POLÍTICAS MACROECONÔMICAS
PÓS-GRADUAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
MARINGÁ-PR
2013
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi
“As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”.
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POLÍTICAS MACROECONÔMICAS
Professora Me. Andréia Moreira da Fonseca Boechat
APRESENTAÇÃO DO REITOR
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por
tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de
problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará
grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento
por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conheci-
mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa
e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as
demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvol-
vimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a
articulação e a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja reconhecimento como uma instituição universitária
de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de compe-
tências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universi-
tária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade
interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento
permanente com os egressos, incentivando a educação continuada.
Professor Wilson de Matos Silva
Reitor
O Brasil está passando por grandes transformações, em especial nas últimas décadas, motivadas pela
estabilização e crescimento da economia, tendo como consequência o aumento da sua importância
e popularidade no cenário global. Esta importância tem se refletido em crescentes investimentos
internacionais e nacionais nas empresas e na infraestrutura do país, fato que só não é maior devido a
uma grande carência de mão de obra especializada.
Nesse sentindo, as exigências do mercado de trabalho são cada vez maiores. A graduação, que no passado
era um diferenciador da mão de obra, não é mais suficiente para garantir sua empregabilidade. É preciso
o constante aperfeiçoamento e a continuidade dos estudos para quem quer crescer profissionalmente.
A pós-graduação Lato Sensu a distância da UNICESUMAR conta hoje com 16 cursos de especialização
e MBA nas áreas de Gestão, Educação e Meio Ambiente. Estes cursos foram planejados pensando em
você, aliando conteúdo teórico e aplicação prática, trazendo informações atualizadas e alinhadas com as
necessidades deste novo Brasil.
Escolhendo um curso de pós-graduação lato sensu na UNICESUMAR, você terá a oportunidade de
conhecer um conjunto de disciplinas e conteúdos mais específicos da área escolhida, fortalecendo seu
arcabouço teórico, oportunizando sua aplicação no dia a dia e, desta forma, ajudando sua transformação
pessoal e profissional.
Antes de iniciarmos a nossa disciplina, vou falar um pouquinho sobre minha formação acadêmica. Sou
formada em Economia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mestre em economia pela
Universidade Estadual de Maringá e atualmente sou doutoranda em economia também pela Universidade
Estadual de Maringá. Sou professora de economia de cursos de graduação e pós-graduação tanto
presenciais quanto a distância da região de Maringá.
O tema política macroeconômica é muito interessante, discutido e importante para todas as pessoas,
principalmente para quem, como você, trabalha ou pretende trabalhar na administração pública.
Importante porque está no nosso dia a dia, pois qualquer decisão do governo em relação à economia
afeta diretamente nossas vidas.
Você, com certeza, já ouviu ou leu manchetes como as mencionadas abaixo nos principais jornais em
circulação no país:
• Banco Central aumenta a taxa de juros para conter a inflação.
• Dólar fechou o dia em alta.
• Trabalhamos em média 150 dias para pagar impostos.
• A carga tributária brasileira é uma das mais altas do mundo.
• Exportações brasileiras foram afetadas diretamente pelo câmbio baixo.
• COPOM aumentou a taxa SELIC em 0,5% para desacelerar a economia.
Mas você sabe exatamente o que cada uma dessas manchetes significa, ou como a sua vida é afetada
pelas variáveis citadas? É isso que aprenderemos na disciplina Políticas Macroeconômicas!
Neste momento, você deve estar se perguntando: ok, mas o que são políticas macroeconômicas? As
políticas macroeconômicas são as intervenções do governo na economia, estas intervenções podem ser
monetárias, fiscais, cambiais, comerciais e na formação da renda, sempre com o objetivo de promover o
bem-estar da população, no que diz respeito a emprego, distribuição de renda, crescimento econômico e
estabilidade da moeda.
Na unidade II, veremos duas políticas macroeconômicas: a monetária, que diz respeito à moeda e
à taxa de juros, e a fiscal, que relaciona-se aos gastos e arrecadação do governo.
Na última unidade, discutiremos a política cambial, ou seja, a atuação do governo no setor externo da
economia.
UNIDADE I
O SETOR PÚBLICO................................................................................................................................... 14
UNIDADE II
POLÍTICAS MACROECONÔMICAS
UNIDADE III
CONCLUSÃO............................................................................................................................................ 58
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 59
UNIDADE I
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
Caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade você estudará um assunto muito interessante que contribuirá
para sua formação como especialista em administração pública, que são as políticas macroeconômicas e
sua importância para o país e para a população de modo geral, mas para isto alguns conceitos precisam
ficar claros.
Nesta unidade, iniciaremos com alguns conceitos relacionados ao setor público. Imagino que, para alguns,
sejam conceitos novos e, para outros, servirá como uma revisão de algo que já conhecem. Falar sobre
o setor público, aqui no nosso país, é um desafio, é claro que temos os fundamentos e as definições
clássicas, mas infelizmente, ao falarmos sobre o setor público, muitos de nós pensam em corrupção e
coisas negativas; outros pensam: ah, é público não é de ninguém; enquanto deveríamos pensar: é público,
então é de todos nós! Vivemos em uma democracia e devemos valorizar isso.
Para começar, teremos alguns conceitos e definições sobre o setor público. Você sabe o que é um bem
público? Falarei também sobre o papel desse setor público e sobre o que ele faz, assim como sobre o
que ele deve fazer.
No terceiro momento, apresentarei a você a definição de alguns conceitos econômicos básicos, que
são fundamentais para o entendimento das políticas macroeconômicas. Tenho certeza de que você
já ouviu falar de todos os conceitos que serão discutidos, mas será que você sabe exatamente o que
cada um significa?
E, finalmente, falarei sobre a importância das políticas macroeconômicas para a estabilidade e crescimento
econômico, ou seja, sobre quais são os instrumentos que o governo pode e deve utilizar para que a
economia se estabilize e cresça.
Espero despertar em você algumas inquietações, curiosidades e, até mesmo, dúvidas, pois isso fará com
que você questione, pesquise e busque novos conhecimentos. Sabemos que é assim que se constrói o
conhecimento.
Bons estudos!
Com a grande crise econômica de 1929, começou a se discutir sobre qual é o papel do setor público, que,
por meio do governo, age na economia. Com isso, podemos dizer que o estudo do setor público dentro
da economia teve início em 1936 com John Maynard Keynes, o pai da macroeconomia moderna, e foi se
desenvolvendo e se aprimorando ao longo dos anos.
Fonte: <http://mises.org/daily/3845>
Após Keynes, em 1954, Paul Samuelson desenvolveu o conceito de bem-estar público, que procura
determinar simultaneamente a distribuição de renda e a eficiência alocativa. Então, a economia do
bem-estar público se preocupa com o bem-estar da sociedade como um todo, e este bem-estar é de
responsabilidade, direta ou indiretamente, do setor público.
Em 1971, o conceito de ação coletiva foi criado por Mancur Olson, em que a economia passou a se
preocupar com a oferta de bens públicos por meio da colaboração de, no mínimo, duas pessoas, e com
o impacto que este consumo gera aos demais, as chamadas externalidades. Ou seja, a partir da data
citada, a economia passou a estudar o impacto tanto negativo quanto positivo do consumo de um bem na
vida dos demais.
Por exemplo, imagine uma fábrica têxtil e um rio passando ao lado, lá existe uma comunidade de
pescadores que vive diretamente da pesca. A fábrica joga os dejetos no rio, poluindo e matando os
peixes, afetando assim a vida dos pescadores, que não terão mais como sobreviver da pesca nesta
localidade. Neste caso, o governo, por meio de suas políticas públicas, precisa interferir. Claro que
temos o caso ao contrário, em que várias pessoas se beneficiam com uma determinada ação individual.
Após discutirmos a respeito do surgimento do setor público e antes de defini-lo de fato, vou explorar alguns
conceitos importantes sobre variáveis pertencentes ao setor público. O primeiro conceito está relacionado
aos bens públicos. Você já ouviu falar em bens públicos e, com certeza, saberia citar diversos exemplos.
Mas você sabe o porquê de alguns bens serem ofertados pelo setor público? E quais as características
desses bens?
O bem público, como é de seu conhecimento, é um bem ou serviço ofertado pelo governo, seja federal,
estadual ou municipal. Estes bens têm como características serem não rivais e não excludentes, ou
seja, o consumo de um indivíduo, seja pessoa física ou jurídica, não reduz a quantidade disponível
para os demais, não sendo possível excluir os indivíduos que desejam consumir, independente de
terem pago ou não. Em outras palavras, a oferta de um bem público para uma pessoa faz com
que seja possível ofertá-lo para as demais, sem um custo adicional como, por exemplo, a defesa
nacional.
Fonte: SHUTTERSTOCK.com
Mas por que alguns são bens públicos? Por que as pessoas não pagam, diretamente, pelo consumo
desse bem?
Os bens públicos são públicos porque o mercado induz os indivíduos a não revelarem suas preferências,
ou melhor, é vantajoso para as pessoas não revelarem quanto estariam dispostas a pagar pelo consumo
Vamos pensar num exemplo, como a segurança em um bairro qualquer. Independente de quem paga,
a existência da polícia nesse bairro inibirá assaltos e todos os moradores são beneficiados de mesmo
modo, ou seja, a segurança é igual para todos, não tendo, assim, incentivo para um morador pagar e outro
não pela segurança. Neste caso, segurança pública é outro exemplo de bem público.
Para ficar claro como podemos saber se um bem é público, pense no quadro abaixo.
Conforme podemos ver no quadro acima, se um determinado bem é não rival e não excludente, ele é um
bem público. Caso contrário, é um bem privado. Para ilustrar esta situação, vamos pensar em dois bens,
segurança e energia elétrica. Primeiro, sabemos que a mesma energia elétrica não pode ser consumida
por duas casas diferentes. Neste caso, o seu consumo é rival. Em segundo lugar, o consumo da energia
é excludente, pois se a pessoa não pagar a conta, a empresa fornecedora corta o fornecimento da luz. Já
a segurança, não é possível uma pessoa ter e a outra, na mesma rua, não ter e nem o consumo por parte
de um indivíduo exclui o consumo do outro. Esta situação pode ser vista no quadro 2 abaixo.
Conforme você pode perceber, segurança pública é um bem público e energia elétrica é um bem privado.
Outro conceito que precisa ficar claro é o de bens de propriedade comum. Esse bem ocorre quando é
impossível atribuir preços ou exercer direitos de propriedade sobre um determinado bem. Esse tipo de
bem é rival e não excludente. Você deve estar se perguntando: mas qual seria um exemplo de um bem
rival e não excludente? Posso citar vários exemplos, como ar, pesca no mar etc.
Conforme pode ser visto no quadro 3, se um bem é rival, mas não é excludente, podemos classificá-lo em
bem de propriedade comum.
Por último, não posso deixar de discutir os monopólios naturais, que também são de responsabilidade do
setor público. Existem alguns setores da economia aos quais as empresas privadas não podem ofertar
bens de forma eficiente, como no caso da água, energia elétrica, saneamento básico, entre outros.
Você a esta altura deve estar me perguntando então o porquê de os bens dos setores citados serem
responsabilidade do governo, e o porquê de você pagar por eles.
A resposta para sua pergunta é simples. Estes são bens não rivais e excludentes, e o governo, como não
consegue ofertá-los de forma eficiente, concede o direito a uma empresa privada ofertar. E somente uma
empresa é a responsável, pois não é economicamente viável ter concorrência nesses setores.
Quadro 4. Quadro comparativo dos bens rivais e excludentes e não rivais e não excludentes
Resumindo tudo que foi discutido, se um determinado bem for rival e excludente, ele é um bem privado
e será ofertado por empresas privadas, como TV a cabo. Caso o bem seja rival, mas não excludente,
será uma propriedade comum, ou seja, é um bem a que todos têm acesso, mas se um tiver, diminui a
quantidade disponível para a outra pessoa, como a pescaria no mar.
Porém, se o bem é não rival e excludente, é um monopólio natural, que significa que é de responsabilidade
do governo, mas muitas vezes quem oferta são empresas privadas em razão dos custos, como o
saneamento básico. Se um bem é não rival e não excludente, é um bem público e é ofertado pelo governo,
como no caso da segurança pública. Todos os indivíduos terão acesso.
Como estamos estudando o setor público com foco nas políticas macroeconômicas, o nosso objeto de
estudo são as políticas e instrumentos que o governo pode utilizar para gerar bem-estar para a população,
de forma a manter altas taxas de emprego, baixa inflação, crescimento econômico, entre outros.
Agora que discutimos os conceitos de bens públicos, podemos apresentar o conceito de setor público.
Você já ouviu falar muitas vezes em setor público, talvez já tenha feito muitas críticas não somente
negativas a ele. Mas você sabe exatamente o que é setor público?
Discutir o conceito de setor público e setor privado não é uma tarefa muito fácil, mas vamos discuti-lo aqui,
lembrando que o assunto não se esgota! Segundo Eulálio (2010), a discussão do público e do privado é
bastante rica e com alguns contrapontos para os autores Jean Jacques Russeau e Jurgen Habbermas.
Nos seus estudos, Eulálio (2010) concluiu que, para Russeau, o setor público ou a coisa pública deve
representar o interesse do povo, da coletividade e o Estado é só uma das manifestações da coletividade
cuja tarefa deve ser a de intermediar os diferentes interesses entre público e privado. Russeau preconiza
que a esfera pública precisa de todo o aparato que conhecemos, ou seja, “requer um corpo político,
institucionalizado juridicamente” (apud EULÁLIO, 2010, p. 47). Para Habbermas (apud EULÁLIO, 2010, p. 47),
Assim, dois importantes autores sobre setor público e privado convergem em alguns pontos e o que, no nosso
ponto de vista, merece destaque, é de que cabe ao setor público mediar os interesses públicos e privados.
Então, setor público é uma parte do Estado e são todas as instituições controladas pelo poder político,
incluindo as das administrações públicas e as empresas públicas. Em outras palavras, o setor público
engloba a administração direta, que são os órgãos ligados diretamente ao Estado, as autarquias, que são
órgãos que englobam a administração pública indireta, como as agências reguladoras e as fundações,
nas esferas federal, estadual e municipal, além das empresas estatais.
Após definir setor público, surge uma pergunta: qual é o papel do setor público na economia brasileira e
na vida dos cidadãos? Você, caro(a) aluno(a), saberia responder essa pergunta?
Fonte: SHUTTERSTOCK.com
A discussão sobre o papel do setor público é muito complexa, pois são diversas funções e algumas delas
se misturam ao papel do governo na economia, mas todas estão ligadas ao desenvolvimento do país e à
geração de bem-estar social.
As funções do setor público variam de acordo com cada sistema econômico e também pelo regime
político no país naquele momento. Rangel (1988) observa que, nas economias socialistas, o Estado
atua diretamente na economia, tendo como funções controlar os fatores de produção e determinar as
atividades econômicas.
Até o século XIX, o capitalismo competitivo existente do Estado dominava, depois, o Estado passou a
ser liberal. Nessa época, era defendida uma intervenção mínima do setor público na economia. Agora
estamos em uma fase de Estado regulador, no qual o Estado interfere na economia, mas na forma de
regulação, e não diretamente nas decisões dos agentes econômicos.
Agora já sabemos que as funções do setor público se alteram ao longo do tempo. De um modo geral, o
papel atual e ideal do setor público é, segundo Tanzi (2000):
a. Criar regras e instituições para assegurar o cumprimento dos contratos e proteger o direito de
propriedade, contribuindo para a expansão do papel do mercado. Além de criar regras e institui-
ções para gerir a arrecadação e o uso da receita fi scal.
b. Estabelecer um quadro jurídico e regulatório que reduza os custos de transação, devendo pro-
mover a efi ciência do mercado, intervindo nas falhas do mercado.
c. Ofertar bens públicos em que o setor privado não tem interesse e que são essenciais, como se-
gurança pública e vias urbanas e resolver o problema de externalidade, quando não for possível
negociação entre os agentes envolvidos.
d. Estabilizar a economia.
e. Distribuir renda e proteger a camada da população que corre o risco de fi car abaixo da linha da
pobreza ofi cial.
Como você já percebeu, o Estado não pode ser estático e seu papel, além de variar de país para país,
deve evoluir com o passar dos anos, já que a própria sociedade se altera e a tecnologia avança.
“O Estado desempenha seu papel mediante um conjunto de regras, leis e instituições que orientam e conformam
o setor público. Quanto maior a qualidade desse setor, mais fácil para o Estado promover seu papel.” (TANZI,
2003, p.8).
Como também já discutimos, a existência do governo é necessária para guiar, corrigir e complementar
o mercado, que sozinho não é capaz de desempenhar todas as funções econômicas, funções estas
relacionadas, em nível macroeconômico, à distribuição de renda, estabilidade de preços, nível de emprego;
a) Função alocativa - está associada à provisão de determinados bens e serviços não ofertados,
de forma adequada, pela iniciativa privada. Segundo Costa e Souza (2008), por meio desta
função, o governo faz a provisão de determinados bens e serviços que o mercado não oferece
adequadamente devido ao sistema de preços, os chamados bens públicos. Esta função visa
corrigir as falhas de mercado e os efeitos negativos da externalidade.
Lembrando que os bens e serviços podem ser classificados, em relação a quem os oferta,
em privados e públicos. Os bens e serviços privados são ofertados pela iniciativa privada
e têm como característica a exclusividade e a rivalidade, ou seja, o consumo de uma
pessoa exclui a de outra, como por exemplo, um carro. Por outro lado, os bens públicos
são ofertados pelo governo e todas as pessoas podem consumi-lo, ou seja, o consumo de
um indivíduo não exclui o do outro. Imagine uma cidade que tenha um trânsito organizado e
seguro, independente de o pedestre ter pagado os impostos, ele se beneficiará da qualidade
trânsito.
Resumindo, posso excluir alguém que não comprou um carro de andar, já que automóvel é um bem
privado, mas não posso proteger o espaço dos que não têm carro ou que não pagaram os impostos
(bens públicos). Percebemos que o governo tem como função ofertar os bens e serviços que o
mercado não pode ou não deseja ofertar de forma eficiente.
Outro conceito que citamos acima foi de correção das falhas de mercado. As falhas de mercado
acontecem quando a alocação de bens e serviços não é eficiente e o governo tem como função
fazer com que a oferta seja eficiente. E para isto, são utilizados diversos mecanismos de correção.
Externalidade ocorre quando a atividade de um agente econômico atinge os demais de forma
positiva ou negativa. Quando o efeito é negativo, como a poluição de uma fábrica, o governo deve
intervir para minimizar, ou até mesmo eliminar, o efeito negativo.
Por meio das transferências, o governo promove uma redistribuição direta da renda, tributando as
pessoas com renda mais alta e subsidiando as com renda mais baixa, por exemplo, por meio das
alíquotas progressivas, que utilizam os recursos captados para ofertar serviços públicos, como
saúde, segurança, educação etc., de qualidade.
A estabilização pode ser feita por meio das políticas econômicas. As duas principais são
a monetária e a fiscal. A primeira se refere às ações do governo para controlar as variáveis
monetárias da economia, como moeda e taxa de juros. Já a política fiscal se refere às atividades
de arrecadação e gastos do governo, ou seja, a forma como o governo tributa a população e como
esses impostos serão redistribuídos à sociedade.
A partir das funções discutidas acima, podemos resumir que o Estado é responsável pelo
bem-estar e pela segurança da sociedade, e para isso utiliza as políticas econômicas e públicas.
Como o nosso objetivo neste momento não é discutir políticas econômicas, e sim políticas públicas,
vamos deixar de lado as políticas monetária e fiscal e vamos definir políticas públicas.
“O Estado deverá exercer uma infl uência orientadora sobre a propensão a consumir, em parte através de seu
sistema de tributação, em parte por meio da fi xação da taxa de juros e, em parte, talvez, recorrendo a outras
medidas” (KEYNES, 1983, pp.253-254).
Agora que você já sabe o que é e como é composto o setor público e as funções do governo, é necessário,
antes de iniciarmos a discussão sobre as políticas macroeconômicas, conhecer, ou para muitos alunos,
apenas lembrar alguns conceitos econômicos básicos que são fundamentais para compreender os
Estes conceitos serão apresentados por mim de forma sucinta, mas isto não o(a) proíbe de se aprofundar
nos conceitos econômicos em outras fontes de pesquisa. Para isso, no final desta unidade, sugiro dois
livros muito interessantes que apresentam alguns conceitos que serão discutidos e outros que não
englobam, diretamente, o objetivo da nossa disciplina.
Acredito que você esteja ansioso(a) para conhecer ou apenas relembrar estes conceitos, correto? Os
conceitos serão apresentados em ordem alfabética, e não de importância, até porque todos os conceitos
são importantes. Farei uma espécie de dicionário básico de economia para que você, ao ler as demais
unidades, não tenha dúvidas do que exatamente está sendo discutido e se, por acaso, alguma dúvida
conceitual surgir, que você possa rapidamente solucioná-la relendo este tópico.
• Balança comercial – é uma conta do balanço de pagamento que apresenta o valor total, em dóla-
res, exportado menos o importado pelo país. O ideal é que o valor exportado seja sempre maior do
que o importado, gerando assim, superávit comercial.
• Balanço de pagamentos – resumo contábil, elaborado pelo Banco Central, das transações finan-
ceiras e comerciais, entre residentes e não residentes que o país faz com o resto do mundo durante
um certo período de tempo.
• Consumo agregado – é uma parte da renda destinada à aquisição de bens e serviços para a satis-
fação das necessidades humanas. Quando falamos em agregado, estamos nos referindo ao valor
total, sem nos preocuparmos com agentes econômicos separados.
• Crescimento econômico – variável muito discutida, que é o aumento da capacidade produtiva da
economia, ou seja, da produção de bens e serviços. Pode ser medido pelo Produto Interno Bruto
per capita. O Brasil cresceu significativamente nos últimos anos, se tornando uma das oito maiores
economias do mundo.
• Déficit – é um saldo negativo, ou seja, quando as despesas são maiores que as receitas. Na eco-
nomia, temos o déficit comercial, quando o valor exportado é menor do que o importado; o déficit
orçamentário, quando o gasto é superior à arrecadação; o déficit primário, quando o total gasto do
governo é maior que o arrecadado menos os juros, entre outros.
• Demanda agregada – quantidade de bem e serviços que todos os consumidores estão dispostos a
comprar, dado o preço, durante um período de tempo. Em outras palavras, a demanda agregada de
um determinado produto é a soma das demandas individuais deste produto, dado seu preço.
• Desenvolvimento econômico – é o crescimento do Produto Interno Bruto per capita com melhorias
na qualidade de vida da população e por alterações fundamentais na estrutura econômica.
• Desigualdade de renda – diferença de renda entre camadas sociais de um mesmo país ou região.
Um índice muito utilizado para medir a concentração de renda no país é o Índice de Gini, que mostra
a relação entre os grupos da população e sua participação na renda nacional. Este índice varia de
zero a um. Quanto mais próximo de 1, pior é a distribuição de renda. O Brasil está entre os países
com pior distribuição de renda do mundo.
A inflação é medida por meio dos índices de preços. No Brasil, a inflação oficial é medida pelo índice de
preços ao consumidor amplo (IPCA), elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).
• Importação – bens que o país compra do exterior. Diferente das exportações, não é contabilizado
no produto interno bruto, pois os produtos não foram produzidos no mercado nacional.
• Oferta agregada – quantidade de bens e serviços que todas as empresas estão dispostas a vender,
dado o preço, durante um período de tempo. Em outras palavras, a oferta agregada de um determi-
nado produto é a soma das ofertas individuais deste produto, dado seu preço.
• Política econômica – é a intervenção do governo na economia que afeta todos os cidadãos, com o
objetivo de estabilização, geração de empregos, aumento de renda, crescimento econômico, melho-
ria na distribuição de renda, equilíbrio nas contas externas etc. As principais políticas são monetária,
fiscal e cambial.
• Produto Interno Bruto (PIB) – valor total de todos os bens e serviços produzidos dentro do território
nacional. Em outras palavras, representa a riqueza gerada dentro de um país em um determinado
período de tempo, independente destes bens terem sido produzidos por empresas nacionais ou
estrangeiras. O PIB é medido por três óticas: da produção, da despesa e da renda.
• Produto Nacional Bruto (PNB) – valor total dos bens e serviços produzidos por empresas nacio-
nais, independente da localização geográfica dessas empresas. Em geral, em países em desenvol-
vimento, como o Brasil, o PNB é menor do que o PIB, pois não há muitas empresas nacionais com
filial em outros países.
Para quem quiser conhecer outros conceitos econômicos que não foram discutidos aqui, sugiro o Novíssimo
Dicionário de Economia do Paulo Sandroni. Este livro é uma das bibliografi as básicas dos cursos de economia
e áreas afi ns.
Porém, mesmo com o governo sendo ativo, a economia é uma ciência social complexa, e o governo, ao
tentar solucionar um problema, acaba trazendo consequências negativas sob o ponto de vista de outro
Fonte: SHUTTERSTOCK.com
A resposta a essa pergunta não é fácil. O que sabemos é que o governo deve utilizar as políticas
macroeconômicas e seus instrumentos para atingir o objetivo naquele momento, dada a situação
econômica nacional e mundial atual e alterar a política quando a conjuntura econômica também mudar.
E é isto que o governo faz! Por isto, as políticas macroeconômicas envolvem a atuação do governo no que
diz respeito à oferta e demanda agregada, com o objetivo de estabilizar a economia (controlar a inflação),
distribuir renda, permitir que o país cresça e se desenvolva, gerar empregos etc.
Para atingir os objetivos citados, o governo intervém na economia por meio das políticas monetárias
(oferta de moeda e taxa de juros), fiscal (gasto e arrecadação pública) e cambial (taxa de câmbio e
operações cambiais). Não podemos esquecer que cada uma dessas políticas, que serão discutidas nas
próximas unidades, afetam de forma positiva e negativa outras variáveis econômicas.
Vimos nesta unidade a definição de setor público e as funções principais do governo: alocativa,
estabilizadora e distributiva para reduzir o desemprego, melhorar a distribuição de renda, estabilizar os
preços e fazer com que o país cresça economicamente. Para atingir os objetivos, o governo utiliza as
políticas macroeconômicas.
São três as principais políticas macroeconômicas principais: monetária, que se refere à oferta de moeda
e à taxa de juros; fiscal, que são os gastos e arrecadação do governo; e a cambial, que é a relação do
país com o resto mundo, definida, entre outros fatores, pela taxa de câmbio e pelas operações cambiais.
Cada uma dessas políticas, assim como seus instrumentos e efeitos esperados, serão discutidas nas
duas próximas unidades.
Espero que as discussões propostas nesta unidade tenham colaborado com seu conhecimento sobre
economia e políticas macroeconômicas, e que você esteja curioso(a) para conhecer mais detalhadamente
sobre políticas macroeconômicas.
ATIVIDADES DE AUTOESTUDO
Para quem quer conhecer um pouco mais sobre os assuntos relacionados à introdução à economia, sugiro os
livros Economia: Fundamentos e Aplicações, de Jorge Tadeu Grassi Mendes, e Princípios de Economia, dos
autores Carlos Roberto Martins Passos e Otto Nogami.
POLÍTICAS MACROECONÔMICAS
Professora Me. Andréia Moreira da Fonseca Boechat
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
Caro(a) aluno(a), nesta segunda unidade, discutiremos duas políticas muito importantes e muito utilizadas
pelo governo para tentar estabilizar a economia e fazer com que o país cresça, que são as políticas
monetária e fiscal. Claro que ambas devem ser utilizadas juntas e de forma concisa com a política
cambial – a qual veremos na unidade III do nosso livro – para que o objetivo do governo naquele
momento seja atendido da forma mais eficiente possível.
Em relação à política monetária, você provavelmente já percebeu que o mercado fica ansioso para conhecer
as alterações que o governo fará e se fará na política monetária brasileira. Só essa expectativa já gera uma
certa instabilidade. E esta é uma situação muito comum, pois a cada 45 dias a equipe responsável pela
definição da política monetária, que no caso do Brasil é definida pelo Comitê de Política Monetária (COPOM),
se reúne. Nessa reunião, é analisada a economia nacional e definido se haverá ou não alterações na política
monetária e, se houver alterações, quais serão estas mudanças e qual o efeito esperado.
E a política fiscal?! Você também já ouviu a respeito dela e talvez até defenda uma reforma fiscal urgente,
mas você sabe o que é política fiscal? O que seria de fato essa reforma? Ok! Todos sabem que a política
fiscal está relacionada à arrecadação de impostos e que temos muitos impostos no Brasil. Porém, não
é somente imposto, outra variável que faz parte da política fiscal são os gastos do governo. E o governo
pode estimular ou desestimular a economia alterando os gastos e/ou as receitas.
Você já deve estar se perguntando como o governo utiliza as políticas monetária e fiscal e com qual
objetivo. É isso que veremos com maiores detalhes agora.
Quando falamos em política monetária, estamos nos referindo às intervenções do governo no mercado
financeiro, no qual ele atua diretamente sobre a quantidade de moeda em circulação e indiretamente sobre a
taxa de juros, com objetivo principal de estabilizar a economia, para gerar altos níveis de emprego e produto.
Fonte: SHUTTERSTOCK.com
Moeda é um ativo que possui maior liquidez1, utilizado para realizar transações, e possui três funções:
a. Meio de troca – serve como intermediário entre as mercadorias.
b. Unidade de conta – estabelece preço dos bens e serviços.
c. Reserva de valor – permite guardar.
E quais são os fatores que levam os indivíduos a demandarem moeda? Os agentes econômicos (empresas
e consumidores) demandam moeda por três motivos:
a. Transação – para adquirir bens e serviços.
b. Precaução – para atender a uma necessidade que não estava sendo prevista.
c. Especulação – para render juros.
Pense na taxa de juros como um custo de oportunidade, no caso, o sacrifício que o indivíduo faz ao abrir
mão de gastar moeda naquele momento para poder guardar. Nesta situação, quanto maior for à taxa de
juros, maior será o custo de oportunidade de reter moeda e, assim, menor será a demanda por moeda.
Caso contrário, quando a taxa de juros está baixa, os indivíduos preferirão adquirir bens e serviços, não
tendo incentivo a guardar moeda, assim, a demanda de moeda será maior.
Com altas taxas de juros, a demanda de moeda é menor porque é mais vantajoso investir para render
juros do que comprar bens e serviços, neste momento, em outras palavras, haverá mais motivos para
especulação e, como o dinheiro está aplicado para render juros, haverá menos motivos para transação e
precaução.
Em relação à renda, quanto maior for a renda da pessoa, mais moeda ela demandará, pois o aumento
da renda aumenta a demanda por bens e serviços e, assim, a demanda por moeda também aumenta.
Até aqui discutimos o lado de demanda de moeda. Agora, vou apresentar a você o outro lado: a oferta de
moeda, que é controlada pelo governo federal por meio do Banco Central, que é o órgão responsável por
todos os assuntos referentes à moeda e à taxa de juros.
O Banco Central, contudo, não é o único que afeta a oferta de moeda. Os bancos comerciais, que são
intermediários financeiros que captam recursos dos poupadores e emprestam para os investidores,
também afetam a quantidade de moeda em circulação. O processo citado acima é o que chamamos de
“criação de moeda”. Vamos ver exatamente como funciona?
1
Liquidez é a capacidade que um ativo tem de se transformar em poder de compra, ou seja, em mercadoria.
Para ficar mais fácil o entendimento dessa situação, utilizarei um exemplo. Segundo Mendes (2009), um
depósito inicial de R$ 100,00 em um banco deve manter 20% como reservas compulsórias2. Destes R$ 100,
o banco destina R$ 20 para reservas e empresta R$ 80,00. Os R$ 80 retornam ao banco na forma de novo
depósito. Dos R$ 80, R$ 16,00 transformam-se em reservas e R$ 64,00 são reemprestados. Esses voltam
como depósito e reinicia-se o ciclo. Percebe-se que os R$ 100,00 iniciais de depósitos multiplicam-se,
gerando uma sequência de depósitos nos valores: R$ 80,00; R$ 64,00; R$ 51,20; R$ 40,96 etc.
Caro(a) aluno(a), somente o Banco Central pode autorizar a emissão de moeda e os bancos comerciais
multiplicam essa moeda por meio de empréstimo!
Fonte: SHUTTERSTOCK.com
Outra variável da política monetária é a taxa de juros, que pode ser definida como tudo que se ganha
pela aplicação de recursos durante um determinado período de tempo, em outras palavras, é o preço da
moeda.
A taxa de juros pode ser definida pelo governo, como é o caso do Sistema de Liquidação e Custódia
(SELIC), da Taxa Referencial (TR) e da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Essas taxas são as básicas
da economia e servem para a formação das demais taxa de juros, que são formadas no mercado por
meio da demanda e oferta de moeda.
2
Reservas compulsórias são uma porcentagem que os bancos comerciais são obrigados a depositar no Banco Central para
a segurança do Sistema Financeiro Nacional.
Seguindo essa linha, se o governo quiser aumentar a demanda, ele utilizará os instrumentos da política
monetária de forma a reduzir a taxa de juros e/ou reduzirá a taxa SELIC, que é a taxa de juros básica da
economia. Caso contrário, se o governo quiser reduzir a demanda, ele aumenta a taxa de juros.
Então, podemos resumir a política monetária como a atuação do governo nas condições de crédito, no
aumento ou diminuição da moeda em circulação na economia e sobre o consumo privado, investimento,
mercado de ações e investimento direto estrangeiro. Durante esta unidade, iremos ver quais são os
instrumentos que o governo utiliza para atuar nas variáveis citadas acima.
Para conhecer mais e acompanhar a política monetária brasileira, acesse o site do Banco Central: <http://www.
bcb.gov.br/pt-br/paginas/default.aspx>.
Instrumentos utilizados
Como a política monetária é o controle, por parte do governo, da quantidade de moeda em circulação
e consequentemente da taxa de juros, o governo pode contrair ou expandir a oferta de moeda por meio
de três instrumentos clássicos: recolhimentos compulsórios, taxa de redesconto e operação de mercado
aberto (open market).
a) Recolhimentos compulsórios – é uma parcela dos depósitos à vista que os bancos devem
depositar no Banco Central, ou seja, uma parte dos recursos aplicados nos bancos, via depósitos
à vista, fica no próprio banco para fazer frente aos saques, o que chamamos de encaixe bancário,
outra parte é depositada no Banco Central, os depósitos compulsórios, e o que resta é emprestado,
criando assim, a moeda, como expliquei acima.
Quanto maior for o recolhimento compulsório, menos moeda terá disponível para os bancos
comerciais fazerem empréstimos e, assim, menos moeda haverá em circulação, reduzindo a
liquidez do Sistema Financeiro nacional. Se o governo quiser aumentar a quantidade de moeda
em circulação ou reduzir a taxa de juros do mercado, ele poderá diminuir a taxa de recolhimento
compulsório, com isto, haverá mais moeda em circulação, reduzindo a taxa de juros.
Os títulos públicos negociados são, por exemplo, de Obrigações do Tesouro Nacional e outros títulos da
dívida pública, como Letra do Tesouro Nacional e Nota do Tesouro Nacional. A venda destes títulos é feita
via leilões para contrair a base monetária.
A figura 1 mostra o feito da compra dos títulos públicos pelo Banco Central nas variáveis macroeconômicas.
O Banco Central, ao adquirir os títulos públicos, aumenta a oferta de moeda e as reservas bancárias,
com isto, a taxa de juros cai, fazendo com que o consumo e o investimento aumentem, a moeda é
desvalorizada (iremos ver isto na unidade III) e os preços dos ativos sobem. Com a moeda desvalorizada,
as exportações aumentam e com os preços dos ativos mais altos, o consumo e o investimento também
aumentam. Toda essa situação faz com que a demanda agregada aumente também.
Regras de Bolso
Os investimentos
e o consumo
crescem
A oferta
O Bacen
monetária As taxas A moeda local, As exportações A demanda
compra
e reservas reais de isto é, o real líquidas se agregada
títulos
bancárias juros caem (R$), desvaloriza expandem aumenta
públicos.
aumentam
Os
Os preços dos investimentos
ativos sobem e o consumo
crescem
Figura 1: Efeitos da compra de títulos públicos pelo Banco Central sobre as variáveis macroeconômicas
Fonte: Carvalho et al. (2008)
Por exemplo, vamos supor que a economia esteja aquecida, ou seja, com muita demanda, gerando
assim inflação; o governo, para reduzi-la (estabilizar a economia), resolve utilizar a política monetária.
Para reduzir a inflação, é necessário reduzir a demanda, o que é feito aumentando a taxa de juros.
Então, o governo deverá reduzir a quantidade de moeda em circulação e, consequentemente, aumentar
a taxa de juros. Utilizando os instrumentos da política monetária, ele tem três possibilidades: aumentar os
recolhimentos compulsórios; aumentar a taxa de redesconto (em que o resultado no mercado demora);
ou, de uma forma mais rápida, vender, por meio de leilões, os títulos públicos.
Outro exemplo: a economia está estagnada e o governo precisa fazer com que o país cresça (um
dos objetivos das políticas macroeconômicas) utilizando também a política monetária. Nesse caso, é
necessário reduzir a taxa de juros, para aumentar o consumo e, consequentemente, a produção e o
número de empregos. Utilizando os instrumentos monetários, o governo poderá diminuir o recolhimento
compulsório ou diminuir a taxa de redesconto ou comprar títulos públicos que estão no mercado. Com
qualquer uma dessas formas, ele aumentará a quantidade de moeda em circulação e reduzirá a taxa
de juros.
“No passado, a sabedoria convencional sustentava que a moeda não afetava a economia. Hoje, há con-
senso de que a política monetária pode afetar, signifi cativamente, as atividades reais de uma economia
no curto prazo, mas apenas o nível de preços no longo prazo” (THORNTON; WHELOCK, 1995, p.7).
Após você conhecer o que é política monetária, quais são as variáveis que são afetadas e quais são
os instrumentos utilizados, irei apresentar os efeitos esperados da política monetária sobre as variáveis
macroeconômicas, principalmente em relação ao consumo privado, investimento, mercado de ações e
investimento direto estrangeiro.
Como já discutimos, a taxa de juros define o consumo e o investimento. Uma oferta de moeda baixa
aumenta a taxa de juros, desestimulando o consumo e aumentando o investimento. A redução do
Em relação ao investimento dos empresários, funciona da mesma forma que o consumo. Taxas de
juros altas reduzem o investimento, pois fica caro para o empresário adquirir, por exemplo, máquinas
e equipamentos, já que são bens, em geral, financiados. Quando a taxa de juros reduz, o investimento
aumenta.
O valor da ação é determinado pelos dividendos pagos pelas empresas. Uma pessoa, ao comprar
uma ação, espera ter ganhos de capital ao vendê-la. Se a taxa de juros estiver alta, é mais vantajoso
adquirir títulos e menos ações, dessa forma, o preço das ações cai, pois terá menos demanda. Já
se a taxa de juros estiver baixa, os títulos não valerão tanto a pena, aumentando a demanda e,
consequentemente, o preço das ações.
A poupança é influenciada fortemente pela taxa de juros. Quanto maior for a taxa de juros, mais as
pessoas estarão dispostas a poupar e investir na poupança. Se a poupança render muito pouco,
os indivíduos sacarão mais para aumentar o consumo. Para o governo estimular a poupança, ele
aumenta a taxa de juros.
Outra variável que é afetada pela taxa de juros é o preço, ou melhor, a inflação. Quando a taxa
SELIC aumenta, aumenta também as outras taxas de juros, desestimulando o consumo e,
consequentemente, os preços. Então, uma forma excelente e muito usual para conter o aumento da
inflação é o aumento da taxa de juros.
Fonte: SHUTTERSTOCK.com
Definição de política fiscal
Política fiscal é a atuação do governo no que diz respeito à arrecadação de tributos e aos gastos públicos,
com o objetivo básico de conduzir, de forma eficiente, a área administrativa do governo, promovendo o
bem-estar social mediante melhorias da infraestrutura, como construção de escolas, estradas, hospitais,
salários de funcionários etc.
A política fiscal, assim como as demais políticas macroeconômicas, tem como função ajudar o governo a
atingir seus objetivos, como já discutimos, geração de empregos, crescimento econômico, estabilização
da economia, entre outros.
Como a política fiscal é a atuação do governo em relação a gastos e arrecadação, vamos deixar claro o que
são estas variáveis e o que afetam. Primeiro vamos analisar os gastos públicos que afetam diretamente o
nível de demanda da economia. O gasto do governo é composto por:
• Consumo - gasto com pagamento de funcionários e despesas com material, água, energia
elétrica etc.
• Transferências - despesas com o setor privado, como previdência social.
• Juros - pagamento de juros da dívida interna e externa.
• Subsídios - é um tipo de transferência, em que o governo paga uma parte do preço dos produtos
para que os consumidores consumam mais ou os produtores produzam mais.
Já a arrecadação afeta a renda e o consumo e é feita via tributos, que são divididos em impostos, taxas
de contribuições. Os impostos são uma quantidade de dinheiro que os agentes econômicos pagam para
o governo (federal, estadual e municipal) para custear as despesas administrativas e os investimentos do
governo em infraestrutura. Diferente das taxas, que são pagas em troca de um determinado serviço, como
Os tributos são classificados de duas formas: sobre a forma de incidência e sobre a base de incidência.
Você deve estar se perguntando sobre os outros 25,8%. Esse percentual corresponde às contribuições,
como INSS e FGTS. O quadro 5 mostra os principais tributos diretos e indiretos do país e suas respectivas
alíquotas.
TRIBUTOS ALÍQUOTA
Diretos
IRFP Entre 7,5% e 27%, conforme a renda
IPTU Varia conforme a região e o tamanho do imóvel
IPVA Varia conforme o valor do veículo e estado
Indiretos
ICMS 27 legislações diferentes
IOF Depende da operação financeira
ISS De 2% a 5%
IPI Varia do tipo de bem
Agora que você já sabe onde o governo gasta o que arrecada e os tipos de tributos, você já se perguntou
qual o valor arrecadado e gasto? No ano de 2012, foram arrecadados, por meio dos tributos, R$ 880,8
Você deve estar me perguntando como cheguei ao valor de R$ 76,1 bilhões de reais de superávit
público. Temos dois tipos de déficit ou superávit público: o primário e o nominal. O primeiro é o total
arrecadado menos o total gasto, sem levar em consideração as receitas não financeiras, como despesas
e pagamentos de juros e correção monetária e cambial. Diferente do nominal, que é calculado diminuindo
o total arrecadado do total do total gasto. Se o valor for positivo, dizemos que houve um superávit público.
Caso contrário, déficit público.
Quando temos um déficit, o governo pode, por meio da política fiscal, aumentar os impostos ou reduzir
os gastos. Porém, se não for suficiente, o governo deverá utilizar a política monetária, emitindo moeda ou
vendendo títulos públicos. Como você percebeu, as políticas fiscal e monetária estão interligadas.
A forma como o sistema tributário é estruturado determina o impacto dos tributos sobre o nível e a
distribuição de renda, a organização econômica, a competitividade, entre outros fatores.
No Brasil, o sistema tributário é regressivo, e a maior parte dos impostos é indireta, o que faz aumentar a
desigualdade de renda, já que o peso dos impostos para as classes menos favorecidas é maior. Para você
ter uma ideia, pesquisas mostram que uma pessoa que recebe até dois salários mínimos por mês paga,
em média, 48,8% em tributos, e uma pessoa que recebe acima de trinta salários mínimos paga 26,5%.
Fonte: SHUTTERSTOCK.com
Temos no Brasil, aproximadamente, 80 tipos de tributos, sendo responsável por praticamente 35% do
Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, o governo recebe, em impostos, quase um terço do que o país
produz, possuindo assim a maior carga tributária da América Latina e ocupando a 145º posição entre os
maiores tributos do mundo, em um total de 181 países pesquisados.
O quadro 6 mostra alguns produtos e seus respectivos valores, em porcentagens, que são de impostos.
Como você pode observar, separei vários tipos de produtos e todos, mesmo os produtos da cesta básica,
como café, leite e pão francês, têm acima de 15% do valor em impostos. Esses valores comprovam como
o sistema tributário brasileiro é regressivo.
Para saber quanto pagamos, em média, de imposto no Brasil por produto, acesse: <http://www.fi epr.org.br/som-
bradoimposto/FreeComponent14466content115735.shtml>.
Instrumentos utilizados
Assim como na política monetária, na política fiscal o governo também utiliza instrumentos para estimular
ou desestimular a economia, de modo a atingir seus objetivos, o crescimento e estabilização econômica.
No caso da política fiscal, os instrumentos utilizados são o aumento e a redução dos impostos e dos gastos.
Você deve estar se perguntando se o governo ou altera os impostos ou altera os gastos. Não, o governo
pode estimular ou desestimular a economia alterando as duas variáveis, e não somente uma.
Os instrumentos da política fiscal também são muito eficazes na melhoria da distribuição de renda.
Uma forma de reduzir a desigualdade de renda é reduzir os impostos indiretos e/ou aumentar os gastos
governamentais para as classes menos favorecidas.
A política fiscal também pode ser utilizada para desenvolver setores específicos da economia ou regiões
do país, como foi o caso, no ano de 2012, do setor automobilístico, em que o governo reduziu o imposto
sobre produção industrial (IPI) dos automóveis e da linha branca, reduzindo assim o preço dos bens,
aumentando a demanda, aumentando a produção e, consequentemente, desenvolvendo estes setores.
Como já foi discutido, os gastos do governo e os impostos afetam o nível de demanda da economia. Os
gastos afetam diretamente a demanda agregada. Nesse caso, quanto maior for o gasto público, maior
será a demanda e, consequentemente, maior será o produto.
Já a arrecadação afeta o nível de demanda ao influenciar a renda disponível que as pessoas poderão
destinar para poupança e consumo. Assim, quanto maiores forem os tributos, menor será a renda
disponível, pois os indivíduos gastarão uma parcela maior do que recebem para pagar impostos e menor
será a parcela disponível para consumir.
Como já foi discutido, se a economia estiver desestimulada, ou seja, com redução do nível de atividade, o
governo pode utilizar a política fiscal para mudar esta situação e aquecer a economia por meio da redução
dos impostos e/ou aumento dos gastos. Caso contrário, se o governo quiser desacelerar a economia, ele
aumenta os impostos e/ou reduz os gastos.
Então, a redução da carga tributária aumenta a renda disponível, provocando expansão do consumo e de
demanda agregada. Como sabemos que o consumo depende da renda, um aumento nos impostos reduz
o consumo, pois diminui a renda disponível, afetando a oferta agregada e, consequentemente, o nível de
emprego.
Em relação aos gastos, o funcionamento é bem parecido. Redução nos gastos do governo afetam
diretamente a demanda agregada, e o resultado é o mesmo do aumento dos impostos: reduz a oferta
agregada e o nível de emprego.
Discutimos nesta segunda unidade duas políticas macroeconômicas muito utilizadas: a política monetária,
que se refere à quantidade de moeda em circulação e à taxa de juros; e a política fiscal, que são os gastos
e arrecadação do governo.
O governo deve utilizar, corretamente, os instrumentos dessas políticas para reduzir a concentração de
renda (política fiscal) e estabilizar a economia (política monetária), aumentando o bem-estar da população,
sem prejudicar as empresas.
Dois livros muito interessantes sobre economia são: “Macroeconomia em Contexto”, do autor Peter E. Kennedy,
e “Macroeconomia”, do autor Olivier Blanchard. O primeiro livro procura explicar a economia do dia a dia por meio
de reportagens de jornais; já o segundo é um dos mais utilizados nos cursos de economia e áreas afi ns.
ATIVIDADES DE AUTOESTUDO
2. Vamos supor que o governo queira reduzir a taxa de inflação utilizando a política monetária. Explique
o que poderá ser feito pelo governo por meio dos instrumentos da política monetária.
5. Diferencie impostos regressivos de progressivos, explicando por que a forma como o sistema tributário
brasileiro está estruturado aumenta a desigualdade de renda.
ESTUDO DE CASO
Governo prorroga redução de IPI para veículos
01 de abril de 2013
LUCI RIBEIRO - Agencia Estado
BRASÍLIA - O governo publicou nesta segunda-feira, no Diário Ofi cial da União, decreto que prorroga até 31 de
dezembro de 2013 a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis e caminhões. A
redução do IPI foi divulgada pelo governo em maio do ano passado e prorrogada várias vezes. O novo prazo
de vigência do benefício foi anunciado pelo Ministério da Fazenda na noite de sábado. O tributo sobre veículos
subiria a partir desta segunda-feira, 1º de abril.
Parte do texto extraído de: <http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,governo-prorroga-reducao-de-ipi-pa-
ra-veiculos,149026,0.htm>. Acesso em: 15 jun. 2013.
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
Caro(a) aluno(a), nesta terceira unidade, iremos discutir outra política de suma importância para a
economia, a política cambial, que é importante não apenas para o Brasil, mas, de uma certa forma, para
os demais países também.
A política cambial está ligada diretamente ao setor externo e afeta o comércio internacional, que,
atualmente, cresce a uma taxa média de 6% ao ano, enquanto o Produto Interno Mundial cresce a 3%
ao ano. Esses valores mostram a importância da análise da taxa de câmbio e o porquê dos países se
preocuparem tanto com essa variável.
Outro ponto de destaque é o impacto direto que a política cambial gera sobre a política monetária, pois
está ligada com as transações econômico-financeiras do país com o resto do mundo e, por esta razão,
altera a quantidade de moeda em circulação, além de ser uma excelente alternativa para aumentar o
Produto Interno Bruto, reduzir o desemprego e aumentar a renda nacional.
Claro que não gera pontos somente positivos, pois excesso de exportação pode gerar inflação. Você
certamente já ouviu que o câmbio está valorizado ou desvalorizado, mas o que isso significa? Qual o
impacto de uma valorização cambial para a economia brasileira e para o comércio internacional? Como a
taxa de câmbio é formada? Essas são algumas perguntas que a unidade pretende responder.
A política cambial é a atuação do governo na administração da taxa de câmbio e no controle das operações
cambiais. Para começarmos, o que é taxa de câmbio?
US$ 2 = R$ 1
A taxa de câmbio pode ser determinada de duas formas, porém, uma maneira exclui a outra: a primeira se
dá pela decisão das autoridades monetárias, que no caso brasileiro é o Banco Central, que fixa de tempos
em tempos a taxa de câmbio; e a segunda forma ocorre pelo funcionamento do mercado, ou seja, pela
famosa lei da oferta e demanda.
A demanda de moeda estrangeira é oriunda das importações e de todas as operações que são derivadas
de saída de moeda estrangeira do país, como viagens ao exterior, devedores brasileiros em moeda
estrangeira etc. Já a oferta é decorrente das exportações e de todas as operações que fazem moeda
estrangeira entrar no país, como turistas em viagens ao país, receitas cambiais em serviços, investimento
estrangeiro direto, entre outras.
Quando falei que a taxa de câmbio pode ser determinada de duas formas, significa que dependerá do
regime cambial do país, ou seja, pelo modelo de taxa de câmbio que é adotado pelo país, que pode ser
classificados em três tipos principais:
a) Taxa de câmbio fixa – neste regime, o Banco Central determina, antecipadamente, qual será
o valor do câmbio. Por exemplo, R$ 1 = US$ 1. O problema é que neste regime, o governo é
obrigado a comprar e vender moeda a uma taxa estabelecida para manter o câmbio fixo, o que
pode acarretar déficit público.
De acordo com Vasconcellos et al. (2011), as principais vantagens desse tipo de regime é que não
ocorre instabilidade cambial, o que pode contribuir para o controle da inflação. A desvantagem é
a perda de política monetária como instrumento de política econômica. Além da dificuldade de se
escolher a taxa de câmbio “correta” do mercado, o que pode gerar movimentos especulativos.
b) Taxa de câmbio flutuante – é determinada pelo mercado, ou seja, pela lei da oferta e da demanda
por moeda estrangeira. A vantagem, segundo Vasconcellos et al. (2011), é a utilização do critério
de mercado para determinar o preço da moeda estrangeira, sem necessidade de interferência
direta3 do Banco Central, que poderá direcionar os instrumentos de política monetária (vimos na
unidade II) para outros objetivos que não seja a taxa de câmbio. A desvantagem é que a taxa de
câmbio pode ser muito volátil, afetando rapidamente o comércio internacional.
3
Indiretamente o Banco Central, mesmo adotando o regime cambial flutuante, interfere na determinação do preço da moeda
no mercado por meio da compra e venda de moeda estrangeira.
Taxa Câmbio
(R$/US$)
Oferta de dolar
2,2
Demanda de Dólar
O valor da taxa de câmbio no regime de câmbio flutuante é formado quando as curvas de oferta e
demanda por dólares se interceptam. No nosso exemplo, acontece quando o valor do dólar é de R$ 2,20
e o volume comercializado de moeda (dólar) é “V”. Os motivos que fazem os agentes econômicos
demandarem moeda estrangeira e ofertarem moeda estrangeira já foram citados nesta seção.
Quando temos um aumento da demanda por dólares, caso de aumento das importações, a taxa de
câmbio aumenta (valoriza), deslocando a curva de demanda para cima. Já no caso de uma redução da
demanda por dólares, por exemplo, quando exportamos muito, a curva de demanda se desloca para
baixo, reduzindo o valor da taxa de câmbio, já que teremos mais dólares em circulação, sendo assim, seu
preço abaixa (desvaloriza).
De forma similar acontece com a oferta de dólares. Quando temos muita oferta, a curva de oferta se
desloca para baixo, reduzindo o valor do câmbio, como no caso de um aumento das exportações. Já
quando temos pouca oferta, a curva se desloca para cima, valorizando a moeda estrangeira, caso do
aumento de importações.
c) Bandas cambiais – regime cambial intermediário entre a taxa de câmbio fixa e flutuante. Neste
regime, o Banco Central determina o valor mínimo e máximo da taxa de câmbio e, no intervalo,
o mercado funciona livremente. Por exemplo, a taxa pode ser entre 1,5 e 2,0, entre esses dois
valores o mercado funciona livre. Caso o valor do câmbio chegue ao limite máximo ou mínimo, o
Banco Central interfere.
No Brasil, assim que o Plano Real foi implementado, a taxa de câmbio era fixa, passando para bandas de
flutuação e, após 1999, a taxa de câmbio flutuante foi adotada.
Vamos supor que, no dia 01 de junho de 2013, a taxa de câmbio (lembramos que vou utilizar real/dólar em
função da sua importância) é de 2,00 e, no dia 02 de junho do mesmo ano, o câmbio passou para 2,01.
O que esses valores significam? Neste caso, houve uma desvalorização cambial, ou seja, no primeiro
dia, eram necessários R$ 2,00 para comprar US$ 1,00. No dia seguinte, já foi necessário R$ 2,01 para
comprar US$ 1,00, havendo um aumento de um centavo para cada dólar demandado. Então, quanto
maior este valor, mais desvalorizada estará a nossa moeda (real).
Outro exemplo, no dia 02 de junho, a taxa de câmbio voltou para R$ 2,00. Nesse caso, houve uma
valorização cambial, pois eram necessários R$ 2,01 para comprar US$ 1,00 e agora são necessários
R$ 2,00 para adquirir o mesmo US$ 1,00. Então, quanto menor o valor, mais valorizada estará nossa
moeda.
A única exceção é o regime de câmbio fixo. O quadro 7 mostra todas as opções de oferta e demanda que
fazem a taxa de câmbio ficar estável, valorizar ou desvalorizar. A primeira coluna mostra a variação da
oferta (O) e da demanda (D) por moeda estrangeira. Essa variação fará o câmbio ficar estável, ou seja,
não alterará o valor, mesmo com a variação da oferta e da demanda, valorizará sempre que a variação
da oferta de moeda estrangeira superar a demanda, e desvalorizará se a demanda for maior que a oferta
por moeda estrangeira.
O=D X
O e D aumentando X
igualmente
O e D diminuindo igual- X
mente
D>O X
D estável e O reduz X
D e O diminuem, mas D X
menos que O
O e D crescem, mas D X
menos que O
O diminui e D diminui X
mais que O
O aumenta e D estável X
O aumenta e D diminui X
D cresce e O cresce X
mais que D
D diminui e O estável X
Resumindo o quadro 7:
• A taxa de câmbio é estável quando a oferta for igual à demanda.
• A taxa de câmbio é valorizada quando a demanda for maior que a oferta.
• A taxa de câmbio é desvalorizada quando a demanda for menor que a oferta.
Uma valorização cambial ou apreciação cambial estimula as importações, ou seja, aumenta a compra
de produtos importados, pois nossa moeda está cara em relação à moeda estrangeira, com isto, os
produtos estrangeiros estão relativamente mais baratos. Irá desestimular as exportações, pois nossos
produtos estão caros. Assim, irá aumenta a competição, pois produtos nacionais disputarão mercado com
produtos estrangeiros, e os preços serão mantidos baixos (quanto maior a competição, menor o preço,
pois caso o empresário aumente o preço do produto, perderá mercado), reduzindo a taxa de inflação.
Outro ponto positivo quando a moeda está valorizada é o aumento a produtividade, pois há um incentivo
à modernização da indústria, em função do aumento da competitividade e das importações de bens de
capital4, reduzindo os custos de produção.
As desvantagens da valorização cambial, segundo Vasconcellos et al. (2011), estão relacionadas aos
setores nacionais que não estão preparados para competição externa, pode sofrer grandes reduções na
venda de seus produtos, reduzindo a produção e aumentando o desemprego. Os exportadores também
são prejudicados, pois nossos produtos ficam mais caros no mercado internacional. Como as importações
podem ser maiores que as exportações, tende a haver déficit comercial5. Com isto, o país pode buscar
recursos no exterior para manter suas reservas cambiais, aumentando a vulnerabilidade externa.
4
Bens de capital são os bens necessários para produzir produtos, como máquinas e equipamentos.
5
Déficit comercial acontece quando o total, em valor, das importações são maiores que das exportações.
Claro que como na economia sempre tem um lado negativo, a desvalorização cambial aumenta a oferta
de moeda, pois as exportações fazem entrar dólares no país que precisam ser trocados por real para
serem comercializados, expandindo a quantidade de moeda em circulação, o que pode gerar inflação e
aumentar a dívida externa do país.
Agora que você conhece as vantagens e desvantagens da valorização e da desvalorização cambial para
a economia, tanto no curto prazo quanto no longo prazo, se você pudesse escolher, optaria por uma taxa
de câmbio mais valorizada ou mais desvalorizada?
Instrumentos utilizados
Até aqui, discutimos a política cambial com foco na taxa de câmbio e nas operações cambiais. Porém,
esse é o principal, mas não o único instrumento da política cambial. Você sabe quais são os outros
instrumentos utilizados? Os instrumentos são:
b) Políticas comerciais – este instrumento é voltado mais diretamente para o comércio internacional,
Para entendermos melhor o instrumento conhecido como política comercial, tem que ficar claro o que é
política comercial!
Política comercial são as restrições e regulamentações que os países impõem ao livre fluxo do comércio
internacional. Essas restrições são comerciais e barreiras não tarifárias. As restrições comerciais são,
principalmente, as tarifas que podem ser definidas como uma taxa ou imposto cobrado sobre o produto
comercializado, podendo ser tarifas de importações, que é a mais utilizada das tarifas, pois é uma taxa
cobrada sobre os produtos importados; enquanto as tarifas de exportações são pouco utilizadas, sendo
as taxas cobradas sobre os produtos que serão exportados.
As tarifas podem ser ad valorem, específicas ou compostas. O primeiro tipo é uma porcentagem
fixa sobre o valor do produto, Por exemplo, vamos supor que o Brasil importe trigo da Argentina a
R$ 477/tonelada e cobre uma tarifa ad valorem de 10% sobre o valor do produto. Nesse caso, o valor total
do imposto será de R$ 47,7 por tonelada.
O segundo tipo, a tarifa específica, é a quantia fixa por unidade física do produto, independente do
preço. Voltando ao exemplo do trigo, se o governo brasileiro resolvesse cobrar imposto específico de
R$ 5/tonelada e as empresas brasileiras importassem um milhão de toneladas do produto, o valor do
imposto seria de R$ 5/tonelada, independe do preço do bem.
O terceiro e mais caro tipo de tarifa é a composta, uma combinação das tarifas ad valorem e específica.
No nosso exemplo, o preço pago de imposto neste tipo de tarifa seria de R$ 47,7 por tonelada mais R$ 5
por tonelada, um total de R$ 52,7 por tonelada de trigo importada.
Já nas barreiras não tarifárias, temos as cotas, que são restrições diretas sobre a quantidade de um bem
que pode ser importado ou exportado, e os subsídios, que são um pagamento, por parte do governo, a
uma empresa ou indivíduo que enviam bens ao exterior. Como exemplo bem atual, posso citar que, até
julho de 2013, o governo brasileiro aumentou a cota de importação de trigo de um milhão de toneladas
para dois milhões de toneladas com uma tarifa de zero por cento. Outro exemplo é a cota para importação
de fibras de algodão, que passou para 80 mil toneladas com tarifas de zero por cento também.
As políticas comerciais são utilizadas para, principalmente, desenvolver a indústria nacional e são
excelentes mecanismos de crescimento econômico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com uma taxa de crescimento de aproximadamente 6% ao ano, o comércio internacional tem ganhado
cada vez mais importância não somente para a economia brasileira como para todo o mundo, e um dos
fatores que determina esse comércio é a política cambial, por meio da taxa de câmbio e dos instrumentos.
Vimos nesta terceira e última unidade a importância da política cambial e como esta interfere na economia
interna e externa, ou seja, no comércio internacional.
Dois livros muito interessantes sobre economia e comércio internacional são: “Economia Internacional”, dos autores
Krugman e Obsfeld, que é um clássico da área; e o outro livro, que expõe de forma pertinente o comércio exterior e
seus impactos na economia, é o “Economia Internacional e Comércio Exterior”, de Jayme de Mariz Maia.
ESTUDO DE CASO
Caro(a) aluno(a),
Foi com grande carinho que elaborei este material para você e espero ter contribuído para a ampliação de
seus conhecimentos e também que os leve para sua profissional e pessoal.
O estudo das políticas macroeconômicas é muito importante para todos, principalmente para os gestores
públicos, que precisam conhecer a conjuntura atual e os efeitos prováveis das políticas econômicas para
tomar a melhor decisão em prol de aumentar o bem-estar social, estabilizar a economia e aumentar o
crescimento econômico.
Vimos que a política monetária é uma excelente alternativa para estabilizar a economia, pois a mesma
utiliza a quantidade de moeda em circulação e a taxa de juros para atingir seus objetivos. O governo é
capaz de reduzir a oferta de moeda para aumentar a taxa de juros e reduzir a inflação. Outro mecanismo
da política monetária é reduzir a taxa de juros para aquecer a economia, gerar empregos e renda. Então,
você viu por que a variável “taxa de juros” é tão discutida pela equipe de política monetária e gera tanta
preocupação.
Discutimos também a política fiscal e a estrutura tributária brasileira. Hoje podemos afirmar que a carga
tributária no Brasil é muito alta, mas talvez o maior problema não seja a quantidade de tributos, mas a
forma como eles são gastos. E você, após todos os conhecimentos adquiridos em relação à política fiscal,
acha que o maior problema do Brasil é a quantidade de impostos ou a forma como são gastos?
E na terceira unidade, apresentei a você a famosa política cambial e sua influência no mercado
internacional, tanto quando há uma valorização cambial quanto quando há uma desvalorização cambial.
Dentro dessa política, a grande descoberta seria achar um ponto de equilíbrio para não haver nem muita
valorização cambial, que pode, entre outros fatores, prejudicar a indústria nacional, já que aumenta as
importações, e nem muita desvalorização cambial, que aumenta as exportações de forma significativa,
deixando os produtos importados, como máquinas e equipamentos que são essenciais para aumentar a
produção nacional, mais caros.
Então, como você percebeu, todas as políticas macroeconômicas geram pontos positivos e negativos, e o
governo precisa definir, naquele momento, as prioridades da população e escolher qual, ou melhor, quais
instrumentos serão utilizados para atingir o objetivo e gerar menos externalidades negativas possíveis e,
para isto, é preciso utilizar as três políticas juntas.
Abraços,
Profª Me. Andréia Moreira da Fonseca Boechat
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