

Figura 3.2: Exemplos de materiais cerâmicos e suas aplicações


Fonte: IFSC – Chapecó (2018)

3.2.3 Polímeros
Agora, dedicados alunos, falaremos de um material também bastante utilizado em
nosso dia a dia e industrialmente. Os polímeros mais conhecidos são os plásticos
e a borracha. Na maioria são compostos orgânicos que têm sua origem química
baseada no carbono, hidrogênio e outros elementos não metálicos (isto é, O, N e
Si). Observamos também, que possuem estruturas moleculares muito grandes, com
frequência na forma de cadeias, que frequentemente possuem uma estrutura composta
por átomos de carbono (também conhecida como polimerização). Vejam alguns
exemplos (Figura 3.3) comumente encontrado desses materiais como os polietileno
(PE), náilon, poli (cloreto de vinila) (PVC), policarbonato (PC), poliestireno (PS) e a
borracha de silicone, em suas variadas aplicações. É normal encontrarmos nesses
materiais baixas massas específicas, e, suas características mecânicas são, em geral,
diferentes das características exibidas pelos materiais metálicos e cerâmicos — eles
não são tão rígidos nem tão resistentes quanto esses outros tipos de materiais (Callister
et al 2020). Entretanto, em função das suas densidades reduzidas, muitas vezes sua
rigidez e sua resistência em relação à massa são comparáveis às dos metais e das
cerâmicas.

Figura 3.3: Exemplo de aplicações de polímeros


Fonte:https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5820708/mod_resource/content/1/2020_2_AUT_2025_AULA_04%20%28Polimeros%20-%20
Termopl%C3%A1sticos%29.pdf

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3.2.4 Compósitos
Vejam só que interessante meus queridos alunos, os materiais compósitos são
compostos por dois (ou mais) materiais individuais, cujos materiais se classificam
nas categorias já discutidas, sendo elas: metais, cerâmicas e polímeros. O desafio dos
engenheiros e cientistas de materiais, na construção de um projeto de um compósito é
atingir uma combinação de propriedades que não é exibida por nenhum material isolado,
pois tem características específicas, e também atribuir as melhores características de
cada um dos materiais que o compõe. Temos hoje, uma vasta aplicação de materiais
de tipos de compósitos, que são, representados por diferentes combinações de metais,
cerâmicas e polímeros (veja a figura 3.4). Vejam que interessante, a natureza também
produz esses materiais compósitos, como por exemplo, a madeira e o osso. Porém,
a maioria dos compósitos que consideramos em nossas discussões são sintéticos
(ou feitos pelo homem).

Figura 3.4: Exemplo de aplicação de materiais compósitos Fonte: https://www.preparaenem.com/quimica/compositos-ou-composites-polimericos.htm


https://www.plastico.com.br/plastico-na-medicina-alta-resistencia-mecanica-dos-compositos-interessa-proteses/

3.2.5 Materiais avançados

ANOTEM ISSO

Um dos autores mais renomados e um grande cientista de materiais, o qual


estamos seguindo para nos auxiliar a montar essas aulas, nosso mestre Wiliam
Callister (2020), explica que os materiais utilizados em aplicações de alta tecnologia
(ou high-tech) são às vezes denominados materiais avançados. A alta tecnologia
que os cientistas de materiais subentendem, são como um dispositivo ou um
produto que opera ou funciona usando princípios relativamente intrincados
e sofisticados, incluindo os equipamentos eletrônicos (telefones celulares,
reprodutores de DVD etc.), computadores, sistemas de fibras ópticas, baterias de

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alta densidade de energia, sistemas de conversão de energia e aeronaves. Esses


materiais desenvolvidos com alta tecnologia, se subdividem em semicondutores,
biomateriais e nanomateriais. Tudo certo até aqui meus queridos alunos, vamos
entender um pouquinho sobre cada um deles?

Semicondutores
Os materiais semicondutores se caracterizam por possuírem boas propriedades
elétricas, que são intermediárias entre aquelas exibidas pelos condutores elétricos, (isto
é, os metais e as ligas metálicas) e os isolantes (isto é, as cerâmicas e os polímeros).
Observem ainda, que suas características elétricas são extremamente sensíveis à
presença de concentrações mínimas de átomos de impurezas, cujas concentrações
podem ser controladas em regiões espaciais muito pequenas do material. Vejam na
figura 3.5 alguns exemplos de materiais semicondutores e suas aplicações.

Figura 3.5: Exemplos de aplicações de materiais semicondutores


Fonte: https://blog.raisa.com.br/o-que-sao-semicondutores-compostos/

Biomateriais
Ao longo dos anos, meus queridos alunos, os seres humanos têm buscado prolongar
e melhorar o tempo e a qualidade de nossas vidas. Boa parte dessas conquistas
tem sido devido aos avanços na habilidade de substituir partes do corpo doentes
e danificadas, pelos biomateriais. Esses implantes de substituição são construídos
a partir dos biomateriais, que são materiais naturais ou sintéticos, devendo serem
utilizados em contato com sistemas biológicos, e cuja finalidade é reparar ou substituir
tecidos, órgãos ou funções do organismo, com o objetivo de manter ou melhorar a
qualidade de vida do paciente. Uma questão importante é que os biomateriais devem
ser biocompatíveis, ou seja, compatíveis com os tecidos e fluidos do corpo, com os
quais eles ficam em contato ao longo de períodos de tempo aceitáveis. Os materiais
biocompatíveis não devem causar rejeição, respostas fisiologicamente inaceitáveis,
nem liberar substâncias tóxicas. Exemplos de aplicações de biomateriais (figura 3.6)
incluem próteses de articulações (por exemplo, da bacia e do joelho) e de válvulas

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coronárias, enxertos vasculares (vasos sanguíneos), dispositivos para fixação de


fraturas, restaurações dentárias e a geração de novos tecidos de órgãos.

Figura 3.6: Exemplos de aplicações de biomateriais

Nanomateriais
Então meus queridos alunos, fechando a classificação dos materiais, vamos
finalizando com uma nova classe de materiais que surgiram com características e
propriedades fascinantes, além de serem uma enorme promessa tecnológica, que
são os nanomateriais. A figura 3.7 ilustra algumas aplicações importantes nos dias
de hoje. Prestem atenção nesse momento, pois, esses podem ser de qualquer um
dos quatro tipos básicos de materiais — metais, cerâmicas, polímeros e compósitos.
Todavia, ao contrário desses outros materiais, eles não são diferenciados com
base em suas ligações químicas, mas, incrivelmente, em função de suas dimensões,
ou seja, do seu tamanho. Acompanhem comigo que o prefixo nano indica que as
dimensões desses materiais ou entidades estruturais são da ordem do nanômetro
(10–9 m) — como regra, menos de 100 nanômetros (nm; equivalente ao diâmetro de
aproximadamente 500 átomos), interessante não é mesmo? Os materiais conseguiram
ser aperfeiçoados graças também ao avanço dos Microscópios.

Figura 3.7: Exemplos de aplicações de Nanomateriais

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Alimentos-materiais-energia
Segundo a Agência Fapesp (2021), processar e converter resíduos em recursos é
uma das alternativas chamada economia circular - quando esses resíduos são advindos
da biomassa, caracteriza-se a bioeconomia circular.
Conforme Daniel Corrêa, da Embrapa de São Carlos:

“O nexo alimentos-materiais-energia é muito relevante para a


bioeconomia circular. Nosso objetivo foi apresentar as estratégias mais
avançadas para desconstruir resíduos agroalimentares; converter
o resultado em blocos de construção monoméricos, poliméricos e
coloidais; e, com base neles, sintetizar materiais avançados,”

Existem muitas dificuldades encontradas, dentre elas, que, para levar as pesquisas
do laboratório para a economia real está na sazonalidade da própria geração dos
resíduos agroalimentares: Determinados resíduos são abundantes em certas épocas
do ano e escassos em outras. Além disso, quando disponíveis, a própria composição
dessa pretensa matéria-prima é, geralmente, variável. As figuras 3.8 (a, b e c), ilustram,
algumas das principais pesquisas que tem sido desenvolvida sobre o assunto.

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Figura 3.8: Transistores e baterias feitos de restos alimentares.


Fonte: Adaptado de Caio Otoni et al (2021)
Disponível em: https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=bioeconomia-rotas-tecnologicas-transformar-lixo-alimentar-materiais-
avancados&id=010125211214

No entanto, muitos pesquisadores das universidades e instituições privadas,


entendem, que na maioria das vezes, o principal obstáculo à reutilização em larga
escala dessa biomassa não é de natureza técnica, mas política. A esperança é que
empresas emergentes e empresas tradicionais altamente inovadoras rompam essas
barreiras e conduzam esse processo.

ISTO ESTÁ NA REDE

https://nano.ufabc.edu.br/2016/09/07/bioquimica-aplicada-a-nanociencia-e-
materiais-avancados/

ISTO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=RGL0cFH3pds
https://www.youtube.com/watch?v=L_bcAHdeZrE

Considerações finais
Meus queridos alunos, gostaria de finalizar a classificação dos materiais, falando
brevemente dos “materiais inteligentes”, que os cientistas e engenheiros de materiais
os definem como um grupo de novos materiais de última geração, que estão sendo
desenvolvidos atualmente e que terão uma influência significativa sobre muitas das
nossas tecnologias. Existem muitos desafios para o campo de desenvolvimento.
O adjetivo inteligente significa que esses materiais são capazes de sentir mudanças
nos seus ambientes e assim responder a essas mudanças segundo padrões
predeterminados, que tem um comportamento fundamental, e cujas características,

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também são encontradas nos organismos vivos. Para fecharmos, estão estendendo
esse conceito de inteligente a sistemas razoavelmente sofisticados que consistem
tanto em materiais inteligentes quanto tradicionais, conclui Callister et al (2020).
A constituição química de um material (ou sistema) inteligente, está incluso algum
tipo de sensor (que detecta um sinal de entrada) e um atuador (que executa uma
função de resposta e adaptação). Os atuadores podem provocar mudança de forma,
de posição, da frequência natural ou das características mecânicas em resposta a
mudanças na temperatura, nos campos elétricos e/ou nos campos magnéticos.

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CAPÍTULO 4
ESTRUTURAS DOS
MATERIAIS CERÂMICOS

4.1 Estruturas dos Materiais Cerâmicos


Meus queridos alunos, vamos falar especificamente de uma parte muito importante
para a constituição dos materiais, sua estrutura. Começamos com as cerâmicas que são
normalmente compostos formados entre elementos metálicos e não metálicos, para os
quais as ligações interatômicas ou são totalmente iônicas ou são predominantemente
iônicas, mas com alguma natureza covalente (Callister et al, 2020). Segundo a literatura,
o termo cerâmica vem da palavra grega keramikos, que significa “matéria queimada”,
indicando que as propriedades desejáveis desses materiais são obtidas normalmente
por meio de um processo de tratamento térmico a alta temperatura chamado queima
ou cozimento.
Como vimos, as cerâmicas são compostas por pelo menos dois elementos e,
normalmente, suas estruturas cristalinas são, em geral, mais complexas que as dos
metais (figura 4.1 ilustra).

Figura 4.1: Exemplo de uma estrutura cristalina de um material cerâmico


Fonte: Andrade (2019)
Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/13895796/

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A ligação atômica nesses materiais varia desde puramente iônica até totalmente
covalente; muitas cerâmicas exibem uma combinação desses dois tipos de ligação,
sendo o grau do caráter ou natureza iônica dependente das eletronegatividades dos
átomos. A Tabela 4.1 apresenta o percentual de caráter iônico para vários materiais
cerâmicos comuns.
Material Percentual de Caráter Iônico
CaF2 89
MgO 73
NaCl 67
Al2O3 63
SiO2 51
Si3N4 30
ZnS 18
SiC 12
Tabela 4.1: Percentual de Caráter Iônico das Ligações Interatômicas para Vários Materiais Cerâmicos
Fonte: Callister et al (2020)

Para entendermos melhor a ligação dos materiais cerâmicos, vejamos a explicação


do professor André (UFCAT, 2020):

“Uma vez que a ligação atômica em materiais cerâmicos é parcialmente


ou totalmente iônica, a maioria das estruturas cerâmicas pode ser
pensada como sendo composta de íons eletricamente carregados
em vez de átomos. Os íons metálicos, ou cátions, são positivamente
carregados, uma vez que eles cederam os seus elétrons de valência
aos íons não metálicos, ou ânions, que são negativamente carregados”.

A figura 4.2, ilustra as configurações e a relação de estabilidade atômica, onde


conforme podemos observar, os círculos maiores representam os ânions; os círculos
menores representam os cátions.

Figura 4.2: Configurações de coordenação cátion-ânion estável e instável.


Fonte: Callister et al (2020)

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ANOTE ISSO

Duas características dos íons componentes em materiais cerâmicos cristalinos


influenciam a sua estrutura cristalina: a magnitude da carga elétrica em cada um
dos íons componentes e os tamanhos relativos dos cátions e ânions. Com relação
à primeira característica, o cristal deve ser eletricamente neutro, isto é, todas as
cargas positivas do cátion devem ser contrabalançadas por igual número de cargas
negativas do ânion. O segundo critério envolve os tamanhos ou os raios iônicos dos
cátions e ânions, rC e rA , respectivamente.

4.1.1 Estruturas Cristalinas do Tipo AX


Estrutura do Sal-gema
Conforme explicado por Callister et al 2020, observamos que a estrutura cristalina
AX mais comum seja a do tipo cloreto de sódio (NaCl), ou sal-gema. O número de
coordenação tanto para os cátions quanto para os ânions é 6 e, portanto, a razão entre
os raios do cátion e do ânion está entre aproximadamente 0,414 e 0,732. Uma célula
unitária para essa estrutura cristalina (Figura 4.3) é gerada a partir de um arranjo CFC
para os ânions com um cátion localizado no centro do cubo e um cátion no centro
de cada uma das 12 arestas do cubo.

Figura 4.3: Célula unitária para a estrutura cristalina do sal-gema, ou cloreto de sódio (NaCl)
Fonte: Callister et al (2020)

Estrutura do Cloreto de Césio


A figura 4.4 mostra uma célula unitária para a estrutura cristalina do cloreto de
césio (CsCl); o número de coordenação para ambos os tipos de íons é 8. Os ânions
estão localizados em cada um dos vértices de um cubo, enquanto o centro do cubo
contém um único cátion. O intercâmbio dos ânions pelos cátions, e vice-versa, produz
a mesma estrutura cristalina. Essa não é uma estrutura cristalina CCC, uma vez que
estão envolvidos íons de dois tipos diferentes.

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Figura 4.4: Célula unitária para a estrutura cristalina do cloreto de césio (CsCl)
Fonte: Callister et al (2020)

Estrutura da Blenda de Zinco


Uma terceira estrutura AX é aquela em que o número de coordenação é 4 — isto
é, todos os íons estão coordenados tetraedricamente. Essa estrutura é chamada de
blenda de zinco, ou esfalerita, em função do termo mineralógico para o sulfeto de zinco
(ZnS). Uma célula unitária é apresentada na Figura 4.5. Todos os vértices e todas as
posições nas faces da célula cúbica estão ocupados por átomos de S, enquanto os
átomos de Zn preenchem posições tetraédricas no interior. Uma estrutura equivalente
resulta se as posições dos átomos de Zn e de S forem invertidas.

Figura 4.5: Célula unitária para a estrutura cristalina da blenda de zinco (ZnS)
Fonte: Callister et al (2020)

4.1.2 Estruturas Cristalinas do Tipo AmXp


Se as cargas dos cátions e dos ânions não são as mesmas, pode existir um composto
com a fórmula química AmXp, em que m e/ou p ≠ 1. Um exemplo é o composto AX2,
para o qual uma estrutura cristalina típica é aquela encontrada na fluorita (CaF2). Os
íons cálcio estão posicionados nos centros de cubos, enquanto os íons de flúor estão
nos vértices. A figura 4.6 ajudam-nos a entender melhor as ligações da Fluorita (CaF2).

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A razão entre os raios iônicos, rC/rA, para o CaF2 é de aproximadamente 0,8, o que,
estabelece um número de coordenação de 8.

Figura 4.6: Equilíbrio de cargas de CaF2


Prof. Viana (2018)
Disponível em: https://catalogcdns3.ulife.com.br/content-cli/ENG_QUICIM_20/unidade_4/ebook/index.html

O prof. Viana (2018), explica porque ocorre essa reação, pois, devido a relação e à
magnitude da carga elétrica, o cristal deve ser eletricamente neutro. Ou seja, todas
as cargas dos cátions devem ser equilibradas de forma compatível com o número de
cargas dos ânions, estando relacionados com a estabilidade energética do retículo
cristalino, que consiste na adequação da estequiometria, na proporção da fórmula
química, conforme explicado na tabela 4.2. Observa-se que cada íon de cálcio (cátion)
tem uma carga 2+, e cada íon de flúor tem associada uma única carga negativa -1.
Por conseguinte, devem existir duas vezes mais íons negativos (F-) do que positivos
(Ca2+), o que culminará na fórmula química (CaF2), onde a carga total é igual a 0.

Tabela 4.2 (Tabela Periódica): Para o exemplo da Fluorita (CaF2) Porcentagem da natureza iônica entre vários materiais cerâmicos

Conforme se observa, a diferença de eletronegatividade é maior para o CaF2 (união de


um metal com um ametal — 89%), constituindo uma característica predominantemente
iônica, o que evidencia que, para materiais cerâmicos cujas ligações químicas são
majoritariamente iônicas, as estruturas cristalinas são formadas por íons eletricamente
carregados de forma positiva e negativa.

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A fluorita é um mineral que pertence à família dos haletos. É um mineral composto por
um óxido de cálcio e flúor, e ocorre na forma de cristais, figura 4.7, que podem assumir
várias cores que vão do verde ao incolor. Existem também cristais multicoloridos,
chamados γιaινόcolifiats.

Figura 4.7: Exemplo de uma pedra de fluorita e sua estrutura cristalina


Fonte: https://mineraly.pt/shop/cristais/cristais-em-ganga/fluorita/7005

A fluorita se forma em ambientes hidrotermais subterrâneos, bem como em zonas


sedimentares e metamórficas. É produzido quando a lava basáltica rica em fluorita
decai e os complexos de flúor são liberados e se misturam com fluidos dissolvidos,
formando cristais de fluorita.

3.1.3 Estruturas Cristalinas do Tipo AmBnXp


Quando temos meus queridos alunos, mais que um tipo de cátion para os compostos
cerâmicos; como no caso de dois tipos de cátions (representados por A e B), suas
fórmulas químicas podem ser designadas como AmBnXp. Como exemplo, podemos
citar o titanato de bário (BaTiO3), que se enquadra nessa classificação e, possui tanto
cátions Ba2+ quanto Ti4+,. Esse material tem uma estrutura cristalina da perovskita
e propriedades eletromecânicas bastante interessantes, as quais são discutidas
posteriormente. Em temperaturas acima de 120°C (248°F), a estrutura cristalina é
cúbica. O material, quando submetido a temperaturas maiores que 120°C (248°F),
apresenta a estrutura cristalina e cúbica. Uma célula unitária dessa estrutura é mostrada
na Figura 4.8. Os íons Ba2+ estão localizados em todos os oito vértices do cubo,
enquanto um único íon Ti4+ está no centro do cubo, com os íons O2– localizados no
centro de cada uma das seis faces.

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Figura 4.8: Exemplo de aplicação e Célula unitária para a estrutura cristalina da perovskita

Silicatos (Cerâmicas à base de silicatos)


Os silicatos são materiais compostos principalmente por silício e oxigênio, os
dois elementos mais abundantes na crosta terrestre; consequentemente, a maior
parte dos solos, rochas, argilas e areia enquadram-se na classificação de silicatos.
Compreendendo até 90% da composição da crosta terrestre. A unidade fundamental
que os compõe são os tetraedros de sílica, SiO4 (figura 4.9), que são, junto com os
óxidos, as unidades fundamentais que compõem a Terra. As diferentes combinações
das unidades fundamentais com os outros íons presentes na Terra geram uma grande
variedade de minerais que, por sua vez, compõem distintos tipos de rocha importantes
para entender o passado e o desenvolvimento da Terra. A capacidade da sílica de
formar compostos com diferente grau de complexidade faz que pelo menos 40% dos
minerais comuns pertençam a essa classe.

Figura 4.9: Arranjo dos átomos de silício e oxigênio em uma célula unitária de cristobalita, um polimorfo do SiO2.
Fonte: Adaptado de Callister et al (2020)

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Considerações finais
Conforme vimos no capítulo, a Estrutura Cristalina apresentada nos materiais
cerâmicos, são ligações interatômicas, e, variam desde puramente iônica até totalmente
covalente. Temos também, que para uma ligação predominantemente iônica, os cátions
metálicos estão carregados positivamente, enquanto os íons não metálicos têm
cargas negativas. E, para determinarmos a sua estrutura cristalina, deve-se verificar
a magnitude da carga em cada íon e o raio de cada tipo de íon.
Muitas das estruturas cristalinas mais simples são descritas em termos de células
unitárias, representadas pela figura 4.10 a seguir: Sal-gema, Cloreto de césio, Blenda
de zinco, Fluorita e Perovskita.

Figura 4.10: Exemplo de estruturas cristalinas de alguns materiais cerâmicos


Fonte: Adaptado de UFSCar (2020)
Disponível em: https://www.jornalamateria.ufscar.br/news/explicando-a-materia-cristais-ceramicos

Vimos também, que, algumas estruturas cristalinas podem ser geradas a partir
do empilhamento de planos compactos de ânions; os cátions preenchem posições
intersticiais tetraédricas e/ou octaédricas que existem entre planos adjacentes. E que,
em geral, a estrutura cristalina dos materiais cerâmicos é mais complexa que a dos
metais, uma vez que eles são compostos pelo menos por dois elementos, em que
cada tipo de átomo ocupa posições determinadas no reticulado cristalino.

ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=dtdcBV-uw5M

https://www.youtube.com/watch?v=oVzZ68NQLfk

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CAPÍTULO 5
ESTRUTURAS DOS MATERIAIS
METÁLICOS

5.1 Estruturas dos Materiais Metálicos

ANOTEM ISSO

Vamos agora estudar um dos materiais mais versáteis, os metais, representados


pelo Ferro e suas ligas. Em geral, cada átomo de um metal está ligado com seus
vizinhos por ligações metálicas. Como a ligação metálica é não-direcional não há
restrições quanto ao número e posições dos vizinhos mais próximos. Então, a
estrutura cristalina dos metais tem geralmente um número grande de vizinhos e
alto empacotamento atômico. Quatro são as estruturas cristalinas mais comuns
em metais: Cúbica simples, Cúbica de corpo centrado, cúbica de face centrada e
hexagonal compacta. Vejam a figura 3.4 a seguir.

Figura 3.4: Exemplo de núcleos e elétrons na estrutura atômica dos metais


Fonte: edisciplina.usp.br
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6002127/AULA%204.pdf?time=1599110905622

Os átomos podem ser agrupados dentro do sistema cúbico em 3 diferentes tipos


de repetição: Cúbico simples, Cúbico de corpo centrado e Cúbico de face centrada.
Vamos entender cada um deles agora?

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Sistema Cúbico Simples


Apenas 1/8 de cada átomo cai dentro da célula unitária, ou seja, a célula unitária
contém apenas 1 átomo. Essa é a razão que os metais não cristalizam na estrutura
cúbica simples (devido ao baixo empacotamento atômico). Vejam a figura 3.5 abaixo.

Figura 3.5: Estrutura cúbica simples


Fonte: edisciplina.usp.br (2020)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6002127/AULA%204.pdf?time=1599110905622

O número de coordenação corresponde ao número de átomos vizinhos mais


próximos, e, na estrutura cúbica simples o número de coordenação é 6. Vejam a figura
3.5 abaixo. A célula unitária da estrutura cúbica simples é constituída por um cubo
com 1/8 de átomo em cada vértice, que se repete nas três dimensões formando um
corpo sólido macroscópico. Dentre os metais só o polônio apresenta esta estrutura
– como o sistema CS, e contém 1/8 de átomo em cada vértice e o cubo contém 8
vértices, então, representativamente a célula unitária contém um átomo completo por
cubo: (8 x 1/8 = 1).

Figura 3.5: Exemplo de uma estrutura cúbica simples


Fonte: edisciplina.usp.br
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6002127/AULA%204.pdf?time=1599110905622

Na relação entre o raio atômico (r) e o parâmetro de rede (a) para o sistema cúbico
simples, os átomos se tocam na face, portanto, temos que a = 2 R. Observem a figura
3.6 a seguir.

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Figura 3.6: Sistema cúbico (Átomos se tocando na face)


Fonte: Adaptado de edisciplina.usp.br (2020)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6002127/AULA%204.pdf?time=1599110905622

Para o fator de empacotamento atômico para cúbico simples, temos:

Onde, utilizando a fórmula acima, teremos:

E o fator de empacotamento para a estrutura cúbica simples é 0,52. Ou seja, 52,4%


do volume da célula unitária está preenchido por átomos.

Estrutura cúbica de corpo centrado


A célula unitária da estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) é constituída por
um cubo com 1/8 de átomo em cada vértice e um átomo no centro do cubo, que se
repete nas três dimensões formando um corpo sólido macroscópico. Com a figura
3.7, entenderemos melhor.

Figura 3.7: Exemplo de uma célula unitária da estrutura cúbica de corpo centrado
Fonte: Adaptado de edisciplina.usp.br (2020)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6002127/AULA%204.pdf?time=1599110905622

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Vários metais se cristalizam e apresentam a estrutura CCC, como: Cr, Fe, Mo, W,
etc. Na estrutura CCC cada átomo dos vértices do cubo é dividido com 8 células
unitárias. Já o átomo do centro pertence somente a sua célula unitária. Cada átomo
de uma estrutura CCC é cercado por 8 átomos adjacentes. Há 2 átomos por célula
unitária na estrutura CCC.
Para entendermos o número de átomos por célula unitária, utilizaremos o seguinte
exemplo abaixo:

Então, para calcularmos o parâmetro de rede, temos:

Então, temos 8 átomos em contato na célula unitária CCC, ao longo da diagonal


do cubo. Vejam o exemplo na figura 3.8.

Figura 3.8: Átomos se tocando na diagonal no sistema CCC


Fonte: edisciplina.usp.br
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6002127/AULA%204.pdf?time=1599110905622

Agora, vamos calcular o fator de empacotamento atômico da célula unitária do


sistema CCC.

E o fator de empacotamento para a célula unitária do sistema CCC é 0,68. Ou seja,


68% do volume da célula unitária está preenchido por átomos.

Estrutura Cúbica de Face Centrada


A célula unitária da estrutura cúbica de face centrada (CFC) é constituída por um
cubo com 1/8 de átomo em cada vértice e meio átomo no centro de cada face, que

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se repete nas três dimensões formando um corpo sólido macroscópico. Observem o


exemplo na figura 3.9, abaixo.

Figura 3.9: Exemplo de célula unitária CFC


Fonte: Adaptado de edisciplina.usp.br (2020)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6002127/AULA%204.pdf?time=1599110905622

Vários metais apresentam a estrutura CCC: Cu, Al, Ni, Au, Pb, Pt, etc. O parâmetro
de rede e o raio atômico estão relacionados para este sistema por:

E na CFC cada átomo dos vértices do cubo é dividido com 8 células unitárias.
Já os átomos das faces pertencem somente a duas células unitárias. Vejam o
exemplo abaixo:

Portanto, temos 4 átomos por célula unitária na estrutura CFC. Observem o exemplo
através da figura 3.10, a seguir:

Figura 3.10: Exemplo do número de átomos por célula unitária (CFC)


Fonte: edisciplina.usp.br
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6002127/AULA%204.pdf?time=1599110905622

Vamos entender agora, a relação entre o raio atômico (R) e o parâmetro de rede
(a) para o sistema CFC, através da figura 3.11 abaixo.

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Figura 3.11: Exemplo para calcular o raio atômico


Fonte: edisciplina.usp.br
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6002127/AULA%204.pdf?time=1599110905622

O número de coordenação corresponde ao número de átomos vizinhos mais próximo.


Para a estrutura CFC o número de coordenação é 12.

Para fechar nosso entendimento da estrutura CFC, vamos calcular o fator de


empacotamento atômico.

E o fator de empacotamento para a célula unitária do sistema CFC é 0,74. Ou seja,


74% do volume da célula unitária está preenchido por átomos.
A tabela 3.1 abaixo, mostra um resumo do que vimos sobre a estrutura dos metais.

Tabela 3.1: Resumo para o sistema cúbico


Fonte: Rios (UEZO – 2013)

Hexagonal compacta (HC)


Os metais não cristalizam no sistema hexagonal simples porque o fator de
empacotamento é muito baixo. Entretanto, cristais com mais de um tipo de átomo
cristalizam neste sistema. Átomos localizados no vértice das faces hexagonais e 3
átomos localizados no centro da estrutura, conforme figura 3.12 ilustra. O sistema
Hexagonal Compacta é mais comum no Mg e Zn. Na HC cada átomo de uma dada

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camada está diretamente abaixo ou acima dos interstícios formados entre as camadas
adjacentes.

Figura 3.12: Exemplo de uma estrutura hexagonal compacta


Fonte: Rios (UEZO – 2013)

Cada átomo tangencia 3 átomos da camada de cima, 6 átomos no seu próprio plano
e 3 na camada de baixo do seu plano. O número de coordenação para a estrutura HC
é 12, e, portanto, o fator de empacotamento é o mesmo da CFC 0,74. Ou seja, 74%
do volume da célula unitária está preenchido por átomos.
Vamos entender agora, o número de átomos por célula unitária, através da figura
3.13, como exemplo.

Figura 3.13: Exemplo do número de átomos por célula unitária da HC


Fonte: Arantes (2019)

Sistemas cristalinos
O sistema cristalino é um esquema segundo o qual as estruturas cristalinas são
classificadas de acordo com a geometria da célula unitária. Essa geometria é especificada
em termos das relações entre comprimento de arestas e ângulos interaxiais. Existem
somente sete combinações diferentes dos parâmetros de rede. Cada uma dessas
combinações constitui um sistema cristalino.
Em meados do século XIX, A. Bravais estudou as diferentes maneiras de se arranjar
pontos geométricos de forma periódica no espaço tridimensional. Seu trabalho deu

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origem ao que se conhece hoje como redes de Bravais. Na figura 3.14, temos os 7
sistemas cristalinos e as 14 Redes Bravais conhecidas nos dias de hoje.

Figura 3.14: Os 7 sistemas cristalinos e as 14 Redes de Bravais


Fonte: Arantes (2019)

Polimorfismo ou alotropia
A alotropia é a possibilidade da existência de duas ou mais estruturas cristalinas diferentes
para uma substância, em geral, um sólido elementar (sólido elementar é um material formado
por um único elemento químico). Quando há a ocorrência de duas ou mais estruturas cristalinas
diferentes para compostos de mesma fórmula molecular, damos o nome de polimorfismo.
Em ambos os casos, a estrutura cristalina que prevalece, irá depender da pressão e
temperatura.
Geralmente as transformações polimórficas são acompanhadas de mudanças na
densidade e outras propriedades físicas.

ANOTEM ISSO

Polimorfismo, em química, é a propriedade de materiais sólidos poderem existir sob


mais de uma forma cristalina. Pode ser encontrado em qualquer material cristalino
incluindo polímeros e metais. O polimorfismo de substâncias químicas elementares
é apelidado de alotropia.

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Alguns exemplos de materiais que exibem polimorfismo: Ferro, Titânio, Carbono


(Grafite e Diamante, exemplo com a figura 3.15) e Sic (Carbeto de Sílicio) que chega
a ter 20 modificações cristalinas.

Figura 3.15: Exemplo de alotropia do Carbono


Fonte: Adaptado de Eco Materiais (2022)
Disponível em: https://www.ecomaterialis.blog.br/2020/11/as-varias-formas-do-carbono-alotropia.html

No caso dos metais, as 4 alotropias ou estruturas cristalinas mais comuns, vimos


nesse capítulo: Cúbica simples, Cúbica de corpo centrado, cúbica de face centrada e
hexagonal compacta.

ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=BUI5wPjq7Wg
https://www.youtube.com/watch?v=EoywrUmFT6c

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CAPÍTULO 6
ESTRUTURAS DOS
MATERIAIS E POLIMÉRICOS

6.1 Introdução
Bem meus queridos alunos, esse capítulo de estrutura dos materiais poliméricos,
também é bem bacana, concordam? Vamos ver um pouco de como surgiram esses
interessantes materiais, começando com a Etimologia da palavra “polímero”?
A palavra polímero origina-se do grego poli (muitos) e mero (unidade de repetição), com
isso teremos: “muitas partes repetidas”. Esse capítulo, segue nossa referência principal, do
livro de Ciência e Tecnologia dos Materiais, de William D. Callister Jr. e seus colaboradores.
Os polímeros que ocorrem naturalmente, derivados principalmente de plantas como
as seringueiras e de animais, têm sido usados desde os primórdios, há muitos séculos.
Incluímos nesses materiais a madeira, borracha, algodão, lã, couro e seda. Outros
polímeros naturais, como proteínas, enzimas, amidos e celulose, são importantes em
processos biológicos e fisiológicos nas plantas e nos animais. Nos dias de hoje, com os
avanços tecnológicos, e com as ferramentas modernas de pesquisa científica, podemos
tornar possíveis a determinação das estruturas moleculares desse grupo de materiais
e o desenvolvimento de inúmeros polímeros que são sintetizados a partir de moléculas
orgânicas pequenas. Muitos plásticos, borrachas e materiais fibrosos que nos são úteis
são polímeros sintéticos.
Como ocorre para os metais e as cerâmicas, as propriedades dos polímeros estão
relacionadas de maneira complexa com os elementos estruturais do material.

ANOTEM ISSO

Modificando as estruturas dos materiais, influenciamos suas propriedades,


características e desempenho.

6.2 Moléculas de Hidrocarbonetos


Antes de começarmos, vamos relembrar, que, a maioria dos polímeros são de origem
orgânica, e, muitos materiais orgânicos são hidrocarbonetos — isto é, são compostos
por hidrogênio e carbono. Podemos lembrar também, que, as ligações intramoleculares

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são covalentes. Cada átomo de carbono possui quatro elétrons que podem participar
de ligações covalentes, enquanto cada átomo de hidrogênio possui apenas um elétron
de ligação. Uma ligação covalente simples existe quando cada um dos dois átomos da
ligação contribui com um elétron, as ligações duplas e triplas entre dois átomos de carbono
envolvem o compartilhamento de dois e três pares de elétrons, respectivamente. Como
representado esquematicamente abaixo para uma molécula de hidrogênio (H2).

Figura 6.1: Exemplo de ligações simples e duplas (Etileno) e de ligação tripla Acetileno
Fonte: Callister et al (2020)

Alguns dos hidrocarbonetos simples pertencem à família das parafinas; as moléculas


com cadeias do tipo da parafina incluem metano (CH4), etano (C2H6), propano (C3H8)
e butano (C4H10). As composições e as estruturas moleculares para as moléculas
de parafinas são demonstradas na Tabela 3.1.

Tabela 6.1: Composições e Estruturas Moleculares para Alguns Compostos Parafínicos: CnH2n+2
Fonte: Adaptado de Callister et al (2020)

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6.3 Moléculas de Polímeros (Macromoléculas)


As moléculas nos polímeros são gigantescas em comparação às moléculas dos
hidrocarbonetos discutidas até o momento, isso por causa de seu tamanho, e, são
chamadas, com frequência, de macromoléculas. Em cada molécula, os átomos estão
ligados entre si por meio de ligações interatômicas covalentes. Para os polímeros com
cadeias de carbono, a estrutura de cada cadeia é uma série de átomos de carbono.
Muitas vezes, cada átomo de carbono se liga por ligações simples a dois átomos de
carbono adjacentes, um em cada lado, o que pode ser representado esquematicamente
em duas dimensões da seguinte maneira:

Cada um dos dois elétrons de valência restantes em cada átomo de carbono pode
estar envolvido em ligações laterais com átomos ou radicais que estejam posicionados
adjacentes à cadeia. Essas longas moléculas são compostas por entidades estruturais
chamadas unidades repetidas, que se repetem sucessivamente ao longo da cadeia.
Entendam que, o termo monômero refere-se à pequena molécula a partir da qual um
polímero é sintetizado. Dessa forma, monômero e unidade repetida significam coisas
diferentes, tudo bem meus queridos. A tabela 6.2, apresenta as unidades repetidas
mais comuns nos materiais poliméricos.

Tabela 6.2: Unidades Repetidas dos Materiais Poliméricos mais comuns


Fonte: Rossignolo e Pallone (USP - 2020)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7625824/mod_resource/content/2/ZEB%201038%20-%20Materiais%20Polimericos.pdf

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A cadeia polimérica pode-se formar então com a adição sequencial de unidades


monoméricas a essa cadeia molecular ativa em crescimento. O sítio ativo, ou elétron
não emparelhado (representado por ∙), é transferido para cada monômero terminal
sucessivo conforme esse monômero se liga à cadeia. Isso pode ser representado
esquematicamente da seguinte maneira (figura 6.2):

Figura 6.2: Para o polietileno, (a) uma representação esquemática da unidade repetida e das estruturas da cadeia e (b) uma perspectiva da molécula,
indicando a estrutura em zigue-zague da cadeia.
Fonte: Callister et al (2020)

6.4 Forma molecular


Temos visto até aqui, as moléculas dos polímeros como cadeias lineares, desprezando-
se o arranjo em zigue-zague dos átomos da cadeia principal (Figura 6.3). As ligações
simples na cadeia são capazes de sofrer rotações e flexões em três dimensões.
Características que tornam os polímeros materiais muito flexíveis com uma gama
imensa de aplicações.

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Figura 6.3: Representações esquemáticas de como a forma da cadeia polimérica é influenciada pelo posicionamento dos átomos de carbono na cadeia
principal (círculos cinza)
Fonte: Callister et al (2020)

Observem que, em (a), o átomo mais à direita pode localizar-se em qualquer posição
sobre o círculo tracejado, e ainda assim subtender um ângulo de 109° com a ligação
entre os outros dois átomos. Segmentos de cadeia em linha reta e retorcidos são
gerados quando os átomos na cadeia principal estão posicionados como em (b) e (c),
respectivamente. Os polímeros consistem em grandes números de cadeias moleculares,
cada uma das quais pode dobrar, enrolar e contorcer. Além de terem características
mecânicas e térmicas em função da habilidade da cadeia poder sofrer rotações, em
resposta as tensões aplicadas.

6.5 Estrutura Molecular


As características e propriedades físicas de um polímero dependem não apenas
de seu peso molecular e de sua forma, mas também de diferenças nas estruturas
das cadeias moleculares. Hoje, existem várias empresas com técnicas modernas de
síntese dos polímeros permitem um controle considerável sobre várias possibilidades
estruturais. Estamos conversando sobre as várias estruturas moleculares, entre elas
as estruturas lineares, ramificadas, com ligações cruzadas e em rede, além de várias
configurações isoméricas.
A figura 6.4, ilustra algumas dessas ramificações, e, teremos os círculos representando
as unidades repetidas individuais.

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Figura 6.4: Representações esquemáticas de estruturas moleculares (a) linear, (b) ramificada, (c) com ligações cruzadas e (d) em rede (tridimensional).
Fonte: Callister et al (2020)

6.5.1 Polímeros Lineares


Nos polímeros lineares, normalmente existem muitas ligações de van der Waals e de
hidrogênio entre as cadeias. Os polímeros lineares são aqueles nos quais as unidades
repetidas estão unidas entre si extremidade a extremidade em cadeias únicas. Essas
longas cadeias são flexíveis e podem ser consideradas como se fossem uma massa
de espaguete, como representado esquematicamente na Figura 6.4a, em que cada
círculo representa uma unidade repetida. Alguns desses polímeros comuns: polietileno,
o poli (cloreto de vinila), o poliestireno, o poli (metacrilato de metila), o náilon e os
fluorocarbonos.

6.5.2 Polímeros Ramificados


São chamados apropriadamente de polímeros ramificados, aqueles que podem ser
sintetizados e cujas cadeias de ramificações laterais estão ligadas às cadeias principais,
como indicado esquematicamente na Figura 6.4b. As ramificações, consideradas
como parte da molécula da cadeia principal, podem resultar de reações paralelas
que ocorrem durante a síntese do polímero. A eficiência de compactação da cadeia
é reduzida pela formação de ramificações laterais, o que resulta em uma redução na
massa específica do polímero. Exemplos: o polietileno de alta densidade (PEAD) é

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primariamente um polímero linear, enquanto o polietileno de baixa densidade (PEBD)


contém ramificações curtas em sua cadeia.

6.5.3 Polímeros com Ligações Cruzadas


O processo de obtenção de ligações cruzadas é conseguido ou durante a síntese
do polímero ou por meio de uma reação química irreversível. Nos polímeros com
ligações cruzadas, cadeias lineares adjacentes estão unidas umas às outras em várias
posições por meio de ligações covalentes, como representado na Figura 6.4c. Com
frequência, essa formação de ligações cruzadas é obtida pela adição de átomos ou
moléculas que se ligam covalentemente às cadeias. Muitos dos materiais elásticos
do tipo borracha têm ligações cruzadas; nas borrachas, a formação das ligações
cruzadas é conhecida como vulcanização.

6.5.4 Polímeros em Rede


Monômeros multifuncionais com três ou mais ligações covalentes ativas formam
redes tridimensionais (Figura 6.4d) e são denominados polímeros em rede. Na realidade,
um polímero que tenha muitas ligações cruzadas também pode ser classificado como
polímero em rede. Esses materiais apresentam propriedades mecânicas e térmicas
distintas; as resinas epóxi, as poliuretanas e os fenol-formaldeídos pertencem a esse
grupo.

6.6 Polímeros Termoplásticos e Termofixos


As propriedades, ou seja, a resposta de um polímero a forças mecânicas em
temperaturas elevadas está relacionada com a sua estrutura molecular dominante. Na
verdade, um esquema de classificação para esses materiais é feito de acordo com seu
comportamento ante uma elevação na temperatura. Os termoplásticos (ou polímeros
termoplásticos) e os termofixos (polímeros termofixos ou polímeros termorrígidos)
são as duas subdivisões. A figura 6.4 ilustra como são classificados.

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Figura 6.4: Classificação dos polímeros sintéticos de acordo com a sua estrutura intermolecular
Fonte: Adaptado de Prof. Correa (2014)
Disponível em: https://engenhariacivilfsp.files.wordpress.com/2014/05/aula-polc3admeros.pdf

6.6.1 Termoplásticos
Os termoplásticos amolecem (e posteriormente se liquefazem) quando são aquecidos
e endurecem quando são resfriados — processos que são totalmente reversíveis e que
podem ser repetidos. Em uma escala molecular, conforme a temperatura é elevada,
as forças de ligação secundárias diminuem (pelo maior movimento das moléculas),
tal que o movimento relativo de cadeias adjacentes é facilitado quando uma tensão é
aplicada. Uma degradação irreversível ocorre quando a temperatura de um polímero
termoplástico fundido é aumentada em excesso. Além disso, os termoplásticos são
relativamente macios. A maioria dos polímeros lineares e aqueles que têm algumas
estruturas ramificadas com cadeias flexíveis são termoplásticos. Esses materiais
normalmente são fabricados com aplicação simultânea de calor e pressão. Exemplos
de polímeros termoplásticos comuns (figura 6.5) incluem o polietileno, o poliestireno,
o poli (tereftalato de etileno) e o poli (cloreto de vinila).

Figura 6.5: Exemplo de Poliestireno (conhecido comercialmente como isopor)


Fonte: Adaptado de Fogaça (2018)
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/poliestireno.htm

O poliestireno (PS), explica Fogaça (2018), é um polímero sintético de adição, que é


formado pela adição sucessiva de monômeros do estireno, também chamado de vinil-
benzeno, que é um líquido oleoso cujas moléculas são formadas por benzeno e etileno

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(ilustrado na figura 6.5). O poliestireno é um polímero de adição muito versátil, sendo


usado de três formas: como poliestireno comum, como poliestireno de alto impacto e
como isopor.

6.6.1 Termorrígidos
Os polímeros termofixos são polímeros em rede. Eles se tornam permanentemente
rígidos durante sua formação e não amolecem sob aquecimento. Os polímeros em rede
apresentam ligações cruzadas covalentes entre as cadeias moleculares adjacentes. Durante
os tratamentos térmicos, essas ligações prendem as cadeias umas às outras para resistir
aos movimentos de vibração e de rotação da cadeia em temperaturas elevadas. Dessa
forma, os materiais não amolecem quando são aquecidos. A densidade de ligações
cruzadas é geralmente elevada, tal que entre 10 e 50% das unidades repetidas na cadeia
têm ligações cruzadas. Apenas um aquecimento até temperaturas excessivas causará o
rompimento dessas ligações cruzadas e a degradação do polímero. Os polímeros termofixos
são, em geral, mais duros e mais resistentes que os termoplásticos, e possuem melhor
estabilidade dimensional. A maioria dos polímeros com ligações cruzadas e em rede, os
quais incluem as borrachas vulcanizadas, os epóxis, as resinas fenólicas e algumas resinas
poliéster, são termofixos. Vamos ver na figura 6.6, um exemplo muito utilizado na aplicação
dos polímeros termofixos, juntamente com o aço (fios de aço), para a construção de um
material muito conhecido nosso da indústria automotiva, os pneus.

Figura 6.6: Exemplo de polímeros utilizados na fabricação do pneu (borracha sintética – Copolímeros)
Fonte: Adaptado de Mário Caetano (2022)
Disponível em: (1) https://www.ctborracha.com/borracha-sintese-historica/aplicacoes/pneus/o-que-e-um-pneu/
(2) https://www.ctborracha.com/borracha-sintese-historica/materias-primas/borrachas/borrachas-sinteticas/borracha-de-estireno-butadieno-sbr/

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Muitas aplicações exigem polímeros de adição, que são formados por monômeros iguais,
para a fabricação das borrachas sintéticas que são constituídas também de copolímeros,
isto é, são formadas pela união de monômeros diferentes, explica Fogaça (2018). Dessas, a
borracha mais importante é a utilizada na produção de pneus (figura 6.6). Esses polímeros
são conhecidos pela sigla em inglês GRS (government rubber styrene) - borracha estireno
do governo ou SBR (styrene butadiene rubber) - borracha de estireno butadieno. Essas
siglas indicam que essa borracha é formada pela união dos monômeros do eritreno (buta-
1,3-dieno) e do estireno, conforme a reação de polimerização abaixo. Esse polímero é
também chamado de buna-S, sendo que o termo “bu” vem de “butadieno”, “na” vem de
“sódio” (Natrium) e “S” de “estireno” (styrene).

Considerações finais
Bem meus queridos alunos, estamos finalizando essa área da ciência que vem
crescendo muito no mundo atualmente, devido a versatilidade dos produtos obtidos, os
custos acessíveis para a maioria dos produtos, dentre outras características. Algumas
observações para relembrarmos, vimos que, para os polímeros lineares, a cristalização
é obtida com facilidade, pois existem poucas restrições para prevenir o alinhamento das
cadeias. E também, importante citarmos que praticamente qualquer ramificação lateral
pode interferir com a cristalização, e que, os polímeros ramificados nunca são altamente
cristalinos. Para ajudar a entender, vamos associar a aplicação desses materiais no dia
a dia, conforme características estruturas e moleculares, através da figura 6.7.

Figura 6.7: Exemplo de aplicação de alguns polímeros com ramificações cruzadas e a representação estrutural e molecular Fonte: Adaptado de Fogaça
(2018)
Disponíveis em: (1) https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADmero_ramificado
(2) https://www.preparaenem.com/quimica/classificacao-dos-polimeros-sinteticos.htm

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E lembrando que, um fato que não podemos esquecer, é que a presença excessiva
de ramificações pode prevenir por completo qualquer cristalização. Vimos também,
que a maioria dos polímeros em rede e com ligações cruzadas é quase totalmente
amorfo, e, por que isso acontece?
Porque as ligações cruzadas previnem que as cadeias poliméricas se rearranjem e
se alinhem em uma estrutura cristalina. Uns poucos polímeros com ligações cruzadas
são parcialmente cristalinos.
Para os copolímeros, como regra geral, quanto mais irregulares e maior a aleatoriedade
dos arranjos das unidades repetidas, maior a tendência de desenvolvimento de um
material não cristalino. Para os copolímeros alternados e em bloco, existe alguma
probabilidade de cristalização. Entretanto, os copolímeros aleatórios e com enxerto
são, em geral, amorfos.
Até certo ponto, as propriedades físicas dos materiais poliméricos são influenciadas
pelo grau de cristalinidade. Os polímeros cristalinos são, em geral, mais resistentes
mecanicamente e mais resistentes à dissolução e ao amolecimento pelo calor.

ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=ZoZo6v-lLwM&t=18s
https://www.youtube.com/watch?v=cN6zmrpekMs

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CAPÍTULO 7
ESTRUTURA AMORFA

7.1 Introdução
Olá meus queridos alunos, vamos entender agora sobre a estrutura amorfa. Vimos
até aqui, segundo Caram (2016) que, conforme a distribuição espacial dos átomos,
moléculas ou íons, os sólidos podem ser classificados em:
– Cristalinos: compostos por átomos, moléculas ou íons arranjados de uma forma
periódica em três dimensões. As posições ocupadas seguem uma ordenação que se
repete para grandes distâncias atômicas (de longo alcance).
– Amorfos: compostos por átomos, moléculas ou íons que não apresentam uma
ordenação de longo alcance. Podem apresentar ordenação de curto alcance.
Sobre os cristalinos, já vimos um pouco nos capítulos 3 e 5, se lembram?
Falaremos agora sobre as estruturas amorfas, também conhecidas de estruturas
vítreas, sendo formadas por arranjos atômicos aleatórios e sem simetria ou ordenação
de alcance. A figura 7.1 ilustra esse comportamento desordenado.
Encontramos esse tipo de estrutura em gases, líquidos e em alguns sólidos,
representados basicamente pelos vidros.

Figura 7.1: Representação das estruturas dos materiais conhecidos (cristalino, amorfo e nanocristalino)
Fonte: Magmattec.com (2023)
Disponível em: https://www.magmattec.com.br/materiais-magneticos-e-aplicacoes/o-que-sao-materiais-nanocristalinos

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7.2 Características das Estruturas Amorfas


Por definição, segundo o prof. Caram da Unicamp (2016), um material apresenta estrutura
amorfa quando o mesmo é resfriado a partir do liquido e exibe um aumento contínuo
de sua viscosidade. Quando o material atinge uma determinada temperatura, definida como
temperatura de transição vítrea, Tv, o valor da viscosidade é da ordem de 1012 a 1013 Poise
(1 Poise=0,1 N.s/m2).
Este valor de viscosidade é semelhante a aqueles de materiais no estado sólido.
Nesta situação, devido ao limitado movimento atômico, o rearranjo dos átomos não
é possível e a cristalização do material não ocorre. Por outro Iado, se durante tal
resfriamento, a cristalização do material ocorre, a viscosidade do mesmo é abruptamente
alterada, atingindo valores próximos de 1012 Poise. A figura 7.2 apresenta um diagrama
esquemático da variação da viscosidade em função da temperatura, para materiais
cristalinos e amorfos.

Figura 7.2: Variação da viscosidade com a temperatura para materiais vítreos e cristalinos.
Fonte: Prof. Caram - Unicamp (2016)
Disponível em: http://www.fem.unicamp.br/~caram/capitulo7.pdf

Uma outra forma de diferenciar o processo de formação da estrutura cristalina


(cristalização) da estrutura amorfa (vitrificação) é a medida de variação de volume durante o
resfriamento do material liquido, a figura 7.3 ilustra a estrutura para o vidro.
Quando o material se cristaliza, ocorre uma rápida variação de volume em uma determinada
temperatura, definida como a de fusão (Tf). Este fenômeno é resultante da reorganização
dos átomos para formar um cristal do material.
Se o material apresenta a processo de vitrificação durante a resfriamento, a variação de
volume é continua, já que a ordenação dos átomos não ocorre totalmente.

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Figura 7.3: Representação estrutural da vitrificação


Fonte: Silva Jr. (2018)
Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/fisica/o-vidro-solido-ou-liquido.htm

A figura 7.4 mostra a variação do volume específico com a temperatura para materiais
vítreos e para materiais cristalinos. Resumindo, explica Caram (2016), é possível afirmar
que a vidro tem estrutura de um Líquido “congelado”. Este “congelamento” da estrutura
do líquido se dá à temperatura de vitrificação, que é inferior à temperatura de cristalização.

Figura 7.4: Variação do volume específico com a temperatura para materiais vítreos e cristalinos.
Fonte: Prof. Caram - Unicamp (2016)
Disponível em: http://www.fem.unicamp.br/~caram/capitulo7.pdf

A estrutura amorfa é geralmente observada em materiais que poderiam apresentar


estrutura cristalina se solidificados sob condições especiais. Alguns compostos cerâmicos
â base de óxidos, silicatos, boratos e aluminetos formaram estruturas vítreas em condições
normais de solidificação.

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7.3 Vidro
Geralmente o vidro (oriundo de silicatos), explica Avancini (2016), é conhecido como
um material sólido obtido a partir do resfriamento de um líquido sem cristalizar. É
obtido de materiais inorgânicos (óxidos e minerais), fundidos e resfriados de maneira
a não apresentar ordenamento e periodicidade em longas e médias distâncias. Têm o
aspecto sólido, porém, fisicamente, a existência única de uma temperatura de transição
vítrea (Tg), com seu valor dependente da taxa de resfriamento, caracterizaria o vidro
como um líquido de altíssima viscosidade. A definição menos ambígua seria a de um
líquido super-resfriado.

7.3.1 Temperatura de transição vítrea (Tg)


A temperatura de transição vítrea (Tg) é um parâmetro representativo em materiais
amorfos como vidro, mas é dependente da taxa de resfriamento como indicado na
Figura 7.5 a seguir.

Figura 7.5: Taxas de resfriamento R1 e R2, com R1>R2 e respectivos limites superiores (Tg1) e (Tg3)
Fonte: Adaptado de Avancini – UFRS (2016)
Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/151377/001010927.pdf?sequence=1

Ao contrário da temperatura de solidificação que marca uma queda abrupta


(descontínua) do volume específico do líquido que está sendo resfriado, a Tg marca
a temperatura de redução da taxa já decrescente do volume específico, indicando
a baixíssima mobilidade molecular similar ao do estado sólido (Figura 7.6), explica
Avancini (2018). A temperatura de transição vítrea normalmente corresponde a valores
de viscosidade de aproximadamente 1013Pa.

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Figura 7.6: Volume específico versus temperatura, sobre arrefecimento de fundidos, curva vermelha (vidro), curva azul (sólido cristalino)
Fonte: Adaptado de Avancini – UFRS (2016)
Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/151377/001010927.pdf?sequence=1

7.3.2 Estrutura do vidro de silicatos


Conforme Avancini (2016) cita, a unidade estrutural básica da rede da sílica é o
tetraedro silício-oxigênio SiO4 -4, no qual um átomo de silício está ligado a quatro
átomos de oxigênio. Será ilustrado pela figura 7.7 a seguir. Os tetraedros de sílica
estão ligados pelos vértices, por meio do compartilhamento do átomo de oxigênio.

Figura 7.7: Unidade estrutural básica da rede de sílica no vidro, tetraedro silício-oxigênio SiO4 -4
Fonte: Adaptado de Avancini – UFRS (2016)
Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/151377/001010927.pdf?sequence=1

Assim, conclui Avancini (2016), a respeito dos vidros e sua estrutura vítrea, amorfa,
que pode ser representada pelos tetraedros de sílica ligados entre si pelos vértices,
através do compartilhamento do átomo de oxigênio com dois átomos de silício, o qual
será ilustrado pela figura 7.8 abaixo.

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Figura 7.8: Estrutura cristalina e amorfa da sílica


Fonte: Adaptado de Callister et al (2002)

Podemos observar na figura 7.8, a Estrutura amorfa de sílica, onde temos os pontos
pretos (menores) representando átomos de Si e pontos cinzas (maiores) representando
os átomos de O2 .
No mercado, temos normalmente três tipos de vidros mais comuns, classificados de
acordo com sua composição química: sódico-cálcico (usados na produção de garrafas),
os plúmbeos (vidro cristal), e borosilicatos (usados na fabricação de materiais para
laboratório). Com o Quadro 7.1 abaixo, exemplificamos a composição química destes
três principais tipos de vidros encontrados no mercado.

Quadro 7.1: Composição em peso % de três tipos de vidros comerciais


Fonte: Adaptado de Avancini – UFRS (2016)
Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/151377/001010927.pdf?sequence=1

A sílica (SiO2) é o exemplo clássico de material que em condições especiais pode exibir o
processo de cristalização e formar o quartzo. Por outro Iado, se o resfriamento da sílica,
a partir do liquido, ocorre em condições normais, a estrutura resultante é a amorfa. A figura
7.9 mostra as duas estruturas observada na sílica: estrutura cristalina e estrutura vítrea.

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Figura 7.9: Diagrama bidimensional das estruturas cristalina e vítrea da sílica


Fonte: https://www.saberatualizado.com.br/2016/09/o-vidro-e-um-liquido-ou-e-um-solido.html

Podemos observar na figura 7.9, a estrutura de um Quartzo e de um Vidro, onde


podemos notar a diferença entre ambos quanto ao grau de organização dos seus
átomos constituintes; no cristal, diferente do sólido amorfo, existe uma célula
unitária que se propaga uniformemente pela estrutura do cristal, de forma muito
bem ordenada e em uma geometria específica.
Também, encontramos outros materiais sólidos que apresentam a estrutura
amorfa e, se destacam pelo interesse tecnológico que desperta, são os “metais
amorfos”, também chamados de “vidros metálicos”. Os vidros metálicos, segundo
o prof. Caram da Unicamp (2016), têm se apresentado como uma nova classe de
materiais que começou a ser desenvolvida com sucesso na década de 60 e são
obtidos a partir do estado liquido, por resfriamento ultra-rápido, ou seja, taxas de
resfriamento muito veloz.
Os metais amorfos foram obtidos pela primeira vez da solidificação rápida
da liga Au-25%Si, em 1900 no Caltec (California Institute of Technology, EUA).
Essa descoberta trouxe muito interesse da comunidade científica, pois até aquela
data sempre se associava a um sólido metálico, estrutura atômica perfeitamente
organizada (cristal). Este desenvolvimento motivou uma intensa corrida ao
desenvolvimento dos metais amorfos e atualmente, este material já é utilizado
comercialmente em diversos campos.

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ANOTEM ISSO

Como sabemos, os metais amorfos possuem uma estrutura semelhante a dos


vidros tradicionais, eles exibem algumas características bastante diferenciadas
destes. Como os metais amorfos são constituídos por elementos metálicos, ligados
entre si por ligações metálicas, eles apresentam elevada condutividade elétrica e
térmica, assim como são dúcteis. Em contrapartida, os metais amorfos não são
transparentes como os vidros à base de óxidos, nem são frágeis. Normalmente, ou
metais vítreos mostram qualidades particulares como a facilidade de magnetização,
elevada dureza, alta tenacidade, resistência à corrosão e expansão térmica reduzida.
Os metais vítreos possuem características mecânicas bastante interessantes, como
elevada resistência mecânica, podendo ser utilizados como elemento de reforço em
concreto, plástico e borracha (ilustrado pela figura 7.10).

Figura 7.10: Exemplo de um ensaio de tração de um metal vítreo e o comportamento micrografico do material
Fonte: Retirado do Site Inovação Tecnológica – (2014)
Disponível em: https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=nova-tecnica-transforma-metal-vidro&id=010160140903

A estrutura amorfa apresenta um arranjo estrutural em que, a rigor, não exibe


as mesmas imperfeiçoes observadas em materiais cristalinos. Assim, comenta o
prof. Caram (2016) que, os mecanismos de deformação plástica em cristais não são
observados nos vidros metálicos. A resistência mecânica destes materiais é bastante
elevada, chegando próximas do valor teórico (monocristais sem discordâncias).
Com relação às características químicas e físico químicas, ressaltamos que, os
pouquíssimos ou nenhuma presença de defeitos estruturais, como contornos de
grão, discordâncias, precipitados e segregações, conforme ilustrado pela figura 7.11,
atribuem ao material um comportamento químico bastante diferenciado dos metais

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cristalinos. Quando sua composição química e formada adequadamente, como o


cromo, os metais vítreos apresentam resistência à corrosão ideal.

Figura 7.11: Micrografia de um vidro metálico


Fonte: https://vidroimpresso.com.br/noticia-setor-vidreiro/vidro-metalico-e-processado-como-se-fosse-plastico

Dentre as possíveis aplicações dos metais vítreos, com relação a características


químicas, pode-se destacar o uso em lâminas de barbear, cutelaria, bio-implantes,
eletrodo para células eletrolíticas e vasos de reatores químicos.
Como a resistividade elétrica de um material está relacionada com a desorganização
atômica, em metais vítreos este parâmetro é elevado quando comparado aos cristalinos
e pouco dependente da temperatura. lsto significa que os metais amorfos exibem
baixo valor do coeficiente de variação de resistividade com a temperatura, podendo ser
usados como resistências de precisão, ou ainda como sensores de campos magnéticos.

Considerações finais
Meus queridos alunos, estamos encerrando o capítulo que fala de uma estrutura
bem peculiar, e que comercialmente, são muito aplicados em nossas vidas, estamos
falando dos materiais mais conhecidos e infinitamente recicláveis (figura 7.12), os
vidros. Esses materiais sólidos não cristalinos carecem de um arranjo sistemático e
regular dos átomos ou íons ao longo de distâncias relativamente grandes (em uma
escala atômica). Às vezes, o termo amorfo também é considerado para descrever
esses materiais.
Claro, não nos esqueçamos dos vidros metálicos, também bastante utilizado no
dia a dia. Os vidros metálicos ou metais amorfos são ligas em que a estrutura não
é cristalina (como na maioria dos metais), mas sim desordenada, com os átomos

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ocupando posições mais ou menos aleatórias na estrutura. Os vidros metálicos ou


metais amorfos são ligas em que a estrutura não é cristalina (como na maioria dos
metais), mas sim desordenada, com os átomos ocupando posições mais ou menos
aleatórias na estrutura. Nesse sentido, os vidros metálicos são semelhantes aos vidros
de óxidos que estão presentes no cotidiano, como as janelas e garrafas.

Figura 7.12: Exemplo do fluxo de processo de reciclagem do vidro


Fonte: recicloteca.org.br
Disponível em: https://www.recicloteca.org.br/material-reciclavel/vidro/

A estrutura amorfa dos vidros metálicos possui duas propriedades importantes.


Primeiro, como outros tipos de vidros, eles experimentam uma transição vítrea para
um estado líquido super-resfriado ao serem aquecidos. Nesse estado, a viscosidade
do vidro pode ser controlada em uma ampla faixa criando a possibilidade de grande
flexibilidade na forma do vidro.

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https://www.youtube.com/watch?v=q_zshp9eiX0
https://youtu.be/r0FCcfUKrls

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CAPÍTULO 8
MATERIAIS COMPÓSITOS

8.1 Introdução
Olá meus queridos alunos, vamos ver agora sobre um dos materiais mais
interessantes: Os Compósitos. Façamos a reflexão novamente: Por que estudá-los?
Segundo Callister (2020) muitas das nossas tecnologias modernas exigem materiais
com combinações incomuns de propriedades que não podem ser atendidas pelas ligas
metálicas, cerâmicas ou materiais poliméricos convencionais. Isso é especialmente
verdadeiro para os materiais necessários para aplicações aeroespaciais, subaquáticas e
de transporte. Por exemplo, os engenheiros da indústria aeronáutica, conforme ilustrado
pela figura 8.1, estão cada vez mais buscando materiais estruturais que possuam baixas
densidades, sejam fortes, rígidos e apresentem resistência à abrasão e ao impacto,
e que ao mesmo tempo não sejam facilmente corroídos. Isso é uma combinação de
características consideravelmente formidável. Com frequência, os materiais mais fortes
são relativamente densos; ainda, o aumento da resistência ou da rigidez resulta, em
geral, em uma diminuição da resistência ao impacto.

Figura 8.1: Material compósito no EMB 170 (Vista explodida da aeronave EMB-170, mostrando os componentes fabricados em compósitos poliméricos
avançados)
Fonte: Mirabel C. Rezende - CTA, IAE, Divisão de Materiais (2020)
Disponível em: https://www.scielo.br/j/po/a/rQcRpJnpNfTGrTQqsLN4RyB/?lang=pt#

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O gráfico 8.1 ilustra o uso de materiais compósitos, em substituição aos materiais


metálicos, das aeronaves Boeing 777, Airbus A-380 e do Embraer 170. Conforme
explica a Profª Drª Mirabel C. Rezende do CTA de São José dos Campos (2020), que
a evolução tecnológica, vem ajudando e promovendo cada vez mais os materiais
poliméricos, de alta resistência estrutural, e veem ganhando espaço neste segmento,
podendo ser observado um crescimento desses materiais na fabricação das aeronaves,
tendo-se hoje projetos de novas aeronaves com a previsão de uso de 50% em peso
em materiais compósitos.

Gráfico 8.1: Percentagem global dos materiais utilizados na fabricação das aeronaves - a) distribuição % global de peso: BOEING 777; b) distribuição %
global de peso: AIRBUS A380; e c) Distribuição % global de peso: EMBRAER 170
Fonte: Mirabel C. Rezende -CTA, IAE, Divisão de Materiais (2020)
Disponível em: https://www.scielo.br/j/po/a/rQcRpJnpNfTGrTQqsLN4RyB/?lang=pt#

ANOTE ISSO

A melhoria das características e a versatilidade das aplicações em segmentos


importantes como a indústria aeronáutica, automobilística, naval, dentre outras, tem
sido possível graças as combinações e as faixas das propriedades dos materiais
compósitos, que, ainda estão sendo ampliadas com o seu desenvolvimento.
Conceitualmente, um material compósito pode ser considerado como qualquer
material multifásico que exibe uma proporção significativa das propriedades
de ambas as fases constituintes, tal que é obtida uma melhor combinação de
propriedades. De acordo com esse princípio da ação combinada, melhores
combinações de propriedades são criadas por uma combinação criteriosa de dois
ou mais materiais distintos. Um equilíbrio entre propriedades também é feito para
muitos materiais compósitos.

4.2 Classificação e Tipo dos Compósitos


Os compósitos são classificados conforme o tipo de reforço e matriz utilizados. A
maioria das fibras utilizadas em compósitos de alto desempenho, consistem de centenas
de monofilamentos, cada filamento possui diâmetros entre 5 e 25 micrômetros. Desta
forma, ambas, reforço e matriz mantém suas identidades físicas e químicas, mas

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produzem uma combinação de propriedades que não são alcançadas com apenas
um dos constituintes agindo sozinho, conforme Zanchetta (2020).
Nos compósitos as fibras são as principais responsáveis pela resistência às cargas.
A matriz aderida (conforme ilustra a figura 8.2) e envolvente mantém as fibras no
local desejado garantindo sua orientação, e transferindo as cargas entre as fibras, e
ainda as protege de danos causados por intempéries, umidade e agentes químicos.
Uma característica importante da maioria dos materiais, especialmente dos frágeis,
é a de que uma fibra com pequeno diâmetro é muito mais resistente que o material
bruto.
Os materiais classificados como fibras podem ser tanto policristalinos quanto
amorfos e possuem diâmetros pequenos; os materiais fibrosos são geralmente
polímeros ou cerâmicas (por exemplo, aramidas poliméricas, vidro, carbono, boro,
óxido de alumínio e carbeto de silício).

Figura 8.2: Exemplo da interface fibra x matriz na estrutura de um material compósito


Fonte: Adaptado de Zanchetta (2020)
Disponível em: https://graduacao.iqsc.usp.br/files/Materiais-Comp%C3%B3sitos-2.pdf

A Ligação entre a fibra e a matriz é de fundamental importância nas propriedades


mecânicas dos compósitos. A interação (força de ligação) entre a fibra e a matriz
dependem principalmente da afinidade química entre elas. Os compósitos são
classificados conforme o tipo de reforço e matriz utilizados.

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A classificação pode ser, quanto ao tipo de reforço, onde as principais fibras sintéticas
para reforços de compósitos poliméricos são usualmente utilizadas. A expressão
fiberglass ou fibra de vidro (figuras 8.3 e 8.4 respectivamente) identifica simplesmente
um compósito que consiste em fibras de vidro, contínuas ou descontínuas, contidas em
uma matriz polimérica; esse tipo de compósito é produzido nas maiores quantidades.

Figura 8.3: Exemplo de fibras unidirecional contínua dos compósitos

Figura 8.4: Exemplo de fibras unidirecional descontínua dos compósitos


Fonte: Adaptado de Duarte (2020)
Disponível em: https://estudomec.info/files/SM_5.Compositos.pdf

Os compósitos poliméricos reforçados com fibra de carbono, exemplificado com


a figura 8.5 a seguir, utiliza o elemento Carbono, que, cuja fibra é composta tanto por
estruturas grafíticas (ordenadas), quanto turbostráticas (desordenadas).

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Figura 8.5: Exemplo de fibras unidirecional tecidas ortogonalmente


Fonte: Adaptado de Duarte (2020)
Disponível em: https://estudomec.info/files/SM_5.Compositos.pdf

O carbono é uma fibra de alto desempenho, sendo o reforço mais comumente


utilizado em compósitos avançados com matriz polimérica (isto é, que não usam
fibras de vidro). As razões para tal são as seguintes:
1. As fibras de carbono têm altos módulo específico e resistência específica.
2. Elas retêm seus elevados módulos e resistências à tração mesmo sob
temperaturas elevadas; a oxidação em altas temperaturas, no entanto, pode
ser um problema.
3. Na temperatura ambiente, as fibras de carbono não são afetadas pela umidade
ou por uma grande variedade de solventes, ácidos e bases.
4. Essas fibras exibem uma diversidade de características físicas e mecânicas, o que
permite que os compósitos que incorporam essas fibras tenham propriedades
especificamente projetadas.
5. Foram desenvolvidos processos de fabricação para as fibras e para os compósitos
que são relativamente baratos e de boa relação custo-benefício.

E classificados quanto ao tipo de Matriz. Na figura 8.6 abaixo vemos um exemplo.


As matrizes têm como função principal, transferir as solicitações mecânicas as fibras
e protegê-las do ambiente externo. São contínuas, envolvem o outro constituinte.

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Figura 8.6: Alguns tipos de compósitos e as características de alguns de seus constituintes dos compósitos
Fonte: Zanchetta (2020)
Disponível em: https://graduacao.iqsc.usp.br/files/Materiais-Comp%C3%B3sitos-2.pdf

As matrizes podem ser metálicas, poliméricas e cerâmicas. As matrizes poliméricas


que podem ser utilizadas na moldagem de vários tipos de compósitos e consistem
basicamente em 2 grupos principais: Termoplástica e Termorrígida.
As Matrizes Termoplásticas, podem serem moldadas sob o efeito de temperatura, e
pressão (em alguns casos), amolecem e fluem. Geralmente são solúveis e recicláveis.
Como, exemplo, temos: polipropileno, polietileno, polifenileno, etc.
Já as Matrizes Termofixas ou Termorrígidas, reagem quimicamente formando
ligações cruzadas, sob o efeito de temperatura e/ou agente de cura, tornando-se
insolúveis, infusíveis e, portanto, não recicláveis. Ex.: poliésteres insaturados, fenólicas,
melaminas, silicones, poliuretanos, epóxis, etc.

4.3 Processamento de compósitos reforçados com fibras


Meus queridos alunos, que tal entendermos agora, como eles são produzidos?
Callister et al (2020), explica que, para a fabricação desses materiais desses
polímeros (plásticos) reforçados com fibras contínuas, com a finalidade de atenderem
às especificações de projeto, as fibras devem estar distribuídas uniformemente no
interior da matriz plástica e, na maioria dos casos, todas devem estar orientadas
virtualmente na mesma direção. Vamos entender agora as várias técnicas (os processos
de produção por pultrusão, enrolamento filamentar e prepreg) a partir das quais são
fabricados produtos úteis com esses materiais.

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4.3.1 Pultrusão
Nosso mestre Callister et al (2020) explica que, a pultrusão é usada para a fabricação
de componentes com comprimentos contínuos e, que, formem constante seção
transversal, como exemplo, podemos citar as barras, tubos, vigas, etc. Nessa técnica,
que está ilustrada esquematicamente na Figura 8.7, as mechas, ou cabos, de fibras
contínuas são primeiro impregnadas com uma resina termofixa; elas são então puxadas
através de um molde de aço que as pré-conforma para a forma desejada e que também
estabelece a razão resina/fibra. O material passa então por um molde de cura que
é usinado com precisão para conferir à peça sua forma final; esse molde também é
aquecido para iniciar a cura da resina. Um dispositivo puxa o material através dos
moldes e também determina a velocidade de produção.

Figura 8.7: Diagrama esquemático mostrando o processo de pultrusão


Fonte: Callister et al (2020)

4.3.2 Processos de Produção de Prepreg


Conforme Callister e colaboradores (2020) definem, para obtermos o prepeg, ilustrado
para polímeros termofixos na Figura 8.8, se inicia com a colimação de um conjunto
fibroso (ou fibras contínuas), que chegam em seu formato inicial como bobinas. Esses
conjuntos fibrosos são posicionados em forma de sanduíches, e prensadas entre
folhas de papel desmoldante e de suporte com o emprego de rolos aquecidos, em um
processo denominado calandragem. Uma fina camada de uma solução aquecida de
resina com viscosidade normalmente baixa, compõe o revestimento da folha de papel,
com a função de desmoldante, de forma a proporcionar a completa impregnação das
fibras. Uma lâmina niveladora (doctor blade) espalha a resina formando um filme com
espessura e largura uniformes. O produto final, o prepreg — a fita fina formada por
fibras contínuas e alinhadas em uma resina parcialmente curada — é preparado para
embalagem enrolando-o em uma bobina de papelão.
A fábricas de compósitos, definem “Prepreg” como as fibras contínuas de reforço pré-
impregnadas com uma resina polimérica que está apenas parcialmente curada. Esse
material é enviado para o fabricante na forma de fita, que então molda diretamente e
cura por completo o produto sem a necessidade de nenhuma adição de resina. Essa
é provavelmente a forma de material compósito mais amplamente empregada para
aplicações estruturais.

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Figura 8.8: Diagrama esquemático ilustrando a produção de fitas de prepreg usando um polímero termofixo.
Fonte: Callister et al (2020)

4.3.3 Enrolamento Filamentar


Para se obter o enrolamento filamentar, posicionam-se de uma maneira precisa, as fibras
contínuas de reforço, segundo o procedimento predefinido, gerando assim uma peça oca
(normalmente cilíndrica). Essas fibras, que podem ser na forma de fios individuais quanto
na forma de mechas, são inicialmente posicionadas para um banho de resina e, logo após,
são enroladas continuamente num dispositivo mecânico (mandril), normalmente esse
processo é realizado por uma máquina ou linha de produção automatizada, conforme
ilustrado pela figura 8.9. Logo que se atinge o número definido de camadas, o processo de
secagem para se ter a cura do material, é levada a um forno ou à temperatura ambiente,
mas, primeiro se faz necessário retirar o mandril. Existe a possibilidade, caso necessário,
da utilização de prepregs estreitos e finos (isto é, mechas impregnadas) com 10 mm ou
menos de largura para serem enrolados.

Figura 8.9: Representações esquemáticas das técnicas de enrolamento filamentar helicoidal, circunferencial e polar
Fonte: Callister et al (2020)

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4.4 Compósitos Laminados


Para definir esse tipo de material, Callister et al (2020), comenta que um compósito
laminado é constituído por lâminas ou painéis bidimensionais que estão colados uns
aos outros. Para cada camada temos uma direção preferencial de alta resistência, da
mesma forma que obtemos nos polímeros reforçados com fibras contínuas e alinhadas.
A obtenção dessa estrutura em múltiplas camadas, com esse formato, definimos
como um laminado, conforme ilustrado pela figura 8.10 a seguir. As propriedades do
laminado dependem de vários fatores, que incluem como a direção de alta resistência
varia de camada para camada. Nesse sentido, existem quatro classes de compósitos
laminados: unidirecional, cruzados, com camadas em ângulo e multidirecional.

Figura 8.10: Composição de painéis laminados


Disponíveis em: https://doity.com.br/media/doity/submissoes/artigo-aac997695efd6aafde6836585d190d81233e1b11-arquivo.pdf
https://www.scielo.br/j/rmat/a/hVSXMy3cHqPVSLH3cnDKvDf/?format=pdf&lang=pt

4.5 Painéis-sanduíche
Olá meus queridos alunos, estamos finalizando o capítulo dos materiais compósitos,
e falaremos sobre os painéis-sanduíche, que são considerados, segundo Callister et all
(2020), como uma classe de compósitos estruturais, sendo projetados para servirem
principalmente como vigas ou painéis de baixo peso, apresentando boa rigidez e
alta resistência. Esse tipo de material compósito, é normalmente composto por duas
lâminas externas, ou faces, que estão separadas e unidas por adesivo a um núcleo
mais espesso (Figura 8.11). As lâminas externas são fabricadas na maioria das vezes,
por material relativamente rígido e resistente, sendo usado normalmente as ligas de
alumínio, aço e aço inoxidável, plásticos reforçados com fibras, e madeira compensada;

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que possuem como finalidade suportarem as cargas de flexão que são aplicadas sobre
o painel. Quando um painel-sanduíche é dobrado, uma face experimenta tensões de
compressão, enquanto a outra experimenta tensões de tração.

Figura 8.11: Diagrama esquemático mostrando a seção transversal de um painel-sanduíche


Fonte: Adaptado de Callister et al (2020)

Tipicamente, os materiais do núcleo enquadram-se em três categorias: espumas


poliméricas rígidas, madeira e colmeias. Tanto polímeros termoplásticos quanto
termofixos são usados como espumas rígidas. A madeira balsa também é comumente
usada como um material de núcleo. E, para fecharmos esse tipo de compósito, temos
os sanduíches que possuem um tipo de núcleo popular, cuja estrutura é conhecida
como “colmeia” — finas folhas que foram moldadas como células interligadas (com
formato hexagonal, assim como com outras configurações), com os eixos orientados
perpendicularmente aos planos das faces; a Figura 8.12 mostra uma vista em corte
de um painel-sanduíche com núcleo hexagonal de colmeia.

Figura 8.12: Diagrama esquemático mostrando a construção de um painel-sanduíche com núcleo de colmeia.
Fonte: Adaptado de Callister et al (2020)

Considerações finais
Fechamos mais um capítulo meus queridos alunos, o que estão achando da disciplina
até o momento? Não fazemos quase nada sem os materiais, não é mesmo?

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Resumindo então, temos que os compósitos são materiais multifásicos produzidos


artificialmente com combinações desejáveis das melhores propriedades das suas fases
constituintes. Em geral, uma fase (a matriz) é contínua e envolve completamente a
outra (a fase dispersa), figura 8.13 a seguir, ilustra e explica cada fase da constituição
do material compósito.

Figura 8.13: Exemplo de um material compósito, seus constituintes e respectivas características


Fonte: Callister et al (2020)

Nesse capítulo, conversamos sobre como são classificados os compósitos, sendo


em reforçados com partículas, reforçados com fibras, estruturais e nanocompósitos.
Resumindo então, temos que os compósitos com fibras alinhadas são inerentemente
anisotrópicos (ou seja, suas propriedades mecânicas são diferentes em diferentes
direções), tal que a resistência e o reforço máximos são obtidos ao longo da direção
do alinhamento (longitudinal). Vamos ver a figura 8.14 abaixo.

Figura 8.14: Representação gráfica dos materiais Isótropos (a) e Anisotropos (b)
Fonte: https://fisicoquimica601.wordpress.com/2014/01/15/propiedades-de-los-compuestos-covalentes-y-moleculares/

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Na direção transversal, o reforço devido às fibras é virtualmente inexistente: a fratura


em geral ocorre sob níveis de tensões de tração relativamente baixos. Para outras
orientações da tensão, a resistência do compósito fica entre esses dois extremos.
As aplicações que envolvem tensões totalmente multidirecionais costumam utilizar
fibras descontínuas, orientadas aleatoriamente na matriz.

ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=krY-x0r7YfI
https://www.youtube.com/watch?v=Tr4jGUzoDTw

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CAPÍTULO 9
DEFEITOS DA
ESTRUTURA CRISTALINA

9.1 Introdução
Por que estudamos as Imperfeições nos Sólidos? Vocês imaginam a importância
desse tema meus queridos alunos?
As Imperfeições nos Sólidos ou Defeitos da Estrutura Cristalina (Ambas as definições
estão corretas, vão variar conforme o autor), virá nos mostrar que as propriedades de
alguns materiais são profundamente influenciadas pela presença de imperfeições ou
defeitos, como explica Callister et al (2020).

ANOTEM ISSO
Portanto, é importante ter um conhecimento sobre os tipos de defeitos que existem
e sobre a influência deles na estrutura e como afetam o comportamento dos
materiais. Por exemplo, as propriedades mecânicas dos metais puros apresentam
alterações significativas quando esses materiais são ligados (isto é, quando são
adicionados átomos de impurezas) — por exemplo, o latão (70% cobre-30% zinco) é
muito mais duro e resistente que o cobre puro.
Entendam meus queridos alunos, que, um tipo de sólido ideal (perfeito) não existe,
todos os materiais contêm grandes números de uma variedade de defeitos ou
imperfeições. Então, defeito cristalino (ilustrado na figura 9.1), pode ser definido
como uma irregularidade na rede cristalina com uma ou mais das suas dimensões
na ordem do diâmetro atômico. Normalmente, a classificação de imperfeições
cristalinas é feita de acordo com a geometria ou com a dimensionalidade do defeito.

Figura 9.1: Defeitos de linha - Discordância em Hélice


Fonte: Adaptado de Poli USP (2010)
Disponível em: http://sites.poli.usp.br/d/pmt2100/Aula03_2005%201p.pdf

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9.2 Tipos de Defeitos Cristalinos

9.2.1 Defeitos Pontuais


Dentre os defeitos pontuais, o que identificamos e encontramos de uma forma
mais comum e mais simples é a lacuna, ou um vazio (sítio vago) na rede cristalina,
onde, se apresenta quase que sempre ocupado, todavia aparece faltando um átomo
(Figura 9.2). Todos os materiais sólidos cristalinos apresentam lacunas e, na verdade,
é quase impossível criar um material que esteja livre desse tipo de defeito. A origem
desse defeito (lacunas) pode ser explicado se levarmos em consideração os princípios
da termodinâmica; em sua essência, a presença das lacunas aumenta a entropia (isto
é, a aleatoriedade) do cristal, explica Callister et al (2020).

Figura 9.2: Representação de uma lacuna e de um defeito auto-intersticial


Fonte: Adaptado de Poli USP (2010)
Disponível em: http://sites.poli.usp.br/d/pmt2100/Aula03_2005%201p.pdf

9.2.2 Impurezas nos Sólidos


Como foi dito na introdução, os metais puros formado apenas por um tipo de átomo
é simplesmente impossível ter-se 100% de pureza, portanto, impurezas ou átomos
diferentes estão sempre presentes e alguns existem como defeitos pontuais nos
cristais. Na realidade, mesmo com técnicas relativamente sofisticadas é difícil refinar
metais até uma pureza superior a 99,9999%. Muitas ligas metálicas, principalmente,
podem ter suas propriedades melhoras em função da adição de átomos de impurezas,
resultando assim na formação de uma solução sólida e/ou de uma nova segunda fase,
dependendo dos tipos de impurezas, das suas concentrações e da temperatura da liga.
Como vimos, para se melhorar as características e propriedades de alguns materiais,
são criados propositalmente, e, na estrutura cristalina teremos diversos tipos de defeitos,
os pontuais, por exemplo, em razão da presença de impurezas são encontrados nas
soluções sólidas, as quais podem ser de dois tipos: substitucional e intersticial. Nos

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defeitos substitucionais, os átomos de soluto ou átomos de impurezas repõem ou


substituem os átomos hospedeiros (Figura 9.3).

Figura 9.3: Representações esquemáticas bidimensionais de átomos de impureza substitucional e intersticial.


Fonte: Callister et al (2020)

9.2.3 Discordâncias — Defeitos Lineares


Uma discordância é um tipo de defeito linear ou unidimensional em torno do qual
alguns átomos estão desalinhados. Como exemplo, a figura 9.4 ilustra esse tipo de
discordância, onde podemos observar uma porção extra de um plano de átomos,
ou semiplano, cuja aresta termina no interior do cristal. Pode-se denominar essa
discordância como discordância em aresta, que se apresenta como um defeito linear
centralizado sobre a linha definida ao longo da extremidade do semiplano extra de
átomos.

Figura 9.4: As posições atômicas em torno de uma discordância em aresta; o semiplano extra de átomos é mostrado em perspectiva.
Fonte: Callister et al (2020)

As posições atômicas em torno de uma discordância em aresta; o semiplano extra


de átomos é mostrado em perspectiva. A linha da discordância se estende ao longo da
linha AB. As posições atômicas acima do plano de deslizamento estão assinaladas por
meio de círculos vazios; aquelas abaixo do plano de deslizamento estão assinaladas
por pontos.

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9.2.4 Defeitos Interfaciais


Os defeitos interfaciais são contornos que possuem duas dimensões e normalmente
separam regiões dos materiais que possuem estruturas cristalinas e/ou orientações
cristalográficas diferentes. Essas imperfeições incluem as superfícies externas, os contornos
de grão, os contornos de fase, os contornos de macla e as falhas de empilhamento.
Contornos de grão
Pode ser definido como o contorno que separa dois pequenos grãos ou cristais com
diferentes orientações cristalográficas nos materiais policristalinos. Está representado na
figura 9.5, onde é mostrado de uma forma atômica e uma microestrutura microscópica.
Na região do contorno, podemos observar uma largura de apenas alguns poucos
átomos, existindo um desajuste atômico na transição da orientação cristalina de um
grão para a orientação de um grão adjacente.

Figura 9.5: Exemplo de defeito intersticial: Contornos de grão


Fonte: Adaptado de Clemente 2018
Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/397270/

Contornos de Macla
Esse tipo de defeito, o contorno de macla é uma forma especial de contorno de
grão, pelo qual existe uma simetria em espelho específica da rede cristalina, isto é, os
átomos em um dos lados do contorno estão localizados em posições de imagem em
espelho em relação aos átomos no outro lado do contorno (Figura 9.6). A macla é um
tipo de defeito cristalino que pode ocorrer durante a solidificação, deformação plástica,
recristalização ou crescimento de grão. Tipos de macla: maclas de recozimento e
maclas de deformação. A região de material entre esses contornos é, apropriadamente,
denominada uma macla.

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Figura 9.6: Exemplo de Defeitos Bidimensionais: Contornos de Macla


Fonte: Adaptado de Poli USP (2005)
Disponível em: http://sites.poli.usp.br/d/pmt2100/Aula03_2005%201p.pdf

Considerações finais
Meus queridos alunos, esse capítulo também é muito interessante, não acham?
Quando iniciei minha carreira na Metalurgia e Materiais, e estudava sobre os defeitos,
achava que eram problemas enormes e que só prejudicavam os materiais. Na medida
em que fui entendendo melhor, percebi que são, as vezes, provocados para melhorar
as propriedades e características de muitos materiais, isso não é muito interessante?
Vimos no capítulo que defeito cristalino é uma irregularidade na rede cristalina com
uma ou mais das suas dimensões na ordem do diâmetro atômico. Com frequência, a
classificação de imperfeições cristalinas é feita de acordo com a geometria ou com
a dimensionalidade do defeito, alguns exemplos desses defeitos estão ilustrados na
figura 9.7.

Figura 9.7: Exemplos de alguns defeitos cristalinos


Fonte: Callister et al (2010)

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Várias imperfeições diferentes foram discutidas neste capítulo, incluindo os defeitos


pontuais (aqueles associados a uma ou a duas posições atômicas), os defeitos lineares
(ou unidimensionais) e os defeitos interfaciais, ou contornos, que são bidimensionais.
As impurezas nos sólidos também foram discutidas, uma vez que os átomos de
impurezas podem existir como defeitos pontuais.
As Soluções Sólidas, são ligas metálicas obtidas através da adição de elementos de
liga (átomos diferentes do metal-base). Esses átomos adicionados intencionalmente
podem ficar em solução sólida e/ou fazer parte de uma segunda fase. Para facilitar
nosso entendimento, vamos ver a figura 9.8 abaixo.

Figura 9.8: Exemplo de solução sólida (Liga de Cobre-Níquel e Cobre-Zinco)


Fonte: Felipeb.com (2022)
Disponível em: http://www.felipeb.com/cimat/dfs/dfs.htm

Em uma liga, o elemento presente em menor concentração denomina-se soluto


e aquele em maior quantidade, solvente. Portanto, uma solução sólida vai ocorrer
quando a adição de átomos do soluto não modifica a estrutura cristalina nem provoca
a formação de novas estruturas. Já na solução sólida substitucional, os átomos de
soluto substituem uma parte dos átomos de solvente no reticulado. E, fechando o
raciocínio, temos a solução sólida intersticial, onde os átomos de soluto ocupam os
interstícios existentes no reticulado.

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https://www.youtube.com/watch?v=qyO653z1lyI
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CAPÍTULO 10
DIFUSÃO E MECANISMOS
DE DIFUSÃO

10.1 Introdução
Olá meus queridos alunos, estão acompanhando como obtemos os materiais, sua
importância e os utilizamos. Vamos fazer aquele exercício mental legal, que vocês
adoram? Vamos entender por que estudar difusão?
É muito comum, para diversas aplicações, muitos materiais (mais comumente os
metálicos) serem submetidos a tratamentos térmicos para melhorar suas propriedades.
E, vamos saber porque, com a aplicação de calor e carregamento mecânico, conseguimos
melhorar as características desses materiais? O que acontece no tratamento térmico,
normalmente ou quase sempre, está relacionado à difusão atômica. Bom, em muitos
casos, se deseja aumentar a taxa de difusão, e, ocasionalmente, entretanto, são tomadas
medidas para reduzi-la. As temperaturas e os tempos de duração dos tratamentos
térmicos e/ou as taxas de resfriamento podem ser estimados com frequência aplicando
a matemática da difusão e constantes de difusão apropriadas. A engrenagem de aço,
como exemplo na figura 10.1, teve sua superfície endurecida, isto é, sua dureza e
resistência a falhas por fadiga foram aumentadas pela difusão de carbono ou nitrogênio
para o interior da camada superficial mais externa.

Figura 10.1: Exemplo de uma Engrenagem Cementada


Fonte: Adaptado de Marquezi e Ceccatto
Disponível em: http://www.foz.unioeste.br/~lamat/downmateriais/materiaiscap8.pdf

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ANOTEM ISSO

William Callister e colaboradores (2020), explicam que várias reações e processos


fundamentais no tratamento de materiais, para melhoria de suas propriedades
e características dependem da transferência de massa tanto no interior de um
sólido específico (ordinariamente em um nível microscópico) quanto a partir de um
líquido, um gás ou outra fase sólida. Isso é alcançado obrigatoriamente por difusão,
comenta Callister que é o fenômeno de transporte de matéria por movimento
atômico.
De uma perspectiva atômica, exemplificado pela figura 6.2, a difusão consiste
simplesmente na migração passo a passo dos átomos de uma posição para outra
na rede cristalina.
O processo da difusão, pode ser entendido com o auxílio de um par de difusão, o
qual é formado unindo barras de dois metais diferentes tal que haja um contato
forte entre eles, forçando-se as duas faces uma contra a outra. Esse par é aquecido
a uma temperatura elevada (porém abaixo da temperatura de fusão de ambos
os metais) durante um período de tempo prolongado e depois é resfriado até a
temperatura ambiente.

6.2 Mecanismos de Difusão


A literatura traz, que, temos propostos vários modelos diferentes para esse movimento
dos átomos, dentre os quais, destacamos duas que são predominantes para a difusão
nos metais.

Difusão por Lacunas


Um mecanismo envolve a troca de um átomo de uma posição normal da rede para
uma posição adjacente vaga ou lacuna na rede cristalina, como está representado
esquematicamente na figura 10.2 abaixo.
Esse fenômeno ou mecanismo é definido como difusão por lacunas. Para que
esse processo aconteça, é fundamental que tenhamos a presença de lacunas, e
o quanto essa difusão por lacunas pode ocorrer está relacionado ao número dos
defeitos que estejam presentes, que submetidos a temperaturas elevadas, podem
existir concentrações significativas de lacunas nos metais.
Uma vez que os átomos em difusão e as lacunas trocam de posições entre si, a
difusão dos átomos em uma direção corresponde a um movimento de lacunas na
direção oposta. Tanto a autodifusão quanto a Interdifusão ocorrem por esse mecanismo;
nesse último caso, os átomos de impureza devem substituir átomos hospedeiros.

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Figura 10.2: Exemplos de mecanismos de difusão (Interdifusão e Difusão por lacunas)


Fonte: Adaptado do Prof. Nilson Cruz (2015)
Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/373542/

Difusão Intersticial
No próximo tipo de difusão, vamos ter átomos que vão migrar de uma posição
intersticial para uma posição intersticial vizinha que esteja vazia. Esse mecanismo é
encontrado para a interdifusão de impurezas tais como hidrogênio, carbono, nitrogênio
e oxigênio, que têm átomos pequenos o suficiente para se encaixar nas posições
intersticiais. Os átomos hospedeiros ou de impurezas substitucionais raras vezes
formam intersticiais e, normalmente, não se difundem por esse mecanismo. Esse
fenômeno é apropriadamente denominado difusão intersticial (Figura 10.3).

Figura 10.3: Representação esquemática da difusão intersticial.


Fonte: Callister et al (2020)

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Difusão Volumétrica
Quando os átomos se movem, Prof. Nilson C. Cruz (2015), através do cristal de uma
posição cristalina ou intersticial para outra. E com isso, devido aos átomos vizinhos,
a energia de ativação é alta e a difusão é lenta. Como exemplo prático, ilustrado pela
figura 10.4, temos o processo de sinterização de materiais cerâmicos. Onde podemos
verificar que a força motriz para a sinterização é a redução da área superficial de um
pó solto tendo superfícies com alta energia (sólido-vapor) por um sólido ligado tendo
contornos de grão com energia associada mais baixa.

Figura 10.4: Exemplo do processo de difusão volumétrica na obtenção de materiais cerâmicos


Fonte: Adaptado de Pinheiro (2017)
Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/12685544/

A Sinterização pode ser definida, conforme Pinheiro (2017), como a transformação


de um pó em uma peça cerâmica sólida, previamente conformada, acompanhada
por retração da peça, combinada com crescimento e formação de ligações fortes
entre partículas adjacentes. A figura 10.5 e 10.6 ilustram esse fenômeno. Observem
que alguma porosidade sempre pode permanecer após o término da sinterização, na
forma de poros abertos ou fechados.

Figura 10.5: Exemplo da difusão volumétrica (formação do pescoço e poro)

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Figura 10.6: Exemplo da sinterização de um material cerâmico


Fonte: Adaptado de Coelho e Valera – EDUSP (2014)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3975796/mod_resource/content/1/PMT3200-Aula%20Cer%C3%A2mica%20-2014.pdf

Certas aplicações exigem a existência de porosidade, aberta ou fechada:


Filtros: porosidade aberta;
Catalisadores: porosidade aberta;
Tijolos isolantes térmicos: porosidade fechada.

Força Motriz: redução e energia de superfície

Primeira Lei de Fick


Para obtermos o processo da difusão, uma das variáveis que interferem é o tempo,
ou seja, em um sentido macroscópico, a quantidade de um elemento que é transportado
no interior de outro elemento é uma função do tempo. Muitas vezes é necessário saber
o quão rápido ocorre a difusão, ou a taxa de transferência de massa. Veja o esquema
representado pela figura 10.7 abaixo.

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Figura 10.7: Esquema relacionando a 1º Lei de Fick com a Difusão


Fonte: Adaptado do Prof. Berti – UTFPR (2019)
Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/16455621/

Como podemos ver na figura 10.7, a 1º lei de Fick, estabelece que, em condições
estacionárias, a corrente global de átomos é igual ao produto do coeficiente de difusão,
D, pelo gradiente de concentração. E, pela 1ª Lei de Fick, os fatores que afetam a
difusão, são:
Q = energia de ativação (cal/mol)
R = constante real dos gases (1,987 cal/mol*K)
T = temperatura em K
D0 = constante pré-exponencial

A taxa é normalmente expressa como um fluxo difusional (J), estabelecido como


a massa (ou, de forma equivalente, o número de átomos) M que se difunde através e
perpendicularmente a uma seção transversal de área unitária do sólido, por unidade
de tempo. Matematicamente, isso pode ser representado como:

Em que A representa a área através da qual a difusão está ocorrendo e t é o tempo


de difusão decorrido. As unidades para J são quilogramas ou átomos por metro
quadrado por segundo (kg/m2·s ou átomos/m2·s), Callister et al (2020).
Para facilitar o entendimento da difusão em regime estacionário, em uma forma
prática, temos a purificação do gás hidrogênio (ilustrado pela figura 10.8). Um dos
lados de uma lâmina delgada do metal paládio é exposto ao gás impuro, composto

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pelo hidrogênio e por outras espécies gasosas tais como nitrogênio, oxigênio e vapor
d’água. O hidrogênio difunde-se seletivamente através da lâmina até o lado oposto,
que é mantido sob uma pressão constante, porém menor, de hidrogênio.

Figura 10.8: (a) Difusão em regime estacionário através de uma placa delgada. (b) Um perfil de concentrações linear para a situação de difusão
representada em (a).
Fonte: Adaptado de Callister et al (2020)

SEGUNDA LEI DE FICK — DIFUSÃO EM REGIME NÃO ESTACIONÁRIO


Temos de uma forma prática, relacionando a difusão, que elas acontecem,
normalmente, em regime não estacionário, isto é, o fluxo difusional e o gradiente
de concentração em um ponto específico no interior de um sólido variam com o
tempo, havendo um acúmulo ou um esgotamento resultante da espécie que está se
difundindo. Isso está ilustrado na Figura 10.9, que mostra os perfis de concentrações
em momentos diferentes durante o processo de difusão.

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Figura 10.9: Exemplo de Difusão em Regime não Estacionário


Fonte: Adaptado de Engenharia Raiz (2020)
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZTzHUXi84BM

6.3 Fatores que influenciam a difusão


O tipo de material ou a espécie em difusão, assim como o material hospedeiro,
influencia o coeficiente de difusão. Por exemplo, existe uma diferença significativa na
magnitude entre a autodifusão e a interdifusão do carbono no ferro α a 500ºC, sendo
o valor de D maior para a interdifusão do carbono (3,0 × 10–21 versus 1,4 × 10–12
m2/s).
Outro fator que exerce muita influência nesse processo sobre os coeficientes e as
taxas de difusão, é a temperatura. Conforme explica Silano (2014), a uma temperatura
específica, uma pequena fração do número total de átomos é capaz de realizar
movimentos por difusão em virtude de suas energias vibracionais (ilustrado pela
figura 10.10).

Figura 10.10: Influência da Energia de Ativação x Número de Átomos


Fonte: Adaptado do Prof. Caran – Unicamp (2018)
Disponível em: http://www.fem.unicamp.br/~caram/9.%20DIFUSAO%20ATOMICA%20GRAD.pdf

O movimento atômico é resultado da energia cinética de cada átomo ou da


distribuição de energia, explica o prof. Caran (2018). Essa fração de átomos aumenta

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com o aumento da temperatura, pois aumentam suas energias vibracionais. Além


disso o número de vazios aumenta com a temperatura segundo a relação.
Todos os átomos que difundem como os átomos do hospedeiro influenciam no
coeficiente de difusão. No Fe CCC, por exemplo, o carbono tem maior D (Constante
pré exponencial) de 2,4x10-12 m2/s, que o próprio ferro (3x10-21 m2/s). Isso mostra que
a difusão via vazios é mais lenta que a difusão via intersticial.

Outros caminhos de difusão


A migração atômica também pode ocorrer ao longo de discordâncias, contornos de
grão e superfícies externas (figura 10.11). Esses são às vezes chamados de percursos de
difusão de curto-circuito, uma vez que as taxas de difusão são muito maiores que aquelas
para a difusão volumétrica. Entretanto, na maioria das situações, as contribuições da
difusão de curto-circuito para o fluxo global da difusão são insignificantes, pois as
áreas das seções transversais desses percursos são extremamente pequenas. São
mais rápidas que no interior do metal.

Figura 10.11: Exemplo de caminhos de alta difusividade – contornos de grão


Fonte: Adaptado de Bartulici – IFMG (2018)
Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/13164815/

Considerações finais
Vejam bem meus queridos alunos, e prestem bem atenção, para entenderem o que
vamos conversar agora. Prontos? Então, vamos nessa...

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A figura 10.12 é de uma engrenagem de aço que foi endurecida superficialmente,


ou seja, sua camada superficial mais externa foi seletivamente endurecida por meio
de um tratamento térmico a alta temperatura durante o qual o carbono da atmosfera
circundante se difundiu para dentro da superfície. Iniciamos o capítulo com esse
exemplo, bastante difundido e consolidado na indústria automotiva, metal mecânica,
dentre outras. A “superfície endurecida” aparece como a borda escura daquele segmento
da engrenagem que foi seccionado. Esse aumento no teor de carbono eleva a dureza
da superfície, que por sua vez leva a uma melhoria na resistência da engrenagem ao
desgaste. Além disso, são introduzidas tensões residuais compressivas na região
superficial; essas tensões residuais melhoram a resistência da engrenagem a uma
falha por fadiga durante sua operação.
Engrenagens de aço com endurecimento superficial são usadas nas transmissões
de automóveis, semelhantes àquela mostrada na figura 10.12 abaixo da engrenagem.

Figura 10.12: Exemplo de aplicação da difusão para melhorar as propriedades da engrenagem, utilizada na transmissão automotiva
Fonte: Callister et al (2020)

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Portanto, meus queridos alunos, guardem que a difusão no estado sólido é um


meio de transporte de massa que ocorre no interior de materiais sólidos segundo
um movimento atômico em etapas. E o termo interdifusão refere-se à migração de
átomos de impureza; para os átomos hospedeiros, é empregado o termo autodifusão.
Vimos também, que temos dois mecanismos possíveis para a difusão: por lacunas
e intersticial.
A difusão por lacunas ocorre por meio da troca de um átomo que está localizado
em uma posição normal da rede com uma lacuna adjacente.
E que na difusão intersticial, um átomo migra de uma posição intersticial para uma
posição intersticial vazia adjacente.
Para um dado metal hospedeiro, em geral as espécies atômicas intersticiais
difundem-se mais rapidamente.

ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=vpnv4wIJIHw

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CAPÍTULO 11
MECANISMOS DE
DEFORMAÇÃO PLÁSTICA

11.1 Introdução às Propriedades Mecânicas dos Materiais


Olá meus queridos alunos, espero que estejam gostando e entendendo como
construímos, fabricamos, avaliamos e utilizamos os materiais. Que tal iniciarmos
com aquele exercício mental, e, pensarmos em por que estudamos as propriedades
mecânicas dos materiais? Reflitam um momento.
Porque, segundo a maioria dos autores e as próprias empresas, é uma obrigação dos
engenheiros, compreenderem como as várias propriedades mecânicas são medidas
e o que essas propriedades representam: elas podem ser necessárias para o projeto
de estruturas/componentes que utilizem materiais predeterminados, a fim de que não
ocorram níveis inaceitáveis de deformação e/ou falhas.
Muitos materiais, quando em serviço, estão sujeitos a forças ou cargas. Alguns
exemplos são a liga de alumínio a partir da qual a asa de um avião é construída e o
aço no eixo de um automóvel, (figura 11.1 ajuda-nos a entender).

Figura 11.1: Exemplo de aplicação de um aço no eixo de um automóvel


Fonte: Adaptado de Mendonça (2020)
Disponível em: https://blog.territorioamarok.com.br/principais-caracteristicas-das-tracoes-dianteira-traseira-e-integral/

Em tais situações, torna-se necessário conhecer as características do material e


projetar o membro a partir do qual ele é feito, de tal maneira que qualquer deformação
resultante não seja excessiva e não ocorra fratura.

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ANOTE ISSO

O comportamento mecânico de um material reflete a relação entre a sua resposta


ou deformação a uma carga ou força que esteja sendo aplicada. Algumas
propriedades mecânicas importantes são a resistência, a dureza, a ductilidade e
a rigidez. Isto envolve o entendimento das relações entre a microestrutura dos
materiais e suas propriedades mecânicas. Assim, é preciso submeter os materiais a
testes mecânicos pelo emprego de técnicas de ensaio padronizadas.

11.2 Conceitos de Tensão e Deformação


Sendo a carga com característica estática ou com característica dinâmica, ou seja,
ela se altera de uma maneira relativamente lenta ao longo do tempo e é aplicada
uniformemente sobre uma seção reta ou superfície de um membro, o comportamento
mecânico pode ser verificado mediante um simples ensaio de tensão-deformação,
ilustrado pela figura 11.5 abaixo.
Tais ensaios são mais comumente conduzidos para metais à temperatura ambiente.
Existem três maneiras principais segundo as quais uma carga pode ser aplicada: tração,
compressão e cisalhamento (a figura 11.2 ilustra esses esforços). Na prática da engenharia,
muitas cargas sofrem os esforços de torção e não de natureza puramente cisalhante.

Figuras 11.2: Ilustração esquemática dos principais ensaios


Fonte: edisciplinas.usp.br (2018)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6068833/aula%2018.pdf?time=1604970779168

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11.2.1 Ensaios de tração


Um dos ensaios mecânicos de tensão-deformação mais comuns é executado sob
tração. Como será visto, o ensaio de tração pode ser usado para avaliar diversas
propriedades mecânicas dos materiais que são importantes em projetos. Uma
amostra é deformada, geralmente até a sua fratura, mediante uma carga de tração
gradativamente crescente que é aplicada uniaxialmente ao longo do eixo mais comprido
de um corpo de prova. Um corpo de prova padrão empregado em ensaios de tração
está mostrado na figura 11.3.

Figura 11.3: Corpo de prova padrão para ensaio de tração


Fonte: infosolda.com.br (2013)
Disponível em: https://infosolda.com.br/209-ensaio-mecanico-tracao/

Meus queridos alunos, lembrando que estamos conversando e discutindo todo


esse conteúdo baseado no livro de Ciência dos Materiais de William Callister (2020).
E, segundo o autor, normalmente, a seção reta é circular, porém corpos de prova
retangulares também são usados. Durante os ensaios, a deformação fica confinada à
região central, mais estreita, do corpo de prova, que possui uma seção reta uniforme
ao longo do seu comprimento. O diâmetro padrão é de aproximadamente 12,8 mm
(0,5 pol.), enquanto o comprimento da seção reduzida deve ser de pelo menos quatro
vezes esse diâmetro; é comum ser de 60 mm (2 1/4 pol.). O comprimento útil é usado
em cálculos da ductilidade, o valor padrão é de 50 mm (2,0 pol.). O corpo de prova é
preso pelas suas extremidades nas garras de fixação do dispositivo de testes (Fig. 11.4).

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Figura 11.4: Exemplo de uma máquina para ensaio de tensão x deformação – Tração
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ensaio_de_tra%C3%A7%C3%A3o

A máquina de ensaios (figura 11.4 - A) de tração é projetada para alongar o corpo de


prova (figura 11.4 – B) a uma taxa constante, além de medir contínua e simultaneamente
a carga instantânea aplicada (com uma célula de carga) e os alongamentos resultantes
– figura 11.4 - C (usando um extensômetro). Tipicamente, um ensaio de tensão-
deformação leva vários minutos para ser executado e é destrutivo, isto é, a amostra
testada é deformada de maneira permanente, sendo geralmente fraturada.
No ensaio de tração, uma amostra é deformada até sua fratura, por uma carga
uniaxial de tração que cresce gradativamente ao longo do eixo de um corpo de prova.
Durante o ensaio de tração, a deformação fica confinada na região central do corpo
de prova.
O resultado de um ensaio de tração deste tipo é registrado em um registrador gráfico
(ou por um computador), na forma de carga ou força em função do alongamento.
Essas características carga-deformação são dependentes do tamanho da amostra.
Vejamos o exemplo a seguir, através da figura 11.5.

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Figura 11.5: Exemplo de um Corpo de Prova e Curva tensão versus deformação e algumas propriedades que podem ser obtidas.
Fonte: Adaptado de Gonçalves – UFSCAR (2021)
Disponível em: http://www.ccdm.ufscar.br/2021/08/05/ensaio-de-tracao/

O corpo de prova é preso por suas extremidades, nas garras de fixação do dispositivo
de testes. A máquina de ensaio de tração alonga o corpo de prova, em uma taxa
constante crescente, medindo precisamente os alongamentos resultantes. O resultado
do ensaio é registrado como a carga ou força em função do alongamento. A tensão
(σ) é definida por (Equação 11.1):

onde, F é a carga instantânea aplicada e A0 a área original da seção transversal do


corpo de prova. A deformação (ε) é definida como (Equação 11.2):

onde, l0 é o comprimento original do corpo de prova, li é o seu comprimento

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instantâneo. ∆ l = li − l0, representa o alongamento. O gráfico da Tensão x Deformação


é normalmente, conforme apresentado na figura 11.6.

Figura 11.6: Gráfico de tensão x deformação (onde representa a deformação elástica do material e representa a deformação plástica)
Fonte: edisciplinas.usp.br (2018)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6068833/aula%2018.pdf?time=1604970779168

Quando as deformações ultrapassam o limite de proporcionalidade (ponto P), a


relação entre a tensão e a deformação deixa de ser linear (região de DEFORMAÇÃO
ELÁSTICA), produzindo-se deformação permanente → a chamada DEFORMAÇÃO
PLÁSTICA. Ilustrado pela figura 11.7, para facilitar o entendimento.

Figura 11.7:Exemplo do corpo de prova no ensaio de tração


Fonte: edisciplinas.usp.br (2018)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6068833/aula%2018.pdf?time=1604970779168

Na prática, muitas vezes, é difícil definir a posição do ponto P com precisão. Como
consequência, geralmente se define uma TENSÃO LIMITE DE ESCOAMENTO (Yield
Strength) (LE ou σ y) como sendo a tensão necessária para se produzir uma pequena

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deformação plástica. Para os metais, assume-se que essa pequena deformação plástica
é igual a ε = 0,002 = 0,2%.
Deformação elástica: é reversível, ou seja, quando a carga é retirada, o corpo de
prova volta às suas dimensões originais. Sob carga, as distâncias interatômicas se
expandem, mas são ocupam novas posições na rede cristalina. Na curva σ x ε, a
região elástica é a parte linear inicial do gráfico.
Deformação plástica: é irreversível, ou seja, quando a carga é retirada, o corpo de
prova não recupera as suas dimensões originais. Sob carga, os átomos se deslocam
para novas posições em relação aos vizinhos originais.

11.2.2 Ensaios de Compressão


Os ensaios tensão-deformação de compressão podem ser conduzidos se as forças
nas condições de serviço forem desse tipo.
Um ensaio de compressão é conduzido de uma maneira semelhante à de um ensaio
de tração, exceto pelo fato de que a força é compressiva e o corpo de prova se contrai
ao longo da direção da tensão. A figura 11.8 ilustra o método.

Figura 11.8: Exemplo de um ensaio de compressão


Fonte: Adaptado de Hofstadler (2023) e Engloba (2021)
Disponíveis em: https://www.otmza.com.br/category/ensaios-mecanicos/
https://englobaconsultoria.com.br/2021/06/16/ensaios-mecanicos-tudo-o-que-voce-precisa-saber/

As equações são as mesmas empregadas no ensaio de tração. A força compressiva


é considerada negativa, o que leva a uma tensão negativa. Como l0 é maior que li,
a deformação também é negativa. A Equação 11.1 abaixo é usada para calcular a
tensão e a deformação de compressão.

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Além disso, uma vez que l0 é maior do que /1 as deformações compressivas


calculados a partir da equação abaixo são, necessariamente, também negativas.

Os ensaios de tração são mais comuns, pois são mais fáceis de serem executados;
além disso, para a maioria dos materiais usados em aplicações estruturais, muito
pouca informação adicional é obtida a partir de ensaios de compressão. Os ensaios
de compressão são usados quando se deseja conhecer o comportamento de um
material submetido a deformações grandes e permanentes (isto é, plásticas), como
ocorre em aplicações de fabricação, ou quando o material é frágil sob tração.

11.2.3 Ensaios de cisalhamento e de torção


A força cisalhante pura é calculada pela equação:

onde F é a força imposta paralelamente às faces superior e inferior, sendo que cada
uma delas tem uma área A0. A deformação cisalhante (γ) é definida como a tangente
do ângulo de deformação (θ), veja a figura 11.9.

Figura 11.9: Exemplo do cisalhamento do material junto com o esforço de torção


Fonte: edisciplinas.usp.br (2018)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6068833/aula%2018.pdf?time=1604970779168

Torção é uma variação do cisalhamento puro, na qual um elemento estrutural é


torcido, observe a figura 11.10. As forças de torção produzem um movimento de

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rotação em torno do eixo longitudinal. A tensão cisalhante é uma função do torque


(T) aplicado, ao passo que a deformação cisalhante (γ) está relacionada com o ângulo
de torção (Φ).

Figura 11.10: Exemplo de torção de material


Fonte: edisciplinas.usp.br (2018)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6068833/aula%2018.pdf?time=1604970779168

11.2.4 Ensaios de Flexão


O Ensaio de flexão consiste na aplicação de uma carga crescente em determinados
pontos de uma barra. Mede-se o valor da carga versus a deformação máxima. Existem
dois tipos principais de Ensaios: Ensaio de flexão em três pontos e Ensaio de flexão
em quatro pontos (figuras 11.11 a seguir).

Figura 11.11: Exemplo de ensaio de flexão (3 e 4 pontos)


Fonte: Adaptado do Prof. Terra Ruchert (USP-EEL 2015)
Disponível em: https://sistemas.eel.usp.br/docentes/arquivos/471420/LOM3011/EM_cap4_Flexao_2019.pdf

Para se determinar a Resistência à Flexão: A ruptura se dá por tração, iniciando


nas fibras inferiores. Aplica-se uma tensão normal em uma viga, no regime elástico.
Esse tipo de ensaio mecânico é muito utilizado para materiais frágeis ou de elevada
dureza, como o caso de FoFo (Ferro Fundido), aços ferramentas, aços rápidos, e
cerâmicas estruturais, pois estes materiais, devido à baixa ductilidade não permitem

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ou dificultam a utilização de outros tipos de ensaios mecânicos. Para os Materiais


Dúcteis, estes ensaios não são utilizados, mas existem duas variantes que são os
ensaios de dobramento e de tenacidade à fratura, CTOD.
Para se definir os corpos de prova, recomenda-se a forma retangular (ilustrado
pela figura 11.12 a seguir). Onde se objetiva que a relação comprimento/espessura
não seja inferior a 15. A relação largura/espessura não deve ser superior a 10. E no
Mínimo de 6 CPs, para cada material ensaiado.

Figura 11.12: Exemplo de corpos de prova utilizados nos ensaios de flexão


Fonte: Adaptado de Moraes Neto (2020)
Disponível em: https://www.researchgate.net/figure/Dimensoes-dos-corpos-de-prova-de-cisalhamento-A-flexao-estatica-B-compressao_fig1_275520248

As principais propriedades obtidas em um Ensaio d e Flexão são: Módulo de ruptura


na flexão, Módulo de elasticidade, Módulo de resiliência e o Módulo de tenacidade.
É um ensaio muito utilizado em cerâmicas, polímeros e metais duros, pois fornece
dados de deformação quando sujeitos a cargas de flexão.

11.3 Comportamento Tensão Deformação


O grau ao qual uma estrutura se deforma ou se esforça depende da magnitude
da tensão imposta. Para a maioria dos metais que são submetidos a uma tensão de
tração em níveis relativamente baixos, a tensão e a deformação são proporcionais
entre si, de acordo com a relação:
Esta relação é conhecida por lei de Hooke, e a constante de proporcionalidade E (GPa
ou psi)6 é o módulo de elasticidade, ou módulo de Young. Para a maioria dos metais

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típicos, a magnitude desse módulo varia entre 45 GPa (6,5 X IO6 psi), para o magnésio, e
407 GPa (59 X IO6 psi), para o tungstênio. Os valores para o módulo de elasticidade para
vários metais à temperatura ambiente estão apresentados na Tabela 11.1.

Tabela 11.1: Módulos de Elasticidade e de Cisalhamento, e Coeficiente de Poisson para várias ligas Metálicas a Temperatura Ambiente
Fonte: Callister et al (2008)

O processo de deformação no qual a tensão e a deformação são proporcionais


é chamado de deformação elástica; um gráfico da tensão (ordenada) em função da
deformação (abscissa) resulta em uma relação linear, conforme está mostrado na
Fig. 11.13. A inclinação (coeficiente angular) deste segmento linear corresponde ao
módulo de elasticidade E.

Figura 11.13: Diagramas de tensão-deformação convencional e real para um material dúctil (aço) – não está em escala
Fonte: https://docente.ifsc.edu.br/anderson.correia/MaterialDidatico/Engenharia_Mecanica/Fase_4/Mec%C3%A2nica_dos_S%C3%B3lidos_I/
Cap%C3%ADtulo%203%20-%20Propriedades%20Mec%C3%A2nicas%20dos%20Materiais.pdf

Considerações finais
Meus queridos alunos, estamos finalizando um capítulo importante sobre as propriedades
e características dos materiais. Avaliar sua deformação plástica e elástica, com ensaios
destrutivos dos corpos de prova é verificar a resposta dos materiais aos esforços

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submetidos, ou seja, checar se atendem as especificações de projeto e norma na qual


foram produzidos. Para ajudar a entender, vamos apresentar na figura 11.14, os Ensaios
de tração típicos para materiais dúcteis e frágeis, sendo que os Materiais dúcteis tendem
a apresentar grande deformação plástica, ocorrendo estricção no corpo de prova durante
o ensaio, esse é o caso do cobre, aços baixo carbono ou da maioria dos polímeros. No
caso de materiais frágeis, ocorre pouca ou nenhuma deformação plástica, pois o material
armazena toda a energia aplicada para deformá-lo e fratura catastroficamente, isso ocorre
com ferro fundido cinzento, aço temperado e materiais cerâmicos.

Figura 11.14: Ensaios de tração típicos para o aço baixo carbono, cobre e ferro fundido cinzento
Fonte: Adaptado de Biopdi (2023)
Disponível em: https://biopdi.com.br/artigos/ensaio-de-tracao/

A forma e a magnitude do gráfico de tensão deformação de um metal dependerão da


sua composição, tratamento térmico, histórico prévio de deformação plástica e da taxa
de deformação, temperatura, e estado de tensão imposto durante o ensaio. O ensaio
de tração demonstra-se extremamente útil para verificar o comportamento frágil ou
dúctil do material ensaiado, assim como eventuais falhas em sua composição. Além
disso, conhecer as propriedades mecânicas de um determinado material é fundamental
para direcionar suas corretas aplicações.
Sendo assim, é importante se perguntar quanta tensão o material resiste, quando
em um projeto, e se a carga submetida em certo ponto do seu projeto é adequada.
A partir das propriedades fornecidas pelos resultados do ensaio de tração é possível
responder a essas e a outras perguntas que irão garantir a segurança e a excelência
para seu projeto ou aplicação em questão.

ISSO ESTÁ NA REDE

https://youtu.be/9MF4ayO6Tuk
https://youtu.be/eIOw86E0WwY
https://youtu.be/vDb3Mrr_yrA

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CAPÍTULO 12
MECANISMOS DE
ENDURECIMENTO

12.1 Introdução
Olá meus queridos alunos, estamos quase finalizando a disciplina, e, gostaria de
saber o que estão achando. Começamos com as ligações e classificação dos materiais.
Vimos os tipos de materiais e suas estruturas, propriedades e processo de deformação
plástica. Importante relembrarmos que no Tetraedro de William Callister, temos, as
premissas básicas:

Após essa breve revisão, aquele exercício mental que temos praticado e muito importante:
Por que estudar as discordâncias e os Mecanismos de Aumento da Resistência? Refletimos...
O capítulo que vamos estudar agora, levando em consideração o Tetraedro de Callister,
pertence ao processo de fabricação, que vamos definir por qual técnica será implementada
no material para que possa atribuir o aumento da resistência para a aplicação na qual foi
definida em projeto. E, com o conhecimento da natureza das discordâncias e do papel que
elas desempenham no processo de deformação plástica, somos capazes de compreender
os mecanismos que estão por trás das técnicas usadas para aumentar a resistência e
endurecer os metais e suas ligas. Dessa forma, torna-se possível projetar e adaptar as
propriedades mecânicas dos materiais — por exemplo, a resistência ou a tenacidade de
um compósito de matriz metálica (figura 12.1 abaixo).

Figura 12.1: Exemplo de material compósito com matriz metálica – PNEU de carro
Fonte: Adaptado de acheipneus.com.br (2023)
Disponível em: https://www.blog.acheipneus.com.br/post/partes-do-pneu-e-funcoes

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No Capítulo 11 foi mostrado que os materiais podem sofrer dois tipos de deformação:
elástica e plástica.

ANOTE ISSO

A deformação plástica é permanente, e a resistência e a dureza são medidas da


resistência (resposta ao esforço mecânico) de um material a essa deformação.
Em uma escala microscópica, a deformação plástica corresponde ao movimento
resultante de um grande número de átomos em resposta à aplicação de uma
tensão. Enquanto submetemos um material a esse procedimento, as ligações
interatômicas devem ser rompidas e então novamente formadas. Nos sólidos
cristalinos, a deformação plástica envolve, na maioria das vezes, o movimento de
discordâncias, que são defeitos cristalinos lineares que foram apresentados
no Capítulo 9. Este capítulo discute as características das discordâncias e o seu
envolvimento na deformação plástica, que funcionam como mecanismos de
endurecimento e melhoria das propriedades mecânicas dos materiais, conforme
especificações de projeto e Engenharia.

12.1.1 Discordâncias e Deformação plástica


Callister et al (2020) explica que os primeiros estudos dos materiais levaram ao cálculo
das resistências teóricas de cristais perfeitos, que eram muitas vezes maiores que aquelas
efetivamente medidas. Então, vários estudiosos, no decorrer da década de 1930, defendiam
que que essa discrepância nas resistências mecânicas poderia ser explicada por um tipo
de defeito cristalino linear, que desde então ficou conhecido como discordância. Todavia,
apenas 20 anos depois em 1950, que foi demonstrada a existência de tais defeitos, por
meio da observação direta por um microscópio eletrônico. Desde então, foi desenvolvida
uma teoria de discordâncias que explica muitos dos fenômenos físicos e mecânicos que
ocorrem nos metais (assim como nas cerâmicas cristalinas).

12.1.2 Conceitos Fundamentais


Os diversos estudos e pesquisas mostraram então, que, temos dois tipos
fundamentais de discordâncias, sendo a discordância em aresta e a discordância
em espiral. Em uma discordância em aresta existe uma distorção localizada da rede
ao longo da extremidade de um semiplano extra de átomos, que também define a
linha da discordância (Figura 12.2).

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Figura 12.2: Exemplo de uma Discordância em Aresta


Fonte: https://app.respondeai.com.br/aprender/topico/156/1821/teoria/1735

Já uma discordância em espiral pode ser definida como resultante de uma distorção
por cisalhamento, sendo que sua linha da discordância passa através do centro de
uma rampa em espiral de planos atômicos (Figura 12.3).

Figura 12.3: Exemplo de discordância em Espiral (Também conhecida como Cunha)


Fonte: Santana (2014)
Disponível em: https://pt.slideshare.net/10511090/discordancia-e-atomos-interticiais

12.1.3 Vamos entender o que é o Vetor de Burgers


Esse nome é em homenagem ao físico holandês Jan Burgers, é um vetor, muitas
vezes denotado como b, que representa a magnitude e a direção da distorção da rede
resultante de um deslocamento em uma rede cristalina. O vetor Burgers e a linha de
deslocamento são perpendiculares para deslocamentos de arestas, paralelos para

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deslocamentos de parafusos e nem perpendiculares nem paralelos para deslocamentos


mistos. Figura 12.4 ilustra para facilitar o entendimento.

Figura 12.4: Exemplo do Vetor de Burger


Fonte: Santana (2014)
Disponível em: https://pt.slideshare.net/10511090/discordancia-e-atomos-interticiais

Muitas discordâncias em materiais cristalinos possuem tanto componentes em


aresta quanto em espiral; essas são as discordâncias mistas (Figura 12.5).

Figura 12.5: Exemplo de discordância mista


Fonte: Santana (2014)
Disponível em: https://pt.slideshare.net/10511090/discordancia-e-atomos-interticiais

O vetor de Burgers mantém uma direção fixa no espaço. Na extremidade inferior


esquerda, onde a discordância é pura hélice, b é paralelo a discordância. Na
extremidade superior direita, onde a discordância é pura linha. b é perpendicular
a discordância.

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12.2 Sistema de Escorregamento


Vamos entender agora o processo segundo o qual uma deformação plástica
é produzida pelo movimento de uma discordância, que se denomina sistema de
escorregamento. O plano cristalográfico ao longo do qual a linha da discordância
passa é o plano de escorregamento, como indicado na Figura 12.6.

Figura 12.6: Rearranjos atômicos que acompanham o movimento de uma discordância em aresta conforme ela se move em resposta à aplicação de uma
tensão cisalhante.
Fonte: Callister et al (2020)

Então, para compreendermos um sistema de escorregamento, vamos observar


na figura12.6, onde, temos, (a) que o semiplano de átomos extra é identificado como
A. (b) A discordância se move a uma distância atômica para a direita conforme A se
liga à porção inferior do plano B; nesse processo, a porção superior de B se torna o
semiplano extra. (c) Um degrau se forma na superfície do cristal conforme o semiplano
extra atinge a superfície.
A deformação plástica macroscópica corresponde simplesmente a uma deformação
permanente resultante do movimento das discordâncias, ou escorregamento, em
resposta à aplicação de uma tensão cisalhante, como representado na Figura 12.7.
Observe que, para a discordância em aresta, a linha da discordância se move na
direção da tensão cisalhante aplicada Ƭ. Para a discordância em espiral, o movimento
da linha da discordância é perpendicular à direção da tensão.
O movimento de uma discordância em espiral em resposta à aplicação de uma
tensão cisalhante é mostrado na Figura 12.7b. A direção do movimento é perpendicular
à direção da tensão. Para a discordância em aresta, o movimento é paralelo à tensão
cisalhante. Entretanto, a deformação plástica resultante para os movimentos de ambos
os tipos de discordâncias é a mesma (veja a Figura 12.7).

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Figura 12.7: A formação de um degrau na superfície de um cristal pelo movimento de (a) uma discordância em aresta e (b) uma discordância em espiral.
Fonte: Callister et al (2020)

Vamos fazer uma analogia ao movimento que uma lagarta faz para se locomover,
ilustrado pela figura 12.8.

Figura 12.8: Representação de forma análoga entre os movimentos de uma lagarta e de uma discordância.
Fonte: Callister et al (2020)

Ambas formam uma corcova próxima à sua extremidade posterior, puxando para
a frente seu último par de pernas o equivalente a uma unidade de comprimento da
perna. A corcova é impelida para a frente pelo movimento repetido de elevação e de
mudança dos pares de pernas. Quando a corcova atinge a extremidade anterior, toda
a lagarta terá se movido para a frente o equivalente a uma distância de separação
entre os pares de pernas. A corcova da lagarta e seu movimento correspondem ao
semiplano de átomos extra no modelo da deformação plástica por discordâncias.
Várias características das discordâncias são importantes em relação às propriedades
mecânicas dos metais. Entre elas estão incluídos os campos de deformação que existem
ao redor das discordâncias, que são importantes na determinação da mobilidade das
discordâncias, assim como em relação às suas habilidades em se multiplicar.

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Quando os metais são deformados plasticamente, uma fração da energia de


deformação (cerca de 5%) é retida internamente; o restante é dissipado na forma de
calor. A maior parcela dessa energia armazenada é como energia de deformação, que
está associada às discordâncias.
A Figura 12.9b, ilustra que um determinado plano de escorregamento pode conter
mais que uma única direção de escorregamento. Assim, podem existir vários sistemas
de escorregamento para uma estrutura cristalina particular.

Figura 12.9: (a) Um sistema de escorregamento {111}〈110〉 mostrado em uma célula unitária CFC. (b) O plano (111) mostrado em (a) e três direções de
escorregamento 〈110〉 (indicadas pelas setas) contidas naquele plano formam possíveis sistemas de escorregamento.
Fonte: Callister et al (2020)

O número de sistemas de escorregamento independentes representa as diferentes


combinações possíveis de planos e direções de escorregamento. Por exemplo, para a
estrutura cúbica de faces centradas, existem 12 sistemas de escorregamento: quatro
planos {111} diferentes e, dentro de cada plano, três direções 〈110〉 independentes.
Os campos de deformação de compressão e de tração para ambas as discordâncias
se encontram no mesmo lado do plano de escorregamento; a interação do campo
de deformação é tal que existe uma força de repulsão mútua entre essas duas
discordâncias isoladas, a qual tende a afastá-las, ilustrada pela figura 12.10.

Figura 12.10: Exemplo da deformação dos metais


Fonte: Souza (2019)
Disponível em: https://www.docsity.com/pt/tec-met-discordancia-e-graos/4937135/

Esses componentes são denominados tensões cisalhantes resolvidas (ou tensões


cisalhantes rebatidas), e suas magnitudes não dependem apenas da tensão aplicada,

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mas também da orientação tanto do plano de escorregamento quanto da direção


dentro desse plano.

12.3 Aumento da resistência pela redução do tamanho de grão


Vamos entender agora, a importância do tamanho dos grãos, a geometria e/ou o
diâmetro médio de grão, e, porque exercem tanta influência nas propriedades mecânicas
dos metais policristalinos. Os grãos adjacentes normalmente possuem orientações
cristalográficas diferentes e, obviamente, um contorno de grão comum, como indicado
na Figura 12.11. Durante a deformação plástica, o escorregamento ou movimento
das discordâncias deve ocorrer através desse contorno comum — digamos, do grão
A para o grão B, observem na figura.

Figura 12.11: O movimento de uma discordância conforme ela encontra um contorno de grão, ilustrando como o contorno atua como barreira à
continuidade do escorregamento. Os planos de escorregamento são descontínuos e mudam de direção através do contorno.
Fonte: Callister et al (2020)

O contorno de grão atua como uma barreira ao movimento das discordâncias por
duas razões:
1. |Uma vez que os dois grãos têm orientações diferentes, uma discordância que
passe para o grão B terá que mudar a direção do seu movimento; isso se torna
mais difícil conforme aumenta a diferença na orientação cristalográfica.
2. A falta de ordem atômica na região do contorno de grão resulta em uma
descontinuidade dos planos de escorregamento de um grão para o outro.
Vamos relembrar que, para os contornos de grão de alto ângulo, pode não ocorrer
algumas vezes, de as discordâncias atravessarem os contornos de grão durante a
deformação; em vez disso, as discordâncias tendem a se “acumular” (ou empilhar)
nos contornos de grão. Esses empilhamentos introduzem concentrações de tensão

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à frente dos seus planos de escorregamento, o que gera novas discordâncias nos
grãos adjacentes.
A figura 12.12 ilustra, baseado na figura anterior, o efeito do contorno de grão, na
resistência dos materiais. Quando uma discordância encontra um contorno de grão,
ela tem que mudar de direção.

Figura 12.12: Exemplo da propagação de uma discordância mudando de direção no contorno de grão
Fonte: Adaptado de Santana (2014)
Disponível em: https://pt.slideshare.net/10511090/discordancia-e-atomos-interticiais

Um material com granulação fina (um que possui grãos pequenos) tem dureza
maior e é mais resistente que um material com granulação grosseira, uma vez que o
primeiro possui maior área total de contornos de grão para impedir o movimento das
discordâncias. Para muitos materiais, o limite de escoamento σl varia com o tamanho
de grão de acordo com:

Nessa expressão, denominada Equação de Hall-Petch, d é o diâmetro médio de


grão, e σ0 e kl são constantes para cada material específico. Deve ser observado que
a Equação 12.1 não é válida para os materiais policristalinos com grãos muito grandes
(isto é, grosseiros) ou com grãos extremamente finos.

12.4 Aumento da resistência por solução sólida


Vamos ver agora, outra técnica utilizada para aumentar a resistência e endurecer os
metais, e que, consiste na formação de ligas com átomos de impurezas que formam
uma solução sólida substitucional ou intersticial (conforme vimos no capítulo 9, e
ilustrado na figura 12.13).

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Figura 12.13: Representação de átomos de impurezas substitucionais e intersticiais


Fonte: Callister et al (2015)

Nesse sentido, isso é chamado aumento da resistência por solução sólida. Os


metais com alta pureza têm quase sempre menor dureza e menor resistência que as
ligas compostas pelo mesmo metal base. O aumento da concentração de impurezas
resulta em um consequente aumento no limite de resistência à tração e no limite de
escoamento, como indicado nas Figuras 12.14a e 12.14b, respectivamente, para o
níquel no cobre. Já a dependência da ductilidade em relação à concentração de níquel
está apresentada na Figura 12.14c.

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Figura 12.14: Variação do (a) limite de resistência à tração, (b) limite de escoamento e (c) ductilidade (%AL), mostrando o aumento da resistência, em
função do teor de níquel para ligas cobre-níquel.
Fonte: Callister et al (2020)

As ligas são mais resistentes que os metais puros porque os átomos de impurezas
que estão participando na solução sólida normalmente impõem deformações de
rede sobre os átomos hospedeiros vizinhos. Assim, resultam interações do campo
de deformação da rede entre as discordâncias e esses átomos de impurezas, e,
consequentemente, o movimento das discordâncias fica restrito.
A resistência ao escorregamento é maior quando os átomos de impurezas estão
presentes, pois a deformação global da rede deve aumentar se uma discordância for
separada deles. Adicionalmente, as mesmas interações das deformações de rede
(Figuras 12.15b e 12.16b) existem entre os átomos de impureza e as discordâncias
que estão em movimento durante a deformação plástica.

Figura 12.15: (a) Representação das deformações de tração da rede que são impostas sobre os átomos hospedeiros por um átomo de impureza
substitucional menor. (b) Possíveis localizações dos átomos de impureza menores em relação a uma discordância em aresta, de modo que existe um
cancelamento parcial das deformações de rede causadas pelas impurezas e pela discordância.

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Figura 12.16: (a) Representação das deformações compressivas impostas sobre os átomos hospedeiros por um átomo de impureza substitucional maior.
(b) Possíveis localizações dos átomos de impureza maiores em relação a uma discordância em aresta, de modo que existe um cancelamento parcial das
deformações de rede causadas pelas impurezas e pela discordância.
Fonte: Callister et al (2020)

Dessa forma, é necessária a aplicação de uma tensão maior para, primeiro, iniciar
e, então, dar continuidade à deformação plástica em ligas com solução sólida, de
maneira oposta ao que ocorre nos metais puros; isso fica evidenciado pelo aumento
da resistência e da dureza.

12.5 Encruamento
Encruamento, ou endurecimento por deformação, é o fenômeno pelo qual um metal
dúctil se torna mais duro e mais resistente à medida que é deformado plasticamente.
Às vezes esse fenômeno também é chamado de endurecimento por trabalho, ou,
pelo fato de a temperatura na qual a deformação ocorre ser “fria” em relação à
temperatura absoluta de fusão do metal, de trabalho a frio. A maioria dos metais
encrua à temperatura ambiente.
Às vezes é conveniente expressar o grau de deformação plástica como porcentagem
de trabalho a frio, em lugar de deformação. A porcentagem de trabalho a frio (%TF)
é definida como:

em que A0 é a área original da seção transversal que sofre deformação e Ad é a


área de seção transversal após a deformação.
As Figuras 12.17a e 12.18b demonstram como aumentam o limite de escoamento
e o limite de resistência à tração do aço, do latão e do cobre com o aumento do
trabalho a frio.

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Figura 12.17: Para o aço 1040, o latão e o cobre, (a) o aumento no limite de escoamento, (b) o aumento no limite de resistência à tração e (c) a redução na
ductilidade (%AL) em função da porcentagem de trabalho a frio.
Fonte: Callister et al (2020)

O preço a ser pago por esse aumento na dureza e na resistência está na ductilidade
do metal. Isso é mostrado na Figura 12.17c, na qual a ductilidade, em termos do
alongamento percentual, apresenta redução com o aumento da porcentagem de
trabalho a frio para essas mesmas três ligas. A influência do trabalho a frio sobre o
comportamento tensão-deformação de um aço com baixo teor de carbono é mostrada
na Figura 12.18; nessa figura, as curvas tensão-deformação estão traçadas para 0%TF,
4%TF e 24%TF.

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Figura 12.18: A influência do trabalho a frio sobre o comportamento tensão-deformação de um aço com baixo teor de carbono; são mostradas as curvas
para 0%TF, 4%TF e 24%TF.
Callister et al (2020)

O movimento das discordâncias é dificultado à medida que a densidade de


discordância aumenta (%trabalho a frio) em virtude das interações repulsivas entre
elas. Assim, a tensão necessária para deformar um metal aumenta com o aumento
do trabalho a frio.

Considerações finais
Em resumo, discutimos os três mecanismos que podem ser aplicados para aumentar
a resistência e endurecer ligas metálicas monofásicas: o aumento da resistência
pela redução no tamanho de grão, o aumento da resistência por solução sólida e o
encruamento. Obviamente, eles podem ser usados em conjunto; por exemplo, uma
liga que tenha tido sua resistência aumentada por solução sólida também pode ser
encruada.
Também deve ser observado que os efeitos do aumento da resistência causados
pela redução do tamanho de grão e pelo encruamento podem ser eliminados, ou pelo
menos reduzidos, por um tratamento térmico em alta temperatura. Por outro lado, o
aumento de resistência por solução sólida não é afetado por um tratamento térmico.
Como será visto no Capítulo 13, outras técnicas, além daquelas que acabaram de ser
discutidas, podem ser usadas para melhorar as propriedades mecânicas de algumas
ligas metálicas. Essas ligas são multifásicas e as alterações nas suas propriedades
resultam de transformações de fases, as quais são induzidas por tratamentos térmicos
especificamente projetados.

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ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=vzcFzfHXUHs
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CAPÍTULO 13
DIAGRAMAS DE FASE

13.1 Introdução
Olá meus queridos alunos, que tal pensarmos na importância de estudarmos os
Diagramas de Fases. Vamos refletir?
Sabemos que, conforme o Tetraedro de William Callister, o processamento é a fase
mais importante da construção/fabricação dos materiais. E que as características
e propriedades estão relacionadas a estrutura, que também já estudamos. E meus
queridos alunos, o conhecimento e a compreensão dos diagramas de fases são
importantes para o engenheiro, pois, está relacionado com o projeto e o controle dos
procedimentos utilizados em tratamentos térmicos, etapa a qual atribui algumas das
propriedades dos materiais, organizando as suas microestruturas e, consequentemente,
esse processo depende de seus históricos térmicos.
Apesar de quase todos diagramas de fases demonstrarem estados e microestruturas
estáveis (ou em equilíbrio), podemos com eles, mesmo assim, utilizá-los para
entendermos o desenvolvimento e a preservação de estruturas fora de equilíbrio,
bem como das suas respectivas propriedades. Isso ocorre com frequência, pois, são
propriedades muito desejadas, e que, estão associadas ao estado de equilíbrio. Isso
pode ser ilustrado convenientemente pelo fenômeno do endurecimento por precipitação.
Vamos entender, de uma forma bem simples, com um elemento muito conhecido
nosso, e fundamental para nossa sobrevivência: Água pura (H2O). O diagrama de fases
da água será ilustrado pela figura 13.1 abaixo.

Figura 13.1: Exemplo de Diagrama de Fases – Água pura


Fonte: Callister et al (2020)

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ANOTE ISSO

Conforme Callister et al explica (2020), os parâmetros no gráfico são a pressão


externa (eixo vertical, em escala logarítmica) em função da temperatura. Com
esse diagrama, podemos mapear as regiões para as três fases — sólido (gelo),
líquido (água) e vapor (vapor de água). As três curvas representam os limites entre
as fases, as quais definem as regiões. Uma fotografia localizada em cada região
mostra um exemplo da sua fase — cubos de gelo, água líquida sendo despejada em
um copo e vapor saindo de uma chaleira.

13.1.1 Definições e Conceitos Básicos


O entendimento dos diagramas de fases para sistemas de ligas é crucial, pois,
temos uma forte correlação entre a microestrutura e as propriedades mecânicas,
conforme já vimos, exemplificado com o Tetraedro no Capítulo 1, e o desenvolvimento
da microestrutura de uma liga está relacionado com as características do seu diagrama
de fases. Além disso, os diagramas de fases fornecem informações valiosas sobre
os fenômenos de fusão, fundição e cristalização, entre outros, que estudaremos no
Capítulo 14 com o processamento das ligas e suas aplicações.
É necessário estabelecer um alicerce de definições e conceitos básicos relacionados
com as ligas, as fases e o equilíbrio antes de se dedicar à interpretação e à utilização
dos diagramas de fases. Vamos utilizar bastante o termo componente nesse capítulo.
As variáveis de um diagrama metálico, são estabelecidas pelos eixos X e Y, de um
gráfico, segundo Caran-Unicamp (2018). Onde o eixo X (abscissas) será a composição
ou peso em percentual ou peso atômico normalmente, e, o eixo Y (ordenadas) será a
temperatura. Veja o exemplo na figura 13.2.

Figura 13.2: Exemplo de como é construído um diagrama de fases metálico de 2 variáveis (Temperatura x Composição)
Fonte: Adaptado de Caran – Unicamp (2018)
Disponível em: http://www.fem.unicamp.br/~caram/10.%20DIAGRAMA%20DE%20FASES%20GRAD.pdf

Os componentes são metais puros e/ou os compostos que compõem uma liga. Por
exemplo, em um latão cobre-zinco, os componentes são Cu e Zn. Soluto e solvente, que
também são termos comuns, foram definidos no capítulo 9 e está ilustrado pela figura 13.3.

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Figura 13.3: Exemplo de uma estrutura cristalina e o Diagrama de fases do composto Cu-Zn.
Fonte: Adaptado de Callister et al (2010)

Outro termo usado nesse contexto é sistema, que possui dois significados.
Primeiramente, vamos entender, que um sistema pode referir-se a um corpo específico
do material que está sendo considerado (por exemplo, um cadinho de aço fundido);
ou então pode estar relacionado com a série de possíveis ligas compostas pelos
mesmos componentes, porém de maneira independente à composição da liga (por
exemplo, o sistema ferro-carbono).
O conceito de solução sólida foi introduzido no capítulo 10. Para fins de revisão,
uma solução sólida consiste em átomos de pelo menos dois tipos diferentes, onde,
os átomos de soluto ocupam posições substitucionais ou intersticiais na rede do
solvente, sem alterar a estrutura cristalina deste.

13.2 Limite de Solubilidade


Muitas são as ligas ou sistemas de liga, que, em determinada temperatura específica,
existe uma concentração máxima de átomos de soluto que pode se dissolver no solvente
para formar uma solução sólida; isso é chamado de limite de solubilidade. A adição
de soluto em excesso, além desse limite de solubilidade, resulta na formação de outra
solução sólida ou outro composto, com uma composição totalmente diferente. Para
ilustrar este conceito, na figura 13.4, considere o sistema açúcar-água (C12H22O11–
H2O).

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Figura 13.4: Solubilidade do açúcar (C12H22O11) em um xarope açúcar-água


Fonte: Adaptado de edisciplinas.usp.br (2019)
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5486413/course/section/6072827/Aula%2021_diagramas_fases.pdf?time=1605652860343

Bom, meus queridos alunos, no exemplo acima da figura 13.4, temos, na medida
que adicionamos o açúcar à água, uma solução ou um xarope de açúcar-água que se
formou. À medida que adicionamos mais açúcar, a solução fica mais concentrada, até
que o limite de solubilidade seja atingido, quando então, a solução fica saturada com
açúcar. Com isso, teremos que a solução não será mais capaz de dissolver nenhuma
quantidade de açúcar, e as adições subsequentes simplesmente se sedimentam no
fundo do recipiente, conforme ilustrado na figura. Com isso teremos então, basicamente,
um novo sistema constituído de duas substâncias separadas: uma solução líquida de
xarope açúcar-água e cristais sólidos de açúcar que não foram dissolvidos.
Esse limite de solubilidade do açúcar na água depende da temperatura da água e
pode ser representado na forma de um gráfico, em que a temperatura é traçada ao
longo da ordenada e a composição (em porcentagem em peso de açúcar) é traçada
ao longo da abscissa, como mostrado no gráfico da Figura 13.4.

13.3 Fases
Também de fundamental importância para o entendimento dos diagramas de fases
é o conceito de fase. Definimos uma fase como uma porção homogênea de um
sistema que possui características físicas e químicas uniformes. Todo material puro
é considerado uma fase, bem como, que, também o são todas as soluções sólidas,
líquidas e gasosas. Para o exemplo que apresentamos acima, a solução de xarope
açúcar-água é uma fase, enquanto o açúcar sólido é outra fase.

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Cada fase possui propriedades físicas diferentes (uma é um líquido, enquanto a outra
é um sólido). E temos também, importantíssimo dentro desses conceitos, que cada
uma é quimicamente diferente (isto é, possui uma composição química diferente); uma
é virtualmente açúcar puro, enquanto a outra é uma solução de H2O e C12H22O11.
Quando água e gelo, exemplo da figura 13.1, estão num mesmo recipiente, existem
duas fases separadas, e, elas são fisicamente diferentes (uma é um sólido, enquanto a
outra é um líquido), porém ambas são idênticas em composição química (constituídas
por Hidrogênio e Oxigênio – H2O). Além disso, podemos ter casos em que a substância
pode existir em duas ou mais formas polimórficas (por exemplo, tendo tanto estrutura
CFC quanto CCC), cada uma dessas estruturas é uma fase separada, pois suas
respectivas características físicas são diferentes (ilustrado pela figura 13.5 a seguir.

Figura 13.5: Diagrama de fases Ferro-Carbono


Fonte: Adaptado de Corrêa (2021)

Em muitos casos, podemos ter um sistema monofásico, que será denominado


como homogêneo. Já, os sistemas compostos por duas ou mais fases são definidos
como misturas ou sistemas heterogêneos. A maioria das ligas metálicas, bem como,
os sistemas cerâmicos, poliméricos e compósitos são definidos como heterogêneos.

13.4 Microestrutura
Na maioria dos casos, as propriedades físicas e, principalmente, o comportamento
mecânico (propriedades e características) de um material dependem de sua
microestrutura. Para se verificar a microestrutura de um material, precisamos do
auxílio de um microscópio, podendo ser aparelhos ópticos ou eletrônicos. Esse tópico

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não teremos tempo de abordá-lo nessa disciplina por não fazer parte da ementa
pedagógica. Nas ligas metálicas, a microestrutura é caracterizada pelo número de
fases presentes, por suas proporções e pela maneira como elas estão distribuídas ou
arranjadas (figura 13.5 ilustra a liga – Ferro-Carbono). A microestrutura de uma liga
depende de variáveis tais como os elementos de liga presentes, suas concentrações
e o tratamento térmico da liga (isto é, a temperatura, o tempo de aquecimento a essa
temperatura e a taxa de resfriamento até a temperatura ambiente).

13.5 Equilíbrio de Fases


Vejam bem meus queridos alunos o termo a seguir é também fundamental, Equilíbrio,
e, pode ser melhor definido em termos de uma grandeza termodinâmica chamada energia
livre. De forma objetiva e direta, a energia livre é uma função da energia interna de um
sistema e, também, da aleatoriedade ou desordem dos átomos ou moléculas (ou entropia).

ANOTE ISSO

Um sistema está em equilíbrio se sua energia livre está em um valor mínimo sob
uma combinação específica de temperatura, pressão e composição. Para facilitar
o entendimento, em termos macroscópicos, isso significa que as características
do sistema não mudam ao longo do tempo, mas persistem indefinidamente, ou
seja, o sistema tende a ficar estável. Uma alteração na temperatura, pressão e/ou
composição de um sistema em equilíbrio resulta em um aumento na energia livre e
em uma possível mudança espontânea para outro estado no qual a energia livre é
reduzida. Vamos ver o exemplo com o diagrama de fases da Água, na figura 13.6.

Figura 13.6: Diagrama de Equilíbrio da Água Pura (H2O)


Fonte: Adaptado de Marques Silva (2020)
Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/fisica/diagrama-fases.htm

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Podemos observar no diagrama (A) acima que quando a pressão é 1 atmosfera, a


fusão do gelo se dá a uma temperatura de 0 ºC. Entretanto, quando a pressão exercida
é de 8 atmosferas, o gelo se funde a uma temperatura mais baixa, cerca de -0,06 ºC.
No diagrama (B), temos que, o ponto C representa o equilíbrio entre a fase líquida e
a de vapor de água pura.
Então meus queridos alunos, esse assunto é muito interessante, e o termo equilíbrio
de fases, que estamos utilizando nesse capítulo, refere-se ao equilíbrio na medida
em que este se aplica a sistemas nos quais pode existir mais que uma única fase. O
equilíbrio de fases, por ter a questão termodinâmica na maioria das vezes, se reflete
por uma constância nas características das fases de um sistema ao longo do tempo.
Vamos ilustrar para facilitar o entendimento. Lembre-se do exemplo açúcar-água
acima (figura 13.4), imaginem que esteja contido em um vaso fechado e que a solução
esteja em contato com açúcar sólido a 20ºC. Se o sistema estiver em equilíbrio, a
composição do xarope será de 65% p C12H22O11–35%p H2O (Figura 13.7 abaixo), e as
quantidades e composições do xarope e do açúcar sólido permanecerão constantes
ao longo do tempo. Se a temperatura do sistema for aumentada repentinamente —
digamos, para 100ºC — esse equilíbrio ou balanço fica temporariamente perturbado,
e o limite de solubilidade aumenta para 80%p C12H22O11, veja a figura abaixo.

Figura 13.7: Solubilidade do açúcar (C12H22O11) em um xarope açúcar-água.


Fonte: Callister et al (2020)

Meus queridos, espero ter conseguido ajudar no entendimento de vocês com o


exemplo açúcar-xarope, utilizado por nosso mentor William Callister et al (2020), onde

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buscamos ilustrar o princípio do equilíbrio de fases usando um sistema líquido-sólido. Na


maioria dos materiais, enfatizando os metálicos, nos processos e sistemas metalúrgicos
e de materiais de interesse, o equilíbrio de fases envolve apenas fases sólidas. Sendo
assim, o estado do sistema é refletido nas características da microestrutura, o que
inclui necessariamente não apenas as fases presentes e suas composições, mas, além
disso, as quantidades relativas das fases e seus arranjos ou distribuições espaciais.

13.6 Interpretação dos diagramas de fases


Para entendermos um diagrama de fases, iniciemos com um sistema binário com
composição e temperatura conhecidas, e, que se encontra em equilíbrio, é necessário
que tenhamos pelo menos três tipos de informações disponíveis:
(1) as fases que estão presentes, (2) as composições dessas fases e (3) as
porcentagens ou frações das fases. Os procedimentos para efetuar essas determinações
serão demonstrados considerando o sistema cobre-níquel.
Para entendermos e identificarmos quais fases estão presentes é relativamente
simples. Devemos apenas localizar o ponto temperatura-composição no diagrama e
observar a(s) fase(s) correspondente(s) ao campo de fases identificado. Por exemplo,
uma liga com composição de 60%p Ni–40%p Cu a 1100ºC estaria localizada no ponto
A na Figura 13.8. Uma vez que esse ponto está na região α, apenas a fase α estará
presente. Contudo, uma liga com 35%p Ni–65%p Cu a 1250ºC (ponto B) consiste
tanto na fase α quanto na fase líquido em equilíbrio.

Figura 13.8: Diagrama de fases cobre-níquel


Fonte: Callister et al (2020)

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A primeira etapa na determinação das composições das fases (em termos das
concentrações dos componentes) consiste em localizar o ponto temperatura-
composição no diagrama de fases. São usados diferentes métodos para as regiões
monofásicas e bifásicas. Se apenas uma fase estiver presente, o procedimento é
simples: a composição dessa fase é simplesmente a mesma que a composição global
da liga. Por exemplo, considere a liga com 60%p Ni–40%p Cu a 1100ºC (ponto A,
Figura 13.8). Nessa composição e temperatura, apenas a fase α está presente, tendo
uma composição de 60%p Ni–40%p Cu.
Se temos uma liga com composição e temperatura localizadas em uma região
bifásica, a situação é mais complexa. Em todas as regiões bifásicas (e somente nas
regiões bifásicas) pode ser imaginada a existência de uma série de linhas horizontais,
uma para cada temperatura; cada uma dessas linhas é conhecida como uma linha de
amarração, ou às vezes como uma isoterma. Essas linhas de amarração se estendem
pela região bifásica e terminam, em ambas as extremidades, nas curvas de fronteira
entre as fases. Para calcular as concentrações de equilíbrio das duas fases, o seguinte
procedimento é usado:
1. Uma linha de amarração é construída pela região bifásica na temperatura em
que a liga se encontra;
2. São anotadas as interseções, em ambas as extremidades, da linha de amarração
com as fronteiras entre as fases;
3. A partir dessas interseções, são traçadas linhas perpendiculares à linha de
amarração até o eixo horizontal das composições, onde é lida a composição
de cada uma das respectivas fases.
Bom, sigamos com o exemplo da liga com 35%p Ni–65%p Cu a 1250ºC, apresentada
no ponto B na Figura 13.8 e que está no interior da região α + L. Assim, o problema
consiste em determinar a composição (em %p Ni e %p Cu) tanto para fase α quanto
para fase líquida. O ponto limite é definido pela região da fase α + L, como mostrado
na Figura 13.9 abaixo.

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Figura 13.9: Uma parte do diagrama de fases cobre-níquel no qual as composições e as quantidades das fases estão determinadas para o ponto B.
Fonte: Callister et al (2020)

A linha perpendicular traçada a partir da interseção da linha de amarração com


a fronteira liquidus encontra o eixo das composições em 31,5%p Ni–68,5%p Cu,
que corresponde à composição da fase líquida, CL. De maneira semelhante, para a
interseção da linha de amarração com a linha solidus, encontramos uma composição
para a fase de solução sólida α, Cα, de 42,5%p Ni–57,5%p Cu.

13.7 Resfriamento em Equilíbrio


Bem meus queridos alunos, vocês devem estar imaginando como se desenvolvem
a microestrutura nas ligas isomorfas durante a solidificação. Bom, para iniciarmos a
discussão, vamos entender do processo em que o resfriamento ocorre lentamente,
de modo que o equilíbrio entre as fases é mantido continuamente.
Para esse raciocínio, consideremos o sistema cobre-níquel (Figura 13.10),
especificamente uma liga com composição de 35%p Ni–65%p Cu, à medida que ela
é resfriada a partir de 1300ºC.

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Figura 13.10: Representação esquemática do desenvolvimento da microestrutura durante a solidificação em equilíbrio para uma liga com 35%p Ni–65%p
Cu.
Fonte: Callister et al (2020)

A região do diagrama de fases Cu–Ni na vizinhança dessa composição é mostrada


na Figura 13.10. O resfriamento de uma liga com essa composição corresponde a
um movimento para baixo ao longo da linha vertical tracejada. A 1300ºC, no ponto
(a), a liga está completamente líquida (com uma composição de 35%p Ni–65%p Cu)
e tem a microestrutura representada no detalhe na figura. Conforme o resfriamento
tem início, nenhuma alteração microestrutural ou de composição ocorrerá até que a
linha liquidus (ponto b, ~1260ºC) seja alcançada.

13.8 Desenvolvimento da microestrutura em ligas ferro-carbono


Algumas das microestruturas que são produzidas em aços, assim como suas
relações com o diagrama de fases ferro-carbeto de ferro, e, conversaremos nesse
capítulo sobre a microestrutura do composto Ferro-Carbono, uma das ligas mais
versáteis e comercialmente produzidas, e, seu desenvolvimento depende tanto do teor
de carbono quanto do tratamento térmico. Nesse subitem do capitulo 13 de diagrama

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de fases, iremos restringir aos aços que possuem resfriamento muito lento, em que
o equilíbrio é mantido continuamente.
Bom, para que ocorram as mudanças de fases ao se migrar da região γ para o campo
das fases α + Fe3C (Figura 13.11) são normalmente complexas e semelhantes àquelas
descritas para os sistemas eutéticos. Vamos estabelecer, para facilitar o entendimento,
uma liga com composição eutetoide (0,76%p C) à medida que ela é resfriada desde
uma temperatura na região da fase γ, digamos, 800ºC — isto é, começando no ponto
(a) na Figura 13.11, e se movendo para baixo ao longo da linha vertical xx′.

Figura 13.11: Representações esquemáticas das microestruturas para uma liga ferro-carbono com composição eutetoide (0,76%p C) acima e abaixo da
temperatura eutetoide.
Fonte: Callister et al (2020)

Inicialmente, a liga é composta inteiramente pela fase austenita, com uma composição
de 0,76% de C e a microestrutura correspondente, também indicada na Figura 13.11.
Com o resfriamento da liga, não há mudanças até a temperatura eutetoide (727ºC) ser
atingida. Ao cruzar essa temperatura e até o ponto (b), a austenita se transforma. O
líquido solidifica para formar as fases austenita e cementita. O resfriamento subsequente
até a temperatura ambiente promove mudanças de fases adicionais. Observe que existe
um ponto invariante eutetoide para uma composição de 0,76%p C e uma temperatura
de 727ºC. O resfriamento subsequente da perlita a partir do ponto b na Figura produz
mudanças microestruturais relativamente insignificantes.

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Agora, vamos entender algumas mudanças microestruturais que acompanham uma


reação eutetoide, ilustrado pela Figura 13.12. Nessa reação, as direções da difusão
do carbono são indicadas pelas setas na figura. Os átomos de carbono se difundem
para longe das regiões de ferrita contendo 0,022% C e em direção às camadas de
cementita com 6,70% C, conforme a perlita se estende do contorno do grão para o
interior do grão não reagido de austenita. A perlita se forma em camadas, pois para
formar uma estrutura desse tipo os átomos de carbono precisam se difundir somente
ao longo de distâncias mínimas.

Figura 13.12: Representação esquemática da formação da perlita a partir da austenita; a direção da difusão do carbono é a indicada pelas setas.
Fonte: Callister et al (2020)

Considerações finais
Os diagramas de fases de equilíbrio são a melhor forma de representar as relações
mais estáveis entre as fases em sistemas de ligas. Vimos também, que, uma fase é
alguma porção de um corpo de material através da qual as características físicas e
químicas são homogêneas. E, que as microestruturas possuem três características
importantes, em si tratando de ligas multifásicas: o número de fases presente, as
proporções relativas das fases e a maneira na qual as fases estão arranjadas. E
também, conforme discutimos no capítulo, que três fatores afetam a microestrutura
de uma liga, sendo eles: os elementos de liga que estão presentes, as concentrações
(percentuais %) desses elementos na liga e, qual tratamento térmico essa liga foi
submetida.
Um sistema em equilíbrio está no seu estado mais estável, ou seja, as características
das suas fases não mudam ao longo do tempo. E os sistemas metaestáveis são

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sistemas fora de equilíbrio que se mantêm indefinidamente e apresentam mudanças


imperceptíveis com o passar do tempo.
Para muitas ligas ferrosas (Ferro-Carbono), o desenvolvimento de sua microestrutura
e aços depende de uma reação eutetoide na qual a fase austenita com composição
0,76%p C, transforma-se isotermicamente (a 727ºC) em ferrita α (0,022%p C) e cementita
(isto é, γ → α + Fe3C), conforme foi ilustrado pela figura 13.11. As ligas ferrosas são,
em princípio, divididas em três grupos:
1. Ferro comercialmente puro = %C<0,008%p;
2. Aços, com teores de carbono de até 2,11%;
3. Ferro Fundido, teores de carbono acima de 2,11% e, raramente acima de 4,3%.
O Diagrama de Ferro-Carbono mais utilizado está ilustrado pela figura 13.13.

Figura 13.13: Diagrama Ferro-Carbono (FexC)


Fonte: Adaptado de Thulio Cesar (2018)
Disponível em: https://pt.slideshare.net/ThulioCesar/5-diagrama-ferro-carbono

Sobre as ligas metálicas (Aço e suas ligas), considerando sua versatilidade e sua
gama de utilização na Engenharia, Indústria, Construção Civil, Indústria Automotiva,
Naval, Ferroviária, Metal Mecânica, dentre outros diversos setores que as aplicam,
falaremos no capítulo 14 do processamento, características e aplicações, portanto,
voltamos a discutir o assunto no próximo capítulo. Aguardo ansioso por vocês, bons
estudos!

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ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=TZjLcZg341k
https://www.youtube.com/watch?v=4QZJJuIwE4Y

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CAPÍTULO 14
LIGAS METÁLICAS (AÇOS)
E SUAS APLICAÇÕES

14.1 Introdução
Olá meus queridos alunos, estamos chegando no final da disciplina, e vimos até
aqui muitas informações interessantes. É impossível esgotarmos esse tema tão
complexo e abrangente, e, temos muitos cursos de pós-graduação para contribuir no
aperfeiçoamento técnico de quem desejar seguir na área. Bom, como vocês já sabem,
gosto de iniciar o capítulo, fazendo com que reflitam a respeito do que já estudamos e
discutimos, e, o por que de estudarmos o assunto que começaremos. Então, imaginam
e pensem em por que estudar o processamento das ligas e suas aplicações?

ANOTE ISSO

Sabe meus queridos, com muita frequência, os técnicos e engenheiros se veem


com a necessidade de tomarem decisões a respeito da seleção de materiais, o que
exige que eles tenham alguma familiaridade com as propriedades e características
gerais e específicas, da ampla variedade de metais e de suas ligas (assim como
outros tipos de materiais), que temos no mercado. Além disso, pode ser exigido o
acesso a bases de dados contendo os valores das propriedades para um grande
número de materiais, o que, para nós engenheiros, seriam as normas técnicas. No
Brasil o órgão responsável é a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
E, temos também, que ocorre muito, um problema relacionado com materiais (como
falhas, rupturas, desgaste pré-maturo, dentre outros). Esses problemas relacionados a
escolha ou seleção de um material com a combinação correta de características para
uma aplicação específica. Portanto, vocês quando forem os gestores ou responsáveis
técnicos do processo de tomada de decisões devem ter algum conhecimento das
opções disponíveis. Iniciamos esse capítulo discutindo sobre a visão geral resumida de
algumas ligas comerciais e das suas propriedades e limitações gerais.
E, fechando a introdução, vamos entender o que são ligas metálicas e seus
principais tipos. As ligas metálicas, em virtude de sua composição, normalmente
são agrupadas em duas classes — ferrosas e não ferrosas. As ligas ferrosas são

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aquelas nas quais o ferro é o principal constituinte, e incluem os aços e os ferros


fundidos. Portanto, vamos discutir primeiramente nesse capítulo sobre essas ligas e
suas características. As ligas não ferrosas — todas as ligas que não são baseadas
no ferro — e serão discutidas em sequência. Lembrando que o tema é abrangente e
vamos conversar sobre os tópicos considerados mais importantes.

14.2 Ligas ferrosas


São ligas em que o elemento ferro é o constituinte principal — são produzidas em
maiores quantidades que qualquer outro tipo de metal, pelos processos metalúrgicos
ou siderúrgicos. Ligas as quais são cruciais para a construção em engenharia. Sua
ampla utilização é consequência de três fatores: (1) os compostos contendo ferro
existem em quantidades abundantes na crosta terrestre; (2) o ferro metálico e os aços
podem ser produzidos usando técnicas de extração, beneficiamento, formação de
ligas e fabricação relativamente econômicas; e (3) as ligas ferrosas são extremamente
versáteis, no sentido de que podem ser fabricadas com uma ampla variedade de
propriedades físicas e mecânicas. Uma das condições adversas para utilização das ligas
ferrosas é sua suscetibilidade à corrosão. Um esquema de classificação taxonômica
para as várias ligas ferrosas é apresentado na Figura 14.1.

Figura 14.1: Esquema de classificação para as várias ligas ferrosas


Fonte: Callister et al (2010)

14.2.1 Aços
Os aços são ligas ferro-carbono que, normalmente, contém porcentagens
consideráveis de outros elementos de liga. Temos hoje no mercado milhares de ligas

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com diferentes composições e/ou tratamentos térmicos. As propriedades mecânicas


estão diretamente relacionadas ao teor de carbono, que frequentemente é inferior
a 1,0%p. Os aços mais comuns são classificados de acordo com a concentração
de carbono, sendo definidos como: aços de baixo, médio e alto teor de carbono.
Importante salientarmos também, que, temos subclasses dentro de cada grupo, de
acordo com as concentrações de outros elementos de liga. Os aços-carbono comuns
contêm apenas concentrações residuais de impurezas além do carbono, e um pouco
de manganês. Nos aços-liga, mais elementos de liga são intencionalmente adicionados
em concentrações específicas, em virtude das aplicações e solicitações mecânicas
e estruturais requeridas.
Bom, algumas informações importantes que sugiro terem muita afinidade, são as
NORMAS. No Brasil, como foi dito anteriormente, somos regidos pela ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas). No entanto, quando temos a necessidade de algum
material específico, que ainda não foi normatizado em nosso país, é comum utilizarmos
as normas estrangeiras. As Normas ou códigos mais comumente consultadas são:
• AISI - Instituto Americano do Ferro e do Aço (American Iron and Steel Institute);
• SAE - Sociedade de Engenheiros Automotivos (Society of Automotive Engineers);
• ASTM - Sociedade Americana para Ensaios e Materiais (American Society for
Testing and Materials);
• UNS - Sistema de Numeração Uniforme (Uniform Numbering System);
• DIN - Instituto Alemão de Normalização (Deutsches Institut für Normung);
• JIS - Padrões Industriais Japoneses (Japanese Industrial Standards);
• JISC - Comité de Padrões Industriais Japoneses;
• CEN - Comité Europeu de Normalização;
• ISO - International Organization for Standardization (Organização Internacional
de Padronização).

Aços com Baixo Teor de Carbono


Os aços produzidos em maiores quantidades se enquadram na classificação
de baixo teor de carbono. Normalmente, esses aços contêm no geral menos que
aproximadamente 0,25%p C e não passam por tratamentos térmicos realizados para
formar martensita (concentração de carbono baixa e não se forma). O processo para
aumento da resistência é obtido por trabalho a frio. As microestruturas consistem
nos constituintes ferrita e perlita. Como consequência disso, essas ligas apresentam

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relativamente baixa dureza e baixa resistência, mas ductilidade e tenacidade


excepcionais; além disso, elas são usináveis, soldáveis e, de todos os aços, são os
de menor custo para serem produzidos. Aplicações típicas incluem componentes
das carcaças de automóveis, formas estruturais (por exemplo, vigas “I”, canaletas
e cantoneiras) e chapas que são usadas em tubulações, edificações, pontes e latas
estanhadas. As Tabelas 14.1 a, b e c, apresentam as composições e as propriedades
mecânicas de vários aços-carbono comuns com baixo teor de carbono. Em geral,
eles têm um limite de escoamento de 275 MPa (40.000 psi), limites de resistência à
tração entre 415 MPa e 550 MPa (60.000 psi e 80.000 psi) e uma ductilidade de 25%
AL. Na figura 14.2, ilustramos algumas aplicações.

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Tabela 14.1: Exemplos de composições e as propriedades mecânicas de vários aços-carbono comuns com baixo teor de carbono
Fonte: Adaptado de cimm.com.br
Disponível em: https://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/6339-acos-carbono-estruturais#

Figura 14.2 – Algumas aplicações para aços com baixos teores de carbono
Fonte: Adaptado de portosenavios.com.br
Disponível em: https://www.portosenavios.com.br/noticias/ind-naval-e-offshore/petrobras-planeja-voltar-a-ter-plataformas-proprias

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Meus queridos alunos, fechando o grupo de aços e ligas de baixo teor de carbono,
temos esse aço de engenharia, desenvolvido pela indústria automotiva e muito
utilizado na fabricação de carros, ônibus, caminhões, dentre outros. São os aços de
alta resistência com baixa liga (ARBL ou HSLA — high-strength, low-alloy). Eles são
normalmente constituídos de outros elementos de liga, tais como cobre, vanádio, nióbio,
níquel e molibdênio, dentre outros, em concentrações combinadas que podem ser
tão elevadas quanto 10%p, e apresentam maiores resistências que os aços-carbono
comuns com baixo teor de carbono.
Em muitos casos, dependendo da aplicação e solicitações mecânicas, eles podem ter
sua resistência aumentada por tratamento térmico, alcançando limites de resistência
à tração superiores a 480 MPa (70.000 psi). E possuem outras características como
ductilidade, conformabilidase e usinabilidade. Vários desses aços serão apresentados
nas Tabelas 14.2 a, b e c. Em condições e atmosferas normais, os aços ARBL são
mais resistentes à corrosão que os aços-carbono comuns, os quais eles substituíram
em muitas aplicações em que a resistência estrutural é fundamental (por exemplo,
em pontes, torres, colunas de sustentação em prédios altos e vasos de pressão).

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Tabela 14.2: Exemplo de aços baixa liga (Composição (a), elementos e influência (b) e denominação e características mecânicas (c).
Fonte: Adaptado de cimm.com.br
Disponível em: https://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/6339-acos-carbono-estruturais

A figura 14.3, ilustra algumas aplicações desses aços de ultra alta resistência.

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Figura 14.3: Exemplo de aplicação automotiva dos aços ARBL
Fonte: World Auto Steel (2023)
Disponível em: https://ahssinsights.org/tag/boron-steel/page/2/
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Aços com Médio Teor de Carbono


Os aços com médio teor de carbono possuem constituições químicas, com
aproximadamente 0,25% e 0,60%p de C. No caso dessas ligas, devido aos teores
mais altos que nas baixas ligas, podem ser tratadas termicamente por austenitização,
têmpera, e então revenido para melhorar suas propriedades mecânicas. Frequentemente
são utilizadas como revenida, apresentando microestruturas de martensita revenida.
Os aços-carbono comuns com médio teor de carbono têm baixa temperabilidade
e podem ser termicamente tratados com sucesso apenas em seções muito finas
e com taxas de resfriamento muito rápidas. Para melhorar as características são
adicionados cromo, níquel e molibdênio, e, melhoram a capacidade dessas ligas de
serem tratadas termicamente, dando origem a diversas combinações de resistência
e ductilidade. Suas aplicações incluem as rodas de trens e os trilhos de ferrovias,
engrenagens, virabrequins e outras peças de máquinas e componentes estruturais de
alta resistência que exigem uma combinação de alta resistência, resistência à abrasão
e tenacidade. Na tabela 14.3 temos alguns dos aços médio carbono mais utilizados.

Tabela 14.3: Alguns aços médio carbono e suas classes e composição química
Fonte: AAR 2014

E na figura 14.4, ilustramos algumas das aplicações dos aços médio carbono.

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Figura 14.4: Exemplos de aplicações dos aços médio carbono
Fonte: Adaptado de CBFA (2023)
Disponível em: https://cbfa.com.br/quais-os-componentes-do-rodeiro/
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Aços com Alto Teor de Carbono


Enfim meus queridos alunos, essa classe de aços com alto teor de carbono, que
possuem teores de carbono entre 0,60% e 1,4%p, são os mais duros e mais resistentes,
porém são os menos dúcteis entre os aços-carbono. Sua aplicação normalmente é em
uma condição endurecida e revenida e, conforme especificados, muito resistentes ao
desgaste e abrasão, e são capazes de manter uma aresta de corte afiada. Os aços-
ferramenta e para matrizes são ligas com alto teor de carbono, contendo geralmente
cromo, vanádio, tungstênio e molibdênio. Esses elementos de liga combinam-se com
o carbono para formar carbetos, que são muito duros e resistentes ao desgaste (por
exemplo, Cr23C6, V4C3 e WC). Algumas composições de aços-ferramenta e suas
aplicações estão listadas na Tabela 14.4 e a figura 14.5 temos ilustrado algumas
aplicações como exemplo. Esses aços são usados como ferramentas de corte e
como matrizes para deformar e conformar materiais, assim como para a fabricação
de facas, lâminas de corte, lâminas de serras, molas e arames de alta resistência.

Tabela 14.4: Composição e Classificação AISI para alguns tipos de aços ferramenta
Fonte: Adaptado de moldes.injeção.com.br
Disponível em: http://moldesinjecaoplasticos.com.br/wp-content/uploads/2018/02/re-2.png

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Figura 14.5: Exemplos de aplicações de aços ferramentas – Classificação AISI


Fonte: Sequeira – IFSC (2015)
Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/4868308/

Considerações Finais
Vimos nesse capítulo, as principais ligas ferrosas, na família dos aços carbono
(baixo, médio e altos teores), de forma bem resumida, mas, no entanto, de fundamental
importância dentro da ciência e engenharia de materiais, por ser o material mais versátil,
mais utilizado pela engenharia e um dos mais abundantes, sem ressaltar a facilidade
de reciclagem, o que é muito importante conforme veremos no próximo capítulo. Não
foi possível esgotarmos o tema, em virtude do tempo. Mas, conseguimos ter uma
idéia com relação à composição química, aplicação e principais características. Com
relação ao processamento, controles e ensaios (visando atender as especificações dos
clientes), não foi possível abordar nesse capítulo, no entanto, segue um resumo para
que possam ter conhecimento. Além de sua utilização final, as suas classificações
do aço, segundo o Instituto do Aço Brasil (2023) que são:
Aços Carbono:
São aços ao carbono, ou com baixo teor de liga, de composição química definida
em faixas amplas.
Aços Ligados/Especiais:
São aços ligados ou de alto carbono, de composição química definida em estreitas
faixas para todos os elementos e especificações rígidas.

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Aços construção mecânica:


São aços ao carbono e de baixa liga para forjaria, rolamentos, molas, eixos, peças
usinadas, etc.
Aços ferramenta:
São aços de alto carbono ou de alta liga, destinados à fabricação de ferramentas
e matrizes, para trabalho a quente e a frio, inclusive aços rápidos.
Quanto a Forma geométrica, podemos classifica-los também. As categorias são:
Semi-acabados:
Produtos oriundos de processo de lingotamento contínuo ou de laminação de
desbaste, destinados a posterior processamento de laminação ou forjamento a quente.
Placas / Blocos / Tarugos
Produtos Planos: Produtos siderúrgicos, resultado de processo de laminação, cuja
largura é extremamente superior a espessura (L >E), e são comercializados na forma
de chapas e bobinas de aços carbono e especiais.
Não revestidos, em “aços carbono”:
Bobinas e chapas grossas do laminador de tiras a quente - LTQ (5mm < E > 12,7mm)
Bobinas e chapas grossas do laminador de chapas grossas - LCG (E > 12,7 mm)
Bobinas e chapas finas laminadas a quente (BQ/CFQ)
Bobinas e chapas finas laminadas a frio (BF/CFF)
Revestidos, em “aços carbono”:
Folhas para embalagem (folhas de flandres - recobertas com estanho - e folhas
cromadas)
Bobinas e chapas eletro-galvanizadas (EG - Electrolytic Galvanized)
Bobinas e chapas zincadas a quente (HDG - Hot Dipped Galvanized)
Bobinas e chapas de ligas alumínio-zinco
Bobinas e chapas pré-pintadas
Em “aços especiais”:
Bobinas e chapas em aços ao silício (chapas elétricas)
Bobinas e chapas em aços inoxidáveis
Bobinas e chapas em aços ao alto carbono (C >= 0,50%) e em outros aços ligados
Produtos Longos:
Produtos siderúrgicos, resultado de processo de laminação, cujas seções transversais
têm formato poligonal e seu comprimento é extremamente superior à maior dimensão
da seção, sendo ofertados em aços carbono e especiais.

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Em aços carbono:
Perfis leves (h < 80 mm)
Perfis médios (80 mm < h <= 150 mm)
Perfis pesados (h > 150 mm)
Vergalhões / Fio-máquina (principalmente para arames) / Barras (qualidade
construção civil) / Tubos sem costura / Trefilados
Em aços ligados / especiais:
Fio-máquina (para parafusos e outros) / Barras em aços construção mecânica
Barras em aços ferramenta / Barras em aços inoxidáveis e para válvulas
Tubos sem costura / Trefilados

ISSO ESTÁ NA REDE

https://www.youtube.com/watch?v=_b79dxh7sDY
https://www.youtube.com/watch?v=JP2bJMZBCR4
https://www.youtube.com/watch?v=6t8oEv1cgGw

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CIÊNCIAS DOS MATERIAIS
PROF. FRANCIS EUZÉBIO PEREIRA

CAPÍTULO 15
QUESTÕES AMBIENTAIS
E SOCIAIS NA CIÊNCIA
DOS MATERIAIS

15.1 Introdução
Olá meus queridos alunos, enfim, estamos finalizando nosso livro sobre Engenharia
e Ciência dos Materiais. Tivemos o cuidado de tratar dos principais assuntos e ainda
existe uma vasta quantidade de informações, no entanto, os fundamentos básicos para se
desenvolverem no assunto, foram considerados. Estou há 20 anos nessa área, e, confesso,
sou um eterno aprendiz e cada dia aprendo algo novo. Para não perdermos o costume, ao
iniciar cada capítulo, vamos fazer aquela reflexão: Por que devemos estudar as questões
ambientais e sociais na Ciência e Engenharia dos Materiais? Pensem e reflitam a respeito.
Entendam o quanto importante é esse tema Ambiental e Social na vida dos Engenheiros,
pois, todas as demandas em relação aos recursos naturais do planeta aumentam sem
parar a cada dia. Outra situação crítica e importante de ser salientada, é que os níveis
de poluição sobem exponencialmente. Portanto, meus queridos futuros engenheiros, as
decisões que terão que tomar na engenharia de materiais, tanto nas escolhas das matérias
primas bem como nos processos de fabricação e no consumo de energia, têm impactos
diretos em nossas vidas e na sociedade. Ainda não falamos da contaminação da nossa
água, a saúde das pessoas, as mudanças climáticas, observem, não é amplo e temos
muitas responsabilidades e um mundo para zelar ao definirmos qual o melhor processo
a ser estabelecido para construirmos ou fabricarmos um material?
Para fechar nosso raciocínio a respeito dessas reflexões, é extremamente importante,
aos engenheiros, que, possuem todo esse conhecimento técnico, orientar e conscientizar a
todos em relação ao consumo exacerbado, à urgente necessidade de descarte adequado
dos resíduos bem como o seu reaproveitamento e reciclagem relativo aos produtos
consumidos no dia a dia. Tenhamos em mente, que, a qualidade de vida da atual geração
e das próximas, está diretamente relacionada a essas questões e como são tratadas e
abordadas pela comunidade mundial da engenharia.

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15.2 Considerações Ambientais e Sociais


O processamento de produtos industrializados, utilizando tecnologias modernas podem
afetar a sociedade de várias formas, podendo ser positivas ou negativas. A natureza desses
impactos pode ser econômica e ambiental, além de se estenderem internacionalmente.
Isso, porque, muitas vezes os recursos, os investimentos necessários para uma nova
tecnologia vêm de muitos países diferentes. Levando em consideração que esse crescimento
econômico oriundo do desenvolvimento tecnológico é de âmbito global, e, que, temos os
riscos (pois já ocorreram várias vezes) desses impactos ambientais se estender além das
fronteiras de um único país.
Portanto, meus queridos alunos e futuros engenheiros, os materiais que estudamos aqui,
vão exercer um papel fundamental nesse esquema tecnologia-economia-meio ambiente.
Todo material utilizado, seja em algum produto final ou não, quando descartado, seguirá
vários estágios ou fases, os quais estão representados na Figura 15.1, sendo muitas
vezes definido como ciclo total dos materiais, ou simplesmente ciclo dos materiais, e que
representa o circuito de vida de um material.

Figura 15.1: Representação esquemática do ciclo total dos materiais.


Fonte: Callister et al (2020)

Vamos analisar a figura 15.1, iniciando a partir da extremidade esquerda. Onde, as


matérias-primas são extraídas de seus ambientes naturais no planeta por mineração,
perfuração, cultivo e assim por diante. Essas matérias-primas são então processadas,
refinadas e convertidas em formas brutas ou pré acabadas, tais como metais, cimentos,
petróleo, borrachas e fibras. A síntese e o processamento adicionais resultam em produtos

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que são o que podemos definir como materiais engenheirados, tais como ligas metálicas,
pós cerâmicos, vidros, plásticos, compósitos, semicondutores e elastômeros. Após esse
beneficiamento primário, esses materiais engenheirados são ainda conformados, tratados
e montados em produtos, dispositivos e eletrodomésticos que estão prontos para o
consumidor, constituindo assim a etapa de “projeto, fabricação e montagem do produto”
na Figura 15.1. O consumidor vai adquirir esses produtos e os utiliza-los (o estágio das
“aplicações”), até que se deteriorem ou se tornem obsoletos e sejam descartados. A partir
desse momento, os constituintes do produto podem tanto ser reciclados/reutilizados
(situação em que retornam ao ciclo dos materiais) ou eliminados como rejeito, sendo
normalmente incinerados ou descartados como resíduos sólidos em aterros municipais,
e, portanto, retornam para a terra e completam o ciclo dos materiais.

ANOTE ISSO

Uma forma que a indústria vem fazendo para melhorar o desempenho de seus
produtos em relação ao meio ambiente é denominado análise/avaliação do
ciclo de vida. Para que isso aconteça no projeto de um produto, é levado em
consideração a avaliação ambiental do produto desde o seu nascimento até
seu descarte, ou seja, desde a extração das matérias primas até a fabricação
do produto, seu uso e, por fim, sua reciclagem e descarte (Muitas vezes esse
procedimento também é conhecido como projeto verde).
Uma fase importante desse procedimento é a quantificação das várias entradas
(isto é, materiais e energia) e saídas (isto é, rejeitos) para cada fase do ciclo de
vida; isso está representado esquematicamente na Figura 15.2. Além disso, uma
avaliação em relação aos impactos sobre o meio ambiente é conduzida, tanto no
âmbito global quanto no local, em termos dos efeitos sobre a ecologia, a saúde
humana e as reservas de recursos.

Figura 15.2: Exemplo esquemático do ciclo de vida do produto até sua disposição final
Fonte: Adaptado do Prof. Ometto (USP-2015)
Disponível em: http://www.shs.eesc.usp.br//neper/isimposio/palestras/03122009-tarde/ALDO_OMETTO-AvaliacaoDeCicloDeVida.pdf

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15.3 Questões sobre reciclagem na ciência e engenharia de materiais


Bom, meus queridos, a Ciência e Engenharia dos Materiais, exercem um papel
fundamental nas questões ambientais, quando mencionamos reciclagem e descarte,
que são estágios importantes do ciclo dos materiais. Essas questões são fundamentais,
principalmente quando novos materiais estão sendo projetados e sintetizados. Durante
o processo de seleção de materiais, o descarte final a ser empregado deve ser um critério
importante. Para alinharmos os conceitos, se define reciclável como um material,
que, após completar seu ciclo de vida em um componente, poderia ser reprocessado,
reentrar no ciclo dos materiais e ser reutilizado em outro componente, isto é, sendo
um processo que poderia ser repetido um número indefinido de vezes.
Vamos concluir esse livro com uma conversa sobre os materiais mais utilizados
no dia a dia e sua reciclabilidade e descartabilidade.

15.3.1 Metais
As ligas metálicas em sua maior parte (aquelas com Fe ou Cu), com maior ou
em menor grau, sofre corrosão e é biodegradável. Entretanto, alguns metais (por
exemplo, Hg, Pb) são tóxicos e, se descartados em aterros, trazem perigo à saúde.
E, apesar das ligas metálicas serem recicláveis, não é factível a reciclagem de todos
os metais. Além de, com o tempo e ciclos, essas ligas recicladas tendem a diminuir
sua qualidade (isto é, elas são deterioradas a cada ciclo, ou “down-cycled”). O ciclo
do aço está representado pela figura 15.3.

Figura 15.3: Representação esquemática da reciclagem dos metais


Fonte: Adaptado de itametais.com (2023)
Disponível em: www.itametais.com/reciclagem.html

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As ligas de alumínio apresentam boa resistência à oxidação e corrosão, portanto,


não são biodegradáveis. Todavia, são totalmente recicladas. Na verdade, o alumínio
é o metal não ferroso reciclável mais importante. Uma vez que o alumínio não se
oxida ou é corroído com facilidade, ele pode ser totalmente recuperado. Com esse
procedimento, economizamos energia, pois seu processo consome muita energia para
sua produção primária. Além disso, muitas ligas comercialmente disponíveis foram
projetadas para acomodar a contaminação por impurezas. As principais fontes de
alumínio reciclado são as latas de bebidas usadas e as sucatas de automóveis.

15.3.1 Vidro
Dentre os materiais cerâmicos, o vidro é o mais utilizado em termos de quantidades
em nossa sociedade, normalmente como recipientes. Por ser um material relativamente
inerte e, com isso, não se decompõe. Portanto, não é material biodegradável. Uma
proporção significativa dos aterros municipais consiste em sucatas de vidros, sendo
também considerado para os resíduos de incineradores. O vidro é um material reciclável
ideal, podendo ser reciclado várias vezes sem uma depreciação significativa da sua
qualidade. A figura 15.4 ilustra o ciclo de fabricação e reciclagem do vidro.

Figura 15.4: Ciclo de fabricação e reciclagem do vidro


Fonte: Adaptado de br.pinterest.com
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/406098091407476913/

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15.3.1 Plásticos e borrachas


Entramos na família dos materiais mais impopulares, se assim podemos dizer, em
virtude de termos os polímeros sintéticos como materiais de engenharia, que apresentam
a característica de inércia química e biológica. No entanto, essa característica é realmente
um problema quando se trata do descarte dos rejeitos. Em sua maioria, os polímeros não
são biodegradáveis e, em função disso, não se biodegrada nos aterros sanitários. São
normalmente gerados a partir de embalagens, sucatas de automóveis, pneus de automóveis
e os produtos domésticos duráveis. Polímeros biodegradáveis têm sido produzidos pelo
processo de síntese, mas sua produção é tem um custo muito elevado. Todavia, uma
vez que alguns polímeros são combustíveis e não emitem níveis apreciáveis de materiais
tóxicos ou poluentes, eles podem ser descartados por incineração.
Dentro da família dos polímeros, temos os termoplásticos, que são suscetíveis à
recuperação e à reciclagem, pois, podem ser novamente conformados mediante seu
aquecimento. Além das etapas de separação apresentadas anteriormente (isto é, trituração,
limpeza e moagem), é fundamental classificar as partículas de plásticos pela cor e pela
composição. E, temos também, as borrachas que apresentam desafios para o seu descarte
e reciclagem. Principalmente quando vulcanizadas, são materiais termofixos, o que torna
difícil a reciclagem química. Além disso, também podem conter uma variedade de cargas.
Um plástico reciclado custa menos que o material original, e a qualidade e a aparência
são, em geral, reduzidas após cada ciclo de reciclagem. São apresentados pela tabela
15.1, os principais polímeros recicláveis.

Tabela 15.1: Tipos de plásticos recicláveis produtos gerados


Fonte: Adaptado de iwastes.com (2022)
Disponível em: https://iwastes.com/2022/03/31/quais-sao-os-tipos-de-plasticos-reciclaveis/

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15.3.1 Materiais Compósitos


Os materiais compósitos são especialmente complexos e difíceis de serem reciclados,
pois possuem mais de uma fase em materiais de naturezas diferentes. As duas ou
mais fases/materiais que constituem o compósito estão normalmente misturadas
em uma escala muito fina, e, torna-se muito difícil separá-las durante o processo
de reciclagem. Hoje, temos algumas técnicas estabelecidas de reciclagem para os
compósitos com matriz polimérica reforçados com fibras de vidro e carbono.
A matriz polimérica pode ser um termoplástico (que amolece quando aquecido
e endurece quando resfriado) ou um termofixo (que após o endurecimento não vai
amolecer ao ser aquecido). A figura 15.5 ilustra o ciclo de vida de capacetes de
segurança de obras considerando os dois materiais de comparação: Polipropileno
(PP) puro e o Compósito de Fibra Vegetal (CFV) com sisal.

Figura 15.5: Ciclo de Vida do capacete de obras considerando os dois materiais de comparação: Polipropileno (PP) puro e o Compósito de Fibra Vegetal
(CFV) com sisal
Fonte: Medeiros D. L. et al. (2016)
Disponível em: Rev. Virtual Quim., 2016, 8 (4), 1166-1180. Web: http://rvq.sbq.org.br

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A figura 15.6 ilustra a reciclagem de um compósito termoplástico de matriz de PMMA-


Polimetilmetacrilato (ELIUM® 188XO) reforçado com fibras contínuas de carbono,
inicialmente, produzido através da técnica de Infusão de Resina Assistida a Vácuo-VARI.

Figura 15.6: (a) Vista geral da máquina de IMC e (b) sua representação esquemática do processo IMC

E na figura 15.7, temos a reciclagem de materiais compósitos de fibras longas por


técnica de IMC (Moldes de Injeção de Compósitos).

Figura 15.7: Etapas do processo de obtenção de material compósito reciclado


Fonte: Adaptado de Antunes et al (2023)
Disponível em: https://www.omolde.pt/index.php?id=5&idn=1116

A integração de uma extrusora contra rotativa de duplo fuso permite a redução


das taxas de corte nos materiais. Possui, também, um módulo de desgaseificação,
permitindo o processamento de materiais em ambiente inerte, particularmente
vantajoso para materiais higroscópicos. Uma vez que este conceito substitui a etapa
de composição convencional, torna-o particularmente adequado para o processamento
de termoplásticos termicamente sensíveis, bem como materiais reciclados, ao reduzir
o número de ciclos térmicos a que estão sujeitos. Para além disso, a conjugação
destas duas etapas elimina a necessidade de granulação do material (pellets), pelo que
é mantido o comprimento das fibras na integração de fibras longas na composição,

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sendo assim possível a produção de peças com propriedades mecânicas superiores.


Por outro lado, a combinação destas etapas leva ao aumento da eficiência energética
do processo, o que tem implicações positivas na redução do custo na produção das
peças.

Considerações finais
A cada dia mais meus queridos alunos, os impactos ambientais e sociais oriundos
dos processos produtivos estão se tornando questões significativas na engenharia.
Com isso, o ciclo de vida de um material “do berço ao túmulo” é uma consideração
importante. Esse ciclo “do berço ao túmulo” consiste nos estágios de extração, síntese/
processamento, projeto/fabricação do produto, aplicação e descarte, conforme já foi
ilustrado no capítulo (Figura 15.1).
Para facilitar e controlar as operações de forma eficaz dos ciclos dos materiais,
consideramos a implantação de um inventário de entradas/saídas para a avaliação do
ciclo de vida de um produto. Os materiais e a energia são os parâmetros de entrada,
enquanto as saídas incluem os produtos usáveis, os efluentes aquosos, as emissões
para a atmosfera e os resíduos sólidos (Figura 15.2).
Nosso planeta Terra é um sistema fechado, ou seja, os recursos materiais são
finitos; de certa maneira, o mesmo pode ser dito a respeito dos recursos energéticos.
As questões ambientais envolvem os danos ecológicos, a poluição e o descarte de
rejeitos. A reciclagem de produtos usados e a implantação de um projeto verde reduzem
alguns desses problemas ambientais.

ISSO ESTÁ NA REDE

https://youtu.be/KmGFOYlZslk

https://www.youtube.com/watch?v=wFZVgjJJfQU

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CONCLUSÃO

Olá meus queridos alunos, estamos terminando esse livro, e, espero que vocês
estejam apenas “começando’’. Conforme foi proposto na introdução, nossos objetivos
planejados foram atendidos, pois, conseguimos falar de forma bem objetiva sobre
cada assunto, que norteia o cientista e o engenheiro de materiais para buscar novas
soluções, com custo x benefícios, sem agredir ou prejudicar tanto o meio ambiente.
Espero que busquem outros autores, que pesquisem, e continuem buscando
conhecimento. Aos que trabalham, numa indústria, laboratórios, inspeções, ensaios,
auditorias, pesquisas e certificações ou outro setor que possui relação ao assunto,
que, aproveitem o local de trabalho como um laboratório gigante de pesquisa e
aplicação prática do conhecimento. Esse livro, trouxe as informações que consideramos
essenciais. O campo de atuação e a abrangência são enormes.
Acredito que, por questões de oportunidades, talvez, cada um de vocês vá se dedicar
a uma área específica, ou, aquela que tiveram mais afinidades. Desejo que possam
seguir em frente se desenvolvendo, ajudando a encontrar soluções e nas decisões que
direcionam as empresas de vocês rumo ao mais prático, simples, objetivo e cuidando
do meio ambiente. E, que possam também, ajudar os demais colaboradores que
trabalharem ou conviverem com vocês no treinamento e capacitação, facilitando a
compreensão e o entendimento de cada um, auxiliando-os a se tornarem melhores,
quando se tratar da ciência e engenharia de materiais.
Por fim, eu como professor e a Instituição de Ensino Faculdade Católica Paulista, nos
colocamos a disposição para continuar auxiliando-os no desenvolvimento e crescimento
de vocês. Contem sempre conosco!

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ELEMENTOS COMPLEMENTARES

LIVRO

Jr., William D. C. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma


Introdução. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição).
Grupo GEN, 2020.

FILME

Título: Tempos Modernos


Ano: 1936
Sinopse: Um dos filmes mais famosos de
Charles Chaplin, Tempos Modernos é, segundo
Manoel Fernandez, responsável de excelência
operacional na Rhodia um filme com forte viés
crítico que todo engenheiro de produção deveria
assistir. Ele, que é engenheiro mecânico formado pelo Instituto Mauá de Tecnologia,
mas trabalha como engenheiro de produção, explica que o filme mostra bem as ideias
do engenheiro Frederick Taylor, que foram usadas depois do Henry Ford, considerado
o primeiro a implantar um sistema de produção em série. “É um clássico que ilustra
bem a visão tayloriana, essa ideia de especialização do trabalho. O Ford usou essas
ideias do Taylor na linha de montagem”, diz Fernandez.

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Título: AMERICAN EXPERIENCE: TESLA


Ano: 2016
Sinopse: Esse documentário narra a vida de
Nikola Tesla, o gênio engenheiro e inventor que
revolucionou a eletricidade no século XX. Um
homem revolucionário que previu tecnologias
que viriam a ser indispensáveis décadas depois.

WEB

Todos os sites e dicas de Youtube estão no final de cada capítulo.

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REFERÊNCIAS

Jr., William D. C. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma Introdução. Disponível


em: Minha Biblioteca, (10th edição). Grupo GEN, 2020.

Askeland, Donald, R. et al. Ciência e Engenharia dos materiais Tradução da 3ª edição


norte-americana. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Cengage Learning
Brasil, 2014.

PADILHA, A. F. Materiais de Engenharia: Microestrutura e Propriedades. São Paulo:


Hemus.

CRAIG JR, ROY R. Mecânica dos Materiais. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos.

http://sites.poli.usp.br/d/pmt2100/Aula01_2005%201p.pdf Acessado em 20/07/23

https://embrapii.org.br/competencias/materiais-de-alto-desempenho/ Acessado
em 20/07/23

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