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Como são as escolas para os índios?

Você sabia que as escolas para índios têm algumas


peculiaridades que as diferem do ensino que estamos
acostumados? Vamos conferir mais detalhes!
Conheceremos uma escola diferente: na floresta, indígena. Como as comunidades
aprendem o saber do homem branco e ao mesmo tempo preservam suas tradições e
costumes ancestrais? Vamos conhecer sobre esse mundo fascinante que também
podemos aprender a conhecer e a respeitar.

Várias tribos indígenas estão espalhadas por todo o nosso país, e cada uma delas busca
da melhor forma possível, o desenvolvimento de suas crianças e jovens buscando o
aprendizado de forma a satisfazer suas necessidades.

O ensino que era imposto para muitas etnias e povoados, era um método de ensino
ultrapassado em que nada agregava para a cultura e necessidade dos índios. Os
professores somente lecionavam em português, o que dificultava e muito o aprendizado,
além de que o conteúdo dado era muito longe da realidade, com informações nada
importantes para crianças e jovens do local. O que tornou ainda mais grave a situação é
que o ensino era apenas da 1ª à 4ª série e não focava as crenças, a cultura e o idioma
local. Esses fatores afastaram a comunidade indígena das escolas.

Metodologia
A metodologia foi adotada e criada pelos próprios índios. Eles valorizam e resgatam
princípios e valores socioculturais dos povos nativos e realizam pesquisas para a
sustentabilidade da região.

O ensino deve ser útil, deve demonstrar sua realidade, deve ter sentido a vida de cada
indivíduo da comunidade. Por esses motivos, foi criado um método em que recuperasse
o conhecimento das tradições e crenças indígenas e associasse ao conhecimento do
homem branco ao que interessasse para o indígena, na medida em que agregasse ao seu
conhecimento, ajudando nas tarefas do seu dia-a-dia.

A rotina escolar
A rotina escolar inclui atividades que serão usadas no dia-a-dia dos afazeres dos jovens
índios como pescar, coletar itens da floresta, cultivar alimentos, fazer a contagem das
plantações, tecer palha para a cestaria entre outros trabalhos. Não podemos esquecer de
que os jovens ouvem as histórias dos mais velhos como lição de casa e contam aos
professores e colegas de aula.
Cada assunto ou tema importante de cada comunidade é levado para a discussão em sala
de aula e compartilhado da melhor forma com outras comunidades. Eles discutem os
seus problemas, procurando uma solução de forma sábia e mais rica para todos.

As matérias das escolas atuais tradicionais, como geografia, matemática, história e


biologia se aprendem durante as pesquisas ou nas oficinas. Por exemplo, a biologia se
aprende estudando as plantas da região. Nesse momento, o professor apresenta
princípios de botânica, aborda temas relacionados à ecologia e a preservação da floresta.
Todo o conteúdo abordado é por meio das oficinas e deve ter utilidade na vida do aluno.
Assim, a prioridade não é aprender fórmulas e regras, mas adquirir conhecimentos que
possam utilizar na prática. Assim deveria ser toda escola, aprender e ensinar na prática o
que necessitamos para o futuro.

Tem escola na aldeia?

Sim, muitas aldeias têm escola! Como se sabe, a maioria das aldeias fica dentro
de Terras Indígenas, assim cada Terra pode ter uma ou mais escolas. Isso vai
depender de seu tamanho e da situação de cada comunidade.

As escolas indígenas, assim como aquelas dos não índios, também são um
espaço de aprendizado das crianças. Muitas vezes o conteúdo que é ensinado ali
pelos professores é bem diferente daquele que é transmitido pelos parentes na
aldeia. É claro que estes conteúdos podem se misturar em alguns momentos, mas
a escola tem como foco ensinar a escrever, ler, fazer conta, entre outros
conhecimentos importantes para o diálogo com o mundo dos não índios, já os
parentes ensinam as formas de se organizar da comunidade, como produzir
artefatos e tudo aquilo que é importante para se viver bem naquele grupo.

Além disso, o conteúdo que se aprende nas escolas indígenas é diferente daquele
das escolas dos não índios. Isso porque os povos indígenas têm direito a ter uma
escola diferenciada, isto é, uma escola que ensine conteúdos que se relacionem
com a cultura e a língua de cada povo. Mas nem sempre esses direitos são
respeitados. Muitas vezes, os professores e os livros usados nas escolas
indígenas falam de assuntos que não estão ligados ao cotidiano das comunidades
indígenas e ensinam o ponto de vista dos não índios como o único ponto de vista
correto.

A história da educação nas escolas indígenas no Brasil mostra que, de um modo


geral, a escola buscou integrar as populações indígenas à sociedade à sua volta,
ou seja, fazer com que eles fizessem parte dela. Mas a “integração” era, na
verdade, uma tentativa de faz com que os índios vivessem como os não índios,
ensinando-os a falar, ler e escrever em Português, a língua oficial do país.
Somente há pouco tempo línguas indígenas passaram a ser usadas na escola.

Em escola de índio, nem água tratada


tem
Um levantamento do Ministério Público revela que das 3.138 escolas indígenas do
país, 90% não recebem água tratada, 41% não têm energia elétrica e um terço
delas não conta sequer com prédio escolar. - Em meio à poeira que sobe do chão de
terra no barracão de madeira, meninos da etnia Nambikwara tentam aprender
tabuada. Um quadro-negro improvisado e carteiras quebradas completam o
cenário de abandono da escola indígena de Comodoro (MT). Um terço deles não
conta sequer com prédio escolar, definido pelo governo federal como a estrutura
de padrões mínimos para realização de atividades educacionais.

Sem espaços físicos adequados, grande parte das escolas indígenas funciona na casa dos
professores, em armazéns, e até embaixo de árvores. A fonte de água para quase metade
dos estabelecimentos vem de rios, igarapés ou córregos. Luz elétrica pública só chega a
pouco mais de 40% dos colégios, e apenas 49% trabalham com algum tipo de material
didático específico da cultura indígena. Os dados são de levantamento do Grupo de
Trabalho (GT) Educação Indígena do Ministério Público Federal (MPF).

— Embora quase todas as escolas declarem, no Censo Escolar, que recebem merenda,
vimos que a distribuição não é regular, levando até à redução de carga horária das aulas
no Norte — afirma a procuradora da República Natália Soares, que coordena o GT
Educação Indígena do MPF.

kjindígenas no Brasil ainda esperam regularização. Então, essas crianças são


penalizadas duas vezes, porque o Estado demora a demarcar seus territórios e, por isso
mesmo, elas ficam sem receber o recurso suplementar da merenda — diz Natália
Soares.

Do total de escolas indígenas no país, 46% estão sem regulamentação. Isso significa
que elas não passaram por um processo de autorização, a partir de um projeto
pedagógico, do conselho ou órgão local de educação, explica Leonardo Leocádio,
perito em antropologia do MPF. Tal condição não impede o repasse de recursos
atrelados ao número de alunos, como merenda escolar ou verbas do Fundeb. Mas
tudo que for além disso, ressalta o perito, fica ameaçado devido à falta de
regulamentação.

— Investimentos em infraestrutura, em apoio pedagógico ou contratação de professores


se tornam mais difíceis. São escolas que geralmente funcionam na forma de sala de aula
anexa ligada a uma outra instituição — afirma Leonardo Leocádio.

Para ele, preocupa o fato de 90% das escolas indígenas não terem abastecimento de
água tratada, vinda da rede pública geral. Em 58% dos estabelecimentos, a água
consumida não é filtrada.

Doutora em linguística, missionária há 42 anos do Conselho Indigenista


Missionário (Cimi) e assessora para projetos de educação escolar indígena, Eunice
Dias de Paula lamenta que os avanços conquistados na legislação, por meio da
própria Constituição e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, não saíram do
papel. Um deles é garantir a alfabetização no idioma materno. Embora 67% das
escolas declarem utilizar a língua indígena no processo de aprendizado, apenas
51% apontam ter algum material didático específico.

— Continua a prática colonialista. O que chega nas escolas indígenas são os livros
distribuídos para todos, com conteúdos que não têm nada a ver com o mundo deles. Os
saberes indígenas deveriam estar institucionalizados na educação — defende Eunice.

Nas inspeções ainda em curso do MPF, que já visitou 29 escolas do Norte, Nordeste
e Centro-Oeste, os materiais didáticos específicos da cultura indígena se resumiam,
na maioria das vezes, a cartilhas feitas pelos próprios professores. Caso de uma
comunidade de Tikunas, no Amazonas. Lá, o único material voltado para os
costumes locais era um compêndio de cantos indígenas, conta o antropólogo
Leonardo Leocádio.
Somente 13% das escolas indígenas têm acesso à internet e 5,2% contam com o serviço
de banda larga. A suspeita do MPF — de que, até pela falta de conexão, não são os
profissionais das próprias escolas que preenchem o Censo Escolar — se confirmou
durante as visitas. A tarefa, em muitos casos, fica a cargo de servidores que não
conhecem a realidade das aldeias.

Uma inconsistência flagrante nos dados do Censo, de acordo com o MPF, foi a situação
de 18 escolas que declararam ter mais de 365 dias letivos no ano. Nas escolas indígenas
amazonenses Kokama São José e Weupu, por exemplo, a carga que aparece é de 688
dias anuais. Segundo a procuradora Natália, o MEC precisa aperfeiçoar o processo de
preenchimento do questionário para ter dados mais precisos, a fim de que o Censo
Escolar reflita, de fato, a realidade.

— Vemos que a precariedade é tão grande e tão antiga que as coisas vão se
arrumando na base do jeitinho, o que leva a contratações provisórias de
professores por anos e anos, casas sendo improvisadas como salas de aula e escolas
sem regulamentação — diz Natália Soares.

Sem ensino médio nas comunidades

Depois de vencerem tantas dificuldades para concluir o ensino fundamental, os


indígenas precisam sair de suas comunidades se quiserem prosseguir os estudos, pois
apenas 9% das escolas nas comunidades ofertam o ensino médio regular. Na
modalidade jovens e adultos, essa etapa está presente em menos de 4% dos colégios. A
situação levou o MPF no Rio de janeiro a ingressar com uma ação civil pública pedindo
a abertura de turmas de ensino médio para os índios da etnia Guarani Mbya em Angra
dos Reis e Paraty.

A Justiça indeferiu o pedido, que havia sido feito em caráter liminar, alegando que
uma decisão provisória com impacto direto no orçamento do Estado do Rio e da
União, réus na ação, poderia comprometer direitos fundamentais de terceiros. O
MPF recorreu.

A situação encontrada pelo MPF de municípios que não destinam aos estudantes
indígenas, na hora de distribuir a merenda, o valor a mais repassado pelo governo
federal a eles foi condenada pelo FNDE. O órgão federal responsável pela execução do
Programa Nacional de Alimentação Escolar informou que, assim que tiver acesso à lista
de municípios que adotam tal prática, demandará os “respectivos Conselhos de
Alimentação Escolar no sentido de averiguar a situação”.

O FNDE informou ainda que o repasse financeiro diferenciado para a merenda


escolar é garantido a todas as escolas que se declararem como indígenas, estando
ou não dentro de terras regularizadas. Neste ano, foram repassados R$ 14,2
milhões para alimentação nas escolas indígenas, segundo o FNDE.

O MEC informou, em nota, ser possível que as escolas tenham mais de 365 dias entre o
início e o fim do ano letivo porque atividades extracurriculares, metodologias
diferenciadas e paralisações estão abrangidas no período. A pasta confirmou os
principais dados levantados pelo MPF, mas não comentou itens importantes, como a
falta de materiais didáticos específicos em metade das escolas indígenas. O MEC
ressaltou ainda que colabora com as ações do MPF porque entende que trazem subsídios
para o aprimoramento dos programas educacionais.

A Funai não respondeu ao pedido de entrevista.

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