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EMPREENDEDORISMO SOCIAL

GISELA CONSOLMAGNO
MARCO NICOTARI
VAINE FERMOSELI VILGA
SILVIA HELENA CARVALHO RAMOS VALLADÃO DE CAMARGO
EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Vaine Fermoseli Vilga
Gisela Consolmagno
Silvia Helena Carvalho Ramos Valladão de Camargo
Marco Nicotari
Coautor: Renan Fonseca

2023
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL –
ORDEM DOS FRADES MENORES

PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Franklin Portela Correia
CENTRO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CISE
Franklin Portela Correia
REVISÃO TÉCNICA
Fernando Ortolani

PROJETO GRÁFICO
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
CAPA
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
DIAGRAMADOR
Simone Aparecida Barbosa

© 2023 Universidade São Francisco


Avenida São Francisco de Assis, 218
CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
OS AUTORES

VAINE FERMOSELI VILGA


Sou graduado em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP,
1999), Especialista em Finanças e Contabilidade Gerencial pela Universidade São Fran-
cisco (USF, 2003) e Mestre em Administração, Gestão e Negócios pela Universidade
Metodista de Piracicaba (UNIMEP, 2006). Há 20 anos atuo no setor educacional como
professor universitário, nas áreas de Economia e Administração, além de ter sido, no
mesmo período, o responsável pela gestão administrativo-financeira de uma empresa
do ramo médico. Trabalhei como Coordenador de cursos de Graduação e, nos últimos
anos, estive revisando e elaborando materiais didáticos de diversas disciplinas, além de
construir matrizes curriculares e ementas, com base nas diretrizes regulatórias do MEC,
nos direcionamentos de mercado e nas competências a serem desenvolvidas pelos
alunos. Participei da construção e implementação do modelo de sala de aula invertida
e de aprendizagem baseada em problema (ABP), utilizado em todas as faculdades da
Cogna, além de ter revisado PPCs (Projetos Pedagógicos de Cursos) e PDIs (Planos de
Desenvolvimento Institucional) para que eles estivessem adequados para a visita dos
avaliadores do MEC. Com base na metodologia Ágil, administrei a contratação e treina-
mento de professores para a elaboração de materiais didáticos, tendo atuado por um
período como Scrum Master na equipe de consultores de Ciências Sociais Aplicadas.
Tenho experiência na área de Administração e Economia, atuando, principalmente, com
os seguintes temas: macroeconomia, microeconomia, economia internacional, econo-
mia brasileira, economia de empresas, banking, gestão de negócios, liderança, micro
e pequenas empresas, estratégia, rede de empresas, ética, responsabilidade social,
marketing, metodologia científica e finanças públicas.

GISELA CONSOLMAGNO
Doutoranda em Administração pela Universidade Estadual de Campinas e Mestra em
Administração pela UNICAMP (2020) na linha de pesquisa de Gestão e Sustentabilida-
de, possui pós-graduação (lato sensu) em Comércio Exterior e Negócios Internacionais
e graduação em Relações Internacionais pela ESAMC (2013). Docente na área de Ges-
tão do Núcleo Comum da Área da Saúde na Fundação Hermínio Ometto. Facilitadora
na Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP). Professora no ensino su-
perior na FATEC Araras.Desenvolve atividades como professora conteudista e curadora
e orientadora de TCC no MBA USP/ESALQ - PECEGE de Digital Business. Áreas de
interesse: empreendedorismo, digital business, tecnologias e sustentabilidade.
SILVIA HELENA CARVALHO RAMOS VALLADÃO DE CAMARGO
Doutora em Administração pela Universidade de São Paulo - FEA-USP, Mestre em Ad-
ministração pelo Centro Universitário Moura Lacerda de Ribeirão Preto (CUML), Pós-
-Graduada em Didática do Ensino Superior pelo CUML, Pós-Graduada em Mídias na
Educação pela Universidade Federal de São João Del-Rey, Graduada em Ciências
Contábeis e Administração pelo CUML. Docente do Ensino Superior, de MBAs, Pa-
lestrante e Instrutora do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo
CRC-SP e Representante do Conselho Regional de Administração em Ribeirão Preto-
-CRA-RP e revisora e parecerista de revistas científicas, congressos e CAPES. Gestora
da Pousada Acolhedora em Ribeirão Preto e atua com Auditoria em Condomínios e
Associações de Moradores.

MARCO NICOTARI
Professor universitário e administrador. Especialista em Marketing, em Gestão de Ne-
gócios e em Educação a Distância. Mestre em Educação. Graduando em Psicologia.
Ministra aulas em graduação nos cursos de Administração e Engenharia de Produção
no Centro Universitário Moura Lacerda de Ribeirão Preto/SP nas áreas de Marketing,
Administração Geral, Negócios e Marketing, com as disciplinas Marketing Estratégico,
Administração Mercadológica, Administração de Vendas, Marketing de Varejo, Admi-
nistração Geral, Empreendedorismo, Administração Estratégica, Planejamento Estra-
tégico, Estratégia Empresarial, Plano de Negócios, Gestão de Serviços, Sistemas de
Informações e Organizacionais, Comportamento Organizacional, Recursos Humanos.
Ministra aulas em cursos de pós-graduação em várias instituições com as disciplinas
Marketing, Vendas, Planejamento Estratégico, Metodologia Científica. Orientador de
TCC nos cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de administração. Experi-
ência em Educação a Distância (EaD) em cursos de Graduação: Administração, e Tec-
nólogos: Gestão Comercial, Gestão de Marketing, Negócios Imobiliários, Sistema de
Inteligência de Marketing, todos com aulas expositivas gravadas e ao vivo; produção de
slides, avaliações, textos complementares e fóruns; produção de sete (7) títulos de ma-
teriais instrucionais. Experiência profissional não acadêmica em Administração Geral e
Marketing/Vendas, atuando principalmente com Varejo e Gestão Estratégica. Avaliador
Civil da Qualidade da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Avaliador pelo Ministério
da Educação (INEP/MEC) de Credenciamento e Reconhecimento de Cursos.
O COAUTOR: RENAN FONSECA
Graduado em História nas modalidades bacharelado e licenciatura pela Universidade
Federal de São João del Rei - UFSJ. Mestre pelo Programa de Mestrado em Letras -
UFSJ, Teoria Literária e Critica da Cultura, sendo bolsista CAPES/REUNI. Doutor pelo
programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo - USP.
Autor de material didático nas áreas de História e/ou para os itinerários formativos do
novo Ensino Médio. Professor de História para Ensino Superior, Médio e Fundamental
com experiência nas redes privada e federal de ensino. É autor dos livros: O transnacio-
nal e o local nas revistas Reader’s Digest e Seleções: relações de gênero nos Estados
Unidos e Brasil (1939 - 1971) e Amor e Gênero em Revista: os quadrinhos em sua (sub)
versão romântica, ambos publicados em 2020 pela Editora Ape’Ku. Tem interesse nos
seguintes temas: Mercado editorial brasileiro e estadunidense; História Social do Brasil
e Estados Unidos; Estudos de Gênero; Estudos Culturais; História Cultural; Histórias
em Quadrinhos; História e Memória. Desenvolve atividades relacionadas ao ensino de
História e já ministrou disciplinas relacionadas ao Funcionamento do Estado Moderno e
Escrita Criativa. Tem experiência na organização, em colaboração com professores de
rede privada de ensino, de eventos de Simulação das Nações Unidas para alunos do
Ensino Médio além de ter participado e orientado alunos nas últimas Olimpíadas Nacio-
nais em História do Brasil (ONHB). É historiador sob o registro 004810/SP.

O REVISOR TÉCNICO

FERNANDO ORTOLANI
Possui graduação em Administração pela Universidade de São Paulo (2002) e mestra-
do em Administração pela Universidade de São Paulo (2005). Atualmente é docente
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava/SP e do Centro Universitário
Estácio de Ribeirão Preto/SP. Tem experiência na área de Administração, com ênfase
em Empreendedorismo e Sustentabilidade Pessoal. Trabalha também com Mentoria e
Coaching, abordando os seguintes temas: Educação Ambiental e Financeira, Orienta-
ção de Carreira, Saúde e Qualidade de Vida e Criação de Empresas
SUMÁRIO

UNIDADE 01: BRASIL: SOCIEDADE, ECONOMIA, POLÍTICA E EMPREENDEDO-


RISMO SOCIAL.........................................................................................................9

1. Recentes Transformações Socioeconômicas e Antropológicas........................... 9

2. Cenário Socioeconômico Brasileiro e o Surgimento do Empreendedorismo Social 17

3. Políticas Sociais Brasileiras................................................................................. 25

UNIDADE 02: EMPRESA E SOCIEDADE: RESPONSABILIDADE E SUSTENTABI-


LIDADE.......................................................................................................................37

1. Responsabilidade Social e Conceituação Sobre ESG – ENVIRONMENTAL, SO-


CIAL & GOVERNANCE........................................................................................... 37

2. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONU).............................................. 44

3. Sustentabilidade Ambiental e financeira.............................................................. 54

UNIDADE 03: PLANEJAMENTO E GESTÃO DE NEGÓCIOS COM IMPACTO SO-


CIAL............................................................................................................................66

1. Negócios com Impacto Social.............................................................................. 66

2. Modelo de Negócios Sociais e BUSINESS MODEL GENERATION................... 74

3. Planejamento e Ferramentas para Gestão de Projetos....................................... 87

4. Planos de Negócios para Organizações Sociais................................................. 97

UNIDADE 04: EDUCAÇÃO, INOVAÇÃO E TENDÊNCIAS NO EMPREENDEDO-


RISMO SOCIAL.........................................................................................................115

1. Inovação Aplicada aos Negócios Sociais............................................................. 115

2. Gestão de Organizações Não Governamentais................................................... 124

3. Educação Empreendedora – o Ensino do Empreendedorismo na Escola.......... 131

4. Tendências: Economia Colaborativa e Consumo Consciente.............................. 138


Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social UNIDADE 1

BRASIL: SOCIEDADE,
ECONOMIA, POLÍTICA E
1
EMPREENDEDORISMO SOCIAL

INTRODUÇÃO
Nesta unidade, veremos o que são aspectos socioeconômicos e antropológicos e quais
as principais transformações relacionadas a eles que vêm acontecendo no Brasil e no
mundo, sendo que tais mudanças acabam por gerar informações precisas para que a
iniciativa pública tome ações assertivas no sentido de promover a melhoria das condições
de vida das pessoas, construindo uma sociedade mais equilibrada, justa e inclusiva.

Será abordado, também, o que é o empreendedorismo social, a forma híbrida que ele tem
de agregar valor para a sociedade, bem como o contexto histórico em que os empreendi-
mentos sociais surgiram no Brasil e as perspectivas para eles nos próximos anos.

Veremos, ainda, o que são as políticas sociais e como o governo se envolve com as
questões sociais. Esses entendimentos serão ilustrados pelos aspectos históricos re-
lacionados ao sistema de proteção social brasileiro, deixando claro de que forma as
políticas sociais podem ser agrupadas em eixos para que sejam mais bem analisadas
e implementadas. Bons estudos!

1. RECENTES TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E


ANTROPOLÓGICAS
Os seres humanos e as sociedades estão em constante transformação. Para com-
preendermos os impactos e desdobramentos de sermos seres biológicos e sociais,
neste capítulo necessário nos aprofundarmos em determinadas questões e realizarmos
algumas diferenciações como, por exemplo, determinar o que são aspectos socioeco-
nômicos e o que são aspectos antropológicos. Que transformações relacionadas a tais
aspectos vêm ocorrendo no Brasil e no mundo? O capítulo visa responder a esta ques-
tão e, também, analisar as consequências que estas mudanças geram para a tomada
de decisões e ações por parte da iniciativa pública que tem o intuito de melhorar a vida
das pessoas e construir uma sociedade mais justa, inclusiva e digna para todos.

1.1. O QUE SÃO ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E


ANTROPOLÓGICOS?
Não há dúvidas de que o homem é um ser biológico, certo? Sim, o ser humano é um
animal racional que vive no planeta Terra, estando inserido na natureza e transforman-
do-a para que suas necessidades sejam satisfeitas (relação homem x natureza). Tam-
bém é inegável que o homem é um ser social, já que ele vive junto com outros, comu-
nicando-se, cumprindo seus afazeres cotidianos, relacionando-se, ou seja, vivendo em
sociedade (relação homem x homem).

9
PARA REFLETIR
Quem não gosta de viajar para a praia com a família; fazer um happy hour com os amigos
1
no final do expediente; ir ao estádio de futebol para torcer pelo seu time junto com outros
inúmeros torcedores; estar em comunhão, em um local religioso, com outras pessoas que
professam da mesma fé; jantar com o cônjuge? É fácil imaginar que a grande maioria das

Universidade São Francisco


pessoas aprecia estes momentos de convívio social. Mas, por qual motivo o ser humano
precisa destas situações sociais? Que tipo de aprendizado elas podem trazer para a espécie
humana? Reflita sobre o assunto!

Agora, é importante que você compreenda que, à medida que a sociedade enfrenta
transformações históricas, o ser humano também é transformado. Sem precisar voltar
tanto no tempo, na época de nossas avós e bisavós, as pessoas faziam coisas que
seriam inimagináveis nos dias de hoje: fumar era um hábito refinado e cult (inclusive,
durante a gravidez!); dirigir sem cinto de segurança era uma prática comum; ir ao mer-
cado sem dinheiro não era problema porque o proprietário do estabelecimento vendia
fiado, marcando tudo na caderneta da família do comprador, já que estava seguro que
o chefe da casa iria quitar aquele valor o mais rápido possível; para não estragar, arma-
zenava-se a carne em latas preenchidas com banha de porco.
Estas mudanças de hábitos vivenciadas pelos seres humanos acontecem de forma
ininterrupta, estando muito ligadas a aspectos socioeconômicos e antropológicos. As-
sim, para iniciarmos esta discussão, você já parou para pensar o que são aspectos
socioeconômicos? Aspectos socioeconômicos são aqueles que impactam tanto a or-
dem social quanto a financeira (econômica) de um indivíduo, sociedade ou local. Eles
estão ligados a variáveis econômicas, sociológicas, educativas, de saúde, trabalhistas
etc. que podem ser mensuradas por índices, tais quais: o Produto Interno Bruto (PIB), a
taxa de desemprego, a renda per capita, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o
Coeficiente de Gini, entre outros.

GLOSSÁRIO
- PIB: é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos em algum lugar (país, região
estado ou município), em determinado período de tempo (um mês, um semestre, um ano).

- Taxa de desemprego: é o índice que mostra a proporção de pessoas desempregadas em


relação às pessoas que estão em uma faixa etária que as permite trabalhar.

- Renda per capita: mostra a média de renda de uma pessoa, sendo calculada por toda a
riqueza econômica gerada em um país dividida pelo número de habitantes dele. Por ser um
índice feito pelo cálculo de uma média, a renda per capita não consegue mostrar possíveis
problemas relacionados à distribuição de renda.

- IDH: índice que mostra o nível de desenvolvimento de uma sociedade com base em dados
de saúde, renda e educação.

- Coeficiente de Gini: índice que mede o grau de concentração de renda (ou seja, de desi-
gualdade social) de uma nação.

Empreendedorismo Social 10
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

Por outro lado, aspectos antropológicos são aqueles relacionados aos seres humanos
de maneira mais ampla, ou seja, à maneira que eles se formaram e se tornaram aquilo
que são. Os aspectos antropológicos mostram possíveis caminhos para explicar as
1 diferenças (particularidades) culturais, os movimentos e desigualdades sociais, os sa-
beres tradicionais e o nível de desenvolvimento socioeconômico de uma comunidade,
um povo ou um país. Dessa forma, de maneira biológica (física), material, linguística e/
ou cultural, os estudos antropológicos buscam as raízes dos seres humanos, estabe-
lecendo uma análise do passado (histórica) para a compreensão dos fenômenos que
acontecem nos dias de hoje. Vamos compreender isso melhor?

1.2. OS QUATRO CAMPOS ANTROPOLÓGICOS E AS RELAÇÕES COM


OUTRAS ÁREAS DAS CIÊNCIAS HUMANAS
Para entendermos os indivíduos e sociedades atuais, os estudos antropológicos são
divididos em 4 campos: a) antropologia biológica (ou física), b) arqueologia, c) antropo-
logia linguística e d) antropologia cultural (social).

A antropologia biológica procura entender a história da evolução humana a partir dos


restos mortais de pessoas que viveram no passado e das características da biologia
de pessoas que estão vivas no presente. Por exemplo, ao estudar o desgaste dos
dentes de um cadáver ou de uma pessoa viva, é possível identificar se ela tinha (tem)
uma dieta baseada em grãos, açúcares, verduras ou proteína animal, indicando se ela
estava (está) em uma comunidade que cultivava/comercializava estes tipos de bens.
Atualmente, o estudo do DNA também traz várias indicações sobre o modo de vida das
pessoas e suas relações sociais.

EXEMPLO
Os estudiosos Roger e Martine Lichtenberg examinaram, com Raio-X, cerca de 130 múmias
egípcias (ARNT, 1998). Nestes exames, detectaram que os ossos de algumas mostravam si-
nais de crescimento raquítico, marcas de má nutrição e doenças durante a juventude, trazen-
do indicações de que passavam fome e tinham vidas bastante difíceis (ARNT, 1998). Além
disso, diversas múmias apresentavam sinais de reumatismo na coluna, o que evidenciava
um trabalho físico intenso e de transporte de cargas pesadas (ARNT, 1998). Os estudiosos
também encontraram algumas múmias sem os dentes, mostrando que tinham mais açúcar
na dieta (ARNT, 1998). Interessante, né?

Já a arqueologia estuda o passado e o presente de diferentes sociedades através


de objetos materiais (utensílios, objetos de arte, estruturas arquitetônicas, armas,
vestimentas etc.), já que eles têm a capacidade de trazer pistas sobre a maneira
que determinada população vivia, gerando teorias sobre sua cultura e relaciona-
mentos pessoais e produtivos, além de permitir uma visualização das transforma-
ções ocorridas naquela determinada sociedade, comparando os dois conceitos
(do passado e do presente).

Com relação à antropologia linguística, ela estuda o papel da linguagem na vida social
de indivíduos e grupos, explorando-o como elemento de identidade social, pertenci-

11
mento de grupo, estabelecimento de crenças e ideologias culturais (GREELANE, 2019).
Nos dias de hoje, por exemplo, se você colocar num mesmo ambiente um rapper, um
surfista e um gamer, se você não pudesse vê-los, mas pudesse escutá-los, não seria
possível identificar cada um dos grupos a que pertencem pela forma que se comunicam? 1
Por fim, a antropologia cultural (social) é caracterizada pela compreensão da maneira
como os homens vivem em diferentes sociedades e culturas, sendo que estas culturas

Universidade São Francisco


podem ser definidas como um código pelo qual os seres humanos estudam, pensam e
modificam a sociedade, com base em padrões de convívio que trazem particularidades
e diferenças entre as sociedades.

Desta forma, estes quatro campos de estudo antropológicos trazem elementos que
permitem o entendimento da realidade, dos anseios e das expectativas da sociedade
em que estamos inseridos, bem como são capazes de mostrar as transformações que
ocorreram nela ao longo do tempo.

1.3. RECENTES TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E


ANTROPOLÓGICAS
Há diversas transformações socioeconômicas e antropológicas que ocorreram no Brasil
e no mundo nos últimos anos. Dentre elas, podemos destacar: o novo status da pobre-
za e suas causas estruturais, a formação de grupos que buscam voz na sociedade e o
mindset sustentável. Vamos entendê-las?

™ O Novo Status Da Pobreza E Suas Causas Estruturais

A pobreza é um assunto que simplesmente persiste no Brasil (e em muitos lugares do


mundo). Em nosso país, certamente, passamos por períodos de diminuição da pobreza
(alguns mais robustos outros mais tímidos), mas é indubitável que este assunto ainda
necessita de muitos avanços.

O interessante a se notar é que a pobreza, de acordo com Pereira (2007), pode ser vista
de várias maneiras, como: a) falta, ausência, carência e insuficiência de renda (devido
à baixa renda, as pessoas enfrentam situações de ausência de alimentação adequada
e de bens materiais básicos); b) demanda assistencial (como quem está na situação de
pobreza não tem condições por si só de atender a todas as suas necessidades, preci-
sará de algum tipo de assistência para supri-las); c) privação de capacidades (a situa-
ção de pobreza limita as pessoas a acessarem oportunidades econômicas, liberdades
políticas e condições habilitadoras (que estão relacionadas à boa saúde e educação
de qualidade); d) exclusão social (a pobreza também está relacionada a aspectos mais
subjetivos que geram sentimentos de rejeição, perda de identidade e ruptura de laços
culturais e de sociabilidade); e) vulnerabilidade social (uma condição que dificulta a
pessoa em estado de pobreza a sair dele, por conta do desemprego estrutural e das
diversas formas de precarização do trabalho (como o aumento da informalidade) que
geram pessoas descartáveis, refugadas para as novas exigências da modernização do
mercado de trabalho.

É claro que a fome, o desemprego e a falta de crescimento econômico são fatores


essenciais e determinantes para a pobreza. No entanto, percebe-se que a pobreza

Empreendedorismo Social 12
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

contemporânea não pode mais ser tratada apenas como uma questão material (de
renda), desconsiderando-se outros aspectos importantes (PEREIRA, 2007). “A pobreza
que constitui uma questão histórica, assume novas dimensões, constituindo o foco das
1 problemáticas sociais contemporâneas” (PEREIRA, 2007, p. 8).
[...] a pobreza, hoje, amplia-se, rompendo fronteiras sociais entre grupos,
atingindo segmentos antes tidos como integrados socialmente. É uma po-
breza que se articula com a vulnerabilidade do trabalho, ou seja, ser pobre
implica em uma inserção precária excludente no mundo do trabalho sem
conseguir garantir condições efetivas de inclusão na vida social. (PEREIRA,
2007, p. 8)

Dessa forma, é importante entender que a batalha contra a pobreza deverá passar
por uma mudança radical pautada na educação e inclusão tecnológica. Se alguns
anos atrás, a inserção ao mundo do trabalho era uma dificuldade para uma grande
camada da população (por conta dos elevados níveis de desemprego), atualmente,
esta inclusão é ainda mais complexa. Apesar de, em vários momentos, o desemprego
permanecer alto, muitos empregos gerados na atual sociedade moderna exigem uma
formação educacional e tecnológica para acompanhar esta revolução vista no mun-
do. A Internet das Coisas (IoT), a Inteligência Artificial, a automatização, o blockchain
e muitas outras tecnologias que aparecerão no futuro não são aprendidos no dia a
dia de um indivíduo, necessitando de um ensinamento formal, que só acontece com
inclusão educacional.

Assim, inovação, tecnologia e educação serão fundamentais para qualquer país (in-
clusive, o Brasil) enfrentar a pobreza de sua população (que ganhou um status mais
complexo para que seja combatida), trazendo, novamente, a possibilidade de uma real
inserção social de boa parte dos cidadãos da nação.

™ A Formação De Grupos (Comunidades) Que Buscam Voz Na Sociedade

Provavelmente, você já ouviu alguma história de sua avó/bisavó que dizia que as pes-
soas da vizinhança colocavam as cadeiras na calçada e ficavam conversando sobre
assuntos aleatórios. Atualmente, isso já não acontece mais (é até difícil as pessoas sa-
berem o nome de mais do que cinco pessoas que moram na mesma rua ou no mesmo
prédio delas). Mas, afinal, o que aconteceu para esta transformação tão drástica, em
poucos anos?

Aparentemente, fatores como: a falta de segurança, a violência, a poluição, o sistema


de transporte ineficiente (que obriga as pessoas a saírem muito cedo e a retornarem
muito tarde para os seus lares), o subemprego, a deterioração dos espaços urbanos,
o isolamento social causado pela pandemia do Coronavírus, e até a falta de moradia
acabam por trazer uma privatização da vida coletiva caracterizada por segregação,
evitação de contatos pessoais e confinamento (MAGNANI, 1998).

Além destes aspectos mais relacionados com a própria infraestrutura das cidades, tal
distanciamento das pessoas também se deve ao crescimento da internet e das Redes
Sociais, que passaram a preencher um espaço na sociabilização delas, transformando-
-a em algo mais virtual do que físico.

13
Como já visto anteriormente, as pessoas são seres sociais, que precisam se relacionar
com outras. Desta forma, essas transformações da sociedade são refletidas em mudan-
ças antropológicas, com o fortalecimento da cultura de grupos (comunidades) que têm
o mesmo objetivo, ideais, gostos e anseios (alguns formados em escassos encontros 1
face a face, outros, em sua maioria, formado nas Redes Sociais).

Universidade São Francisco


EXEMPLO
Dois exemplos podem mostrar este fortalecimento da cultura de grupos que acabam se en-
contrando presencialmente: 1- atualmente, diversas vezes, a ida ao banco por parte dos
mais idosos é muito mais um programa de lazer do que de obrigação, onde eles aproveitam
para conversar, tomar um cafezinho (enfim, socializar); e 2- alguns eventos culturais como a
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, principalmente durante os “rituais das filas”,
transformam-se em ocasiões de aproximação de pessoas e socialização genuína por conta
dos gostos comuns (ALMEIDA, 1995 apud MAGNANI, 1998).

Em termos virtuais, as pessoas se aproximam nas redes sociais por conta de gostos si-
milares e posições/opiniões parecidas que possuem. Há grupos (comunidades) forma-
dos por várias questões comuns: time do coração; posicionamento político e religioso;
aspectos raciais e de gênero etc. Todos eles defendem seus interesses, clamam por
igualdade, espaço social, voz e justiça.

No entanto, recentemente, dentro destes diversos grupos (comunidades) anta-


gônicos, também se percebe uma intolerância aos demais, que, muitas vezes,
acaba em debates violentos e agressivos na internet, que são refletidos na própria
sociedade. Dessa forma, apesar daquela experiência das cadeiras nas ruas não
ter desaparecido, mas apenas ter sido transformada em milhares de formas e
arranjos (MAGNANI, 1998), isso fez com que os grupos (comunidades) culturais
ainda estejam entendendo os seus espaços, em um processo de nova construção
da chamada sociedade contemporânea.

™ O Mindset (Mentalidade) Sustentável

Há alguns anos, as pessoas e as empresas demonstram preocupações relacionadas


com a preservação ambiental. No entanto, a maioria destas discussões permanecia no
campo teórico e diplomático, tendo pouca ação prática por parte dos indivíduos. Mas,
parece que isso está mudando.

Diversas pesquisas (no Brasil e no mundo) mostraram que o isolamento social causado
pelo Coronavírus parece ter feito as pessoas e as empresas se preocuparem ainda
mais com a sustentabilidade, indicando que elas estão dispostas a mudar seus hábitos
para minimizarem os problemas ambientais.

O planejamento sustentável das cidades, o consumo mais consciente, a produção que


gere menos poluição e desperdício, as energias mais limpas, a reciclagem de lixo, o
desperdício de alimentos, os materiais biodegradáveis, a educação ambiental e o uso
consciente da água são assuntos cada vez mais debatidos e defendidos em conversas

Empreendedorismo Social 14
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

informais e rodas de negócios, mostrando que a mentalidade (mindset) ambiental é algo


que se instalou na forma de pensar e agir da humanidade.

Sim, neste campo, muitos avanços ainda precisam ser conquistados. No entanto, agen-
1
tes públicos e privados passaram a fortalecer o pensamento crítico relacionado com
a sustentabilidade ambiental, percebendo-se como parte responsável do problema e
ressignificando seus conceitos, hábitos e expectativas.

1.4. A PRODUÇÃO ANTROPOLÓGICA SUBSIDIANDO A ELABORAÇÃO


DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Nesse momento, você pode estar se perguntando: como usar essas transformações
socioeconômicas e antropológicas para a construção de uma sociedade mais equilibra-
da e justa? Bem, todas estas mudanças fornecem dados, informações e aprendizados
para a compreensão e tradução de códigos culturais diversos, além do respeito à dife-
rença cultural (FELDMAN-BIANCO, 2011). Isso acaba por trazer uma visão mais preci-
sa do que está acontecendo na sociedade, subsidiando (alimentando com informações)
a elaboração, de forma mais assertiva, de políticas governamentais para segmentos e
grupos em situação de desvantagem e risco social (FELDMAN-BIANCO, 2011).

Cabe destacar que esse movimento em direção à melhora nas condições da sociedade
não é feito apenas pela iniciativa pública, já que empreendedores sociais e parcerias
público-privadas estão ganhando cada vez mais relevância no nosso país, realizando
ações que trazem mais humanidade e pessoalidade às relações de mercado, contri-
buindo para o desenvolvimento do país.

CONCLUSÃO
Neste capítulo, percebeu-se que os seres humanos e as sociedades a que perten-
cem estão em constante transformação. Problemas socioeconômicos e antropológi-
cos, recentes ou de longa data, pelos quais o Brasil enfrenta precisam de um olhar
atento por parte da iniciativa governamental para que as políticas públicas alcancem
bons resultados na minimização das desigualdades e injustiças. No entanto, esta
batalha vem ganhando novos atores privados que, através do empreendedorismo
social e parcerias público-privadas, também buscam uma melhora nas condições de
vida das pessoas.

15
Figura 01. Transformação na sociedade e Políticas Públicas

Problemas
socioeconômicos,
antropológicos,
ambientais... 1

Políticas
Públicas

Universidade São Francisco


Objetivos das Ciclo das
Políticas Políticas
Públicas Públicas

Distributivos 1. Entender o que


(destinados a um originou o problema
grupo específico) público
2. Buscar soluções e
Redistributivos alternativas ao problema
(promover o
3. Entender o motivo de
bem-estar social)
tais soluções não terem
Constitutivos sido implementadas 4. Analisar os obstáculos
(funcionamento existentes para a
das políticas efetivação de certas
públicas) medidas
5. Analisar possíveis
Regulatórios
resultados
(regras e organiza-
ção da sociedade) 6. Avaliar os impactos da
política pública
7. Ajustar a política
pública atual e
vislumbrar novas

Fonte: adaptada de Medeiros (2013, [n.p.]) e Lenzi ([s.d.], [n.p.]).

DICAS
Atualmente, é muito comum que as pessoas se agrupem em comunidades nas Redes So-
ciais para emitirem suas opiniões e atacarem aqueles que têm uma posição contrária à de-
las. Esse suposto “anonimato” sentido na internet torna as pessoas mais corajosas para:
distribuírem fakenews, atuarem como militantes cibernéticos e serem propagadores de ódio
e intolerância. Tal recente transformação antropológica pode ser conferida no filme “Rede de
Ódio” que aborda estes assuntos e outros que tratam da influência que as Redes Sociais têm
na vida das pessoas.
Rede de ódio. Direção de Jan Komasa. Los gatos: Netflix, 2020. (136 min.).

SAIBA MAIS
O artigo “A antropologia hoje”, de Bela Feldman-Bianco, mostra a crescente relação entre a
antropologia e a formulação de políticas públicas, trazendo exemplos reais desta aproxima-
ção que aconteceram no Brasil.
FELDMAN-BIANCO, Bela. A antropologia hoje. Revista Ciência e Cultura, São Paulo, vol.
63, n. 2, abr. 2011.

Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-


d=S0009-67252011000200002. Acesso em: 09 ago. 2022.

Empreendedorismo Social 16
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

SAIBA MAIS

1 Alguns anos atrás, a Prefeitura da cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo,
criou um link dentro do seu site que permite que cidadãos, empresas e ONGs (Organizações
Não Governamentais) cadastrem ações e projetos na área de sustentabilidade. O objetivo
desta iniciativa é conhecer a realidade ambiental da cidade para que, a partir destas informa-
ções, sejam propostas políticas públicas de incentivo às atividades sustentáveis. Isso mostra
que cada vez mais, o mindset sustentável ganha espaço entre as pessoas, as empresas e
o governo, elevando a preocupação com a preservação ambiental a um novo patamar, em
que todos (cidadãos, setor produtivo e órgãos públicos), numa conscientização conjunta, se
percebem como atores realmente responsáveis pelo cuidado com as questões ambientais.

Fonte: BRITO, Manoel. Hotsite da Prefeitura fará cadastros de projetos sustentáveis. Portal
da Prefeitura de Campinas, Campinas, 1 mar. 2013.

Disponível em: https://portal.campinas.sp.gov.br/noticia/17731. Acesso em: 10 ago. 2022.

2. CENÁRIO SOCIOECONÔMICO BRASILEIRO E O


SURGIMENTO DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Neste capítulo, serão expostas algumas importantes questões sobre o empreendedo-
rismo social, com destaque para a forma híbrida que ele tem de agregar valor para a
sociedade, além de procurar estabelecer uma contextualização histórica sobre como os
empreendimentos sociais entraram e ganharam espaço no Brasil e quais são as expec-
tativas para eles no futuro próximo.

2.1. O QUE É EMPREENDEDORISMO SOCIAL?


Normalmente, ligamos o governo, enquanto instituição (agente econômico), às ques-
tões sociais e coletivas. Sim, vemos o governo como um ator que tem a responsabilida-
de constitucional de diminuir as mazelas e as desigualdades socioeconômicas do país.
Por outro lado, associamos as empresas privadas às questões mais individuais, onde
os empresários estão em constante busca da maximização dos seus próprios lucros,
sem se importar tanto com a situação da sociedade à sua volta.

No entanto, essa percepção sobre as empresas parece estar tomando um rumo di-
ferente, traçado pelos empreendedores sociais. Se você é uma pessoa que gosta de
acompanhar as novidades que acontecem no Brasil e no mundo, certamente, já ouviu
falar sobre os empreendimentos sociais. Mas, afinal, você sabe o que é o empreende-
dorismo social?

Apesar de não haver uma única definição para o termo “empreendedorismo social”, boa
parte dos autores que versa sobre este assunto acaba por trazer uma visão parecida
sobre o tema. Vamos a elas? De acordo com Marins (2018 apud SILVA E SILVA, 2019),
o empreendedorismo social está relacionado com empresas que aproximam os objeti-
vos buscados pelos empresários privados, tendo como missão institucional a diminui-

17
ção de problemas socioeconômicos, antropológicos e ambientais. Já para Barki (2015,
apud SILVA E SILVA, 2019), o empreendedorismo social é um modelo de organização
híbrido, que combina competências do setor privado com os conhecimentos de gestão
social, fornecendo soluções para problemas sociais e/ou ambientais para populações 1
de baixa renda, gerando lucros de forma sustentável, podendo, inclusive, fazer distribui-
ção de dividendos aos seus associados. Seguindo nesse mesmo sentido, Silva e Silva
(2019) diz que o empreendedorismo social compreende iniciativas empresariais com

Universidade São Francisco


fins lucrativos capazes de solucionar ou amenizar os problemas sociais e ambientais,
trazendo benefícios para a comunidade local e global.

Nesse ponto, é importante que você entenda que a missão de um empreendimento


social (ou seja, a sua razão/propósito de existir) está atrelada a melhorias e benesses
socioeconômicas, ambientais e antropológicas, não estando guiada, única e exclusi-
vamente, ao lucro (retorno financeiro). Dessa forma, de acordo com Dees (2001) apud
Silva e Silva (2019), apresentar lucro e atender as necessidades dos clientes faz parte
do modelo de gestão dos empreendedores sociais, mas como um meio para o atendi-
mento de um objetivo social mais amplo, que norteia todas as decisões da organização.

Com estas definições, percebe-se que os empreendedores sociais, diferentemente das


organizações que não visam lucro (como as ONGs – Organizações Não Governamen-
tais, por exemplo), são autossustentáveis, ou seja, eles produzem mercadorias ou fa-
zem a prestação de algum serviço e assumem os riscos econômicos como qualquer
empresa privada, podendo, inclusive, decretar falência (ANASTÁCIO; CRUZ FILGO;
MARINS, 2018 apud SILVA E SILVA, 2019). Geralmente, os empreendedores sociais
exploram todas as opções de levantamento de recursos financeiros, desde doações
até operações produtivas e comerciais (DEES, 2001 apud SILVA E SILVA, 2019), e, se
apresentarem lucro, este é reinvestido em sua missão social.

IMPORTANTE
O enfoque do empreendedorismo social está no impacto socioeconômico, antropológico e
ambiental que ele causa, sendo que o lucro é um meio para alcançar a missão organizacio-
nal, tanto que o empreendedor social adota critérios de avaliação de desempenho que levam
em consideração tais impactos não financeiros (SILVA E SILVA, 2019).

2.2. O CENÁRIO SOCIOECONÔMICO BRASILEIRO EM QUE O


EMPREENDEDORISMO SOCIAL SURGIU
A preocupação com os mais necessitados, a inclusão de pessoas e a preocupação com
o meio ambiente são práticas que acontecem há muitos anos no Brasil e no mundo. Na
Bíblia, por exemplo, há diversos relatos do cuidado que todos devem ter com as viúvas,
órfãos e oprimidos. As igrejas, por séculos, fazem ações para amenizar o sofrimento de
pessoas socialmente vulneráveis. Movimentos de preservação ambiental ganharam es-
paço e voz na sociedade, a partir da década de 1960. Gandi, Madre Teresa de Calcutá,
Martin Luther King e, mais recentemente, os brasileiros Herbert José de Souza (mais
conhecido como Betinho) e Chico Mendes são alguns exemplos de pessoas que se
tornaram ícones na questão da atenção às questões sociais e ambientais.

Empreendedorismo Social 18
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

Apesar dessas diversas práticas voltadas à preocupação social existirem há séculos, as


primeiras experiências do Empreendedorismo Social (como conhecemos atualmente)
surgiram nos Estados Unidos e Europa, na década de 1960 (LIMEIRA, 2015). Depois
1 disso, elas começaram a ser disseminadas em todo o mundo, merecendo destaque a
fundação do Grameen Bank, em 1983, por Muhammad Yunus (ganhador do Nobel da
Paz no ano de 2006) e a criação da Ashoka, por Bill Drayton, em 1980.

CURIOSIDADE
O Grameen Bank, fundado por Muhammad Yunus, foi o primeiro banco do mundo especiali-
zado em microcrédito. Em 1976, Yunus emprestou 46 dólares a 42 mulheres de Bangladesh
(pobre país asiático) que viviam em condição de extrema miséria, para que elas pudessem
pagar suas dívidas com agiotas e iniciar pequenos negócios (que acabaram por transformar
a realidade daquelas pessoas). Com essa experiência, Yunus decidiu fundar o Grameen
Bank, em 1983, com a finalidade de emprestar pequenas quantias de dinheiro para pessoas
(que não teriam acesso a empréstimos em bancos tradicionais), majoritariamente mulheres,
que investiriam os recursos, obrigatoriamente, em pequenos empreendimentos produtivos e
comerciais. O modelo de negócio foi um sucesso e ajudou muitas pessoas a superarem suas
difíceis condições de pobreza.

SAIBA MAIS
Para conhecer um pouco mais sobre a história de Yunus Muhammad, assista à entrevista
que ele concedeu a uma jornalista brasileira, para que você entenda como ele conseguiu
transformar a realidade social de milhares de pessoas ao redor do mundo, através do empre-
endedorismo social.

WILLIAN GIL. MuhhamadYunus, o banqueiro dos pobres.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QvzOnXektmw&t=34s. Acesso em:


17 ago. 2022.

CURIOSIDADE
A Ashoka é uma organização presente em diversos países, inclusive no Brasil, que presta
ajuda especializada aos empreendedores sociais, que, ao fazerem parte da rede Ashoka,
passam a receber conselhos estratégicos, colaboração, intercâmbio de informações, habili-
dades, visibilidade, investimento e networking para desenvolverem suas atividades de trans-
formação social e ambiental. No mundo, há mais de 3.500 empreendedores sociais que
fazem parte da Ashoka.

No caso brasileiro, o empreendedorismo social começa a aparecer na década de 1980,


ganhando mais força a partir da década de 1990, como uma resposta às desigualdades
socioeconômicas e à maior preocupação com a preservação ambiental. A Constituição
Federal de 1988 promulgou aspectos bastante relevantes para o empreendedorismo

19
social, enfatizando a importância de se ter uma sociedade justa, solidária e livre, bem
como destacou o princípio da defesa do meio ambiente. Nossa Carta Magna, portanto,
trouxe as bases em que o Empreendedorismo Social atua, estimulando o aparecimento
de negócios sociais no país. 1
Pode-se afirmar também que a Eco-92 (conhecida como Rio-92), primeira Conferência
mundial (organizada pelas Nações Unidas) para debater aspectos diplomáticos, cientí-

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ficos, econômicos e políticos relacionados ao meio ambiente, por ter acontecido dentro
do Brasil, foi um marco para o país no que diz respeito à seriedade que o assunto pas-
sou a ser tratado pela sociedade, governo e empreendedores sociais.

O surgimento e o fortalecimento do Empreendedorismo Social no Brasil também acon-


teceram pelo nosso cenário socioeconômico da época (que ainda persiste nos dias
atuais), já que o desemprego, a desigualdade social, a violência de gênero, a miséria,
o analfabetismo, a poluição e todas as consequências dessas problemáticas se faziam
muito presentes na vida dos brasileiros (SILVA E SILVA, 2019). No Brasil, a década de
1980 ficou conhecida pelos economistas como “Década Perdida” porque o PIB ficou
estagnado e houve altíssima inflação e crescimento da dívida pública. Isso trouxe um
cenário econômico difícil que gerou desemprego, informalidade no mercado de traba-
lho, crescimento da desigualdade e elevação dos níveis de pobreza (houve amplia-
ção do percentual de pessoas com rendimento inferior ao salário-mínimo) (OMETTO;
FURTUOSO; SILVA, 1995). Muito dessa situação (que acabou sendo levada também
para a década de 1990) aconteceu porque o governo não tinha condições financeiras
para fazer investimentos em políticas econômicas e sociais que minimizassem essas
mazelas. Assim, como o governo não dava conta dessa demanda socioeconômica, os
empreendedores sociais aparecem dando apoio e complementos às (insuficientes) po-
líticas governamentais, passando a atuar em diversas áreas que abrangiam questões:
sociais, culturais, de gênero, etárias (crianças, jovens e adultos), de saúde, de habita-
ção, de educação, de gestão ambiental, de inclusão financeira, tecnológicas etc.

2.3. O CONCEITO DE CADEIA HÍBRIDA DE VALOR


Um peixe não existe sem a água, uma árvore não existe sem o solo, um governo não
existe sem uma sociedade. Essa forma de compreensão do impacto do cenário (ecos-
sistema) sobre qualquer elemento orgânico ou inorgânico também pode ser levada para
o funcionamento dos empreendimentos sociais, já que, assim como qualquer agente
econômico (governo, empresas, pessoas físicas e outros países), os empreendedores
sociais estão inseridos em um ambiente político, econômico, social e cultural em que os
diversos atores se relacionam, possibilitando que muitas iniciativas sejam desenvolvi-
das a partir destes relacionamentos (LIMEIRA, 2015).

De acordo com Silva e Silva (2019), o empreendedorismo social pode ser considerado
uma forma de ação entre os três setores (público, privado e sociedade civil). Isso faz
com que os empreendimentos sociais sejam considerados como organizações híbridas,
que operam em ambientes desafiadores (BILLIS, 2010 apud LIMEIRA, 2015).

Empreendedorismo Social 20
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

GLOSSÁRIO

1 O termo “híbrido” é muito associado às espécies animais ou vegetais e também é usado no


setor automobilístico. Na biologia, ele aparece quando um ser vivo é formado a partir do cru-
zamento de duas espécies diferentes como, por exemplo: o ligre (animal que surge do cruza-
mento de um leão com uma tigresa), a mula (que advém do cruzamento de um jumento com
uma égua) e o zebralo (animal que nasce do cruzamento de uma zebra com um cavalo). Já
na área automobilística, o hibridismo aparece para designar automóveis que podem utilizar
mais de uma fonte de energia para o seu funcionamento, ou seja, carros que, ao mesmo tem-
po, possuem um motor elétrico e um motor a combustão (movido a gasolina, por exemplo).

Quando associada ao empreendedorismo social, a palavra “híbrida” se refere às caracterís-


ticas diversificadas que estes empreendimentos possuem, já que visam o lucro (assim como
empresas privadas), mas, ao mesmo tempo, têm preocupações sociais (assim como o setor
público e as organizações sem fins lucrativos, como as ONGs).

De acordo com Williamson (1991 apud LIMEIRA, 2015), os empreendimentos híbridos


(como os sociais) estruturam seus negócios com base em acordos com outras orga-
nizações, compartilhamento de capital, tecnologia e serviço. Tudo isso faz parte de
uma cadeia híbrida de valor que “[...] designa um modelo de negócios que fomenta os
ativos e as competências das empresas e dos empreendedores sociais para gerar im-
pacto socioambiental e econômico em larga escala e com maior eficiência econômica”
(DRAYTON; BUDINICHI, 2008 apud LIMEIRA, 2015, p. 9).

GLOSSÁRIO
O conceito “cadeia de valor” representa todas as atividades necessárias para o desenvol-
vimento, a produção, a comercialização, a entrega e o suporte de bens e serviços que são
realizadas por diferentes empresas que colaboram entre si, direta ou indiretamente, para ge-
rar valor a todos os envolvidos no processo (fornecedores, clientes, funcionários, instituições
governamentais etc.) (PORTER, 1985 apud LIMEIRA, 2015).

É importante que você perceba que a cadeia híbrida de valor, que está embutida no
modelo de negócio dos empreendedores sociais, vai além de uma relação cliente-for-
necedor, já que adota práticas de gestão colaborativa entre empresas tradicionais e
sociais, permitindo vantagens complementares como: escala, know-how em diversas
áreas, conexão e parcerias com redes sociais, clientes e comunidades em todo o mun-
do (LIMEIRA, 2015).

Esses benefícios advindos da cadeia híbrida de valor são especialmente importantes


para os empreendedores sociais, já que a missão deles é minimizar as mazelas socio-
econômicas, antropológicas e ambientais. Assim, quanto mais gente for positivamente
impactada por uma empresa social (ou seja, quanto mais escala a ação do empreen-
dimento social alcançar), mais qualidade de vida será levada para uma comunidade,
um segmento social, uma sociedade ou um país. Dessa forma, objetivos conjuntos,

21
conscientização em massa e parcerias amplas entre diversos atores potencializam os
efeitos gerados pelo empreendedorismo social.

2.4. O BOOM DOS EMPREENDIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL E NO 1


MUNDO
Tanto se fala sobre o empreendedorismo social, mas será que ele já é tão relevante

Universidade São Francisco


no Brasil e no mundo? De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Schwab
(que é uma plataforma mundial que apoia e dissemina o empreendedorismo social
no planeta), mais de 620 milhões de pessoas já foram beneficiadas por ações de
empreendedores sociais, sendo que, desde os anos 2000, estas organizações ha-
viam conseguido reduzir a emissão de gás carbônico na atmosfera em mais de 192
milhões de toneladas – quantidade equivalente à poluição causada por cerca de 40
milhões de automóveis (ECOA, 2020). Em outro levantamento, realizado pela Aspen
Network of Development Entrepeneurs (Ande), há a indicação de que os negócios
sociais já movimentaram US$ 60 bilhões em todo o globo terrestre, com crescimento
anual de 7% (PEREIRA, 2020).

Os números brasileiros, apesar de crescentes ainda estão aquém de outras nações.


De acordo com um estudo, de 2017, feito pelo SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas) em parceria com o PNUD (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento), nosso país tem mais de 800 empreendedores sociais, en-
quanto países como Reino Unido e Holanda (escolhidos apenas como base de compa-
ração) têm 68 mil e 5 mil empreendedores sociais, respectivamente.

Estes números (que já são expressivos) têm grande potencial de crescimento no Bra-
sil e no mundo, já que há diversas movimentações globais em torno da mitigação de
problemas socioambientais que ainda são muito presentes em vários países e comuni-
dades (SILVA E SILVA, 2019; PEREIRA, 2020). Essa onda crescente será ainda mais
fortalecida por novas tecnologias (internet das coisas, conectividade generalizada etc.)
que permitem uma cooperação humana sem fronteiras, gerando ampla difusão e inclu-
são social de pessoas excluídas em termos culturais, econômicos e sociais (ABRAMO-
VAY, 2014 apud SILVA E SILVA, 2019).

CONCLUSÃO
Neste capítulo, percebeu-se que os empreendimentos sociais, apesar de visarem o
lucro, têm uma missão socioambiental que guia todos os seus movimentos. Como o
Brasil enfrenta mazelas sociais, culturais e ambientais desde o seu descobrimento, o
empreendedorismo social encontrou terreno fértil em nosso território, ganhando força
a partir da elaboração da Constituição de 1988 e da realização da Rio-92. Os negócios
sociais são uma realidade no mundo todo, já tendo impactado a vida de centenas de
milhões de pessoas. No entanto, ainda há bastante espaço para o seu crescimento, já
que novas tecnologias e, principalmente, uma conscientização coletiva global da im-
portância da inclusão social, da redução de desigualdades e da preservação ambiental
estão estimulando novos empreendedores a seguirem os caminhos dos precursores
das empresas sociais.

Empreendedorismo Social 22
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

Figura 02. Diferenças entre os Empreendedores Privados, Sociais e ONGs

Meios para
1 Objetivo
Tipo atingir o
central
objetivo
Gerar lucro e Venda de bens e ser-
riqueza para os viços diversos que
Privados satisfaçam e fideli-
proprietários e
zem os clientes. São
investidores. autossustentáveis.

Resolver problemas Venda de bens e


socioambientais. serviços com
Podem ter lucro, propósitos
Empreendimentos Sociais mas eles são socioambientais. Até
reinvestidos no podem receber
propósito doações, mas são
socioambiental. autossustentáveis.

Não são
Resolver autossustentáveis.
Prestam serviços
problemas socioambientais
socioambientais. gratuitos com
ONGs Não possuem fins recursos advindos de
lucrativos. doações e apoios
financeiros.

Fonte: Adaptada de Pereira (2020, [n. p.]).

DICAS
Muitas vezes, o aparecimento de um empreendimento social está atrelado à criação de al-
guma inovação, que pode ser de um processo (mais produtivo, menos poluidor etc.) ou até
mesmo de algum produto. Em 2014, o lançamento do filme Slingshot, de Paul Lazarus, trou-
xe esse lado inovador dos empreendedores sociais, ao mostrar como a invenção de uma
máquina, capaz de reciclar qualquer tipo de água, poderia transformar a vida de milhões de
pessoas no mundo. O documentário retrata a cadeia híbrida de valor intrínseca ao empre-
endedorismo social, relatando a busca por parcerias para que a invenção pudesse ganhar
escala para ser economicamente viável.

SLINGSHOT. Direção de Paul Lazarus. Los Gatos: Netflix, 2014. (88 minutos).

23
SAIBA MAIS
O artigo “Economia Brasileira na década de oitenta e seus reflexos nas condições de vida 1
da população”, de Ana Maria H. Ometto, Furtuoso e Silva (1995), retrata a crise econômica
brasileira da década de 1980, a deterioração das contas públicas para a realização de polí-
ticas sociais e como as pessoas tentaram sobreviver diante deste cenário socioeconômico

Universidade São Francisco


bastante difícil.

OMETTO, Ana Maria H.; FURTUOSO, Maria Cristina O.; SILVA, Marina Vieira da. Economia
brasileira na década de oitenta e seus reflexos nas condições de vida da população. Revista
Saúde Pública, vol. 29, n. 5, Piracicaba, 1995. Departamento de Economia Doméstica da
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP).

Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/XRCdDpSndmxTY5J7wXz6tXn/?lang=pt#:~:-


text=A%20economia%20brasileira%20na%20d%C3%A9cada,indicadores%20sociais%20
apresentaram%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20positiva. Acesso em: 18 ago. 2022.

CASOS DE APLICAÇÃO
Quem poderia prever que uma viagem de férias poderia se transformar no marco para a
criação de uma das empresas sociais mais bem-sucedidas do mundo? Isso aconteceu com
Blake Mycoskie, empresário que viajou para a Argentina, em 2006, para aprender a jogar
polo a cavalo e se deparou com uma situação muito triste: inúmeras crianças que não tinham
condições financeiras sequer para comprar um par de calçados. Essa realidade acabou por
ser o estopim para Blake fundar, juntamente com Alejo Nitti, seu sócio, a TOM SHOES, em-
presa social (portanto, com fins lucrativos) com um novo modelo de negócios: a cada sapato
que a empresa vende, ela doa um par para jovens argentinos e de outros países que não
têm condições de adquiri-los. A ideia foi um sucesso, sendo que já foram doadas dezenas de
milhões de sapatos em mais de 70 países. Atualmente, outros produtos entraram no portfólio
da empresa (óculos, sacolas e até café), que foi parcialmente vendida (50% das cotas), em
2014, por US$ 300 milhões, para um fundo de investimentos (Bain Capital).

Fontes:

INSIDER EDITOR. Como a TomsShoes se tornou um sucesso de empreendedorismo so-


cial. Insider, [Online], 30 jan. 2021. Disponível em: https://blog.insiderstore.com.br/como-
-a-toms-shoes-se-tornou-um-sucessode-empreendedorismo-social/#:~:text=A%20hist%-
C3%B3ria%20da%20TOMS,ruas%20e%20com%20baix%C3%ADssimos%20recursos.
Acesso em: 21 ago. 2022.

TOMSShoes. Mundo Das Marcas, [Online],15 jun. 2015. Disponível em: https://mundodas-
marcas.blogspot.com/2015/06/toms-shoes.html#:~:text=A%20TOMS%20SHOES%2C%20
uma%20empresa,Canad%C3%A1%2C%20Holanda%20e%20Reino%20Unido. Acesso em:
21 ago. 2022.

Empreendedorismo Social 24
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

3. POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS


Ao longo deste capítulo procuraremos estabelecer o que são as políticas sociais e quais
1 seriam os envolvimentos do governo com elas. Para uma melhor compreensão, serão
apresentados aspectos históricos que estão diretamente relacionados ao sistema de
proteção social brasileiro. Por fim, o capítulo procura estabelecer as melhores formas
pelas quais as políticas sociais podem ser ajuntadas visando serem analisadas e im-
plementadas.

3.1. O QUE SÃO POLÍTICAS SOCIAIS


Muitas pessoas, ao ouvirem o termo “política”, já ficam chateadas, com raiva e aborreci-
das. Isso acontece porque, no Brasil, ele é associado a algo negativo, por conta do vas-
to histórico de ações reprováveis feitas por pessoas com cargos políticos. No entanto,
a etimologia da palavra “política” é muito ampla, advindo do grego “politea”, que definia
tudo o que tinha relação com a polis (cidade-estado) e com a vida em sociedade, sendo
usada, atualmente, como ato de governar, administrar (AZEVEDO et al., 2018).

Dessa forma, quando as empresas estabelecem normas para alinhar objetivos, elas fa-
zem políticas organizacionais; quando o governo administra algum assunto econômico
(taxa de câmbio, taxa de juros etc.), ele está fazendo política econômica; quando execu-
ta alguma ação com intuito de preservação ambiental, o governo faz política ambiental;
já quando ele direciona esforços às questões sociais, realiza política social.

Para focarmos um pouco mais no nosso objeto de estudo, Azevedo et al. (2018) afir-
mam que política social é aquela relacionada aos direitos de bem-estar social e à pos-
sibilidade de se ter um nível mínimo de consumo para toda a população, devendo ser
transversal e contemplar a totalidade da população para que haja o desenvolvimento
da comunidade e diminuição das desigualdades sociais. Já Iamamoto (2009 apud AZE-
VEDO et al., 2018) reforça que a política social visa agir sobre a questão social que é
expressa nas desigualdades econômicas, políticas e culturais, medidas pelas dispari-
dades nas relações de gênero, raciais, regionais etc. Dessa forma, percebe-se que as
políticas sociais são aquelas que se preocupam com a diminuição das desigualdades e
melhora na qualidade de vida da sociedade, voltando seus esforços para áreas como:
educação, transporte, saúde, previdência, saneamento básico, habitação etc.

A partir destas definições, neste momento, você pode estar se perguntando: as políticas
sociais são feitas para todas as pessoas? Em teoria, a resposta para esta pergunta se-
ria um “sim”, afinal qualquer brasileiro pode usar o transporte público, o Sistema Único
de Saúde, matricular seus filhos em escolas públicas, não é mesmo? No entanto, na
prática, cada vez mais tais políticas são executadas de maneira mais direcionada (políti-
cas de atendimento ao idoso, à infância, à mulher, ao negro, entre outros) (AZEVEDO et
al., 2018), descaracterizando sua função social mais ampla (VIEIRA, 2004 apud ROSA,
[s. d.]).

Assim, de acordo com Demo (1978 apud ZAMBELLO, 2016), é difícil se definir o al-
cance das políticas sociais pela pluralidade de ações e intervenções neste campo que,
ao longo dos anos, foram transitando entre diversas áreas; no entanto, é um consenso

25
dizer que as políticas sociais são feitas por ações que buscam uma dimensão assisten-
cialista de cobertura imediata. Ou seja, as políticas sociais são ações planejadas que
possuem um propósito bem definido, quando criadas: transformar, estrategicamente, a
realidade existente pelo enfrentamento de questões sociais (AZEVEDO et al., 2018). 1

3.2. FORMAS E TIPOS DE POLÍTICAS SOCIAIS: O ENVOLVIMENTO

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DO ESTADO EM QUESTÕES SOCIAIS
Quando se trata de políticas sociais, uma pergunta muito comum de ser ouvida é se
elas são feitas apenas pelo governo. A resposta para este questionamento é que, ape-
sar de o governo ter a responsabilidade de criar políticas sociais para trazer garantias
mínimas à sociedade, elas não são exercidas exclusivamente por instituições públicas,
já que empresas privadas (como os empreendedores sociais, por exemplo) e Organi-
zações Não Governamentais (ONGs) também as executam, firmando ou não parcerias
com a iniciativa pública (AZEVEDO et al., 2018).

IMPORTANTE!
Na maioria dos países, as políticas sociais são um misto de uma política social pública e
privada (AZEVEDO et al., 2018). Essa dualidade público-privada ocorre de maneira que o
governo define quais áreas são direitos sociais, cabendo à iniciativa privada decidir de que
forma ela quer (ou não) participar destas ações de cunho social (AZEVEDO et al., 2018).

De acordo com Azevedo et al. (2018), para uma política social ser considerada gover-
namental, ela precisa ter sido criada e administrada pelo Estado, estando alinhada com
o desenvolvimento das políticas de governo, com o orçamento público, direcionamento
de verbas e tema de atuação direcionados para o bem comum do cidadão, sendo que
o ator que realiza tal administração é chamado de gestor público, que obtém recursos
por meio da cobrança de tributos (impostos, taxas e contribuições). Por outro lado, as
políticas sociais privadas buscam realizar serviços de cunho social com o menor custo
possível, contribuindo para a sociedade como um todo, mas visando também o desen-
volvimento da organização e o benefício dos proprietários, acionistas e funcionários, al-
cançado pelo atendimento das necessidades de seus clientes (AZEVEDO et al., 2018).

Empreendedorismo Social 26
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

Exemplo

1 Vimos que a administração da política social pública é feita totalmente pelo governo. No en-
tanto, a execução desta política pode ser feita por empresas privadas ou ONGs.

Um exemplo de política social pública executada 100% pelo governo são os hospitais públi-
cos, que recebem recursos governamentais para atenderem, gratuitamente, os pacientes.
Neste caso, médicos, equipamentos, medicamentos etc. são pagos e geridos totalmente pela
esfera governamental. Por outro lado, temos o transporte público como exemplo

de serviço social público executado por empresas privadas, que são contratadas (pagas)
pelo governo para disponibilizarem seus funcionários (motoristas, cobradores etc.) e seus
meios de transporte próprios (ônibus, por exemplo) para a locomoção dos cidadãos brasilei-
ros nos lugares geográficos para os quais foram contratados.

Agora, vamos focar nossa atenção para as políticas sociais públicas? Bem, o governo é
o único agente econômico que pensa e age, prioritariamente, de forma coletiva, ou seja,
que busca melhorar o bem-estar de todas as pessoas da sociedade. Família, empresa
e outros países, que são os demais agentes econômicos, de forma simplificada, agem
de maneira mais individual: a família (formada pelas pessoas físicas) busca, a princípio,
maximizar seu próprio bem-estar; a empresa visa, prioritariamente, a ampliação do seu
próprio lucro; e os outros países agem de forma a manterem suas empresas e famílias
com suas expectativas atendidas.

Este caráter intrinsecamente coletivo da esfera governamental faz com que as políti-
cas públicas sociais (de distribuição de renda, de combate à pobreza, de educação,
de saúde, habitacionais, previdenciárias etc.) tenham papel fundamental na diminuição
das desigualdades e na melhoria do bem-estar das pessoas. No entanto, a quantidade
e frequência de políticas sociais públicas dependerão do sistema político de cada país
(SENNE, 2017). Vamos entender isso melhor?

De acordo com Maigón (1998 apud SENNE, 2017), as formas com que o governo se
relaciona com a sociedade (inclusive, fazendo políticas sociais) podem ser divididas em
três: 1) liberal ou neoliberal (sistema em que as políticas sociais são definidas como
compensatórias e complementares às políticas econômicas, com base na ideia de que
o Estado é ineficiente e ineficaz, devendo ter uma menor interferência e participação
possíveis na economia; 2) neo-estruturalistas (modelo que considera as políticas so-
ciais como fortes determinantes do bem-estar social, reconhecendo o papel mais ativo e
prioritário do Estado na condução da economia, inclusive, na busca por maior equidade
social; e 3) economia social de mercado (sistema que objetiva combinar as premissas
dos dois modelos anteriores, reconhecendo que o foco ou sujeito das políticas sociais
deve ser o setor mais pobre da população, modificando a estrutura do gasto social,
tornando-o mais seletivo.

3.3. CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O SISTEMA DE


PROTEÇÃO SOCIAL BRASILEIRO

27
Quando comparado a outros países, o Brasil é uma nação relativamente nova: temos
um pouco mais de 500 anos de história, sendo apenas 200 anos como nação indepen-
dente. Por esse motivo, as políticas sociais brasileiras também têm uma história não
tão extensa, que começa a ganhar forma a partir de 1930, já que, até os anos 30 do 1
século passado, a legislação do Brasil não tratava da questão social, pois aqueles que
não conseguiam alcançar destaque econômico sobreviviam sem nenhum tipo de auxílio
governamental (DRAIBE, 1989; SANTOS, 1979 apud ZAMBELLO, 2016).

Universidade São Francisco


Com o processo de industrialização do Brasil ocorrido a partir de 1930, surgem as pri-
meiras políticas sociais relacionadas: a benefícios previdenciários (ZAMBELLO, 2016),
trabalhistas e assistenciais; à atenção, à saúde; e à educação (com a expansão dos
ensinos fundamental e médio) (DRAIBE et al., 1991 apud IPEA, [s.d.]). Neste período,
também são consolidadas as leis trabalhistas. Tais conquistas sociais ainda não eram
massificadas e havia alguns tipos de categoria profissional que recebiam mais benefí-
cios do que outras, o que demonstrava que a questão social no Brasil apenas dava os
seus primeiros passos.

Com o início do governo militar, em 1964, houve uma reestruturação da forma como o
governo brasileiro administrava o país, desde aspectos políticos a econômicos, o que
acabou por trazer mudanças consideráveis no sistema de proteção social brasileiro,
que, com o objetivo de alcançar uma abrangência nacional, foi expandido por meio de
um aparelho governamental mais centralizado (IPEA, [s.d.]), que trouxe uma consolida-
ção das instituições que planejavam as políticas sociais, como o antigo INPS (Instituto
Nacional de Previdência Social) – hoje, transformado em INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social) – e o BNH (Banco Nacional da Habitação) (ZAMBELLO, 2016).

Apesar de ter incorporado um grande contingente de beneficiários, é importante desta-


car que as políticas sociais deste período tinham um caráter autossustentável, ou seja,
eram financiadas por recursos provenientes do mundo do trabalho e os benefícios man-
tinham proporcionalidade com o tempo de serviço e contribuição (IPEA, [s.d.]). Com
isso, as políticas sociais que pudessem corrigir as desigualdades e a pobreza, por meio
de políticas assistenciais e não contributivas, eram muito frágeis, já que o Estado ainda
não tinha responsabilidades constitucionais de garantir direitos sociais básicos a todos
os cidadãos, não importando se eles participassem (ou não) do processo de produção
(IPEA, [s.d.]).

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, houve uma reversão do crescimento
econômico brasileiro, o que acabou por estrangular e quase parar o sistema de políticas
sociais (autossustentáveis) daquele período, já que as fontes de financiamento delas
enfrentavam queda drástica (por conta da ampliação do desemprego) (IPEA, [s.d.]).
Isso aconteceu exatamente em um momento em que as carências sociais foram am-
pliadas (em um cenário de queda do emprego e altíssima inflação), o que gerou pressão
dos movimentos sociais a favor da redemocratização e evidenciou o esgotamento do
sistema nacional de políticas sociais em vigor até então (IPEA, [s.d.]).

Este cenário político, econômico e social culminou no fim do governo militar e na pro-
mulgação da Constituição de 1988, que lançou as bases para uma expressiva mudança
da responsabilidade e da participação social do governo, que passou a ter que buscar

Empreendedorismo Social 28
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

objetivos tanto de equalização do acesso a oportunidades quanto de enfrentamento de


situações de pobreza, risco social e homogeneização de direitos (CASTRO; CARDOSO
JR, 2005 apud IPEA, [s.d.]).
1 Por intermédio da garantia dos direitos civis, sociais e políticos, a Constitui-
ção de 1988 buscaria construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradi-
car a pobreza e a marginalização; reduzir as desigualdades sociais e regio-
nais; e promover o bem de todos sem preconceitos ou quaisquer formas de
discriminação. Para tanto, a nova Carta combinaria as garantias de direitos
com a ampliação do acesso da população a bens e serviços públicos. (IPEA,
[s.d.], p. 28)

Percebe-se que a Constituição de 1988 trouxe um redesenho para as políticas sociais


brasileiras afastando-as daquele modelo autossustentável e aproximando-as de uma
configuração mais voltada para todas as pessoas, além de trazer uma descentralização
da administração de tais políticas, com a transferência de recursos federais para esta-
dos e municípios.

Mesmo com estas alterações, as políticas sociais, ao longo da década de 1990, ficaram
estagnadas (ZAMBELLO, 2016), principalmente, por conta das ações governamentais
em favor da redução dos gastos públicos, necessários para o controle da alta inflação e
para a superação da crise internacional que foi apresentada ao mundo no final daquela
década. Cabe destacar que, neste período, a desaceleração dos gastos sociais só não
foi maior por conta da proteção jurídica contra cortes orçamentários em áreas como:
educação, saúde, seguro-desemprego e previdência social (CASTRO et al., 2008 apud
IPEA, [s.d.]).

A partir dos anos 2000, houve uma melhora na conjuntura econômica brasileira e mun-
dial, o que permitiu que uma visão governamental mais voltada ao lado social ganhasse
voz. Com isso, são fortalecidas políticas sociais garantidoras de itens necessários à
sobrevivência substancial, com o crescimento de ações governamentais: de transfe-
rência de renda, previdenciária, de reconhecimento cultural de minorias, de proteção
social etc. (ZAMBELLO, 2016). A partir deste período, as políticas sociais começam a
ser vistas pelo governo muito mais como investimentos capazes de promover o cresci-
mento econômico, ao invés de serem um peso orçamentário obrigatório (ZAMBELLO,
2016), fazendo com que os debates políticos a respeito do tema mudassem de caráter
e permanecessem nesta direção até os dias atuais.

EXEMPLO
Como exemplo de política social sendo vista como um investimento capaz de promover cres-
cimento econômico apresenta-se, de acordo com Zambello (2016), um estudo do IPEA, de
2011, que mostra que a cada R$ 1,00 (um real) investido em educação no Brasil, há o retorno
de R$ 1,85 (um real e oitenta e cinco centavos) no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

3.4 OS 4 EIXOS DO SISTEMA BRASILEIRO DE PROTEÇÃO SOCIAL


(SBPS)

29
Você já deve ter percebido que as políticas sociais feitas no Brasil abrangem muitas áre-
as: previdência; habitação; trabalho; saúde; assistências mais focadas de acordo com
gênero, etnia e grupos identitários; transferência de renda etc. (SENNE, 2017). Para
facilitar o entendimento de toda esta gama de políticas sociais brasileiras, podemos 1
agrupar o Sistema Brasileiro de Proteção Social (SBPS) em quatro eixos: 1) trabalho; 2)
assistência social, segurança alimentar e combate à pobreza; 3) cidadania social; e 4)
infraestrutura social. Vamos conhecê-los com mais detalhes?

Universidade São Francisco


GLOSSÁRIO
O SBPS é “[...] um conjunto de políticas sociais que se originam, se desenvolvem e se agru-
pam em quatro diferentes eixos estruturantes das políticas sociais” (SENNES, 2017, p. 3).

De acordo com Senne (2017), o eixo do trabalho é formado tanto pelo emprego assa-
lariado contributivo quanto pelo trabalho socialmente útil, mas não necessariamente
assalariado. Nesse eixo, aparecem as seguintes práticas sociais do governo:
[...] política previdenciária contributiva (assalariados do setor privado, fun-
cionários públicos estatutários e militares), política previdenciária parcial e
indiretamente contributiva (segurados especiais em regime de economia
familiar rural), políticas de proteção ao trabalhador assalariado formal (abo-
no salarial e seguro desemprego), políticas de proteção ao trabalhador em
geral (intermediação de mão-de-obra, qualificação profissional e concessão
de microcrédito produtivo popular) e políticas agrária e fundiária. (SENNE,
2017, p. 03)

Já no eixo da assistência social, segurança alimentar e combate à pobreza aparecem


as seguintes práticas sociais do governo: a política nacional de assistência social (o Be-
nefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (BPC
– LOAS)
[...] para idosos e pessoas portadoras de necessidades especiais, abaixo de
certa linha monetária de pobreza, programas e ações especiais para crian-
ças e jovens em situação de risco social), ações de segurança alimentar
(merenda escolar, ações emergenciais como a distribuição de cestas bási-
cas etc.), e ações de combate direto à pobreza. (SENNE, 2017, p. 03)

O Programa Fome Zero, o Programa Bolsa Família, o Auxílio Brasil e o Auxílio Emer-
gencial são (foram) exemplos de ações diretas de combate à pobreza.

Empreendedorismo Social 30
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

GLOSSÁRIO

1 ` O BPC-LOAS é um benefício social que garante um salário-mínimo por mês ao


idoso (ou seja, quem tem 65 anos de idade ou mais) ou aqueles com deficiências
(física, mental ou sensorial) que trazem impossibilidades de uma participação na
sociedade em condições iguais às outras pessoas (MINISTÉRIO DA CIDADA-
NIA, 2023).

` O Programa Fome Zero foi um conjunto de programas públicos sociais que ti-
nham como objetivo enfrentar as causas da fome e da insegurança alimentar,
com ações que iam desde ajuda financeira (como o Bolsa Família), até a cons-
trução de cisternas no Nordeste brasileiro, abertura de restaurantes populares e
instrução sobre hábitos alimentares.

` O Programa Bolsa Família fazia parte do Programa Fome Zero e consistia na


transferência de renda (ou seja, de dinheiro vivo) para famílias que se encaixa-
vam em alguns critérios impostos pelo governo (famílias com renda per capita
abaixo de determinado valor, que tinham gestantes e/ou crianças e adolescentes
(até 17 anos), que mantivessem determinada frequência escolar).

` O Programa Auxílio Brasil substituiu o Bolsa Família e consiste em uma transfe-


rência de renda destinada a famílias com um limite máximo de renda per capita,
tendo o objetivo de garantir uma renda básica a tais pessoas, com o intuito delas
terem autonomia para superarem suas situações de vulnerabilidade social.

` O Auxílio Emergencial foi um programa de transferência de renda que ocorreu


durante alguns meses, no início da pandemia do Coronavírus, que transferiu
dinheiro para trabalhadores informais, autônomos, desempregados e Microem-
preendedores Individuais (MEIs) para que eles enfrentassem a crise econômica
causada pela pandemia.

No eixo da cidadania social aparecem as seguintes práticas do governo: política na-


cional de saúde pública (organizada a partir do Sistema Único de Saúde – SUS); e a
política nacional para a educação (SENNE, 2017).

Por fim, no eixo da infraestrutura social aparecem as seguintes práticas governamen-


tais: políticas nacionais de habitação (inclusive as ações relacionadas ao urbanismo), e
saneamento básico (inclusive aquelas voltadas para a preservação do meio ambiente)
(SENNE, 2017).

CONCLUSÃO
Neste capítulo, percebeu-se o que são as políticas sociais, como elas podem ser agru-
padas em eixos (para que sejam mais bem analisadas e implementadas), bem como
a importância da participação governamental para cuidar das questões sociais, sendo
que as políticas sociais públicas dependem, ao longo da história, tanto do sistema de

31
governo (mais intervencionista ou menos intervencionista, neste aspecto) quanto do
cenário econômico enfrentado pelo Estado, que vão determinar suas prioridades de
governo.
Figura 03. Sistema Brasileiro de Proteção Social 1

Eixo Políticas

Universidade São Francisco


Política Previdenciária Contributiva
Política Previdenciária Parcial e Indiretamente Contributiva

Trabalho Política de Proteção ao Trabalhador Assalariado

Política de Proteção ao Trabalhador em Geral


Políticas Agrária e Fundiária
Assistência
Sistema Social, Política Nacional de Assistência Social
Brasileiro Segurança
de Prote- Alimentar e Política de Segurança Alimentar
Combate à
ção Social Pobreza Política de Combate à Pobreza
(SBPS)
Política Nacional de Saúde Pública
Cidadania
Social Política Nacional para a Educação

Infraestrutura Política Nacional de Habitação


Social
Política Nacional para o Saneamento Básico

Fonte: adaptado de Senne (2017, [n.p.]).

DICAS
O documentário brasileiro “Garapa”, do diretor José Padilha, acompanha a dura realidade de
três famílias cearenses no ano de 2009. A película documenta a seca e a fome daquelas fa-
mílias, mostrando o cotidiano delas ao longo de quatro semanas. A obra, além de mostrar as
mazelas sociais que ainda afetam milhões de pessoas no Brasil, evidência a importância de
um programa público federal de erradicação da fome (através de transferência de renda dire-
ta) para uma daquelas famílias, que só tinha água com açúcar (garapa) para disfarçar a fome.

Fonte: GARAPA. Direção de José Bastos Padilha. Rio de Janeiro: Downtown Filmes, 2009.

Empreendedorismo Social 32
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

SAIBA MAIS

1 Para entender a história das políticas sociais no território brasileiro, recomenda-se a leitura
do livro “Políticas sociais: acompanhamento e análise”, elaborado pela equipe técnica do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). O material traz a evolução das políticas
sociais brasileiras desde a década de 1930 até o início do século XXI, enfatizando as respon-
sabilidades sociais que ficaram a cargo da esfera pública, a partir da Constituição de 1988.

Fonte: IPEA. Políticas sociais: acompanhamento e análise. 2. ed.

Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4135/1/bps_17_introdu-


cao.pdf. Acesso em: 30 ago. 2022.

SAIBA MAIS
Atualmente, a administração pública está bastante descentralizada. Isso pode ser visto em
diversas áreas, inclusive, aquelas relacionadas às questões sociais. Em 2017, por exemplo,
o Ministério da Educação (portanto, um órgão federal) liberou R$ 3,8 milhões para a prefeitu-
ra de Bragança Paulista/SP construir uma nova unidade escolar no município. O repasse do
recurso aconteceu por meio do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação),
com o objetivo de melhor as condições do ensino público na cidade, além de trazer emprego
e renda para ela.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Repasse de 4,6 milhões a Bra-


gança Paulista. Publicado em: 12 jun. 2017.

Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=379606. Acesso em: 02 set. 2022.

33
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2022.

35
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade UNIDADE 2

EMPRESA E SOCIEDADE:
RESPONSABILIDADE E
2
SUSTENTABILIDADE

INTRODUÇÃO
As empresas podem ser associadas a um grande poder transformador. Tal poder não
consiste apenas em criar novos produtos e serviços desejados pelos consumidores,
mas também no sentido de agir como um vetor transformador.
As organizações traduzem as metas de desenvolvimento sustentável e adotam, através
da Responsabilidade Social, práticas que transformam a sociedade onde vivemos.
O primeiro capítulo desta unidade tem como objetivo trazer conceitos relacionados à
Responsabilidade Social (RS) (tópico 1); ESG – Environmental, Social & Governance
(tópico 2); por que adotar RS (tópico 3) e meios de implementá-la (tópico 4).
No segundo capítulo da unidade você terá contato com os 17 Objetivos de Desenvol-
vimento Sustentável da ONU, entendendo de que forma os empreendedores privados
estão se moldando para atendê-los, como forma de estratégia organizacional. Além
disso, você poderá compreender como é feito o controle que indica se um país está
conseguindo (ou não) evoluir no alcance das metas da ONU, até 2030.
Por fim, a proposta do último capítulo desta unidade é estabelecer uma reflexão sobre
sustentabilidade ambiental e financeira e apontar possibilidades de se conciliar desen-
volvimento sustentável com lucratividade no âmbito empresarial.

1. RESPONSABILIDADE SOCIAL E CONCEITUAÇÃO SOBRE


ESG – ENVIRONMENTAL, SOCIAL & GOVERNANCE
Neste capítulo, os objetivos centrais estão relacionados a abordar e desenvolver impor-
tantes conceitos que serão articulados com temáticas como a Responsabilidade Social,
o ESG – Environmental, Social & Governance e, por fim, quais as motivações para se
adotar a Responsabilidade Social, destacando as formas pelas quais ela pode ser im-
plementada e praticada.

1.1. CONCEITUANDO RESPONSABILIDADE SOCIAL


Se você, estudante, parar por um instante para refletir, será possível identificar algumas
mudanças que impactaram o mundo nos últimos anos. Considerando o contexto empresa-
rial, colocam-se as organizações como atores fundamentais e responsáveis – porém não
os únicos – por tais transformações no âmbito social, cultural e econômico (DIAS, 2012).
É possível pontuar como ações transformadoras da nossa sociedade (DIAS, 2012):
a. A inovação tecnológica e seu processo altamente acelerado: no que tange a área de
informática e comunicações, o que acaba refletindo amplamente em todos os setores,
além da revolução criada no âmbito da geração de dados, informações e conhecimento
em ritmo acelerado.

37
b. A globalização, que acelera o ritmo do compartilhamento de tecnologia, tendência, entre outros.

c. O Estado, que acaba, pouco a pouco, transformando seu papel de executor e cede es-
paço para os demais atores da sociedade, executando, portanto, uma função reguladora.
2
O termo ‘responsabilidade social’ remete, de acordo com Dias (2012, p. 6), “[...] à boa
governança da organização, a uma gestão ética e sustentável e ao conjunto dos compro-

Universidade São Francisco


missos voluntários que uma organização assume para administrar seus impactos sociais,
ambientais e econômicos que produz na sociedade”. De modo geral, consiste em uma
série de ações tomadas pelas organizações que irá proporcionar não apenas ganhos
para os seus stakeholders, mas que irá gerar uma série de benefícios no âmbito social.

A Responsabilidade Social se apresenta em duas dimensões:

` Dimensão interna: esta dimensão se trata das práticas relacionadas aos traba-
lhadores. Ou seja, se refere aos investimentos direcionados a recursos humanos,
à saúde do trabalhador, sua segurança, os recursos internos da organização.
` Dimensão externa: nesta dimensão, os limites da organização são ultrapassados
e alcançam a comunidade, os interlocutores que abrangem os clientes, ONGs e
o meio ambiente. Nesse âmbito, a ação da empresa ocorre através de apoio à
comunidade, doações, entre outros.
Segundo a Fundação Nacional da Qualidade - FNQ (DIAS, 2011), a adoção da respon-
sabilidade social corporativa ocorre em cinco estágios evolutivos, conforme a figura 01.
Figura 01. Estágio de evolução da Responsabilidade Social

Estágio 1: a empresa não assume responsabilidade perante


a sociedade. Não promove comportamento ético e não age
com cidadania.

Estágio 2: a oganização reconhece seus impactos através


de processos e produtos e tenta minimizá-las através de
ações isoladas. Busca, eventualmente, promover compor-
tamento ético.

Estágio 3: a organização inicia sistematização de


avaliação de impacto de seus produtos, instalações e
processos. Passa a exercer algum tipo de liderança na
comunidade e inicia envolvimento em ações sociais.

Estágio 4: sistemizando o impacto de seus produtos,


instalações e processos, passa a demonstrar interesse na
comunidade e envolve-se, de forma frequente, no desen-
volvimento dela. Promove comportamento ético.

Estágio 5: sistemizada, a empresa passa a se antecipar às


questões públicas. Existem formas implementadas de avaliação
e melhoria da atuação da organização no exercício da cidadania
e no tratamento de suas responsabilidades públicas.

Fonte: adaptada de FNQ (2013, [n. p.]) e Tachizawa (2019, p. 57).

Empreendedorismo Social 38
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

Os estágios acima representam o comportamento organizacional exemplificado desde ati-


tudes básicas (ou na falta de atitudes éticas e voltadas ao ambiente) como em atitudes em
que a organização já implementou e sistematizou a Responsabilidade Social na cultura.
2
1.2. ESG – ENVIRONMENTAL, SOCIAL & GOVERNANCE: O PACTO
GLOBAL
O Pacto Global das Nações Unidas foi lançado nos anos 2000 (PACTO GLOBAL, 2022)
e foi uma iniciativa que convocou as empresas a se alinharem a princípios de direitos
humanos, trabalho, anticorrupção e meio ambiente.

O ESG – Environmental, Social & Governance (em português: Governança Ambiental,


Social e Corporativa) se trata de ações direcionadas que vão além de boas intenções no
mundo dos negócios. De acordo com o PwC (PWC, 2022), refere-se à criação de planos
tangíveis e práticos para alcançar resultados reais, considerando-se que o sucesso da
organização não se relaciona a apenas um objetivo, mas considera a diversidade, as mu-
danças climáticas, a inovação sustentável, entre outros princípios que, juntos, permitem
que as organizações sigam adiante e consigam capturar as melhores oportunidades.

SAIBA MAIS
Segundo o Relatório do Pacto Global em parceria com a Stiligue, as pesquisas e relatórios
sobre o tema em 2019 ainda eram mais informativos, no entanto, passaram a se intensifi-
car e tiveram alguns focos específicos, dentre os quais:

Figura 02. Sobre o que se fala no Pacto Global

Fonte: Pacto Global e Stilingue (2021, p. 18).

Na pesquisa realizada pelo Pacto Global e a Stilingue (2021), 68% dos entrevistados
apontaram ser incentivados a colocar em práticas as ações com impacto social positivo,
enquanto o aumento do interesse pelas práticas ESG foi registrado por 93% dos respon-
dentes, com destaque para a categoria ambiental (84%).

39
É relevante destacar que a sigla ESG geralmente é associada ao aspecto ambiental,
mudanças climáticas e gestão de recursos escassos, no entanto, apesar de integrar a
sigla (E=ambiental), abrange também as questões sociais e governança.
2
No que tange às questões sociais, refere-se às práticas de inclusão, contratação e re-
lacionamento com os clientes e comunidade, enquanto a governança se trata da ética
nos negócios, composição do conselho da organização (PWC, 2020).

Universidade São Francisco


Para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (BOFFO; PATA-
LANO, 2020), a sustentabilidade financeira das organizações se conecta ao processo
de considerar os aspectos ambientais, sociais e de governança. Atualmente, conside-
ra-se que a sigla ESG se transformou em uma tendência de grande importância no
mercado, visto que inúmeros países vêm adotando tais práticas.
O investimento ESG existe dentro de um espectro mais amplo de investi-
mento com base em retornos financeiros e sociais. Num lado do espectro, o
investimento financeiro puro é buscado para maximizar o valor do acionista e
do detentor da dívida através de retornos financeiros baseados em medidas
de valor financeiro absolutas ou ajustadas ao risco. Na melhor das hipóte-
ses, assume que a eficiência dos mercados de capitais efetivamente alocará
recursos para partes da economia que maximizar os benefícios e contribuir
de forma mais ampla para o desenvolvimento econômico. Do outro lado do
espectro, o investimento puramente social, como a filantropia, busca apenas
retornos sociais, de modo que os ganhos do investidor com a confirmação
de evidências de benefícios a segmentos ou toda a sociedade, em especial
no que se refere à benefícios ambientais ou sociais, inclusive no que diz
respeito aos direitos humanos e trabalhistas, igualdade de gênero. Investi-
mento social de impacto busca uma combinação de retorno social e retorno
financeiro – mas a priorização dos retornos financeiros depende do quanto
os investidores estão dispostos a comprometer um pelo outro alinhados com
seus objetivos gerais. (BOFFO; PATALANO, 2020, p. 14)

1.3. POR QUE ADOTAR RESPONSABILIDADE SOCIAL


De acordo com Machado Filho (2006), o interesse por adotar a Responsabilidade Social
vem se intensificando, no entanto, faltam pesquisas empíricas sobre o tema. O autor
aponta que, a depender do contexto, o exercício da RS pode apresentar benefícios às
organizações, sendo estes:

` Reputação corporativa: por definição, a reputação corporativa se trata da rea-


ção (positiva ou não) dos clientes, investidores e stakeholders, no geral, sobre
a empresa. É um fator determinante para a sobrevivência das organizações, e
com a intensificação das mudanças comportamentais dos consumidores e da
sociedade, o padrão ético pelos quais as organizações devem seguir, em alinha-
mento com a Responsabilidade Social se intensificou (MACHADO FILHO, 2006).
Com isso, ainda existem os fatores de credibilidade e confiança passados pela
empresa. Para Machado Filho (2006), a reputação corporativa voltada à um com-
portamento ético, quando percebida pelo seu público-alvo, integra sua marca e
seu nome, o que passa a refletir em suas avaliações.

` Atenção da mídia: os padrões comportamentais éticos também podem trazer


grande impacto no que tange a divulgação do nome da organização, uma vez

Empreendedorismo Social 40
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

que suas ações chamam atenção dos clientes e interessados, bem como da
mídia (MACHADO FILHO, 2006). Quando se destaca perante as mídias, é impor-
tante reforçar que quando atitudes antiéticas são descobertas e expostas, danos
2 irreversíveis à sua reputação podem ser auferidos.

Além dos dois pontos mencionados acima, pode-se destacar que a adoção da Respon-
sabilidade Social e práticas éticas agregam valor aos serviços e produtos de uma or-
ganização, destacando-se das empresas que não possuem tais práticas, zelando pela
comunidade e colaboradores, bem como do ambiente.

A adoção da Responsabilidade Social pode ocorrer por diversos motivos, de com-


patibilidade de crenças e valores dos donos e gestores a uma adaptação devido às
pressões oriundas do mercado ou ainda para ter uma reputação positiva (SPRINK-
LE; MAINES, 2010).

Os benefícios da implementação podem ser, inclusive, os motivos pela popularidade


do tema e da corrida por sua adoção. Tais benefícios podem ser identificados e medi-
dos. De acordo com Sprinkle e Maines (2010), tais benefícios podem ocorrer na esfera
econômica, quando as organizações recebem benefícios fiscais robustos pelas práticas
verdes ou ainda incentivos governamentais para fomentar tais práticas.

Ainda segundo Sprinkle e Maines (2010), a publicidade positiva e gratuita oriunda


de tais ações também beneficiam as empresas. Ora, publicidade e marketing pos-
suem custos e as organizações possuem consciência, no entanto, devido à crescen-
te preocupação ambiental e com causas sociais, as associações positivas acabam
sendo divulgadas com maior intensidade, por diversas vezes de forma gratuita entre
os próprios consumidores e mídias. Além disso, as boas ações e comportamentos
éticos atraem colaboradores e força trabalhadora que se sensibiliza e compartilha
dos valores éticos adotados pela empresa, reforçando o trabalho já realizado pela
empresa, além de serem comprovadamente um fator motivador dos colaboradores
(SPRINKLE; MAINES, 2010).

1.4. IMPLEMENTANDO A RESPONSABILIDADE SOCIAL


A implementação da Responsabilidade Social pode ocorrer em uma organização de
diversas formas, inclusive em busca de certificações ISO. Aqui, consideraremos o mo-
delo de Tachizawa (2019). Para o autor, o pontapé inicial para implementar a RS dentro
das organizações começa no delineamento estratégico. Observe o modelo proposto por
Tachizawa (2019, p. 81) na Figura 03.

41
Figura 03. Proposta de Modelo – Tachizawa

Universidade São Francisco


Fonte: Tachizawa (2019, p. 81).

Para o autor, o modelo – que se apresenta de forma genérica e para qualquer tipo de
negócio – parte do pressuposto que as organizações são distintas e possuem objetivos
únicos. Desse modo, existirão estratégias genéricas que são comuns no mesmo seg-
mento e estratégias específicas que irão se adaptar ao estilo de gestão adotado pela
organização, bem como aos seus valores e crenças.

Observe na figura que as variáveis ambientais e os stakeholders influenciam nas de-


cisões estratégicas e, consequentemente, nas decisões ambientais e sociais. Dessa
forma, destaca-se que a sociedade e o ambiente de negócios (micro e macroambiente)
influenciam a elaboração de objetivos da organização.

Destaca-se que a adoção das decisões ambientais é um processo que parte dos obje-
tivos iniciais da organização, portanto, faz-se necessário que uma organização em vias
de adotar a Responsabilidade Social estabeleça-a também em seus objetivos corpora-
tivos, de forma que as estratégias adotadas tanto para os objetivos genéricos quanto
específicos sejam norteados pela ética e pela Responsabilidade Social.

As ações tomadas dentro do bloco denominado “decisões ambientais e sociais” in-


tegram-se com a cadeia produtiva. Assim, destaca-se a importância de alinhamentos
estratégicos não apenas entre stakeholders e acionistas, mas também entre os demais

Empreendedorismo Social 42
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

membros da cadeia. Tais alinhamentos irão refletir na contratação de fornecedores que


se alinhem aos mesmos valores éticos, sociais e ambientais que a organização, além
de terem indicadores próprios de avaliação.
2
CONCLUSÃO
Este capítulo apresentou conceitos que nos levam a compreender a Responsabilidade
Social e as práticas de ESG e sua importância para as organizações.

Ainda se apresentou uma sugestão de modelo de adoção de RS, que parte do princípio
que é possível realizar implementações a partir do direcionamento da organização com
o estabelecimento de seus objetivos gerais, passando para os específicos e pulverizan-
do tais objetivos para os demais aspectos da organização, como por exemplo a cadeia
de abastecimento, fornecedores, entre outros.
Figura 04. Mapa conceitual

Transparência
Dimensão
Governança
Ética
interna:
Governança colaboradores,
saúde, Social Sustentabilidade
segurança e RH Financeira

Dimensão
externa: Equilíbrio entre

Ética Responsabilidade
Social
shareholders
(a comunidade,
consumidores,
Ambiental
ESG o fator
econômico,
social e
ambiental
instituições
interessadas, etc.)

Fonte: elaborada pelo autor.

SAIBA MAIS
6 Exemplos de Responsabilidade Social para empresas

A Childfund Brasil é uma organização de desenvolvimento sustentável que formulou um guia


objetivo e prático com seis dicas de como as empresas podem atuar com responsabilidade
social internamente.

É possível acessar os exemplos abaixo:

6 EXEMPLOS de Responsabilidade Social para empresas. Childfund Brasil, [Online], [s.d.].

Disponível em: https://www.childfundbrasil.org.br/blog/6-exemplos-de-responsabilida-


de-social-para-empresas/. Acesso em: 10 ago. 2022.

43
IMPORTANTE
Pacto Global Rede Brasil 2
O relatório do Pacto Global nos apresenta informações sobre o tema e sua importância, bem
como sobre seus participantes. Além disso, ao acessar o link, é possível ler informações e re-

Universidade São Francisco


ceber o relatório para leitura, com pesquisa exclusiva com empresas participantes do pacto.

Através do relatório é possível compreender um pouco mais sobre os segmentos mais ativos
nessa iniciativa, além de compreender a evolução do tema.

Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/pg/esg. Acesso em: 29 dez. 2022.

SAIBA MAIS
Conhecendo o caso da B3 e Mercado Livre

Agora que você já conhece esse importante tema, vamos conhecer um caso aplicado?

A importância de ESG dentro das organizações é estratosférica e o tema pertence à uma


grande agenda internacional de Desenvolvimento Sustentável.

Assista ao vídeo para conhecer mais sobre o caso da B3 e do Mercado Livre.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zsF9IUSIb7Q&ab_channel=Grea-


tPlacetoWorkBrasil. Acesso em: 29 dez. 2022.

2. OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ONU)


O tema central deste capítulo é abordar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentá-
vel da ONU e articular possíveis formas pelas quais os empreendedores privados têm
se mobilizado com o intuito de atendê-los em um modelo de estratégia organizacional.
Complementando o capítulo, também será indicado os meios que têm sido utilizados
como controle indicativo para saber se os países tem, ou não, avançado no alcance de
tais metas, que deverão ser desenvolvidas até 2030.

2.1. OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) DA


ONU E A AGENDA 2030
Uma das músicas mais conhecidas do mundo (talvez, a mais famosa entre todas) é
“Imagine”, de John Lennon. É uma canção com uma bela (mas, utópica) letra, que, em
um de seus trechos diz: “[...] imagine que não existam posses; eu me pergunto se você
consegue; sem necessidade de ganância ou fome; uma irmandade dos homens; imagi-
ne todas as pessoas compartilhando o mundo inteiro” (LENNON, 1971, [n.p.]).

Empreendedorismo Social 44
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

Pelo contexto, é até possível que esta música tenha servido como inspiração para que
os quase 200 países associados da Organização das Nações Unidas (ONU), em se-
tembro de 2015, lançassem uma nova política global: a Agenda 2030 para o Desenvol-
2 vimento Sustentável. Mas, o que esta Agenda 2030 trazia em relação à política global?

A Agenda 2030 traçou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para elevar


o desenvolvimento mundial e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas do glo-
bo terrestre. Sim, parece um projeto um tanto ambicioso e sonhador, mas para que algo
grande aconteça, os primeiros passos precisam ser planejados (imaginados, segundo a
música de Lennon) e executados.

Os ODS estabelecem 169 metas a serem atingidas, até 2030, em 5 grandes áreas
(conhecidas como 5 P’s): 1) Pessoas (com a erradicação da pobreza e da fome para
se garantir a dignidade e a igualdade delas); 2) Prosperidade (com a garantia de vidas
prósperas, plenas e harmonizadas com o meio ambiente); 3) Paz (com a promoção de
sociedades justas, inclusivas e pacíficas); 4) Parcerias (com a implementação do pro-
jeto da ONU por meio de sólidas parcerias globais); e 5) Planeta (com a preocupação
relacionada às questões climáticas, tendo a preservação ambiental como centro de
ação para uma vida com qualidade às futuras gerações). Assim, para o alcance destes
objetivos, governos, empresas e pessoas do mundo inteiro precisam se unir para que
haja um real desenvolvimento econômico sustentável, trazendo um mundo melhor para
todos os povos e nações.

CAIXA DE DESTAQUE - TEXTO E LINK


Os ODS foram elaborados para dar sequência aos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio
(ODM). No ano de 2000, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
com base em estudos realizados pela ONU sobre sustentabilidade, desenvolvimento so-
cioeconômico e melhora na qualidade de vida, elaborou os ODM, que seriam buscados e
apoiados por mais de 190 países, tendo até o ano de 2015 para serem alcançados. À época,
os objetivos se concentravam em áreas como: erradicação da fome e miséria, acesso à
educação básica de qualidade, igualdade de gênero, redução da mortalidade infantil, saúde
das gestantes, combate à malária, AIDS e outras doenças, sustentabilidade ambiental e es-
tabelecimento de parcerias para o desenvolvimento (ODM BRASIL, [s.d.]). Dessa forma, a
experiência de 15 anos dessa agenda global em cima dos ODM acabou por revelar uma série
de novas questões sociais que também mereciam mais atenção, que foram materializados
nos ODS com meta até 2030 para serem alcançados.

2.2. COMPREENDENDO OS 17 ODS


Os 17 ODS estipulados pela Agenda 2030 da ONU estão detalhados na figura 05:

45
Figura 05. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU

Universidade São Francisco


Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a7/Sustainable_Development_Goals.svg/640px-
Sustainable_Development_Goals.svg.png. Acesso em: 20 set. 2022.

O primeiro ODS é a erradicação da pobreza em todas as suas formas e em todos os


lugares. Certamente, você já se deparou com situações muito tristes de pessoas que
vivem na miséria no Brasil e no mundo e, para atingir esse objetivo, muitas ações serão
necessárias até 2030, envolvendo investimentos, principalmente em países em desen-
volvimento, para que haja a implementação de programas e políticas para a erradicação
da pobreza, bem como legislações sólidas para a viabilização e o apoio ao alcance
deste objetivo (ONU BRASIL, [s.d.]).

O ODS de número 2, fome zero e agricultura sustentável, visa acabar com a fome, al-
cançar a segurança alimentar (ou seja, que todas as pessoas do mundo tenham acesso
a alimentos de qualidade, nutritivos, na quantidade desejada e por um preço justo) e
promover um cultivo agrícola que preserve o meio ambiente. Para isso, é necessário
tanto o aumento da produção agrícola mundial, de forma sustentável (o que exigirá
ampliação de investimentos em infraestrutura rural, pesquisa e extensão de serviços
agrícolas, desenvolvimento de tecnologia e os bancos de genes de plantas e animais)
quanto à correção de imperfeições existentes ao comércio internacional de produtos
agrícolas (subsídios, barreiras tarifárias etc.) (ONU BRASIL, [s.d.]).

O terceiro ODS, saúde e bem-estar, pretende assegurar uma vida mais saudável, pro-
movendo bem-estar para todos. Para isso: a redução da mortalidade infantil, o extermí-
nio de epidemias, a prevenção de doenças e o acesso universal à saúde, e, inclusive, a
redução de acidentes e mortes por acidentes em estradas fazem parte desta dimensão
com a qual a ONU está preocupada, o que exigirá investimentos em várias frentes
(campanhas preventivas, pesquisa e desenvolvimento de vacinas e medicamentos, for-
mação e treinamento de profissionais da área da saúde etc.) (ONU BRASIL, [s.d.]).

A educação de qualidade também é um ODS da Agenda 2030. Mas, o que significa uma
educação de qualidade? Ela está relacionada com um aprendizado inclusivo, equitativo

Empreendedorismo Social 46
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

e com oportunidades de aprendizagem ao longo de toda a vida, para todas as pessoas.


Portanto, a manutenção dos estudantes nas escolas (com redução drástica no número
de evasão escola), uma metodologia de ensino que traga conhecimentos e habilidades
2 desejadas pelo mercado de trabalho, escolas suficientes, seguras e com infraestrutura
adequada (inclusive de acessibilidade e tecnologia), bolsas de estudo, e formação e
treinamento de professores são frentes que devem ser trabalhadas para que este ODS
seja alcançado (ONU BRASIL, [s.d.]).

O quinto ODS diz respeito à igualdade de gênero, ou seja, à igualdade de direitos e


oportunidades para homens e mulheres, bem como à eliminação da discriminação, vio-
lência e de práticas nocivas contra as mulheres. Isso só será alcançado com reformas
legais, campanhas de conscientização e empoderamento das mulheres, de todas as
idades (ONU BRASIL, [s.d.]).

EXEMPLO
Além da violência física, sexual e psicológica que muitas mulheres sofrem em todas as partes
do mundo, em diversos países há práticas nocivas contra as mulheres que são vistas como
situações socialmente comuns e aceitáveis, como, por exemplo, os casamentos forçados (ou
seja, em que pelo menos uma das partes casa obrigada, sem o seu consentimento e contra
a sua vontade). Você pode até pensar que tais situações só acontecem em países africanos
ou asiáticos, no entanto, há milhares de casamentos forçados no mundo todo, inclusive, em
locais como o Reino Unido e Estados Unidos que, em 2012, segundo Cimenti (2012), regis-
traram mais de oito mil uniões forçadas.

O ODS de número 6 visa garantir a disponibilidade e a gestão sustentável de água


potável e saneamento para todas as pessoas do mundo. Este objetivo está bastante
ligado àqueles relacionados à saúde, já que investimentos relacionados à água e ao
saneamento básico (coleta, dessalinização, eficiência no uso, reciclagem e tecnologias
de reuso) são fundamentais para prevenção de várias doenças (ONU BRASIL, [s.d.]).

A questão energética também é alvo de preocupação da ONU, que traz a energia limpa
e acessível como sétima ODS. Dessa forma, espera-se avanços consideráveis, até
2030, sobre o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço justo à energia, o que
indica a necessidade de expansão e modernização da infraestrutura energética, bem
como a importância de novas pesquisas voltadas para energias mais limpas e renová-
veis (ONU BRASIL, [s.d.]).

O trabalho decente e o crescimento econômico aparecem como ODS número 8. Isso


só será possível com um crescimento econômico inclusivo e sustentável, que busque
o pleno emprego e o trabalho digno para as pessoas. Mas, esta é uma tarefa árdua,
pois há um número enorme de desempregados no mundo, muitos, inclusive, que se
submetem a péssimas condições de trabalho para sobreviver. Dessa forma, esforços
públicos e privados no sentido de gerarem: maior produtividade, empreendedorismo,
proteção aos direitos dos trabalhadores e ampliação dos financiamentos produtivos são
fundamentais para o alcance deste ODS (ONU BRASIL, [s.d.]).

47
No mesmo sentido, aparece o ODS relacionado à indústria, inovação e infraestrutura,
que visa o desenvolvimento tecnológico para modernizar a infraestrutura e revigorar as
indústrias, de forma sustentável. Para isso acontecer, muitas ações serão importantes,
como as que envolvem o apoio e ambiente político para estímulo à pesquisa, inovação 2
e comunicação global (ONU BRASIL, [s.d.]).

Outro ODS buscado pela Agenda 2030 da ONU é a redução das desigualdades den-

Universidade São Francisco


tro dos países e entre os países. Além do fortalecimento de políticas sociais, para o
alcance deste décimo objetivo, se faz importante que países menores tenham maior
representatividade e voz nas tomadas de decisão de instituições globais, para que suas
necessidades sejam conhecidas e atendidas (ONU BRASIL, [s.d.]).

Como décimo primeiro ODS, surge a preocupação da ONU com as cidades e comuni-
dades sustentáveis, em que há a preocupação com: a moradia para todas as pessoas;
transportes públicos seguros, acessíveis e de qualidade; a preservação de patrimônios
culturais; o acesso a espaços públicos seguros, inclusivos e verdes; e a gestão de
assentamentos humanos participativos. Para que isso aconteça, é fundamental que o
crescimento das cidades seja feito de forma planejada e adaptada às mudanças climá-
ticas (ONU BRASIL, [s.d.]).

Na sequência, o consumo e produção responsáveis aparecem como ponto de interesse


da Agenda 2030, já que as reduções de desperdícios e de excessos são fundamentais
para a diminuição das desigualdades no mundo. Assim, um conjunto de leis que direcio-
nem o consumo e a produção mais conscientes (em termos ambientais) e campanhas
de conscientização voltadas para este fim precisam ser desenvolvidas e incentivadas
no mundo todo (ONU BRASIL, [s.d.]).

Rumando para a mesma direção, a ação contra a mudança global no clima também é
um ODS buscado pela ONU. Para isso, os países precisam estar dispostos a integra-
rem políticas nacionais relacionadas às questões do aquecimento global, respeitando
os acordos internacionais sobre o assunto para que as futuras gerações possam conti-
nuar a viver com qualidade no planeta Terra.

A vida na água e a vida terrestre são os ODS de números 14 e 15 e visam a conservação


e uso consciente dos oceanos, rios lagos e ecossistemas terrestres, com uma legislação
rígida e eficiente que possa combater as práticas predatórias do meio ambiente (desma-
tamento, caça ilegal, poluição, extração ilegal de recursos minerais e biológicos etc.).

Com relação ao ODS “paz, justiça e instituições eficazes”, a ONU prevê a promoção de
sociedades pacíficas, em que todos tenham acesso à justiça, alicerçados por institui-
ções eficazes. Com isso, espera-se avanços significativos em assuntos como: violên-
cia, tráfico (de armas, de pessoas e de drogas), corrupção, terrorismo e discriminação,
com a garantia das liberdades individuais e cumprimento igualitário das leis.

Por fim, quando a Agenda 2030 se refere às parcerias e meios de implementação (ODS
de número 17), ela sinaliza que o alcance de todos os ODS dependerá de parcerias glo-
bais em diversas áreas, tais como: finanças, tecnologia, capacitação, comércio, pres-
tação de contas etc. Com este último ODS, a ONU reforça que todos os seres huma-
nos merecem condições e oportunidades iguais, que devem ser construídas de forma

Empreendedorismo Social 48
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

socioambientalmente responsável para que a humanidade e o planeta Terra possam


perpetuar sua existência por muitos e muitos anos.

2 CAIXA DE DESTAQUE - TEXTO E LINK


Para saber mais sobre as 169 metas que compõem os 17 ODS, acesse o site das Nações
Unidas Brasil:

ONU BRASIL. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Disponível em: Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em: 21 set. 2022.

2.3. OS ODS NOS PLANOS DE NEGÓCIOS DAS EMPRESAS


Como já foi dito, para o alcance dos ODS, há a necessidade da participação de gover-
nos, pessoas e empresas. De acordo com estimativa da Robeco SAM (uma empresa
internacional focada em investimentos em sustentabilidade), para obter êxito no alcan-
ce dos ODS serão necessários investimentos anuais, por 15 anos, no montante entre
5 e 7 trilhões de dólares, no mundo todo (PACTO GLOBAL REDE BRASIL, 2018). Isso
é muita grana! Para você ter ideia dessa magnitude, o PIB brasileiro, no ano inteiro de
2021, foi de US$ 1,608 trilhão, o décimo terceiro maior do mundo (ALVARENGA, 2022).
Por esse motivo, é evidente que tal valor não pode ser uma responsabilidade única dos
governos, o que abre caminho para a atuação do setor privado neste processo de tran-
sição para economias focadas em princípios de desenvolvimento sustentável.

Mas, nesse momento, você pode estar se perguntando: por qual motivo, uma empre-
sa poderia estar interessada em contribuir com o alcance dos ODS? A resposta para
este questionamento é que o mundo e os consumidores vêm mudando, ao longo dos
últimos anos, trazendo ao mercado preferências às marcas que, de alguma forma, se
posicionam e assumem sua responsabilidade com a sociedade e o meio ambiente (AL-
TER, [s.d.]). Assim, para se perpetuarem no mercado e permanecerem na cabeça e no
coração dos consumidores (além de atraírem talentos e gerarem satisfação aos funcio-
nários), as empresas devem adotar os ODS como valor estratégico do negócio, o que
gerará benefícios econômicos para elas, além de ganhos sociais e ambientais para a
sociedade (ALTER, [s.d.]).

Claro que, por ser uma iniciativa recente, a implementação dos ODS às estratégias
organizacionais ainda é uma tarefa desafiadora. Grandes empresas precisam mudar a
mentalidade de suas lideranças, engajar todos os stakeholders (pessoas e empresas
interessadas, de alguma forma em um projeto, tais quais: fornecedores, funcionários,
clientes etc.) e estabelecer metas a serem alcançadas (PACTO GLOBAL REDE BRA-
SIL, 2018). Micro, pequenas e médias empresas precisam conhecer melhor o assunto
e se sentir parte importante do processo.

No entanto, mesmo com tantos obstáculos iniciais (comuns a qualquer mudança de


mindset organizacional), já é possível visualizar uma adaptação das estratégias organi-

49
zacionais de várias empresas, no sentido do alcance dos ODS. Tanto que, muitas em-
presas estão se tornando signatárias do Pacto Global da ONU, assumindo, voluntaria-
mente, o compromisso de alinhar suas estratégias de negócio aos ODS mais relevantes
para as suas atividades. 2

GLOSSÁRIO

Universidade São Francisco


O Pacto Global foi inaugurado pela ONU, no ano de 2000. Ele é um pedido de compromisso
para que as empresas alinhem suas ações a dez princípios universais em diversas áreas
(Meio Ambiente, Trabalho, Anticorrupção e Direitos Humanos), desenvolvendo estratégias e
práticas que enfrentem os desafios sociais e ambientais (PACTO GLOBAL, [s.d.]). É possível
se afirmar que o Pacto Global é a maior iniciativa mundial de sustentabilidade organizacional,
que, em 2022, dispunha de mais de 16 mil participantes, entre empresas e organizações,
que estavam distribuídos em 70 redes locais, inclusive no Brasil, que abrangiam 160 países
(PACTO GLOBAL, [s.d.]).

EXEMPLO
A MRV (maior construtora do Brasil) é signatária do Pacto Global, adotando princípios de
desenvolvimento sustentável às suas estratégias de negócio. Ela enxerga essa adoção como
investimento (e não como custo) capaz de gerar melhores negócios. Como práticas da MRV
alinhadas aos ODS, é possível citar: a inspeção dos fornecedores (para o monitoramento de
possíveis vulnerabilidades relacionadas aos direitos humanos); a revitalização de áreas pró-
ximas aos empreendimentos imobiliários em construção (o que traz um ambiente inclusivo
e socioambientalmente responsável); a diminuição do consumo de água e aumento do seu
reuso; a utilização de painéis de energia solar nos imóveis construídos; o cálculo de emissão
de gases de efeito estufa em suas operações, com a aquisição de créditos de carbono para
compensá-la etc. (WAYCARBON, 2019).

2.4 O AVANÇO NO ALCANCE DOS ODS


De acordo com informações do Pacto Global Rede Brasil, se nada for feito, o Brasil só
atingirá a meta relacionada ao ODS 7 (energia limpa e acessível), sendo que os de-
mais16 ODS necessitam superar desafios de pequena ou grande magnitude (ALTER,
[s.d.]). Mas, como o Brasil e os outros países monitoram se conseguirão cumprir as
metas estabelecidas de um ODS? Através de indicadores estatísticos desenvolvidos
pela Comissão Estatística da ONU, chamados de Índice ODS.
O Índice ODS permite que cada país avalie a situação atual de seu pro-
gresso com relação a nações congêneres (ex.: com determinado nível de
renda ou em uma região geográfica específica), às metas dos ODS e aos
“melhores” resultados possíveis dos diversos indicadores. (SACHS et al.,
2016, p. 14)

Por exemplo, no ODS 3 (saúde e bem-estar), uma das metas estabelecidas pela ONU
([s.d.], [n.p.]) é acabar, até 2030, “[...] com as epidemias de AIDS, tuberculose, malária
e doenças tropicais negligenciadas, e combater a hepatite, doenças transmitidas pela

Empreendedorismo Social 50
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

água, e outras doenças transmissíveis”. Para medir parte disso, o indicador estabeleci-
do mundialmente pela ONU é a incidência de tuberculose por 100.000 habitantes. Com
essa métrica estabelecida, o Brasil e os outros países fazem a coleta dos dados e os
2 repassam para a ONU. Só para exemplificar, a taxa de incidência de tuberculose por
100.000 habitantes, em 2019, no Brasil, estava em 36,90 (ODS BRASIL, 2022), o que
atesta que nosso país ainda não cumpriu esta meta da Agenda 2030.

EXEMPLO
Para saber mais sobre o status brasileiro no cumprimento das metas da Agenda 2030, aces-
se o Relatório dos Indicadores para os ODS, no site dos Objetivos de Desenvolvimento Sus-
tentável do Brasil:

ODS BRASIL. Relatório dos Indicadores para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Disponível em: https://odsbrasil.gov.br/relatorio/sintese. Acesso em: 21 set. 2022.

CONCLUSÃO
Neste capítulo, você entendeu como os países têm se conscientizado para buscar a
melhora na qualidade de vida dos seus habitantes e para preservarem o nosso planeta.
Essa conscientização está materializada nos 17 ODS da Agenda 2030 da ONU, que in-
dicam diversas metas, em várias áreas de âmbitos social, ambiental e econômico, sen-
do que vultuosos investimentos precisam ser realizados no mundo todo para atingi-las.
Isso precisa ser feito com esforços conjuntos dos governos e da iniciativa privada, sen-
do que as empresas que encararem isso como oportunidade de negócio, conseguirão
atender às necessidades de consumidores cada vez mais engajados nestas causas,
trazendo ganhos para si, para a sociedade à sua volta e para o meio ambiente.

51
Áreas ODS
1. Erradicação da Pobreza
2. Fome zero e agricultura sustentável 2
Pessoas 3. Saúde e bem-estar

4. Educação de qualidade

Universidade São Francisco


5. Igualdade de gênero

6. Água potável e saneamento

12. Consumo e produção responsáveis


Planeta
Objetivos de 13. Ação contra a mudança global do clima
Desenvolvimento 14. Vida na água
Sustentável (ODS)
15. Vida terrestre

7. Energia limpa e acessível


Prosperidade
8. Trabalho decente e crescimento econômico

9. Indústria, inovação e infraestrutura

10. Redução das desigualdades

11. Cidades e comunidades sustentáveis

Paz 16. Paz, justiça e instituições eficazes

Parcerias 17. Parcerias e meios de implementação

Fonte: elaborada pelo autor.

DICA
No documentário “Nações Unidas: soluções urgentes para tempos urgentes”, de 2020, o diretor
Richard Curtis mostra diversos depoimentos sobre assuntos relacionados com os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, tais quais: pandemia do Coronavírus,
pobreza, discriminação de gênero, desigualdade social, mudança climática, direitos humanos e
justiça. Personalidades como Malala Yousafzai (ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, em 2014),
Beyoncé e Julia Roberts, além de líderes da ONU, falam sobre fatos concretos relacionados a
esses assuntos, bem como a necessidade de soluções para tais problemas.
Fonte: NAÇÕES UNIDAS: SOLUÇÕES URGENTES PARA TEMPOS URGENTES. Direção de Richard Curtis.
Londres: 72 Films, 2020.

Empreendedorismo Social 52
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

SAIBA MAIS

2 Para entender melhor como o Índice de ODS é formulado e quais são as metas que geram os
indicadores dos ODS da Agenda 2030, recomenda-se a leitura do Relatório Global “Índice e
Painéis de ODS” (material em português), elaborado pela equipe técnica do Conselho de Lide-
rança da SDSN e da Bartlesmann Stiftung, grupos que pesquisam e noticiam dados relaciona-
dos ao futuro da humanidade. O material traz a posição de cada país na largada para o alcance
dos ODS, mostrando que os objetivos da Agenda 2030 necessitarão de uma agenda extensa
de ações tanto para os países desenvolvidos quanto para aqueles em desenvolvimento.

SACHS, J.; SCHMIDT-TRAUB, G.; KROLL, C.; DURAND-DELACRE, D.; TEKSOZ, K. SDG
Index and Dashboards – Global Report. New York: Bertelsmann Stiftungand Sustainable
Development Solutions Network, 2016.

Disponível em: https://www.economia.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2018/01/ODS-in-


dicadores.pdf. Acesso em: 21 set. 2022.

IMPORTANTE
A Natura possui uma linha de produtos, 100% vegano, para cuidar do corpo e do cabelo,
que utiliza matéria-prima advinda da Amazônia, cultivada de forma totalmente sustentável e
que respeita todos os princípios que regem atividades comerciais éticas e socioambiental-
mente responsáveis: a Natura Ekos. Essa linha de produtos da Natura assumiu o desafio de
desenvolver alternativas para contribuir com o desenvolvimento da região amazônica, tendo
ações relacionadas a 10 ODS da Agenda 2030. Assim, a estratégia de negócios da Natura
Ekos apresenta resultados relacionados à: erradicação de pobreza (via parceria com mais de
2.000 famílias da região, gerando trabalho e renda); fome zero e agricultura sustentável (via
modelos de produção que garantem a segurança alimentar das comunidades envolvidas);
saúde e bem-estar (via disponibilização de água tratada nas comunidades, contribuindo para
uma vida mais saudável); educação de qualidade (via oferecimento de ensino técnico, médio
e inclusão digital para mais de 600 famílias da região); igualdade de gênero (via incentivo
às lideranças femininas na Amazônia e oportunidade de capacitação, trabalho e renda para
elas); água potável e saneamento (via parceria com o governo federal que levou infraestrutu-
ra de saneamento básico e água potável para 500 famílias amazônicas); trabalho descente
e crescimento econômico (via empregos diretos e indiretos gerados); indústria, inovação e
infraestrutura (via instalação de cadeias produtivas de sustentabilidade na região); redução
das desigualdades (via geração de riquezas para as comunidades da Amazônia); e cidades
e comunidades sustentáveis (via ações de reciclagem do lixo).
Fonte: NATURAEkos e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. NATURA CAMPUS, [Online], [s.d.].

Disponível em: http://www.naturacampus.com.br/cs/naturacampus/post/2016-11/natu-


ra-ekos-desenvolvimento-sustentavel. Acesso em: 22 set. 2022.

53
3. SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E FINANCEIRA
Falar de sustentabilidade ambiental no Brasil parece algo distante, enquanto diariamen-
te nos deparamos com pessoas vivendo da coleta do lixo orgânico e inorgânico na porta 2
de residências.

Vellani e Ribeiro (2009) afirmam que no contexto dos negócios, a sustentabilidade pode

Universidade São Francisco


ter três dimensões: a econômica, a social e a ecológica/ambiental que são conhecidas
internacionalmente como Triple Bottom Line (TBL) da sustentabilidade. O conceito re-
flete sobre a necessidade de as empresas ponderarem em suas decisões estratégicas
nestas três dimensões, mantendo:

` a sustentabilidade econômica ao administrar empresas rentáveis e produtoras


de valor;

` a sustentabilidade social ao estimular espaços de sociabilidade para a comu-


nidade, possibilitando educação, lazer, cultura, e contribuindo e promovendo a
justiça social;

` sustentabilidade de cunho ecológico visando a manutenção da diversidade em


ecossistemas vivos.

Os autores indicam que as características e a sustentabilidade das comunidades são


o resultado das interações entre o meio ambiente, a economia e a sociedade. Assim,
muitas empresas interessadas no desenvolvimento sustentável podem investir no tripé
da sustentabilidade, os âmbitos econômico, social e ambiental.

O termo “sustentabilidade” é um conceito que visa basicamente suprir as necessidades


do presente sem afetar as gerações futuras.

Como exemplo: ao olhar pelas câmeras de segurança identificamos um catador de


reciclados abrindo o saco de lixo (ambiental) e comendo os restos de alimentos que
ali estavam. Após saciar sua fome (necessidade básica - econômico), levou consigo
os reciclados (meio ambiente) que estavam armazenados para a coleta seletiva de
lixo (trabalho honesto e digno). Talvez, se ele tivesse pedido uma refeição, receberia
um não. Talvez se quisesse trabalhar na formalidade, cumprindo regras, horários teria
pedido um trabalho com carteira assinada.

Nesse contexto é possível perceber que a sustentabilidade não se restringe ao meio


ambiente, ela possui apontamentos importantes sobre o meio social, político e eco-
nômico. O seu princípio pode ser aplicado a qualquer empresa, ou em uma pequena
comunidade e até o planeta inteiro.

Analisando o cenário apresentado pelos autores ressaltamos que o empreendedor deve


estar atento ao entorno da sua empresa, gerar emprego local, fazer a segurança do seu
negócio, estar comprometido e fazer investimentos em sustentabilidade ambiental e
sobreviver financeiramente.

Empreendedorismo Social 54
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

3.1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E LUCRATIVIDADE


A busca de retorno financeiro está na visão de qualquer empreendedor, ou a sensação
de achar que pode mudar o mundo, com pouco.
2
Para Ribeiro (2006, p. 210), a ideia do desenvolvimento sustentável deve ser compatí-
vel com as condições adequadas para garantir a sobrevivência desta e de futuras gera-
ções. Para que essa ideia se torne real, será necessário que, entre as alternativas que
possam favorecer as empresas, estejam os investimentos em pesquisa de novas tec-
nologias capazes de reduzir, se não eliminar, a poluição, bem como reverter os efeitos
já causados; transferência de tecnologias, essencialmente, de grandes para pequenas
empresas, de países desenvolvidos para países em desenvolvimento ou em crise, de
forma a acelerar a aplicação de mecanismos mais avançados na elaboração, aplicação
e fiscalização, inclusive de legislações ambientais; e, principalmente, a conscientização
da sociedade sobre os riscos resultantes do desrespeito ao meio ambiente.

No Brasil existem algumas leis como:

1. Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – nº 6.938 de 17/01/1981;

2. Lei dos Crimes Ambientais – nº 9.605 de 12/02/1998;

3. Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos – nº 12.365 de 02/08/2010;

4. Lei de Recursos Hídricos – nº 9.433 de 08/01/1997;

5. Lei dos Agrotóxicos. nº 9.974/2000;

6. Código Florestal Brasileiro, o primeiro, data de 1934, 1965, 1986, 2012, dentre outras
leis;

7. Lei Da Política Nacional de Saneamento Básico, Lei 11445/2007.

Nada melhor do que aprender com a prática de grandes corporações e demonstrar o


que é a Sustentabilidade, e como colocamos em prática no empreendimento social.

PARA REFLETIR
Unindo sustentabilidade e produto.

Disponível em: https://papelsemente.com.br/blog/produtos-sustentaveis-inovadores/.


Acesso em: 04 nov. 2022.

Para a Natura (empresa), a visão de Sustentabilidade em 2030, será: “o Compromisso


com a Vida”. A empresa informa que “olha para o futuro” e cria um plano de ação ime-
diato. Fazem parte do grupo, as seguintes empresas: Avon, Natura, The Body Shop e
Aesop. Essas empresas assumiram coletivamente uma meta ambiciosa a ser cumprida
em dez anos e que contem planos de ação para importantes desafios, tais como o

55
aquecimento global, a ainda profunda e persistente desigualdade social e o desapa-
recimento da biodiversidade, com destaque para o caso amazônico (NATURA, 2020).

Ressaltamos aqui que a origem da base da matéria prima dessas empresas vem da
2
“natureza”, plantio, colheita. Então preservar a “Amazônia” para ter matéria prima no
futuro e contribuir como o aquecimento global (o que talvez possa ser uma estratégia
de marketing).

Universidade São Francisco


SAIBA MAIS
O Relatório Anual Natura 2020 expressa a trajetória rumo à geração de impacto positivo,
conforme a Visão 2050 e as prioridades elencadas para a próxima década pela Visão 2030
da Natura e pelo Compromisso com a Vida de Natura &Co. Também são referências os
princípios do Pacto Global, da Organização das Nações Unidas (ONU), iniciativa que elenca
os Objetivos de Desempenho Sustentável (ODS). GRI 102-46 Alinhado ao padrão da Glo-
bal Reporting Initiative (GRI), metodologia para a comunicação da sustentabilidade adotado
desde 2001.

NATURA. Relatório Integrado Natura &Co America Latina 2021

Disponível em: https://www.natura.com.br/relatorio-anual. Acesso em: 01 out. 2022.

3.2. DESEMPENHO ECONÔMICO, AMBIENTAL E SOCIAL


No entanto, não é tão simples conciliar o desenvolvimento econômico com o desenvol-
vimento sustentável, pois, para muitas empresas, investir em treinamentos (pessoas) e
tecnologia pode gerar aumento de custos e de investimentos.

DICA
Ilha das flores.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eUEfBLRT37k. Acesso em: 01 out. 2022.

Partindo da proposta apresentada pela ONU (2022) os objetivos definidos para o De-
senvolvimento Sustentável mundial será o apelo global à ação para:

` Acabar com a pobreza;

` Proteger o meio ambiente;

` Clima;

` E garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de


prosperidade.

Empreendedorismo Social 56
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

Estes são os objetivos definidos pelas Nações Unidas para que o Brasil consiga atingir
até 2030: ressaltamos que se trata de algo que envolve fatores ligados à política públi-
ca, educação e sociedade, sendo:
2 1. Erradicação da pobreza;

2. Fome zero e agricultura sustentável;

3. Saúde e bem-estar;

4. Educação de qualidade;

5. Igualdade de gênero;

6. Água potável e saneamento;

7. Energia limpa e acessível;

8. Trabalho descente e crescimento econômico;

9. Indústria, inovação e infraestrutura;

10. Redução das desigualdades;

11. Cidades e comunidades sustentáveis;

12. Consumo e produção sustentáveis;

13. Ação contra a mudança global do clima;

14. Vida na água;

15. Vida terrestre;

16. Paz, justiça e instituições eficazes;

17. Parcerias e meios de implantação.

3.3. NORMA DE ADESÃO VOLUNTÁRIA


Qualquer empresa que queira melhorar sua atuação no mercado em termos locais/
globais pode aderir ao pacto global, basta preencher os formulários. Sugere-se que as
empresas criem indicadores que possam ser trabalhados no tocante às melhorias que
possam ser implantadas no decorrer de vários anos.

SAIBA MAIS
Cartilha busca promover a integridade no setor de Limpeza Urbana.

Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/noticia/283/cartilha-busca-promover-a-


-integridade-no-setor-de--limpeza-urbana. Acesso em: 04 out. 2022.

57
Toda empresa tem um ciclo de vida, nasce, cresce e se fortalece. Na medida que a
empresa nasce, desenvolve seu produto e seu mercado, ela vai se estabilizando e de-
senvolvendo indicadores que sinalizam onde investir e melhorar em função da gestão
de pessoas, da localização, da produção, do escoamento, da logística, do marketing e 2
das finanças e do mercado local, nacional e internacional.

De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (2022), o Programa de

Universidade São Francisco


Empreendedorismo Social (PES) promove o desenvolvimento e a implantação de me-
canismos de financiamento que fornecem soluções sustentáveis para os problemas
socioeconômicos que afetam as populações pobres e marginalizadas. O PES fornece
financiamento através de organizações parceiras locais para indivíduos e grupos que
normalmente não têm acesso a empréstimos comerciais ou de desenvolvimento sob
as condições normais de mercado. Neste programa, o Banco concede empréstimos e
subvenções a empresas privadas, sem fins de lucros e organizações locais ou regionais
que fornecem serviços financeiros, comerciais, sociais e de desenvolvimento comunitá-
rio a populações desfavorecidas. O PES oferece cerca de US$ 10 milhões em financia-
mento a cada ano para projetos em 26 países da América Latina e Caribe.

IMPORTANTE
O pacto global disponibiliza as ferramentas e os conhecimentos necessários para transfor-
mar as metas globais de sustentabilidade em estratégias de negócios.

Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/assets/docs/cartilha_pacto_global.pdf.


Acesso em: 03 out. 2022.

3.4. RELATÓRIOS DE PRESTAÇÃO DE CONTAS


Para qualquer gestor entender, a governança corporativa faz parte de qualquer proces-
so organizacional. Os temas se entrelaçam quando falamos de sustentabilidade, meio
ambiente, atuação social, governança corporativa, compromissos e o relatório anual de
prestação de contas.
De acordo com a Norma de Padronização Internacional de Contabilidade, (International
Financial Reporting Standards) (IFRS), encontra-se em desenvolvimento um plano de
trabalho para elaboração de um conjunto de normas de divulgação de informações
sobre sustentabilidade.

A intenção é que essas normas contábeis possam fornecer informações de qualidade,


e com transparência.
Outro aspecto importante tratado na normatização é que as informações possam ser com-
paráveis nas demonstrações financeiras e nas divulgações de informações de sustenta-
bilidade (econômica, financeira e ambiental) e que sejam úteis para investidores e outros
participantes dos mercados de capitais mundiais na tomada de decisões econômicas.
Mesmo que seja quase que impossível fazer comparação entre empresas de mesmo
setor, ou de setores diferentes, ou comparar por exemplo uma indústria metalúrgica
com uma instituição financeira.

Empreendedorismo Social 58
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

SAIBA MAIS

2 IFRS, Normas Internacionais de Contabilidade. Foundation.

Disponível em: https://www.ifrs.org/content/dam/ifrs/about-us/legal-and-governance/


constitution-docs/ifrs-foundation-constitution-2021.pdf. Acesso em: 05 out. 2022.

De acordo com Conselho Federal de Contabilidade (2003, p. 78) o processo de pres-


tação de contas deve contemplar um conjunto de relatórios e de documentos e in-
formações disponibilizados pelos dirigentes das entidades aos órgãos interessados
e autoridades, de forma a possibilitar a apreciação, conhecimento e julgamento das
contas e da gestão dos administradores das entidades, segundo as competências
(averiguação/fiscalização) de cada órgão e autoridade, na periodicidade estabelecida
no estatuto social ou na lei.

O artigo 70 da Constituição Federal (CF) de 1988, em seu parágrafo único, define:


[...] tem a obrigação de prestar contas: Prestará contas qualquer pessoa
física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie
ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União res-
ponda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

A não prestação de contas pode acarretar multas e à ação civil de improbidade administrativa.

É ressaltado pelo art. XXXIII, da CF/88, que:


[...] todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu in-
teresse particular, ou de interesse coletivo ou gera prazo da lei, sob pena
de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado.

SAIBA MAIS
Cartilha de prestação de contas.

Disponível em: https://www.mpse.mp.br/wp-content/uploads/2020/04/Cartilha-de-Pres-


ta%C3%A7%C3%A3o-de-Contas.pdf. Acesso em: 02 out. 2022.

59
Quadro 01. Modelos de exemplos de prestação de contas

EMPRESA NOME FONTE


AMA Ribeirão
Portal da Transparência https://amaribeirao.org.br/ 2
Preto
https://publications.iadb.org/publications/english/
Banco Relatório de Sustentabilidade
Interamericano do Banco Interamericano de document/Inter-American-Development-Bank--

Universidade São Francisco


de Desenvolvimento 2020: Anexo da Sustentabilty-Report-2020-Global-Reporting-
Desenvolvimento Iniciativa de Relatórios Globais
Initiative-Annex.pdf
DOHLER Sustentabilidade https://www.doehler.com/pt/sustentabilidade.html
GERDAU Sustentabilidade https://www2.gerdau.com.br/sustentabilidade/#
IBASE Relatórios https://ibase.br/prestacao-de-contas/relatorios/
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglcle-
findmkaj/https://static.rede.natura.net/html/sitecf/
Natura GRI
br/05_2021/relatorio_anual/Relatorio_Anual_Na-
tura_GRI_2020.pdf
Sustentabilidade / Informações
Ouro Fino https://ri.ourofino.com/default.aspx
Financeiras
Relatório Anual de Sustentabili- https://ri.qualicorp.com.br/governanca-corporativa/
Qualicorp
dade relatorio-anual-de-sustentabilidade/
https://www.pipasocial.org.br/?gclid=Cj0KCQjw-
Pipa Social Balancetes
qoibBhDUARI
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglcle-
findmkaj/https://www.santacasasp.org.br/portal/
Santa Casa Balanço Social
wp-content/uploads/2022/07/Balanco-Social-San-
ta-Casa-de-Sao-Paulo.pdf

Fonte: adaptado de pesquisas realizadas nos sites das empresas. Acesso em: 03 jan. 2023.

CONCLUSÃO
No contexto dos negócios, pensar em sustentabilidade parece algo distante nos grandes
centros onde uma camada da população vem em busca de uma condição de vida melhor.

Não é difícil encontrar pessoas dormindo em barraca ou embaixo de uma ponte, ou


morando em comunidade ou em um bairro planejado de baixo custo para atender os
menos favorecidos.

Não se pode generalizar quando se fala em menos favorecidos: a empresa fornece o


vale transporte, cesta básica, vale alimentação/refeição, auxílio creche, convênio médi-
co, odontológico, dentre outros benefícios.

Algumas empresas também fornecem alfabetização, cursos de reciclagem profissional,


treinamentos, bolsas de estudos para graduação e pós-graduação dando oportunidade
de crescimento profissional.

Um olhar aprofundado na realidade nos remete às três dimensões da sustentabilidade:


a econômica, a social e a ecológica/ambiental; esse cenário de instabilidades reflete
sobre a necessidade das empresas ponderarem em suas decisões estratégicas nestas
três dimensões pensando no desenvolvimento social e na lucratividade.

Empreendedorismo Social 60
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

Como falar em lucratividade, resultado financeiro e não menos importante a sustentabi-


lidade econômica ao gerenciar a empresa e fazer com que ela seja lucrativa e que gere
valor aos acionistas, investidores e a sociedade.
2
A empresa se torna responsável por assumir o papel do Estado na gestão da susten-
tabilidade social estimulando a educação, cultura, lazer e justiça social à comunidade.

Por meio das boas práticas de gestão, compliance faz investimentos em pesquisas para
contribuir com a sustentabilidade ecológica e manter ecossistemas vivos, clima, água,
ar e com a diversidade.

Além de a empresa pagar seus impostos e contribuições abraça uma responsabilidade


que deveria ser o papel do Estado e dos Munícipios no atendimento aos mais neces-
sitados, além de cumprir seu papel social ainda é capaz de fornecer computadores,
comprar equipamentos médico hospitalar, pagar médicos, psicólogos dentre outros pro-
fissionais para que Ongs permaneçam abertas.

61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de janeiro de 2002, que institui o Código Civil, e o art. 192 da Lei no 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, e dá
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11127.htm.
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Empreendedorismo Social 62
Empresa e Sociedade: Responsabilidade e Sustentabilidade

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MACHADO FILHO, Claudio Pinheiro. Responsabilidade Social e Governança – O Debate e as Implica-


ções. São Paulo: Cengage, 2006. E-book.

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63
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QUALICORP lança seu 1º Relatório de Sustentabilidade. Qualicorp, [S.I.], 29 jul. 2022. Disponível em: ht-
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Acesso em: 09 nov. 2022.

TACHIZAWA, T. Gestão Ambiental Responsabilidade Social Corporativa. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
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VELLANI, C. L.; RIBEIRO, M. S. Sustentabilidade e Contabilidade. Revista Contemporânea de Sustentabi-


lidade, [S. I.], vol. 6, n. 11, p. 187-206, 2009. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/contabilida-
de/article/view/2175-8069.2009v6n11p187. Acesso em: 06 dez. 2022.

Empreendedorismo Social 64
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social UNIDADE 3

PLANEJAMENTO E GESTÃO DE
NEGÓCIOS COM IMPACTO SOCIAL
3

INTRODUÇÃO
A presente unidade tem como objetivo abordar questões referentes ao planejamento e
gestão de negócios com impacto social. O primeiro capítulo, Negócios com impacto
social, destaca importantes conceitos referentes à temática do negócio de impacto,
destacando o contexto brasileiro e apontando os desafios apresentados. Por fim, é des-
tacado o modelo de negócio de impacto que pode ser desenvolvido.

O segundo capítulo, Modelo de negócios sociais e Business Model Generation, se


dedica a apresentar uma das vertentes do empreendedorismo, o empreendedorismo so-
cial. Ao longo do capítulo vocês poderão se aprofundar nas características e abordagens
do Empreendedorismo social, além de realizar uma comparação com outra estrutura, o
empreendedorismo econômico. Temas importantes serão desenvolvidos, como o Modelo
de Negócio Social e sua comparação com o plano de negócio, a Gestão do Negócio So-
cial, as diferenças entre empreendedorismo privado, responsabilidade social de organi-
zações e empreendedorismo social. Por fim, o capítulo indica alguns apontamentos sobre
o perfil do gestor de empreendimento social, além do processo de gestão de instituições
que desenvolvem atividades no campo social como negócio.

O terceiro capítulo, Planejamento e ferramentas para a gestão de projetos, será


totalmente dedicado ao estudo da concepção de projetos, todos os seus fundamentos
e aspectos centrais e, como indicação de execução, as etapas necessárias para a con-
dução de suas gestões de forma qualificada.

Por fim, o capítulo quatro, Planos de negócios para organizações sociais, procura
estabelecer os caminhos necessários para se estabelecer um plano de negócios (que
abarque aspectos financeiros, de marketing, etc.) para os denominados empreendedo-
res sociais. Neste sentido, será amplamente analisado o Marco Regulatório das Orga-
nizações da Sociedade Civil (OSC), visando estabelecer os passos corretos para que
as Organizações da Sociedade Civil possam funcionar de forma legal perante os órgãos
públicos, que sejam funcionais e que possam atingir seus objetivos com a finalidade de
contribuir para mudanças positivas para a sociedade. Então, vamos aos estudos!

1. NEGÓCIOS COM IMPACTO SOCIAL


O surgimento dos negócios de impacto – também chamados de Empreendedorismo
Social – é atribuído aos anos 1980 na Europa e nos EUA, e sua intensificação é mar-
cada pela iniciativa da sociedade civil e também das organizações (LIMEIRA, 2018).

De acordo com Limeira (2018), seu surgimento foi marcado por desafios no campo
econômico nos EUA, o que motivou os negócios a buscarem novas fontes de financia-

66
mento, apoiando-se no governo, em doações e na filantropia empresarial e teria sido
em Harvard que o termo “empreendedorismo social” surgiu.

Por outro lado, também começaram no mesmo período as discussões em torno do


3
desenvolvimento sustentável que versam tanto sobre a sustentabilidade financeira e a
geração de valor social, o que até então pareciam duas vertentes incompatíveis (PE-
TRINI; SCHERER; BACK, 2016).

Universidade São Francisco


O presente capítulo tem como objetivo abordar os conceitos envolvidos no tema de ne-
gócio de impacto, bem como o cenário brasileiro, seus desafios e o modelo de negócio
de impacto, sendo dividido, portanto, em quatro partes.

1.1. O QUE É UM NEGÓCIO DE IMPACTO SOCIAL?


Na literatura, diversos termos podem ser encontrados para trabalhar os conceitos de
negócios com algum tipo de ênfase social. Segundo Petrini, Scherer e Back (2016),
obtemos as perspectivas e nomenclaturas abaixo:

9 visão europeia – Empresa social: funciona com a complementação de serviços pú-


blicos, como por exemplo: cooperativas, focando em populações marginalizadas;
9 visão norte-americana – Negócio social: focado na base da pirâmide (BoP –
base of pyramid) (público de baixa renda) ou um negócio comercial;
9 visão dos países em desenvolvimento – Negócio inclusivo: foca na redução da
pobreza e inclusão social.
No quadro a seguir, observe, com base em Petrini, Scherer e Back (2016), a diferença
entre os conceitos abordados acima sob a perspectiva dos clientes, estrutura de lucros
e também com exemplos.
Figura 01. Nomenclaturas de negócios com impacto social

Fonte: Petrini, Scherer e Back (2016, p. 213).

Empreendedorismo Social 67
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Observe que suas diferenças versam sobre o público atingido, bem como suas
estruturas de lucros, visando ou não a distribuição de dividendos, o cliente alvo,
entre outros.
3
Além dos dois exemplos citados acima, também é possível encontrar negócios sociais
híbridos, que combinem as características mencionadas nos exemplos e também vi-
sem lucro.

1.2. NEGÓCIO COM IMPACTO SOCIAL NO BRASIL


Em um relatório sobre Negócio com Impacto e se baseando na PIPE.Social, o Sebrae apre-
senta que o país é um local recheado de oportunidades para negócios com essa ênfase.

As oportunidades do setor versam sobre três áreas: saúde, saneamento básico e edu-
cação (SEBRAE, 2019). Em 2019, os números apontavam que o país contava com uma
concentração de apenas 11% na região nordeste.

Segundo o Sebrae (2019), 76% dos negócios apontavam que contavam com in-
vestimento próprio, 43% ainda não faturavam, enquanto 34% faturavam até R$
100.000,00 por ano. Além disso, apenas 17% destes negócios adotavam uma me-
dição do impacto causado.

No último mapeamento de negócios de impacto realizado pela PIPE.Social, o cenário


em 2019 se apresentava da seguinte forma (PIPE.SOCIAL, 2019, [n.p.]):

9 46% apresentavam soluções em tecnologias verdes;

9 62% se concentravam no Sudeste;

9 66% dos fundadores eram homens;

9 a presença de mulheres é mais intensa em empresas de impacto em cidadania


(36%) e educação (37%);

9 no uso tecnológico, 27% reportam o uso de Big Data, 26% de Internet das Coi-
sas e 20% utilizam energias renováveis.

No mapeamento de 2021 (PIPELABO, 2021), em um cenário de crise gerado pela pan-


demia do Covid-19, a pesquisa mostra grandes dificuldades enfrentadas pelo setor de
impacto. No entanto, também demonstra que os negócios tomaram medidas para ex-
pandir a distribuição (adotando o online) e também para promover os produtos e servi-
ços e, assim, driblar a crise.

Segundo o relatório (PIPELABO, 2021), a pandemia também trouxe um grande


destaque para o ESG (Environmental, Social & Governance), o que coloca os
negócios de impacto e práticas mais sustentáveis em destaque, o que pode ser
promissor para o setor.

Em 2021, os setores com maiores impactos podem ser vistos na figura a seguir:

68
Figura 02. Mapa de impacto

Universidade São Francisco


Fonte: Pipelabo (2021, p. 18).

Um dado importante do último mapeamento é que 27% das empresas que participaram
já contavam com patentes de suas inovações (PIPELABO, 2021). Em termos de ten-
dência, a pesquisa aponta que o Brasil possui um potencial para o desenvolvimento de
tecnologias verdes, que vêm crescendo desde 2016, tanto no setor agro, florestal, no
uso de solos, no uso de energia, biocombustíveis, água, entre outros.

1.3 MODELO DE NEGÓCIO DE IMPACTO


Um modelo de negócio, também denominado como Canvas, originalmente de Oste-
rwalder e Pigneur, foi adaptado para o contexto do ecossistema empreendedor social.
Desse modo, apresenta-se com um campo exclusivo: o impacto social.

Tradicionalmente, o Modelo de Negócios Canvas é formado por 9 partes: preposições


de valor, atividades, parceiros e recursos chaves, custos, receitas, canais, relaciona-
mento com clientes e segmento de clientes. A partir dele, diversos autores realizaram
sugestões para a criação de um modelo que direciona o foco no âmbito social. Abaixo
apresentam-se os conceitos do modelo de negócio tradicional e, em seguida, os mode-
los adaptados, observe nos quadros e figuras.
Figura 03. Modelo de negócio Canvas – Tradicional

Empreendedorismo Social 69
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Segmento de clientes Proposta de valor


Inclui os grupos de indivíduos ou organiza- Criado para o segmento de clientes definido pela organiza-
ções que a empresa deseja atingir. ção, consiste em um conjunto de produtos e serviços que
3 Pode se tratar do mercado de massa, ni- criarão valor para o cliente, e destacará da concorrência.
cho de mercado especifico, entre outros. Pode ser inovação, desempenho, personalização, entre outros.
Canais Relacionamento com clientes
Tratam-se dos canais diversos que auxi- Trata-se da forma que a organização estabelece com os clientes,
liarão no alcance entre a organização e o podendo se apresentar como: conquista, retenção e ampliação.
cliente: canais de distribuição, comunica- As interações podem se basear em diversas estratégias, dentre
ção e vendas. elas: assistência pessoal (com contato pessoal), self-service
Trata-se das lojas próprias, atacado, (sem contato pessoal com o cliente), serviços automatizados,
venda online, entre outros. entre outros.

Fontes de receita Recursos principais


Corresponde às formas em que a orga- Referem-se aos recursos físicos, humanos, intelectuais e
nização obterá receita, a partir do que financeiros.
foi estabelecido nos demais campos do Recursos físicos são relacionados às estruturas prediais,
modelo de negócio. Pode ser através de máquinas, redes de distribuição, etc.
compras únicas ou recorrentes, oriundas Recursos humanos e intelectuais são cruciais para dar
de pós-venda, entre outros. Ainda é possí- suporte ao modelo, além de gerar conhecimento e inovação.
vel estabelecer assinaturas (como Netflix e Do lado intelectual, são os registros e patentes, enquanto
Spotify), licenciamento, entre outros. humanos são relacionados aos profissionais.
Atividades-chaves Estrutura de custos
Relacionam-se às atividades principais Referem-se aos custos que as operações envolvem, por
para executar os processos da empresa exemplo: custos fixos e variáveis. Uma empresa pode ser
com sucesso. Por exemplo: produção, direcionada pelos custos – tentando minimizá-los ao máximo,
distribuição, finanças, entre outros. ou direcionada pelo valor entregue ao consumidor.
Parcerias principais
Tratam-se das alianças estratégicas para alcançar os objetivos da organização e entregar a proposta de
valor. Ocorrem, por exemplo, através do desenvolvimento de bons fornecedores e do fortalecimento da
relação fornecedor-empresa.

Figura 04. Modelo de negócio social proposto por Sparviero (2019)

70
3

Universidade São Francisco


Os custos ambientais e sociais se tratam dos impactos negativos possíveis a serem
originados do negócio, enquanto os benefícios ambientais e sociais consistem no agru-
pamento de aspectos positivos que o modelo de negócio trará para a sociedade (SPAR-
VIERO, 2019).

O autor também sugere que a modelagem de negócio também se apresente com vari-
áveis relacionadas à missão, visão e valores, além de trazer a proposta de valor social
agregada ao modelo.

Deste modo, para ilustrar este modelo com impacto imagine uma empresa que atua
neste modelo. Os benefícios que tal organização pode oferecer à comunidade ou pú-
blico-alvo podem se referir tanto ao aspecto social quanto ambiental. Tomemos como
exemplo a empresa Good Truck. Segundo o site institucional Good Truck (2022), a
empresa já alimentou 157.000 pessoas e possui 1.500 voluntários, doando mais de
360 toneladas de alimentos. Destaca-se que os benefícios oferecidos pela organização
consistem em diminuir a pobreza e a fome, que são parte dos Objetivos de Desenvol-
vimento Sustentável.

Como custos poderíamos apontar possíveis impactos negativos que a organização


possa ter, por exemplo: uso intenso de plástico nas marmitas, o que gera um grande
volume de lixo.

1.4 DESAFIOS DO NEGÓCIO COM IMPACTO SOCIAL

Empreendedorismo Social 71
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

De acordo com Sparviero (2019), a tentativa de criar valores sociais e ambientais atra-
vés dos negócios apresenta diversos desafios no âmbito estratégico, de governança e
de legitimidade. A iniciar pela estratégia, uma vez que o desafio é permanecer no mer-
3 cado e ainda assim equilibrar demais objetivos e missão. No âmbito da estratégia de
preços, desafia-se as organizações a pensarem em preços competitivos, que cubram
os custos operacionais e que ainda possam alcançar o mercado-alvo, equilibrando o
aspecto social.

SAIBA MAIS
A iniciativa PIPE.Social, plataforma que trata do Programa Pesquisa Inovativa Em Pequenas
Empresas com ênfase em impacto social, realizou uma pesquisa (PIPESOCIAL, 2020) du-
rante a crise gerada pelo Covid-19. Segundo os entrevistados, os maiores desafios foram,
de fato, comercializar seus produtos e serviços, seguido pela produção dos produtos, rece-
bimento das contas dos clientes, realizar os pagamentos de salários e contas e, por último,
pagar os fornecedores.

Oliveira (2004) destaca que os desafios enfrentados pelos negócios de impacto


versam sobre:

9 a criação de capital social, visto que ainda há um comportamento individualista


e focado nos próprios ganhos. Investimentos podem encontrar barreiras ao se
depararem com menos retorno que um negócio tradicional;

9 o empoderamento do sujeito afetado pelo negócio, de modo que ele se desen-


volva e comece a atuar na sociedade, com seu caminho fortalecido e com novas
possibilidades.

Além disso, existem possibilidades de resgate de autoestima dos participantes de um


negócio com essa ênfase, além da geração de novos valores, inovação, cooperação,
dinamismo e resultados de impacto (OLIVEIRA, 2004).

Em um relatório sobre o tema, o Sebrae (2019) complementa que, além da captação de


recursos, estima-se que um grande desafio no âmbito do impacto social é, de fato, im-
plementar métricas que mensurem o impacto gerado pelo negócio e que seja possível
apontar os efeitos dos negócios de impacto na sociedade.

CONCLUSÃO
Em suma, este capítulo apresentou os conceitos de negócio de impacto encontrados na
literatura, abordando algumas diferenças entre nomenclaturas similares.

Nota-se que o mapa de negócios de impacto no Brasil ainda está em fase de crescimen-
to, e, como consequência, ainda há espaço para desenvolvimento. É possível notar um
grande foco na utilização de tecnologia e tecnologias verdes, além de um foco expres-
sivo de negócios de impacto na região sudeste do país.
Figura 05. Negócio de impacto

72
Modelo de negócio
Conceito
04 Divide-se, além das 9 partes
01 Focam em resolver tradicionais do Canvas, em
problemas ligados à pobreza
(educação, saneamento, mais duas: custos e
beneficios ambientais e
habitação)
Negócio de sociais 3
02 Foco Impacto
Indivíduos de baixa renda, Desafios
preferencialmente 05 • Criação do capital social;

Universidade São Francisco


• Estratégia de preços
• Empoderamento do sujeito
03 Aspectos econômicos afetado pelo negócio
Pode visar lucros ou não No Brasil
06 •• 46 % visa soluções em
tecnologias verdes;
• 62% se concentra no Sudeste
• 66% dis fundadores sao
homens
• Foca na educação, saúde e
sanemaneto básico

SAIBA MAIS
TED TALK:
Os cinco passos para criar um modelo de negócio replicável | Guilherme Oliveira.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Mt7JfqYeWYU. Acesso em: 14 fev. 2023.


O Ted Talk apresentado por Guilherme Oliveira.

SAIBA MAIS
Muhammad Yunus: uma oportunidade para os pobres
Muhammad Yunus é responsável pela criação de um banco – chamado de Grameen Bank
– que oferece microcrédito para a população pobre não atingida pelos serviços bancários
tradicionais. Foi destaque em sua atuação, devido ao sucesso de suas operações bancárias,
o que conferiu à Yunus o Nobel da Paz.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Md12zaRCCnA. Acesso em: 14 fev. 2023.

SAIBA MAIS
O texto complementar se trata de uma pesquisa realizada pela PIPE.Social em 2019 e nova-
mente em 2021, que retrata o mapa dos negócios de impacto no Brasil. A leitura trará insights
sobre o cenário brasileiro, no que tange os setores mais abordados pelos negócios, assim
como as regiões, as tecnologias utilizadas e seus desafios.
Pesquisa 2019: Disponível em: https://noticiasdeimpacto.com.br/pipe-social-apresen-
ta-resultados-do-2o--mapa-de-negocios-de-impacto-social-ambiental/#:~:text=Na%20
pr%C3%A1tica%2C%20a%20Pipe.,nos%20diferentes%20est%C3%A1gios%20de%20
matura%C3%A7%-C3%A3o.

Pesquisa 2021: Disponível em: https://mapa2021.pipelabo.com/downloads/3_Mapa_


de_Impacto_Relatorio_Nacional.pdf. Acesso em: 14 fev. 2023.

Empreendedorismo Social 73
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

IMPORTANTE!

3 Um aspecto importante do negócio de impacto é que ele é, por diversas vezes, confundido
com Organizações Sem Fins Lucrativos (ONGs). No entanto, faz-se necessário destacar
que, com a evolução do modelo de negócio, atualmente é possível constatar que é uma for-
ma legal e ética de obtenção de lucro e ainda assim contribuir positivamente com a sociedade
ou determinadas causas. Discorrer sobre um caso específico.

2. MODELO DE NEGÓCIOS SOCIAIS E BUSINESS MODEL


GENERATION
A prática do Empreendedorismo não é nova nem surgiu há poucas décadas. Atitudes
empreendedoras já eram observáveis na história. Obviamente, desde então, o empre-
endedorismo evoluiu muito, mas, sem que houvesse a metodologia da prática empreen-
dedora histórica não teríamos, certamente, chegado aos tempos atuais. E, nessa trilha,
o empreendedorismo atual é base para os próximos tempos, e, assim, sucessivamente.
Então, o que queremos afirmar? Que isso é Evolução! Evolução é processo de modifi-
cação de um determinado estado para outro estágio, só que melhor.

Neste capítulo vamos tratar de uma vertente do empreendedorismo: o Empreen-


dedorismo Social.

Entenderemos o que é Empreendedorismo Social, suas características e abordagens,


e sua comparação com o empreendedorismo econômico.

O modelo de Negócio Social e sua estrutura é tratado em seguida, incluindo sua com-
paração com plano de negócio.

Apresenta-se o Business Model Generation (BMG) e a ferramenta Business Model Can-


vas, que estrutura, basicamente, três grupos de áreas de análise. Servem tanto novos
empreendimentos, incluindo o social, como organizações em já existem.

Por fim, trata-se da Gestão do Negócio Social. Poder-se-á verificar as diferenças bá-
sicas entre empreendedorismo privado, a responsabilidade social de organizações e o
empreendedorismo social. O perfil do gestor de empreendimento social também será
abordado. E, também, o fluxo do processo de gestão de organizações que atuam no
âmbito social como negócio.

74
Figura 06. O Empreendedor e a Cooperação

Universidade São Francisco


Fonte: 123RF.

2.1. O QUE É EMPREENDEDORISMO SOCIAL


Antes de sabermos um pouco mais sobre o significado de Empreendedorismo Social,
vamos tratar do Empreendedorismo Econômico.

¾ Empreendedorismo Econômico

Empreender não é apenas criar um negócio que gera dividendos ou lucros aos seus
fundadores. Empreender é tomar um conjunto de atitudes, ter ideias, inovar, tomar deci-
sões, que trazem contribuições e benefícios aos indivíduos e/ou grupos de pessoas ao
adquirirem seus bens e serviços.
Figura 07. Ideias conjuntas, benefícios coletivos

Fonte: 123RF.

Empreendedorismo Social 75
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Então, se não é tão simples assim ser empreendedor, qual o perfil esperado? O SE-
BRAE, uma destacada entidade especializada em estudos, pesquisas, consultorias e
cursos a micro e pequenos empresários, destaca alguns requisitos do candidato a em-
3 preendedor: visão de futuro; coragem para assumir riscos calculados; responsabilidade
sobre o negócio e pessoas; facilidade de comunicação e expressão; capacidade de
liderança; habilidades de lidar com equipes de trabalho; ser excelente ouvinte; com-
petência em planejamento e organização; [se possível] criatividade, inovação; ter pre-
disposição, indo em busca de informações, soluções, ideias, visando melhoria ao seu
próprio negócio; persistência; disciplina. Sim, não é nada simples. Caberiam aqui mais
substantivos e adjetivos ao perfil do empreendedor.

Mas, duas coisas são evidentes: a primeira é que nada garante o sucesso ou o êxito
de organização própria – depende de muitas variáveis que não estão sob o controle do
empreendedor, como economia da localidade/região/estado/país, clima, políticas públi-
cas e governamentais, aspectos socioculturais, tecnologia acessível, movimentos dos
concorrentes, entre outras; e, segundo, que é fundamental, portanto, indispensável, a
capacidade de gestão do empreendedor.

Em qualquer empreendimento, seja das áreas da saúde, sociais, humanas ou exatas,


a gestão competente é a que enxerga, analisa, decide - pensa o negócio o tempo todo
-, logo, mesmo que o futuro empreendedor não domine aspectos técnicos de gestão,
recomenda-se que ele se apoie em instituições especializadas voltadas para empreen-
dimentos; profissionais de consultorias especializadas em novos negócios e gestão das
que já existem; universidades; e tudo o que for possível para aprender, saber, conhecer,
acompanhar de perto o seu negócio.

SAIBA MAIS
É de Joseph Schumpeter a frase que o empreendedorismo é o agente de destruição cria-
tiva, que é o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista.
Empreendedorismo provoca a destruição criativa?! Assista a esse vídeo – um mapa mental
- para conhecer um pouco dos importantes dos pensamentos de Schumpeter (economista,
1883-1950) sobre economia, inovação tecnológica, destruição criativa, desenvolvimento eco-
nômico e empreendedorismo.

“Quem foi Schumpeter? Entenda suas contribuições para Economia nesse Mapa Mental”.
Disponível em: https://youtu.be/x5qO0sFAtcU.

Se você deseja um vídeo de animação mais curto sobre Schumpeter e Empreendedorismo,


assista a esse vídeo com um exemplo. “Joseph Schumpeter - Inovação e empreendedoris-
mo”. Disponível em: https://youtu.be/hD238op0Q9A.

Tem um bom texto do site InfoMoney, especializado em análises econômicas e negócios


tratando, também, de Schumpeter: “Schumpeter: inovação, destruição criadora e desenvolvi-
mento”. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/colunistas/terraco-economico/schum-
peter-inovacao-destruicao-criadora-e-desenvolvimento/. Acesso em: 14 fev. 2023.

76
¾ Empreendedorismo Social

Estabelecer um conceito único para empreendedorismo não é tão simples. Pode-se


dizer que se trata de uma tarefa multifacetada, uma vez que o empreendedor tem no
3
seu caráter características bem particulares de percepção da realidade em seu entorno,
como comportamentais, perfil e de atitudes.

Universidade São Francisco


Os termos Empreendedor Social e Empreendedorismo Social, de acordo com Dorne-
las (2001, p. 26) apud Silva, Mota, Borges, Couto e Silveira (2012, p. 105), “[...] são
traduções de termos originários da língua francesa Social Entrepreneur e Social Entre-
preneurship”. Começaram a ser utilizados em inglês entre as décadas de 1960 e 1970.
Ainda de acordo com Silva et al. (2012, p. 105), “o termo foi de fato distribuído durante
as décadas de 1980 e 1990 por Bill Drayton, o fundador da Ashoka Empreendedores
Sociais, e por Charles Leadbeater, escritor inglês”.

SAIBA MAIS
Conheça a Ashoka Empreendedores Sociais.

Disponível em: https://www.ashoka.org/en-nrd/who-we-are. Acesso em: 14 fev. 2023.

O empreendedorismo social surge como alternativa de olhar para o empreendedorismo.


Justamente por causa das características pessoais de cada indivíduo empreendedor.

Associa-se o empreendedorismo social a caridade, assistencialismo, voluntariado, mas,


o que é comum dentre essas práticas é a conscientização da necessidade de solucionar
ou minimizar um problema social pela criação de valor ao negócio em si e aos que dele
participam ou desfrutam.

Vejamos um quadro-resumo sobre algumas formas internacionais de conceitos de em-


preendedorismo social:
Quadro 01. Formas internacionais de conceitos de empreendedorismo social

INSTITUIÇÃO INTERNACIONAL CONCEITO


“É alguém que trabalha de uma forma empreendedora, para um
benefício público ou social, em vez de ter por objetivo a maximização
School for Social Entrepreneur- do lucro. Os empreendedores sociais podem trabalhar em negócios
ship (Reino Unido) éticos, organizações públicas ou privadas, em voluntários ou no setor
comunitário. Os empreendedores sociais nunca dizem “não pode ser
feito”. (MANUAL, 2012, p.14)
“Um empreendedor social é inovador, e possui características dos em-
Canadian Center for Social Entre- presários tradicionais como a visão, a criatividade e a determinação, as
preneurship (Canadá) quais aplicam e focam na inovação social. São líderes que trabalham
em todos os tipos de organizações.” (MANUAL, 2012, p.14)

Empreendedorismo Social 77
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

“Os empreendedores sociais são agentes de mudança da sociedade


mediante:
i) a criação de ideias conducentes à resolução de problemas sociais,
3 pela combinação de práticas e conhecimentos de inovação, criando
assim procedimentos e serviços;
ii) o estabelecimento de parcerias e meios de autossustentabilidade
Schwab Foundation for Social dos projetos;
Entrepreneurship (Suíça)
iii) a transformação das comunidades através de associações estra-
tégicas;
iv) a utilização de abordagens baseadas no mercado para resolução
dos problemas sociais;
v) a identificação de novos mercados e oportunidades para iniciar
uma missão social.” (MANUAL, 2012, p.14)
“Empreendedores sociais são executivos do setor de negócios sem
fins lucrativos que prestam maior atenção às forças do mercado sem
Institute for Social Entrepreneurs perder de vista a sua missão social, e são orientados por um duplo
(EUA) propósito: empreender programas que funcionem e que estejam
disponíveis para as pessoas, tornando-as menos dependentes do
governo e da caridade.” (MANUAL, 2012, p.14-15)
“Os empreendedores sociais são pessoas visionárias, criativas,
pragmáticos e com capacidade para promover mudanças sociais
ASHOKA (EUA) significativas e sistémicas. São indivíduos que apontam tendências e
apresentam soluções inovadoras para problemas sociais e ambien-
tais.” (MANUAL, 2012, p.15)
“Os empreendimentos sem fins lucrativos são o reconhecimento da
Erwing Marion Kauffman Founda- oportunidade de cumprir uma missão para criar, de forma sustentada,
tion (EUA) valor social, sem se apoiar exclusivamente nos recursos.” (MANUAL,
2012, p.15)

Fonte: adaptado de Manual Empreendedorismo Social (2012, p. 14-15).

Tem muita diferença entre o empreendedorismo econômico ou privado e o empreende-


dorismo social? Sim, há diferenças. O empreendedorismo privado tem focos no mer-
cado, no desenvolvimento das organizações, na inovação e no lucro; geralmente as
ações são concentradas no indivíduo. Já o empreendedorismo social é coletivo, que,
com o envolvimento, a integração e o desenvolvimento ativo da comunidade onde está
inserido, o intuito é solucionar carências sociais.

Obtém-se lucro com o empreendedorismo social? Sim, mas a riqueza pessoal do funda-
dor não é o foco. Num olhar ampliado, o empreendedorismo social pode requerer inves-
timentos sociais e comerciais, os quais devem produzir retorno lucrativo aos investido-
res, mesmo tendo objetivos sociais. Há, também, as atividades sociais corporativas não
lucrativas. Ou, ainda, as híbridas, com as duas vertentes (lucrativas e não lucrativas) no
mesmo negócio. Em qualquer das ênfases de negócio social o enfoque é a inovação
invés de replicação de negócios já existentes.

Vejamos a seguir as dez (10) características dos empreendedores sociais:

78
Quadro 02. As 10 características dos empreendedores sociais – Os 10 ‘Ds’

OS 10 DS CARACTERÍSTICAS
Os empreendedores sociais conseguem visionar o que o futuro pode trazer, não apenas
Dream
aos próprios (o que sucede com os empreendedores privados), mas às organizações e 3
(Sonhadores)
à própria sociedade onde estão envolvidos.
Decisiveness Os empreendedores sociais são por natureza indivíduos que rapidamente tomam

Universidade São Francisco


(Decididos) decisões.
Qualquer plano de ação que vise alcançar o objetivo a que o empreendedor se propõe
Doers (Ativos) é decidido e implementado de forma rápida, mesmo que ele requeira ajustes de modo a
adaptar-se às necessidades específicas da comunidade ou sociedade onde se insere.
Determination Os empreendedores sociais são muito responsáveis e bastante persistentes, não desis-
(Determinados) tindo perante obstáculos que à primeira vista parecem incontornáveis.
O empreendedor social trabalha incessantemente quando se propõe avançar com um
Dedication
novo projeto ou negócio, mesmo que essa dedicação coloque em causa alguns relacio-
(Dedicados)
namentos pessoais, como, por exemplo, familiares.
Devotion Os projetos ou negócios em que o empreendedor social se envolve são executados por
(Devotados) ele com verdadeiro prazer, facilitando a sua “venda”, seja ela efetiva ou figurada.
O controle dos detalhes é um fator de o empreendedor social acautela de modo a maxi-
Details mizar o sucesso do seu projeto ou negócio. No caso do empreendedor privado a tónica
(Minuciosos) é colocada no controle dos detalhes para minimização dos riscos (como o empreende-
dor social), mas também para a maximização do lucro.
Destiny Os empreendedores preferem ser “donos” do seu destino a estarem dependentes de
(Destinados) outrem.
O enriquecer não consta do topo da lista das motivações de um empreendedor social.
Dollars
Embora seja um indicador do sucesso do projeto ou negócio, a minimização ou resolu-
(Dinheiro)
ção do problema social em causa é para si a recompensa prioritária.
Os empreendedores sociais partilham o controle do projeto ou do negócio com os
Distribute
demais colaboradores ou parceiros, os quais representam peças fundamentais para o
(Partilha)
seu sucesso.

Fonte: Manual Empreendedorismo Social (2012, p. 17-18).

EXEMPLO
Conheça aqui 10 empreendedores sociais internacionais.

Disponível em: https://santandernegocioseempresas.com.br/conhecimento/empre-


endedorismo/empreendedores-sociais-que-estao-mudando-o-mundo/. Acesso em:
14 fev. 2023.

No Brasil temos alguns conceitos de empreendedorismo social:

Empreendedorismo Social 79
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Quadro 03. Conceitos de empreendedorismo social brasileiros

AUTOR CONCEITO
O empreendedor social é uma das espécies dos empreendedores. [...] São
3 Leite (2002) empreendedores com uma missão social, que é sempre central e explícita.”
(OLIVEIRA, 2004, p.12)
“Os empreendedores sociais possuem características distintas dos empreen-
dedores de negócios. Eles criam valores sociais pela inovação, pela força de
Ashoka Empreendedores recursos financeiros em prol do desenvolvimento social, econômico e comu-
nitário. Alguns dos fundamentos básicos do empreendedorismo social estão
Sociais; Mackinsey e Cia.
diretamente ligados ao empreendedor social, destacando-se a sinceridade,
INC (2001) a paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal, valores centralizados, boa
vontade de planejamento, capacidade de sonhar e uma habilidade para o
improviso.” (OLIVEIRA, 2004, p.12)
“Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando um novo
paradigma. O objetivo não é mais o negócio do negócio [...] trata-se, sim, do
Melo Neto; Froes (2001) negócio social, que tem na sociedade civil o seu principal foco de atuação e
na parceria envolvendo comunidade, governo e setor privado, a sua estraté-
gia.” (OLIVEIRA, 2004, p.12)
“Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas experiên-
Rao (2002) cias organizacionais e empresariais mais para ajudar os outros do que para
ganhar dinheiro.” (OLIVEIRA, 2004, p.12)
“Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais inovadores
cujo protagonismo na área social produz desenvolvimento sustentável, quali-
Rouere; Pádua (2001)
dade de vida e mudança de paradigma de atuação em benefício de comuni-
dades menos privilegiadas.” (OLIVEIRA, 2004, p.12)
Fonte: Oliveira (2004, p. 12).

EXEMPLO
Conheça 5 exemplos de empreendedorismo social no Brasil.

Disponível em: https://meusucesso.com/artigos/5-exemplos-de-empreendedorismo-so-


cial--no-brasil-173/. Acesso em: 14 fev. 2023.

2.2. MODELO DE NEGÓCIO SOCIAL


Modelo de Negócio é sobre o que a empresa faz, a sua atividade empresarial, o seu
negócio; isto é, um documento com a ideia de criação de uma empresa, como gerará e
entregará valor para os clientes1. Plano de Negócio é uma arquitetura que contempla
o estudo prévio sobre como a empresa será ou está estruturada.

IMPORTANTE!
Esse artigo explica as diferenças entre Plano de Negócio e Modelo de Negócio, e 13 tipos e
exemplos reais de modelos de negócio.

Disponível em: Disponível em: https://neilpatel.com/br/blog/modelo-de-negocio/.

1
A metodologia mais conhecida e usada para elaborar um modelo de negócio é o Business Model Generation
(BMG) ou pela ferramenta Business Model Canvas – ver subitem 3.

80
MODELO DE NEGÓCIO PARA O EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Os negócios com impacto social objetivam geração de valor social. Os aspectos econô-
micos desse tipo de negócio são tratados como a condição necessária para assegurar 3
a viabilidade financeira.

Os negócios com impacto social – algumas publicações os tratam pela sigla NIS

Universidade São Francisco


- podem ser contextualizados num modelo híbrido de organização e gestão: as com-
petências do setor privado e os conhecimentos do Terceiro Setor, que visa resolver os
problemas sociais por meio de mecanismos de mercado.

SAIBA MAIS
Saiba mais sobre o Terceiro Setor com exemplos.

Disponível em: Disponível em: https://www.gestaoeducacional.com.br/terceiro-setor-o-


-que-e/. Acesso em: 14 fev. 2023.

Os modelos de negócios com impacto social podem ser descritos pelas seguintes formas:

01. Negócios para a base da pirâmide. São negócios que oferecem acesso a bens
e serviços para a população de baixa renda, contribuindo para a diminuição do déficit
social. Por exemplo, preços mais baixos, embalagens menores.

02. Negócios sociais. Modelo que funciona para o benefício e atendimento de


necessidades sociais – incluem: clientes, funcionários, fornecedores, investidores,
sociedade em geral. Há empresas privadas tradicionais que possuem essa vertente
em seu interior; há outras que abrem uma organização com finalidades sociais pa-
ralelamente. Por exemplo, uma atividade ou organização que direcionam esforços a
práticas assistencialistas.

03. Negócios inclusivos. São negócios que estabelecem elos entre o negócio e a po-
pulação, gerando benefício mútuo. Contempla a efetiva inserção da população de baixa
renda no processo produtivo do negócio e não somente ao consumidor. Envolvem, efe-
tivamente, pessoas de comunidades de baixa renda nos processos do negócio.
Quadro 04. Modelos de negócios com impacto social - NIS

ÊNFASE BASE DA PIRÂMIDE NEGÓCIO SOCIAL NEGÓCIO INCLUSIVO


Que solucionam problemas
ligados a pobreza (educação, Qualquer produto que inclui
Qualquer produto para
Bens ou saúde, habitação, serviços a população de baixa renda
venda direta a população
Serviços financeiros), ao meio am- no processo de produção,
de baixa renda.
biente, e aos portadores de fornecimento ou distribuição.
deficiências.
Qualquer cliente: consumidor
Exclusivamente para pes- Preferencialmente pessoas de qualquer classe social,
Clientes
soas de baixa renda. de baixa renda. ou empresas que adquirem
esses produtos.

Empreendedorismo Social 81
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Não visa lucros; as sobras


Estrutura de Visa lucros; há distribuição Visa lucros; há distribuição
financeiras são reinvestidas
Lucros de dividendos. de dividendos.
no negócio.

3 Joint-venture da Gramen Dano-


Empresa que compra
Empresa de grande porte ne: grandes empresas investem
matéria-prima de pessoas
que desenvolve um novo dinheiro e conhecimento no
de baixa renda. Os funcio-
produto para venda desti- processo de fabricação de
Exemplo nários que limpam, embalam
nado a pessoas de baixa iogurtes. O produto possui alto
e distribuem o produto são
renda. Exemplo: um suco teor de nutrientes e é vendido a
de comunidades carentes,
de baixo preço. população de baixa renda por
gerando emprego e renda.
um preço acessível.

Fonte: Petrini, Scherer e Back (2004, p. 213).

EXEMPLO
Conheça 8 exemplos práticos de empreendedorismo social.

Disponível em: https://institutolegado.org/blog/8-exemplos-praticos-de-empreendedo-


rismo-social/. Acesso em: 14 fev. 2023.

2.3. O BUSINESS MODEL GENERATION – BMG


O Business Model Generation (BMG) ou Modelo de Gerenciamento de Negócios ou
Modelo Canvas é uma metodologia empresarial que se assemelha ao plano de negócio.
Caracteriza-se pelo agrupamento de informações de modelos de novos negócios ou
já existentes como ferramenta de gerenciamento estratégico. Foi criado por Alexander
Osterwalder e Yves Pigneur.

Essa ferramenta permite que o empreendedor tenha maior controle, maior conheci-
mento sobre o negócio, saber seus pontos fortes e pontos fracos, aprimorar e otimizar
suas atividades.

O BMG foi desenvolvido como um mapa visual pré-formatado em blocos com quatro
pilares: Oferta, Clientes, Infraestrutura e Finanças. Contém as principais categorias em
vários setores do empreendimento: (1) O quê? Proposta de Valor. (2) Para Quem?
Relacionamento com Clientes; Canais; Segmentos de Clientes - (3) Como? Parcerias
Principais; Atividades Principais; Recursos Principais – (4) Quanto? Estrutura de Cus-
tos; Fontes de Receita.

SAIBA MAIS
Leia o resumo do livro Business Model Generation de Alexander Osterwalder.

Disponível em: https://analistamodelosdenegocios.com.br/business-model-generation-


-livro/. Acesso em: 14 fev. 2023.

82
Figura 08. Apresentação do Modelo de Negócio Canvas

Parceiros-chave Atividades-chave Proposta Relacionamentos Seguimento


de valor com clientes de clientes 3

Universidade São Francisco


Recurso-chave Canais de
distribuição

Estrutura de custo Linhas de receita

Fonte: 123RF.

SAIBA MAIS
Leia mais sobre o Business Model Canvas.

Disponível em: https://www.sebraepr.com.br/canvas-como-estruturar-seu-modelo-de-


-negocios/.

Disponível em: https://novonegocio.com.br/empreende/business-model-generation/.


Acesso em: 14 fev. 2023.

SAIBA MAIS
Assista a vídeos com explicações e exemplos de aplicação do Business Model Canvas.
Disponível em: https://youtu.be/OTOJ8RUy75c.
Disponível em: https://youtu.be/mSJARw1iCHA.
Disponível em: https://youtu.be/_9Fst3Os3Ds.
Disponível em: https://youtu.be/dPDrK43pqZg.
Disponível em: https://youtu.be/3zie3De4jKA.
Disponível em: https://youtu.be/gTLMz8mz4nQ. Acesso em: 14 fev. 2023.

Empreendedorismo Social 83
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

2.4. GESTÃO DE NEGÓCIO SOCIAL


As Organizações Não Governamentais (ONG) e entidades assistencialistas, que não ge-
ram lucros, não conseguem dar conta de atender às muitas e variadas demandas sociais.
3
Os negócios sociais ganharam espaço efetivos a partir da década de 1970 na estei-
ra de suprir privações e transtornos vividos por indivíduos, famílias e outros grupos
sociais, e com um diferencial: são capazes de gerar lucro. O termo empreendedor
social surgiu com Bill Drayton na década de 1980 nos Estados Unidos. No Brasil,
desde 1987, a organização Ashoka, presente em muitos países pelo planeta, é pio-
neira na criação do conceito e na caracterização do empreendedorismo social como
um campo de trabalho.

Por sua natureza econômica, os negócios sociais promovem impactos sociais, cujos
resultados são obtidos pela capacidade de gestão sobre esses negócios. Trata-se, as-
sim, da autossuficiência financeira, ou seja, obter receita, pagar os custos, promover
investimentos e contemplarem-se com resultados econômicos e financeiros. É um ne-
gócio! Ou seja, utiliza-se de mecanismos de mercado oferecendo maiores benefícios a
setores da sociedade com dificuldades sociais e estruturais, sendo um meio e não um
fim em si mesmo.

A fim de esclarecer possíveis confusões entre o empreendedorismo privado, responsa-


bilidade social empresarial e empreendedorismo social, vejamos o quadro comparativo:
Quadro 05. Empreendedorismo Privado versus responsabilidade social versus empreendedorismo social

EMPREENDEDORISMO RESPONSABILIDADES SOCIAL


EMPREENDEDORISMO SOCIAL
PRIVADO EMPRESARIAL
É individual É individual com possíveis parcerias É coletivo
Produz bens e serviços Produz bens e serviços para si e Produz bens e serviços para a comu-
para o mercado para a comunidade nidade local e global
Foco no mercado e atende a Foco na busca de soluções para os
Foco no mercado comunidade conforme sua missão problemas sociais e necessidades
empresarial da comunidade
Sua medida de desempenho é o
Sua medida de desempe- Sua medida de desempenho é o im-
retorno aos envolvidos no processo
nho é o lucro pacto social e a transformação social
junto aos stakeholders2
Visa satisfazer as neces- Visa agregar valor estratégico ao Visa resgatar pessoas da situação
sidades dos clientes e negócio e atender expectativas do de risco social e promovê-las, e a
ampliar as potencialidades mercado e a percepção da socieda- gerar capital social, inclusão e eman-
do negócio de e consumidores cipação social

Fonte: Sucupira (2015, p. 23).

O modelo de empreendedorismo requer um processo de gestão apropriado. Para tanto,


os gestores possuem características particulares:

2
STAKEHOLDERS. Conceito criado na década de 1980 pelo filósofo norte-americano Robert Edward Free-
man. Stakeholder é qualquer indivíduo ou organização que, de alguma forma, é impactado pelas ações de
uma determinada empresa. Em uma tradução livre para o português, o termo significa parte interessada. Por
exemplo, sócios, investidores, funcionários, fornecedores, clientes, sociedade em geral, parceiros.

84
Quadro 06. Perfil do empreendedor social

CONHECIMENTOS HABILIDADES COMPETÊNCIAS POSTURAS


Ter visão clara; ter Ser visionário; ter senso de
iniciativa; ser equilibrado; responsabilidade; ter senso Ser inconformado 3
Saber aproveitar ser participativo; de solidariedade; ser sensível e indignado com
as oportunidades; saber trabalhar em aos problemas sociais; ser a injustiça e a
ter competência equipe; saber negociar; persistente; ser consciente; desigualdade;

Universidade São Francisco


gerencial; ser saber pensar e agir ser competente; saber usar ser determinado;
pragmático e estrategicamente; ser forças latentes e regenerar ser engajado; ser
responsável; saber perceptivo e atento aos forças pouco usadas; saber comprometido e
trabalhar de modo detalhes; ser ágil; ser correr riscos calculados; leal; ser ético; ser
empresarial para criativo; ser crítico; ser saber integrar atores em profissional; ser
resolver problemas flexível; ser focado; ser torno dos mesmos objetivos; transparente; ser
sociais. habilidoso, ser inovador; saber interagir com diversos apaixonado pelo que
ser inteligente; ser setores da sociedade; saber faz (campo social).
objetivo. improvisar; ser líder.

Fonte: Sucupira (2015, p. 25).

Para uma gestão consistente do negócio social, há sete princípios dessa operação
apresentados por Yunus (2010) apud Sucupira (2015, p. 42):

1. O objetivo do negócio é a superação da pobreza ou de um ou mais problemas em


áreas como educação, saúde, acesso à tecnologia, meio ambiente etc., que ameaçam
as pessoas e a sociedade – e não a maximização dos lucros.

2. A empresa alcançará a sustentabilidade econômica e financeira.

3. Os investimentos recebem de volta apenas o montante investido. Não se paga ne-


nhum dividendo além do retorno do investimento inicial.

4. Quando o montante do investimento é recuperado, o lucro fica com a empresa para


cobrir expansões e melhorias.

5. A empresa será ambientalmente consciente.

6. A força de trabalho recebe salários de mercado e desfruta de condições de trabalho


que as usuais.

7. Faça-o com alegria!

O modelo de gestão de um negócio social prevê em seu processo a geração de valor.

Vejamos o fluxo que merecem atenção de seus gestores:

Empreendedorismo Social 85
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Figura 09. Fluxo do processo de geração de valor na gestão do negócio social

INPUTS OUTPUTS OUTCOMES IMPACTO


3
OU recursos OU resultados OU Resultados de Es�ma�va dos
Investidos na imediatos: são os médio e longo Resultados de
atividade: são os produtos diretos e prazo: trata-se da Médio e longo
meios pelos quais o tangíveis ob�dos mudança gerada na Prazo (outcomes),
negócio a�ngirá o por meio da vida das pessoas excetuando-se o
impacto social a�vidade, com expostas à a�vidade que teria ocorrido
pretendido. número de cliente, do negócio, como de qualquer forma,
unidade de geração de renda, mesmo sem a
produto vendidas redução da intervenção do
ou volume de vulnerabilidade ou negócio.
crédito concedido. aumento do capital
social.

Fonte: adaptado de Sucupira (2015, p. 34).

Figura 10. Negócio Social integrando pessoas, comunidades e parceiros

Fonte: 123RF.

CONCLUSÃO
Pode-se entender, em várias frentes de abordagens, do que se trata a prática do em-
preendedorismo social.

O empreendedorismo social é um negócio, uma atividade que obtém lucros, mas que
esses não são o seu objetivo principal. Seu foco está voltado para atividades centradas

86
nas pessoas e grupos sociais que necessitam de apoio e oportunidades para sua inclu-
são no mercado de trabalho e na própria comunidade que vive.

Como negócio, o empreendimento de caráter social é uma atividade cujos objetivos,


3
processos, monitoramento, estratégias, tomadas de decisões e monitoramento de de-
sempenho, são, como num empreendimento econômico privado convencional, igual-
mente tratados por mecanismos e instrumentos que o estrutura estabelecendo suas

Universidade São Francisco


diretrizes e ações tanto de investimentos como de prioridades em termos de resultados
previstos e apurados.

Assim, pode-se depreender que o empreendedorismo social é uma variante do empre-


endedorismo que contribui intensamente com as camadas sociais com menos opor-
tunidades, promovendo a essas possibilidades de inclusão e visibilidade requeridas
àqueles que, um motivo ou outro, não tiveram chances de aproveitá-las.

3. PLANEJAMENTO E FERRAMENTAS PARA GESTÃO DE


PROJETOS
Frequentemente as organizações se veem diante de decisões importantes que impli-
cam em novos desafios ou mudanças que exigem da administração estudos, pesqui-
sas, levantamentos e busca de dados de informações precisas de maneira que tenham
maior clareza assertiva.

Os projetos são estruturas que orientam as organizações a respeito de vários aspectos


que envolvem determinadas intenções, proporcionando maior amplitude de análise an-
tes de tomar a decisão desejada.

Neste capítulo, estudaremos o que são projetos, seus fundamentos, os aspectos e pas-
sos que dirigem sua gestão qualificada.

3.1. O QUE É PROJETO?


Você já deve ter ouvido ou lido sobre projetos! Vamos fazer uma reforma em casa?
Projeto! Vamos abrir uma empresa? Projeto! Vamos ampliar nossa empresa? Projeto!
Vamos inovar o nosso portfólio de produtos? Projeto! Vamos incluir atividades sociais
em nossa organização? Projeto!

Sim, os projetos estão presentes nos variados propósitos e objetivos.

Por que eles são tão requeridos? Porque antes de se transformarem em realidade, pos-
tos em prática, os projetos podem ser ajustados, alterados, reduzidos, ampliados até
serem aprovados e confirmados ou não. Sim, os projetos não são garantias e certezas,
também podem apontar objetivos e desejos que são inviáveis.

Projeto, ou Project, é um esforço concentrado temporário (tem começo, meio e fim)


empreendido para criar um resultado desejado, e, muitas vezes, exclusivo. Projetos
existem em todas as áreas da organização, de qualquer tipo e tamanho, e devem ser
gerenciados de forma consistente e eficiente.

Empreendedorismo Social 87
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Os projetos não são adotados ou utilizados ou aplicados apenas em organizações de


médio ou grande porte. Portanto, projetos podem ser grandes, complexos, como tam-
bém mais simples e menores.
3
Exemplos de projetos de pequeno porte: desenvolvimento de um programa de capa-
citação de funcionários; criação de um website; implantação de um telemarketing; de-
senvolver um programa de assistencialismo na organização. Exemplos de projetos de
grande porte: o desejo de exportar produtos; expandir a marca por meio do franquea-
mento; abrir uma nova unidade de negócio; iniciar um empreendimento organizacional
(privado, social etc.).

Camargo (2018, p.18) afirma que


[o]rganizações privadas ou públicas de grande porte que trabalham seguin-
do uma metodologia de gerenciamento de projetos formalizada, com escri-
tórios de projetos e toda uma estrutura padronizada para aprovação, plane-
jamento e realização de projetos, podem optar por organizar seus projetos
sob a forma de programas e agrupar esses programas sob portfólios. O nível
do portfólio garante que a organização alcance suas metas estratégicas. O
nível do programa permite agrupar projetos que compartilhem necessidades
semelhantes para otimização dos recursos. O nível do projeto produzirá um
resultado ou produto único e exclusivo que irá resolver um problema ou per-
seguir uma oportunidade conforme visão estratégica da organização.

3.2. FUNDAMENTOS DE PROJETOS


Na década de 1960, a disciplina Gerenciamento de Projetos passou a reconhecer o pro-
fissional de Gerente de Projetos. Assim surgiram instituições interessadas em discutir e
desenvolver as práticas de gestão de projetos.

Um dos principais institutos foi o Project Management Institute (PMI), localizado na Fi-
ladélfia, nos Estados Unidos. Com o PMI surgiu um guia chamado Guide to the Project
Management Body ok Knowledge (PMBOK) – Guia do Conjunto de Conhecimentos em
Gerenciamento de Projetos, que fornece uma visão geral sobre como os processos de
gestão interagem no desenvolvimento de projetos.

CAIXA DE DESTAQUE - TEXTO E LINK

Conheça o PMI. Disponível em: https://www.pmi.org/brasil. Acesso em: 17 jan. 2023.

Conheça o PMBOK. Disponível em: https://www.pmi.org/pmbok-guide-standards/fou-


ndational/pmbok?sc_camp=8A8BABF66EF9499DB5CCD1C1044CB211. Acesso em: 17
jan. 2023.

O PMBOK a referência padrão em gerenciamento de projetos no Brasil e no mundo.


Sua quarta versão, lançada em 2008, descreve os seus fundamentos de gerenciamento
de projetos:

88
ESCOPO
É o que será feito no projeto. Uma vez identificadas as partes interessadas no projeto,
ou seja, as áreas que serão atendidas no projeto, o escopo do projeto deve ser bem e 3
amplamente elaborado.

Entende-se por escopo de projeto todas as etapas e recursos necessários para atingir

Universidade São Francisco


os objetivos desejados no projeto, orientando sua execução.

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre o escopo do projeto no vídeo “Escopo Do Projeto: Para que serve e
Como fazer”.

Disponível em: https://youtu.be/Icqbp40SxIs. Acesso em: 17 jan. 2023.

ESTRUTURA ANALÍTICA DO PROJETO – EAP


Em inglês, Work Breakdown Structure (WBS), a estrutura analítica do projeto deve con-
ter: a organização e a confirmação do escopo do projeto; detalhamento de todas as
etapas do projeto (previstos no escopo).

O gerenciamento do projeto estima custos, prazos e recursos necessários para a exe-


cução do projeto. O EAP, então, decompõe o escopo em componentes menores e es-
pecíficos a cada parte interessada no projeto.

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a EAP no vídeo “Como Elaborar Uma Eap - Estrutura Analítica Do Pro-
jeto - Cinco Regras Básicas”.

Disponível em: https://youtu.be/WcNE8p4R0-g. Acesso em: 17 jan. 2023.

CRONOGRAMA
O cronograma de um projeto corresponde exatamente o seu significado: é planejamen-
to do tempo necessário para realizar o projeto e obter seus objetivos.

9 Inclui as a informações obtidas a partir das ferramentas previstas no projeto, a


comunicação aos gestores de áreas interessadas e afins sobre a necessidade
e a disponibilização de recursos, como os recursos serão atribuídos, o tempo
distribuído para cada processo de execução das etapas do projeto.

Empreendedorismo Social 89
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

SAIBA MAIS

3 Conheça mais sobre pensar e elaborar o cronograma do projeto no vídeo “Como Definir As
Atividades E O Cronograma De Um Projeto?”.

Disponível em: https://youtu.be/RA9jhRXtPNY. Acesso em: 17 jan. 2023.

CUSTOS
O projeto deve conter a estimativa de gastos para sua execução. Para tal, um orça-
mento deve ser detalhadamente preparado. Além dos gastos previstos com o projeto,
reservas de contingência, destinadas a riscos previstos, e as reservas gerenciais, que
visam cobrir gastos imprevisíveis, devem constar no orçamento de custos do projeto.

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a estimativa de custos de projetos no vídeo “Gestão De Custos Em
Projetos (Como Fazer)”.

Disponível em: https://youtu.be/6HcHot6pfcM. Acesso em: 17 jan. 2023.

QUALIDADE
A qualidade de um projeto é imprescindível, pois ela estabelece formas de garantir que
expectativas das partes interessadas sejam atingidas. Portanto, a qualidade de um proje-
to é planejada. A inspeção pode ser verificada à medida que a execução do projeto evolui.

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a qualidade nos projetos no vídeo “Entenda A Área De Qualidade Do
Pmbok Em Tempo Recorde”

Disponível em: https://youtu.be/LwCVnGq7bdQ. Acesso em: 17 jan. 2023.

RECURSOS
São os itens necessários para a qualidade de execução do projeto, como os materiais,
os equipamentos e as pessoas envolvidas direta e indiretamente no projeto.

90
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a área de pessoas envolvidas no projeto no vídeo “Entenda A Área De 3
Recursos Humanos Do Pmbok Em Tempo Recorde”.

Disponível em: https://youtu.be/DJ8zBWys8-g. Acesso em: 17 jan. 2023.

Universidade São Francisco


COMUNICAÇÃO
Destina-se a definir as formas e processos de comunicação que serão utilizados para
dar andamento nas providências em relação ao projeto a todas as partes interessadas.

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre como se dá se a comunicação nos projetos no vídeo “Gestão De Proje-
tos De Comunicação: Qual Sua Importância?”.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=c1_JpV2J1VM. Acesso em: 17 jan. 2023.

RISCOS
Os riscos de um projeto geram uma Estrutura Analítica dos Riscos (EAR) ou Risk Break-
down Structure (RBS), em inglês. Não confunda com a EAP, que é a Estrutura Analítica
do Projeto.

Riscos são acontecimentos inesperados, imprevisíveis ou incertos que podem afetar o


projeto de alguma forma.

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre o EAR no vídeo “Gestão De Riscos Em Projetos”.

Disponível em: https://youtu.be/6txJFlLvwpM. Acesso em: 17 jan. 2023.

AQUISIÇÕES
Ou procurement, em inglês, refere-se a tudo o que for necessário adquirir para o bom
andamento do projeto em termos de produtos, mercadorias, serviços e terceiros.

Aquisições também devem ter um processo dentro do projeto, no qual se estabelece


com clareza o que, quanto, como e quando as aquisições são necessárias e indispen-
sáveis para a qualidade do projeto.

Empreendedorismo Social 91
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Por ser uma etapa de elevada complexidade no contexto do projeto, recomenda-se a


elaboração de um Plano de Gerenciamento das Aquisições.

3 SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a etapa de aquisições no projeto no vídeo “Entenda A Área De Aquisi-
ções Do Pmbok Em Tempo Recorde”.

Disponível em: https://youtu.be/GCyXsTRzLn8. Acesso em: 17 jan. 2023.

PARTES INTERESSADAS
Partes Interessadas no projeto são todas as pessoas ligadas direta ou indireta-
mente no projeto, e afins. Essa identificação se inicia tão logo o projeto é autori-
zado a ser arquitetado.

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre as partes interessadas no projeto no vídeo “Entenda A Área De Partes
Interessadas Do Pmbok Em Tempo Recorde”.

Disponível em: https://youtu.be/-WAifpucGGQ. Acesso em: 17 jan. 2023.

3.3. FERRAMENTAS DE GESTÃO DE PROJETOS


Figura 11. Gestão de projetos e a integração no processo

Fonte: 123RF.

Em Fundamentos de Projetos (item 2) vimos os componentes específicos do PMBOK.


Agora, vamos conhecer algumas ferramentas e técnicas genéricas para o desenvolvi-
mento de projetos

92
REUNIÕES
As reuniões de planejamento e execução dos projetos devem ser produtivas de modo que
a pauta deve ser delineada com clareza e com foco. Os participantes devem ser todas 3
as pessoas ou partes interessadas e envolvidas de alguma forma no projeto em questão.

OPNIÃO ESPECIALIZADA

Universidade São Francisco


As orientações e informações de profissionais e técnicos de diversas áreas afins inter-
nas, ou, até mesmo de consultorias externas, a depender da extensão e complexidade
do projeto, devem ser requeridas. A seguir, o Quadro 07 resume as principais opiniões
especializadas previstas no PMBOK apresentadas pelo site PMO Escritório de Projetos,
por Eduardo Montes (2020, [n.p.]):
Quadro 07. Principais opiniões especializadas para os projetos

PROCESSO PRINCIPAIS USOS


Para lhe ajudar em todo processo de análise dos riscos, iniciando pela
Analisar os riscos identificação dos riscos, depois priorizando e por fim definindo como tratar os
riscos priorizados.
Para garantir ampla identificação de cada parte interessada e de seu perfil
(poder, influência etc.).
Solicita opinião e conhecimento de grupos ou pessoas que tenham treinamento
ou conhecimento especializado na área ou disciplina em questão, tais como:
Identificar as partes 9 Alta administração.
interessadas
9 Principais partes interessadas identificadas.
9 Gerentes de projetos que trabalharam em projetos da mesma área.
9 Especialistas no assunto da área de negócio ou do projeto
9 Grupos e consultores do setor.
Contratos, compras, aspectos jurídicos e disciplinas técnicas.
Planejar as aquisições Redação cuidadosa do contrato pode mitigar ou transferir riscos para fornecedor.
Revisão dos critérios para avaliar as propostas dos fornecedores.
Avaliação das propostas.
Conduzir as aquisições Equipe multidisciplinar de revisão.
Redação do Contrato.

Fonte: Montes (2020, [n.p.]).

5W2H
Essa é uma técnica que orienta as pessoas envolvidas no projeto a como entender de-
terminadas situações, documentá-las, identificar alternativas e compor planos de ação.
É um roteiro com perguntas para entender o que se está avaliando. O site PMO Escri-
tório de Projetos sintetiza no Quadro 08:

Empreendedorismo Social 93
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Quadro 08. A técnica 5W2H e sua estrutura

CATEGORIA 5W2H TRADUÇÃO DESCRIÇÃO


Assunto What? O que? O que está sendo tratado?
3
O que será feito?
Objetivo Why? Por quê? Qual o objetivo? Quais as necessidades?
Periodicidade When? Quando? Quando será feito? Em qual periodicidade?
Local Where? Onde? Onde será feito?
Pessoas Who? Quem participa Quem é o responsável? Podemos adaptar aqui para
e como? gerar uma matriz de responsabilidade RACI*.

*RACI (Responsible - Responsável), Accountable


- Aprovador, Consulted - Consultado e Informed -
Informado).

Conhecida como Matriz de Responsabilidades ou Ma-


triz de Atribuição. Estabelece as funções e responsabi-
lidades de cada pessoa envolvida em um projeto.
Método How? Como? Como faremos? Qual o procedimento, ferramentas,
formulários usados?
Custo How Quanto Custa? Qual o custo necessário para fazer?
Much?

Fonte: Montes (2020, [n. p.]).

SAIBA MAIS
Nesse vídeo o autor explica sobre metodologia e o uso de ferramentas genéricas para a ges-
tão de projetos: “Melhores Ferramentas Para Gestão De Projetos 2021 - Como Escolher?”.

Disponível em: https://youtu.be/gVKrUwqqzCc. Acesso em: 14 nov. 2022.

SAIBA MAIS
Os links a seguir são de empresas especializadas em gestão de projetos. Contém diversas
ferramentas específicas e genéricas.

Ferramentas e técnicas do Guia PMBOK®. Por: Eduardo Montes. Disponível em: https://es-
critoriodeprojetos.com.br/ferramentas-e-tecnicas-do-guia-pmbok. Acesso em: 17 jan. 2023.

Conheça as 7 principais ferramentas de gestão de projetos. Por: Sankhya. Disponível


em: https://www.sankhya.com.br/blog/ferramentas-de-gestao/. Acesso em: 17 jan. 2023.

5 ferramentas para gestão de projetos para facilitar o seu dia a dia e alcançar grandes
resultados. Por: Siteware. Disponível em: https://www.siteware.com.br/projetos/ferramen-
tas-acompanhamento-de-projetos/. Acessos em: 14 nov. 2022.

94
3.4 PASSOS PARA GESTÃO DE PROJETOS
Um dos grandes desafios dos projetos é garantir a sua execução, o seu monitoramento
até o encerramento.
3
EXECUÇÃO

Universidade São Francisco


A execução é colocar em prática tudo o que foi planejado para o projeto de maneira que
sua elaboração possa ser exitosa.

Para Camargo (2018, p.191), as áreas de conhecimento para o processo de execução


de projetos são integração, qualidade, recursos, comunicações, riscos, aquisições, e
partes interessadas, como se pode observar no Quadro 09:
Quadro 09. Atividades da execução de projetos

ÁREAS DE
ATIVIDADES
CONHECIMENTO
Integração Manter as áreas e os recursos do projeto integrados
Qualidade Realizar a garantia da qualidade
Adquirir Recursos
Recursos Desenvolver a equipe
Gerenciar a equipe
Comunicações Gerenciar as informações
Riscos Implementar as respostas aos riscos (quando isso for aplicável)
Aquisições Efetuar as aquisições e contratações
Gerenciar as expectativas das partes interessadas
Partes Interessadas Gerenciar as estratégias para manter um alto nível de engajamento das
partes interessadas

Fonte: Camargo (2018, p. 191).

SAIBA MAIS
Nesse vídeo o canal explica desde o que é projeto até os passos de como aplicar a gestão de
projetos de forma eficiente e eficaz: “GERENCIAMENTO DE PROJETOS (05 DICAS CER-
TEIRAS PARA TRABALHAR O GERENCIAMENTO DE PROJETO).

Disponível em: https://youtu.be/Usv5V0vNHuI. Acesso em: 14 nov. 2022.

MONITORAMENTO
Monitorar o projeto é acompanhar passo a passo se sua execução está em conformi-
dade com o planejado.

As atividades e os documentos necessários ao monitoramento e controle do projeto, de


acordo com Camargo (2018, p. 207), estão resumidas no Quadro 10.

Empreendedorismo Social 95
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Quadro 10. Atividades e Documentos do Monitoramento e Controle de Projetos

ÁREAS DE
MONITORAMENTO E CONTROLE DOCUMENTOS
CONHECIMENTO
3 Monitorar e controlar o trabalho
Integração Realizar o controle integrado de Plano de Gerenciamento de Projeto
mudanças
Verificar escopo
Escopo EAP e Dicionário da EAP
Controlar escopo
Cronograma Controlar cronograma Cronograma
Custos Controlar custos Orçamento
Listas de Verificação (Checklists) e Matriz
Qualidade Controlar a qualidade
de Rastreabilidade e plano de aquisições
Matrizes de recursos, matriz RACI, crono-
Recursos Controlar os recursos
grama e plano de aquisições
Plano de Comunicações
Comunicação Controlar as comunicações Relatórios de Desempenho
Atas de Reuniões
Riscos Monitorar os riscos Análise de Riscos
Aquisições Controlar as aquisições Plano de Gerenciamento das Aquisições
Monitorar o nível de engajamento Matriz de Gerenciamento das Partes
Partes Interessadas
das partes interessadas Interessadas

Fonte: Camargo (2018, p. 207).

O monitoramento do projeto deve permitir que a gestão possa comparar o planejado


com o realizado, aplicar medidas corretivas quando necessário e compartilhar dados e
informações obtidas sobre o percurso da execução do projeto.

SAIBA MAIS
Nesse vídeo o canal explica o papel do gerente de projetos: “(Entenda) O Papel Do Gerente
De Projetos”.

Disponível em: https://youtu.be/g2Ct6Iu5Ksw. Acesso em: 14 nov. 2022.

ENCERRAMENTO
É o fechamento de todas as atividades do projeto.

Atividades previstas para o encerramento do projeto:

Área de Conhecimento → Integração

Atividades:

Reunião de encerramento;

96
9 Apresentar um relatório do projeto quanto aos aspectos apreendidos;

9 Confirmar a conclusão do projeto em conformidade com os requisitos nele previstos;

9 Apresentar os relatórios de desempenho da execução do projeto; 3

9 Apresentar os contratos com fornecedores e apoios externos encerrados ou a

Universidade São Francisco


encerrar;

9 Manter arquivos de todos os documentos, processos e comunicações;

9 Disponibilizar os recursos materiais e as pessoas que trabalharam no projeto.

Perguntas que norteiam a reunião de encerramento de projeto:

1. O que foi ou não bem-sucedido no projeto?

2. O que poderia ser feito de diferente?

3. Quais as surpresas no decorrer do projeto que afetaram o trabalho planejado?

4. Quais circunstâncias imprevistas do projeto?

5. Os objetivos do projeto foram atingidos? Se não foram, o que precisa ser mudado
para os próximos?

SAIBA MAIS
Nesse vídeo o canal dá um exemplo simulado sobre como gerenciar um projeto: “Como ge-
renciar um projeto na prática?”.

Disponível em: https://youtu.be/E2R9HOwKRAg. Acesso em: 14 nov. 2022.

CONCLUSÃO
Neste capítulo estudamos o que são projetos, seus fundamentos, os aspectos e passos
que dirigem sua gestão qualificada.

Tendo em vista várias decisões das organizações sobre mudanças estruturais, investi-
mentos, retomada ou busca de novos caminhos, lançamentos de novos produtos etc.,
serem de tamanha relevância, a gestão dispõe da ferramenta projeto como grande alia-
do no sentido de se proceder análises e discussões que forneçam elementos seguros
para que, com maior convicção, se entenda com profundidade o que se deseja, bem
como suas repercussões, facilitando o processo.

4. PLANOS DE NEGÓCIOS PARA ORGANIZAÇÕES SOCIAIS


Entende-se que uma organização social é formada por pessoas que buscam melhorar a
vida dos outros, sem exigir nada em troca. São pessoas que lutam pelos mesmos ideais

Empreendedorismo Social 97
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

em prol de uma mudança social, e cujos objetivos são o bem público de maneira geral,
sem restringir-se aos interesses individuais ou de determinado grupo da sociedade.
Portanto, pode-se dizer que uma grande parte das organizações sociais são fundadas
3 sem o plano de negócios (plano financeiro, de marketing, dentre outros).

Seus fundadores são considerados empreendedores sociais, pois identificam um pro-


blema na sociedade, partem para propor uma solução e resolvem um problema urgen-
te/emergencial. O empreendedorismo social no Brasil surgiu como uma maneira de re-
solver o problema de certa forma urgente, pedindo ajuda aos amigos/vizinhos/parentes:
primeiro resolvesse o problema e depois pensa-se nos conceitos. Nesse contexto, é
possível observar pessoas, diversas entidades e pequenas empresas, trabalhando em
parceria para prover o bem comum em prol dos que necessitam de alguma ajuda/apoio.

Conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (OSC), a Lei
13.019/14 representa um avanço no âmbito do novo regime jurídico das parcerias por
meio de instrumentos jurídicos capazes de assegurar a continuidade das atividades das
organizações junto aos entes públicos, assim, beneficiando diretamente a sociedade civil.
O Marco Regulatório das OSC foi pensado para que as entidades tenham um norte a
seguir uma vez que seus fundadores são visionários e nem sempre conseguem apoio
ou recursos para que a entidade comece “certo”, “legalizada” perante os órgãos públicos.

IMPORTANTE!
Filme: O curta metragem Sorry: um filme sobre pessoas com deficiência e atitude ilustra uma
cena rápida no elevador de um shopping que está sobrecarregado. Uma metáfora ao individu-
alismo e ao direito que cada um acha que possui, fazendo com que o elevador não se mova.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_uYb7c2ao78. Acesso em: 22 jan. 2023.

Leituras complementares: CARRENHO, A. C. do Novo Marco Regulatório do Terceiro Se-


tor. Disponível em: https://ligasolidaria.org.br/site/wp-content/uploads/2018/06/Apresenta%-
-C3%A7%C3%A3o-Marco-Regulat%C3%B3rio_.output.pdf. Acesso em: 22 jan. 2023.

DINIZ, A. A. A importância do marketing social para o terceiro setor. Disponível em: https://co-
nafasf.fasf.com.br/anais2020/arquivos/10142020_181044_5f8772b41f169.pdf. Acesso em:
22 jan. 2023.

Prahalad (2005, p. 17) defende a necessidade de melhorar a forma de como ajudar os


pobres e os necessitados. Uma das propostas do autor é por meio da inovação para
atingir ganhos sustentáveis, em que haja uma participação engajada daqueles que fa-
zem parte do processo somada a possibilidade de obtenção de lucros por parte das
empresas que os suprem de produtos e serviços. Além do mais, Wolf (1999) define que
as organizações sociais devem ter cinco características:

1ª: ter uma missão de serviço e interesse público;

2ª: estar organizada dentro de algum modelo de organização sem fins lucrativos defini-
do pela legislação;

98
3ª: ter estruturas de governança que excluam de antemão qualquer possibilidade de
trabalhar por interesses privados ou de obter qualquer ganho financeiro individual;

4ª: estar isentas de tributos;


3
5ª: possuir status legal que garanta isenções tributárias às pessoas físicas ou jurídicas
que fizerem qualquer contribuição financeira à organização.

Universidade São Francisco


Muitas entidades do terceiro setor foram criadas sem o plano de negócios e muitas não
tem interesse em colocar em prática, acreditam que é perda de tempo parar para escre-
ver algo enquanto precisam de recursos financeiros para desenvolver suas atividades.
Portanto, ao iniciar uma entidade social, é importante levantar as seguintes perguntas:

9 Onde será a sede?

9 Quem pagará os gastos iniciais com a abertura da entidade?

9 Quem pagará o contador?

9 Quem pagará as despesas de registro em cartório?

No primeiro momento é possível encontrar um profissional da contabilidade que realize


essas tarefas gratuitamente, sem custos para a entidade, mas, em certos casos, a en-
tidade também precisará de um advogado parceiro, para elaborar o Estatuto Social e
posteriormente realizar a Assembleia de constituição da entidade.

SAIBA MAIS
Antes de iniciar a atividade é importante que todas as pessoas que farão parte da entidade
tenham acesso ao Estatuto Social para a leitura antes da realização da primeira assembleia.
A leitura e a interpretação do Estatuto são necessárias para que cada membro, ora convidado
para fazer parte da entidade, conheça o propósito a que se destina a ONG, para que pessoas
façam uma análise e contribuam para o seu desenvolvimento do respectivo documento e
para posterior registro em cartório.

¾ Iniciando o novo negócio com transparência

No primeiro momento algumas entidades surgem com o trabalho de voluntários que vão
arrecadando algo e gerando os primeiros recursos, ou a pessoa tem algum ente querido
que nasce com algum problema e, diante das dificuldades encontradas, vai buscando
forças para superar o dia a dia (empreendedor por necessidade). Não é difícil nos de-
pararmos com vendas de rifa, almoço, jantar, quermesses, dia do sorvete e da pizza,
bazar, ou festa em prol de uma determinada entidade.

Empreendedorismo Social 99
Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Figura 12. Festa da entidade: bazar, quermesses, almoço, jantar

Fonte: 123RF.

Outra maneira de arrecadar recursos são as doações de voluntários ou associados. Em


geral, são pessoas que estão dispostas a contribuir mensalmente com o trabalho que a
entidade irá desenvolver. Nesse interim já se percebe que o plano financeiro está sendo
colocado em prática mesmo antes da entidade existir e, não menos importante, o plano
de marketing também já foi colocado em prática sem que seus fundadores percebam.
Então, vamos colocar as mãos na massa/obra e definir as estratégias de trabalho de
cada membro com algumas perguntas:
¾ Quem vai fazer? O que?
Chegamos, assim, à organização e gerência da organização.
¾ Como será a estrutura operacional em linhas gerais?
Ao analisar a proposta do empreendimento é preciso ter ciência de que para buscar re-
cursos em órgãos do poder público será necessário seguir alguns protocolos no tocante
a elaboração de projetos, analisando o ambiente interno e o externo. Certas perguntas,
no ambiente interno, por exemplo, surgem como iniciais:

` Quem será o público-alvo?

` Quem a entidade irá atender?

` Quem será o cliente?

` Como irá realizar os atendimentos?

` Quando irá realizar os atendimentos?

100
` Quais serão as atividades principais – primárias - secundárias?

` Qual é a proposta de valor?

` Como será o relacionamento com o cliente? 3

Com a ideia em mente, parte-se para a elaboração do Estatuto Social da Entidade. Atu-

Universidade São Francisco


almente a busca na internet tem ajudado na elaboração do Estatuto com maior coerên-
cia. Busca-se vários e aproveita-se o que um tem de bom e vai melhorando em função
da proposta da entidade. Outro fator levado em consideração é, logo no início, pensar
na transparência das ações que serão realizadas.

4.1. ELABORANDO O PLANO DE NEGÓCIOS PAUTADO NO


ESTATUTO SOCIAL
No primeiro momento, sugere-se que se faça uma busca em modelos de Estatuto So-
cial prontos. Em seguida, que seja feita uma análise e, por fim, que se discuta com o
grupo de trabalho como deve ser cada parágrafo do Estatuto, lembrando que o que
deve prevalecer, é o Código Civil Brasileiro. Partindo do pressuposto que o advogado
chegou em um consenso na redação do Estatuto e já enviou aos interessados para
fazer uma leitura prévia, o próximo passo será convocar uma Assembleia para a organi-
zação e gerência da entidade que, em geral, possui as seguintes estruturas:

9 Assembleia geral Ordinária e Extraordinária;

9 Presidente, Tesoureiro, Conselho Diretor;

9 Conselho Consultivo; Conselho Fiscal;

9 Equipe contratada;

9 Voluntários.

A Assembleia Geral é o órgão máximo da organização, responsável pelas principais


decisões, como eleger ou destituir o Presidente, Tesoureiro, Conselho Diretor ou Con-
selho Fiscal. Dentre os cargos, o Conselho Diretor, por exemplo, “[...] funciona como um
guardião do interesse público, e nesse sentido, tem a função de verificar se a organiza-
ção está trabalhando de maneira eficiente, investindo seus recursos de modo a gerar o
máximo impacto” (RAMAL, [s.d.], [n.p.]).

Nem sempre os membros do Conselho terão conhecimento suficiente para elaborar o


planejamento de curto, médio e longo prazo, a definição da missão, a visão, os valores
da empresa e a aprovação da agenda de atividades. O mesmo acontece com o plane-
jamento financeiro e orçamentário e das contas da entidade, em que é preciso colocar
a pessoa certa no lugar certo. Caso o Conselho não possua as habilidades necessárias
para desenvolver alguma atividade, o Conselho Consultivo (como o próprio nome diz,
função consultiva) deve estar à disposição para tomar as decisões necessárias. Por
outro lado, o Conselho Fiscal tem a função de fiscalizar e aprovar as contas da orga-
nização, sugerir auditoria preventiva e se incumbir da transparência das informações.

Empreendedorismo Social 101


Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Após definido o Estatuto e aprovado em Assembleia, é o momento de elaborar o plano


de negócios, o organograma,
[...] definir ainda os cargos da equipe operacional, e como será a distribuição
3 de tarefas e responsabilidades entre as pessoas, assim como que compe-
tências são necessárias para cada cargo. É preciso ainda definir qual será
a remuneração das pessoas e o programa de motivação. Também deve-se
definir que responsabilidades e tarefas ficarão na mão dos voluntários, e
qual será a estratégia de motivação dos mesmos para mantê-los vinculados
à organização o maior tempo possível. (RAMAL, [s.d.], [n.p.])

Estudiosos de empreendedorismo relatam que ao elaborar o plano de negócios, um cui-


dado especial deve se ter com o Sumário Executivo, que talvez seja o único documento
que será lido por um interessado em ajudar a entidade social. Em uma ou duas páginas
é preciso despertar o interesse do leitor para que possa prosseguir com a leitura dos
próximos itens, ou convide o empreendedor social para uma reunião. Como o próprio
nome diz, o Sumário é uma espécie de resumo do conteúdo no plano de negócios, con-
tendo no máximo três páginas. É o instrumento de vendas propriamente dito do plano,
e por isso deve ser atraente, convidativo e ter o poder de convencer a importância do
trabalho que se propõe a realizar como:
a. fornecer marmitas aos moradores de rua no período noturno;

b. atender crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social;

c. acolher idosos etc.

Segundo RAMAL,
[...] o Sumário Executivo deve conter as seguintes informações:
• Objetivo do Plano de Negócios;
• A oportunidade de trabalho percebida e como será desenvolvida;
• O público-alvo que se pretende atender e suas características principais;
• A missão da organização;
• A formação do Conselho Diretor;
• Quais produtos/serviços serão fabricados, vendidos, prestados, forne-
cidos pela organização;
• Como será abordado o público alvo;
• Como serão vendidos os produtos/serviços;
• Como a organização será estruturada para cumprir seus objetivos;
• As características (perfil) do pessoal da empresa e dos voluntários;
• O volume total de investimentos necessários para a organização reali-
zar o trabalho que se propõe;
• O volume de recursos mensais para manter a organização em
funcionamento;
• O fluxo de caixa previsto para a organização: como evoluirão suas re-
ceitas e despesas;
• A previsão da organização de tornar-se autossustentável; e
• Que impactos a organização espera obter e como estes serão mensu-
rados. (RAMAL, [s.d.], [n.p.])
Uma vez definido o plano de negócios, ora de começar a buscar recursos: onde? Como?

102
PARA REFLETIR
Na reunião de apresentação dos possíveis associados de uma determinada entidade um 3
dos membros pega o telefone, liga para um empresário e pede uma bicicleta para fazer uma
rifa para os custos iniciais da abertura da entidade. O empresário imediatamente concede a
bicicleta. Outro membro informa que ganhou um cavalo para a entidade. De imediato, veio a

Universidade São Francisco


pergunta: você sabe quanto custa manter um cavalo? Onde esse cavalo vai ficar? Quem vai
cuidar dele? O que dá para fazer com esse cavalo nesse momento? Nada.

Passados dois anos de organização estabelecida, as portas se abrem com mais facili-
dade. Com a organização estabelecida é possível buscar recursos na Prefeitura Muni-
cipal, na Secretaria da Educação, no Fundo Social e dentre outros. Antes, é preciso ler
os editais de chamamento e interpretar para que os projetos sejam desenvolvidos de
acordo com cada necessidade. Outras fontes de recursos são as emendas parlamenta-
res, juízes (recursos de multas), empresas privadas, comunidade local.

4.2. ELABORANDO O PLANO DE NEGÓCIOS PAUTADO NO


ESTATUTO SOCIAL
Toda empresa precisa de alguém para executar alguma atividade, damos a essa pes-
soa o nome de funcionário. Em geral, os funcionários irão desenvolver suas atividades
e, consequentemente, precisam receber seus salários, horas extras, adicional noturno,
insalubridade, periculosidade, férias, 1/3 de férias, 13. Salário, FGTS, a contribuição
social e dentre outros encargos trabalhistas. Por isso, é importante pensar como será
feita a gestão de pessoas e os respectivos encargos para delinear as metas e a busca
de recursos juntamente com os membros do conselho diretivo.

As reuniões dos membros do conselho é exatamente para estabelecer metas, designar


tarefas e buscar recursos. As pessoas se juntam para fortalecer as entidades onde não
existe recurso, inclusive esse é o lema de muitas organizações sociais no Brasil. Definir
as estratégias de trabalho, e a missão da entidade estão alinhados com os objetivos
estratégicos. De acordo com Ramal,
[...] estes objetivos estratégicos devem estabelecer-se em um prazo de um a
três anos, e dizer respeito ao:
• Volume de pessoas a atender [elaborar um mapeamento]; [...]
• Impactos sociais desejados;
• Definição dos segmentos de atuação.
Uma vez dentro da organização, ao implementar o plano de negócios, a
equipe deverá dividir cada um dos objetivos em metas quantificáveis com
prazo para serem cumpridas e respectivos responsáveis. No entanto, es-
sas metas não precisam ser incluídas no plano de negócios. (RAMAL, [s.d.],
[n.p.])
As metas podem ser, por exemplo:

9 conseguir espaço apropriado ou recursos junto a prefeitura municipal para a


sede da entidade, que pode ser um espaço alugado;

Empreendedorismo Social 103


Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

9 conseguir recursos de prefeituras municipais para o pagamento dos salários e


encargos do clínico geral, do psiquiatra, do fisioterapeuta, psicólogo, pedagogo,
psicopedagogo, dentre outros profissionais;
3
9 conseguir doações de ovos de páscoa, cobertores, brinquedos, computadores,
alimentos, móveis e utensílios, veículos etc.

Lembrando que as parcerias são fundamentais para o sucesso de qualquer negócio,


pois quanto mais engajado o corpo diretivo se dispuser a trabalhar buscando recursos,
melhor será o desempenho na ajuda ao próximo.

SAIBA MAIS
Leia os textos a seguir para enriquecer seu conhecimento.

Plano de ação:

https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/semas120202112.pdf. Acesso em: 19 out. 2022.

Entrada de recursos:

https://www.hospitalsj.com.br/UPLarquivos/031020221526534.pdf. Acesso em: 19 out. 2022.

Média e alta complexidade:

https://sismac.saude.gov.br/teto_financeiro_detalhado. Acesso em: 19 out. 2022.

4.3. PARCERIAS COM O PODER PÚBLICO E PRIVADO


Abrir as portas da entidade para a sociedade é o caminho mais rápido para receber doa-
ções. O hospital do câncer, por exemplo, recebe cabelo em doação e os voluntários con-
feccionam perucas para mulheres que perdem seus cabelos no tratamento contra o câncer.
Além de receber a doação, existe o acolhimento humano e o carinho para quem necessita.

A corporação do corpo de bombeiros, por meio de apresentações nas escolas arreca-


dam aneizinhos de latas de alumínio, vendem o alumínio e compram cadeiras de banho
ou rodas. Outro caso de atendimento de demanda pela sociedade pode-se citar o caso
da Associação Comunidade Auxiliadora Recuperando Vidas de Batatais.

104
CURIOSIDADE
A Associação Comunidade Auxiliadora Recuperando Vidas de Batatais, em São Paulo, é uma 3
comunidade terapêutica que oferece acolhimento voluntário e transitório, para pessoas com
problemas decorrentes do uso e/ou dependência de substâncias psicoativas. Com o objetivo
de promover a organização biopsicossocial do indivíduo, com a garantia de direitos, qualida-

Universidade São Francisco


de de vida e autonomia (COMAREV, 2022, [n.p.]).

A matéria relativa às Entidade sem Finalidades de Lucros está regulamentada, do ponto de


vista contábil, pela Resolução do Conselho Federal de Contabilidade 926/2001, com a altera-
ção dada pela Resolução do Conselho Federal de Contabilidade 966/2003.

Disponível em: https://www.lefisc.com.br/materias/2007/122007societarios.htm. Acesso


em: 19 dez. 2022.

Além disso, a entidade se mantém ativa com recursos vindos do poder público como o
Programa Recomeço do Governo do Estado de São Paulo e a Secretaria Nacional de
cuidados e Prevenções à Drogas (SENAPRED) do Governo Federal. Além do poder pú-
blico, a entidade também se mantém ativa com recursos vindos de empresas privadas
e da sociedade, como a Usina Batatais, Família do Sr. João Martins de Barros, Sócios
contribuintes e dentre outros. Nesse caso, a entidade pode adotar a estratégia de sócio
contribuinte, grupo de pessoas que contribuem mensalmente com a entidade por meio
de depósito bancário ou valor em espécie.

Outra opção utilizada por algumas entidades é o telemarketing, o qual existe um call
center onde um grupo de funcionários, por meio de ligações telefônicas, solicita a con-
tribuição em espécie naquele mês. Após a solicitação e a aceitação da doação, um
motoboy vai até o local recolher o valor doado (em espécie).

CURIOSIDADE
Na entidade AAA, a tesoureira, mãe de um incapaz, recebe diariamente os valores arrecada-
dos em espécie pelo malote. O malote sai do prédio do telemarketing e vai para a sede. Sua
função é fazer a conferência do relatório e enviar os valores para depósito bancário. Acontece
que a contabilidade é terceirizada e o contador nunca parou para pensar como é de fato o
funcionamento da entidade. Por uma falha no processo, o estagiário do curso de Direito pre-
senciou por várias vezes a tesoureira colocando o dinheiro em espécie em sua bolsa. O fato
é que os valores arrecadados pelo telemarketing em espécie nunca foram depositados e não
foram contabilizados. Com o passar dos anos, surgem atritos e o estagiário então, se torna
advogado e coloca câmeras para gravar os fatos. O rombo foi em torno de R$3.200.000,00
(processo em segredo de justiça).

Outra opção de arrecadação de recursos é a captação de notas fiscais, em que parte


do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) pode retornar para a
entidade como recurso. É comum, em supermercados, encontrar uma caixinha onde o
consumidor pode deixar sua nota fiscal para posterior digitação pela entidade.

Empreendedorismo Social 105


Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

4.4. ATENDENDO A DEMANDA DA SOCIEDADE


O empreendedorismo social surge da visão da necessidade de descobrir o que a socie-
dade precisa e o que o poder público não consegue atender. Oliveira (2004) faz algumas
3 distinções de conceitos que comumente são confundidos com empreendedorismo social.
O empreendedorismo social não é Responsabilidade Social Empresarial,
pois a mesma supõe um conjunto organizado e devidamente planejado de
ações internas e externas, e uma definição centrada na missão e atividade
da empresa, face as necessidades da comunidade. Não é uma profissão,
pois não é legalmente constituída, não há formação universitária ou técnica,
nem conselho regulador e código de ética profissional legalizado; também
não é uma organização social que produz e gera receitas, a partir da venda
de produtos e serviços, e muito menos um empresário que investe no cam-
po social, o que está mais próximo da responsabilidade social empresarial,
ou quando muito, da filantropia e da caridade empresarial [...]. (OLIVEIRA,
2004, p. 12)

A relevância pública e social no primeiro momento é o que mais chama a atenção para
atender a demanda da sociedade. O poder público por si só não dá conta de atender todas
as demandas existentes por diferentes tipos de diagnósticos e necessidades. Por exemplo:

9 Quantas pessoas estão dormindo na rua e podem morrer de frio por não que-
rer ir para o abrigo? É uma opção não querer ir para um abrigo, pois lá existem
regras.

9 Quantas pessoas na sua cidade possuem o transtorno do espectro do autismo?


E como elas vivem? Quem ajuda a cuidar para que a mãe, o pai ou responsável
possa ter um descanso?

9 Qual a capacidade de atendimento de atendimento aos cegos? A sua cidade


está adaptada para que eles possam se locomover?

Com o objetivo de promover a cidadania e a inclusão social é preciso ter comprometi-


mento do poder público com a sociedade nas habilidades adaptativas e na capacidade
de contribuir com a sociedade. Nesse atender a demanda da sociedade não é tão sim-
ples como se pensa.

¾ Exemplo de Atividade para Atender Demandas

Para auxiliar uma entidade que cuida de crianças de comunidades carentes, um grupo
de jovens se propôs a trabalhar distribuindo hambúrguer e, para isso, denominaram
como o dia da Hamburgada do Bem (s.d.). Além de levar amor, diversão, cuidados e
informações, o grupo listou os pontos principais que os levaram a tomar essa iniciativa:

9 Missão: promover a integração social entre voluntários e crianças através de


uma experiência inédita a fim de torná-las pessoas melhores.

9 Visão: servir de inspiração às pessoas, gerando nelas uma inquietude para


transformar o mundo ao seu redor.

9 Valores: Excelência, Amor, Empatia, Ética, Respeito e Equipe.

106
A questão é: como irão organizar os próximos passos para que todos saiam satisfeitos
desse dia especial de comunhão e solidariedade?
Figura 13. Crianças comendo na confraternização
3

Universidade São Francisco


Fonte: 123RF.

Resolução do problema: para resolverem essa situação, primeiro o grupo realizou o


estudo de caso da confraternização, denominando a natureza econômica da entidade.
Depois, listam a Atividade Secundária, em que vão orientar as regras e os cuidados
durante a confraternização. Em seguida, planejam as seguintes categorias:

9 Público-alvo;

9 Prestação de serviços;

9 Demanda;

9 Resultado;

9 Voluntários; e

9 Resultado financeiro da ação.

No final, tudo o que foi discutido e planejado, em reunião, o grupo irá oferecer essas informa-
ções em forma de sumário (Quadro 11) tanto para os membros quanto para os voluntários.

Empreendedorismo Social 107


Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

Quadro 11. Sumário disponibilizado ao voluntário

Prezado voluntário,
Ficamos felizes em tê-lo conosco, participando desse dia especial: a Hamburgada do Bem.
3
A inquietude está estampada nos nossos rostos quando nos unimos em prol do bem-estar de crianças que
não tiveram privilégios ou sentem falta de paz e alegria em suas vidas. Por isso, pensamos realizar essa
confraternização de recreação e adoção, passando um dia com essas crianças e realizando seus simplórios
sonhos e desejos. Para começar, pedimos para a entidade que suas crianças escrevessem uma cartinha
com seus pedidos particulares, como: querer que os pais parem de brigar, ao invés de um brinquedo; que
sua avó volte...lá do céu...; ter um amigo para brincar, ou seja, coisas que o dinheiro não compra.
Os tópicos abaixo apresentam as propostas, as regras e o passo-a-passo que vamos realizar no dia.
O Estudo de caso: Hamburgada do bem
A natureza econômica da entidade é: 94.93-6-00 - atividades de organizações associativas ligadas à
cultura e à arte.
Atividade secundária: 94.30-8-00 - atividades de associações de defesa de direitos sociais; 94.99-
5-00 - atividades associativas não especificadas anteriormente; 88.00-6-00 - serviços de assistência
social sem alojamento.
9 O atendimento à demanda da sociedade é feito por meio de trabalho voluntário, ou seja, são de
preferência jovens que estão em busca de curtir algo diferente a cada final de semana. O jovem
paga para fazer parte desse grupo de voluntários, ou seja, para participar do evento ele precisa
fazer a inscrição, e, no dia e horário da prestação de serviços, estará à disposição da organização
para realizar o trabalho voluntário. No ato da inscrição a informação é de que o voluntário está
custeando o café da manhã (seu), o almoço (seu e de uma criança), que seria hambúrguer, batata
e refrigerante, milk-shake de sobremesa e muita diversão.
9 O voluntário fica responsável por acompanhar uma criança o dia todo na recreação, outro time fica
na organização do evento, na cozinha, churrasqueira, fazendo desde o hambúrguer com o manu-
seio da carne até a entrega do hambúrguer pronto às crianças e muita diversão.
9 O primeiro trabalho é descarregar o caminhão logo cedo e começar a montar os brinquedos da
recreação, ou seja, trabalho voluntário o dia todo. Além de trabalhar gratuitamente para a ONG, o
voluntário também contribui com doces e brinquedos. Pelos grupos dos WhatsApp, os voluntários
se agrupam por atividade e vão arrecadando doces, brinquedos, roupas, calçados, itens de higiene
pessoal etc.
9 Após o evento o voluntário é convidado a realizar o sonho de uma criança que esteve presente
nesse evento: um ursinho de pelúcia, computador, celular, bicicleta, compra de supermercado etc.,
pois os sonhos são variados e tem aqueles que pedem que a vó volte, o pai e a mãe parem de
brigar, a polícia prenda os ladrões e assim por diante.
Público-alvo: criança feliz de uma escola da rede pública de ensino.
Prestação de serviços: por voluntários dispostos a prestar serviços e pagar para proporcionar um dia
feliz na vida de uma criança.
Demanda: uma escola da periferia.
Resultado: a criança não quer ir para sua casa, então, pela cor da pulseira a criança vai sendo chamada
pela equipe de recreação para receber sua lembrancinha e é direcionada para o portão da escola. E no
término dos eventos, alguém da equipe da recreação faz agradecimento aos voluntários, canta o hino da
Hamburgada e são recolhidos os brinquedos.
Voluntários: alguns vão para suas residências e não participam mais de eventos, outros mais assíduos
vão para o after.
Resultado financeiro da ação: a entidade não disponibiliza a prestação de contas no portal da transparência.

Fonte: elaborado pela autora.

108
PARA REFLETIR
O pulo do gato
3
Gestão participativa: com o trabalho de voluntários a empresa não cria vínculo empregatício,
ou seja, não possui encargos trabalhistas. Em sua atividade principal retrata cultura e arte.

Universidade São Francisco


Atividade secundária: informa “defesa de direitos sociais” e, “assistência social”. O “hambúr-
guer” é apenas uma desculpa, ou melhor, o voluntário paga para participar da ação, trabalha
gratuitamente, faz o marketing da “ONG” divulgando sua participação nas redes sociais e
compra os produtos da lojinha. No final, quem fica com lucro? E o que é feito com o lucro?

A entidade não informa na transparência. Conclusão?

Os voluntários fazem sua parte no trabalho voluntário “antes, durante e depois do evento”.
Após a realização do evento a entidade deve ser transparente na prestação de contas do
resultado daquele evento, se deu lucro, ou prejuízo.

Nesse caso, a entidade deveria apresentar no portal da transparência da entidade filantrópi-


ca “Associação”, a prestação de contas à sociedade. Deveria disponibilizar aos associados
as Atas de reuniões de Assembleias Ordinárias e Extraordinárias, além dos Demonstrativos
Financeiros, como:

1) Balanço Patrimonial assinado por contador e diretor estatutário responsável;


2) Demonstração do Superávit ou Déficit do Exercício;
3) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido;
4) Demonstração do Fluxo de Caixa.
Para mais detalhes de como foi de fato a confraternização da Hamburgada do Bem.

Disponível em: https://www.hamburgadadobem.com.br/. Acesso em: 19 out. 2022.

CONCLUSÃO
Diariamente nos deparamos com pessoas pedindo dinheiro ou comida, uma ajuda qual-
quer, ou as vezes, a pessoa nem pede, pega restos de alimentos do lixo. Alguns optam
por recolher lixo reciclado, vende no depósito mais próximo em função do peso que car-
rega e dorme na rua, calçada ou qualquer lugar coberto. Um retrato triste da realidade
em qualquer cidade no Brasil.

Não é difícil encontrar famílias, igrejas, grupo de amigos, comunidades que se juntam
em prol desses necessitados, preparam refeições, arrecadam alimentos, fazem o pre-
paro e saem para distribuição. Do jeito que vem e vai, pede arroz, feijão, café, roupas,
agasalhos, calçados etc., monta-se uma cesta básica e alguém fica responsável por
entregar. Parece simples, pedir e ajudar em pequena proporção e esse negócio é como
se fosse um vício, você ajuda, e vai recebendo forças para ajudar mais, ajuda uma
família e quando vê, já são dez, cem, mil e por ai vai, somasse tudo que é palpável e o
amor ao próximo.

Empreendedorismo Social 109


Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

A parte mais difícil é entender que se tornou um negócio e que alguém já faz um con-
trole de quem precisa e de quem pode ajudar, a soma vai aumentando na medida que
vão surgindo as necessidades. Ninguém tem tempo para parar e escrever o “plano de
3 negócios” para organizações sociais, ele vai sendo moldado na cabeça dos integrantes
que vão fazendo com que o negócio dê certo.

O fato de atender quem necessita se torna mais importante do que atender a burocracia
e a formalidade do negócio. Parar para elaborar o plano de negócios pautado no Esta-
tuto Social, estabelecer metas e buscar recursos, é algo que acontece naturalmente, é
como apagar um incêndio, “deixa que depois alguém faz”, “é só papel mesmo” e dentre
outros jargões que as pessoas falam no cotidiano. Tudo o que importa é buscar parce-
rias com o poder público e privado, atender a demanda da sociedade e, em seguida,
resolver os problemas.

SAIBA MAIS
Leitura complementar para entender um pouco sobre as legislações que amparam o
terceiro setor.

BRASIL, Lei nº 10.406/2002.Terceiro Setor.

Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/509179/terceiro_


setor_1ed.pdf?sequence=1. Acesso em: 24 out. 2022.

110
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de parcerias do marco regulatório das organizações da sociedade civil. Lei Nacional nº 13.019/2014 e
3
Decreto Distrital nº 37.843/2016. Manual MROSC-DF, Brasília – DF, nov. 2018. Disponível em: https://www.
casacivil.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2018/11/Manual-MROSC-DF-FINAL.pdf. Acesso em: 19 out. 2022.

Universidade São Francisco


BRASIL. Controladoria-Geral da União. Secretaria da Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas.
Guia de implantação do portal da transparência. Disponível em: https://www.ufmg.br/proex/cpinfo/cidada-
nia/wp-content/uploads/2014/04/CGU-2013-GUIA-cria%C3%A7%C3%A3o-de-se%C3%A7%C3%A3o-de-a-
cesso-%C3%A0-informa%C3%A7%C3%A3o-1.pdf Acesso em: 2 fev. 2023.

BRASIL. Lei nº 8.742, de 7 dez. 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providên-
cias. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742compilado.htm. Acesso em: 19 out. 2022.

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Grupo GEN, 2018. 247p.

ESCOLA Nacional de Administração Pública (ENAP). Marco Regulatório das Organizações da Sociedade
Civil. ENAP, Brasília, 2019. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/3845/1/MROSC%20
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Empreendedorismo Social 111


Planejamento e Gestão de Negócios com Impacto Social

-%20Boletim%20-%20Nego%CC%81cios%20de%20Impacto.pdf. Acesso em: 02 dez. 2022.

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ponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/28626/28626.PDF Acesso em: 05 nov. 2022.

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tandfonline.com/doi/full/10.1080/19420676.2018.1541011. Acesso em: 06 dez. 2022.

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1999.

Universidade São Francisco

Empreendedorismo Social 113


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social UNIDADE 4

EDUCAÇÃO, INOVAÇÃO
E TENDÊNCIAS NO
4
EMPREENDEDORISMO SOCIAL

INTRODUÇÃO
Nesta unidade, que destaca a Educação, inovação e tendências no empreendedorismo
social, vocês poderão aprofundar seus estudos e práticas relacionadas ao empreendedo-
rismo social. No primeiro capítulo, Inovação aplicada aos negócios sociais, possibilida-
des tecnológicas e propostas de criação e inovação são destacadas e aprofundadas.

O segundo capítulo se dedica a apontar a gestão de organizações não governamentais,


ou seja, a importância de se estabelecer processos administrativos e legais para o geren-
ciamento de tais entidades. Neste sentido, estruturas de plano de trabalho, organização
institucional e as formas de se prestar contas à sociedade são apresentados e explicados.

No terceiro capítulo, a temática da educação empreendedora – o ensino do empre-


endedorismo na escola é colocada no centro da discussão. A proposta é destacar a
importância e os benefícios deste ensino e apontar alguns caminhos para se realizar
uma aprendizagem baseada em projetos.

Por fim, o capítulo que encerra a unidade e o curso, tendências: economia colaborativa
e consumo consciente, procura estabelecer reflexões sobre as mudanças de impacto
baseadas na economia colaborativa, no consumo com sustentabilidade e nas relações
entre inovação sustentável e consumo, sempre projetando mudanças sociais pautadas
nos pilares da economia compartilhada. Esperamos que tais reflexões possam contribuir
para a concretização de sonhos e planos e que tais práticas possam ser realizadas de
forma ética, com consciência social em empreendimentos sustentáveis. Paz e Bem!

1. INOVAÇÃO APLICADA AOS NEGÓCIOS SOCIAIS


As organizações de modo geral se deparam com desafios de continuamente se atuali-
zar perante o mercado em que atuam e com o próprio negócio. Isso se deve, principal-
mente, a alguns fatos, como mudanças no comportamento de consumo e adequação
do negócio às novas demandas por gestão eficiente, eficaz e efetiva.

Nos negócios sociais não é diferente. Por serem organizações que atuam diretamente
com as necessidades e desejos de pessoas e do meio ambiente, e por serem ativida-
des que também visam resultados financeiros, seus produtos e seu modelo de gestão
requerem atualizações no mesmo ritmo, devem buscar incessantemente meios de ge-
ração de ideias.

A criatividade e a inovação são os caminhos mais viáveis para que as organizações não
se tornem obsoletas. Qual o desafio, então? Saberem se aparelhar de modo que tais
possibilidades sejam exploradas e potencializadas no ambiente interno da organização.

115
A cultura da inovação é o primeiro grande passo no sentido de novos hábitos e costu-
mes que propiciem um ambiente de mudanças contínuas.

SAIBA MAIS 4

O site www.sinonimos.com.br explica os significados de Criatividade e Inovação:

Universidade São Francisco


1. Criatividade: https://www.significados.com.br/criatividade/

Acesso em: 6 dez. 2022.

2. Inovação: https://www.significados.com.br/inovacao/

Acesso em: 6 dez. 2022.

1.1. CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO


Mudança, transformação, melhoria constante, diferencial, inovação, criatividade. Essas
têm sido algumas das palavras de ordem com as quais organizações se deparam cada
vez mais. Com um adendo decisivo: não podem ser tratadas apenas como “palavras de
ordem” em que as levem à sobrevivência e ao desenvolvimento no mundo competitivo,
é preciso atitude.
A revolução tecnológica da informação e da comunicação – conhecidas como TIC – é
um dos fundamentos da discussão sobre o que vem pela frente.
Gerar novas ideias aplicáveis, percebidas pelo mercado como diferentes e, portanto,
inovadoras, deve ser visto como uma das pautas mais frequentes nas organizações.
Criatividade e inovação seguem essa ordem. Para que haja inovação é preciso criar,
criatividade se assenta ao pensamento de ideias novas e adequadas. Inovação é a
capacidade de transformar ideias em realidade.

PARA REFLETIR
“[...] a inovação deriva de conhecimento prévio e aplicação pontual em algo que nunca havia
sido pensado antes. Para inovar, é necessário que se tenha uma boa dose de criatividade. E,
se a criatividade é uma das habilidades profissionais mais importantes do presente e do futu-
ro, olhá-la com bastante compreensão é um passo enorme frente à concorrência na maioria
dos setores, principalmente se estivermos em território nacional.”
Fonte: SILVA, F. P. et al. Gestão da inovação. São Paulo: Grupo A, 2018. p. 56.

Silva et al. (2018, p. 54-55) propõem ideias que podem surgir espontânea e naturalmen-
te, porém o pensamento criativo pode ter três fases:
01. A escolha do foco: é o centro que receberá a energia dos pensamentos, podendo ser
um problema a ser resolvido ou um objetivo previsto e desejado ou uma nova prática real.
02. O deslocamento: é a movimentação que se admite em função do foco; a flexibili-
zação das ideias.

Empreendedorismo Social 116


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

03. A conexão: havendo deslocamento, busca-se a melhor acomodação visando har-


monizar as ideias iniciadas pelo foco da criatividade.
Não se discute criatividade e inovação sem que a organização possa estar sincronizada
4 internamente e externamente valorizando esses componentes (Figura 01).
Figura 01. Panorama do processo de inovação

Fonte: Trott (2012, p. 9 apud Silva et al., 2018, p. 55).

A figura mostra a intersecção necessária no processo de criatividade e inovação entre a


estrutura organizacional e demandas (internas e externas), as áreas internas de maior
aderência aos processos (Pesquisa & Desenvolvimento – P&D) e os indivíduos afeitos,
como os de maior percepção e sensibilidade ao processo.
Assim como se trata da estrutura das áreas organizações em conexão com a
criatividade e a inovação, é imprescindível dar destaque às características de um
profissional inovador.
Figura 02. Compartilhando ideias

Fonte: 123RF.

117
De acordo com Bezerra (2011 apud Silva et al., 2018, p. 57), afirma-se “[...] que a
capacidade de inovar pode ser desenvolvida por qualquer pessoa, não estando atre-
lada exclusivamente à idade ou à origem, mas, sim, à qualidade das suas ideias”. Um
profissional inovador analisa as perspectivas que existem de inovação, sempre com a
4
amplitude de conexões entre demandas, áreas e capacidade de execução – como se
diz: “mente aberta”, “sair da caixa”. Na Figura 03, alguns papéis dos indivíduos-chave
no processo de inovação.

Universidade São Francisco


Figura 03. Papeis dos indivíduos-chave no processo de inovação

Indivíduo-chave Papel

Perito em um ou dois campos. Gera novas ideias


Inovador técnico e visualiza formas novas e diferentes de fazer as
coisas. Também denominado "cientista maluco".

Obtém grandes quantidades de informações


Olheiro técnico/ (que podem incluir informações mercadológicas
comercial e técnicas) de fora da organização,
geralmente por meio de networking.

Mantém-se informado por meio de boletins


informativos, conferências, colegas e outras
empresas, sobre os avanços que ocorrem fora
Gatekeeper da organização. É um difusor de informações, já
que consegue se comunicar com os colegas com
facilidade. Serve como uma fonte de informações
para os demais membros da organização.

Difunde novas ideias para outros integrantes da


Product champion organização. Aglutina recursos. É agressivo na
defesa de seus pontos de vista. Assume riscos.

Fornece liderança e motivação à equipe. Planeja e


organiza o design. Assegura-se de que exigências
administrativas sejam atendidas. Proporciona
Líder de design a coordenação necessária entre membros de
diferentes equipes. Certifica-se de que o design
efetivamente progrida. Ajusta os objetivos do design
de acordo com as necessidades organizacionais.

Permite o acesso a uma base de poder dentro


da organização: um sênior. Protege a equipe
de projetos de contenções organizacionais
Patrocinador desnecessárias. Auxilia a equipe de projetos
a conseguir o que precisa de outras partes
da organização. Oferece legitimidade e
validação organizacional ao design.

Fonte: adaptado de Trott (2012 apud Silva et al., 2018, p. 58).

Empreendedorismo Social 118


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

A criatividade advinda de demandas também são estímulos ao profissional, por exem-


plo, crescimento da população, ampliação do processo de urbanização, formas de dis-
tribuição de rendas, mudanças no comportamento do consumidor e do consumo, bioe-
4 nergia, sustentabilidade, saúde, biotecnologia, economia, são algumas das atividades
que provocam os criadores em suas condutas à inovação das organizações.

Ainda sobre demandas, as organizações devem estar preparadas, até culturalmente,


para a eficiência produtiva em várias áreas da empresa (não quer dizer apenas na área
de produção). Para as vantagens competitivas que podem tornar as organizações na
dianteira da competição mercadológica, devem estar atentas ao que está acontecendo
no ambiente competitivo; o que há de novo; quais as tendências; quais as perspectivas;
quais os recursos demandados.

SAIBA MAIS
Nesse vídeo uma das referências em novas ideias, a empresa 3M apresenta a história do
lançamento do famoso e útil Post-It®: “CASE DE INOVAÇÃO - A VERDADEIRA HISTÓRIA
DO POST-IT ®”.

Disponível em: https://youtu.be/7QZoxRl2Rmk.

Acesso em: 5 dez. 2022.

SAIBA MAIS
Nesse vídeo, uma palestra sobre criatividade e cocriação com Silda Santos: “Criatividade e
inovação social”.

Disponível em: https://youtu.be/FgevK5N4XGg.

Acesso em: 5 dez. 2022.

1.2. FUNDAMENTOS DA INOVAÇÃO


Ao abordar os fundamentos da inovação devemos destacar alguns elementos que dão
sustentação ao processo de inovação.

™ Cultura da Inovação

Geralmente, criar é um ato individual, mas desenvolver a ideia individual torna-se um


processo criativo.

A cultura das organizações é um conjunto de crenças, valores, hábitos, forma de agir


e reagir e interesses. Esses elementos são praticados pela coletividade organizacional
como aqueles que dão direção às decisões, caminhos e objetivos estabelecidos por ela
e seus gestores.

119
Portanto, não é suficiente desejar ser uma organização inovadora apenas pelo desejo.
É necessário algo maior. Esse algo é o poder da cultura propagando, disseminado, for-
talecendo e incentivando a criatividade e a inovação.
4
™ As Pessoas da Organização

A criatividade e a inovação não são particulares de novos bens ou serviços (produtos).

Universidade São Francisco


Se dão, também, em processos organizacionais. O processo criativo se faz com pesso-
as motivadas, com espírito crítico, dispostas a descobrir ou redescobrir novos modelos
influenciadores ou solucionadores de problemas. Da mesma forma que ideias são de-
safiadoras para a organização, é preciso que a implementação do resultado das ideias
também seja integrada e comprometida pelos gestores e pela equipe. De nada adianta
uma boa ideia, um processo de desenvolvimento da ideia, se não se domina a arte da
execução, do colocar em prática.

™ Lideranças

Recursos, resistências, comprometimento, cultura indefinida são alguns dos compo-


nentes do comportamento inovador das organizações.

Está nas lideranças os desafios de saber colocar em prática esses fundamentos. Inte-
gração, unidade, equipe, significados da inovação, coesão, comunicação, convergência
são alguns dos alvos das lideranças frente à cultura da inovação.

™ Ambiente Favorável à Inovação

Cada organização tem a sua dinâmica de gestão, geralmente particular à sua cultura.
Mas há condutas que parametrizam os movimentos no sentido de se ter um ambiente
favorável à inovação.

O poder e a iniciativa concedidos aos membros da organização visam liberdade de


geração e ideias. A flexibilidade no modelo de gestão administrativa deve estimular a
interação entre as áreas funcionais da organização. A comunicação aberta e autêntica
indica a fluidez nas relações internas, contribuindo para um ambiente democrático de
geração e discussão de ideias. Incentivos, recompensas, equiparação de direitos são
imprescindíveis como componente motivacional e interesse no envolvimento com a ge-
ração de ideias. Os hábitos e o rigor dos padrões são inibidores de ideias – preservar
paradigmas são potenciadores bloqueadores de novos rumos.

SAIBA MAIS
Nesse vídeo, uma conversa sobre a promoção da inovação dentro das organizações: “COMO
PROMOVER A INOVAÇÃO DENTRO DA EMPRESA”.

Disponível em: https://youtu.be/_X_KjLhPOuo.

Acesso em: 5 dez. 2022.

Empreendedorismo Social 120


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

1.3. A INOVAÇÃO EM MODELOS DE NEGÓCIOS SOCIAIS


Geoff Mulgan citado por Bessant e Tidd (2019, p. 48) diz que
A grande onda de industrialização e urbanização no século XIX foi acompa-
4 nhada por uma explosão extraordinária em inovação e empreendimentos
sociais: autoajuda mútua, microcrédito, sociedades de crédito imobiliário,
cooperativas, sindicatos.

EXEMPLO
Tateni Home Care
Veronica Khosa estava frustrada com o sistema de saúde na África do Sul. Como enfermeira,
viu pessoas doentes ficarem ainda mais doentes, idosos impossibilitados de conseguir um
médico e hospitais com leitos vagos que não aceitavam pacientes com HIV. Então Veronica
criou a Tateni Home Care Nursing Services e instituiu o conceito de home care (atendimen-
to do paciente a domicílio) em seu país. Começando com praticamente nada, sua equipe
arregaçou as mangas para oferecer atendimento a pessoas de uma forma que elas jamais
haviam recebido: no conforto e na segurança de seus lares. Poucos anos depois, o governo
adotou o plano, e com o reconhecimento de organizações líderes em saúde, a ideia foi difun-
dida para outros países além da África do Sul.

Disponível em: https://www.ashoka.org/fellow/veronica-khosa.

Acesso em: 20 dez. 2014.

1.4 INOVAÇÃO E IMPACTO SOCIAL


Empreendedorismo Social foi cunhado por Bill Drayton, fundador e CEO da Ashoka,
uma organização internacional sem fins lucrativos surgida na Índia em 1980. Para
Ashoka, o empreendedor social aponta tendências e soluções inovadoras para ques-
tões sociais e ambientais.
Temas como desmatamento, distribuição desigual de renda, desemprego, fome, sub-
-habitação preocupam o Brasil e tantas outras nações subdesenvolvidas. Para tais
questões o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), por exemplo, que surgiu em 1999,
explora os negócios de impacto social e a inovação social. De acordo com este instituto,
esse tipo de negócio pode assumir diversos formatos: associações, fundações, coope-
rativas, empresas privadas. Logo, inovação social potencializa o negócio.
Figura 04. Diversidade social

Fonte: 123RF.

121
SAIBA MAIS
Conheça algumas organizações com foco em Inovação Social e Impacto Social:
4
“Como a inovação pode ser promovida através do impacto social”.
Disponível em: https://anpei.org.br/impacto-social-inovacao-como-promover/.

Universidade São Francisco


Acesso em: 6 dez. 2022.

“Conheça os tipos de inovação social”.


Disponível em: https://institutolegado.org/blog/conheca-os-tipos-de-inovacao-social/.

Acesso em: 6 dez. 2022.

“Criatividade, inovação e impacto social, com foco na diversidade: Conheça a Vale do Dendê”.
Disponível em: https://impactanordeste.com.br/criatividade-inovacao-e-impacto--social-
-com-foco-na-diversidade-conheca-a-vale-do-dende/.

Acesso em: 6 dez. 2022.

“ORÉ Inovação em Impacto Social”.


Disponível em: https://pipe.social/startup/35752/perfil.
Acesso em: 6 dez. 2022.

“Negócios de impacto social: exemplos para cada ODS”.

Disponível em: https://www.sementenegocios.com.br/blog/negocios-de-impacto-social-


-exemplos.

Acesso em: 6 dez. 2022.

Figura 05. Meio ambiente e a inovação

Fonte: 123RF.

Empreendedorismo Social 122


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

SAIBA MAIS

4 Leia uma matéria jornalística da revista Negócios sobre empreendedores em comunidades:


“CUFA e FWK lançam laboratório de inovação para criar negócios de impacto”.

Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2022/09/de-olho-no-


-esg-cufa-e-fkw-lancam-laboratorio-de-inovacao-para-criar-negocios-com-impacto-so-
cial-positivo.html.

Acesso em: 6 dez. 2022.

Figura 06. As cidades e meio ambiente

Fonte: 123RF.

SAIBA MAIS
Nesse vídeo, uma palestra com Gabriela Werner, sócia fundadora da Impact Hub Floripa,
com 10 anos de experiência em gestão, marketing e sustentabilidade em diversos segmen-
tos, incluindo ONG’s, consultoria, finanças e manufatura.

Disponível em: https://youtu.be/ILLMtWlwZ-Q.

Acesso em: 6 dez. 2022.

CONCLUSÃO
Pelos fundamentos explorados neste capítulo, pode-se ter mais elementos da importân-
cia e dos fundamentos da criatividade e da inovação.
Adaptação da cultura organizacional, do comportamento dos membros, da ambienta-
ção e recursos visando geração de ideias, de visão de futuro, são alguns dos desafios
do processo de gestão. Processo esse que se faz imprescindível não só pela compe-
titividade, mas, inclusive, e, às vezes, tão somente, de as organizações sobreviverem.

123
Viu-se que, para gerar impacto social, os negócios sociais também devem se incluir nessas
práticas, uma vez que lidar com questões socioambientais, mudanças de ordem econô-
mica, políticas públicas, modelagem de negócio são alguns dos fatores que naturalmente
pressionam seus gestores a atualizarem seus processos, produtos e relacionamentos. 4
Portanto, tratar de criatividade e inovação não é pauta de médias e grandes organizações,
que são mais complexas, que possuem recursos vultuosos, ou que operam em segmentos

Universidade São Francisco


mais significativos. São, na verdade, posturas e condutas de comportamento na justa me-
dida do porte, da atividade empresarial e da adaptação em busca de focos diferenciados.

2. GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS


Planejar, dirigir, organizar e controlar em uma organização não governamental significa
olhar para frente, visualizar o futuro e o que deverá ser feito para ajudar as pessoas a
elaborar e a executar ações necessárias para melhor enfrentar os desafios do amanhã.
Com ou sem profissional em cada área de atuação, a entidade precisará iniciar os tra-
balhos e ir fazendo acontecer independentemente se possui gente qualificada ou não
em cada área de atuação.
A profissionalização das organizações do Terceiro Setor requer, obrigatoriamente, a
utilização das funções de um administrador, de um contador e de um advogado, além
das demais funções operacionais das quais a entidade irá atuar.
Porém, Kwasnicka (2003, p. 94) diz que
[...] era uma filosofia simples demais. As pessoas são levadas a fazer coisas
para obterem mais dinheiro. Ninguém atinge o ponto onde não quer mais
dinheiro, porém todos nós chegamos a um ponto em que pensamos haver
mais alguma coisa além de dinheiro. [...] Segundo os autores comportamen-
tais, a influência sobre a motivação individual na organização é uma função
controlada parcialmente pela organização e parcialmente pelas relações ex-
traorganizacionais, ou seja, pelos fatores comportamentais dentro da organi-
zação e pelos fatores externos fora do controle da organização.

Talvez aqui esteja a tarefa mais simples ou a mais complexa/difícil de ser acompanhada
em uma organização não governamental.
Qualquer contador diria que o primeiro passo é a elaboração do Estatuto social da
organização e a definição dos cargos, e quem fará o que? Quem fará cada tarefa desig-
nada? Ou, quem vai correr atrás do que for necessário?
Já o administrador irá pensar em como arrecadar recursos financeiros, humanos, o
marketing e a manutenção da organização, onde irá aplicar os recursos arrecadados.
A intenção de ambos os profissionais não é de engessar a empresa, mas sim pensar
no planejamento da organização como um todo diante do cenário e do objetivo que a
entidade está se propondo a trabalhar e a contribuir com a sociedade.
No primeiro momento surgem as primeiras dificuldades em arrecadar recursos para o
início das atividades que pode vir de doações de pessoas físicas (amigos) ou jurídicas.
Geralmente as primeiras doações são de pessoas mais próximas que acreditam na ideia do
fundador: a gestão se inicia a partir do momento que o gestor começa a pedir aquilo que ele
necessita e começa gerenciado a arrecadação e a distribuição aos que necessitam.

Empreendedorismo Social 124


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

IMPORTANTE!
Caso da Gestão da ADEVIRP (Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto e Região)
4 A ADEVIRP é gerenciada por um contador e ex-gerente da Caixa Econômica Federal. Vários
são os obstáculos na gestão de organizações não governamentais. Então, o empreendedor
e seu grupo de trabalho vão lutando para conseguir dar os passos até que se consiga sobre-
viver nos três primeiros anos.
A entidade em 2022 encontra-se consolidada e recebe apoio da comunidade local e conta
com recursos financeiros do:
9 Conselho Municipal da Criança e do Adolescente;
9 Prefeituras Municipais de Cajuru, Morro Agudo, Orlândia, Pitangueiras, Pradópolis, São
Joaquim da Barra, Santa Rosa do Viterbo, Serrana e Sertãozinho;
9 Secretaria da Assistência de Ribeirão Preto;
9 Secretaria da Educação de Ribeirão Preto;
9 Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo.

IMPORTANTE!
A Gestão da CIEDS – Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável
Como construir o planejamento e garantir que será cumprido?
Olhar para o futuro é fundamental para o sucesso e a sustentabilidade de uma instituição, inclu-
sive do terceiro setor. Mas é importante fazê-lo sem se desconectar do presente, das tendên-
cias e, especialmente, dos contextos socioeconômicos em que se está inserido. Por isso, uma
das etapas mais importantes para a gestão eficaz de qualquer organização é o planejamento.
No CIEDS, desde os primeiros anos e completando 25 anos de atuação em 2023 – sempre
pensou no futuro considerando o tripé: governança, planejamento estratégico e monitoramento.
Para elaborar o planejamento coletivamente pela área de PGG (Planejamento, Gestão e
Governança), existe uma equipe autogerida formadas na instituição desde 2021. A entidade
chamou o trabalho elaborado sobre os aspectos de governança do modelo de gestão, de
Prosperidade 360, e entende como o fluxo e os processos de trabalho podem ajudar a orga-
nização a construir um planejamento sólido e, a garantir que o planejamento seja cumprido,
com rotinas de monitoramento.
Construção de objetivos e iniciativas
Para que o CIEDS alcance os resultados de impacto socioambiental positivos esperados, a
equipe de Planejamento, Gestão e Governança constrói um planejamento estratégico a par-
tir de um processo que envolve mapeamento de macrotendências; hackathons disruptivos,
com forte aspecto de inovação; convidados externos que trazem novos olhares; entre outras
dinâmicas internas e externas.
Definição de indicadores de sucesso
Os indicadores são uma ferramenta para tangibilizar o sucesso de uma ação. O indicador de
sucesso deve materializar-se em cifras tangíveis ou em uma entrega concreta que possa evi-
denciar a conclusão da iniciativa estratégica em questão, considerando os recursos, prazos
e qualidades acordadas.

Fonte: CIEDS, Como construir seu planejamento e garantir que será cumprido?
Disponível em: https://www.cieds.org.br/noticias/detalhe/como-construir-seu-planeja-
mento-e-garantir-que-sera-cumprido.
Acesso em: 22 jan. 2023.

125
SAIBA MAIS
Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/10/entenda-como-ocorrem- 4
-fraudes-nos-convenios-entre-ongs-e-governos.html.

Camping Cachoeira Saltão ♿ localizado em Itirapina/SP - um camping com acessibilidade

Universidade São Francisco


e inclusão.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NXErdZudxEY.

Acesso em: 27 jan. 2023.

2.1. CORPO DIRETIVO E SUAS ATRIBUIÇÕES


Partindo do que foi estabelecido no Estatuto de constituição da entidade e da Assem-
bleia Geral Ordinária, sugerimos que seja elaborado o organograma da entidade.

O organograma é um gráfico que irá compor a estrutura hierárquica da organização so-


cial, que comtempla simultaneamente os diferentes elementos do grupo, suas ligações
e as atribuições de cada cargo de acordo com a classificação Brasileira de Ocupações
(CBO) - documento que retrata a realidade das profissões do mercado de trabalho bra-
sileiro. Foi instituído com base legal na Portaria nº 397, de 10.10.2002.

A seguir retrataremos alguns dos cargos existentes no Estatuto de acordo com o Código
Civil Brasileiro.

9 Presidente – o presidente geralmente é a pessoa com iniciativa, ele visualiza o


problema e irá buscar uma solução de imediato. Seu cargo será o primeiro do orga-
nograma de uma ONG, ou de qualquer empresa: compete a ele convocar as assem-
bleias (ordinárias e extraordinárias), convocar as reuniões de diretoria e de Conselho,
dentre outras atividades que serão necessárias para o bom andamento da entidade;

9 Vice-presidente – o vice-presidente assumirá o lugar do presidente, em sua au-


sência e está ao lado do presidente no organograma de uma ONG, seu papel é o de
auxiliar e pode substituir o presidente, sempre que necessário;

9 Tesoureiro – é o responsável pelos pagamentos, possui a senha para autorizar


os pagamentos e para a movimentação financeira da entidade. Deve conferir antes
do pagamento se as compras foram autorizadas, se foram realizadas as cotações e
se cumpre aos fins a que se destina, autorizar e supervisionar as finanças, como pa-
gamentos e recebimentos, além de tratar dos aspectos relacionados a contabilidade
e a prestação de contas da entidade;

9 Secretário – exerce as atividades burocráticas e administrativas, como regis-


trar os assuntos tratados nas assembleias e reuniões e redigir as atas e o livro de
registro de atas.

Empreendedorismo Social 126


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

Figura 07. Organograma de uma ONG

Presidente

4 Tesoureiro
Vice-presidente
Marke�ng Secretário
Captação de Recursos
Operacional
deRecursos

Eventos
Saúde Educação

Fonte: elaborada pela autora.

SAIBA MAIS
AMA, Associação dos amigos do autista. Consolidação dos estatutos sociais.

Disponível em: https://www.ama.org.br/site/wp-content/uploads/2018/08/estatuto-vigen-

Acesso em: 14 nov. 2022.

2.2. PLANO DE TRABALHO


A elaboração do plano de trabalho segue a lógica diária das atividades existentes em
qualquer organização.

Partindo do Estatuto e das reuniões realizadas elabora-se o calendário anual do empre-


endimento social. Nele estará a visão das atividades que pretende realizar mensalmen-
te: manutenção preventiva e manutenção corretiva da organização.

a. Manutenção preventiva: dedetização, recarga de extintores, limpeza e conservação


de equipamentos de uso geral, pintura e manutenção do prédio, jardinagem, reparos
em torneiras, tomadas, portas, e janelas, laboratórios, salas de aprendizagem e aten-
dimentos, etc.

b. Manutenção corretiva: é aquela que acontece sem ter uma previsão: como um vaza-
mento da caixa d´água, um trinco/rachadura em uma parede, um vento/chuva inespera-
do destelha a entidade, um vendaval.

c. Reposição, manutenção, conserto: a entidade precisa ir fazendo as reposições ne-


cessárias de itens que vão se deteriorando com o uso: talheres, panelas, formas, lou-
ças, roupas de cama e banho, cestos de lixo, cadeiras, mesas, garrafa térmica, bebe-
douro de água, geladeira, ventiladores, limpeza e manutenção do ar-condicionado etc.

127
Pautado no fluxo de caixa mensal (entradas/saídas) e no histórico do que vai sendo
criado na entidade, ano após ano, o gestor tem em mente quais serão as atividades de
captação e aplicação de recursos durante o ano e quais serão suas despesas anuais
além da folha de pagamentos e dos encargos trabalhistas. 4
Figura 08. Modelo de cronograma de trabalho

Universidade São Francisco


Fonte: elaborada pela autora.

À medida que o gestor vai dimensionando o que precisa ser feito, o trabalho vai sendo
delineado e as pessoas vão desenvolvendo suas atividades em função das propostas
de trabalho.

2.3. PRESTAÇÃO DE CONTAS PODER PÚBLICO


De acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu parágrafo único do artigo 70
[...] prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e va-
lores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta,
assuma obrigações de natureza pecuniária. (BRASIL, 1988 p. 23)

Por meio da prestação de contas a entidade apresenta aos “contribuintes” seus relató-
rios e demonstrativos contábeis.

Através das demonstrações, os usuários são capazes de assegurar a legitimidade do


funcionamento da entidade, das dívidas, dos estoques e saldos existentes, inclusive do
patrimônio (ativo imobilizado) existente.

Desta forma, a prestação de contas pode ser entendida como uma obrigação das partes
em apresentar as contas (resultados), pois representa um direito para o titular do bem (en-
tidade e órgãos públicos) e dever para o administrador que utilizou o bem prestar contas
à sociedade. A ação de prestação de contas deve acontecer mensalmente pautado em
documentos comprobatórios e dentro da legislação cabível e posteriormente a prestação
de contas aos possíveis interessados, e em Assembleia Geral. Ou seja, se a entidade
recebeu um determinado valor para usar em uma atividade, o recurso recebido somente
poderá ser utilizado para aquela finalidade.

Além disto, a entidade deve apresentar a sustentabilidade financeira, econômica e so-


cial além de cumprir os objetivos ao qual ela se propôs.

Empreendedorismo Social 128


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

Ainda pouco explorado em termos do terceiro setor, a estrutura Internacional para Rela-
to Integrado (RI) (2014) menciona que o pensamento integrado é mola propulsora que
uma organização dá aos relacionamentos entre suas unidades produtivas, bem como
4 os investimentos realizados e a criação de indicadores sustentáveis. O pensamento
integrado leva à tomada de decisão consciente de ações que levam em consideração a
geração de valor. Com a elaboração do relatório integrado (RI) leva-se em consideração
a conectividade e a interdependência entre os vários setores da organização e a redu-
ção de falhas e integra todos os fatores que afetam a capacidade de uma organização
no tocante a prestação de contas ao poder público.
Ressaltamos que a entidade, por meio de chamadas, solicita os recursos e depois deve
prestar contas apresentando os documentos que comprovem o efetivo gasto. Assim
sendo, na hipótese de tais documentos apresentados não serem adequados/idôneos
ou suficientes para atender a conferência e averiguação das demandas da adminis-
tração pública ou no caso de os mesmos não corroborarem a integridade do emprego
dos recursos repassados, o órgão público poderá solicitar uma intervenção judicial para
averiguar a veracidade e esclarecimentos sobre os itens que foram adquiridos com o
confronto com os documentos apresentados.

SAIBA MAIS
As Dimensões da Sustentabilidade e seus Indicadores.

Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/164528/1/Ferraz-


-as-dimensoes.pdf.

Acesso em: 16 nov. 2022.

Avaliação da aderência das organizações do terceiro setor ao relato integrado: um estudo de


caso da fundação Euclides da Cunha de apoio institucional à UFF.

Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalho-


Conclusao/viewTrabalhoConclusao.xhtml?popup=true&id_trabalho=10857916.

Acesso em: 17 nov. 2022.

2.4. PRESTAÇÃO DE CONTAS PARA A SOCIEDADE


Poucas são as pessoas que sabem o que é realmente uma prestação de contas. Ao se
deparar com uma entidade pedindo ajuda financeira, o idoso facilmente diz que apode
ajudar. Uma pessoa do outro lado da linha liga no telefone fixo e o motoqueiro vai bus-
car o dinheiro (em espécie). Assim funciona uma boa parte das doações recebidas em
dinheiro por entidades que arrecadam pelo telemarketing.

Prestar contas a quem confiou te dar recursos é o sinal de que a entidade adquiriu
credibilidade na comunidade na qual está inserida. As pessoas sentem-se obrigadas a
contribuir mensalmente com aquela entidade desde que ela seja séria ou que realmente
alguém de sua confiança utilize os serviços oferecidos a sociedade.

129
A sociedade em si não está preocupada com a prestação de contas, apenas se respon-
sabiliza em ajudar com aquilo que pode “doar” e a responsabilidade em prestar contas
fica a cargo dos responsáveis pela entidade e sua equipe gestora.
4
Nesse interim é que atribuímos a maior responsabilidade ao profissional da contabilida-
de. O Relato Integrado (RI) é um novo método de divulgação corporativa, que vem ga-
nhando destaque por integrar informações financeiras e de sustentabilidade da empre-

Universidade São Francisco


sa, de forma clara e concisa através do pensamento integrado num único documento.

Segundo Estrutura Internacional para Relato Integrado, 2014, p. 28-29), este documen-
to demonstra a capacidade da organização “[...] sobre como a estratégia, a governança,
o desempenho e as perspectivas de uma organização, no contexto de seu ambiente
externo, levam à geração de valor em curto, médio e longo prazo”.

SAIBA MAIS
Relato integrado.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eP7o4WiSRsw.


Acesso em: 16 nov. 2022.

Relato de sustentabilidade 2021.

Disponível em: https://www.childfundbrasil.org.br/quem-somos/?tab=governanca.


Acesso em: 01 fev. 2022.

Relatório de auditoria independente 2021.

Disponível em: https://www.childfundbrasil.org.br/wp-content/uploads/2022/05/Child-


Fund_Brasil_Relatorio_de_Auditoria_Independente_2021.pdf.

Acesso em: 14 fev. 2023.

REFLETIR
Aplicar uma temática estudada a uma situação da vida cotidiana (preferencialmente profissio-
nal), mostrando que tal reflexão contribui para um melhor entendimento.

Por exemplo, ao trabalhar o aspecto da técnica como modificação do mundo – problematizar


dominação sobre o mundo, benefícios e malefícios, decisões e valores etc.; podendo ser
através de uma notícia, um estudo de caso, uma pesquisa ou outro objeto de informação que
possa conectar com o assunto do capítulo.

Empreendedorismo Social 130


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

3. EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA – O ENSINO DO


EMPREENDEDORISMO NA ESCOLA
4 Quando se fala em educação, alguns dirão que ela vem de berço. Mas quando fala-
mos de empreendedorismo, alguns dizem que está no sangue do empreendedor, cair
e levantar, a cada dia. Ao iniciar um novo dia, é uma nova oportunidade de começar
algo novo, de criar, de inovar, de gerenciar conflitos, de negociar, de comprar ou
vender, de fazer networking, de se relacionar com pessoas e descobrir novas oportu-
nidades. Parece simples, acordei, tive uma ideia, vou falar com meu professor de por-
tuguês, de matemática, de história, de geografia, de educação física, ou de ciências,
e abrir um negócio.

Em bairros populares é comum conversar com uma criança com o sonho de empreender.

EXEMPLO
José, conhecido na vizinhança como Zé, sempre trabalhou na informalidade e nunca se
preocupou em pagar a previdência social. Apesar de trabalhar em tais condições, acabou
empreendendo por necessidade, o aprender fazendo. Zé vende pipas e papagaios, sua
família produz varetas, corta e cola o papel e amarra para no final produzir uma pipa que é
vendida em dois períodos do ano: nas férias escolares de julho e dezembro (alta demanda).

O que Zé não contava era com o imprevisto: certo dia sofreu um grave acidente de moto, pre-
cisando no fim das contas colocar pino no pé. No entanto, para bancar e realizar a cirurgia, o
montante que possui das vendas não é o suficiente.

Isso desperta em seu filho mais novo, uma criança, o interesse de ajudar o pai e sua família.
“Vou vender uma pipa”, “vou vender linha chilena”, “vou vender”, em outros termos, é o não
o aprender a fazer, isto é, o desejo e o despertar do empreendedorismo na criança, quando
esta ainda não pode (e nem deve) trabalhar.

Junto com as outras crianças da comunidade, que também desejam ter dinheiro para com-
prar a pipa ou o papagaio nas férias da escola, o filho do José quer soltar a sua e lançá-la no
céu colorido junto com as outras pipas

Depois da família, a escola é considerada o segundo lar, onde o indivíduo aprende a


conviver em sociedade, a dialogar, a fazer networking, a criar, a gerenciar conflitos, e
a comprar na cantina da escola sem ter poder de negociação, pede, compra e paga.

Para Dolabela (1999), o empreendedor cria e aloca valores para os indivíduos e para
a sociedade, ou seja, é fator de inovação tecnológica e crescimento econômico. É mo-
tivado pela liberdade de ação, automotivado. Arregaça as mangas, vai e faz, colabora
no trabalho dos outros. Tem mais faro para os negócios que habilidades gerenciais ou
políticas. Visa, principalmente, à tecnologia e ao mercado. Em outras palavras, segue
a própria visão e intuição, adota decisões próprias e coloca em primeiro plano a ação
em relação à discussão. Caso o sistema não o contente, ele o abandona para construir
o seu. As transações e a forma de negociar são seus modos de relação norteadores
(DOLABELA, 1999, p. 30-38).

131
SAIBA MAIS
FONSECA, Alexandre Pereira. História de superação de jovem que teve paralisia cere-
bral se transforma em livro. 4

Disponível em: https://patoshoje.com.br/noticias/historia--de-superacao-de-jovem-que-


-teve-paralisia-cerebral-se-transforma-em-livro-37076.html.

Universidade São Francisco


Acesso em: 30 nov. 2022.

Mercearia Paraopeba.
Disponível em: https://www.google.com/search?q=mercearia+paraopeba&oq=merce-
aria+paraopeba&aqs=chrome.0.0i355i512j46i175i199i512j0i22i30l2.8645j0j15&sour-
ceid=chrome&ie=UTF-#fpstate=ive&vld=cid:9552dc2c,vid:VckAaCrEVb8.

Acesso em: 30 out. 2022.

3.1. IMPORTÂNCIA DO EMPREENDEDORISMO NA ESCOLA PÚBLICA


E PRIVADA
A vontade de mudar de vida (empreendedor por necessidade) está estampada na face
do estudante em função das dificuldades vivenciadas em casa, no seu lar, no seu dia a
dia, a falta de alimento no prato (isso o faz ir para a escola pública para ter uma ou duas
refeições, ou talvez, todas as suas refeições diárias). A renda familiar não é suficiente
para suprir as necessidades básicas do ser humano enquanto indivíduo, ou, a primeira
necessidade é ter ar puro para respirar e água potável para beber, uma alimentação
saudável e nutritiva, ter um abrigo com segurança. Na prática não é tão simples e re-
quer uma série de estudos e fatores.

A escola em seu papel de formação do indivíduo, enquanto cidadão, é capaz de reali-


zar o desenvolvimento, estimular a criatividade e desenvolver autonomia e realização
pelo fato de fazer com que esse aluno pertença a um grupo e que ele se sinta querido
e reconhecido pelo trabalho que desenvolve fortalecendo, assim, sua autorrealização e
autoestima. Os primeiros passos do empreendedorismo estão enraizados no professor
com o estímulo ao aluno em começar a pensar em suas atividades e atitudes estimu-
lando o empreendedorismo por meio de jogos empresariais nas atividades diárias da
sala de aula. O docente deve ser capaz de inserir em sua disciplina mecanismos que
possibilitem a busca do conhecimento naquilo que o estudante gosta de fazer, estimu-
lando a buscar cada vez mais conhecimento naquilo que é bom ou que gosta de fazer.

Para quem é pai ou mãe, família mais próxima ou responsável de uma criança, e tem
uma visão de empreendedorismo, começa os primeiros ensaios de empreendedorismo.
A criança, ao observar o comportamento de seus pais, responsáveis e parentes, começa
de forma psicológica a querer vender figurinhas da copa na escola, tiara, maquiagem,
brigadeiro, frutas. Talvez esse seja os primeiros passos para o empreendedorismo.

Por não ser permitido ao jovem vender no ambiente escolar, a escola fracassa nessa
âmbito, embora seja a escola o espaço que deveria incentivá-lo e estimulá-lo a empre-

Empreendedorismo Social 132


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

ender. Por exemplo, o estudante poderia, uma vez por mês, vender seus brinquedos
usados, suas roupas, ou alimentos que sua família produz, estimulando uma relação
entre família, escola e comunidade.
4
Segundo Hirish (2004), as habilidades exigidas aos empreendedores podem ser clas-
sificadas em três principais áreas: técnica, administrativa e empreendedora. A primeira
área abrange redação, atenção, apresentações orais, organização, treinamento, tra-
balho em equipe e know how técnico. Quanto à habilidade administrativa, verifica-se
habilidades inerentes a administração de qualquer empresa, sendo elas: habilidade
para tomada de decisões, marketing, administração, finanças, contabilidade, produção,
controle e negociação. Trazer à tona a importância do empreendedorismo na escola
pública e privada nos remete a uma camada da população “podre” que vive com pou-
cos recursos e que não tem interesse algum pelo conteúdo abordado pelo professor na
sala de aula e tão pouco está preocupado em ter um compromisso com uma empresa,
com normas e regras a ser seguida, em ter horário para entrar e sair, ou cumprir o que
determina a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Por outro lado, escolas particulares, por meio de projetos, incentivam os alunos a de-
senvolverem trabalhos focando o empreendedorismo, como é o caso da Babson Colle-
ge, FGV, INSPER, SENAC (ensino profissionalizante) dentre outras.

CURIOSIDADE
Jovens do Ensino Médio desenvolvem projeto do copo que identifica substância do “Boa
Noite, Cinderela”.

Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/brasil/estudantes-gauchas-criam-copo-


-contra-boa-noite-cinderela-25602475.html.

Acesso em: 12 dez. 2022.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VbB6ky956cI.


Acesso em: 12 dez. 2022.

3.2. BENEFÍCIOS DO EMPREENDEDORISMO E DO SENSO DA


RESPONSABILIDADE NA ESCOLA
Ao pensar em agronegócio, por exemplo, entende-se que o pequeno produtor rural
acorda as 4h ou as 5h para tirar o leite da vaca, trabalhar a hora que for preciso para
alimentar o gado, e sabe o exato momento da chuva para semear a semente para o
plantio. Sem hora para acordar ou para deitar ele não pensa em se aposentar, seu
sustento vem daquilo que ele planta e que leva anos para produzir, com o senso de
responsabilidade de sua criação, formação e da educação vinda da sua família e da
natureza “aquilo que você planta, você colhe”.

O senso de responsabilidade já foi inserido no seu dia a dia enquanto criança pelos
seus pais: acordar cedo, cuidar do gado, cultivar, plantar, colher, vender, negociar etc.

133
Esse profissional aprendeu na lida a colocar em prática suas habilidades de administra-
dor, sua competência (característica de um indivíduo), abordando diferentes traços de
personalidade, habilidades e conhecimentos, que partem da influência e de experiências,
treinamentos, educação, família e outras variáveis demográficas. As competências ne- 4
cessárias ao empreendedor, segundo Hashimoto (2006), são: capacidade de liderança,
capacidade de influenciar pessoas e construir redes de relacionamento, desenvolvimento
de visões e pensamento estratégico, habilidades de comunicação, capacidade de criar e

Universidade São Francisco


inovar, determinação, organização e estruturação de ideias, sensibilidade e percepção.

É preciso ter força de vontade para empreender, pois o senso de responsabilidade é


grande quando se empreende. A responsabilidade começa na interação/imposição dos
pais a partir do momento que a criança passa a ter responsabilidades no seu dia a dia,
quando começa a arrumar a cama a limpar o quarto; colocar o lixo; lavar as louças; aju-
dar na limpeza da casa, na preparação das refeições; ter horário para cumprir e ter ati-
vidades programadas. Nesses primeiros gestos, a criança vai se formando e recebendo
um aprendizado em família, isto é, um senso de responsabilidade (família – educação
– conhecimento – aprendizado – empresa – sucessão na empresa familiar).

Aquilo que a criança vive é o reflexo dela na escola, ou seja, se em casa a criança não
tem exemplo dos pais cumprindo horário no trabalho, a criança também não cumprirá
com seus fazeres na escola e na vida adulta. O exemplo pode vir de casa, da igreja,
da escola, da comunidade em geral. A escola por si só não forma o cidadão melhor, é
preciso que exista um mix entre o todo (por exemplo, família, escola e igreja) para que
a pessoa tenha vontade de estudar, de trabalhar, ser automotivado para desenvolver
suas habilidades.

Se o indivíduo quiser empreender, ou aprender uma nova profissão/formação, basta


ter curiosidade e buscar a informação no mundo inteiro por meio de tantas informações
que podem ou não estar à disposição, como a internet, a respeito de como empreen-
der, como criar um novo negócio ou um novo produto. Dolabela (2003) ressalta que o
empreendedorismo também é algo que pode ser aprendido. É provável que as pessoas
que não desenvolveram esse potencial não obtiveram estímulos advindos da sociedade
em seus grupos mais próximos e intenso, tais como a família, a escola, etc. De forma
resumida, nascemos com potencial empreendedor, no entanto, muitas vezes abando-
namos essa possibilidade por influência de membros da comunidade familiar, escolar,
e de nossas relações sociais.

SAIBA MAIS
O texto a seguir aborda aspectos importante relacionados a Educação Empreendedora, a
estratégia de investimentos de impacto, explicitamente alinhado aos Objetivos de Desenvol-
vimento Sustentável das Nações Unidas.

Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/


inovacao/enimpacto/InvestimentosdeImpactonoBrasil2020ANDE.pdf.

Acesso em: 12 dez. 2022.

Empreendedorismo Social 134


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

3.3. APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS


No dicionário Aurélio, a palavra “projeto” é definida: [Do Latim projectu, particípio pas-
sado de projicere, ‘lançar para adiante’]. Plano, intento, desígnio (FERREIRA, 2004).
4 Quando falamos da importância do empreendedorismo na escola estamos pensando
no ensino e aprendizado voltado para o projeto que pode ser o projeto de vida do aluno
“sonhar” e “realizar”.
À educação, portanto, cabe transmitir saberes e saber-fazer numa visão
evolutiva e não apenas acumular determinada quantidade de conhecimen-
tos e sentir-se infinitamente completo. É necessário aproveitar e explorar,
do começo ao fim da vida, todos os momentos de modernizar, aprofundar e
enriquecer seus conhecimentos acumulados e de se adaptar ao mundo em
mudança. (DELORS, 2005, [n.p.])

A liberdade para correr atrás daquilo que se tem vontade é um fator fundamental para
o empreendedorismo e, sem ela, torna-se complexa a transformação de ideias em re-
alizações (HASHIMOTO, 2006). Quando se pratica o ensino focado na aprendizagem
baseada em Projetos, é preciso fazer o aluno pensar em pequenos detalhes, como o
mundo que vive, a vida real, a realidade do dia a dia e o “sonho da vida melhor” – “pro-
jetos”. São iniciativas que envolvem o desenvolvimento de novos produtos e processos
em função da aprendizagem desenvolvida na escola e, nesse caso, o professor deve
estar motivado a injetar na veia do aluno a vontade de elaborar o projeto.

O projeto pode ser uma viagem para conhecer um museu ou uma indústria de grande
porte. Baseado na visita técnica, o professor vai trabalhando habilidades e conheci-
mento e incentivando o aluno a pensar na estrutura de uma empresa desde a portaria
até o Chief Executive Officer (CEO), o controle interno, os custos, as despesas, as
ferramentas, maquinário, capital de giro, o recurso humano e a linha de produção. Não
necessariamente o estudante deve empreender de imediato, o professor pode ensiná-lo
a pensar enquanto funcionário (intraempreendedor) de uma empresa. Empresas mu-
dam, se adaptam, melhoram, inovam buscam o crescimento por meio de projetos de
melhoria contínua ou inovadores. Algumas empresas investem em seus funcionários
para que eles possam crescer junto investindo em tecnologia, infraestrutura, projetos,
novos produtos ou processos.

À medida que a organização vai evoluindo e crescendo, o aprendizado de seus


funcionários caminha junto (aprender fazendo); o funcionário vai melhorando seu
desempenho e vão surgindo novos projetos de inovação, de melhorias de proces-
sos e ações relacionadas à redução de custos. Essa evolução pode ocorrer por
meio de iniciativas de seus colaboradores (intraempreendedores) que possuem uma
base multidisciplinar (escola empreendedora), o pensar na organização; neste sentido,
a eficiência de tais projetos exige intensa cooperação e competência de organização
para realizar planos de longo prazo (HASHIMOTO, 2010).

Entre os possíveis projetos estão os pessoais de compra de uma casa ou apartamento,


arquitetônico, estrutural, pedagógico, social, de um produto ou de um serviço, dentre outros.

135
SAIBA MAIS
AMARAL, João Alberto Arantes do; ARAUJO, Cíntia Möller. Programa: Aprendizagem basea- 4
da em projetos sociais. [S.I.]: [s.n.], [s.d.].

Disponível em: https://www.unifesp.br/campus/osa2/images/PDF/Aprendizagem%20

Universidade São Francisco


Baseada%20em%20Projetos%20Sociais.pdf.

Acesso em: 12 dez. 2022.


LOBOSCO, Antonio. Aprendizagem baseada em projetos aplicada ao ensino do empreen-
dedorismo: um estudo nas Fatecs Santana de Parnaíba e Ferraz de Vasconcelos. Fórum de
Metodologias Ativas, São Paulo, SP, vol. 3, n. 1, p-1-488, jul. 2021 ISSN 2763-5333.

3.4. EMPREENDEDOR COMPROMETIDO COM A SOCIEDADE


A educação empreendedora e o ensino do empreendedorismo na escola vai muito além
do que a escola ensina, na semana de planejamento pedagógico, o professor desen-
volve com seu grupo de trabalho as propostas pedagógicas e os planos de ensino para
o novo ciclo que se inicia: planejar o que será ministrado a cada semana, cumprir o
conteúdo programático, e preparar o aluno para o mercado de trabalho.
O despertar do interesse no aluno envolve vários fatores além da escola. Formar um
cidadão vai além do empreendedorismo na escola e da educação empreendedora. A
responsabilidade atribuída ao docente na vida do aluno é por uma formação enquanto
cidadão e na preparação para formação profissionalizada na perspectiva do envolvi-
mento do aluno no trabalho voluntário, desde a infância, dentro da instituição de ensino.
Criar um ambiente propício do interesso no aluno vai além do trabalho dentro da sala
de aula e é por isso que o professor deve estimular o aluno a conhecer espaços fora do
contexto da escola para entender a importância do empreendedor social na economia
e no contexto do local/bairro/cidade.
O empreendedorismo social tem se estabelecido como vocação de milhares de entida-
des que buscam tanto o atendimento às diversas expressões da questão social, como a
solução dos problemas sociais e, assim, almeja dar mais eficácia às ações das ONGs.
O empreendedor comprometido com a sociedade é aquele que tem uma visão ampla
do todo organizacional, é visionário, acorda cedo, dorme tarde, busca informações, faz
networking, possui habilidades de gestão, de compras, vendas, planejamento, feedba-
ck, resolve problemas rapidamente, é ágil na solução de conflitos focado na satisfação
do cliente. Thompson (2002) retrata que os empreendedores sociais podem ser encon-
trados em três setores:
¾ negócios com fins lucrativos que tenham algum compromisso em fazer o bem
ajudando a sociedade e o meio ambiente com suas estratégias e doações financeiras
e materiais;
¾ nas empresas sociais, criadas com um propósito na maior parte social, mas que
ainda são empresas; e
¾ no setor do voluntariado ou organizações não governamentais (ONGs).

Empreendedorismo Social 136


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

O empreendedor social tem como missão de vida construir um mundo melhor para as
pessoas terem uma condição de vida melhor (desde que elas queiram melhorar de vida)
(DORNELAS, 2005). Além disso, Parenson (2010) reforça que o empreendedorismo
4 social se refere à atividade inovadora com um objetivo social, tanto no setor com fins
lucrativos quanto no setor sem fins lucrativos ou entre outros setores. Mas o que seria
atividade inovadora no empreendedorismo social? Atender uma demanda reprimida da
sociedade pensando:
9 na criança;
9 no jovem;
9 no adulto;
9 no idoso;
9 na redução da fome;
9 na redução da pobreza;
9 na redução do desemprego;
9 no meio ambiente;
9 no clima e no ar;
9 dentre outros.

SAIBA MAIS
INFOMONEY. Geraldo Rufino: o ex-catador de latinhas que criou uma das maiores empre-
sas de reciclagem de caminhões.

Disponível em: https://www.infomoney.com.br/perfil/geraldo-rufino/.


Acesso em: 12 dez. 2022.
GRUPO ZUMIRA AMBIENTAL. Soluções completas em reciclagem e destinação de resíduos.

Disponível em: https://www.facebook.com/watch/?v=399275457669296.


Acesso em: 12 dez. 2022.
ONG BANCO DE ALIMENTOS. Transparência.

Disponível em: https://bancodealimentos.org.br/transparencia/.

Acesso em: 12 dez. 2022.


GOVERNO DO MATO GROSSO. Ações Sociais no sistema penitenciário ganham pro-
jeção nacional.

Disponível em: http://www.mt.gov.br/-/8192959-acoes-sociais-no-sistema-penitenciario-


-ganham-projecao-nacional#:~:text=Os%20projetos%20de%20Mato%20Grosso,mil%20
iniciativas%20inscritas%20no%20Innovare.

Acesso em: 12 dez. 2022.

137
CONCLUSÃO
Pouco se falava do ensino do empreendedorismo nas escolas públicas ou privadas,
pois o foco de ensino é um pouco de português, matemática, ciências, história e geogra- 4
fia. Em algumas épocas, inclusive, em função da mudança do currículo escolar, o aluno
teve um idioma incluso (francês, inglês ou espanhol). Em outros termos, a base do ser
humano estava formada, pronta para o ingresso ao ensino técnico e profissionalizante

Universidade São Francisco


ou para migrar para o mercado de trabalho braçal.

Enquanto alguns estudantes continuavam estudando em escolas melhores em função


da sua condição de vida financeira, poucos se aventuravam em empreender pois falta-
vam oportunidades e informações: na escola, os alunos foram doutrinados ao senso da
responsabilidade, a cumprirem regras e horários, além de serem comprometidos com
algo que o seu entorno necessitava (um ajuda o outro naquilo que pode).

O empreendedorismo social tem se estabelecido como vocação de milhares de entida-


des que buscam tanto o atendimento às diversas expressões da questão social, como
a solução dos problemas sociais. O empreendedor comprometido com a sociedade é
aquele que tem uma visão ampla do todo organizacional, é visionário, busca informa-
ções, faz networking, possui habilidades de gestão, de planejamento, feedback, resolve
problemas, é ágil na solução de conflitos focado na satisfação do cliente e usa o marke-
ting a favor da sua empresa.

Partindo do ensino do empreendedorismo na escola fica mais prático para o aluno apli-
car metodologias ativas para a aprendizagem baseada em projetos, focando naquilo
que ele busca para suprir uma demanda da sociedade não atendida pelo setor público.
Por meio da pedagogia empreendedora o docente será capaz de incluir projetos sociais
para estimular o aluno a pensar e a vivenciar a realidade no contexto que está inserido.
Partindo da elaboração de projetos, o empreendedor comprometido com o tripé da sus-
tentabilidade (econômica/social/ambiental) abraça a causa que a sociedade necessita
em um curto espaço de tempo.

4. TENDÊNCIAS: ECONOMIA COLABORATIVA E CONSUMO


CONSCIENTE
Dados os processos considerados sociais, apresentamos a forma com que as pessoas
exercem o seu consumo que está em constante mudança, (CIPRIANO; CARNIELLO,
2018). É possível notar que, nos últimos anos, a tecnologia e a comunicação, de modo
geral, impactaram de forma intensa as organizações, propiciando que diversos avanços
fossem realizados na criação de novos produtos e processos. É possível, inclusive,
visualizar que o consumidor também mudou, passando a se preocupar com o impacto
de suas compras, seus descartes e assim por diante.

Esse conjunto de pequenas mudanças trazem para o mercado uma necessidade de


adaptação para sobreviver. Os modelos de negócios passaram por transformações e
a economia colaborativa emergiu em um contexto em que as pessoas se apoiaram
em quatro aspectos: relacionamento, tecnologia, colaboração e compartilhamento (CI-
PRIANO; CARNIELLO, 2018).

Empreendedorismo Social 138


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

Com base nisso, neste capítulo serão abordados as principais mudanças que causaram
estas tendências, bem como conceitos e pilares relacionados à denominada “economia
colaborativa”, de modo que seja possível relacioná-los ao consumo e também à inovação.
4
4.1. AS MUDANÇAS DE IMPACTO
Como consumidores, talvez já tenhamos notado que nossos comportamentos podem
mudar de acordo com a necessidade ou a renda em determinado período do mês. No
cotidiano, estes aspectos são corriqueiros, no entanto, não são só aspectos relacionados
à renda e às necessidades que acabam por impactar a forma com que nós, indivíduos,
compramos. Em defesa deste ponto de vista, Parente, Geleilate e Rong apontam que:

Os clientes estão exigindo soluções cada vez mais complexas, sustentáveis e integra-
das, em vez de produtos e serviços padronizados e homogêneos. Além disso, uma
confluência de eventos importantes estimulou o rápido desenvolvimento e adoção da
chamada “economia compartilhada”. Fatores como a onipresença da internet e dos
dispositivos móveis, abundância de mercadorias em capacidade ociosa, crescimento.

A conscientização do consumidor em relação à sustentabilidade ambiental e a reces-


são econômica levando a taxas de desemprego mais altas atraíram os consumidores
para transações que lhes permitem acessar e lucrar com mais conveniência de ativos
subutilizados. Empresas globais de economia compartilhada, como Uber, Airbnb, Lyft e
WeWork, alcançaram resultados impressionantes tanto local quanto internacionalmen-
te. (PARENTE; GELEILATE; RONG, 2018, p. 53, tradução nossa)

De acordo com Santos e Pereira (2019), existem condutores que impulsionam a econo-
mia colaborativa, conforme a Figura 08 a seguir.
Figura 09. Condutores

Condutores sociais

• Define-se por um estilo de vida independente, apresentando preocupação com o


meio ambiente, sustentabilidade e desalinhamento com a cultura consumista.
Condutores: mentalidade sustentável, altruísmo e estilo de vida

Condutores econômicos

• Parte do desejo de gerar novas fontes de renda e maximizar a utilização de


recursos. Condutores: disparidade econômica, limitação de recursos

Condutores tecnológicos

• Surgimento de sistemas ou plataformas que auxiliem nas novas formas de


transação. Condutores: tecnologia (redes sociais, dispositivos móveis, novos
sistemas de pagamento etc.)

Fonte: adaptada de Santos e Pereira (2019, p. 7).

139
Desse modo, é possível destacar que além das mudanças comportamentais tradicio-
nais do consumidor, é possível que ele também seja influenciado nas esferas sociais,
econômicas e tecnológicas. Assim, no âmbito dos condutores sociais é necessário des-
tacar a crescente preocupação dos consumidores com o impacto de suas compras no 4
meio ambiente. Deste modo, o estilo de vida dos indivíduos vai se adaptando à uma
mentalidade mais sustentável e alinhando-se à uma cultura menos consumista.

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Além disso, no aspecto econômico, as mudanças de impacto são caracterizadas por
meio da limitação de recursos, surgindo como um meio alternativo de obtenção de ren-
da. Airbnb e Uber são exemplos disso. Já nos condutores tecnológicos, a internet e a
ascensão das plataformas de negócios auxiliam na popularização destes negócios, por
meio da facilidade e forte presença no dia a dia dos consumidores.

SAIBA MAIS
Brave Blue World – A crise hídrica

Disponível em streamings como Netflix, este filme lançado em 2020 apresenta como as ino-
vações podem auxiliar no desenvolvimento de soluções para um recurso crucial para nossa
existência: a água.

4.2. ECONOMIA COLABORATIVA: OBJETIVOS E PILARES


Emergindo nos últimos anos como uma abordagem considerada disruptiva, quando
comparada à economia tradicional, a economia compartilhada apresenta como premis-
sa um mundo mais sustentável ao permitir acesso a recursos não utilizados a preços
mais baixos (MUÑOZ; COHEN, 2017).

O termo economia colaborativa surgiu nos anos 1990 nos Estados Unidos e foi im-
pulsionada pela intensificação do uso de tecnologias (SILVEIRA; PETRINI; SANTOS,
2016), sendo também conhecida como economia compartilhada. Seu conceito vem
sendo debatido amplamente no mundo acadêmico, especialmente devido ao impacto
que vem gerando através do crescimento de organizações que trabalham desta forma
(HOSSAIN, 2020). Descreve como as organizações conectam usuários e proprietários
através de uma dinâmica Consumidor-Consumidor, do inglês Consumer to consumer
(C2C) (PARENTE; GELEILATE; RONG, 2018).

O compartilhamento pode ser um termo que se confunde, principalmente se conside-


rarmos o botão “compartilhar” das redes sociais. No entanto, aqui, o leitor é convidado
a focar em empresas como Airbnb e Uber para compreender tais conceitos. Como pro-
prietário de um veículo ou imóvel ocioso, você pode obter algum tipo de ganho através
do compartilhamento.

Do ponto de vista da sustentabilidade, o compartilhamento faz uso do aproveitamento


dos recursos, associado comumente a ganhos financeiros e também pode se apresen-
tar de forma não comercial (TIGRE; PINHEIRO, 2019). Com a intensificação do uso da
internet e seu impacto nos modelos de negócio, surgiram as plataformas de negócios,

Empreendedorismo Social 140


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

diferenciando-se das empresas tradicionais. Estas plataformas, conforme Magaldi e Sa-


labi Neto (2020), visam, dentre outros objetivos, conectar os usuários e soluções.

Além deste novo modelo de negócio, também pode-se destacar que a economia com-
4
partilhada impacta positivamente os pilares da sustentabilidade: o social, o econômico
e o ambiental, uma vez que substitui o consumo excessivo. De acordo com Hossain,
tais plataformas ainda enfrentam desafios, principalmente no âmbito da regulamenta-
ção, que ocorre de forma diferente entre os países onde este tipo de economia vem se
popularizando (HOSSAIN, 2020).

Os pilares da economia compartilhada podem ser definidos como:

¾ Sustentabilidade: fazendo uso de bens ou serviços ociosos.

¾ Confiança: ao confiar no usuário para usufruir do seu veículo ou casa, por exemplo.

¾ Tecnologia: como apoio e meio de garantir o bom funcionamento da interação


entre usuários.

A economia compartilhada também encoraja a eficiência de recursos, a redução de lixo


e baixo consumo (HOSSAIN, 2020). De maneira complementar, a literatura econômica
e empreendedora aponta que o sucesso obtido pelos negócios inseridos na economia
compartilhada é tão disruptivo que o conceito vem se expandindo além de startups,
estendendo-se a demais setores da indústria como um todo (PARENTE; GELEILATE;
RONG, 2018). Uma forma de exemplificar isso é através da compreensão de que, a par-
tir do Uber, grandes empresas, investiram neste segmento. A Volkswagen, por exemplo,
investiu na concorrente do Uber, chamada de Lyft.

SAIBA MAIS
Título: Inovação e sustentabilidade.

Esse texto complementar apresenta os desafios para organizações e também para a socie-
dade, os aspectos econômicos e a sustentabilidade. Trazendo como debate a inovação den-
tro do Tripé da Sustentabilidade. Apresentando desde conceitos até conteúdos sobre design
de produtos, a responsabilidade social estará sempre presente neste texto que complementa
este capítulo.

SILVA, C. L. da et al. Inovação e sustentabilidade. Curitiba: Aymará Educação, 2012. —


(Série UTFinova).

Disponível em: https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/2066/1/inovacaosusten-


tabilidade.pdf.

Acesso em: 19 dez. 2022.

141
4.3. CONSUMO E SUSTENTABILIDADE
O consumo é um tema que vem sendo debatido globalmente, inclusive em eventos
internacionais e agendas da Organização das Nações Unidas (ONU) (SCHAEFER;
CRANE, 2005). No marketing, é tratado como um aspecto hedônico do comportamento 4
humano, ou seja, se relaciona ao desenvolvimento do prazer (SCHAEFER; CRANE,
2005). Do ponto de vista sociológico, reforça-se esse conceito e também o importante

Universidade São Francisco


papel que o consumo desempenha na construção da identidade do indivíduo, de comu-
nicar- se e desenvolver-se socialmente ou ainda maximizando sentimentos de felicida-
de (HUANG; RUST, 2011).

O nível de consumo entre países é consideravelmente distinto. Nota-se, por exemplo,


que em países em desenvolvimento (entre eles o Brasil), a elite consome produtos
tão sofisticados quanto de países desenvolvidos (por exemplo, os EUA), enquanto nos
países mais industrializados e desenvolvidos, partes de sua população apresentam ní-
veis de consumo mais baixos que a média (SCHAEFER; CRANE, 2005), o que é um
aspecto interessante a se considerar uma vez que, com mais riqueza e mais acesso,
os indivíduos seriam capazes de consumir mais e obter os benefícios hedônicos do
consumo (HUANG; RUST, 2011).
Para Schaefer e Crane (2005), o comportamento individual é crucial no alcance do
consumo sustentável, uma vez que a tradução de suas respectivas demandas por bens
e serviços com características cada vez mais sustentáveis, que passam por produções
mais limpas e apresentam descartes mais amigáveis com relação ao ambiente, corres-
pondem a uma grande parcela no fomento de um consumo mais equilibrado.

O destaque para consumo e sustentabilidade ocorre dentro dos Objetivos de Desenvol-


vimento Sustentável das Nações Unidas. O objetivo 12 estabelece propostas para as
organizações e também para os indivíduos, de modo a enfatizar a necessidade de tra-
balho em conjunto tanto para diminuição do consumo desenfreado, mas também na re-
dução da geração de resíduos que ocorre por conta de tal comportamento (ONU, 2015).

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre o Objetivo 12 de Desenvolvimento Sustentável diretamente no site da
Organização das Nações Unidas (ONU).

Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/12.

Acesso em: 26 dez. 2022.

Neste contexto também surge o conceito de consumo colaborativo, que, de forma


cooperativa e inserido na economia compartilhada, aproveita as transformações tec-
nológicas e atuam de forma colaborativa, compartilhando não só ideias, mas também
produtos e interações (SILVEIRA; PETRINI; SANTOS, 2016).
Na próxima seção será possível notar a abordagem que conecta a inovação e consumo.
É visível em nossa sociedade que o surgimento de novos produtos gera o interesse em
comprá-los. No entanto, reflitamos com a próxima seção: se as empresas estiverem
engajadas na criação de inovações mais sustentáveis, como será o consumo do futuro?

Empreendedorismo Social 142


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

4.4. A RELAÇÃO INOVAÇÃO E CONSUMO


Durante este capítulo, alguns aspectos da economia compartilhada foram menciona-
dos, assim como elementos da relação entre consumo e sustentabilidade. É necessário
4 que façamos uma importante conexão: a relação entre a inovação e o consumo. Tam-
bém reflitamos que, ao mencionar as mudanças de impacto, ressaltou-se a importância
do comportamento do consumidor e também, a tecnologia.
Junto com a tecnologia, um elemento importante a acompanha: a inovação. A inova-
ção propiciada pela tecnologia e os esforços empregados pelas organizações a fim
de alcançar, não somente novos mercados, mas atender às expectativas dos clientes
são elementos cruciais para garantir que os consumidores tenham acesso a soluções
ambientalmente amigáveis. A inovação possui um papel crucial no desenvolvimento
econômico e humano.
No entanto, no atual cenário em que o consumo age como um elemento que degrada o
meio ambiente, ao apoiar-se em um processo mais limpo e voltado ao aproveitamento
de recursos, o cenário pode ser diferente. Não se pode deixar de destacar a impor-
tante vertente denominada inovação sustentável. Como consumidores, com certeza
já vimos os termos produto verde ou marketing verde. A inovação sustentável (ou
inovação verde) possibilita a criação de produtos socio responsáveis, de modo que tal
criação é intencional, uma vez que o objetivo dela é melhorar tantos produtos, serviços
ou processos em prol dos benefícios socioambientais de longo prazo e também, de
forma concomitante, gerar lucro (YOUNG LEE, 2021).
A inovação sustentável diverge da tradicional por ter a intenção e o compromisso com
as gerações futuras, e, através de uma orientação sustentável, tanto no aspecto das
operações, construção do sistema e da criação de produtos e serviços, gera valor no
âmbito social, ambiental e financeiro, que é denominado de valor compartilhado. Se-
gundo o esquema criado por Adams et al. (2016), as empresas podem inovar de forma
sustentável em três âmbitos, conforme figura a seguir.
Figura 10. Inovação sustentável

Eco-eficiência
Oportunidades novas no mercado
Objetiva fazer melhor.
Reduz o dano. Mudança social
Faz melhor criando novos
Estabelece melhorias no
produtos e serviços.
negócio. Faz melhor criando novos
Cria valor compartilhado.
Estabelece mudança no produtos e serviços e
coração do negócio. também em parceria.
Cria impacto positivo.
Estende alémda empresa
o impacto e mudança.

Fonte: adaptada de Adams et al. (2016, p. 185).

143
A partir desta figura pode-se concluir que a inovação é um aspecto de destaque dentro
da sustentabilidade e que possui um amplo impacto no consumo dos indivíduos. Em
um primeiro nível, na ecoeficiência, já é possível visualizar mudanças impactantes na
sociedade, de modo que as organizações empregam técnicas para fazer melhor com 4
o que já existe, ou seja, implementam melhorias processuais, otimizando recursos já
empregados. Dessa forma, é possível reduzir o impacto produzido por seus produtos
e serviços, através de uma produção que utiliza menos água ou energia, por exemplo.

Universidade São Francisco


Em um segundo nível, há oportunidades novas no mercado, de modo que a empresa
inova através da criação de novos produtos e serviços e mudando a forma com que se
cria valor. Aqui é importante destacar que o coração da empresa já não está direcionado
apenas à criação de valor financeiro (lucro) e sim de gerar um impacto positivo, tanto no
âmbito social quanto ambiental.

Por fim, temos a mudança social, cujo nível possui um impacto extenso na sociedade,
uma vez que expande o impacto da organização pouco a pouco na forma de viver dos
indivíduos e também na forma com que o mercado atua.

PARA REFLETIR
Como a inovação afeta o consumo?

Segundo a Springwise (2022), é possível identificar no mercado algumas práticas inovadoras


em prol do ambiente. Conheça alguma abaixo:

Desperdício de alimentos: Hazel Technologies preserva o frescor dos alimentos utilizando


ingredientes ativos para moderar o ar ao redor dos produtos. A tecnologia digital também é
um aliado na luta contra o desperdício, auxiliando os produtores de alimentos a encontrar um
lar para seus produtos. Nesse caso, a Full Harvest desenvolveu uma plataforma que conecta
aqueles que têm produtos excedentes ou ainda imperfeitos com os fabricantes que podem
usá-los (SPRINGWISE, 2022).

E-lixo (lixo eletrônico): com a disseminação de produtos tecnológicos, um grande problema


surge para a correta forma de descarte. Segundo a Springwise (2022), em 2019 cada pessoa
gerou cerca de 7,3 quilos de e-lixo, contudo, apenas 1,7 quilo foi reciclado. A tecnologia para
tratar adequadamente este aspecto ainda está em desenvolvimento, no entanto, há pesqui-
sas sendo realizadas para reduzir os esforços, gastos e energias para adequar seu descarte.

CONCLUSÃO
Neste capítulo foram abordados importantes conceitos sobre inovação sustentável,
economia compartilhada e consumo. Talvez você já tenha notado que o comportamento
de compra do consumidor (e até mesmo o seu) vem mudando nos últimos anos, assim
como as empresas, que vêm acompanhando a evolução da necessidade da sociedade
como um todo.

Convida-se, a partir deste capítulo, a refletir como a economia compartilhada, em con-


junto com a inovação e as mudanças comportamentais do consumidor, vai, pouco a
pouco, mudando a forma com que você consome.

Empreendedorismo Social 144


Educação, Inovação e Tendências no Empreendedorismo Social

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