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Várias tribos indígenas estão espalhadas por todo o nosso país, e cada uma delas busca
da melhor forma possível, o desenvolvimento de suas crianças e jovens buscando o
aprendizado de forma a satisfazer suas necessidades.
O ensino que era imposto para muitas etnias e povoados, era um método de ensino
ultrapassado em que nada agregava para a cultura e necessidade dos índios. Os
professores somente lecionavam em português, o que dificultava e muito o aprendizado,
além de que o conteúdo dado era muito longe da realidade, com informações nada
importantes para crianças e jovens do local. O que tornou ainda mais grave a situação é
que o ensino era apenas da 1ª à 4ª série e não focava as crenças, a cultura e o idioma
local. Esses fatores afastaram a comunidade indígena das escolas.
Metodologia
A metodologia foi adotada e criada pelos próprios índios. Eles valorizam e resgatam
princípios e valores socioculturais dos povos nativos e realizam pesquisas para a
sustentabilidade da região.
O ensino deve ser útil, deve demonstrar sua realidade, deve ter sentido a vida de cada
indivíduo da comunidade. Por esses motivos, foi criado um método em que recuperasse
o conhecimento das tradições e crenças indígenas e associasse ao conhecimento do
homem branco ao que interessasse para o indígena, na medida em que agregasse ao seu
conhecimento, ajudando nas tarefas do seu dia-a-dia.
A rotina escolar
A rotina escolar inclui atividades que serão usadas no dia-a-dia dos afazeres dos jovens
índios como pescar, coletar itens da floresta, cultivar alimentos, fazer a contagem das
plantações, tecer palha para a cestaria entre outros trabalhos. Não podemos esquecer de
que os jovens ouvem as histórias dos mais velhos como lição de casa e contam aos
professores e colegas de aula.
Cada assunto ou tema importante de cada comunidade é levado para a discussão em sala
de aula e compartilhado da melhor forma com outras comunidades. Eles discutem os
seus problemas, procurando uma solução de forma sábia e mais rica para todos.
Sim, muitas aldeias têm escola! Como se sabe, a maioria das aldeias fica dentro
de Terras Indígenas, assim cada Terra pode ter uma ou mais escolas. Isso vai
depender de seu tamanho e da situação de cada comunidade.
As escolas indígenas, assim como aquelas dos não índios, também são um
espaço de aprendizado das crianças. Muitas vezes o conteúdo que é ensinado ali
pelos professores é bem diferente daquele que é transmitido pelos parentes na
aldeia. É claro que estes conteúdos podem se misturar em alguns momentos, mas
a escola tem como foco ensinar a escrever, ler, fazer conta, entre outros
conhecimentos importantes para o diálogo com o mundo dos não índios, já os
parentes ensinam as formas de se organizar da comunidade, como produzir
artefatos e tudo aquilo que é importante para se viver bem naquele grupo.
Além disso, o conteúdo que se aprende nas escolas indígenas é diferente daquele
das escolas dos não índios. Isso porque os povos indígenas têm direito a ter uma
escola diferenciada, isto é, uma escola que ensine conteúdos que se relacionem
com a cultura e a língua de cada povo. Mas nem sempre esses direitos são
respeitados. Muitas vezes, os professores e os livros usados nas escolas
indígenas falam de assuntos que não estão ligados ao cotidiano das comunidades
indígenas e ensinam o ponto de vista dos não índios como o único ponto de vista
correto.
Sem espaços físicos adequados, grande parte das escolas indígenas funciona na casa dos
professores, em armazéns, e até embaixo de árvores. A fonte de água para quase metade
dos estabelecimentos vem de rios, igarapés ou córregos. Luz elétrica pública só chega a
pouco mais de 40% dos colégios, e apenas 49% trabalham com algum tipo de material
didático específico da cultura indígena. Os dados são de levantamento do Grupo de
Trabalho (GT) Educação Indígena do Ministério Público Federal (MPF).
— Embora quase todas as escolas declarem, no Censo Escolar, que recebem merenda,
vimos que a distribuição não é regular, levando até à redução de carga horária das aulas
no Norte — afirma a procuradora da República Natália Soares, que coordena o GT
Educação Indígena do MPF.
Do total de escolas indígenas no país, 46% estão sem regulamentação. Isso significa
que elas não passaram por um processo de autorização, a partir de um projeto
pedagógico, do conselho ou órgão local de educação, explica Leonardo Leocádio,
perito em antropologia do MPF. Tal condição não impede o repasse de recursos
atrelados ao número de alunos, como merenda escolar ou verbas do Fundeb. Mas
tudo que for além disso, ressalta o perito, fica ameaçado devido à falta de
regulamentação.
Para ele, preocupa o fato de 90% das escolas indígenas não terem abastecimento de
água tratada, vinda da rede pública geral. Em 58% dos estabelecimentos, a água
consumida não é filtrada.
— Continua a prática colonialista. O que chega nas escolas indígenas são os livros
distribuídos para todos, com conteúdos que não têm nada a ver com o mundo deles. Os
saberes indígenas deveriam estar institucionalizados na educação — defende Eunice.
Nas inspeções ainda em curso do MPF, que já visitou 29 escolas do Norte, Nordeste
e Centro-Oeste, os materiais didáticos específicos da cultura indígena se resumiam,
na maioria das vezes, a cartilhas feitas pelos próprios professores. Caso de uma
comunidade de Tikunas, no Amazonas. Lá, o único material voltado para os
costumes locais era um compêndio de cantos indígenas, conta o antropólogo
Leonardo Leocádio.
Somente 13% das escolas indígenas têm acesso à internet e 5,2% contam com o serviço
de banda larga. A suspeita do MPF — de que, até pela falta de conexão, não são os
profissionais das próprias escolas que preenchem o Censo Escolar — se confirmou
durante as visitas. A tarefa, em muitos casos, fica a cargo de servidores que não
conhecem a realidade das aldeias.
Uma inconsistência flagrante nos dados do Censo, de acordo com o MPF, foi a situação
de 18 escolas que declararam ter mais de 365 dias letivos no ano. Nas escolas indígenas
amazonenses Kokama São José e Weupu, por exemplo, a carga que aparece é de 688
dias anuais. Segundo a procuradora Natália, o MEC precisa aperfeiçoar o processo de
preenchimento do questionário para ter dados mais precisos, a fim de que o Censo
Escolar reflita, de fato, a realidade.
— Vemos que a precariedade é tão grande e tão antiga que as coisas vão se
arrumando na base do jeitinho, o que leva a contratações provisórias de
professores por anos e anos, casas sendo improvisadas como salas de aula e escolas
sem regulamentação — diz Natália Soares.
A Justiça indeferiu o pedido, que havia sido feito em caráter liminar, alegando que
uma decisão provisória com impacto direto no orçamento do Estado do Rio e da
União, réus na ação, poderia comprometer direitos fundamentais de terceiros. O
MPF recorreu.
A situação encontrada pelo MPF de municípios que não destinam aos estudantes
indígenas, na hora de distribuir a merenda, o valor a mais repassado pelo governo
federal a eles foi condenada pelo FNDE. O órgão federal responsável pela execução do
Programa Nacional de Alimentação Escolar informou que, assim que tiver acesso à lista
de municípios que adotam tal prática, demandará os “respectivos Conselhos de
Alimentação Escolar no sentido de averiguar a situação”.
O MEC informou, em nota, ser possível que as escolas tenham mais de 365 dias entre o
início e o fim do ano letivo porque atividades extracurriculares, metodologias
diferenciadas e paralisações estão abrangidas no período. A pasta confirmou os
principais dados levantados pelo MPF, mas não comentou itens importantes, como a
falta de materiais didáticos específicos em metade das escolas indígenas. O MEC
ressaltou ainda que colabora com as ações do MPF porque entende que trazem subsídios
para o aprimoramento dos programas educacionais.