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CAMILA LORENZI
CASCAVEL - PARANÁ
2022
FACULESTE – FACULDADE DO LESTE MINEIRO
CAMILA LORENZI
CASCAVEL - PR
2022
FITOTERAPIA NEONATAL E PEDIÁTRICA: A UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS
NATURAIS E MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS NOS PRIMEIROS ANOS DE
VIDA
Camila Lorenzi
RESUMO
A fitoterapia é um estudo e uma ciência que parte da utilização de produtos naturais para tratamentos eficazes e
de prevenção a doenças. Sendo assim, cabe a nós questionar o porquê esta ciência não pode ser utilizada em
neonatos e crianças, com a demagogia de que tais produtos naturais podem ser prejudiciais a elas. Visto que são
produtos naturais e que suas propriedades são seccionadas a cada manipulação, seja feito chás, emplastros,
pomadas, tinturas e afins, poderiam ser utilizados com segurança e eficácia para vários tipos de condições que os
pequenos enfrentam no início da vida, porém ainda os remédios alopáticos são mais aceitos e inquestionáveis.
Infelizmente nossa sociedade tem uma visão curvilínea no que diz respeito a prevenção de doenças. Hoje
vivemos para tratar doenças pré-estabelecidas e desta forma, tratamos nossos filhos recém-nascidos e nossas
crianças com essa ideologia.
Introdução
1. O QUE É FITOTERAPIA?
Considerando que fitoterapia (do grego therapeia = tratamento e phyton = vegetal) é
uma forma tradicional de tratar as pessoas, então trata-se de um estudo das plantas medicinais
e suas aplicações na cura das doenças, baseado na crença social e popular.
A fitoterapia é um estudo baseado em plantas naturais com poderes curativos e/ou
preventivos as pessoas. A partir de seu princípio ativo, ele é utilizado de forma caseira,
principalmente através de chás, ultradiluições ou de forma industrializada, com extrato
homogêneo da planta (TORQUATTO, 2013 p. 05).
Como diz SOUZA (2021), a medicina disseminou o emprego de antibióticos e
remédios alopáticos, e a nossa medicina natural passada de geração em geração ficou
esquecida. Entretanto, as plantas estão começando a voltar a ter seu espaço aliadas no
reequilíbrio físico do ser humano. Assim, tornando os tratamentos e as prevenções menos
alopáticas.
Para SANTOS et.al (2017), pelos dados da Organização Mundial de Saúde (OMS),
80% da população mundial depende das práticas tradicionais no que se refere a Atenção
Primária à Saúde, e 80-85% dessa parcela utiliza plantas ou preparações a base de vegetais,
merecendo o Brasil, destaque para os programas envolvendo fitoterapia desenvolvidos na
Atenção Básica da rede pública de saúde de muitos municípios e estados.
Em relação à utilização da fitoterapia com neonatos e crianças, a prática materna de
cuidados é aquela baseada em conhecimento de mundo, passado de mãe para filha e com
experiências pessoais que deram ou não certo (ARAÚJO et.al, 2012).
Porém, CARDOSO e AMARAL (2017), diz que fitoterapia pode oferecer risco à
saúde de alguns indivíduos, em especial, a grupos sensíveis à interação com fito-complexos
de composição desconhecida, como as crianças, os idosos e as gestantes.
Uma controvérsia terrível ao achar que medicamentos alopáticos não podem oferecer
riscos à saúde, mesmo não sendo de grupos sensíveis, afinal, todo medicamento adquirido
vem com sua bula e suas contraindicações, reações adversas e posologia. Sendo assim, a ideia
que parte do princípio que nenhum medicamento, seja ele alopático ou natural, possa fazer
mal é paradoxal. Visto que, um tratamento fitoterápico bem aplicado a um tratamento de
medicamentos alopáticos bem aplicados, este por sua vez, trata os sintomas e auxilia na cura,
já aquele, é um tratamento feito naturalmente, combate as dores e sintomas momentâneos,
porém se feito um tratamento longo e com eficácia, pode auxiliar o corpo a não apresentar
mais manifestações da doença, sendo assim, um tratamento preventivo.
Um dos aspectos que trazemos na fitoterapia é a forma natural como são utilizadas as
plantas, sem meios farmacológicos, longe de quaisquer elementos sintéticos. Com isso, seus
princípios podem ser utilizados em chás, banhos, cataplasmas, entre outros meios, que são
naturais.
UFJF 2010, diz que para Carlini, os preconceitos em relação ao uso de fitoterápicos
estão diminuindo. “O uso da fitoterapia como prescrição até há pouco tempo não era aceito
pelos próprios cientistas. Ela era considerada uma medicina inferior, alternativa,
principalmente por conta dos benefícios propagados por aproveitadores e charlatões. Era vista
como ‘medicina popular’, desenvolvida à base de plantas que podiam ser encontradas na
quitanda, na loja de artigos de umbanda, casas de chás, praças, etc.”, diz.
Apesar de ser uma forma de tratamento bastante acessível, tanto pelo seu preço,
quanto por não precisar de receitas médicas para adquiri-las, não podemos abusar e fazer
automedicação. Muitas vezes, os tratamentos podem sim, trazer alguma reação não desejada,
pode haver intoxicação, alguma alteração contrária ao que se propõe a tratar. Não podemos
pensar que só porque é natural não faz mal. Pois assim como um remédio alopático pode dar
reações, os naturais e fitoterápicos também podem.
Algumas plantas podem ser prejudiciais para quem tem pressão alta, por exemplo, ou
para mulheres em estado de gestação, essas, devem ser evitadas e elas podem causar reações
alérgicas, ou estarem contaminadas por agrotóxicos e metais pesados, por isso, para o
tratamento ou consumo é importante serem indicadas somente por um terapeuta.
SANTOS, et.al. (2017), confirma que o nascimento dos filhos foi apontado como o
principal fator de resgate do saber relacionado ao uso de plantas medicinais, fazendo com que
essas mães buscassem em suas memórias e nas conversas com seus ancestrais, um tratamento
mais natural a ser utilizado em suas crianças.
As ervas mais utilizadas em neonatos são camomila, erva-doce e hortelã. Já para
crianças acima de seis meses, são citados a utilização de boldo, poejo, abacaxi, erva cidreira,
capim santo e aroeira. Geralmente a administração das ervas são por infusão ou decocção.
Mesmo porque, fica mais fácil de oferecer ao bebê e a criança.
Entretanto, há uma relutância por parte dos médicos em aceitar o uso de plantas
naturais a neonatos, bebês com até 28 dias, pois alegam que o corpo do neonato não está
preparado para receber água ou quaisquer alimentos pela imaturidade do intestino. Como trata
OLIVEIRA (2015), o bebê não nasce preparado para o mundo, muitas de suas funções ainda
não são bem desenvolvidas, como o próprio sistema digestivo, ainda imaturo, ao receber
alimento pela primeira vez. O sistema nervoso do bebê também é extremamente sensível ao
mínimo estímulo e estudos comprovaram que bebês que apresentam mais cólicas geralmente
refletem um ambiente de tensão familiar.
Infelizmente, ao nascer, o bebê já sai da maternidade com uma receita do médico
dizendo que caso dor a mãe pode dosar paracetamol, simeticona caso tiver cólica e spray
nasal, caso tiver obstrução nasal. Fica a dúvida, se o remédio alopático é mais seguro que o
natural.
Sabemos que muitas vezes, as dores do neonato são intensas, mas em se tratando de
dores de adaptação, do crescimento, cólicas ou desconfortos respiratórios, poderiam ser
aceitos com mais facilidade um tratamento natural. Porém, pouco estudo se tem a respeito e
isso causa muita insegurança a quem receita e quem administra os medicamentos.
Neste presente trabalho, não estamos tratando de sintomas e doenças congênitas, que
há necessidade de medicamentos específicos para combater as doenças, que ainda nesse caso,
os produtos naturais poderiam sim ser utilizados como forma de tratamento integrativo, mas
sintomas brandos e repentinos, que vem e vão. E mesmo assim, a fitoterapia ainda é vista
como algo agressivo e prejudicial aos neonatos.
Os bebês depois dos seis meses, com a introdução alimentar, começam a receber água
e outros alimentos, porém quando eles têm cólica, a orientação médica é dar simeticona, um
remédio alopático que ajuda o bebê a desinchar e acalmar a cólica causada pela comida.
Para tanto, o famoso funchicórea, que auxilia nas cólicas dos bebês, é um remédio
fitoterápico, que em 2012 teve seu registro cancelado pela ANVISA, por não apresentar
comprovação de segurança da planta ruibarbo, que por ser em pó, seu composto ativo poderia
variar. Mas, em 2013, a empresa fabricante comprovou que a planta ruibarbo não traz riscos à
saúde dos bebês e pôde ter o direito de fabricar o remédio novamente.
Mediante ao apresentado, só podemos entender que remédios que não tem
comprovações científicas, ficam alheias a avaliações científicas. E a utilização do remédio em
pessoas, mesmo com resultados positivos, não é considerado algo válido. Não querendo aqui,
colocar as pessoas e os bebês no papel de cobaias, mas um remédio que mostrou eficácia na
sua utilização há mais de 70 anos, não pode simplesmente ser descartado por uma hipótese de
que um dos seus princípios ativos faz mal. E a simeticona? Conforme a EMS, em alta
dosagem, pode causar diarreia e dor abdominal, sendo que qualquer suspeita de
superdosagem, o paciente deve ser encaminhado para o médico.
1.3. Alguns fitoterápicos e plantas naturais que podem ser utilizados nos
neonatos, bebês e crianças
Tendo em vista, que quando falamos de fitoterapia a ideia que nos vem à mente é um
remédio fitoterápico, uma cápsula, gotas, um pó, uma tintura ou algo parecido, podemos tratar
os neonatos com fitoterapias diferentes, como um banho, um emplastro, até mesmo uma
planta aromática, já que não se pode induzir a ingestão de compostos nessa idade.
Assim, vemos que muitos produtos naturais podem acalmar um neonato que está
inquieto, pode ajudar em uma possível icterícia, pode auxiliar nas cólicas através de um
emplastro ou até mesmo com um óleo essencial.
Em se tratando de plantas naturais, baseado na RENISUS, Relação de Plantas
Medicinais de Interesse ao SUS, podemos oferecer aos neonatos, bebês e crianças, um banho
morno com Chamomilla recutita, que pode acalmar o bebê quando muito agitado.
Para ajudar no tratamento de icterícia, que é muito comum, em neo natos, o famoso banho de
picão ou picão-preto. A Bidens pilosa tem sido bastante utilizada por diversas comunidades
no Brasil e possui várias indicações terapêuticas (DAMASCENO, DA SILVA e RANDAU,
2017). Dentre suas atividades, possui propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e
atividade foto protetora e é considerado uma das plantas mais difundidas no tratamento
caseiro e alternativo da icterícia (GONÇALVES, et al. 2017).
Já, (TUA SAÚDE, 2020), comenta que o Mentha Pulegium, é bom para gripes,
resfriados e auxilia na digestão, uma opção excelente para os bebês quando pegam um
resfriado e precisam de algo para tomar, pois muitas vezes, no pico dos sintomas, o bebê
estará trancado e não aceitará muita coisa. Oferecer um chá de poejo, por exemplo, pode ser
uma boa saída.
E quando se trata de coriza e secreções derivadas de gripes e resfriados, nada como
uma boa inalação com Mentha piperita, que pode ajudar a liberar as vias respiratórias e a
combater outros sintomas respiratórios.
Um xarope fitoterápico muito utilizado, que permite indicar como tratamento primário
da tosse produtiva pelos efeitos mucolíticos e broncodilatador é à base de Hedera helix.
Segundo (FAZIO, 2006), o extrato de folhas secas de hedera é eficaz e seguro em crianças e
adultos com bronquite. E ainda comenta:
“(...) Esta classe de fitoterápicos seguros, eficazes e padronizados permite aliviar a
sobrecarga do sistema de atenção primária em períodos de alta incidência da
doença e, ao mesmo tempo, atuar de forma relevante ao diminuir a morbidade de
uma doença tão prevalente.”
“O que às vezes deixa de trazer êxito esperado no tratamento por meios das ervas, é
que o paciente, quando se sente melhor, abandona o tratamento antes de alcançar a
cura radical. Por isso, repetimos que o segredo da cura reside no uso perseverante
e prolongado das plantas medicinais. (BALBACH, 1993)”.
Com este indicativo e explanação, fica claro que a utilização de fitoterápicos é visto
como um tratamento que não resolve e isso reflete no uso dos mesmos em neonatos e
crianças. Afinal, como uma pessoa que adoece e faz uso rapidamente de remédios alopáticos
tratará seus filhos com remédios fitoterápicos por não acreditar em seu poder?
Essa visão sociocultural alocada ao mundo da medicina acredita que doença deve ser
combatida com medicamentos que produzem efeitos contrários para sanar os sintomas
incômodos que o paciente está sentindo, assim, para um pai ou uma mãe acreditar que a
medicina natural vai ajudar o seu filho pequeno a melhorar é como tentar convencer um
dependente químico de que sua dependência faz mal a si mesmo, ele até escuta sua fala, mas
vai lá e faz novamente.
A partir de produtos naturais, são isoladas moléculas que servem como protótipo
para o delineamento e planejamento de novos fármacos, mas também para a
investigação de novas ações terapêuticas (RATES, 2001). Além disso, as plantas
medicinais, como fontes de moléculas promissoras para o desenvolvimento de
medicamentos, possuem menor custo quando comparado às pesquisas com
moléculas sintéticas (IANCK et al., 2017).
Conclusão
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